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ii UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA Rafael Rorato Londero Avaliação do Impacto da Integração de Aerogeradores na Estabilidade de Tensão de Longo-Prazo em Sistemas Elétricos de Potência TD 106 / 2014 UFPA / ITEC / PPGEE Campus Universitário do Guamá Belém-Pará-Brasil 2014 iii UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA Rafael Rorato Londero Avaliação do Impacto da Integração de Aerogeradores na Estabilidade de Tensão de Longo-Prazo em Sistemas Elétricos de Potência Tese submetida à Banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da UFPA para a obtenção do Grau de Doutor em Engenharia Elétrica na área de Sistemas de Energia. UFPA / ITEC / PPGEE Campus Universitário do Guamá Belém – Pará – Brasil 2014 iv UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA AVALIAÇÃO DO IMPACTO DA INTEGRAÇÃO DE AEROGERADORES NA ESTABILIDADE DE TENSÃO DE LONGO-PRAZO EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA AUTOR: RAFAEL RORATO LONDERO TESE DE DOUTORADO SUBMETIDA À AVALIAÇÃO DA BANCA EXAMINADORA PELO COLEGIADO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ E JULGADA ADEQUADA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM ENGENHARIA ELÉTRICA NA ÁREA DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA. BANCA EXAMINADORA: Profa. Dra. Carolina de Mattos Affonso (ORIENTADOR – UFPA) Prof. Dr. João Paulo Abreu Vieira (CO-ORIENTADOR – UFPA) Prof. Ph.D. Glauco Nery Taranto (MEMBRO – UFRJ) Prof. Dr. Selênio Rocha Silva (MEMBRO – UFMG) Prof. Dr. Marcus Vinicius Alves Nunes (MEMBRO – UFPA) Prof. Dr. Ubiratan Holanda Bezerra (MEMBRO – UFPA) VISTO: Prof. Dr. Evaldo Gonçalves Pelaes (COORDENADOR DO PPGEE/ITEC/UFPA) v DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus familiares e amigos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização do mesmo. vi AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço a meus pais Raul José Londero e Leda Inês Rorato Londero, por todo o apoio durante a minha vida. Agradeço pela formação moral que me foi dada e pela oportunidade de ter uma formação profissional, pois sem o incentivo deles nada teria sido possível. Agradeço a Professora Carolina Mattos, pela orientação que me foi dada para realização desta tese, e ao Professor João Paulo pelas inúmeras discussões produtivas sobre o assunto. Agradeço aos companheiros do GSEI pela ajuda e sugestões na pesquisa e ao ambiente de trabalho que fora oferecido. Agradeço ao CNPq pelo incentivo financeiro. vii SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................... 1 1.1 A Energia Eólica no Brasil e no Mundo................................................. 1 1.2 Motivação............................................................................................... 6 1.3 Objetivos................................................................................................. 9 1.4 Revisão Bibliográfica............................................................................. 11 1.5 Estrutura da Tese.................................................................................... 18 1.6 Trabalhos Publicados.............................................................................. 20 2. SISTEMAS EÓLICOS............................................................................... 21 2.1 Introdução............................................................................................... 21 2.2 Sistemas Eólicos a Velocidade Constante.............................................. 22 2.3 Sistemas Eólicos a Velocidade Variável................................................ 23 2.4 Principais Componentes de um Sistema Eólico..................................... 24 2.5 Turbina Eólica........................................................................................ 25 2.5.1 Controle de Posição das Pás da Turbina Eólica......................... 31 2.6 Caixa de Engrenagens............................................................................ 33 2.7 Gerador................................................................................................... 34 2.7.1 Gerador de Indução em Gaiola.................................................... 36 2.7.2 Gerador de Indução Duplamente Excitado.................................. 37 2.7.3 Gerador Síncrono com Conversor de Capacidade Nominal........ 39 2.8 Conclusões.............................................................................................. 40 3. ESTABILIDADE DE TENSÃO................................................................ 42 3.1 Introdução............................................................................................... 42 3.2 Conceitos de Estabilidade de Tensão e Segurança de Tensão................ 43 3.3 Classificação da Estabilidade de Tensão................................................ 48 3.4 Mecanismo da Instabilidade de Tensão................................................. 50 3.5 Curva PV................................................................................................ 52 3.6 Análise Estática e Dinâmica................................................................... 63 3.7 Conclusões.............................................................................................. 63 viii 4. GERADOR DE INDUÇÃO DUPLAMENTE EXCITADO.................. 65 4.1 Introdução.............................................................................................. 65 4.2 Modelo do DFIG para Estudos em Regime Permanente....................... 66 4.3 Considerações na Modelagem para Estudos de Estabilidade................ 67 4.4 Representação do Gerador de Indução.................................................. 69 4.5 Representação da Turbina Eólica e Controle de Passo......................... 74 4.6 Representação do Sistema Mecânico.................................................... 79 4.7 Representação dos Conversores e do Link CC..................................... 82 4.8 Estratégia de Controle para o GSC....................................................... 87 4.9 Estratégia de Controle para o RSC........................................................ 93 4.10 Cálculo dos Limites dos Conversores e Curva de Capacidade........... 97 4.10.1 Limite da Corrente do Rotor..................................................... 99 4.10.2 Limite da Corrente do Estator.................................................. 101 4.10.3 Limite da Tensão do Rotor........................................................ 102 4.10.4 Definição dos Limites de Potência Reativa do DFIG............... 104 4.10.5 Potências Ativa e Reativa Totais fornecida pelo DFIG............ 105 4.11 Cálculo dos Limites das Malhas de Controle do RSC........................ 112 4.11.1 Malha de Controle de Potência Ativa....................................... 113 4.11.2 Malha de Controle de Potência Reativa................................... 114 4.11.3 Avaliação dos Termos ............. 114 4.12 Conclusões........................................................................................... 115 5. GERADOR SÍNCRONO COM CONVERSOR DE CAPACIDADE NOMINAL.................................................................................................. 117 5.1 Introdução.............................................................................................. 117 5.2 Modelo do Gerador Síncronocom Rotor Bobinado.............................. 118 5.3 Malha de Controle da Tensão do Capacitor........................................... 119 5.4 Malha de Controle do Inversor.............................................................. 123 5.5 Curva de Capacidade do FRC................................................................ 128 5.6 Conclusões............................................................................................. 131 6. RESULTADOS........................................................................................... 132 6.1 Introdução............................................................................................... 132 ix 6.2 Sistema Teste.......................................................................................... 133 6.3 Impactos Causados pela Integração de Aerogeradores SCIG e DFIG.... 134 6.3.1 Abertura de uma Linha de Transmissão no Trecho 6-7................. 135 6.3.2 Aumento de Carga de 20%............................................................. 137 6.4 Impacto dos Diferentes Modos de Controle do DFIG............................ 139 6.4.1 Cenário 1: Carga Estática.............................................................. 140 6.4.2 Cenário 2: Carga Estática e Dinâmica ......................................... 143 6.5 Contribuição de Aerogeradores a Velocidade Variável para Suporte de Potência Reativa....................................................................................... 145 6.6 Contribuição do GSC para a Estabilidade de Tensão de Longo-Prazo... 150 6.6.1 Impacto do Nível de Penetração Eólica.......................................... 151 6.6.2 Nível de Penetração Intermediário (15,3%)................................... 153 6.7 Conclusões.............................................................................................. 157 7. CONCLUSÕES FINAIS E TRABALHOS FUTUROS.......................... 159 7.1 Considerações Finais.............................................................................. 159 7.2 Integração de Aerogeradores SCIG e DFIG........................................... 159 7.3 Modos de Controle: Fator de Potência ou Tensão Terminal.................. 