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Estudos Socioantropológicos UN ID AD E 1 Apresentação da Disciplina Fonte: Flickr Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 2 Bem-vindo à disciplina Estudos Socioantropológicos, que tem por objetivo oferecer a você, caro(a) aluno(a), conhecimento adequado para refletir, de forma crítica, sobre os acontecimentos da sociedade contemporânea e sua dinâmica sociocultural a partir do campo teórico-conceitual das Ciências Sociais. Diante do mundo globalizado do século XXI, nos deparamos com inúmeros desafios, com transformações que são cada vez mais rápidas, as quais afetam o conjunto das relações sociais, abalam os paradigmas que alicerçam os conhecimentos e produzem inovações de todas as naturezas. Essas transformações exigem de nós respostas adequadas para que possamos ser inseridos no fluxo dos acontecimentos, de forma a compreendê-los e transformá-los, enquanto atores sociais e agentes na nossa própria história. Para tanto, oferecemos, nesta disciplina, uma introdução geral dos conceitos básicos da Antropologia, da Sociologia e das Teorias Clássicas delas, que consideramos indispensáveis para o entendimento global das transformações socioculturais que vivenciamos na contemporaneidade. Abordaremos questões que estão presentes no cotidiano na realidade sociocultural contemporânea, a fim de permitir que você dialogue com eles em um mundo marcado por mudanças, novas tendências e desafios. E, para facilitar seu aprendizado, a disciplina está estruturada em quatro unidades: Unidade 1 - Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade Unidade 2 - Sociedade e Cultura: sociodiversidade e multiculturalismo Unidade 3 - Relações de Trabalho e Sociedade de Consumo Unidade 4 - O Mundo Globalizado Ao longo de cada unidade sugerimos leituras a partir de links para textos e vídeos. Desejamos a você um ótimo estudo! 3 Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade Nesta unidade iremos conhecer as transformações sociais, com o advento da modernidade, e as origens da Sociologia e da Antropologia e seus objetos de estudo, em busca da compreensão do homem e da sociedade. Vamos apresentar: • Os precursores dos estudos sociológicos e antropológicos e suas teorias; • Os conceitos básicos de ambas as disciplinas no que se refere às relações sociais e culturais; • A diversidade sociocultural para uma compreensão crítica da contemporaneidade. Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 4 1 T1 Assim, organizada em tópicos, estudaremos os seguintes assuntos: T1. A Sociedade Moderna e as Transformações Sociais. T2. As Bases do Pensamento Sociólogico - Max, Durkhein e Weber. T3. Antropologia: ciência do homem e da cultura. T4. Diversidade Sociocultural: etnocentrismo e relativismo. Desejamos que esses assuntos possibilitem a visão geral das ciências do homem e da sociologia, com temas instigantes para um complemento do conhecimento. Vamos lá! A Sociedade Moderna e as Transformações Sociais A emergência da sociedade moderna foi uma experiência efetivamente nova na história da humanidade, ela está intimamente relacionada à dissolução da velha sociedade feudal na Europa, à conquista da Terra pelas caravelas lançadas ao mar, bem como às novas concepções de mundo. Vejamos: 1492 1498 1521 1540 Vasco da Gama, ao contornar o continente africano, descobre um novo caminho pelo oceano para as Índias Orientais. Magalhães completa sua viagem de volta ao mundo pelos mares, fato que comprovará a rotundidade do planeta. Copérnico publica seus estudos, que descrevem um sistema heliocêntrico, ou seja, ele descobre que é a Terra e os outros planetas que giram em torno do Sol. “Eis portanto os começos do que chamamos Tempos Modernos, e que deveria chamar-se Era Planetária” (MORIN, 2005, p.21). Colombo chega às Américas. 5 Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade Percebe-se, com a linha do tempo, que estamos diante de acontecimentos que desencadearam nos últimos cinco séculos transformações globais e que deram origem à sociedade contemporânea globalizada. Os modelos societários anteriores à sociedade atual, das sociedades antigas à feudal, foram marcados por estruturas sociais rigidamente hierarquizadas, nas quais os grupos, castas ou estamentos dominantes possuíam status diferenciado e usufruíam de privilégios em relação à população em geral. Os direitos civis, políticos e sociais, como os conhecemos na atualidade, foram conquistados paulatinamente graças ao advento da modernidade e da luta por direitos que ela ensejou. A estrutura social da sociedade feudal, que antecedeu a sociedade moderna e contemporânea, estava baseada em estamentos (grupos sociais). Em uma sociedade estamental os indivíduos integram a pirâmide social de acordo com a sua origem, na qual é comum permanecerem. Assim, passar de um estamento a outro era praticamente impossível. Nessa rígida estrutura social predominavam os valores coletivistas e a religiosidade cristã, ambos determinantes dos padrões de comportamento e crenças adotados e compartilhados entre todos na comunidade feudal. Estatamentos são agrupamentos mais ou menos estanques nos quais a mobilidade social é quase inexistente ou extremamente regulada. A Sociedade Estamental representa a estrutura social típica do sistema feudal medieval, dividida nos estamentos (grupos sociais), onde quase não existe mobilidade social, ou seja, a posição do indivíduo na sociedade dependerá de sua origem familiar, por exemplo: nasceu servo, morrerá servo (TODA MATÉRIA, s.d.). Para compreender mais sobre a sociedade estamental, leia o artigo “A sociedade estamental: as funções de cada estatamento”, de Paulo Silvino Ribeiro, no sitio Brasil Escola. Confira abaixo: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/a- sociedade-estamental-as-funcoes-cada- estamento.htm saiba mais? Fo nt e: p in im g. co m Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 6 Segundo Polanyi (2012) o desenvolvimento do comércio e a adoção crescente da moeda como meio de intermediação das trocas econômicas foram o grande motor da transformação social que nos levou a chegar até os dias de hoje. A ampliação das atividades comerciais estimulou os proprietários de terra a mudarem suas atividades agrícolas, cercando suas terras e forçando as pessoas a se mudarem do campo para a cidade, que floresceu como o novo centro econômico, político, social e cultural da sociedade. O crescimento das cidades e das atividades comerciais e artesãs favoreceu o desenvolvimento de uma racionalidade que impulsionou o pensamento científico. A vida urbana e a nova economia mercantil foram fundamentais para impulsionar a ciência moderna e, consequentemente, o desabrochar das Ciências Sociais. O desabrochar das Ciências Sociais consistiu na Sociologia, para poder interpretar mudanças tão importantes para a consolidação da modernidade; e com a Antropologia, que por sua vez se debruçou sobre o estudo do homem e da diversidade cultural presente nas sociedades humanas. A Transição para a Sociedade Moderna A sociedade moderna originou-se na Europa ocidental de um longo processo de transformação da antiga sociedade feudal, provocado por mudanças de ordem econômica, política, social e cultural. Tais mudanças foram tão profundas na mentalidade e no comportamento que, em princípio, se estenderam do século XIV ao XVI, com o advento do Renascimento e que, consequentemente, favoreceram o desabrochar da Idade Moderna. O Renascimento foi um movimento artístico, filosófico/científico e cultural notadamente urbano que fomentounão só as artes e as ideias, mas também o mercado e o comércio, deslocando para as cidades, à época conhecidas como burgos, a centralidade da vida econômica, política, social e cultural. Vejamos os elementos e os acontecimentos significativos que contribuíram para compor a identidade do Renascimento e para alavancar a modernidade: Concepção antropocêntrica O homem e as questões relativas ao ser humano tornam-se referência primeira para a sociedade renascentista. Assim, a valorização da razão humana, do potencial artístico do homem e do seu livre-arbítrio nas questões referentes à política foram contribuições do humanismo presente nas reflexões filosóficas da época. Desenvolveu-se uma concepção antropocêntrica do mundo, que tem o homem como o centro de todas as coisas no universo, em oposição ao teocentrismo dominante. O Homem vitruviano é baseado nas ideias do arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio exibidas no tratado De Architectura, no qual ele descreve as proporções do corpo humano masculino. “Este desenho ilustra a tese filosófica segundo a qual o homem é a medida de todas as coisas, própria do Renascimento. Considerado como um símbolo da simetria básica do corpo humano e, por extensão, para o universo como um todo” (MARTINS, 2017). 