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CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS CURSO DE DIREITO PROCEDIMENTOS ESPECIAIS E EXECUÇÃO PENAL O LUGAR DA PRISÃO NA NOVA ADMINISTRAÇÃO DA POBREZA. André Luiz Moderno Regis – RA 2239149 Fernanda Elis Almeida Ramos – RA 7310240 Sheila Cristina Santos Figueiredo – RA 8405600 SÃO PAULO 2020 PROCEDIMENTOS ESPECIAIS E EXECUÇÃO PENAL - Leitura do texto de forma crítica a partir da qual deverá ser produzido texto reflexivo que envolva suporte doutrinário sobre a temática: O LUGAR DA PRISÃO NA NOVA ADMINISTRAÇÃO DA POBREZA. 1. ERA PÓS FORDISTA E ERA PÓS KEYNESIANA O fordismo foi um modelo de produção industrial utilizado amplamente nos Estados Unidos e revolucionou a produção de automóveis, sendo adaptado para outras indústrias ao longo dos anos. Como o nome já diz, foi um modelo criado pelo idealizador das indústrias Ford, Henry Ford. Ford aperfeiçoou uma prática que já existia na Europa, desenvolvida por Frederick Taylor, e a adaptou para suas indústrias automobilísticas. Com as adaptações, como a linha de montagem e a padronização dos produtos fabricados, a produtividade era alta, e o tempo de produção, muito baixo, o que resultou em um modelo de sucesso no início de sua implementação. Ao adaptar as ideias de Taylor, Ford retirou da fabricação todos os componentes que pudessem ser artesanais, implementando, assim, uma total automatização dos processos industriais. Para isso, algumas características precisam ser explicadas a fim de melhorar o entendimento desse modelo. Padronização da produção: Henry Ford estabeleceu padrões nos seus automóveis, introduzindo máquinas que cortavam todos os componentes do veículo e os moldavam, diminuindo possíveis erros humanos. Esteira rolante e linha de montagem: entre as principais inovações de Ford, uma das mais significativas em relação à produção foi à linha de montagem, vinda com uma esteira rolante que levava o produto a ser trabalhado para o operário. Desse modo, o operário ficava parado em sua posição, esperando sua demanda. Com isso, os trabalhadores ficavam submissos a movimentos mecanizados e relativamente simples. Era essa esteira que controlava o tempo de produção na indústria. O trabalhador ficava parado enquanto o automóvel se deslocava até o final da produção, o acabamento. Antes de Henry Ford, outro empresário já havia pensado em um modelo de produção que atendesse à demanda da época (que aumentava cada vez mais) e fosse prática. Frederick Wislow Taylor desenvolveu um modelo em que o conhecimento do processo de produção era exclusivo de uma pessoa – no caso, um gerente. O trabalhador não precisava saber o porquê da sua função, mas apenas executá-la. Foi um período de baixa qualificação técnica, em que cabia ao operário apenas a execução de suas tarefas e em um ritmo acelerado para maximizar os lucros. Em um dado momento, mais especificamente durante a crise de superprodução de 1929, a produção não estava mais sendo absorvida pelo mercado. Neste momento, várias empresas faliram por ter o estoque cheio, mas não ter quem consumisse seus produtos. O Estado Norte-americano aumentou o mercado consumidor através do New Deal, criado por Keynes, medida que levou à criação de um Estado Keynesiano e do bem-estar social. Neste momento, o objetivo do Estado não é a preocupação com a qualidade de vida da população, mas sim aumentar o mercado consumidor. Dentre as medidas do Estado Keynesiano destacam-se as seguintes: O pleno emprego: Segurança para os trabalhadores de que não haveriam demissões, apesar da crise e por sua vez a necessidade de corte de gastos. Caso ocorressem demissões haveriam outros postos de trabalho disponíveis. Esta medida aumentou o consumo. Diminuição da carga horária destinada ao trabalho. Estas duas medidas reaqueceram a produção industrial ao formar um mercado consumidor. Isto originou o que ficou conhecido como o American Way of life1, em que a população tinha dinheiro e passou a consumir muito. Em geral o pós-fordismo é o conceito utilizado para definir um modelo de gestão produtiva que se diferencia do fordismo, no que se refere, em especial, a organização do trabalho e da produção. Assim, ao