160 7.4 Contribuição de Aerogeradores para o Suporte de Potência Reativa...... 160 7.5 Contribuição do GSC para a Estabilidade de Tensão de Longo-Prazo... 161 7.6 Conclusões Finais................................................................................... 161 7.7 Trabalhos Futuros................................................................................... 166 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 167 ANEXO – DADOS DO SISTEMA TESTE......................................................... 177 x LISTA DE FIGURAS Figura 1.1: Crescimento da capacidade total instalada em energia eólica pelo mundo.......................................................................................................................... 2 Figura 1.2: Evolução da capacidade eólica total instalada no Brasil......................... 4 Figura 1.3: Matriz Elétrica Brasileira 2013................................................................ 5 Figura 1.4: Complementaridade das fontes hídrica-eólica na região nordeste......... 6 Figura 2.1: Estrutura de um aerogerador de eixo horizontal...................................... 24 Figura 2.2: Representação aerodinâmica de uma turbina eólica................................ 27 Figura 2.3: Elemento de seção da pá na posição ..................................................... 28 Figura 2.4: Forças atuantes em um elemento de seção da pá..................................... 29 Figura 2.5: Evolução da potência das turbinas eólicas com o aumento do diâmetro 31 Figura 2.6: Controle Estol: o aumento do ângulo de ataque proporciona um maior descolamento do escoamento sobre a pá........................................................... 32 Figura 2.7: Curva de potência para aerogeradores com potência de 850 kW............ 33 Figura 2.8: Divisão do mercado eólico entre os maiores fabricantes em 2012.......... 35 Figura 2.9: Gerador de indução em gaiola conectado diretamente a rede elétrica..... 36 Figura 2.10: Gerador de indução duplamente excitado ligado a rede elétrica........... 37 Figura 2.11: Gerador síncrono com conversor de capacidade nominal ligado a rede elétrica.......................................................................................................................... 40 Figura 3.1: Classificação da estabilidade de tensão................................................... 48 Figura 3.2: Sistema de potência elementar................................................................. 53 Figura 3.3: Curva PV e definição da margem de estabilidade de tensão MET......... 55 Figura 3.4: Definição da Capacidade de Transmissão Disponível CTD.................... 58 Figura 3.5: Evolução do máximo carregamento para diferentes cargas ( ).......... 60 Figura 3.6: Aumento da demanda da carga para carga do tipo potência constante... 62 Figura 3.7: Limite de Estabilidade............................................................................. 62 Figura 4.1: Janela de tempo dos fenômenos de estabilidade nos sistemas de potência........................................................................................................................ 68 Figura 4.2: Modelo dinâmico de ordem reduzida do DFIG....................................... 73 Figura 4.3: Curvas ................................................................................... 76 Figura 4.4: Potência mecânica para várias velocidades de ventos e .............. 76 Figura 4.5: Malha de controle de passo da turbina eólica.......................................... 77 xi Figura 4.6: Sistema de controle do DFIG................................................................... 78 Figura 4.7: Sistema mecânico representado por duas massas.................................... 80 Figura 4.8: Diagrama de blocos para o modelo duas massas do eixo mecânico........ 80 Figura 4.9: Conversores e link CC............................................................................ 82 Figura 4.10: Cálculo de para estratégia de controle do GSC................................ 85 Figura 4.11: Malhas de controle para o GSC............................................................. 91 Figura 4.12: Estratégia de controle do RSC.............................................................. 93 Figura 4.13: Malhas de controle de potência ativa e reativa para o DFIG................. 96 Figura 4.14: Quadripolo representativo do gerador de indução................................. 97 Figura 4.15: Curva de capacidade do DFIG considerando apenas o RSC (terminal igual a 1 p.u.)............................................................................................................... 110 Figura 4.16: Curva de referência do DFIG............................................ 111 Figura 4.17: Curva de capacidade para diferentes valores de tensão terminal.......... 112 Figura 4.18: Curva de capacidade completa para tensão terminal igual a 1 p.u....... 112 Figura 5.1: Diagrama de blocos do gerador síncrono de polos salientes................... 119 Figura 5.2: Chopper tipo boost................................................................................... 120 Figura 5.3: Diagrama de blocos da malha de controle do chopper............................ 122 Figura 5.4: Representação do inversor de tensão....................................................... 123 Figura 5.5: Estratégia de controle para o inversor...................................................... 124 Figura 5.6: Malhas de controle do inversor................................................................126 Figura 5.7: Limitação de corrente do inversor........................................................... 127 Figura 5.8: Sistema de controle do FRC.................................................................... 128 Figura 5.9: Curva de capacidade do DFIG e FRC para tensão terminal igual 1 p.u. 130 Figura 5.10: Curvas de capacidade considerando a capacidade do inversor do FRC igual a 1 MVA............................................................................................................. 131 Figura 6.1: Diagrama unifilar do sistema teste........................................................... 133 Figura 6.2: Regime de ventos..................................................................................... 133 Figura 6.3: Comportamento das variáveis do gerador G3.......................................... 135 Figura 6.4: Tensões nas barras de carga..................................................................... 136 Figura 6.5: Potência reativa fornecida/consumida pela barra de geração eólica........ 136 Figura 6.6: Tensões nas barras de carga..................................................................... 137 Figura 6.7: Efeito da comutação dos taps do OLTC.................................................. 138 Figura 6.8: Curvas PV................................................................................................ 139 xii Figura 6.9: Tensão na barra 11................................................................................. 141 Figura 6.10: Tensão na barra 8................................................................................... 141 Figura 6.11: Corrente de campo de G3...................................................................... 141 Figura 6.12: Posição do tap........................................................................................ 142 Figura 6.13: Potência reativa fornecida pelo DFIG................................................... 142 Figura 6.14: Curva PV da barra 8............................................................................... 143 Figura 6.15: Tensão na barra 11................................................................................. 143 Figura 6.16: Tensão na barra 8................................................................................... 143 Figura 6.17: Corrente de campo do gerador G3........................................................ 144 Figura 6.18: Posição do tap........................................................................................ 144 Figura 6.19: Potência reativa absorvida pelos motores.............................................. 145 Figura 6.20: Curva PV da barra 8............................................................................... 145 Figura 6.21: Sistema teste modificado com parque eólico transferido para a barra 2 146 Figura 6.22: Regimes de vento com velocidades altas e baixas................................. 146 Figura 6.23: Tensão na barra 8 durante condições de altas velocidades.................... 147 Figura 6.24: Tensão na barra 8 durante condições de baixas velocidades................. 147 Figura 6.25: Potência reativa injetada pelo DFIG durante condições de altas velocidades................................................................................................................... 148 Figura 6.26: Potência reativa injetada pelo DFIG durante condições de baixas velocidades................................................................................................................... 148 Figura 6.27: Potência reativa injetada pelo FRC durante condições de baixas velocidades................................................................................................................... 149 Figura 6.28: Potência reativa injetada na barra 2 durante condições de baixas velocidades................................................................................................................... 