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2020428_172246_Sociologia_e_relações_etnico_culturais_e_dir_humanos

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1
SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS
SOCIOLOGIA E 
RELAÇÕES 
ÉTNICO-CULTURAIS 
E DIREITOS HUMANOS
AUTORIA
Tatyana Léllis da Matta e Silva
32
SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS
S586s Silva, Tatyana Léllis da Matta.
 Sociologia, relações étnico-culturais e direitos humanos / Tatyana Léllis da Matta Silva. - Vitoria : Multivix, 2016.
 103 f. ; 30 cm
 Inclui referências.
1. Sociologia 2. Direitos humanos 3. Relações étnico-culturais I. Faculdade Multivix. II. Título. 
CDD: 301
EDITORIAL
Catalogação: Biblioteca Central Anisio Teixeira – Multivix
2017 • Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.
As imagens e ilustrações utilizadas nesta apostila foram obtidas no site: http://br.freepik.com
R E I T O R
A Faculdade Multivix está presente de norte a sul 
do Estado do Espírito Santo, com unidades em 
Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova 
Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. 
Desde 1999 atua no mercado capixaba, desta-
cando-se pela oferta de cursos de graduação, 
técnico, pós-graduação e extensão, com quali-
dade nas quatro áreas do conhecimento: 
Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, sempre 
primando pela qualidade de seu ensino e pela 
formação de profissionais com consciência 
cidadã para o mercado de trabalho.
Atualmente, a Multivix está entre o seleto grupo 
de Instituições de Ensino Superior que possuem 
conceito de excelência junto ao Ministério da 
Educação (MEC). Das 2109 instituições avaliadas 
no Brasil, apenas 15% conquistaram notas 4 e 5, 
que são consideradas conceitos de excelência 
em ensino.
Estes resultados acadêmicos colocam todas as 
unidades da Multivix entre as melhores do 
Estado do Espírito Santo e entre as 50 
melhores do país.
 
MISSÃO
Formar profissionais com consciência cidadã 
para o mercado de trabalho, com elevado 
padrão de qualidade, sempre mantendo a 
credibilidade, segurança e modernidade, 
visando à satisfação dos clientes e colabora-
dores.
 
VISÃO
Ser uma Instituição de Ensino Superior 
reconhecida nacionalmente como referên-
cia em qualidade educacional.
GRUPO
MULTIVIX
BIBLIOTECA MULTIVIX (DADOS DE PUBLICAÇÃO NA FONTE)
FACULDADE MULTIVIX
Diretor Executivo 
Tadeu Antônio de Oliveira Penina
Diretora Acadêmica
Eliene Maria Gava Ferrão Penina
Diretor Administrativo Financeiro
Fernando Bom Costalonga
Conselho Editorial 
Eliene Maria Gava Ferrão Penina (presidente do Conselho Editorial)
Kessya Penitente Fabiano Costalonga
Carina Sabadim Veloso
Patrícia de Oliveira Penina
Roberta Caldas Simões
Revisão Técnica
Alexandra Oliveira
Alessandro Ventorin
Graziela Vieira Carneiro
Design Editorial e Controle de 
Produção de Conteúdo
Carina Sabadim Veloso
Maico Pagani Roncatto
Ednilson José Roncatto
Aline Ximenes Fragoso
Genivaldo Félix Soares
Multivix Educação a Distância
Gestão Acadêmica - Coord. Didático Pedagógico
Gestão Acadêmica - Coord. Didático Semipresencial
Gestão de Materiais Pedagógicos e Metodologia
Direção EaD
Coordenação Acadêmica EaD
54
SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS
R E I T O R
APRESENTAÇÃO
DA DIREÇÃO 
EXECUTIVA
Prof. Tadeu Antônio
de Oliveira Penina
Diretor Executivo do 
Grupo Multivix
Aluno (a) Multivix,
Estamos muito felizes por você agora fazer parte do 
maior grupo educacional de Ensino Superior do 
Espírito Santo e principalmente por ter escolhido a 
Multivix para fazer parte da sua trajetória profissional.
A Faculdade Multivix possui unidades em Cachoeiro 
de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São 
Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999, no 
mercado capixaba, destaca-se pela oferta de cursos 
de graduação, pós-graduação e extensão de quali-
dade nas quatro áreas do conhecimento: Agrárias, 
Exatas, Humanas e Saúde, tanto na modalidade 
presencial quanto a distância.
Além da qualidade de ensino já comprovada pelo 
MEC, que coloca todas as unidades do Grupo 
Multivix como parte do seleto grupo das Institu-
ições de Ensino Superior de excelência no Brasil, 
contando com sete unidades do Grupo entre as 
100 melhores do País, a Multivix preocupa-se 
bastante com o contexto da realidade local e 
com o desenvolvimento do país. E para isso, 
procura fazer a sua parte, investindo em projetos 
sociais, ambientais e na promoção de oportuni-
dades para os que sonham em fazer uma facul-
dade de qualidade mas que precisam superar 
alguns obstáculos. 
Buscamos a cada dia cumprir nossa missão 
que é: “Formar profissionais com consciência 
cidadã para o mercado de trabalho, com 
elevado padrão de qualidade, sempre man-
tendo a credibilidade, segurança e moderni-
dade, visando à satisfação dos clientes e 
colaboradores.”
Entendemos que a educação de qualidade 
sempre foi a melhor resposta para um país 
crescer. Para a Multivix, educar é mais que 
ensinar. É transformar o mundo à sua volta.
Seja bem-vindo!
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 7
NOÇÕES GERAIS DE SOCIOLOGIA 9
2.1 SENSO COMUM X CONHECIMENTO CIENTÍFICO 10
2.1.1 O SENSO COMUM 10
2.1.2 CONHECIMENTO CIENTÍFICO 11
2.2 O OLHAR SOCIOLÓGICO 13
SOCIOLOGIA CLÁSSICA 15
3.1 O POSITIVISMO E A ORIGEM DA SOCIOLOGIA 15
3.2 ÉMILE DURKHEIM 16
3.3 MAX WEBER 19
3.4 KARL MARX 22
SOCIOLOGIA NO SÉCULO XX 26
4.1 GEORG SIMMEL E A VIDA NA CIDADE MODERNA 26
4.2 A ESCOLA DE CHICAGO E A SOCIOLOGIA URBANA 29
4.3 A ESCOLA DE FRANKFURT E A TEORIA CRÍTICA 31
4.4 PIERRE BOURDIEU: PODER SIMBÓLICO E VIOLÊNCIA SIMBÓLICA 34
SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA 38
5.1 A CRISE DOS PARADIGMAS SOCIOLOGICOS E A PÓS-MODERNIDADE 38
5.2 A QUESTÃO DA IDENTIDADE NA PÓS MODERNIDADE 39
RELAÇÕES ÉTNICAS E RELAÇÕES CULTURAIS 43
6.1 A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE CULTURA 43
6.2 ETNOCENTRISMO 45
6.3 RELATIVISMO CULTURAL 49
6.4 ETNIA X RAÇA 51
6.5 MULTICULTURALISMO 56
6.6 INTERCULTURALIDADE 57
1
2
3
4
5
6
76
SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS
1 INTRODUÇÃO
A Sociologia tem sua origem no Século XIX. Três acontecimentos são considerados 
fundamentais para a origem dessa ciência: O primeiro é de ordem econômica: a re-
volução industrial. O segundo é de ordem política: a revolução francesa, e o terceiro, 
de ordem cultural, são na verdade dois: o iluminismo e o renascimento. Esses acon-
tecimentos mudaram o rumo da história da Humanidade, alterando seus aspectos 
econômicos, políticos e culturais, dando origem a estrutura do mundo atual. Essas 
transformações geraram inúmeras dúvidas e questionamentos sobre o motivo delas 
ocorrerem, as causas e consequências delas, e como agir diante de tudo o que esta-
va acontecendo. Essa necessidade de compreensão da sociedade e de saber como 
proceder neste grande momento de crise foi o que fomentou a criação da Sociologia.
Concebida inicialmente na Europa, para resolver problemas de uma Modernidade 
industrial localizada, durante muito tempo, embora oficialmente a Sociologia tivesse 
por objeto as relações sociais em geral, desenvolveu-se ao redor dos problema das 
grandes capitais europeias, a vida na cidade e o mundo do trabalho/consumo, bem 
como as relações de poder neles desenvolvidas, deixando em segundo plano outras 
questões igualmente graves e contemporâneas daquele meio social, seja pela retirada 
da mulher de casa para compor a força de trabalho, ou pela colonização e descoberta 
de novos continentes e culturas, retomando a perspectiva globalizante das navega-
ções do Século XV e consequentemente seus discursos sobre a divisão da Humanida-
de não apenas em raças, bem como em estágios de evolução e de civilização distintos.