invés de centrar-se na produção em massa, característica do fordismo, o modelo pós-fordista fundamenta-se na ideia de flexibilidade. Por isso, trabalha com estoques reduzidos, voltando-se para a fabricação de pequenas quantidades. A finalidade desta forma de organização é a de suprir a demanda colocada no momento exato (just in time), bem como atender um mercado diferenciado, dotado de públicos cada vez mais específicos. Deste modo, neste regime os produtos somente são fabricados ou entregues a tempo de serem comercializados ou montados. Isto permite que a indústria possa acompanhar as rápidas transformações dos padrões de consumo. O Sistema Toyota de Produção ou simplesmente toyotismo, idealizado pelo engenheiro mecânico japonês Taiichi Ohno é considerado um dos expoentes do pós-fordismo (Lavinas, 1 O American Way ou American way of life é a expressão aplicada a um estilo de vida que funcionaria como referência de auto-imagem para a maioria dos habitantes dos Estados Unidos da América. 2009). Pós-fordismo: uma definição mais ampla Todavia,o pós-fordismo pode ser compreendido de forma mais ampla: como um dos paradigmas da teoria do pós- industrialismo, formulado por pensadores marxistas (KUMAR, 1997). Neste sentido, é utilizado para designar não apenas um novo modelo de gestão produtiva, mas também o período de mudanças do capitalismo que foi acompanhado da ascensão de novas configurações da organização industrial e da vida social e política. Estas transformações foram originadas a partir da crise estrutural do fordismo, desencadeada no início dos anos 1970 (KUMAR, 1997); (HARVEY, 2008). O Keynesianismo, também chamado de Escola ou Teoria Keynesiana, é uma doutrina político-econômica oposta ao liberalismo. ... Essa teoria foi muito importante para renovar a teoria econômica clássica. Pautada na chamada “macroeconomia”, propõe um regime de pleno emprego e o controle da inflação. Apreender a mudança das funções do estado penal na era pós-fordista e pós-keynesiana exige uma dupla ruptura. Primeiro, deve-se romper o paradigma do "crime e castigo", materializado pela criminologia e o direito penal, que nos mantém confinados à perspectiva estreita da imposição do cumprimento da lei, incapaz de considerar o grau cada vez maior de punições aplicadas pelas autoridades, que ignoram na mesma proporção às finalidades extrapenais da prisão. Basta uma única estatística para fazer sobressair à falta de conexão flagrante e crescente entre crime e encarceramento nos Estados Unidos: em 1975, o país prendia 21 criminosos para cada 1.000 crimes graves (homicídio, estupro, agressão, roubo, assalto e furto de carros); em 1999, este número havia chegado a 1061. Se considerarmos o crime como uma constante, a sociedade norte- americana é cinco vezes mais punitiva hoje do que era há um quarto de século. Porém, é preciso afastar o conto oposicionista do "complexo industrial prisional", defendido por ativistas, jornalistas e acadêmicos mobilizados contra a escalada penal, que de formas variadas atribuem equivocadamente a explosão do encarceramento dos Estados Unidos à reestruturação global do capitalismo, que intensificou o racismo, e à corrida frenética em busca do lucro por meio da construção de penitenciárias e da superexploração do trabalho de detentos. 2. TRABALHO NO SISTEMA PRISIONAL O modelo penitenciário Brasileiro foi construído para servir aos senhores, em tempos de revolução, império e ditadura, onde o pensamento acerca de pessoa presa era completamente diferente dos vivido atualmente, poiso país nunca tinha vivido nenhum momento de democracia tão longo, o que sem duvida, influi na administração publica, e esta, por sua vez, age diretamente na administração carcerária. O Brasil convive com um abandono do sistema prisional, o que deveria ser um instrumento de ressocialização, muitas vezes, funciona como escola do crime, devido à forma como é tratado pelo estado e pela sociedade (ASSIS, 2007). Anote-se, que a Lei de Execuções Penais, em seu art. 1º, estabelece que “a execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado,”, além disso, a mesma norma prevê a classificação, assistência, educação e trabalho, aos apenados, o