149 Figura 6.29: Curva PV da barra 8 durante condições de baixas velocidades............. 149 Figura 6.30: Limite de potência reativa para todos os níveis de penetração.............. 152 Figura 6.31: Tensão na barra 8 para todos os níveis de penetração........................... 152 Figura 6.32: Limite de potência reativa para todas tecnologias com ... 153 Figura 6.33: Tensão na barra 8................................................................................... 154 Figura 6.34: Evolução do tap...................................................................................... 154 Figura 6.35: Corrente de campo do gerador G3......................................................... 155 Figura 6.36: Potência reativa injetada pelo DFIG(RSC) e FRC e os seus limites de potência reativa............................................................................................................ 155 xiii Figura 6.37: Potência ativa produzida pelos aerogeradores....................................... 155 Figura 6.38: Ângulo de passo..................................................................................... 155 Figura 6.39: Coeficiente de potência.......................................................................... 156 Figura 6.40: Potência reativa injetada pelo DFIG(RSC+GSC).................................. 156 Figura 6.41: Potência reativa absorvida pelos motores de indução............................ 156 Figura 6.42: Curva PV da barra 8............................................................................... 156 Figura 6.43: Carregamento do sistema....................................................................... 157 xiv LISTA DE TABELAS Tabela 1.1: Os 10 países com maior capacidade eólica instalada no mundo............ 3 Tabela 1.2: Os 10 países com maior capacidade eólica adicionada em 2013........... 3 Tabela 2.1: Os maiores fabricantes de aerogeradores no mundo em 2012............... 35 Tabela 3.1: Característica e sensibilidade da carga................................................... 55 Tabela 6.1: Cenários de geração................................................................................ 134 Tabela 6.2: Cenários de geração e controle do DFIG............................................... 140 Tabela 6.3: Níveis de penetração eólica.................................................................... 151 xv LISTA DE ABREVIATURAS BEM Blade Element Momentum (Momento do Elemento das Pás) CA Corrente Alternada CC Corrente Contínua CET Compromissos Existentes da Transmissão CTD Capacidade de Transferência Disponível DFIG Doubly Fed Induction Generator (Gerador de Indução Duplamente Excitado) EE Electrically Excited (Eletricamente Excitado) FACTS Flexible AC Transmission Systems (Sistemas de Transmissão CA Flexíveis) FRC Full Rated Converter (Conversor de Capacidade Nominal) GFC Gear and Full Converter (Caixa de Engrenagens e Conversor Nominal) GSC Grid-Side Converter (Conversor do Lado da Rede) HVDC High Voltage Direct Current (Transmissão CC em Alta Tensão) IG Induction Generator (Gerador de Indução) IGBT Insulated Gate Bipolar Transitor (Transistor Bipolar de Porta Isolada) MBC Margem de Benefício de Capacidade MCT Margem de Confiabilidade da Transmissão MET Margem de Estabilidade de Tensão OEL Over-Excitation Limiter (Limitador de Sobre-excitação) OLTC On-Load Tap Changer (Comutador de Tap sob Carga) ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico xvi PCH Pequenas Centrais Hidrelétricas PDE Plano Decenal de Energia P+I Ações de controle Proporcional e Integral PM Permanent Magnets (Imã Permamente) PMU Phasor Measurement Unit (Unidade de Medição Fasorial) PROINFA Programa de Incentivo as Fontes Alternativas PWM Pulse Width Modulation (Modulaçãopor Largura de Pulso) RSC Rotor-Side Converter (Conversor do Lado do Rotor) SCIG Squirrel Cage Induction Generator (Gerador de Indução em Gaiola) SEE Sistemas de Energia Elétrica SHEM Selective Harmonic Elimination Modulation (Eliminação Harmônica Seletiva) SIL Surge Impedance Loading (Impedância de Surto) SIN Sistema Interligado Nacional SVC Static Var Compensator (Compensador Estático de Reativo) STATCOM Static Compensator (Compensador Estático) TSR Tip Speed Ratio (velocidade específica de ponta de pá) UEL Under-Excitation Limiter (Limitador de Sub-excitação) UHE Usina Hidrelétrica xvii LISTA DE SÍMBOLOS sensibilidades (carga estática) ângulo de ataque e ângulo de passo (turbina eólica) [graus] ângulo de torção [radianos] erro de velocidade, erro de potência e erro de tensão [p.u.] ângulo de carga [radianos] ângulo de fase da tensão terminal em relação ao eixo [graus] velocidade específica de ponta de pá velocidade específica ótima de ponta de pá fluxo magnético do estator no eixo [p.u.] fluxo magnético do rotor no eixo [p.u.] densidade do ar [kg/m 3 ] ângulo do fator de potência da carga [graus] fase interna do conversor k no eixo [graus] fase do conversor k no eixo [graus] velocidade angular do sistema de potência [rad/s] velocidade mecânica da turbina [rad/s] velocidade síncrona [p.u.] área coberta pelas pás do rotor da turbina eólica [m2] relação de transformação do transformador xviii relação de transformação dos transformadores T1 e T2 do FRC número de pás do rotor da turbina eólica [B] matriz susceptância [p.u.] C capacitância do capacitor do link CC [p.u.] coeficiente de potência coeficiente de arrasto e sustentação comprimento de corda [m] D coeficiente de amortecimento [p.u.] energia armazenada no capacitor [p.u.] tensão subtransitória do gerador síncrono do FRC [p.u.] tensão interna do conversor k no eixo [p.u.] tensão interna do inversor no eixo [p.u.] tensão transitória interna do DFIG no eixo [p.u.] frequência de ressonância do eixo mecânico [Hz] força resultante, sustentação, arrasto, axial e tangencial [N] [G] matriz condutância constante de inércia equivalente, turbina e gerador [s] corrente no capacitor, indutor, diodo e inversor [p.u.] corrente de armadura do gerador síncrono do FRC [p.u.] corrente do inversor no eixo [p.u.] xix corrente do conversor k no eixo [p.u.] corrente do conversor k no eixo [p.u.] corrente do estator no eixo [p.u.] corrente do rotor no eixo [p.u.] constante de tensão do conversor k constante de corrente do conversor k fator de forma para modulação PWM do conversor k rigidez do eixo mecânico [p.u./rad.elet.] indutância do indutor do chopper boost do FRC [p.u.] auto-indutância do estator e rotor [p.u.] indutância do estator, rotor e magnetização [p.u.] índice de modulação do conversor k índice de modulação do chopper índice de modulação do inversor número de conversores conectados em pontes trifásicas do conversor k potência ativa do estator, rotor, conversor k e total [p.u.] potência ativa solicitada pela carga e potência ativa inicial potência ativa dissipada pelo DFIG em função da corrente do rotor e da tensão do rotor [p.u.] máximo carregamento [Watts] xx potência contida na massa ventos [Watts] potência mecânica extraída pela turbina [Watts] potência reativa do estator, rotor, conversor k e total [p.u.] potência reativa solicitada pela carga e potência reativa inicial potência reativa drenada pelo DFIG em função da corrente do rotor e da tensão do rotor [p.u.] raio do rotor (turbina eólica) [m] resistência de comutação [p.u.] resistor de dissipação [p.u.] distância do cubo do rotor até o elemento [m] potência aparente do estator, rotor, conversor e total [p.u.] potência aparente em função da corrente do rotor, corrente do estator e tensão do rotor [p.u.] escorregamento [p.u.] constante de tempo de circuito aberto do DFIG [s] torque eletromagnético (carga), mecânico (turbina) e torção [p.u.] torque axial e tangencial [N.m] velocidade relativa do vento e suas componentes (tangencial e axial) [m/s] tensão inicial para o ponto de operação tensão de saída do retificador e tensão no inversor [p.u.] tensão crítica no ponto de máximo carregamento [p.u.] xxi tensão de saída a vazio do retificador [p.u.] tensão terminal no eixo [p.u.] tensão do estator no eixo [p.u.] tensão do rotor no eixo [p.u.] amplitudes do sinal modulante e portadora triangular do sinal PWM tensão no capacitor do link CC [p.u.] reatância de circuito aberto e reatância transitória do DFIG [p.u.] reatância subtransitória de eixo direto do gerador síncrono do FRC [p.u.] [Y] matriz admitância impedância (resistência, reatância) do estator [p.u.] impedância (resistência, reatância) do rotor [p.u.] impedância do núcleo (reatância) [p.u.] impedância (resistência, reatância) do transformador de acoplamento [p.u.] reatância dos transformadores T1 e T2 do FRC [p.u.] [Z] matriz impedância z demanda solicitada pela carga taxa de variação de potência taxa de variação do ângulo de passo xxii Subscritos eixo do controle (direto e quadratura) quantidades referentes ao estator, rotor e magnetização máximo e mínimo eixo de referência do sistema de potência (real e imaginário) b valor base c quantidades referentes ao inversor do FRC CA,CC quantidades do sistema CA e CC conversor 1 e 2 para o DFIG (GSC e RSC) valor de referência xxiii RESUMO Esta tese analisa os impactos causados na estabilidade de tensão de longo-prazo em sistemas elétricos de potência, por meio da integração de aerogeradores a velocidade constante: gerador de indução em gaiola SCIG (Squirrel Cage Induction Generator); e aerogeradores a velocidade variável: gerador de indução duplamente alimentado DFIG (Doubly Fed Induction Generator) e gerador