A globalização e o advento das transformações sofridas no Século XX, mormente com 
a Segunda Guerra Mundial, no entanto, trouxeram à tona novas questões que a socio-
logia clássica não tinha ferramentas para avaliar. Talvez a maior, a questãoda identida-
de e da subjetividade dos indivíduos, que levaria a rediscussão de conceitos até então 
intocados como modernidade, civilização, cultura, raça e gênero, abrindo novas ques-
tões principalmente nos chamados Estados Democráticos que adotam a perspectiva 
dos Direitos Humanos, onde o acesso aos direitos e o respeito às subjetividades são 
condição para a cidadania e a própria condição humana. 
É assim que, sobretudo no Século XXI, somam-se às perguntas centrais da sociologia 
clássica temáticas sobre o lugar e os direitos que cabem àqueles que não eram re-
CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS DIREITOS HUMANOS 59
7.1 PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS 60
7.1.1 A MAGNA CARTA (1215) 60
7.1.2 A PETIÇÃO DE DIREITO (BILL OF RIGHTS - 1628) 61
7.1.3 A DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS 
 DA AMÉRICA (1776) 62
7.1.4 A DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO (1789) 63
7.1.5 A PRIMEIRA CONVENÇÃO DE GENEBRA (1864) 63
7.1.6 A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU - 1945) 64
7.1.7 A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (1948) 65
7.2 DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA 66
7.2.1 A CIDADANIA SEGUNDO A TEORIA CLÁSSICA DE T. H. MARSHALL 68
7.2.2. NOVAS CONFIGURAÇÕES DO CONCEITO DE CIDADANIA 71
DIREITOS HUMANOS E RELAÇÕES ETNICO-CULTURAIS NA SOCIEDADE 75
8.1 A IDEIA DE MINORIA 75
8.2 GÊNERO E SUBJETIVIDADE 78
8.3 AÇÕES AFIRMATIVAS E AÇÕES TRANSFORMATIVAS 84
REFERÊNCIAS 89
7
8
9
98
SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS
presentados pelo homem europeu da Era Industrial. Nesse contexto, esta disciplina 
via ampliar o escopo do estudante para uma compreensão maior e, portanto, mais 
próxima da realidade social das questões sociais mais relevantes acerca das relações 
culturais étnicas e dos Direitos Humanos no contexto de nossa sociedade, a fim de 
permitir um olhar crítico dos mesmo sobre os atuais problemas sociais.
2 NOÇÕES GERAIS DE 
SOCIOLOGIA
A Sociologia surgiu como disciplina no século XVIII, como resposta acadêmica para 
um desafio que estava surgindo: o início da sociedade moderna. Com a Revolução 
Industrial e posteriormente com a Revolução Francesa (1789), iniciou-se uma nova era 
no mundo, com as quedas das monarquias e a constituição dos Estados nacionais no 
Ocidente. A Sociologia surge então para compreender as novas formas das socieda-
des, suas estruturas e organizações.
Atualmente, além de suas aplicações no planejamento social, na condução de progra-
mas de intervenção social e no planejamento de programas sociais e governamentais, 
o conhecimento sociológico é também um meio possível de aperfeiçoamento do 
conhecimento social, na medida em que auxilia os interessados a compreender mais 
claramente o comportamento dos grupos sociais, assim como a sociedade com um 
todo. Sendo uma disciplina humanística, a Sociologia é uma forma significativa de 
consciência social e de formação de espírito crítico.
Sociólogos fazem uso frequente de técnicas quantitativas de pesquisa social (como 
a estatística) para descrever padrões generalizados nas relações sociais. Isto ajuda a 
desenvolver modelos que possam entender mudanças sociais e como os indivíduos 
responderão a essas mudanças. Em alguns campos de estudo da Sociologia, as téc-
nicas qualitativas — como entrevistas dirigidas, discussões em grupo e métodos etno-
gráficos — permitem um melhor entendimento dos processos sociais de acordo com 
o objetivo explicativo.
Mais que sua aplicação em planejamentos, pesquisas e programas de intervenção, o co-
nhecimento sociológico funciona também como uma disciplina humanística, no senti-
do de aperfeiçoamento do espírito, na medida em que compreende melhor o compor-
tamento dos outros, a sua própria situação e a sociedade como um todo. Sendo uma 
disciplina humanística, a Sociologia é uma forma significativa de consciência social.
Assim, a Sociologia nasce da própria sociedade, e por isso mesmo essa disciplina pode 
refletir interesses de alguma categoria social ou ser usado como função ideológica, 
contrariando o ideal de objetividade e neutralidade da ciência. Nesse sentido, se ex-
põe o paradoxo das Ciências Sociais, que ao contrário das ciências da natureza (como 
1110
SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS
a biologia, física, química etc.), as ciências da sociedade estão dentro do seu próprio 
objeto de estudo, pois todo conhecimento é um produto social. Se isso a priori é uma 
desvantagem para a Sociologia, num segundo momento percebemos que a Sociolo-
gia é a única ciência que pode ter a si mesma como objeto de indagação crítica.
2.1 SENSO COMUM X CONHECIMENTO CIENTÍFICO
2.1.1 O SENSO COMUM 
No seu dia-a-dia, o homem adquire espontaneamente um modo de entender e atuar so-
bre a realidade. Algumas pessoas, por exemplo, não passam por baixo de escadas, porque 
acreditam que dá azar; se quebrarem um espelho, sete anos de azar. Algumas confeitei-
ras sabem que o forno não pode ser aberto enquanto o bolo está assando, senão ele “sola”. 
Como aprenderam estas informações? Elas foram sendo passadas de geração a gera-
ção. Elas não só foram assimiladas, mas também transformadas, contribuindo assim 
para a compreensão da realidade. Assim, se o conhecimento é produto de uma práti-
ca que se faz social e historicamente, todas as explicações para a vida, para as regras de 
comportamento social, para o trabalho, para os fenômenos da natureza, etc., passam a 
fazer parte das explicações para tudo o que observamos e experimentamos. 
Todos estes elementos são assimilados ou transformados de forma espontânea. Por 
isso, raramente há questionamentos sobre outras possibilidades de explicações para a 
realidade. Acostumamo-nos a uma determinada compreensão de mundo e não mais 
questionamos; tornamo-nos “conformistas de algum conformismo”. São inúmeros os 
exemplos presentes na vida social, construídos pelo “ouvi dizer”, que formam uma vi-
são de mundo fragmentada e assistemática. Mesmo assim, é uma forma usada pelo 
homem para tentar resolver seus problemas da vida cotidiana. Isso tudo é denomina-
do de senso comum ou conhecimento espontâneo. 
Portanto, podemos dizer que o senso comum é o conhecimento acumulado pelos 
homens, de forma empírica, porque se baseia apenas na experiência cotidiana, sem se 
preocupar com o rigor que a experiência científica exige e sem questionar os proble-
mas colocados justamente pelo cotidiano. Contudo, o senso comum é também um 
saber ingênuo, vez que não possui uma postura crítica. 
Em geral, as pessoas percebem que existe uma diferença entre o conhecimento do 
homem do povo, às vezes até cheio de experiências, mas que não estudou, e o conheci-
mento daquele que estudou determinado assunto. E a diferença é que o conhecimen-
to do homem do povo foi adquirido espontaneamente, sem muita preocupação com 
método, com crítica ou com sistematização. Ao passo que o conhecimento daquele 
que estudou algo foi obtido com esforço, usando-se um método, uma crítica mais pen-
sada e uma organização mais elaborada dos conhecimentos. (LARA, p. 56, 1983). 
Porém, é importante destacar que o senso comum é uma forma válida de conhe-
cimento, pois o homem precisa dele para encaminhar, resolver ou superar suas ne-
cessidades do dia-a-dia. Os pais, por exemplo, educam seus filhos mesmo não sendo 
psicólogos ou pedagogos, e nem sempre os filhos de pedagogos ou psicólogos são 
educados melhor. O senso comum é ainda subjetivo ao permitir a expressão de sen-
timentos, opiniões e de valores pessoais quando observamos as coisas à nossa volta.
Por exemplo: a) se uma determinada pessoa não nos agrada, mesmo que ela tenha 
um grande valor profissional, torna-se difícil reconhecer este valor. Neste caso, a anti-
patia por esta determinada pessoa nos impede de reconhecer a sua capacidade; b) os 
hindus consideram a vaca um animal sagrado, enquanto nós, ocidentais, concebemos 
este animal apenas como um fornecedor de carne, leite, entre outros.Por essa razão 
os consideramos ignorantes, pois tendemos a julgar os povos, que possuem uma cul-
tura diferente da nossa, a partir do nosso entendimento valorativo.
Levando-se em conta a reflexão feita até aqui, podemos considerar o senso comum 
como sendo uma visão de mundo precária e fragmentada. Mesmo possuindo o seu 
valor enquanto processo de construção do conhecimento, ele deve ser superado por 
um conhecimento que o incorpore, que se estenda a uma concepção crítica e co-
erente e que possibilite, até mesmo, o acesso a um saber mais elaborado, como as 
ciências sociais. 
2.1.2 CONHECIMENTO CIENTÍFICO 
Os Gregos, na Antiguidade, buscavam através do uso da razão, a superação do mito ou 
do saber comum. O avanço na produção do conhecimento, conseguido por esses pen-
sadores, foi estabelecer vínculo entre ciência e pensamento sistematizado (filosofia, socio-
logia...), que perdurou até o início da Idade Moderna. A partir daí, as relações dos homens 
tornaram-se mais complexas bem como toda a forma de produzir a sua sobrevivência. 