7 Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade As grandes navegações e a descoberta do Novo Mundo As grandes navegações e a descoberta do Novo Mundo, do continente americano, não só impulsionaram a economia mercantil e, consequentemente, a exploração colonial dos novos territórios, como também colocaram diante do homem europeu, branco e cristão um sem número de povos jamais vistos ou imaginados. O contato com o outro desconhecido, tido como estranho, diferente e exótico, suscitou questionamentos sobre quem seriam esses “outros”. Segundo Laplantine (2000), a origem da reflexão antropológica sobre o homem tem seus fundamentos nessa época. Reforma Protestante e a Invenção da Imprensa Por sua vez, a Reforma Protestante e a Invenção da Imprensa produziram impactos irreversíveis de caráter intelectual, religioso, moral e político para a sociedade de então. Ambas contribuíram para impulsionar o processo de racionalização do mundo, ou seja, para a construção de uma nova realidade na qual a racionalidade técnica, científica e econômica tornou-se predominante. HOMEM VITRuVIANO, CERCA dE 1490. LEONARdO dA VINCI, 1452 – 1519. GALLERIE dELL'ACCAdEMIA, VENEzA, ITáLIA. PARTIdA dAS CARAVELAS dO PORTO dE LISbOA, 1592; E dANçA dOS TuPINAMbáS, 1592. THEOdORE dE bRy, 1528 –1598. ILuSTRAçõES dE AMERICAE TERTIA PARS. SERVICE HISTORIquE dE LA MARINE, VINCENNES, FRANçA. Concepção Heliocêntrica A Terra deixou de ser o centro do universo e descobriu-se que ela era mais um planeta, entre outros, a girar em torno do Sol. Assim, a concepção geocêntrica aliada ao teocentrismo deu lugar a uma nova visão, a heliocêntrica. Os enigmas do universo e do mundo passaram a ser objetos de estudo e de descobertas cientificas realizadas pelo homem. Fo nt e : w w w .s ci e lo .b r Fo n te : h is to ria d as ar te s. co m Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 8 Do ponto de vista econômico, o principal fator de desestabilização do feudalismo, segundo Sweezy (1977), foi a introdução de uma economia mercantil baseada no valor de troca, enquanto a economia feudal estava baseada no valor de uso dos bens produzidos. O sistema de produção feudal tinha como centralidade econômica a autossuficiência e não a produção e comercialização de mercadorias, característica, essa, da nova economia mercantil, o que favoreceu a acumulação de capital. Assim, o longo período que envolve o processo de transição do feudalismo para uma sociedade de economia plenamente capitalista deve ser compreendido como um período no qual a economia baseou-se em um sistema de produção pré-capitalista de mercadorias. Por sua vez, Dobb (1987) defende que o principal motivo do declínio do modo de produção feudal deu-se mais às contradições internas presentes nas relações entre os servos e os senhores feudais, dado o aumento da exploração dos servos pelos senhores, a fim de aumentarem seus ganhos, que ao próprio sistema mercantil nascente e ao desenvolvimento das cidades. Tais fatores contribuíram para acirrar ainda mais o descontentamento dos servos em relação aos senhores feudais, uma vez que o comércio crescente contribuiu para a diferenciação social e o desenvolvimento das cidades, que abrigavam os que saíam do campo em busca de outras oportunidades de trabalho fomentadas pelo sistema mercantil. A decadência da economia feudal, representada pelo esgotamento do modelo de produção autossuficiente baseado em uma economia rural, favoreceu: • O desenvolvimento dos burgos, assim as cidades passaram a ser o centro efervescente da vida social no Renascimento; • O florescimento dos mercados locais e do comércio ultramarino alavancados pelo mercantilismo; • A adoção crescente do dinheiro como meio de intermediação das trocas econômicas e a consolidação dos bancos, grandes fomentadores das companhias de comércio e das expedições comerciais; • A emergência de uma nova classe social, a burguesia mercantil, composta por moradores dos burgos que se dedicavam à produção artesanal de mercadorias, ao comércio e ao financiamento da nova economia pelos bancos. PLANO dE FLORENçA, CIdAdE ITALIANA COMO CENTRO EFERVESCENTE dA VIdA SOCIAL NO RENASCIMENTO. VISTA dE FLORENçA, CERCA dE 1470. AuTOR dESCONHECIdO. PINTuRA. Fo nt e: w ik ip ed ia 9 Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade A partir do Renascimento, a sociedade europeia adentrou em um ciclo contínuo de modificações que sedimentaram a Idade Moderna. Tais transformações organizaram-se em torno de três grandes eixos, que deram sustentação para a consolidação da sociedade burguesa e capitalista em gestação: 1º Eixo: Revolução Científica Consiste no eixo do conhecimento, com a Revolução Científica e seus fundamentos científicos e filosóficos. Conheça os tipos de conhecimentos despertados no período da Revolução Científica com o vídeo “René Descartes - Revolução Científica”. https://www.youtube.com/watch?v=mV1L0FZhcT8 2º Eixo: Revolução Industrial O segundo eixo é o da economia, quando o Mercantilismo e, consequentemente, a Revolução Industrial alteraram profundamente as relações e o modo de produção econômico com a consolidação do capitalismo. As causas da industrialização que caracterizaram a Revolução Industrial podem ser conferidas no vídeo “História - Revolução Industrial”, no link abaixo: https://www.youtube.com/watch?v=3MZ4v65aeHM O quAdRO dE CLAudE LORRAIN é REPRESENTATIVO dO MERCANTILISMO AO RETRATAR O INTENSO COMéRCIO EM uM PORTO dO MAR MEdITERRâNEO NO SéCuLO XVII. PORTO COM VILA MEdICI, 1637. CLAudE LORRAIN, 1600 – 1682. ÓLEO SObRE TELA, 102 × 133CM. OS AGIOTAS, dE quENTIN MATSyS, FAz ALuSãO àS ORIGENS dO SISTEMA FINANCEIRO duRANTE O MERCANTILISMO. OS AGIOTAS, 1520. quENTIN MATSyS, 1466 – 1530. GALLERIA dORIA PAMPHILj, ROMA, ITáLIA. A CENA dO CASAMENTO dOS ARNOLFINI é uMA REPRESENTAçãO ÍNTIMA dA VIdA buRGuESA NA EuROPA MERCANTIL. AS ROuPAS dO CASAL REPRESENTAM A úLTIMA MOdA dA buRGuESIA dA éPOCA E SãO INdICATIVOS dE SuA RIquEzA. O CASAL ARNOLFINI, 1434. jAN VAN EyCk, 1390 – 1441. ÓLEO SObRE MAdEIRA, 82 X 60CM. THE NATIONAL GALLERy, LONdRES, INGLATERRA. Fo n te : c la u d e lo rr ai n .o rg Fo n te : w ik ia rt .o rg Fo nt e : n at io n al g al le ry .o rg .u k Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 10 3º Eixo:Revoluções burguesas Conhecido como o eixo da Política, que por meio das Revoluções Burguesas, ou seja, da Revolução Inglesa, no século XVII e da Revolução Francesa, no século XVIII derrubaram o absolutismo em defesa de novos ideais de soberania, em prol das liberdades individuais e econômicas. Nos vídeos a seguir conheceremos um pouco sobre a Revolução Inglesa e Revolução Francesa, que fazem parte das Revoluções Burguesas. https://www.youtube.com/watch?v=ZYelZTa7Lvc https://www.youtube.com/watch?v=UDFXdQWmQNE&t=264s Esses eixos abriram o caminho para ascensão da burguesia ao poder, para a consolidação do modo de produção capitalista e do Estado liberal e constitucional. Em suma, a sociedade moderna, na qual a Sociologia e a Antropologia emergem enquanto Ciências Sociais, se caracteriza por uma organização econômica capitalista em que os valores econômicos se impõem sobre valores humanos e sociais. A nova sociedade adota a racionalidade científica como forma de conhecimento do mundo, privilegia as necessidades individuais, investe na produção e no consumo de forma massiva e estimula a vida urbana centralizada nas metrópoles, o que favoreceu, na contemporaneidade, o avanço do racionalismo tecnicista, do individualismo, do consumismo e da indiferença social. O Absolutismo é um conceito histórico que se refere à forma de governo em que o poder é centralizado na figura do monarca, que o transmite hereditariamente. Esse sistema foi específico da Europa nos séculos XVI a XVII. (...) O surgimento do Absolutismo se deu com a unificação dos Estados nacionais na Europa ocidental no início da Idade Moderna, e foi realizada com a centralização de territórios, criação de burocracias, ou seja, centralização de poder nas mãos dos soberanos. (...) No Absolutismo, todavia, rei e Estado se sobrepõem ao povo. Já na Inglaterra, o Parlamento muito cedo diminuiu o poder dos monarcas. ...segundo o historiador Christopher Hill, ele surgiu no século XVII como uma tentativa da monarquia de importar o modelo francês e de se impor a todas as classes sociais inglesas. Tal tentativa, no entanto, fracassou devido à revolta das elites, que não aceitaram um soberano que se sobrepusesse de forma hegemônica a elas. Essa é a origem da Revolução Inglesa. A decadência do Absolutismo se deu no século XVIII com a ascensão política das burguesias nos Estados ocidentais, impulsionando o surgimento de novas teorias que defendiam um governo constitucional, representativo e uma economia sem a interferência do Estado, como o liberalismo. Por fim, nesse processo, a Revolução Francesa, no final do século XVIII, impulsionada por povo e burguesia, derrubou o Absolutismo francês, abrindo caminho para que, no século XIX, Espanha e Portugal também fizessem movimentos na direção do liberalismo ao imporem constituições a seus reis absolutos (SILVA, 2009, p.11-13). 