síncrono eletricamente excitado com conversor de capacidade nominal FRC (Full Rated Converter). Aerogeradores a velocidade variável são capazes de fornecer potência reativa graças aos conversores de eletrônica de potência, os quais estão sujeitos a limitações de tensão e corrente, e dependem das condições de operação do sistema e do regime de ventos. Assim como os geradores síncronos convencionais, os aerogeradores a velocidade variável são descritos por curvas de capacidade que definem os limites de injeção/absorção de potência reativa como função da tensão terminal e da potência ativa injetada. Equipamentos como transformador com comutador de tap sob carga OLTC (On-Load Tap Changer), o limitador de sobre-excitação OEL (Over-Excitation Limiter) dos geradores síncronos, cargas estáticas e dinâmicas (motor de indução) são levados em consideração nas análises, pois afetam significativamente a estabilidade de tensão de longo-prazo. A contribuição dos aerogeradores a velocidade variável é analisada considerando os modos de controle (fator de potência ou tensão terminal), regimes de velocidades dos ventos(altas e baixas) e a importância do suporte de potência reativa do DFIG pelo conversor do lado da rede GSC (Grid-Side Converter) para prevenção do colapso de tensão. Palavras-chaves: Aerogerador a Velocidade Constante, Aerogerador a Velocidade Variável, Curvas de Capacidade, Conversor do lado da rede, Estabilidade de Tensão de Longo-Prazo. xxiv ABSTRACT This thesis analyzes the impacts on long-term voltage stability at electric power systems, through integration of fixed-speed wind generator: squirrel cage induction generator SCIG; and variable-speed wind generators: doubly fed induction generator DFIG and electrically excited synchronous generator with full rated converter FRC. Variable-speed wind generators are capable of providing reactive power due to the power electronic converters, which are subject to limitations of voltage and current, and depend on power system operating conditions and wind speed regime. As well conventional synchronous generators, variable-speed wind generators are described by capability curves that define the limits of injection/absorption of reactive power as a function of terminal voltage and active power injected. Equipment such as on-load tap changer transformer OLTC, over-excitation limiter OEL of synchronous generators, static and dynamic loads (induction motors) are taken into account in the analyzes, therefore significantly affect the long-term voltage stability. The contribution of the variable-speed wind generators are analyzed considering the control modes (power factor and terminal voltage), the wind speeds regimes (high and low) and the importance of reactive power support from DFIG by grid-side converter GSC to prevent the voltage collapse. Keywords: Fixed-Speed Wind Generator, Variable-Speed Wind Generator, Capability Curve, Grid-Side Converter, Long-Term Voltage Stability. 1 Capítulo 1 Introdução 1.1 A Energia Eólica no Brasil e no Mundo O interesse pelas energias renováveis é uma tendência generalizada em vários países do mundo, pelo fato de proporcionar redução dos impactos ambientais, diversificação da matriz energética e independência dos combustíveis fósseis. As tecnologias aplicadas às energias renováveis compreendem usinas térmicas baseadas em biomassa, células combustíveis, usinas eólicas, usinas solares, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e etc. De todas as fontes renováveis, a energia eólica é a que mais cresce no mundo em capacidade instalada [1]. A maior parte do potencial eólico mundial encontra-se no mar, distante dos grandes centros de consumo, fazendo com que os parques eólicos sejam conectados por longas linhas de transmissão, trazendo novos desafios para a operação dos sistemas de energia elétrica (SEEs) do mundo todo [2]. As fontes renováveis ganharam importância, principalmente, devido aos problemas ambientais ocasionados pela exploração de fontes de energia não-renováveis, como os combustíveis fósseis que emitem grandes quantidades de gases causadores do efeito estufa, fenômeno responsável pelo aquecimento global e mudanças climáticas. Para conter o aumento da temperatura global foi criado o Protocolo de Quioto em 1997 no Japão, o qual visou à redução de gases de efeito estufa. O Protocolo de Quioto expirou em 2012, porém, a Conferência do Clima de Doha, no Quatar, a chamada COP- 18 garantiu a sua continuidade de 2013 a 2020, com revisão de novas metas em 2014. Em 2013, mais de 35 GW em capacidade eólica adicionada entrou em operação nos SEEs de todo mundo, apresentando uma pequena queda em comparação a 2012, quando a capacidade eólica global adicionada excedeu 45 GW. Em termos de investimentos no setor eólico global, ocorreu uma pequena queda de US$ 80,9 bilhões (2012) para US$ 80,3 bilhões (2013) [3]. A capacidade global estava em 318.105 MW 2 ao final de 2013, representando um crescimento acumulado de mercado maior do que 12,5%, conforme mostra a Figura 1.1. Figura 1.1 Crescimento da capacidade total instalada em energia eólica pelo mundo [3]. A China assumiu a liderança no rank dos 10 países com maior capacidade eólica instalada no mundo, representando o maior mercado eólico desde 2009 [3], conforme mostra a Tabela 1.1. Incertezas políticas sobre as regras das taxas de produção de crédito e a desaceleração da economia, forçaram os Estados Unidos a reduzir sua capacidade eólica a ser adicionada [3], conforme mostra a Tabela 1.2. Ao final do ano de 2013, 24 países estavam com mais 1.000 MW de capacidade instalada, sendo: 16 na Europa, 4 na Ásia-Pacífico (China, Índia, Japão e Austrália), 3 na América do Norte (Estados Unidos, Canadá e México) e 1 na América Latina (Brasil). Pelo segundo ano consecutivo, o mercado latino-americano instalou mais de 1 GW de capacidade eólica. Em 2012, seis mercados regionais instalaram 1.225 MW sobre um total de 3,5 GW de capacidade. Em 2013, apenas quatro mercados incluindo Brasil, Chile, Argentina e Uruguai responderam por 1.163 MW sobre um total de 4,8 GW de capacidade eólica [3]. Ao final de 2013, o Brasil mais uma vez lidera na América Latina, com 953 MW de capacidade adicionada, seguido por Chile (130 MW), Argentina (76 MW) e Uruguai (4 MW). Embora, todos os projetos de geração eólica no Brasil estejam completamente comissionados, alguns parques eólicos ainda não entraram em operação por atrasos em obras de construção de linhas transmissão que os conectam ao sistema elétrico. O Brasil 39.295 47.693 59.024 74.122 93.927 120.923 159.766 199.739 237.227 282.272 318.105 0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000 350.000 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 C ap ac id ad e To ta l I n st al ad a (M W ) Anos 3 é um grande mercado promissor em energia eólica onshore. O Brasil contratou 4,7 GW de capacidade eólica em apenas três leilões em 2013, e aguarda acrescentar quase 7 GW até o final de 2015 [3]. Tabela 1.1 Os 10 países com maior capacidade eólica instalada no mundo [3]. País Capacidade Total no final de 2013 [MW] % China 91.412 28,7 Estados Unidos 61.091 19,2 Alemanha 34.250 10,8 Espanha 22.959 7,2 Índia 20.150 6,3 Reino Unido 10.531 3,3 Itália 8.552 2,7 França 8.254 2,6 Canadá 7.803 2,5 Dinamarca 4.772 1,5 Resto do Mundo 48.332 15,2 Total top 10 269.773 84,8 Total 318.105 100 Tabela 1.2 Os 10 países com maior capacidade eólica adicionada em 2013 [3]. País Capacidade adicionada em 2013 [MW] % China 16.088 45,6 Alemanha 3.238 9,2 Reino Unido 1.883 5,3 Índia 1.729 4,9 Canadá 1.559 4,5 Estados Unidos 1.084 3,1 Brasil 953 2,7 Polônia 894 2,5 Suécia 724 2,1 Romênia 695 2 Resto do Mundo 6.402 18,1 Total top 10 28.887 82 Total 35.289 100 No fim de 2013, o Brasil tinha 3,5 GW de capacidade eólica instalada, o suficiente para suprir 8 milhões de famílias, representando 3% do consumo nacional de 4 energia elétrica. Somente em 2013, 34 novos parques eólicos entraram em operação, adicionando 953 MW ao Sistema Interligado Nacional (SIN). A indústria eólica e sua cadeia de fornecedores estão se estabelecendo firmemente no Brasil e nove fabricantes internacionais abriram instalações no país. O Plano Decenal de Energia do governo brasileiro (PDE 2022) estabelece uma meta de 17 GW de capacidade eólica instalada a ser alcançada até 2022, sendo responsável por 9,5% do consumo nacional de energia elétrica [3]. A Figura 1.2 apresenta a evolução da capacidade total eólica instalada no Brasil nos últimos anos. Figura 1.2 Evolução da capacidade eólica total instalada no Brasil [3]. Quase metade da nova capacidade eólica instalada em 2013 é proveniente de três novos complexos de parques eólicos: 160 MW do complexo de Asa Branca compostopor cinco parques eólicos, 150 MW do complexo de Calango também distribuídos por cinco parques eólicos e 120 MW do complexo de Renascença composta por quatro parques eólicos. Estima-se que os leilões eólicos de 2013 criarão mais de 70.000 novos empregos e trarão investimentos de US$ 8,8 bilhões para a indústria eólica [3]. O PROINFA (Programa de Incentivo as Fontes Alternativas) conforme descrito no Decreto nº 5.025, de 2004, foi instituído com o objetivo de aumentar a participação da energia elétrica produzida por empreendimentos concebidos com base em fontes eólicas, biomassa e PCH no SIN. O intuito foi promover a diversificação da matriz energética brasileira, buscando alternativas para aumentar a segurança no abastecimento de energia elétrica, além de permitir a valorização das características