que visivelmente, não é cumprido na sua integralidade. Nas expressões de Assis (2007, p. 1), o descaso com a saúde do preso é deplorável, observe: “A superlotação das celas, sua precariedade e sua insalubridade tornam as prisões num ambiente propício à proliferação de epidemias e ao contágio de doenças. Todos esses fatores estruturais aliados ainda à má alimentação dos presos, seu sedentarismo, o uso de drogas, a falta de higiene e toda a lugubridade da prisão, fazem com que um preso que adentrou lá numa condição sadia, de lá não saia sem ser acometido de uma doença ou com sua resistência física e saúde fragilizadas. O que acaba ocorrendo é uma dupla penalização na pessoa do condenado: a pena de prisão propriamente dita e o lamentável estado de saúde que ele adquire durante a sua permanência no cárcere. Também pode ser constatado o descumprimento dos dispositivos da Lei de Execução Penal, a qual prevê no inciso VII do artigo 40 o direito à saúde por parte do preso, como uma obrigação do Estado. Outro descumprimento do disposto da Lei de Execução Penal, no que se refere à saúde do preso, é quanto ao cumprimento da pena em regime domiciliar pelo preso sentenciado e acometido de grave enfermidade (conforme artigo 117, inciso II). Nessa hipótese, tornar-se-á desnecessária a manutenção do preso enfermo em estabelecimento prisional, não apenas pelo descumprimento do dispositivo legal, mas também pelo fato de que a pena teria perdido aí o seu caráter retributivo, haja vista que ela não poderia retribuir ao condenado a pena de morrer dentro da prisão. Dessa forma, a manutenção do encarceramento de um preso com um estado deplorável de saúde estaria fazendo com que a pena não apenas perdesse o seu caráter ressocializador, mas também estaria sendo descumprindo um princípio geral do direito, consagrado pelo artigo 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, o qual também é aplicável subsidiariamente à esfera criminal, e por via de consequência, à execução penal, que em seu texto dispõe que “na aplicação da lei o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”. O trabalho durante o cumprimento da pena é, sem duvida, um fator muito importante no processo de ressocialização do condenado. O recluso precisa não só adquirir o hábito de trabalhar como também aprender uma profissão que o faça ganhar a vida honestamente ao adquirir a liberdade. Com muita precisão escreveu o professor Francisco Bueno Arús, a respeito do trabalho dos internos: “Sem necessidade de incorrer nos exageros de Howard (<Faça um homem trabalhador e será honrado>) é de se convir que a atividade laborativa dos reclusos e imprescindível por uma séria de razões; do ponto-de-vista disciplinar, evita os efeitos corruptores do ócio e contribui para manter a ordem; do ponto-de-vista sanitário é necessário que o homem trabalhe para conservar seu equilíbrio orgânico e psíquico; do ponto-de-vista educativo o trabalho contribui para a formação da personalidade do individuo; do ponto- de-vista econômico, permite ao recluso dispor de algum dinheiro para suas necessidades e para subvencionar a sua família; do ponto-de-vista da ressocialização, o homem que conhece um ofício tem mais possibilidades de fazer vida honrada ao sair em liberdade. Com efeito, e urgente à necessidade de buscar formas de combate à ociosidade no cárcere e minorar as suas consequências que são desastrosas. A Lei de Execução Penal (LEP) que entrou em vigor com a nova Parte Geral do Código Penal, em 13 de janeiro de 1985, e um avançado texto legal. Foi instituído no sentido imanente da adoção de meios e métodos que proporcionem a defesa social e a ressocialização do recluso. Em regra, a prisão somente pode ser efetuada por ordem escrita da autoridade competente, que é a judiciária, porém existem exceções legais como, por exemplo, nos caso de flagrante delito; quando decorrente de transgressão militar ou de crime propriamente militar; quando for efetivada no curso do estado de defesa ou de estado de sítio; bem como na recaptura do foragido. O crime deve ser detalhadamente descrito, para que a pessoa saiba o porquê está sendo capturada. Deve, ainda, arbitrar o valor da fiança, em sendo