11 Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade O Surgimento da Sociologia e da Antropologia Ao longo do processo de transformação social da sociedade feudal para a sociedade moderna, além da Revolução Científica, dois acontecimentos foram decisivos para uma mudança radical da realidade: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Ambas contribuíram para as transformações econômicas e políticas almejadas pela burguesia e que deram forma à sociedade contemporânea. Revolução Industrial A Revolução Industrial revolucionou o sistema produtivo, ao deslocar milhares de camponeses para trabalharem nas fábricas das cidades. A mão-de-obra tornou-se assalariada, o comércio monopolista internacional se expandiu, uma nova forma de colonialismo, o neocolonialismo imperialista, se estabeleceu, especialmente sobre a África e a Ásia, com a finalidade de explorar recursos naturais, mão-de- obra e mercados consumidores. Em defesa do neocolonialismo e do imperialismo, ou seja, do domínio político e econômico das jovens nações burguesas europeias do século XIX sobre territórios e povos de além-mar, afirmava-se a superioridade do homem europeu e da civilização europeia do século XIX sobre os demais povos. Tais ideias foram sustentadas pelo darwinismo social, e infelizmente elas acabaram por justificar a dominação e a subjugação econômica, política e cultural de povos e sociedades por todo planeta. É nesse contexto adverso que o “outro” é tido como primitivo e atrasado aos olhos dos europeus. É sobre esses “outros” exóticos, que habitam os territórios sob o jugo dos empreendimentos neocolonialistas, que se debruçaram os pioneiros dos estudos antropológicos, a fim de conhecer seus modos de organização socioculturais. Leia o artigo “Darwinismo Social e Imperialismo no Século XIX”, de Leandro Carvalho, e aprofunde o seu conhecimento sobre neocolonialismo, imperialismo e darwinismo social. Aproveite: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/darwinismo-social-imperialismo-no-seculo-xix.htm saiba mais? A REVOLuçãO INduSTRIAL CONSOLIdOu O MOdO dE PROduçãO ECONôMICO CAPITALISTA. Fo nt e : H is tó ria d e T u d o Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 12 Revolução Francesa A Revolução Francesa transformou completamente a política ao afirmar os princípios da igualdade e da liberdade. As bases do liberalismo econômico e do constitucionalismo aos poucos se estabeleceram e asseguraram à nova classe dominante, a burguesia, leis e um Estado garantidor dos seus interesses. Na Europa, as mudanças caminhavam rumo a acontecimentos tão inusitados que a população, em geral, não se atentou para a radicalidade das transformações que estavam ocorrendo na sociedade. Porém, tais mudanças estimularam os intelectuais, cientistas e filósofos da época a indagarem onde essas transformações iriam levar a sociedade. A sociologia surgiu dessa necessidade de compreender a lógica das transformações sociais na tentativa de prever a direção a que elas nos levariam. “A sua criação não é obra de um só homem; representa o resultado de um processo histórico, intelectual e científico.” (DIAS, 205, p. 21). O início da construção de um pensamento sociológico se dará com Augusto Comte, no século XIX, e com o desenvolvimento da sua teoria positivista. O Positivismo, enquanto corrente filosófica que se voltou ao pensamento social, recebeu influências do racionalismo científico e do humanismo iluminista dos séculos anteriores. Tinha o pensamento racional e científico como a expressão máxima do conhecimento humano e depositava forte confiança na capacidade intelectual do homem. Sistema filosófico formulado por Augusto Comte tendo como núcleo sua teoria dos três estados, segundo a qual o espírito humano, ou seja, a sociedade e a cultura, passa por três etapas: a teológica, a metafísica e a positiva. As chamadas ciências positivas surgem apenas quando a humanidade atinge a terceira etapa, sua maioridade, rompendo com as anteriores. Para Comte, as ciências se ordenaram hierarquicamente da seguinte forma: matemática, astronomia, física, química, biologia, sociologia; cada uma tomando por base a anterior e atingindo um nível mais elevado de complexidade. A finalidade última do sistema é política: organizar a sociedade cientificamente com base nos princípios estabelecidos pelas ciências positivas. Em um sentido mais amplo, um tanto vago, o termo “positivismo” designa várias doutrinas filosóficas do séc. XIX, ...que se caracterizam pela valorização de um método empirista e quantitativo, pela defesa da experiência sensível como fonte principal do conhecimento, pela hostilidade em relação ao idealismo, e pela consideração das ciências empírico-formais como paradigmas de cientificidade e modelos para as demais ciências. (JAPIASSÚ; MARCONDES. 2001, p.217). Fo nt e : H is tó ria de T u d o 13 Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade Mesmo que tenha sido Comte o criador do termo sociologia e ter sido ele o primeiro a ter desenvolvido um esforço inicial de teorização da vida social, não teve importância maior no desenvolvimento da sociologia enquanto ciência. Os três grandes pensadores que ficaram conhecidos como os clássicos da sociologia são o francês Émile Durkheim (1858-1917) e os alemães Karl Marx (1818-1883) e Max Weber (1864-1920), por conferirem-lhe todo o rigor analítico, teórico e metodológico para o desenvolvimento da disciplina como uma verdadeira Ciência Social. Suas contribuições continuam influenciando e inspirando pesquisas e reflexões até hoje. As Bases do Pensamento Sociológico - Marx, Durkheim e Weber Karl Marx: uma teoria crítica do capitalismo Frente à realidade socioeconômica e política da Europa do século XIX, Karl Marx voltou-se, especialmente, à compreensão das contradições presentes na sociedade do seu tempo. No mesmo século em que Augusto Comte deu os primeiros passos rumo a uma ciência da sociedade, Marx, com o objetivo de compreender as transformações sociais, debruçou-se sobre o modo de produção econômico capitalista e o conjunto de ideias, leis e ideologia que o sustentavam. Leia o artigo “Augusto Comte, o homem que quis dar ordem ao mundo”, para conhecer um pouco mais sobre o pensamento sociológico do pai do positivismo: https://novaescola.org.br/conteudo/186/auguste-comte-pensador-frances-pai-positivismo saiba mais? T2 Karl Marx (1818–1883) foi um filósofo e revolucionário socialista alemão. Criou as bases da doutrina comunista, onde criticou o capitalismo. Sua filosofia exerceu influência em várias áreas do conhecimento, tais como Sociologia, Política, Direito, Teologia, Filosofia, Economia, entre outras (FRAZÃO, 2016). Conheça um pouco mais sobre a biografia de Marx. https://www.ebiografia.com/karl_marx/ Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 14 kARL MARX E FRIEdRICH ENGELS NA GRáFICA dA GAzETA RENANA, COLôNIA – ALEMANHA. E. CHAPIRO. ÓLEO SObRE TELA MuSEu MARX & ENGELS, MOSCOu, RúSSIA. Sua obra ultrapassou o campo disciplinar da Sociologia, ao dialogar com a Filosofia, a História, o Direito e a Economia. Ele contou com a colaboração e parceria de Friedrich Engels na elaboração de uma teoria científica, que se destinava a analisar a realidade social e as contradições históricas presentes no modo de produção capitalista que, consequentemente, levariam à sua superação. http://fernandosaldivia.blogspot.com.br/2010/03/el-metodo-cientifico- en-marx.html Marx e Engels elaboraram suas teses a partir da influência recebida da filosofia de Hegel (1770-1831), da qual extraíram o conceito de dialética. Na filosofia hegeliana: A dialética é força motriz das mudanças históricas, assim a dinâmica das relações, em um dado contexto histórico, decorre do conflito entre ideias antagônicas – a tese e a antítese. Do embate entre elas uma síntese emerge superando a etapa anterior e produzindo uma nova realidade. A partir desse processo tudo se transforma e evolui. Os socialistas utópicos, Saint-Simon (1760-1825), Charles Fourier (1772- 1837) e Robert Owen (1771-1858), também deram suas contribuições, especialmente por terem sido pioneiros na crítica à sociedade burguesa da época. Porém, Marx os criticou severamente pelo fato de suas ideias e propostas não levarem em consideração o papel da classe trabalhadora como agente político de transformação da história. Friedrich Engels foi “responsável por viabilizar a publicação da obra que Marx deixou inacabada, O Capital, volumes II e III”. Clique no link abaixo e conheça mais sobre a biografia desse grande pensador. https://www.infoescola.com/biografias/friedrich-engels/ Fo n te : f e rn an d o sa ld iv ia .b lo g sp o t.c o m .b r 15 Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade Há também as leituras críticas que eles fizeram das teorias econômicas liberais dos ingleses Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1772-1823) e das teses sobre o materialismo mecanicista de Ludwig Feuerbach (1804- 1872). O equívoco de Feuerbach, segundo Marx, foi ter desconsiderado a dialética na sua concepção materialista da realidade. Devido a isso, não teria ele conseguido perceber que a realidade do mundo concreto resulta do processo histórico em curso, ou seja, das relações conflitantes entre as forças antagônicas, a luta de classes. A partir dessas ideias e das críticas a elas realizadas, Marx, com a contribuição de Engels, desenvolveu o método do materialismo histórico e dialético para análise da realidade social, tendo como base as relações materiais de existência determinadas pelo modo de produção econômico da sociedade. Nesse contexto histórico, o que lhes interessava era desvendar as relações capitalistas. O Materialismo Histórico Dialético e a Luta de Classes A história, para Marx, tem um caráter materialista e dialético. Materialista Dialético Porque o motor principal de nossa realidade não são as ideias, mas as maneiras concretas como produzimos e reproduzimos materialmente a nossa existência por meio do trabalho nas relações de produção. Porque concebe o conjunto das relações sociais e os acontecimentos a partir de suas dinâmicas estruturais marcadas por antagonismos, pela luta de classes. O método dialético é adequado para a análise dos processos históricos, pois nos revela a existência das forças opostas em luta em seu interior. Seguindo essa linha de raciocínio, Marx e Engels afirmaram que: “A história de todas as sociedades que existem até nossos dias tem sido a história das lutas de classes” (MARX, 2004, p.23). A origem histórica do capitalismo está relacionada a um longo processo de acumulação de riquezas que se concentrou na Europa com o mercantilismo e a exploração colonial. A substituição do trabalho artesanal e das corporações de ofício pelo trabalhador assalariado e pela indústria provocou uma revolução no modo de produção econômico. Na produção artesanal que antecedeu a Revolução Industrial, o artesão era dono da oficina, dos instrumentos de trabalho e dos produtos produzidos por ele. Com a industrialização da produção, a burguesia passou a ser a proprietária dos meios de produção – das instalações fabris, dos instrumentos de trabalho, da matéria-prima utilizada – e, consequentemente, dos produtos fabricados pelos trabalhadores. A generalização das fábricas provocou a falência dos artesãos, que passaram a trabalhar nas indústrias em troca do salário. Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 16 Dessa forma, os antigos artesãos, juntamente com os trabalhadores rurais expulsos do campo em decorrência do cercamento das terras, tornaram- se trabalhadores livres, ou seja, livres por não possuírem mais os meios de produção e para venderem a única coisa que lhes restou, a sua força de trabalho, em troca de salário. Assim, empregaram-se nas fábricas como operários e constituíram uma nova classe social, o proletariado. Historicamente, a propriedade foi introduzida na transição do feudalismo para o capitalismo para controlar o acesso às terras produtivas, que de feudo ou terra comunal passaram a constituir propriedade [privada]. (...) A transformação das terras comunais em propriedade privou os trabalhadores da possibilidade de produzirem seus meios de subsistência obrigando-os a vender sua força de trabalho e assim transformou os servos e pequenos produtores independentes em assalariados, a relação de produção predominante no capitalismo. (CERCAMENTOS, 2015) A OFICINA dE uM TECELãO, 1656 - GILLIS ROMbOuTS, 1630 – 1672. MuLHERES TRAbALHANdO EM uMA MANuFATuRA– REVOLuçãO INduSTRIAL INGLATERRA INTROduçãO dA INdúSTRIA METALúRGICA - SEGuNdA REVOLuçãO INduSTRIAL, SéCuLO XIX Fo nt e : W ik ip e d ia Fo nt e : F at o s e A co nt e ci m e nt o Fo nt e : D is se rt at io n R ew ie s 17 Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade Juntos, Marx e Engels escreveram o Manifesto do Partido Comunista, publicado em 1848, que contribuiu para despertar a consciência da classe trabalhadora da sua condição de classe explorada e oprimida e, portanto, revolucionária, capaz de tomar em suas mãos as rédeas da história e pôr fim à exploração imposta pela burguesia por meio do modo de produção capitalista. https://www.infoescola.com/sociologia/manifesto-comunista/ Conheça as primeiras páginas do Manifesto A história de todas as sociedades que existem até nossos dias tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor feudal e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária, da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta. Nas primeiras épocas históricas, verificamos, por quase toda a parte, uma completa divisão em estamentos distintos, uma escala graduada de posições sociais. Na Roma antiga temos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores feudais, vassalos, membros de corporação, oficiais- artesãos, servos, e ainda, em quase cada uma dessas classes, novas gradações particulares. A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não suplantou os velhos antagonismos de classes. Ela colocou no lugar novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta. Entretanto, a nossa época – a época da burguesia – caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado (MARX, 2004, p.23- 24). Com a finalidade de compreender a organização do sistema capitalista e transformá-lo, sua obra não se destinou apenas aos estudos dos fenômenos sociológicos, econômicos, históricos da sociedade, mas à ação política transformadora da sociedade. Tanto que, do século XIX aos dias de hoje, suas ideias influenciaram a organização dos trabalhadores na luta contra a exploração do capital, as revoluções socialistas, os movimentos sociais com ideários anticapitalistas e ecossocialistas que lutam por igualdade, direitos e justiça social. Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 18 O Modo de Produção Capitalista e a Exploração do Trabalhador No modo de produção capitalista os trabalhadores, para sobreviverem, se veem obrigados a vender a sua própria força de trabalho, uma vez que estão alienados dos meios de produção, ou seja, não são os proprietários da matéria- prima, dos instrumentos de trabalho e das empresas nas quais trabalham, tampouco são proprietários daquilo que produzem. A principal preocupação na análise marxista é compreender como se constituem as forças produtivas e as relações de produção. As forças produtivas são formadas pelas condições materiais existentes em uma determinada sociedade, tais como matérias-primas, instrumentos de trabalho, técnicas e tecnologias empregadas no trabalho e a própria mão- de-obra humana. As relações de produção são definidas de acordo com as formas de organização da produção. Segundo Marx, as forças produtivas e as relações de produção são constitutivas de toda e qualquer atividade econômica, seja qual for a sociedade e a época. Ao estudar as relações entre elas, Marx pôde conhecer o funcionamento do modo de produção econômico capitalista e suas contradições, bem como a sua origem com o desmantelamento da sociedade feudal. A definição primeira de alienação na obra de Marx está relacionada à expropriação e/ou separação dos trabalhadores dos meios de produção. Porém, seu significado é mais amplo e complexo: O homem não só aliena de si mesmo seus próprios produtos, como também se aliena a si próprio da atividade mesma pela qual esses produtos são criados, da natureza na qual vive e dos outros homens. Todos esses tipos de alienação são, em última análise, a mesma coisa: são aspectos diferentes, ou formas, da alienação do homem, formas diferentes da alienação que se produz entre o homem e a sua essência ou sua natureza humana, entre o homem e sua humanidade. Assim como o trabalho alienado aliena do homem a natureza e aliena o homem de si mesmo, de sua própria função ativa, de sua atividade vital, ele o aliena da própria espécie (…). Ele (o trabalho alienado) aliena do homem o seu próprio corpo, sua natureza externa, sua vida espiritual e sua vida humana (…). Uma consequência direta da alienação do homem com relação ao produto de seu trabalho, a sua atividade vital e à vida de sua espécie é o fato de que o homem se aliena dos outros homens (…). Em geral, a afirmação de que o homem está alienado da vida de sua espécie significa que todo homem está alienado dos outros e que todos os outros estão igualmente alienados da vida humana (…). Toda alienação do homem de si mesmo e da natureza surge na relação que ele postula entre outros homens, ele próprio e a natureza. (Manuscritos econômicos e filosóficos, Primeiro Manuscrito) (BOTTOMORE, 2013, p.21). 19 Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade Portanto, ao observar como se comportam as forças produtivas e as relações de produção no modo de produção capitalista, Marx verificou que o valor do salário pago ao trabalhador ao longo de uma jornada não representa a quantidade de valor produzida pelo seu trabalho ao longo dela, é sempre um valor menor. Marx denominou de mais-valia a diferença entre o valor pago ao trabalhador e o valor produzido pelo seu trabalho. Isso significa que, ao vender a sua força de trabalho, toda a riqueza, ou seja, todo o valor excedente produzido pelo seu trabalho, que não se destina a pagar o seu salário, é retida pelo patrão. É por meio da mais-valia que a exploração do trabalhador se efetiva no capitalismo e garante que a burguesia acumule capitais e bens, enquanto o proletariado sobrevive do salário. Em O Capital, principal obra de Marx, ele demostra que a mais-valia pode ser extraída de duas formas: Mais-valia absoluta Mais-valia relativa É obtida com o aumento das horas trabalhadas, assim se produz mais mercadorias, ou seja, mais valor/capital. Porém, a mais-valia absoluta esbarra em um limite físico, que é a necessidade de descanso do trabalhador. É obtida com o incremento tecnológico da produção, que possibilita ao trabalhador produzir mais sem que haja aumento das horas trabalhadas e do próprio salário, o que resulta em uma produção ainda maior de mercadorias, ou seja, de valor/capital. No século XXI, a mais-valia relativa predomina no mundo do trabalho. A informatização e a robotização das forças produtivas não têm somente eliminado vagas de trabalho, mas têm também contribuído para o aumentar a acumulação de capital a partir do aumento da capacidade produtiva e na geração de valor nas relações de produção. Nesse século, as evidências sobre o aumento da desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres estão relacionadas à concentração da riqueza produzida no planeta. Isso vem sendo constatado em pesquisas realizadas por economistas e pelos relatórios produzidos por instituições financeiras internacionais, como o relatório Global Wealth Report (RelatórioGlobal de Riqueza), elaborado pelo Instituto de Pesquisas do banco Credit Suisse. Fonte: Ilika Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 20 Apesar da riqueza global ter aumentado, a sua distribuição foi desigual, o que indica uma maior concentração de riqueza e, consequentemente, a ampliação das desigualdades. Não é