e potencialidades 29 237 247 341 606 927 1.431 2.508 3.461 0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 4.000 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 C ap ac id ad e To ta l I n st al ad a (M W ) Anos 5 regionais e locais. A Figura 1.3 apresenta um panorama atual da matriz elétrica brasileira. A fonte hidrelétrica é a principal responsável pelo fornecimento de energia elétrica no Brasil e o nível dos reservatórios representa a quantidade de energia hidrelétrica disponível para o SIN. Nesse contexto, a região nordeste do Brasil tem uma característica interessante com relação à produção de energia eólica. A velocidade dos ventos costuma ser menor nos períodos chuvosos e maior nos períodos de estiagem. Essa característica favorece a complementaridade entre as fontes hídrica e eólica. A Figura 1.4 apresenta o volume do reservatório da UHE Sobradinho e a geração eólica da região nordeste durante o ano de 2012. Durante o 1º semestre o volume dos reservatórios é alto, e a oferta de energia é grande, explicando porque as tarifas do período úmido são menores do que as tarifas praticadas no período seco. Porém, no 2º semestre quando o nível dos reservatórios está baixo a geração eólica é alta, fazendo com que a tarifa do período seco tenda a diminuir, além de garantir uma capacidade maior de armazenamento para os reservatórios. Em 2012, por questões de segurança energética, foi necessário o despacho de termelétricas em momentos que a geração não conseguiria atender a carga, atuando em horários de ponta de carga, elevando o valor das tarifas e dos encargos aos consumidores. Outras Térmicas 1,4 Nuclear 2 Carvão 3 Eólica 3,5 Derivados do Petróleo 7,7 Biomassa 11,4 Gás Natural 12,5 Hidrelétrica 85,9 Capacidade Instalada (GW) Figura 1.3 Matriz Elétrica Brasileira 2013 [3]. 6 Em dezembro de 2012, a geração eólica poupou os consumidores brasileiros de R$ 500 milhões a mais de encargos de segurança energética. Considerando o ano todo, a fonte eólica evitou cerca R$ 1,6 bilhões e caso as usinas eólicas não existissem o valor pago pelos encargos seria de R$ 3,4 bilhões [5]. A complementaridade da fonte eólica, além de proporcionar economias nas tarifas e encargos, garante maior segurança e confiabilidade ao sistema. Já o ano de 2014 promete altos encargos a serem pagos pelo consumidor devido à escassez das chuvas, reforçando a necessidade de expansão do parque eólico brasileiro. Figura 1.4 Complementaridade das fontes hídrica-eólica na região nordeste [4]. 1.2 Motivação A busca por fontes de energia renovável visa à diversificação da matriz energética mundial, consequentemente, promove a independência dos combustíveis derivados do petróleo com a redução das tarifas de energia e ainda contribui ao meio ambiente para a diminuição do aquecimento global. Nesse cenário mundial, o aumento da penetração eólica pelos sistemas de potência do mundo todo levou muitos operadores de sistemas a reformularem seus códigos de rede, com respeito à geração eólica. Os primeiros aerogeradores de grande porte conectados aos sistemas de potência operavam a velocidade constante, compostos tipicamente por geradores de indução do tipo gaiola de esquilo SCIG (Squirrel Cage Induction Generator), os quais são desprovidos de controle de potências ativa e reativa. Esse tipo de aerogerador ganhou popularidade na indústria pela construção robusta e barata, porém devido às novas 5 10 15 20 25 30 V o lu m e d o R e s e rv a tó ri o [ k m 3 ] Meses do Ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 150 200 250 300 350 400 G e ra ç ã o E ó lic a [ M W ] Reservatório Usina Eólica Período Úmido Período Seco 7 tendências dos códigos de rede, que exigem rápida recuperação da tensão terminal e fornecimento de potência reativa durante a ocorrência de faltas (em grande parte dos países europeus), fez com que os aerogeradores a velocidade constante perdessem mercado para os esquemas a velocidade variável, compostos por gerador de indução duplamente excitado DFIG (Doubly Fed Induction Generator) e gerador síncrono com imã permanente ou eletricamente excitado com conversor de capacidade nominal FRC (Full Rated Converter), ambos controlados por conversores de eletrônica de potência. Graças aos conversores, os aerogeradores a velocidade variável são capazes de fornecer potência reativa e alcançar as metas exigidas pelo código de rede. Atualmente, a tecnologia de aerogeradores a velocidade variável domina o mercado eólico de fabricantes. Com o aumento da demanda, os grandes parques eólicos são exigidos a fornecer potência reativa para o sistema de potência quer seja em situações de contingências, como também para aliviar o congestionamento do sistema de transmissão nos momentos de ponta de carga, oferecendo flexibilidade operacional ao sistema de potência. Em todos os casos, o fornecimento de potência reativa visa o aumento da margem de estabilidade de tensão, em momentos que o sistema de potência encontra-se altamente carregado. Pelo fato do conversor do FRC possuir maior capacidade em relação aos conversores do DFIG, poderia se pensar que o FRC possui por consequência maior capacidade de fornecer potência reativa ao sistema de potência [6,7]. Entretanto, na literatura não existe nenhuma avaliação para a estabilidade de tensão de longo-prazo considerando o fornecimento de potência reativa por parte do conversor do lado da rede GSC (Grid-Side Converter) do DFIG. Embora os esquemas a velocidade variável possam representar uma excelente possibilidade de melhorar o comportamento dinâmico do sistema de potência, ainda existem grandes desafios a serem superados pela integração desta tecnologia as redes elétricas, no que diz respeito aos diversos problemas operacionais que podem ocorrer, especialmente sob um nível de penetração elevado [8,9]. Dentre os problemas, pode-se destacar o fenômeno de instabilidade de tensão, considerado há algum tempo uma preocupação constante na operação dos sistemas de potência modernos. Restrições ambientais e financeiras embargam a expansão do sistema de transmissão, fazendo com que os sistemas de potência operem próximos aos seus limites de capacidade, aumentando os riscos de instabilidade de tensão. Os equipamentos que compõem o sistema de transmissão, o tipo de gerador e a natureza da 8 carga, influenciam fortemente a estabilidade de tensão. A expansão do sistema de transmissão brasileiro não consegue acompanhar o aumento da demanda e da geração eólica no país [3]. A estabilidade de tensão esta associada à capacidade do sistema em manter tensões adequadas em todas as suas barras após um distúrbio. Geralmente, a instabilidade aparece na forma de uma queda progressiva e descontrolada da tensão em algumas barras, provocada por mecanismos de restauração da carga e reservas insuficientes de potência reativa [10-12]. A instabilidade de tensão é um fenômeno não- linear, de caráter local, mas pode abranger a maioria/totalidade do sistemade potência pela atuação em cascata dos equipamentos de proteção. Dependendo da característica da carga, os fenômenos envolvidos na estabilidade de tensão podem ser de natureza rápida ou lenta. Nesta tese, a ênfase será dada aos fenômenos de longo-prazo, com duração de vários segundos até poucos minutos, ao contrário da instabilidade de curto-prazo que se dá poucos segundos após a ocorrência da perturbação na rede. A instabilidade de tensão pode ocorrer pelo aumento gradual da carga ou operação em contingência. Em ambos os casos, quando o sistema de potência opera estressado com altos níveis de carregamentos, próximo do limite de máxima transferência de potência, uma sequência de eventos pode levar o sistema de potência ao colapso de tensão [10-12]. Pode-se citar como exemplos de blecautes os que atingiram parte dos Estados Unidos e Canadá em agosto de 2006, Itália em 2003 e Grécia em 2004 [13-15]. O transformador com comutador de tap sob carga OLTC (On-Load Tap Changer), o limitador de sobre-excitação da corrente de campo OEL (Over-Excitation Limiter) das máquinas síncronas e o motor de indução são os principais equipamentos que contribuem para a instabilidade de tensão [10-12]. O OLTC é indispensável para grandes consumidores industriais e redes de distribuição, pois aumenta a capacidade de máxima transferência de potência através do controle da posição do tap, contudo esse processo acelera a depreciação da tensão. O OEL é uma proteção contra sobre- aquecimento do enrolamento de campo devido elevadas solicitações de potência reativa e quando este equipamento atua, a excitação é reduzida drasticamente, normalmente levando o sistema de potência ao colapso de tensão. O motor de indução é uma das principais máquinas utilizadas na indústria em diversos segmentos, contudo o alto consumo de potência reativa combinada com as ações do OLTC e do OEL pode levar o sistema de potência ao colapso de tensão. 