1312
SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS
Gradativamente, houve um avanço técnico e científico, como a utilização da pólvora, 
a invenção da imprensa, a Física de Newton, a Astronomia de Galileu, etc. Foi no início 
do século XVII, quando o mundo europeu passava por profundas transformações, que 
o homem se tornou o centro da natureza (antropocentrismo). 
Acompanhando o movimento histórico, ele mudou toda a estrutura do pensamento 
e rompeu com as concepções de Aristóteles, ainda vigentes e defendidas pela Igreja, 
segundo as quais tudo era hierarquizado e imóvel, desde as instituições e até mes-
mo o planeta Terra. 
O homem passou, então, a ver a natureza como objeto de sua ação e de seu conheci-
mento, podendo nela interferir. Portanto, podia formular hipóteses e experimentá-las 
para verificar a sua veracidade, superando assim as explicações metafísicas e teológi-
cas que até então predominavam. O mundo imóvel foi substituído por um universo 
aberto e infinito, ligado a uma unidade de leis. Era o nascimento da ciência enquanto 
um objeto específico de investigação, com um método próprio para o controle da 
produção do conhecimento.
Portanto, podemos afirmar que o conhecimento científico é uma conquista recente 
da humanidade, pois tem apenas trezentos anos. Ele transformou-se numa prática 
constante, procurando afastar crenças supersticiosas e ignorância, através de métodos 
rigorosos, para produzir um conhecimento sistemático, preciso e objetivo que garanta 
prever acontecimento e agir de forma mais segura. 
Sendo assim, o que diferencia o senso comum do conhecimento científico é o rigor. 
Enquanto o senso comum é acrítico, fragmentado, preso a preconceitos e a tradições 
conservadoras, a ciência preocupa-se com as pesquisas sistemáticas que produzam 
teorias que revelem a verdade sobre a realidade, uma vez que a ciência produz o co-
nhecimento a partir da razão. 
Desta forma, o cientista, para realizar uma pesquisa e torná-la científica, deve seguir 
determinados passos. Em primeiro lugar, o pesquisador deve estar motivado a resolver 
uma determinada situação-problema que, normalmente, é seguida, por algumas hi-
póteses. Usando sua criatividade, o pesquisador deve observar os fatos, coletar dados e 
então testar suas hipóteses, que poderão se transformar em leis e, posteriormente, ser 
incorporadas às teorias que possam explicar e prever os fenômenos. 
Porém, é fundamental registrar que a ciência não é somente acumulação de verda-
des prontas e acabadas. Neste caso, estaríamos refletindo sobre cientificismo e não ci-
ência, mas tê-la como um campo sempre aberto às novas concepções e contestações 
sem perder de vista os dados, o rigor e a coerência e aceitando, que, o que prova que 
uma teoria é científica é o fato de ela ser falível e aceitar ser refutada. 
2.2 O OLHAR SOCIOLÓGICO
O olhar sociológico é um olhar de estranhamento e de desnaturalização das relações 
sociais. Pressupõe um afastamento do objeto de estudo social para que se consiga 
uma análise crítica, profunda, não-imediatista e isenta de preconceitos da realidade 
social observada. Problema: como estudar a nossa própria sociedade estando inseri-
dos nela? Nossas crenças e valores não corromperiam a nossa análise, tirando-lhe a 
objetividade 
Segundo o sociólogo britânico Anthony Giddens (2005), 
um sociólogo é alguém capaz de se libertar do quadro das suas circunstâncias 
pessoais e pensar as coisas num contexto mais abrangente. A imaginação so-
ciológica implica, acima de tudo, abstrair-mo-nos das rotinas familiares da vida 
quotidiana de maneira a poder olhá-las de forma diferente.
O olhar sociológico permite-nos tomar consciência de que o mundo não é assim 
porque sempre foi; que as pessoas não são como são porque assim nasceram, mas 
porque assim se tornaram. Isso nos permite ter a chamada consciência sócio-histórica, 
isto é, saber que somos fortemente influenciados pelas condições sócio-históricas em 
que vivemos. É um olhar que pode nos ajudar a compreender as diferenças culturais, 
a avaliar efeitos de políticas e a desenvolver uma consciência crítica e racional.
Estamos acostumados a encarar tudo como natural, inclusive as relações sociais; como 
se o mundo, as sociedades e as culturas fossem “naturais”. Tendemos a imaginar que 
sempre foram da forma como são e, portanto, sempre serão dessa forma. Para desen-
volver um olhar sociológico é preciso quebrar tal forma de encarar a realidade e ad-
mitir a racionalidade e o relativismo nas questões sociais. Através do olhar sociológico 
podemos perceber a verdadeira intenção ou a essências das relações sociais que se 
mostram apenas na aparência.
andreiasouza
Highlight
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1514
SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS
3 SOCIOLOGIA CLÁSSICA
3.1 O POSITIVISMO E A ORIGEM DA SOCIOLOGIA
A primeira corrente de pensamento sociológico propriamente dita foi o Positivismo, 
que inicialmente organizou em termos de teoria alguns princípios a respeito do ho-
mem e da sociedade tentando explicá-los de maneira científica. Coube a ela definir 
de forma clara e precisa o objeto dessa nova ciência social que surgia, estabelecendo 
conceitos e uma metodologia de investigação própria e capaz de explicar a especi-
ficidade do estudo científico da sociedade. Seu primeiro representante e principal 
sistematizador foi o pensador francês Auguste Comte.
O nome positivismo tem origem no adjetivo “positivo”, que significa certo, seguro, de-
finitivo. Como escola filosófica, derivou do “cientificismo”, isto é, da crença no poder 
dominante e absoluto da razão humana em conhecer a realidade e traduzi-la sob 
forma de leis, que seriam a base regulamentação da vida do homem, da natureza e 
do próprio universo.
O positivismo reconhecia que os princípios reguladores do mundo físico e do mundo 
social diferiam quanto à sua essência: os primeiros diziam respeito a acontecimentos 
e aos homens; os outros, à questões humanas. Entretanto, a crença na origem natural 
de ambos teve o poder de aproximá-los. Além disso, a rápida evolução dos conheci-
mentos das ciências naturais – física, química, biologia - e o sucesso de suas descober-
Auguste Comte nasceu em Montpellier, França, de uma família 
católica e monarquista. Viveu a infância na França napoleônica. Es-
tudou na Escola Politécnica. Tornou-se discípulo de Saint Simon, 
de quem sofreu enorme influência. Devotou seus estudos à filo-
sofia positivista, considerada por ele como uma religião da qual 
era pregador. Segundo sua filosofia política, existiam na história 
três estados: um teológico, outro metafísico e finalmente o posi-
tivo. Este último representava o coroamento do progresso da hu-
manidade. Sobre as ciências, distinguia as abstratas das concretas,sendo que a ciência mais complexa e profunda seria a Sociologia. 
Publicou Curso de filosofia positiva, Discurso sobre o espírito posi-
tivo, Discurso sobre o conjunto do positivismo, Sistema de política 
positivista, Sistema de política positivista e Síntese subjetiva.
tas atraíram os primeiros cientistas sociais para seu método de investigação. O próprio 
Comte, antes de criar o termo “Sociologia”, chamou de “Física Social”.
 A filosofia social positivista se inspirava no método de investigação das ciências natu-
reza, assim como procurava identificar na vida social as mesmas relações e procurava 
identificar na vida social as mesmas relações e princípios com as quais os cientistas 
explicavam a vida natural. A própria sociedade foi concebida como um organismo 
constituído de partes integradas e coesas, que funcionavam harmonicamente segun-
do um modelo físico ou mecânico. 
Nas palavras do autor 
O positivismo se compõe essencialmente de uma filosofia e de uma política, 
necessariamente inseparáveis, uma constituindo a base, a outra a meta de um 
mesmo sistema universal, onde a inteligência e a sociabilidade se encontram 
intimamente combinados. De uma parte, a ciência social não é somente a 
mais importante de todas, mas fornece, sobretudo, o único elo, ao mesmo 
tempo lógico e cientifico, que de agora em diante comporta o conjunto de 
nossas contemplações [...] (COMTE, 2000, p.71)
Ao propor uma reforma intelectual da sociedade, Comte sustenta que o desenvolvi-
mento do conhecimento humano se desenrolou num movimento histórico dividido 
em três etapas. No primeiro estágio, o teológico, conhecimento ancorava-se nas cren-
ças e superstições. No segundo, denominado metafísico, baseava-se na lógica filosó-
fica, já no terceiro, o positivo, ao qual vivia, o conhecimento seria baseado na ciência.
A maioria dos primeiros pensadores sociais positivistas permaneceu presa a uma re-
flexão de natureza filosófica sobre a história e a ação humanas. Procedimentos de 
natureza científica, análises sociológicas baseadas em fatos observados, com maior 
sistematização teórica e metodologia de pesquisa, só seriam introduzidos por Émile 
Durkheim, que estudaremos a seguir.