o crime afiançável, para que o capturado possa obter de imediato sua liberdade provisória. A ordem poderá ser cumprida em qualquer dia e horário desde que respeite a inviolabilidade do domicílio. Após ser detido, o preso será informado de seus direitos, podendo, inclusive, ficar calado sem que isso importe em prejuízo a defesa. Ainda lhe será assegurada a assistência da família e de um advogado, tendo direito a identificação dos responsáveis pela sua prisão. Caso o autuado não informe o nome de seu advogado, será comunicado à Defensoria Pública. No momento da apreensão, a lei apenas admite o uso da força se esta for extremamente necessária, quando houver resistência ou tentativa de fuga do preso, sendo que ela não poderá exceder o indispensável ao cumprimento do mandado. Havendo excesso este constituirá ilícito penal. Conforme lição do doutrinador Fernando Capez, "prisão é a privação de liberdade de locomoção determinada por ordem escrita da autoridade competente ou em caso de flagrante delito". A prisão é um "castigo" imposto pelo Estado ao condenado pela prática de infração penal, para que este possa se reabilitar visando restabelecer a ordem jurídica violada. Embora seja este o sentido técnico da palavra, no direito pátrio, ela possuí vários significados diferentes, tais como pena privativa de liberdade; o ato da captura; a própria custódia etc. O direito divide a prisão em diferentes espécies, são elas: a) Prisão-pena: imposta depois do trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Não tem natureza acautelatória, já que visa à satisfação da pretensão executória do Estado. b) Prisão sem pena (processual): tem natureza processual, e assegura o bom andamento da investigação e do processo penal, evitando, ainda, que o réu volte a cometer crimes, se solto. Deve satisfazer os requisitos do "fumus bonis juris2" e "periculum in mora3". Nela, estão incluídas a prisão em flagrante; a prisão preventiva e a prisão temporária. c) Prisão civil: não se refere à infração penal, mas sim ao não cumprimento de uma obrigação civil. Após a inserção no ordenamento jurídico pátrio do Pacto de San José da Costa Rica, entende-se que ela apenas é cabível no caso do devedor de prestações alimentícias. d) Prisão administrativa: destina-se a forçar o devedor a cumprir sua obrigação. Nos termos da Súmula 280, do STJ, "o art. 35 do Decreto-Lei n° 7.661, de 1945, que estabelece a prisão administrativa, foi revogado pelos incisos LXI e LXVII do art. 5° da Constituição Federal de 1988". e) Prisão disciplinar: é a estabelecida pelo art. 5º, LXI, 2ª parte, da CF, o qual afirma que "ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita 2 Fumus boni juris é a expressão latina que significa sinal de bom direito ou aparência de bom direito.Também pode ser usado no sentido de que "onde há fumaça há fogo", assim ficaa impressão de que se há indícios, haverá crimes ou ilícitos civis. 3 Periculum in mora, significa Perigo da demora. É o risco de decisão tardia, perigo em razão da demora. Expressa que o pedido deve ser julgado procedente com urgência ou imediatamente suspenso o efeito de determinado ato ou decisão, para evitar dano grave e de difícil reparação. e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei". f) Prisão para averiguação: é aquela feita sem autorização e apenas para investigação (exceto nos casos de flagrante). É proibida pela lei por configurar abuso de autoridade. Diante de uma análise do sistema carcerário, sua evolução até chegar aos dias atuais. Traz as conceituações dos estabelecimentos prisionais, buscando identificar as diferenças entre os modelos adotados, conforme opinião de estudiosos que visitaram prisões em diferentes partes do mundo. Relatando brevemente a atual falência do sistema penitenciário, buscando levantar os maiores problemas que assolam as casas de recuperação em nosso país, como a saúde precária, a superpopulação, o poder paralelo, bem como, a visão da sociedade atual, no tocante ao preso, a pena de morte e o estabelecimento penitenciário. 