por menos que Marx afirmou que as desigualdades sempre existiram, mas que no capitalismo elas se intensificaram devido ao processo de exploração do homem pelo homem. As Contribuições do Marxismo para a Compreensão da Realidade Social Em sua teoria, a realidade social é constituída pela infraestrutura e pela superestrutura. A infraestrutura diz respeito às relações de produção, à base material ou econômica de uma sociedade. A superestrutura, que corresponde à consciência social, é representada pelas ideias, ideologias, crenças, conhecimentos presentes em uma sociedade, ela é ao mesmo tempo produto da infraestrutura econômica e é produtora dos valores ideológicos do sistema econômico vigente. Como a base da nossa economia se desenvolve a partir do capitalismo, os valores econômicos capitalistas se tornam a ideologia dominante. A propriedade, o consumo e a mercadoria são valorizados e legitimam e explicam toda a vida social. A sociedade capitalista é sustentada pela propriedade privada dos meios de produção e voltada para a produção de mercadorias com o objetivo de acumular capital, e a ideologia dominante, por sua vez, difunde esses valores que influenciam o comportamento. Uma vez que estamos alienados no nosso cotidiano no processo de trabalho, perdemos a consciência da nossa condição de classe e reproduzimos a ideologia burguesa. Por isso, Marx afirmou que no interior do processo de exploração econômica capitalista terminamos, todos, nos transformando em mercadorias. A aplicação do método do materialismo histórico e dialético para entender e mudar a sociedade foi inovadora e influenciou o pensamento social e os movimentos sociais. Marx tinha como finalidade revolucionar a sociedade, porém ele tinha consciência que os homens faziam a história, mas não a faziam da forma que desejavam e sim de acordo com as determinações materiais de seu tempo. Acesse o artigo “Pirâmide global da desigualdade da riqueza”, de José Eustáquio Diniz Alves, e compreenda o quadro da má distribuição da riqueza no ano de 2017. https://www.ecodebate.com.br/2017/11/24/piramide-global-da-desigualdade-da- riqueza-2017-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/ saiba mais? 21 Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade Émile Durkheim - O Método Sociológico e seu Objeto de Estudo Augusto Comte é considerado o precursor dos estudos sociológicos. O positivismo defendido por ele não chegou a constituir-se enquanto uma ciência social, mas como uma filosofia da ordem e do progresso sociais. Karl Marx, por sua vez, desenvolveu uma teoria social e um método de investigação da realidade que objetivava não só compreendê-la, mas revolucionar o sistema capitalista; suas teses não se voltaram exclusivamente para a Sociologia, mas também para a Economia, a História, o Direito, a Filosofia. Porém, foi Émile Durkheim quem efetivamente delimitou o campo de estudo científico da Sociologia ao publicar, em 1895, As Regras do Método Sociológico. https://www.ebiografia.com/emile_durkheim/ Para Durkheim, a Sociologia não deve tomar como objeto de estudo a sociedade, uma vez que seria impossível para um sociólogo estudar todos os fenômenos sociais existentes nela. O sociólogo deve se concentrar na investigação dos fatos sociais, que são identificados por possuírem três características básicas: a coercitividade, a exterioridade e a generalidade. Coercitividade Exterioridade Generalidade Consiste em conformar os indivíduos às regras da sociedade. Ao aprendermos o idioma, ao internalizarmos as regras e as leis, ao aprendermos os hábitos, os costumes e os valores de uma sociedade, não o fazemos por vontade ou escolha própria, mas por meio da coerção social. As forças coercitivas atuam no processo de socialização dos indivíduos, que ocorre, especialmente, por meio da educação formal e informal, integrando-os ao meio social. Podemos dizer que a sociedade se sobrepõe ao indivíduo. Os fatos sociais são exteriores ao indivíduo porque eles existem na sociedade e influenciam a cada um de nós, independentemente de nossa escolha ou vontade. A existência das leis, das regras e das normas sociais não dependem das nossas escolhas particulares, elas estão presentes na sociedade na qual vivemos, possuem existência própria, o que determina sua exterioridade em relação à consciência individual. São denominados fatos sociais e não fatos individuais. O fato social é geral porque está presente em toda a sociedade e se impõe a todos os indivíduos, ou, ao menos, à grande maioria deles. Dessa forma, podemos identificar a diferença entre um fato social e um fato isolado ou particular que não diz respeito à toda sociedade. Assim, Durkheim pôde identificar o fato social, que é o objeto de estudo do sociólogo, e separá-lo do fato particular ou individual, que pode interessar a outras áreas do conhecimento, mas não à sociologia. Ao estudar um determinado fato social, o sociólogo deve tratá-lo com a objetividade própria do método científico, ou seja, como objeto (coisa) que pode ser observado concretamente e mensurado estatisticamente. Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 22 Exemplos de Fatos Sociais O casamento, o homicídio, a natalidade, a corrupção, a mortalidade infantil, o emprego e o desemprego são exemplos de fatos sociais cujos dados estatísticos podemos observar, descrever e comparar de um ano para outro, de uma década para outra, e, assim, conhecer as suas regularidades e variações. São exemplos de fatos sociais porque estão presentes em toda sociedade (generalidade), existem independente da vontade individual (exterioridade) e influenciam o comportamento de todos (coercitividade). Ao sociólogo cabe interpretar o comportamento do fato social na sociedade ao longo do tempo e compreender a sua importância para a adaptação, para o funcionamento da sociedade e para a coesão social quando este consegue se manter normal. Porém, se ele apresentar variações e irregularidades em seu comportamento, poderá indicar risco de ruptura da coesão social, um estado de patologia social. Segundo Durkheim, em princípio, todo fato social é considerado normal, seja ele o casamento ou o homicídio, uma vez que normal é todo o fenômeno social que ocorre com regularidade na sociedade, com frequência, e que se repete no cotidiano. Tomemos como exemplo o homicídio. Enquanto fato social, o homicídio é considerado um fato normal, porém isso não significa que seja normal cometer homicídios, uma vez que ele é considerado pela sociedade um ato moralmente inaceitável e passível de sanções legais. O fato do homicida ser punido pelas leis contribui para reforçar os valores, as normas e as regras sociais reforçando os laços dos indivíduos com a sociedade. Assim, a função social de todo fato social normal é integrar os indivíduos em torno de determinas regras e valores comuns a toda sociedade e garantir o consenso social, que é “a vontade coletiva ou o acordo de um grupo a respeito de determinada questão” (COSTA, 2010, p.42). “Normal é aquele fato que não extrapola os limites dos acontecimentos mais gerais de uma determinada sociedade.” (COSTA, 2005, p.85). “Função social é um conceito que procura justificar a existência de um determinado comportamento por sua contribuição na manutenção do todo [social] no qual se insere.” (COSTA, 2010, p.42). “Patológico é aquele[fato social] que se encontra fora dos limites permitidos pela ordem social. (...) como as doenças, são considerados transitórios e excepcionais.” (COSTA, 2005, p.86). 23 Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade Solidariedade mecânica Numa sociedade de solidariedade mecânica, o indivíduo estaria ligado diretamente à sociedade, sendo que enquanto ser social prevaleceria em seu comportamento sempre aquilo que é mais considerável à consciência coletiva, e não necessariamente seu desejo enquanto indivíduo. Nesse tipo de solidariedade mecânica de Durkheim, a maior parte da existência do indivíduo é orientada pelos imperativos e proibições sociais que vêm da consciência coletiva. Segundo Durkheim, a solidariedade do tipo mecânica depende da extensão da vida social que a consciência coletiva alcança. Quanto mais forte a consciência coletiva, maior a intensidade da solidariedade mecânica. Aliás, para o indivíduo, seu desejo e sua vontade são o desejo e a vontade da coletividade do grupo, o que proporciona uma maior coesão e harmonia social (RIBEIRO, s.d.). Solidariedade orgânica Na solidariedade orgânica ocorre um enfraquecimento das reações coletivas contra a violação das proibições e, sobretudo, uma margem maior na interpretação individual dos imperativos sociais. Na solidariedade orgânica ocorre um processo de individualização dos membros dessa sociedade, os quais assumem funções específicas dentro dessa divisão do trabalho social. Cada pessoa é uma peça de uma grande engrenagem, na qual cada um tem sua função e é esta última que marca seu lugar na sociedade. A consciência coletiva tem seu poder de influência reduzido, criando-se condições de sociabilidade bem diferentes daquelas vistas na solidariedade mecânica, havendo espaço para o desenvolvimento de personalidades. Os indivíduos se unem não porque se sentem semelhantes ou porque haja consenso, mas sim porque são interdependentes dentro da esfera social. Não há uma maior valorização daquilo que é coletivo, mas sim do que é individual, do individualismo propriamente dito, valor essencial para o desenvolvimento do capitalismo (RIBEIRO, s.d.). Em suma, Durkheim