3.2 ÉMILE DURKHEIM
Émile Durkheim foi um dos pensadores que mais contribuiu para a consolidação da 
Sociologia como ciência empírica e para sua instauração no meio acadêmico, tornan-
andreiasouza
Highlight
1716
SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS
do-se primeiro professor universitário da disciplina. O Sociólogo francês viveu numa 
Europa conturbada por guerras e em vias de modernização, e sua produção reflete a 
tensão entre valores e instituições que estavam sendo corroídos e formas emergente 
cujo perfil ainda não se encontrava totalmente configurado. Por isso, a retomada do 
estudo científico da sociedade foi favorecida por este momento histórico pelo qual 
atravessava a Europa e principalmente a França. 
Motivado por essas mudanças Durkheim dedicou-se a um vasto repertório de temas 
que vão da emergência do indivíduo à origem da ordem social, da moral ao estudo 
da religião, da vida econômica à análise divisão social do trabalho, chegando à educa-
ção. Herdeiro também do positivismo, dedicou-se a constituir o objeto da sociologia 
e as regras para desvendá-lo. A obra mais importante nesse sentido foi “As regras do 
método sociológico”, na qual o autor procurou instituir a fronteira entre a sociologia e 
as demais ciências, dando-lhe autonomia e objetividade. No referido trabalho, definiu 
o que entendi por fatos sociais, que de acordo com o autor constituiriam o objeto da 
sociologia.
A Sociologia pode ser definida, segundo Durkheim, como a ciência “das instituições, 
da sua gênese e do seu funcionamento”, ou seja, de “toda crença, todo comportamen-
to instituído pela coletividade” Na fase positivista que marca o início de sua produção, 
considera que, para tornar-se uma ciência autônoma, essa esfera do conhecimento 
precisava delimitar seu objeto próprio: os fatos sociais. 
Conservador, seguidor do positivismo de Augusto Comte, tinha como teoria sociológi-
ca a Sociologia funcionalista, criada por ele mesmo. Durkheim parte da ideia de que 
a sociedade (objeto) é superior ao indivíduo (sujeito), pois as estruturas sociais são cria-
Émile Durkheim nasceu em Épinal, na França, descendente de 
uma família de rabinos. Iniciou seus estudos filósofos na Escola 
Normal Superior de Paris, indo depois para a Alemanha. Lecionou 
Sociologia em Bordéus, primeira cátedra dessa ciência criada na 
França. Transferiu-se em 1902 para Sorbonne, reunindo-se num 
grupo que ficou conhecido como escola sociológica francesa. Suas 
principais obras foram: Da divisão do trabalho social, As regras do 
método sociológico, Formas elementares da vida religiosa, edu-
cação e sociologia, Sociologia e filosofia de Lições de sociologia.
das pelos homens, mas passam a funcionar independentemente deles, controlando 
suas ações. 
Seu método funcionalista tem como primeira regra fundamental considerar os fatos 
sociais como coisas, que parte do princípio de que a realidade social é idêntica a reali-
dade da natureza, pois as “coisas” da natureza funcionam de modo independente das 
ações humanas (assim como a sociedade). 
Os fatos sociais são o seu objeto de estudo. Eles são de caráter exterior (provém da 
sociedade e não do indivíduo), objetivo (Existe independentemente do indivíduo) e 
coercitivo (são impostos pela sociedade ao indivíduo). Sendo assim, eles são produtos 
da sociedade. Esses fatos sociais existem porque cumprem uma função, explicá-los 
seria demonstrar a função que eles exercem. Durkheim comparava a sociedade como 
um corpo vivo, no qual cada órgão cumpre uma função. Esses órgãos podem ser: o 
governo, a escola, a religião, a família, o exército, as leis, empresas, lazer, etc.
Além da criação do método funcionalista, Durkheim trabalhou como teoria da mo-
dernidade, a análise da função que a divisão social do trabalho (1893) exercia nas 
sociedades modernas. Neste período, a sociedade passava por um processo de evo-
lução caracterizado pela diferenciação social. Esse processo se inicia na solidariedade 
mecânica e termina na solidariedade orgânica. Durkheim constrói sua teoria interpre-
tando esses dois tipos de sociedade a partir de três componentes básicos: Os laços de 
solidariedade existentes na comunidade, a sua organização e as suas leis. Assim temos 
referente a solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica: 
A consciência coletiva X divisão social do trabalho; Sociedades segmentadas X so-
ciedades diferenciadas; o Direito repressivo X Direito restitutivo. São três os fatores 
que Durkheim utiliza para analisar e explicar o processo de evolução da sociedade: 
o volume, a densidade material e a densidade moral. Com a análise, Émile chega a 
conclusão de que a sociedade orgânica dá lugar a mecânica quando há um cresci-
mento populacional (volume), fazendo com que aja uma maior ocupação do espaço 
demográfico (densidade material). Ocorre então uma necessidade de distribuição e 
especialização de funções. Esse processo é chamado por Durkheim de divisão social 
do trabalho. Nessa sociedade orgânica que surge, devido a especialização de funções, 
os indivíduos passam a depender mais uns dos outros, fazendo com que aja a coleti-
vidade. Durkheim afirma que a função primordial da divisão social do trabalho é uma 
função moral, que está acima da intenção do aumento de produção da indústria. Essa 
1918
SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS
função é a de criar um sentimento de solidariedade entre as pessoas.
Além da divisão social do trabalho, Durkheim fez outros estudos importantes da mo-
dernidade, como o suicídio e as formas elementares da vida religiosa. A partir desses 
estudos, Durkheim pôde ressaltar elementos importantes do mundo moderno como 
o crescimento do individualismono ocidente e a complexidade da sociedade. E são 
essas as suas principais contribuições para o pensamento sociológico.
O projeto político de Durkheim é conservador/positivista e a favor da sociedade mo-
derna (capitalista). A sua função era apontar os problemas passageiros e normalizar a 
situação. O lema dos teóricos do positivismo, era “ordem e progresso” e seu objetivo, 
como diz Sell (2001): era “a integração da sociedade em um todo ordenado e coeren-
te, fundado em valores sólidos e eternos”. Sua política coloca toda ênfase no equilíbrio 
(das partes do corpo) e na integração social, e todas as formas de conflito ou de con-
testação são vistos como desvios e anomalias que precisam ser eliminados.
3.3 MAX WEBER
As ciências sociais ganham um novo rumo com o advento da proposta da Sociologia 
Compreensiva de Max Weber , sobretudo na releitura da relação indivíduo -socieda-
de. Nesse capítulo, conheceremos os principais aspectos de sal teoria s, usa proposta 
metodológica para a Sociologia e sua crítica à produção do conhecimento sobre a 
sociedade no modelo positivista, enfatizando a importância de se compreender as 
transformações da racionalidade do capitalismo moderno. A compreensão das formas 
de dominação que permeiam as relações sociais é fundamental para a compreensão 
Max Weber nasceu na cidade de Erfurt (Alemanha), numa família 
de burgueses liberais. Desenvolveu seus estudos de direito, filoso-
fia, história e sociologia, constantemente interrompidos por uma 
doença que o acompanhou por toda a vida. Iniciou a carreira de 
professor em Berlim e em 1895, foi catedrático da Universidade de 
Heidelberg. Na política, defendeu com afinco seus pontos de vista 
liberais e parlamentaristas. Sua maior influência nos ramos espe-
cializados da sociologia foi o estudo das religiões, estabelecendo 
relações entre formações políticas e crenças religiosas. Suas princi-
pais obras foram: Artigos reunidos de teoria da ciência: Economia 
e Sociedade (obra póstuma) e A ética protestante e o espírito do 
capitalismo.
do modelo educacional que Weber apresenta, modelo este que atenta para a racio-
nalização e burocratização do ensino na modernidade.
À época de Max Weber, travava-se na Alemanha um acirrado debate entre a corrente 
até então dominante no pensamento social e filosófico, o positivismo, e seus críticos. O 
objeto da polêmica eram as especificidades das ciências da natureza e do espírito e, 
no interior destas, o papel dos valores e a possibilidade da formulação de leis. Wilhelm 
Dilthey (1833-1911), um dos mais importantes representantes da ala antipositivista, 
contrapôs à razão científica dos positivistas a razão histórica, isto é, a ideia de que a 
compreensão do fenômeno social pressupõe a recuperação do sentido, sempre arrai-
gado temporalmente e adscrito a uma weltanschauung1 (relativismo) e a um ponto 
de vista (perspectivismo). Obra humana, a experiência histórica é também uma reali-
dade múltipla se inesgotável.
Grande crítico da teoria positivista, influenciado pela filosofia neo-kantiana, Weber bus-
ca distinguir as ciências sociais das ciências humanas e delimitar a sua especificidade. 
Ao contrário de Comte e Durkheim, o objeto é o indivíduo, que é objeto e sujeito ao 
mesmo tempo. A sua teoria sociológica é a teoria sociológica compreensiva, que tem 
como objetivo compreender o significado da ação social. 