3. PRISÃO E O TRABALHO DESQUALIFICADO O Brasil tem milhares de presos trabalhando de graça para empresas e órgãos governamentais, que, por fora da lei, se beneficiam desta mão de obra vulnerável para baratear seus custos. Outras companhias pagam aos detentos um valor muito abaixo do que prevê a legislação. É um lucrativo e obscuro negócio que ocorre atrás das grades das penitenciárias do país que tem a terceira maior população carcerária do mundo. As companhias dos setores público e privado firmam acordos com os Estados para explorar a mão de obra dos internos: o regime de trabalho dos presos não é regulado pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e sim pela Lei de Execuções Penais, que prevê uma remuneração de ao menos três quartos do salário mínimo. Dispõe o artigo 29 da Lei 7.210/84, Lei de Execuções Penais: Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo ser inferior a 3/4 (três quartos) do salário mínimo. § 1º O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender: a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados judicialmente e não reparados por outros meios; b) à assistência à família; c) a pequenas despesas pessoais; d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do condenado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas letras anteriores. § 2º Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte restante para constituição do pecúlio, em Caderneta de Poupança, que será entregue ao condenado quando posto em liberdade. Dispõe a Lei de Execucoes Penais, que o trabalho do preso e do internado deve ser remunerado adequadamente, não se reconhecendo mais o regime de “gorjetas” e “regalias” ou ainda uma remuneração simbólica. Diante dessas regras o trabalho do preso deve ser remunerado mediante prévia tabela, não podendo ser inferior a três quartos do salário-mínimo. Se de um lado, evita-se que os Poderes Públicos se valham das aptidões profissionais dos presos em trabalhos gratuitos, provoca polêmicas em face da irrealidade de sua proposição. CONSTITUCIONAL, TRABALHISTA E PENITENCIÁRIO. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. ART. 29 DA LEI 7210/1984 (LEI DE EXECUÇÃO PENAL). PISO DA REMUNERAÇÃO DO TRABALHO DO PRESO AQUÉM DO SALÁRIO MÍNIMO. ARTS. 1º, III E IV; 5º CAPUT, 6º E 7º, IV E 170, CAPUT, DA CR. NÃO RECEPÇÃO DA NORMA DA LEP. 1. Fixação do piso remuneratório do trabalho de cidadãos presos em ¾ do salário mínimo viola os princípios da dignidade humanda e da isonomia, a garantia de salário mínimo (art. 7º, IV, da Constituição da República) e o valor social do trabalho (arts. 1º,IV, 6º, e 170, caput,da CR). 2. O art. 29, caput, da Lei 7210 de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal), não foi recepcionado pela Constituição de 1988. 3. A declaração de não recepção do Art.29 da LEP pela CR não retira fundamento legal para remuneração do trabalho do preso, pois o direito a trabalho e a sua remuneração estão previstos na CR e, no plano infraconstitucional, no art. 41,II da LEP. 4. Parecer pela procedência do pedido. (ADPF 336/DF) Paulo Lúcio Nogueira (Comentários à lei de execução penal, 1990, pág. 34) dizia que “não há dúvida de que a disposição legal é das mais meritórias, no entanto, não tem sido observado justamente por falta de condições de trabalho nos presídios, fato que precisa ser encarado com seriedade visto que o trabalho é indispensável ao preso ou condenado”. O trabalho executado pelo preso, mesmo com condenação definitiva, não tem a característica de autonomia da sua vontade, mas leva-se em conta as suas condições físicas, mentais, intelectuais e profissionais, como vem estabelecido no artigo 31 da LEP. A determinação legal muitas vezes não tem como ser atendida por falta de oferta de trabalho compatível com as aptidões e capacidade do internado. Segundo a Exposição de Motivos da Lei de Execução Penal, a disposição visa evitar os possíveis antagonismos entre a obrigação do condenado de trabalhar e suas aptidões e a capacidade para a execução da atividade laborativa designada. E, já com vistas à reintegração social do detento, a classificação para determinado tipo de trabalho, na medida do possível, deve levar-se em conta as necessidades futuras do preso e as oportunidades oferecidas pelo mercado. Mas, na maioria das vezes, isso não acontece, dado a impossibilidade de ofertas