9 Inicialmente, grande parte dos aerogeradores a velocidade variável operavam sob fator de potência constante, normalmente próximo do unitário para vender a maior potência ativa disponibilizada pelos ventos. Entretanto, com o aumento da penetração eólica, os aerogeradores passaram a contribuir para o balanço de potência reativa do sistema de potência, controlando a tensão terminal da central eólica. Nesse contexto, o modo de controle do DFIG será analisado sob o ponto de vista da estabilidade de tensão de longo-prazo. Em 2014, espera-se que o Brasil ultrapasse a capacidade de 4.400 MW de potência eólica instalada, dividindo com o grande potencial hidrelétrico existente, a responsabilidade de atender a demanda [5]. Particularmente na região nordeste, os ciclos hidrológico e eólico se complementam, conforme mostrado na Figura 1.4. Para incentivar o suporte de potência reativa pelos aerogeradores, os operadores de sistema pelo mundo todo oferecem compensações financeiras aos investidores de energia eólica. Desse modo, quando a velocidade dos ventos é baixa a produção de potência ativa diminui disponibilizando capacidade de potência reativa, podendo o aerogerador oferecer um suporte adequado ao controle de tensão. Apesar das tecnologias a velocidade variável serem capazes de fornecer potência reativa, a sua produção depende também das limitações de tensão e corrente dos conversores de potência. Nesse contexto, a estabilidade de tensão foi analisada sob regimes de velocidades de ventos altas e baixas, indicando que nas baixas velocidades de ventos, o aerogerador pode funcionar de modo similar ao compensador síncrono. 1.3 Objetivos O objetivo deste trabalho é analisar a contribuição de aerogeradores para a estabilidade de tensão de longo-prazo, considerando os limites de capacidade de cada tecnologia impostos pelos conversores de eletrônica de potência, ação combinada do OLTC e OEL, o modo de controle do aerogerador (fator de potência ou tensão terminal), as condições do regime de ventos (velocidades altas e velocidades baixas). Os limites de potência reativa são descritos, matematicamente, por curvas de capacidade, tal como nas máquinas síncronas e modificados segundo a condição de operação do aerogerador. Essas características são incorporadas aos controles das malhas de tensão e velocidade dos aerogeradores a velocidade variável, constituindo os limites variáveis. Todo o estudo foi realizado utilizando o ANAREDE (Programa de Análise de Redes) e 10 o ANATEM (Programa de Análise de Transitórios Eletromecânicos), ferramentas desenvolvidas pelo CEPEL (Centro de Pesquisas em Energia Elétrica) e amplamente utilizadas pelo setor elétrico para realização de estudos de expansão e operação do sistema elétrico brasileiro. Os principais objetivos desta tese são: Analisar o impacto de diferentes tipos de tecnologias de aerogeradores na estabilidade de tensão de longo-prazo, como aerogeradores do tipo DFIG, FRC e SCIG, bem como o impacto do aumento de seu nível de penetração no sistema; Analisar as diferentes formas de curva PV (Power-Voltage Curves) das barras de carga do sistema de potência e a sua relação com a modelagem dos equipamentos dinâmicos presentes no sistema, incluindo os aerogeradores, além de seu impacto direto no ponto de máximo carregamento do sistema; Representar as limitações impostas pelos conversores de potência nas condições de operação por curvas de capacidade para os aerogeradores a velocidade variável; Analisar o impacto dos diferentes modos de controle do DFIG na estabilidade de tensão de longo-prazo, operando através do controle de tensão ou controle do fator de potência; Analisar a influência do comportamento dos ventos na capacidade de controlabilidade dos aerogeradores de velocidade variável para fornecimento de potência reativa e controle da tensão terminal; Analisar os efeitos dos limites variáveis representados pelas curvas de capacidade dos aerogeradores nas malhas de controle de tensão e potência ativa; Avaliar a contribuição do conversor GSC do DFIG para a estabilidade de tensão de longo-prazo. 11 1.4 Revisão Bibliográfica Nos últimos anos, diversas pesquisas foram realizadas para avaliar o impacto da integração da geração eólica na estabilidade de tensão, sob o ponto de vista do curto- prazo. Os estudos de estabilidade de tensão de curto-prazo produzidos na literatura focam na capacidade de sobrevivência a afundamentos de tensão, comumente referida como ridethrough, procedimento adotado pelos operadores de sistemas no mundo todo para aumento da margem de estabilidade. O procedimento ridethrough determina que os aerogeradores devam permanecer conectados ao sistema de potência e na maioria dos casos, fornecendo suporte de potência reativa para rápida recuperação da tensão terminal. No Brasil, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) não exige fornecimento de potência reativa dos aerogeradores durante o procedimento de ridethrough [16]. Muitos autores produziram vários trabalhos nessa linha de pesquisa considerando aerogeradores a velocidade fixa e variável [17-23]. Todos os autores reconhecem que a geração eólica a velocidade variável é benéfica para a margem de estabilidade. Porém, nada se pode concluir a respeito da estabilidade de tensão de longo-prazo. Alguns trabalhos também avaliaram os impactos ocasionados pela integração da geração eólica na estabilidade de tensão utilizando a análise estática [24,25]. No entanto, os modelos estáticos são insuficientes para descrever completamente o fenômeno da instabilidade de tensão [10]. Corsi [26] apresenta uma análise detalhada do impacto da atuação do OLTC bem como do OEL em simulações no domínio do tempo para a estabilidade de tensão de longo-prazo. O autor também avalia as formas das curvas PV devido à ação dinâmica do OLTC e do OEL, revelando que taiscontroles limitam a estabilidade de tensão e despreza-los pode levar a falsas conclusões a respeito da margem de estabilidade de tensão de longo-prazo. Complementando este trabalho, Corsi [27] propõe um método para estimar um indicador de proximidade da estabilidade de tensão baseado no equivalente de Thevenin através de medições de unidades fasoriais PMU (Phasor Measurement Unit). Resultados mostram que o algoritmo é capaz de indicar com precisão e rapidez o equivalente de Thevenin ao operador de sistema, fornecendo subsídios para tomada de decisões em tempo real. Entretanto, o autor não considera a participação da geração eólica. Até o momento, poucas publicações foram feitas 12 analisando os efeitos da geração eólica na estabilidade de tensão de longo-prazo, avaliando o desempenho dinâmico do sistema e a interação entre dispositivos de proteção e controle contínuos e discretos, tais como o OLTC e o OEL. Freitas [28] avalia a estabilidade de tensão considerando cargas estáticas em um sistema de distribuição com presença de geração eólica. A estabilidade de tensão foi investigada pela análise dinâmica considerando o SCIG (Squirrel Cage Induction Generator). Adicionalmente, o autor avalia a estabilidade de tensão pelas curvas PV plotadas de forma “quase-dinâmica” (o valor final das variáveis foram armazenadas e novas simulações foram realizadas resgatando o ponto de operação da simulação anterior). O autor conclui que a geração eólica degrada a margem de estabilidade de tensão quando a potência ativa injetada pela geração distribuída aumenta. A principal contribuição deste trabalho deve-se a análise da influência do SCIG na estabilidade de tensão por intermédio das curvas PV. Contudo, o autor não leva em consideração os aerogeradores a velocidade variável, os quais possuem potencial para melhorar a estabilidade de tensão. Houssain [29] analisa os problemas ocasionados pela integração de grandes parques eólicos que consistem de aerogeradores a velocidade constante e variável em sistemas de potência de grande porte sob o ponto de vista da estabilidade de tensão de curto-prazo e a estabilidade angular a pequenas perturbações. Vários estudos de caso são apresentados, contudo muitas conclusões são conhecidas por muitos estudos anteriores, como exemplo: a alta compensação de potência reativa por bancos de capacitores pode levar o sistema de potência ao colapso, devido principalmente à qualidade pobre de compensação do banco de capacitores, a qual é um elemento passivo [10,11]. Aerogeradores a velocidade constante deterioram a margem de estabilidade de tensão devido o alto consumo de potência reativa durante a falta [17,18,30]. O eixo mecânico do aerogerador pode interagir com modos de oscilação mal-amortecidos conduzindo o sistema de potência a instabilidade [31]. Porém, alguns resultados interessantes são apresentados, como o caso das interações adversas entre equipamentos FACTS (Flexible AC Transmission Systems) e o uso excessivo desses equipamentos como compensação para aerogeradores SCIG, podendo levar o sistema de potência à instabilidade em ambos os casos. Ao considerar o DFIG nos estudos de curto-prazo, a capacidade de potência reativa não é explorada ao máximo, levando o autor a conclusões bastante pessimistas a respeito da capacidade de sobrevivência do DFIG. A principal contribuição desse estudo deve-se a integração dos grandes parques eólicos 13 com equipamentos FACTS, podendo ocorrer interações adversas para o sistema de potência. Complementando o estudo anterior, Pereira [32] trata da estabilidade de tensão de curto-prazo e de longo-prazo em uma mesma simulação, considerando a capacidade de sobrevivência e as ações do OLTC e OEL com a integração de aerogeradores SCIG e equipamentos FACTS, tais como o STATCOM (Static Compensator) e o SVC (Static Var Compensator). Assim como no estudo anterior, o autor conclui que o SCIG é prejudicial para a estabilidade de tensão do sistema de potência, devido ao aumento do consumo de potência reativa com o aumento do escorregamento. Por este motivo se faz necessária à utilização dos equipamentos STATCOM e SVC para compensação de potência reativa do parque eólico. Os estudos comprovaram que os equipamentos FACTS contribuem para a melhoria da estabilidade de tensão do sistema de potência, evitando inclusive o