Sendo assim, seu objeto de estudo é a ação social, explicada por Sell (2001): “É na ação 
dos indivíduos, quando orientada em relação a outros indivíduos (portanto, quando 
ela é social) que a sociologia tem o seu ponto de partida [...]”. Como as ações humanas 
são infinitas, Weber constrói a teoria dos tipos de ação. São elas: Ação social referente 
a fins, ação social referente a valores, ação social afetiva, e a ação social tradicional. Elas 
podem ser em caráter comunitário (pessoais) ou societárias (impessoais) e devem ser 
legitimadas por uma ordem legítima.
Weber, não só expõe esses seus conceitos (os quais ele chama de tipos ideais), como 
também se preocupa em esclarecer a função lógica e a estrutura deles. Para Max 
Weber o conhecimento humano não é uma reprodução da realidade e sim uma cap-
tação de coisas (ou relações) existentes no contexto em que o indivíduo (portador do 
conhecimento) está inserido e de acordo com a capacidade da sua mente. 
Portanto, o sociólogo também não pode tratar os seus conceitos como se fossem uma 
captação da realidade, pois o tipo ideal não se encontra de forma “pura” na realidade. 
É apenas uma construção teórica elaborada pelo sociólogo para uma aproximação 
2120
SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS
mais objetiva da realidade e que está presente na sociedade de acordo com seu con-
texto (social, político, religioso, etc.). Não encontramos, por exemplo, uma sociedade 
que tenha apenas o tipo de ação social tradicional ou o tipo de ação referente a fins. 
Todos esses tipos de ações estabelecidas por Weber, na verdade, aparecem todas jun-
tas no grupo social. O objetivo dos conceitos, como esclarece Sell (2001): é “[...] permitir 
às suas pesquisas clareza conceitual quanto aos objetos estudados, bem como um 
entendimento dos traços típicos que permitem entendê-los.”
O conceito de modernidade em Weber parte da ideia de que a modernidade se 
dá pelo processo de racionalização do ser humano. Por isso ele vai estudar a religião 
para entender a modernização. Para Weber, a razão trouxe vantagens e desvantagens 
para a sociedade. Se por um lado ela trouxe a ciência e a técnica, do outro ela trouxe 
a perda de sentido e a perda de liberdade. De acordo com ele, a ciência não pode 
substituir a religião.
Weber então vai analisar a influência que a religião exerce na economia. Primeira-
mente ele estuda o protestantismo X capitalismo, depois ele vai estudar as diversas 
outras religiões de diferentes países, chegando a conclusão de que a racionalidade 
está presente em todas elas, mas não houve um progresso dela como no ocidente. 
Então surge a questão que passa a orientar a sua pesquisa: Qual é o motivo específico 
da evolução da racionalização no ocidente?
O sociólogo alemão então vai chegar a conclusão de que o protestantismo, não é a 
única, mas a principal causa, a “mais poderosa alavanca da expressão dessa concepção 
de vida” que é o capitalismo. A primeira contribuição para esse processo parte da igre-
ja Luterana com a sua concepção de “vocação”. Para Lutero, a vocação é o chamado 
de Deus para determinadas práticas profissionais, por isso elas devem ser cumpridas 
com determinação e disciplina para que possa alcançar a salvação. 
Além dessa concepção luterana, algumas seitas como o calvinismo, pietismo, meto-
dismo e seitas batistas, que foram estudadas por Weber, também contribuíram para 
o avanço do capitalismo devido a doutrina de predestinação, a qual os homens são 
predestinados por Deus para a salvação ou condenação, e a maneira de obter indícios 
sobre a sua predestinação é obtendo sucesso no trabalho.
Mais do que a origem do capitalismo, Weber notou também que o protestantismo 
favoreceu a racionalização da vida, pois, Sell explica: “A partir deste processo, a vida das 
pessoas passou a ser movida pelo sistema econômico [...]”.
Uma vida metódica, dedicada ao trabalho, de forma disciplinada e ordenada: é 
neste sentido que o comportamento do protestante representa uma forma ex-
tremamente racionalizada de vida. Quando a motivação religiosa do trabalho 
em busca da riqueza desaparece, mas esta forma ordenada de vida se perpe-
tua por força própria, a sociedade atingiu seu nível máximo de racionalização. 
A origem do capitalismo, portanto, faz parte de um processo mais amplo, cha-
mado por Weber de” desencantamento do mundo”. A racionalização da vida, 
representada pela influência do protestantismo e pela origem do capitalismo, 
é uma de suas etapas finais. (SELL, 2001) 
Além do ocidente, Weber também estudou sobre quais os motivosdo oriente não ter 
atingido a racionalização como nós, do ocidente. A posição política de Max Weber é 
neutra. Para ele, o sociólogo não deve apontar um projeto político como sendo melhor 
ou pior. A sua função é indicar as consequências da adoção de determinado sistema.
3.4 KARL MARX 
Mesmo sem a pretensão de ser sociólogo, Karl Marx empreendeu uma das mais rele-
vantes análises sobre a sociedade industrial moderna, cujo reflexo se vê nas obras de 
pensadores das mais diversas áreas até hoje. Nessa unidade, conheceremos o método 
utilizado pelo autor para desenvolver uma análise social baseada na existência e luta 
de classes, baseada nas relações materiais de produção personificadas no seu concei-
to de trabalho. 
Karl Marx nasceu na Alemanha, em 1836, matriculou-se na Uni-
versidade de Berlim, doutorando-se em filosofia, em Iena. Foi reda-
tor de uma gazeta liberal em Colônia. Mudou-se em 1842 para 
Paris, onde conheceu Friedrich Engels, seu companheiro de ideias 
e publicações por toda a vida. Expulso da França em 1845, foi para 
Bruxelas, onde participou da recém-fundada Liga dos Comunistas. 
Com o Malogro das revoluções sócias de 1848, Marx mudou-se 
para Londres, onde se dedicou a um grandioso estudo crítico da 
economia política. Foi um dos fundadores da Associação Interna-
cional dos Operários ou Primeira Internacional. Morreu em 1883, 
após intensa vida política e intelectual. Suas principais obras foram: 
A ideologia Alemã, Miséria da filosofia, O manifesto Comunista, 
Para a crítica da economia política e a luta de classe em O capital.
2322
SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS
Para Marx, o homem, principal elemento das forças produtivas é o responsável por 
fazer a ligação entre a natureza e a técnica e os instrumentos. O desenvolvimento da 
produção vai determinar a combinação e o uso desses diversos elementos: recursos 
naturais, mão de obra disponível, instrumentos e técnicas produtivas. A cada forma de 
organização das forças produtivas corresponde uma determinada forma de relação 
de produção.
As relações de produções são as formas pelas quais os homens se organizam para 
executar a atividade produtiva. Elas se referem às diversas maneiras pelas quais são 
apropriados e distribuídos os elementos envolvidos no processo de trabalho: matérias-
-primas, os instrumentos e a técnica, os próprios trabalhadores e o produto final. As-
sim, as relações de produção podem ser num determinado momento, cooperativistas 
(como um mutirão), escravistas (como na Antiguidade), servis (como na Europa feudal) 
ou capitalistas (como na indústria moderna). 
Forças produtivas e relações de produção são frutos das condições naturais e históricas 
de toda atividade produtiva que ocorre em sociedade. A forma pela qual ambas exis-
tem e são produzidas numa determinada sociedade constitui o que Marx denominou 
“modo de produção”.
Influenciado pelo idealismo dialético de Hegel, Marx cria o materialismo dialético, 
que é fielmente igual ao método do primeiro, porém o seu conteúdo é, na realidade, 
contrário ao Hegelianismo. Enquanto para Hegel a Tese (afirmação) era o pensamento 
e a Antítese (negação) era a matéria, para Marx, a Tese era a matéria e a Antítese era o 
pensamento. O elemento central para entender o desenvolvimento da sociedade, no 
materialismo dialético, é o trabalho (a ação do homem sobre a matéria). 
“[...] De acordo com o esquema dialético de Marx, é pelo trabalho que o ho-
mem supera sua condição de ser apenas natural e cria uma nova realidade: a 
sociedade. Assim, se a matéria (mundo natural) representa a tese, temos que 
o trabalho representa a antítese da matéria, que uma vez modificada pelo 
homem gera a sociedade, que é a síntese. A sociedade é justamente a síntese 
do eterno processo dialético pelo qual o homem atua sobre a natureza e a 
transforma.” (Sell, 2001)
O trabalho é o conceito fundamental de toda a teoria marxista, porque sem ele não 
existiria vida social, não existiria nem ser humano. 
O método dialético também permitiu a Marx repensar a relação entre indivíduo e so-
ciedade, como aponta Sell: “Na teoria marxista, a relação do homem com a sociedade 
não é reduzida a um ou outro dos pólos, como faziam as teorias anteriores. Ou seja, o 
homem não é fruto exclusivo da sociedade, nem esta resulta apenas da ação humana. 
Na perspectiva dialética, existe uma eterna relação entre indivíduo e sociedade, que 
faz com que tanto a sociedade quanto o homem se modifiquem, desencadeando o 
processo histórico-social.”