de trabalho compatíveis que são oferecidas nos Estabelecimentos Prisionais. Considera-se trabalho interno aquele que e exercido nas dependências do Estabelecimento Prisional, em suas áreas externas, com ou sem vigilância. As atividades laborativas são executadas em oficinas, laboratórios, panificadoras, jardins, lavoura, entre outras atividades feitas pelos condenados que se encontram em regime prisional fechado ou semiaberto, mas classificados para o trabalho, pela Comissão Técnica de Classificação. E admissível legalmente utilizar-se a mão-de- obra de condenados na construção, reforma, manutenção e melhoramentos do estabelecimento prisional e nos serviços auxiliares comuns do estabelecimento tais como, enfermarias, escolas, cozinhas, lavanderias e todos os serviços executados em prol da Administração. Esses ofícios internos são de grande valia, pois ocupam o tempo dos detentos, evitam a ociosidade e contribuem para a sua ressocialização social, formação profissional e para a redução do gasto público. O Trabalho Penitenciário interno e dificultado, em regra, em decorrência da estrutura físico- arquitetônica das penitenciárias que foram consumidas com a finalidade de guardar o preso, desvirtuando-se de sua finalidade educativa e ressocializadora. Como trabalho externo, de conformidade com a lei, entende-se aquele que e realizado além dos muros, com autorização da direção do estabelecimento, do Juiz da execução e até mesmo do Juiz sentenciante, sempre sob a fiscalização do Ministério Público. De todo o exposto, conclui-se que ocorreram poucos avanços, no que diz respeito ao sistema carcerário Brasileiro, ou seja, insuficientes para a demanda de um país imenso igual o nosso, impondo as autoridades e a sociedade, uma visão mais reformista e preocupada com o bem estar do ser humano, indiferentemente ao local em que este se encontra, deverá ser tratado como ser humano, com respeito. Além do espaço físico, o sistema pede de um olhar mais atuante, ou seja, vontade política, no sentido de treinamento de profissionais para lidar com os apenados, incluindo-se rol, médicos, advogados e todo um aparato mais humano, no sentido de valorizar a vida,que precisa de apoio para voltar a produzir frutos bons. Neste sentido, a ocupação do preso, torna-se imprescindível, juntamente com o ensino técnico, no intuito de aperfeiçoar o conhecimento deste e prepará-lo para seu retorno, sendo estes colocados num patamar de seres humanos iguais aos demais, após sua saída da prisão, enfrentando o mercado de trabalho e produzindo riquezas a sociedade novamente, pois se for diferente, o crime irá prepará-lo, aí todos tem a perder. O trabalho durante o cumprimento da pena é, sem duvida, um fator muito importante no processo de ressocialização do condenado. O recluso precisa não só adquirir o hábito de trabalhar como também aprender uma profissão que o faça ganhar a vida honestamente ao adquirir a liberdade. Analisando todos os aspectos conjunturais do Brasil, percebe-se que as discussões acerca da temática precisam ser incentivadas, incluindo a sociedade civil organizada nesse debate, minimizando os problemas referentes ao sistema prisional nacional, trazendo a cena, por que não, os atores privados a participarem desse desafio, efetuar o tratamento penal. Ainda no tocante ao sistema pátrio, várias iniciativas poderiam ser tomadas, como a revisão de todo o modelo prisional, todavia, toda e qualquer reforma que se possa pensar, passa, no momento atual, pela necessidade de geração de maior número de vagas carcerárias. Contudo, a simples construção de vagas, não é a resposta a todos as demandas, é cogente, que os presídios tenham estruturas, capazes de abrigar seus detentos, maiores e finalidades melhores. Quanto à visão da sociedade, ressalta-se a necessidade de uma mudança de cultura, com uma visão mais humana, pois estamos falando de cidadãos que o estado cessa a liberdade, não a dignidade. Por fim, bate-se na tecla da educação, pois é desde o início da vida que se aprende a distinguir o certo do errado, sendo através da educação é que brotará a solução para mais este percalço da sociedade.
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