afirma que as sanções legais previstas em leis e aplicadas para aqueles que cometem homicídio servem, antes, para influenciar e moldar o comportamento e a consciência dos cidadãos, desestimulando-os de praticá-lo. Assim, ao se submeterem às leis e temerem as penalidades previstas nelas, os indivíduos experimentam a força coercitiva dos fatos sociais. A Sociedade, a Consciência Individual e a Consciência Coletiva Na teoria de Durkheim, as “escolhas” individuais estão submetidas às “escolhas” determinadas pela sociedade. Os comportamentos e ideias que parecem ser uma opção individual são, na verdade, reproduções de padrões existentes no interior da sociedade. A consciência individual é modelada pela consciência coletiva, uma vez que é determinada pela vontade coletiva que se manifesta nas forças sociais dos fatos que a sociedade impõe a todos nós. Desse modo, ele desenvolveu todo o seu pensamento, explicando as bases da coesão social. O que interessava a Durkheim, era conhecer como a sociedade se mantém organizada; em especial identificar como os laços sociais entre os indivíduos garantiam a organização social da sociedade. Os laços sociais, ou melhor, as formas de solidariedade social, como ele denominou, representam os vínculos que unem o sujeito na sociedade, e elas se constituem de acordo com a divisão social do trabalho, que podem ser: solidariedade mecânica e orgânica. AS INSTITuIçõES juRÍdICAS E EduCACIONAIS SãO EXEMPLOS dAS FORçAS COERCITIVAS dA SOCIEdAdE POR ATuAREM SObRE OS INdIVÍduOS COM A FINALIdAdE dE INTEGRá-LOS AO MEIO. Fo n te : f o lh am g .c o m .b r Fo n te : d o n tw as te yo u rm o n ey .c o m Consciência coletiva é, em certo sentido, a moral vigente na sociedade. Ela aparece como um conjunto de regras fortes e estabelecidas que atribuem valor e delimitam os atos individuais. (...) define o que, numa sociedade, é considerado imoral, reprovável ou criminoso. (COSTA, 2010, p.43). Entende-se por divisão social do trabalho a organização da sociedade em diferentes funções, exercidas pelos indivíduos ou grupos de indivíduos. Nas sociedades mais simples, predomina a divisão social do trabalho baseada principalmente em critérios biológicos de sexo e idade. Em sociedades mais complexas, como a industrial, surge uma divisão social mais complexa, com a criação de uma imensa gama de funções e atribuições diferenciadas. (COSTA, 2010, p.44). Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 24 Solidariedade mecânica Numa sociedade de solidariedade mecânica, o indivíduo estaria ligado diretamente à sociedade, sendo que enquanto ser social prevaleceria em seu comportamento sempre aquilo que é mais considerável à consciência coletiva, e não necessariamente seu desejo enquanto indivíduo. Nesse tipo de solidariedade mecânica de Durkheim, a maior parte da existência do indivíduo é orientada pelos imperativos e proibições sociais que vêm da consciência coletiva. Segundo Durkheim, a solidariedade do tipo mecânica depende da extensão da vida social que a consciência coletiva alcança. Quanto mais forte a consciência coletiva, maior a intensidade da solidariedade mecânica. Aliás, para o indivíduo, seu desejo e sua vontade são o desejo e a vontade da coletividade do grupo, o que proporciona uma maior coesão e harmonia social (RIBEIRO, s.d.). Solidariedade orgânica Na solidariedade orgânica ocorre um enfraquecimento das reações coletivas contra a violação das proibições e, sobretudo, uma margem maior na interpretação individual dos imperativos sociais. Na solidariedade orgânica ocorre um processo de individualização dos membros dessa sociedade, os quais assumem funções específicas dentro dessa divisão do trabalho social. Cada pessoa é uma peça de uma grande engrenagem, na qual cada um tem sua função e é esta última que marca seu lugar na sociedade. A consciência coletiva tem seu poder de influência reduzido, criando-se condições de sociabilidade bem diferentes daquelas vistas na solidariedade mecânica, havendo espaço para o desenvolvimento de personalidades. Os indivíduos se unem não porque se sentem semelhantes ou porque haja consenso, mas sim porque são interdependentes dentro da esfera social. Não há uma maior valorização daquilo que é coletivo, mas sim do que é individual, do individualismo propriamente dito, valor essencial para o desenvolvimento do capitalismo (RIBEIRO, s.d.). A SOLIdARIEdAdE MECâNICA, MAIS PRESENTE NAS SOCIEdAdES TRAdICIONAIS E PRé- CAPITALISTAS, EM quE OS COSTuMES FAMILIARES E RELIGIOSOS SãO MAIS PRESENTES. Seja pelos fatos sociais ou pela solidariedade social, o indivíduo é fruto do seu meio e submetido às forças sociais que o circundam. Caso contrário, assistiríamos a um processo de anomia social, quando o desregramento da sociedade poderia levá-la ao caos. A SOLIdARIEdAdE ORGâNICA, CARACTERÍSTICA PRÓPRIA dAS SOCIEdAdES MOdERNAS E CAPITALISTAS REGIdAS PELA dIVISãO TéCNICA dO TRAbALHO. 25 Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade Max Weber - O Método Compreensivo e a Teoria da Ação Social Entre o pensamento revolucionário de Karl Marx e o conservadorismo de Émile Durkheim, encontra-se Max Weber, que inaugurou na sociologia uma abordagem compreensiva das relações entre indivíduo e sociedade. Sua teoria sociológica introduziu novos elementos no estudo da realidade social, especialmente, em relação ao indivíduo, que passou a ter um papel central na produção da ordem social. https://www.ebiografia.com/max_weber/Weber se voltou para as motivações que levam os homens a agir em busca de seus objetivos, buscou compreender os sentidos das ações empreendidas pelos indivíduos na sociedade. As ideias e as ações dos indivíduos passaram a ter importância para a compreensão da realidade e sua transformação. É relevante destacarmos a primeira diferença entre os três precursores da sociologia no que diz respeito às relações entre indivíduo e sociedade. Marx Durkheim Weber Kal Marx priorizou em suas análises as relações ao mesmo tempo antagônicas e complementares entres as classes sociais. O indivíduo não tem lugar de destaque em sua teoria, uma vez que as relações sociais são determinadas pelas relações de produção que revelam a luta de classes no interior da sociedade. Émile Durkheim deu ênfase às forças coercitivas da sociedade que atuam sobre os indivíduos, demonstrando assim que a vontade coletiva e a consciência social prevalecem sobre as escolhas pessoais e a consciência individual. Para Max Weber, indivíduo e sociedade não se opõem, tampouco um se sobrepõe ao outro. Como em Marx, a história para Weber é central para a compreensão da sociedade. Nesse ponto ambos se distanciam de Durkheim, uma vez que em sua teoria a história particular de cada sociedade não determina a existência dos fatos sociais. Para Weber, ter conhecimento da história é pré-requisito fundamental, uma vez que cada sociedade possui suas particularidades históricas, o que a diferencia das outras. A interpretação dos dados históricos pelo sociólogo permite que ele compreenda essas diferenças sociais. WEbER, MARX, duRkHEIM Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 26 No lugar do método explicativo, próprio das ciências da natureza, Weber aplicou em seus estudos o método compreensivo, que julgou ser mais adequado para as ciências humanas e sociais, uma vez que elas “não deviam explicar os fatos em si, determinando as suas causas imediatas, mas sim compreender os processos da ação humana e dela extrair o seu sentido” (COSTA, 2010, p.51). Assim, concentrou seus estudos nas ações sociais realizadas pelos indivíduos. Sua intenção era compreender a lógica social do comportamento humano. Na sociologia weberiana o ser humano, enquanto agente da ação social, é motivado a agir a partir de valores, sentimentos e ideias de ordem subjetiva; consequentemente, as motivações subjetivas é que levam o indivíduo a agir e caracterizam o tipo de ação social empreendida. Weber classificou-as como ações afetivas, tradicionais e racionais, sendo que as ações racionais podem ser subdivididas em ações racionais com relação a valores e em ações racionais com relação aos fins. Ação social afetiva Determinada pelas emoções e sentimentos movidos pela paixão, pelo ódio, pelo amor, entre outros. Ação social tradicional Determinada pelos costumes e hábitos cotidianos arraigados nos indivíduos, passados, especialmente, pela família. Ação social racional com relação a valores É orientada por valores éticos, religiosos, estéticos, não tem como objetivo uma finalidade outra que os próprios valores em si. Ação social racional com relação a fins Quando a ação é calculada e voltada para objetivos determinados, e escolhem-se os meios para alcançar os objetivos da ação. Segundo Weber, todo comportamento humano possui um sentido compreensível socialmente, portanto perceptível para outras pessoas. Conceito básico da sociologia que designa, de maneira geral, toda ação humana que é influenciada pela consciência da situação na qual se realiza e pela existência das ações e reações dos outros agentes sociais [indivíduos] que estão envolvidos. Embora reconheça o condicionamento social da ação humana, o conceito de ação social remete ao princípio de liberdade e participação histórica [dos indivíduos / dos agentes sociais]. (COSTA, 2010, p.51). 