No materialismo dialético a história é fruto do trabalho humano (enquanto do idealis-
mo dialético é o espírito), pois é o trabalho, que como meio de sobrevivência e satisfa-
ção de desejos e necessidades, estimula o processo histórico.
A infraestrutura (economia) condiciona a superestrutura (política e cultura). Então, para 
explicar a sociedade, Marx vai analisar a economia, que é a base material, para saber 
como ela estipula a vida política e ideológica da sociedade. Os dois elementos da in-
fraestrutura são as forças produtivas e as relações de produção, e os dois elementos da 
superestrutura são o Estado e a ideologia. Para Marx, a infraestrutura e a superestrutura 
compõem o modo de produção. É quando se altera esse modo de produção, que a 
sociedade se transforma.
Mas o seu maior interesse era estudar os modos de produção capitalista para enten-
der o seu surgimento e criar um novo modo de produção que o supere. Abaixo vere-
mos os principais conceitos formulados por Marx.
• Mercadoria e dinheiro: A mercadoria tem seu valor de uso (conteúdo da mer-
cadoria) e seu valor de troca (capacidade de troca por outra mercadoria). Mas o 
que determina o valor de cada mercadoria? Marx diz que esse valor é o tempo de 
trabalho socialmente necessário para produzir o valor de uso, e o dinheiro é o que 
intermedia a troca das mercadorias.
No entanto, enfatiza Marx, o segredo de sua teoria está no fato de que ela 
demonstra que dinheiro é mercadoria, logo mercadoria é trabalho. Quando o 
dinheiro perde sua relação com o trabalho e parece ganhar vida própria, Marx 
chama este fenômeno de “fetichismo de mercadoria”. O capital desvinculado 
do trabalho aliena o ser humano da produção de sua existência social. A alie-
nação inverte o sentido das relações sociais: o homem (sujeito) se torna objeto, 
enquanto o objeto (mercadoria) se torna sujeito. (SELL, 2001)
2524
SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS
• A exploração e a mais valia: Uma característica do capitalismo é o lucro. Para Marx, 
a troca de mercadorias não tem mais como objetivo o valor de uso da mercado-
ria. O seu objetivo é o lucro que será gerado com a troca das mercadorias. Mas de 
onde vem o lucro? Marx diz que a origem do lucro ocorre no processo de produção 
e não no processo de circulação (troca) das mercadorias. O lucro vem do tempo de 
trabalho não pago ao trabalhador, isso é chamado por Marx de Mais Valia. Sendo 
assim, o lucro se origina da exploração do trabalhador. É por isso que Marx dedica 
a sua vida a denunciar o sistema capitalista, um sistema que favorece a burguesia 
e explora os trabalhadores.
A sociedade sempre esteve segmentada em classes sociais, e de acordo com Marx, a 
sociedade vai se dividindo cada vez mais em dois campos inimigos: Burguesia e Prole-
tariado. Ele diz que a burguesia foi importante para dissolver o feudalismo, mas agora, 
é a vez do proletariado destruir o capitalismo. 
Para superar o capitalismo, Karl Marx cria um projeto político revolucionário: O Co-
munismo. Marx Indica as fases do desenvolvimento comunista: “No início combate 
as próprias máquinas; Depois passa a defender seus direitos (sindicalismo); Após, se 
organiza enquanto classe social (partido político); Finalmente, desencadeia uma luta 
que termina com a revolução contra a burguesia.”
A abolição das classes sociais e a abolição do Estadosão características fundamentais 
do comunismo. Mas antes de derrubar o Estado, é preciso derrubar a burguesia, então 
Marx diz que é necessário um momento de transição do capitalismo para o comunis-
mo, e este momento é chamado de socialismo, no qual o proletariado irá utilizar do 
Estado para derrubar a burguesia.
Depois que Karl Marx morreu, o movimento socialista se dividiu. Surgiram então os 
Socialistas Revolucionários (O socialismo deveria ser implantado por meio de uma 
revolução) e os Socialistas Reformistas (O socialismo deve ser alcançado inicialmente 
pela eleição, seguido gradualmente de diversos conjuntos de reformas).
Os Socialistas Revolucionários criaram a Revolução Russa. Já os Socialistas Reformistas 
ainda não conseguiram implantar definitivamente o Socialismo, mas conseguiram reali-
zar profundas mudanças (na Europa, por exemplo) melhorando a vida dos trabalhadores.
4 SOCIOLOGIA NO SÉCULO XX
4.1 GEORG SIMMEL E A VIDA NA CIDADE 
MODERNA
Na virada do Século XX, o modo de vida da Europa Ocidental industrializada e cienti-
ficista já tinha se tornado a referência não só de modernidade, mas de contempora-
neidade, tornando-se o paradigma dos estudos sociológicos. 
Em 1902, quando escreve, “A metrópole e a vida mental”, Georg Simmel afirma que 
os problemas mais graves da vida moderna nascem na tentativa do indivíduo de pre-
servar sua autonomia e individualidade em face das esmagadoras forças sociais. Esta 
seria a mais recente transformação da luta do homem com a natureza para sua exis-
tência física. 
Segundo o autor, o século XVIII exigiu a especialização do homem e de seu trabalho, 
e conclamou que se libertasse de suas dependências históricas quanto ao Estado e à 
religião, à moral e a economia. Dentre todas essas posições, o homem resistiria a ser 
nivelado e uniformizado por mecanismos sócio-tecnológicos. O autor pergunta então, 
como a personalidade se acomoda no ajustamento às forças externas.
Segundo Simmel, há um profundo contraste entre a vida na cidade e a vida no cam-
po. O autor afirma que a metrópole extrai do homem uma quantidade diferente 
de consciência, sendo que a vida da pequena cidade descansa mais sobre relacio-
namentos profundamente sentidos e emocionais, ou seja, o homem metropolitano 
reagiria com a cabeça em lugar do coração: 
“A reação aos fenômenos metropolitanos é transferida àquele órgão que é menos 
sensível e bastante afastado da zona mais profunda da personalidade. A intelectuali-
dade, assim se destina a preservar a vida subjetiva contra o poder avassalador da vida 
metropolitana”. (SIMMEL, 1984)
Entende-se, dessa forma, que a pessoa intelectualmente sofisticada é indiferente a 
toda a individualidade genuína que resulta em relacionamentos e reações que não 
2726
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podem ser exauridos com operações lógicas. Essa razão que dá lugar às emoções é 
expressa no exercício de transformação de indivíduos em números, reduzindo assim 
toda qualidade e individualidade à questão: quanto? 
Este aspecto contrasta profundamente com a natureza da pequena cidade, em que 
o inevitável conhecimento da individualidade produz diferentes tons de comporta-
mento que vão além do mero balanceamento objetivo de serviços e retribuição. A 
metrópole, em contraste, é provida quase que inteiramente pela produção para o 
mercado, ou seja, para compradores desconhecidos que nunca entram pessoalmente 
em contato com o produtor. 
Simmel ainda afirma que “através dessa anonimidade, os interesses de cada parte 
adquirem um caráter impiedosamente prosaico; e os egoísmos econômicos intelectu-
almente calculistas de ambas as partes não precisam temer qualquer falha devida aos 
imponderáveis das relações pessoais”. Esse caráter assumido pelas relações metropo-
litanas estaria intrinsecamente ligado à economia do dinheiro. Como exemplo dessa 
conjuntura Simmel cita um historiador inglês: “ao longo de todo o curso da história 
inglesa, Londres nunca funcionou como o coração da Inglaterra, mas frequentemente 
como seu intelecto e sempre como sua bolsa de dinheiro!”.
“A mente do homem moderno se tornou mais e mais calculista”, afirma o autor. A 
economia do dinheiro criou uma exatidão na vida prática – através da matematização 
da natureza – que nunca tanto se pesou, calculou, ou se reduziu tanto os valores quali-
tativos a valores quantitativos. Através da difusão dos relógios de bolso, desenvolveu-se 
um tamanho controle do tempo sobre os indivíduos, que seria impossível realizar os 
afazeres típicos dos homens metropolitanos sem essa mais estreita pontualidade. “As-
sim, a técnica da vida metropolitana é inimaginável sem a mais pontual integração de 
todas as atividades e relações mútuas em um calendário estável e impessoal”.
Todo esse controle, expresso pela pontualidade, calculabilidade e exatidão são intro-
duzidos à força na vida pela complexidade e extensão da existência metropolitana. 
São instrumentos que favorecem a exclusão de traços e impulsos irracionais e instin-
tivos que visam determinar o modo de vida de dentro, em lugar de receber a forma 
de vida geral vinda de fora. Dessa forma, Simmel torna possível entender o ódio de 
homens como Ruskin e Nietzsche pela metrópole, pois descobriram o valor da vida 
fora de esquemas, passando então, a odiar também a economia do dinheiro e o inte-
lectualismo da existência moderna.