colapso de tensão. Contudo, o STATCOM apresenta um desempenho melhor do que o SVC devido à característica corrente constante, a qual a potência reativa injetada varia linearmente com a tensão, enquanto que para o SVC a potência reativa injetada varia com o quadrado da tensão sofrendo grandes consequências para o suporte de potência reativa durante a ocorrência de faltas. Em geral, o autor conclui que um equipamento STATCOM de menor capacidade pode fornecer suporte adequado ao controle de tensão, quando seria necessário um SVC de maior capacidade para cumprir satisfatoriamente o mesmo controle de tensão. Ullah [33] analisa a estabilidade de tensão de longo-prazo e de curto-prazo considerando aerogeradores a velocidade fixa e variável, operando com controle de fator de potência ou controle de potência reativa. A curva de capacidade é limitada basicamente pela corrente máxima do conversor, produzindo um semicírculo com raio igual à potência aparente do conversor, desprezando o limite imposto pela potência mecânica da turbina. A respeito da estabilidade de tensão no longo-prazo, o autor considera um caso otimista, no qual a velocidade do vento é baixa e as reservas de potência reativa são altas, além de considerar a velocidade do vento constante durante toda a simulação, ou seja, desprezando os efeitos dos limites variáveis nas malhas de controle dos conversores. O autor considera o efeito depreciativo do OLTC em simulações no domínio do tempo, concluindo que o controle de potência reativa pelos aerogeradores a velocidade variável é positivo para o aumento da margem de estabilidade de tensão do sistema de potência, entretanto o efeito crucial do OEL não foi considerado nas simulações. 14 Ming [34] propõe duas estratégias de controle para o DFIG: controle da tensão terminal e controle do fator de potência. O autor avalia a estabilidade de tensão por meio de simulações estáticas (fluxo de carga), quase-estáticas (levando em consideração equações dinâmicas com perturbações muito lentas) e simulações dinâmicas no domínio do tempo e conclui que o modo de controle da tensão terminal permite um aumento da margem de estabilidade de tensão em relação ao controle do fator de potência, porém ambos os modos de controle conseguem manter a tensão em intervalos limitados. A grande contribuição deste trabalho deve-se a investigação dos modos de controle do DFIG na estabilidade de tensão, porém o autor desconsidera os limites variáveis nas malhas de controle do DFIG. Lund [35] formulou matematicamente os limites que definem a curva de capacidade do DFIG, a saber: limite de corrente do rotor, limite de corrente do estator e limite de tensão do rotor. O controle de potência reativa é feito, prioritariamente, pelo RSC de modo que a corrente do conversor é o principal fator limitante para a produção de potência reativa, enquanto os limites térmicos dos enrolamentos do estator determinam a máxima capacidade de absorção de potência reativa. A tensão do rotor apresenta limitações somente quando o escorregamento é elevado, nesse caso a proteção de subtensão atuaria desconectando o aerogerador. Dessa forma, as principais restrições da curva de capacidade do DFIG são a corrente do rotor, a corrente do estator e o limite de potência mecânica imposta pela turbina eólica. Devido à necessidade de magnetização da máquina, o DFIG possui uma capacidade maior de absorver do que injetar potência reativa, considerando apenas o controle do conversor do lado do rotor RSC. Porém,esse estudo não avalia a estabilidade de tensão de longo-prazo sem mencionar como os limites da curva de capacidade poderiam ser incorporados aos limites das malhas de controle de potência ativa e reativa do DFIG. Engelhardt [36] leva em consideração efeitos adicionais na construção da curva de capacidade do DFIG, como por exemplo: perdas, filtros para melhoria da qualidade da energia, influência das baixas velocidades na temperatura de junção dos semicondutores, saturação do núcleo magnético e tensão máxima do conversor do lado da rede. Dentre esses efeitos, a temperatura de junção dos conversores impõe restrições severas para o fornecimento de potência reativa. O autor apresenta a contribuição do GSC na curva de capacidade, indicando que o limite de potência reativa do DFIG pode ser estendido quando este conversor entra em operação. Ao final do estudo, o autor indica como os limites da curva de capacidade podem ser incluídos nas malhas de 15 controle do DFIG, entretanto, o autor não realiza simulações visando avaliar esses efeitos na estabilidade de tensão de longo-prazo. Konopinski [37] aborda exclusivamente o DFIG em todas as suas análises, levando em consideração a formulação matemática da curva de capacidade proposta por Lund [35]. A curva de capacidade nesse estudo considera somente a contribuição do RSC. O autor discute o suporte de potência reativa quando o DFIG é restrito a operar com fator de potência na faixa 0,95 adiantado/atrasado (devido a normas regulamentadoras do operador de sistema) ou usando todo o limite de potência reativa que a curva de capacidade pode oferecer. Segundo as análises estáticas baseadas no fluxo de carga ótimo visando à operação econômica do sistema de potência, o autor concluiu que o aumento da penetração eólica, a operação com fator de potência restrito, causa o aumento das perdas no sistema de potência, elevando os custos de operação. Análises dinâmicas de curto-prazo revelaram que a operação com fator de potência restrito pode levar o sistema de potência ao colapso de tensão mesmo quando o aerogerador opera em uma situação conservadora, na qual a velocidade dos ventos é baixa e as reservas de potência reativa são abundantes, porém não podem ser utilizadas devido à regulamentação imposta pelo operador de sistema. A grande contribuição deste trabalho deve-se a representação adequada da curva de capacidade, com a inclusão destes limites nas malhas de controle do DFIG nos estudos dinâmicos. Entretanto, o autor não explora completamente a capacidade de potência reativa da máquina, desprezando a contribuição essencial do GSC para a estabilidade de tensão de longo- prazo. Kayikçi [38] estuda diferentes estratégias de controle de potência reativa para o DFIG considerando analises de curto-prazo com foco no ridethrough. O autor adota corretamente a curva de capacidade do DFIG, sendo que o controle de potência reativa pode ser realizado, exclusivamente, pelo RSC/GSC ou particionado entre ambos os conversores, porém os limites das malhas de controle são fixos e iguais a 1 p.u.. O autor também discute qual das componentes da corrente do rotor ( ou deve ser priorizada durante a falta; concluindo que a escolha depende da relação R/X do sistema de potência. Para faltas próximas ao aerogerador DFIG (R/X baixa) recomenda-se que a componente seja priorizada, pois a componente reativa da impedância da rede é predominante, ao passo que para faltas distantes do aerogerador DFIG (R/X alta) recomenda-se que a componente seja priorizada, pois a componente ativa da 16 impedância da rede é predominante e priorizar, equivocadamente, o controle de potência reativa pela componente pode produzir uma resposta oscilatória comprometendo a estabilidade do sistema de potência. O autor atenta para o controle coordenado entre conversores RSC e GSC para evitar uma corrente de circulação entre as malhas do estator e rotor causando grande absorção, desnecessária, de potência reativa durante a falta. O autor adota diferentes dimensionamentos para os conversores RSC e GSC dependendo da estratégia de controle adotada. O autor conclui que o controle coordenado é a melhor estratégia para o controle de tensão. A principal contribuição deste trabalho está no emprego do GSC para o suporte de potência reativa, entretanto análises de longo-prazo não são realizadas e nada se pode concluir a respeito da estabilidade. Meegahapola [39] estuda o DFIG considerando a curva de capacidade completa baseada na formulação matemática de Lund [35]. A autor implementa uma estratégia de controle coordenado entre o RSC e o GSC, na qual o RSC assume o controle primário de tensão e caso a reserva de potência reativa seja insuficiente para atender a demanda, o GSC assume o excedente de potência reativa. O conversor GSC é sobredimensionado em 50% de sua capacidade, para aumentar a capacidade de injeção de reativos, principalmente quando o conversor RSC é bloqueado pela proteção de crowbar durante o transitório provocado por uma falta. Nesse sentido, um primeiro estudo aborda os benefícios do controle coordenado para a melhoria da estabilidade transitória, entretanto em relação à Kayikçi [38] os limites das malhas de controle são variáveis com as condições de ventos e determinados pela curva de capacidade. Um segundo estudo adota um controle secundário de tensão para um alimentador radial de um sistema de distribuição, sendo que a repartição de potência reativa é feita através de um estatismo, o qual pode ser fixo ou adaptativo, conforme a localização do aerogerador no alimentador. Esse estudo abrange um horizonte de longo-prazo (10 minutos) visando mitigar a flutuação da tensão sobre o alimentador devido à variação da velocidade do vento. Apesar de considerar o OLTC, o sistema teste é extremamente simples e não opera de forma estressada e nenhuma conclusão pode ser feita a respeito da estabilidade de tensão de longo-prazo. A principal contribuição deste trabalho é a implementação de um controle de tensão entre aerogeradores com repartição de potência reativa através de estatismo adaptativo, o qual pode apresentar resultados positivos para a estabilidade de tensão de longo-prazo, dependendo de qual estratégia de controle seja empregada. 