27 Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade Em suma, para Weber, as regras, as normas, os valores e a cultura da sociedade ao serem internalizadas pelos indivíduos se manifestam enquanto forças motivadoras que levam à ação social. Assim, podemos dizer que na sociologia weberiana a sociedade age sobre o indivíduo e o indivíduo age sobre a sociedade. É uma perspectiva diferente da sociologia durkheimiana, que destaca a coerção da sociedade sobre os indivíduos, e também diferente da perspectiva marxista, que enfatiza as relações antagônicas entre as classes sociais em dado contexto social. Na obra A ética protestante e o espírito do capitalismo, Weber analisou como os valores difundidos pela Reforma Protestante tornaram-se motivações das ações sociais empreendidas pelos adeptos do protestantismo que contribuíram para a formação de um comportamento adequado para a consolidação do capitalismo. Weber partiu da premissa que o capitalismo prosperou mais rapidamente em países de tradição protestante e associou este fato a existência de uma ética, um modo de viver e pensar, que favoreceu seu desenvolvimento. O protestantismo valorizava a dedicação ao trabalho, a disciplina religiosa e uma vida modesta, assim, o ganho material deveria ser reinvestido no trabalho e não no consumo. Tal comportamento teria favorecido o capitalismo e a industrialização, em oposição ao catolicismo tradicional que valorizava a contemplação e a renúncia ao mundo terreno. Seu estudo sobre o modo de pensar e agir dos protestantes, em um período de transição do feudalismo para o capitalismo, é um exemplo de como os motivos presentes na conduta das pessoas permitem revelar para os sociólogos os sentidos da ação social e como essa influência transforma a sociedade. Enquanto a Sociologia voltou-se, desde sua origem, para o estudo das sociedades europeias, ou seja, para decifrar a ordem social e as transformações no interior da sociedade moderna, a Antropologia, na mesma época, voltou o seu olhar para longe, para os territórios coloniais e para as formas de organização socioculturais das suas populações nativas. Iniciou-se, assim, a aventura em busca da compreensão do homem e da cultura. Assista ao vídeo “Max Weber e a Ética Protestante”, da Sociologia em Cena, sobre a ética protestante e o espírito do capitalismo. https://www.youtube.com/watch?v=ad73gm-rQVA saiba mais? Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 28 Antropologia: ciência do homem e da cultura É possível afirmar que as primeiras questões que deram origem a um saber sobre o próprio homem tenham sido postas desde os primórdios da humanidade. Segundo Laplantine (2005), o homem sempre se interrogou sobre sua origem, sua condição e seu destino. No entanto, somente no século XIX é que se consolidou, no campo científico, uma disciplina que toma o homem como objeto de estudo, a Antropologia. Até aquele século, o conhecimento sobre o homem tinha sido de natureza mitológica, artística, teológica e filosófica, mas não científica. Tratou-se de transformar o sujeito do conhecimento – o homem – no próprio objeto de pesquisa e estudo científico. O fato de a Antropologia ter surgido na Europa contribuiu para a construção do objeto de estudo antropológico a partir de uma diferenciação dualista entre as sociedades europeias e as não europeias. A proposta inicial da Antropologia baseou-se em uma tentativa de análise das populações consideradas primitivas, ou seja, que viviam nas ditas sociedades simples, porque não pertenciam ao mundo exclusivo das sociedades europeias. Estabeleceu-se uma dicotomia entre sociedades simples e sociedades complexas. De um lado as sociedades primitivas e tradicionais, às quais se voltaram os estudos antropológicos; e de outro as sociedades civilizadas e cosmopolitas, sobre as quais os sociólogos se debruçaram. Ao longo do século XX,no entanto, a antropologia também passou a se dedicar ao estudo da cultura nas ditas sociedades complexas, superando assim a dicotomia em favor da diversidade cultural e das complexidades existentes em todas as formas de organização social. Foi nesse contexto que a ciência do homem passou a ser o estudo da cultura de todos os povos e sociedades. Para a Antropologia, o homem e a cultura constituem-se como conceitos básicos, e estabeleceu-se como tarefa dos antropólogos responder às questões: O que é o homem? O que é a cultura? T3 Fo n te : 1 23 R F 29 Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade A Natureza Humana A partir do século XVII, em meio à Revolução Científica, convencionou-se que o homem se distinguia dos outros seres vivos por ser ele o único animal dotado de razão, convincente explicação filosófica demonstrada por René Descartes (1596-1650), que afirmou a separação existente entre res extensa – corpo, e res cogitans – espírito/pensamento. De acordo com Descartes, os corpos de todos os animais se assemelhavam ao funcionamento de máquinas biológicas, mas no corpo-máquina humano havia um espírito, responsável por fazer do homem um animal racional. Posteriormente, a ciência, por meio dos estudos da paleontologia humana, revelou que a transição da animalidade para a humanidade ocorreu de forma processual, em decorrência da evolução da espécie, principalmente com o desenvolvimento do bipedismo, da hipercomplexidade cerebral e da simbolização – o uso da linguagem. Eis que emergiu desse processo a espécie homo sapiens sapiens. A Paleontologia é uma ciência que se dedica ao estudo da história da vida e sua evolução através do estudo de vestígios fósseis e de outros vestígios preservados de seres vivos. A Paleontologia Humana ou Paleoantropologia é o ramo que se dedica exclusivamente ao estuda da evolução do homem por meio do estudo dos vestígios fósseis dos nossos antepassados e de seus artefatos. LINHA dO TEMPO dA EVOLuçãO HuMANA COM A ESTIMATIVA dA PRIMEIRA E úLTIMA APARIçãO dE CAdA ESPéCIE. Fo nt e: s ig ni fic ad os .c om .b r Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 30 Segundo Morin (1975), homem e cultura nascem juntos, pois o que ocorreu foi uma retroação entre mutação genética do cérebro e complexificação cultural do humano. Enquanto, por um lado, foi a evolução ‘natural’ do cérebro hominídeo que produziu e desenvolveu a cultura, por outro lado, foi a evolução cultural que impeliu ou estimulou o hominídeo a desenvolver seu cérebro, isto é, a transformar- se em homem. Assim, o cérebro passou de 500cm³ (antropoide) para 600 e 800cm³ (primeiros hominídeos) e, em seguida, para 1.100 cm³ (homo erectus), antes de atingir 1.500 cm³ (homo sapiens neanderthalensis e homo sapiens sapiens) (MORIN, 1975, p. 87). Esses três fatores, bipedismo, hipercomplexidade cerebral e a linguagem simbólica – o uso de palavras, desenhos, grafias, gestos, sons e sinais – para comunicação permitiram que nossos ancestrais pudessem, por meio da cultura, fazer uso da natureza e transformá-la a seu favor. Assim, desde a criação dos machados de pedra, das pinturas rupestres, da organização da vida social em tribos, da domesticação das plantas e animais, da criação das cidades, da origem das civilizações, da invenção da filosofia à navegação pelo espaço a vida do ser humano no planeta se constituiu por meio da cultura. É nesse sentido que a Antropologia consiste no estudo da unidade do homem, ou seja, na compreensão da integralidade do homo sapiens sapiens, mas também no estudo da vida do homem em todas as sociedades e em todas as culturas, como afirmou Laplantine (2005). Estudar o homem na sua existência física, biológica e psicológica implica também conhecê-lo na sua vivência social e cultural, ou seja, devemos compreender a unidade biológica e a diversidade cultural da espécie humana. Por isso, os estudos antropológicos passaram a ser sinônimo de estudos da cultura e acatou-se como verdade inabalável a equação de que o homem é humano por ser produtor de cultura. Fo nt e : B o l.c o m 31 Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade Atualmente, a tradicional fronteira definida pela cultura que diferencia os primatas humanos dos primatas não-humanos tem sido questionada, especialmente pelos estudos da primatologia, que acumulam exemplos de como nós somos próximos de outros primatas não humanos. É difícil encontrar hoje em dia qualquer capacidade supostamente racional que os primatólogos não digam que está replicada em outros primatas que não os humanos: uso da linguagem, fabricação de ferramentas, imaginação simbólica, autoconsciência – imagine qualquer uma, sempre haverá primatas não humanos que a exercem (FERNÁNDEZ-ARMESTO, 2007, p. 9). Diante desse novo dilema, devemos recolocar as questões: “O que é o homem?” “O que é a cultura?” A busca incansável para essas respostas faz do estudo do homem e da cultura um campo fértil para o conhecimento de nós mesmos e, consequentemente, para o conhecimento das relações entre a natureza humana e a cultura; entre as diferentes culturas e sociedades; e entre os indivíduos, a sociedade e a cultura. A Cultura Humana O termo cultura é usualmente empregado para designar acúmulo de saberes. Ter cultura, para o senso comum, passou a ser utilizado para indicar um indivíduo de boa educação, culto, que possui instrução e vasto conhecimento. No seu sentido inverso, o temo inculto serve para designar pessoas sem cultura. Esses usos do termo cultura e do seu contrário, inculto, não tem relação alguma com o conceito antropológico de cultura. Outra maneira equivocada de usar o termo cultura é para classificar que determinadas sociedades têm cultura mais evoluída do que outra. Infelizmente, em seus primórdios, a Antropologia contribui para difundir esse entendimento enviesado ao afirmar