Dessa forma entende-se a atitude blasé de determinados indivíduos e em especial 
das crianças metropolitanas – quando apresentam comportamento indiferente em 
relação às novidades do mundo sempre que comparadas às crianças de meios mais 
tranquilos. Essa atitude, segundo Simmel, é um dos dois extremos do comportamen-
to humano influenciado pela vida moderna, no qual a pessoa, em meio à economia 
do dinheiro e controle rígido do tempo, mergulha em sua própria subjetividade sem 
se envolver com o ambiente externo. 
Além disso, há que se ressaltar o distanciamento cada vez maior dos concidadãos, 
muitas vezes através de uma espécie de desconfiança excessiva e de uma atitude de 
reserva em face às superficialidades da vida metropolitana. Essa reserva seria o fator 
que, aos olhos de pessoas de cidades pequenas, nos faz parecer frios e até mesmo um 
pouco antipáticos.
Simmel ainda apresenta a ideia de metrópole como ilustração do princípio da união 
em grupos sociais (partidos políticos, governos etc.). Esses grupos, inicialmente peque-
nos e coesos, por natureza, necessitam de regras para se manterem, diminuindo assim 
as liberdades individuais. Com o crescimento do grupo, a tendência observada em 
todos os casos é das regras ficarem menos rígidas, dando uma maior liberdade aos 
indivíduos que compõem o grupo. 
A antiga polis é um exemplo que parece ter o próprio caráter de uma cidade peque-
na. Eram constantes as ameaças externas, fazendo com que se desenvolvesse uma 
estrita coerência quanto aos aspectos políticos e militares, uma supervisão de cidadão 
pelo cidadão, um ciúme do todo contra o individual, tendo, por fim, a vida individual 
suprimida. Segundo o autor “isto produziu uma atmosfera tensa, em que os indivídu-
os mais fracos eram suprimidos e aqueles de naturezas mais fortes eram incitados a 
pôr-se à prova de maneira mais apaixonada”.
Simmel ainda faz uma comparação interessante entre cultura objetiva, que seria a cul-
tura ligada a objetos, coisas, conhecimento, instituições; e a cultura subjetiva, que esta-
ria ligada ao indivíduo. Para o autor há uma diferença grande no ritmo de crescimento 
das duas culturas. Enquanto a objetiva cresceu grandemente, motivada pela divisão do 
trabalho e sua crescente especialização – como em “O trabalho alienado” de Karl Marx 
– a cultura subjetiva cresceu lentamente ou pode até mesmo ter regredido em certos 
pontos como ética, idealismo, etc. “Não é preciso mais do que apontar que a metrópo-
le é o genuíno cenário dessa cultura que extravasa de toda vida pessoal”, afirma.2928
SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS
4.2 A ESCOLA DE CHICAGO E A SOCIOLOGIA 
URBANA 
A Escola Sociológica de Chicago, ou Escola de Chicago, surgiu nos Estados Unidos, 
na década de 1910, por iniciativa de sociólogos americanos que integravam o corpo 
docente do Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago, fundado pelo 
historiador e sociólogo Albion W. Small.
Tanto o Departamento de Sociologia como a Universidade de Chicago receberam 
inestimável ajuda financeira do empresário norte-americano John Davison Rockefel-
ler. Entre 1915 e 1940, a Escola de Chicago produziu um vasto e variado conjunto de 
pesquisas sociais, direcionado à investigação dos fenômenos sociais que ocorriam es-
pecificamente no meio urbano da grande metrópole norte-americana. 
Com a formação da Escola de Chicago inaugura-se um novo campo de pesquisa so-
ciológica, centrado exclusivamente nos fenômenos urbanos, que levará à constituição 
da chamada Sociologia Urbana como ramo de estudos especializados .
O surgimento da Escola de Chicago está diretamente ligado ao processo de expansão 
urbana e crescimento demográfico da cidade de Chicago no início do século 20, re-
sultado do acelerado desenvolvimento industrial das metrópoles do Meio-Oeste nor-
te-americano. Como decorrência desse processo, Chicago presenciou o aparecimento 
de fenômenos sociais urbanos que foram concebidos como problemas sociais: o cres-
cimento da criminalidade, da delinquência juvenil, o aparecimento de gangues de 
marginais, os bolsões de pobreza e desemprego, a imigração e, com ela, a formação 
de várias comunidades segregadas (os guetos).
Todos esses problemas sociais (na época se utilizava o termo “patologia social”) se conver-
teram nos principais objetos de pesquisa para os sociólogos da Escola de Chicago. O mais 
importante a destacar é que os estudos dos problemas sociais estimularam a elaboração 
de novas teorias e conceitos sociológicos, além de novos procedimentos metodológicos.
Robert Ezra Park , considerado o grande ícone e precursor dos estudos urbanos, Ernest 
Watson Burgess e Roderick Duncan McKenzie elaboraram o conceito de “ecologia hu-
mana”, a fim de sustentar teoricamente os estudos de sociologia urbana.
O conceito de ecologia humana serviu de base para o estudo do comportamento hu-
mano, tendo como referência a posição dos indivíduos no meio social urbano. 
A abordagem ecológica questiona se o habitat social (ou seja, o espaço físico e as re-
lações sociais) determina ou influencia o modo e o estilo de vida dos indivíduos. Em 
outras palavras, a questão central é saber até que ponto os comportamentos desvian-
tes (por exemplo, as várias formas de criminalidade) são produtos do meio social em 
que o indivíduo está inserido.
O conceito de ecologia humana e a concepção ecológica da sociedade foram muito 
influenciados pelas abordagens teóricas do “evolucionismo social” - marcante na so-
ciologia em seu estágio inicial de desenvolvimento -, ao sustentarem uma analogia 
entre os mundos vegetal e animal, de um lado, e o meio social integrado pelos seres 
humanos (neste caso, a cidade), de outro.
Considerando, então, a cidade como um amplo e complexo “laboratório social”, as 
pesquisas sociológicas foram marcadas pelo uso sistemático dos métodos empíricos 
(para coleta de dados e informações sobre as condições e os modos de vida urbanos).
A teoria de Robert Park sobre a ecologia humana e as áreas naturais pressupõe uma 
analogia entre o mundo vegetal e animal, de um lado, e o mundo dos homens, de ou-
tro. Utiliza os conceitos de competição, processo de dominação e processo de suces-
são, para explicar tal similaridade. A cidade é apreendida por meio de um referencial 
de análise analógico que tem por base a ecologia animal, daí identificar a Escola de 
Chicago como Escola Ecológica.
Louis Wirth , outro autor de destaque da Escola, afirma que a cidade produz uma 
cultura urbana que transcende os limites espaciais da cidade, afirmação totalmente 
inovadora. A cidade atua e se desdobra para além de seus limites físicos, através da 
propagação do estilo de vida urbano, e torna-se o locus do surgimento do urbanismo 
como modo de vida.
O empirismo que marca a abordagem da Escola - que transforma a cidade de Chica-
go em um “laboratório social”- resulta do interesse de buscar soluções concretas para 
uma cidade caótica marcada por intenso processo de industrialização e de urbaniza-
ção, que ocorre na virada do século XIX para o XX.
Seu crescimento demográfico espantoso, seu imenso contingente imigratório, seus 
3130
SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS
guetos de diferentes nacionalidades geradores de segregação urbana, sua concentra-
ção populacional excessiva e suas condições de vida e de infraestrutura precaríssimas, 
favorecem a formulação pela Escola da ideia da cidade como problema, que dificulta 
a articulação de um pensamento com maior grau de abstração acerca da cidade.
4.3 A ESCOLA DE FRANKFURT E A TEORIA 
CRÍTICA
Qual é a influência de meios de comunicação de massa, como a TV, sobre uma so-
ciedade? Como as pessoas são mobilizadas a acompanharem um noticiário como se 
estivessem assistindo a uma telenovela, como ocorreu no recente caso da morte da 
menina Isabella? Os primeiros filósofos que detectarem a dissolução das fronteiras 
entre informação, consumo, entretenimento e política, ocasionada pela mídia, bem 
como seus efeitos nocivos na formação crítica de uma sociedade, foram os pensado-
res da Escola de Frankfurt .
Os estudos dos filósofos de Frankfurt ficaram conhecidos como Teoria Crítica, que se 
contrapõe à Teoria Tradicional. A diferença é que enquanto a tradicional é “neutra” em 
seu uso, a crítica busca analisar as condições sociopolíticas e econômicas de sua apli-
cação, visando à transformação da realidade. Um exemplo de como isso funciona é a 
análise dos meios de comunicação caracterizados como indústria cultural.
O pensamento crítico dos filósofos da Escola de Frankfurt tem em comum o direcio-
namento de suas críticas à ordem política e econômica do “mundo administrado”. 
Essa ordem vigora aos moldes de um aparato tecnológico que, de certa forma, incide 
na sociedade o seu condicionamento padronizado, homogêneo e, sobretudo, sem a 
perspectiva de empreender a vida de cada indivíduo de forma autônoma.