17 Ullah [40] discute a viabilidade técnica e econômica do FRC como fornecedor de potência reativa para o sistema de potência, formulando um modelo de custo da energia reativa a ser paga pelo operador de sistema, auxiliando-o na tomada de decisão para operação ótima do sistema de potência. Conforme o aerogerador expande a sua capacidade de potência reativa, a capacidade dos conversores aumenta, onerando os custos do serviço ancilar. Contudo, esses custos de sobredimensionamento representam apenas 2,25% do investimento total do parque eólico quando o parque eólico opera com fator de potência nominal de 0,9. O autor representa a curva de capacidade do FRC considerando limitações de tensão e corrente dos conversores, sendo que a limitação de tensão pode ser contornada com o sobredimensionamento dos componentes, expandindo consideravelmente o limite de potência reativa do aerogerador. A principal contribuição deste trabalho deve-se a formulação matemática do custo da potência reativa para o operador de sistema, integrando definitivamente a geração eólica como uma fonte de potência reativa qualificada, capaz de oferecer suporte para a manutenção da estabilidade de tensão de longo-prazo. Aumuller [41] investiga os impactos causados na estabilidade de tensão de longo-prazo pelo gerador de alta tensão Powerformer. Esse gerador é uma máquina síncrona, normalmente utilizada em usinas hidrelétricas ou termelétricas, conectada diretamente ao barramento de alta tensão, dispensando o transformador elevador [42]. O Powerformer é uma máquina síncrona de construção especial, naqual o enrolamento do estator é constituído de cabos de alta tensão com isolação de XLPE (polietileno reticulado), permitindo uma baixa corrente no estator, característica que confere um aumento na capacidade de potência reativa do gerador [41,42]. Polinder [43] e Blaabjerg [7] apontam que os aerogeradores de grande porte (acima de 10 MW) do futuro serão conectados diretamente ao sistema de transmissão em alta tensão, seja por uma conexão CC ou CA, de forma semelhante ao Powerformer. Aumuller [41] compara o Powerformer com o gerador síncrono convencional, considerando os efeitos do OLTC e dois modelos de OEL com características de atuação diferentes. O autor destaca que um alto ganho do OEL pode contribuir para ocorrência mais rápida do colapso de tensão. O autor ainda conclui que o Powerformer na maioria dos casos apresenta um desempenho dinâmico melhor do que o gerador síncrono convencional, postergando o colapso de tensão do sistema de potência. Apesar de não considerar a geração eólica neste trabalho, a grande contribuição do autor deve-se ao uso do Powerformer o qual 18 apresenta uma capacidade de potência reativa muito grande e a escolha adequada dos ganhos do OEL. Tazil [44] aborda uma revisão geral sobre os avanços tecnológicos do DFIG nos últimos 25 anos, cobrindo uma vasta pesquisa na literatura mundial com mais de 180 referências bibliográficas do assunto. O autor aborda as diferenças entre os sistemas eólicos a velocidade constante e velocidade variável, a modelagem do aerogerador DFIG, controle de passo da turbina eólica, técnicas de controle vetorial para as malhas de potência ativa e reativa, softwares para simulação e implementação experimental do DFIG, aspectos relacionados à conexão do aerogerador DFIG ao sistema de potência, operação em sistemas isolados e outras áreas de aplicações. Sobre toda essa imensa revisão bibliográfica do autor, não consta trabalhos mencionando contribuições ou análises com aerogeradores a velocidade variável para a estabilidade de tensão de longo-prazo. Nota-se que a literatura ainda carece de trabalhos com análises detalhadas no que se refere aos aspectos dinâmicos que contribuem e impactam no processo da instabilidade de tensão de longo-prazo envolvendo a geração eólica. 1.5 Estrutura da Tese Esta tese de doutorado está organizada da seguinte forma: O Capítulo 1 apresenta uma breve descrição da situação da energia eólica no contexto nacional e internacional, discutindo aspectos relacionados com a integração de parques eólicos na rede elétrica no que se refere ao problema de estabilidade de tensão, além do objetivo proposto nesta tese. É feita uma revisão bibliográfica dos principais trabalhos relacionados ao tema apresentado; No Capítulo 2 são apresentados os componentes de um sistema eólico para fins de geração de energia elétrica, descrevendo os principais sistemas a velocidade fixa e velocidade variável, bem como os geradores utilizados, o controle da turbina eólica e um panorama atual do mercado eólico de fabricantes; No Capítulo 3 é apresentada uma introdução aos conceitos básicos de estabilidade de tensão, descrição do mecanismo da instabilidade de tensão de 19 longo-prazo envolvendo os equipamentos OLTC e OEL, característica das cargas estáticas, curvas PV estáticas, máximo carregamento e limite de carregamento do sistema de potência e a complementariedade entre a análise estática e a análise dinâmica para a estabilidade de tensão de longo-prazo; O Capítulo 4 aborda o aerogerador DFIG, tratando da representação estática para fluxo de carga, a modelagem dinâmica para estudos de estabilidade de tensão de longo-prazo do gerador de indução de rotor bobinado, da turbina eólica e o controle de passo, os conversores RSC e GSC com suas respectivas malhas de controle, a curva de capacidade do DFIG considerando a operação do conversor GSC fornecendo ou não potência reativa para o sistema de potência e a definição dos limites variáveis das malhas de controle; O Capítulo 5 trata da modelagem do FRC para representação estática e dinâmica considerando os limites variáveis nas malhas de controle. Será apresentada a curva de capacidade do FRC para definição dos limites variáveis das malhas de controle; No Capítulo 6 são apresentados os resultados referentes aos estudos de casos: i) avaliação dos impactos causados pela integração de aerogeradores SCIG e DFIG, ii) influência dos modos de controle do DFIG (controle de tensão ou fator de potência), iii) influência do regime de ventos na capacidade de potência reativa do DFIG e iv) contribuição do conversor GSC para a estabilidade de tensão de longo-prazo; Finalmente, no Capítulo 7 são apresentadas as conclusões relativas a cada estudo de caso analisado no Capítulo 6. Além disso, conclusões finais sobre o impacto da integração de aerogeradores para a estabilidade de tensão de longo-prazo e sugestões de trabalhos futuros visando à investigação de assuntos não explorados nesta tese. 20 1.6 Trabalhos Publicados R. R. Londero, C. M. Affonso, J. P. A. Vieira, Impactos Causados pela Integração de Aerogeradores DFIG e Gaiola na Estabilidade de Tensão de Longo-Prazo em Sistemas Elétricos, XII Simpósio de Especialistas em Planejamento da Operação e Expansão Elétrica, Maio 2012, Rio de Janeiro, Brasil, pp.1-9; R. R. Londero, C. M. Affonso, J. P. A. Vieira, U. H. Bezerra, Impact of Different DFIG Wind Turbines Control Modes on Long-Term Voltage Stability, Innovative Smart Grid Technologies (ISGT Europe), 2012 3 rd IEEE PES International Conference and Exhibition, Oct 2012, Berlin, pp.1-7; R. R. Londero, J. P. A. Vieira, C. M. Affonso (2012), Comparative Analysis of DFIG Based Wind Farms Control Mode on Long-Term Voltage Stability, Advances in Wind Power, Dr. Rupp Carriveau (Ed.), ISBN: 978-953-51-0863-4, InTech, DOI: 10.5772/52690. R. R. Londero, C. M. Affonso, J. P. A. Vieira, Contribuição de Aerogeradores a Velocidade Variável para a Estabilidade de Tensão de Longo-Prazo, XIII Simpósio de Especialistas em Planejamento da Operação e Expansão Elétrica, Maio 2014, Foz do Iguaçu, Brasil, pp.1-10; R. R. Londero, C. M. Affonso, J. P. A. Vieira, Long-Term Voltage Stability Analysis of Variable Speed Wind Generators, IEEE Transactions on Power Systems (artigo aceito para publicação). 2014. 21 Capítulo 2 Sistemas Eólicos 2.1 Introdução A cada ano muitos consumidores adquirem acesso à energia elétrica pelo mundo todo. O aumento da demanda de energia torna o sistema de potência cada vez mais solicitado, necessitando de reforços e construção de novas linhas de transmissão. As fontes renováveis fizeram emergir a importância da preservação ambiental e da diversificação das fontes de energia na matriz energética. Neste contexto, a energia eólica ganhou bastante importância no cenário mundial, alcançando níveis de penetração elevados. Nos anos 80, a concepção dinamarquesa de aerogeradores ganhou bastante popularidade pelo baixo custo de instalação e simplicidade operacional, conquistando grande aceitação no mercado e na indústria. Contudo, devido a grande penetração e incapacidade de fornecer suporte a rede elétrica, muitos estudos concluíram que este tipo tecnologia oferece sérios riscos para a operação segura e confiável do sistema, especialmente do ponto de vista da estabilidade. Para o sistema de potência oferecer operação segura e aceitável, tornou-se imprescindível o fornecimento de serviços ancilares por parte dos grandes parques eólicos. Capacidade de sobrevivência a afundamentos de tensão (fault ride-through) e controle de tensão terminal são alguns dos serviços ancilares exigidos, pelos operadores de todo mundo, aos grandes parques eólicos conectados ao sistema de transmissão
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