que os povos primitivos não haviam evoluído. Um exemplo clássico desse equívoco é quando ouvimos que os índios possuem uma cultura atrasada, mas isso não é verdadeiro, tampouco correto de se afirmar. Por fim, também usamos cotidianamente o termo cultura para nos referirmos ao universo artístico, porém a cultura não se resume apenas às artes. O correto, nesse caso, é compreender que as artes e suas manifestações estéticas integram a cultura de uma sociedade. Fo nt e : D ss b r.o rg Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 32 Com base no conhecimento antropológico podemos afirmar que todos os seres humanos possuem cultura. O surgimento da cultura está intimamente relacionado ao surgimento do homem, e não há cultura melhor ou pior, superior ou inferior, atrasada ou evoluída; o que existe são culturas diferentes. Entre os precursores da Antropologia, foi Edward B. Tylor, em 1871, o primeiro a criar um conceito de cultura que se tornou clássico: “cultura é aquele todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” (LARAIA, 2006, p.25). Em suma, todas as invenções e criações do homem que são transmitidas e compartilhadas por meio da convivência com outros humanos são o que a Antropologia denomina cultura. Objetos de uso cotidiano, hábitos alimentares, vestimentas, crenças religiosas, idiomas, conhecimentos, arquitetura, música são exemplos da produção material e imaterial dos homens, já que a cultura compreende tudo aquilo que criamos a partir das nossas interações com o meio em que vivemos. Isso significa que a cultura de uma sociedade não é transmitida pela hereditariedade genética, mas pela convivência social. Adquirimos cultura pelo processo de socialização,ou seja, na convivência com os grupos sociais dos quais participamos, a começar pelo grupo familiar. Segundo Marconi (2001), por meio da simbolização os seres humanos podem transmitir sua cultura para diferentes gerações. É por meio da simbolização e do significado atribuído aos gestos, aos sinais, às palavras, aos comportamentos, aos sentimentos e aos objetos que a cultura de uma sociedade pode ser facilmente compartilhada e seus significados compreendidos por todos. Uma vez que a cultura é uma herança social, transmitida pelos grupos sociais com os quais convivemos, acabamos assimilando ideias, valores, comportamentos, hábitos e crenças que influenciam a interpretação que fazemos da realidade. Podemos dizer que vemos o mundo pela cultura na qual crescemos. Assim, a cultura nunca é a mesma para todos, ela varia de um local para outro, por isso que existem várias culturas e que cada localidade possui a sua, cada qual com suas singularidades. Para Dias (2005), essas variações ocorrem: Entre diferentes países: a cultura tradicional japonesa é diferente da cultura tradicional chinesa; Fo nt e : y tim g .c o m 33 Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade Entre uma região e outra no mesmo país: no Brasil a cultura mineira é diferente da cultura baiana; Entre diferentes grupos étnicos em um mesmo território: a cultura dos índios ashaninka é diferente da cultura dos índios enawenê nawê, e ambos vivem na Amazônia; Entre diferentes grupos ou comunidades na mesma cidade: grupos de punks diferem nos hábitos e no estilo dos funkeiros. Outro exemplo são as diferenças entre comunidades religiosas distintas, como a católica e a umbandista, cada qual possuindo sua crença, fé e culto. A cultura pressupõe ao mesmo tempo a existência de várias culturas, isso é o que caracteriza a diversidade cultural. Em outras palavras, a cultura humana é composta por inúmeras culturas, e cada umas dessas é composta por outras várias culturas. Podemos, assim, dizer que a cultura brasileira abriga um conjunto de culturas regionais: a caipira, a gaúcha, a nordestina, por exemplo, mas também abriga um conjunto de pequenos grupos que podem se identificar pela etnia, ou pelos costumes e tradições típicas de determinada comunidade, como caiçaras, ciganos, quilombolas, ribeirinhos, entre outras. O estudo da Antropologia, ou seja, o estudo do homem e da cultura “consiste, portanto, no reconhecimento, no conhecimento, juntamente com a compreensão de uma humanidade plural” (LAPLANTINE, 2005, p. 22). Ter conhecimento de que agimos e pensamos de formas diferenciadas, porque temos culturas diferentes, é o caminho que pode levar o ser humano a ser mais compreensivo e a combater os preconceitos. Isso também implica nos reconhecermos como pertencentes à mesma espécie homo sapiens sapiens. Afinal, somos uma só humanidade diferenciada pela cultura e não pela genética. Isso quer dizer que a ideia de raça é mais uma construção ideológica do que uma constatação científica. Insistir na diferenciação/identificação racial dos grupos humanos reforça o sentimento de racismo, cria preconceito e estimula a discriminação. Alan Templeton: “As diferenças genéticas entre etnias são insignificantes” Encontrar um índio brasileiro não miscigenado ou mesmo um alemão puro da raça ariana é tarefa quase impossível. É o que se conclui do trabalho coordenado pelo biólogo norte-americano Alan Templeton, da Washington University of Saint Louis, que promete pôr fim ao conceito de raça, em nome do qual foram cometidas algumas das maiores atrocidades da história da humanidade. A pesquisa de Templeton comparou mais de oito mil pessoas de várias partes do mundo, entre elas índios ianomâmis e xavantes do Brasil. “As diferenças genéticas entre grupos das mais distintas etnias são insignificantes”, afirma o pesquisador, que, apesar dos seus olhos azuis e cabelos louros, pode ter mais genes africanos do que o rei Pelé. Templeton, que esteve no ICB participando do IV Seminário de Ecologia Evolutiva, falou com exclusividade ao BOLETIM UFMG. Fonte: Amino Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 34 BOLETIM (B): Sua pesquisa parece cair como luva para quem quer entender o processo de miscigenação ocorrido no Brasil. Templeton (T): Sim. Curiosamente, foi aqui no Brasil que, há mais de 20 anos eu senti - digo senti porque ainda não era algo científico, mas emocional mesmo - o quanto é arbitrária a divisão dos seres humanos em raças. Um professor da USP me contou que, numa viagem aos Estados Unidos, percebeu que lá, diferentemente do Brasil, as pessoas morenas ou pardas são consideradas negras. Foi aí que comecei a compreender que a classificação de pessoas em raças é feita a partir de uma vivência cultural. A definição de negro, para o brasileiro, é diferente daquela usada por quem mora no Alaska. O conceito de raça, ao contrário do que se acredita, não é biológico, mas cultural. B: Se não existem raças, porque um negro norte-americano é tão diferente de um japonês ou de um índio maxacali? T: Os genes, unidades que carregam todas as informações sobre o organismo de um ser humano, determinam as características físicas. Mas as partículas que definem a cor do cabelo ou o formato do rosto são tão poucas que perdem seu significado quando comparadas ao número total de genes. A cor da pele de uma pessoa pode representar uma adaptação biológica a certas condições geográficas ao longo de sua evolução. Na região de origem dos negros, por exemplo, o sol é bastante forte. Como o excesso de energia solar prejudica o organismo, a cor negra protege a pele contra os raios nocivos. Não importa se há diferenças na cor da pele, nas feições do rosto, na estatura ou origem geográfica. Geneticamente, somos todos iguais. B: Seria possível, então, encontrar mais genes africanos num alemão “puro” do que em um negro nascido na África? T: Sem dúvida. Às vezes, as diferenças mais gritantes aparecem entre indivíduos de um mesmo grupo étnico, como os asiáticos. Os resultados da minha pesquisa demonstraram que, quando há diferença significativa, 85% ocorre entre pessoas possuidoras das mesmas características físicas. Afinal, os nossos genes vêm de todas as partes. Já as diferenças entre os negros africanos e os brancos europeus, que serviriam de base para raças bem distintas, são de apenas 15%. B: Os resultados da sua pesquisa podem contribuir para o fim do preconceito racial? T: O preconceito é uma questão que preocupa o mundo inteiro. Se não existem raças, porque há discriminação? Não faz sentido achar que os negros são melhores ou piores que os brancos se os seus genes são praticamente os mesmos. B: No Brasil, o IBGE divide os indivíduos em negros, brancos, pardos, amarelos e indígenas. Como será a divisão se o conceito de raça for extinto? T: Quando começarem a se ver de maneira diferente, os seres humanos passarão a ser tratados como indivíduos e não só como membros de uma categoria. É lamentável que essas instituições ainda agrupem as pessoas de forma estanque. Reconheço que produzem estatísticas válidas para a definição de determinadas políticas públicas, mas no futuro a forma de se categorizar as pessoas terá de sofrer mudanças. Se é que essas classificações serão tão importantes assim. A Antropologia entende que a humanidade é uma só, constituída da mesma espécie, que tem como sua maior aptidão criar modos e estilos de vida diferenciados. Assim, o que faz povos e sociedades se distinguirem não é a sua condição biológica ou “racial”, mas a capacidade criadora e criativa da cultura humana. Para que essa compreensão fosse alcançada, os estudos antropológicos passaram por diferentes fases em diferentes períodos. 35 Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade
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