Com isso, cada pensador dessa linha contribuiu para o fomento da Teoria Crítica. Das 
obras marcantes restritas a cada autor tem-se: Max Horkheimer concentrou seu pen-
samento em “Eclipse da Razão”, onde uma coletânea de textos perpetua assaz a sua 
bagagem teórica, embora o filósofo sempre se encontrou produzindo artigos e outros 
textos que o identificou como um árduo intelectual engajado em âmbito acadêmico. 
Teodor W. Adorno, que embora tenha se inserido na Teoria Crítica após o seu exílio, 
comprometeu-se em expor seu pensamento crítico na mesma perspectiva que os 
demais, porém devem ser pontuadas, em sua reflexão, algumas divergências ou disto-
nâncias. Em sua obra “Dialética Negativa”, Adorno enfrenta toda uma tradição históri-
co-filosófica, incidindo nela a desconstrução da concepção de “dialética”.
Em um texto clássico escrito em 1947, “Dialética do Iluminismo”, Adorno e Horkhei-
mer definiram indústria cultural como um sistema político e econômico que tem por 
finalidade produzir bens de cultura - filmes, livros, música popular, programas de TV 
etc. - como mercadorias e como estratégia de controle social.
A ideia é a seguinte: os meios de comunicação de massa, como TV, rádio, jornais e por-
tais da Internet, são propriedades de algumas empresas, que possuem interesse em 
obter lucros e manter o sistema econômico vigente que as permitem continuarem lu-
crando. Portanto, vendem-se filmes e seriados norte-americanos, músicas e novelas não 
como bens artísticos ou culturais, mas como produtos de consumo que, neste aspecto,em nada se diferenciariam de sapatos ou sabão em pó. Com isso, ao invés de contribu-
írem para formar cidadãos críticos, manteriam as pessoas “alienadas” da realidade.
Como afirmam no texto: “Filmes e rádio não têm mais necessidade de serem empa-
cotados como arte. A verdade, cujo nome real é negócio, serve-lhes de ideologia. Esta 
deverá legitimar os refugos que de propósito produzem. Filme e rádio se autodefinem 
como indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores-gerais tiram 
qualquer dúvida sobre a necessidade social de seus produtos.”
Para Adorno, os receptores das mensagens dos meios de comunicação seriam vítimas 
dessa indústria. Eles teriam o gosto padronizado e seriam induzidos a consumir pro-
dutos de baixa qualidade. Por essa razão, indústria cultural substitui o termo cultura 
de massa, pois não se trata de uma cultura popular representada em novelas da Rede 
Globo, por exemplo, mas de uma ideologia imposta às pessoas.
E como a indústria cultural torna-se mecanismo de dominação política? Adorno e 
Horkheimer vislumbraram os meios de comunicação de massa como uma perversão 
dos ideais iluministas do século 18. Para o Iluminismo, o progresso da razão e da tec-
nologia iria libertar o homem das crenças mitológicas e superstições, resultando numa 
sociedade mais livre e democrática.
Mas os pensadores da Escola de Frankfurt, que eram judeus, se viram alvos da cam-
panha nazista com a chegada de Hitler ao poder nos anos 30, na Alemanha. Com 
apoio de uma máquina de propaganda que pela primeira vez usou em larga escala 
3332
SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS
os meios de comunicação como instrumentos ideológicos, o nazismo era uma prova 
de como a racionalidade técnica, que no Iluminismo serviria para libertar o homem, 
estava escravizando o indivíduo na sociedade moderna.
Nas mãos de um poder econômico e político, a tecnologia e a ciência seriam em-
pregadas para impedir que as pessoas tomassem consciência de suas condições de 
desigualdade. Um trabalhador que em seu horário de lazer deveria ler bons livros, ir ao 
teatro ou a concertos musicais, tornando-se uma pessoa mais culta, questionadora e 
engajada politicamente, chega em casa e senta-se à frente da TV para esquecer seus 
problemas, absorvendo a mesmos valores que predominam em sua rotina de traba-
lho. É desta forma que a indústria cultural exerceria controle sobre a massa. Como 
resultado, ao invés de cidadãos conscientes, teríamos apenas consumidores passivos.
Herbert Marcuse, assim como Adorno, passou a contribuir com a Teoria Crítica após 
seu exílio nos Estados Unidos. Sua fundamentação crítica preserva a base da negação 
dialética, porém distancia-se de Adorno naquilo que julga, pela filosofia, uma forma 
ideal de sociabilidade, uma vez que para Adorno, a barbárie já está posta, pois não há 
como fugir do sistema da ordem estabelecida. 
Nesse sentido, Marcuse é mais ameno, confiando à tecnicidade de um progresso hu-
manitário, ressaltando a necessidade de conscientizar a massa trabalhadora e torná-la 
omissa à ordem vigente. Para ele, a emancipação já está dada, contudo não ocorre 
em razão do aprisionamento da condição humana no “reino da necessidade”. Este 
reino, segundo o autor, abarca a situação social de um progresso técnico equivalente 
ao suprimento das necessidades vitais do homem. Portanto, não caberia ao aparato 
do mundo administrado condicionar a sociedade a dar um passo à frente e inserir-se 
no “reino da liberdade”. Isso não ocorre, devidamente por não condizer com a lógica 
do aparato da sociedade industrial. 
Marcuse escreveu, além de artigos, sua obra de referência “Razão e Revolução”, em 
que condensa grande parte de seu pensamento crítico. Editou também “Eros e Civi-
lização”, uma interpretação filosófica de Freud, cujo teor conceitual ilustra a noção de 
progresso, apontando o seu caráter retificador ou emancipatório da dominação social 
e, por outro lado, a sua perpetuação.
Walter Benjamim, também exilado nos Estados Unidos, contribuiu fielmente para a 
propagação da TC. Benjamim escreveu inúmeros artigos que refletem a condição 
temporal humanitária, partindo de sua reflexão acerca da arte e da sociedade. No que 
concerne a sua crítica da arte, ele analisa o drama do século XVII, buscando nele uma 
concepção de História. Diante da crítica social, buscou na arte a situcionalidade histó-
rica para proferi-la, uma vez que sua ênfase à concepção de arte lhe permite elaborar 
tal analogia. Seus ensaios estão sempre sintonizados a este viés, ou seja, através da arte 
de poder discursar sobre o conceito de História.
Posteriormente, entre os anos 70 e 80, os frankfurtianos foram muito criticados por 
uma visão reducionista dos receptores, graças a pesquisas que demonstraram que as 
pessoas não são tão manipuláveis quanto Adorno pensava na época, sob o argumento 
de que nem toda produção cultural se resume à indústria. 
Apesar disso, Adorno e Horkheimer tiveram o mérito de serem os precursores da de-
núncia de um “totalitarismo eletrônico”, em que diversão e assuntos importantes são 
“mixados” num só produto; em que representantes políticos são escolhidos como se 
fossem sabonetes. Neste sentido, a crítica permanece atual.
4.4 PIERRE BOURDIEU: PODER SIMBÓLICO E 
VIOLÊNCIA SIMBÓLICA
Considerado um dos maiores sociólogos de língua francesa das últimas décadas, Pier-
re Bourdieu é um dos mais importantes pensadores do século 20. Sua produção in-
telectual, desde a década de 1960, estende-se por uma extensa variedade de objetos 
e temas de estudo. Embora contemporâneo, é tão respeitado quanto um clássico. 
Crítico mordaz dos mecanismos de reprodução das desigualdades sociais, construiu 
um importante referencial no campo das ciências humanas.
No entanto, mesmo sendo reconhecida pela originalidade, a obra de Bourdieu é ob-
jeto de grande controvérsia. A maior parte de seus críticos, numa leitura parcial de 
seus trabalhos, classifica-o como um teórico da reprodução das desigualdades sociais. 
Não obstante, a reflexão de Bourdieu se destaca por uma singularidade. Para ele, os 
condicionamentos materiais e simbólicos agem sobre nós (sociedade e indivíduos) 
numa complexa relação de interdependência. Ou seja, a posição social ou o poder 
que detemos na sociedade não dependem apenas do volume de dinheiro que acu-
mulamos ou de uma situação de prestígio que desfrutamos por possuir escolaridade 
ou qualquer outra particularidade de destaque, mas está na articulação de sentidos 
3534
SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS
que esses aspectos podem assumir em cada momento histórico.
Para o autor, a sociologia deve aproveitar sua vasta herança acadêmica, apoiar-se nas 
teorias sociais desenvolvidas pelos grandes pensadores das ciências humanas, fazer 
uso de técnicas estatísticas e etnográficas e utilizar procedimentos metodológicos sé-
rios e vigilantes para se fortalecer como ciência. Bourdieu fez de sua vida acadêmica 
e intelectual uma arma política e de sua sociologia uma sociologia engajada, profun-
damente comprometida com a denúncia dos mecanismos de dominação em uma 
sociedade injusta. De acordo com sua perspectiva, a sociedade ocidental capitalista é 
uma sociedade hierarquizada, organizada segundo uma divisão de poderes extrema-
mente desigual. 
Embora a reflexão sobre o sistema de ensino ocupe uma posição destacada no con-
junto dos trabalhos deste sociólogo, principalmente em sua fase inicial, a sua intenção 
não é de construir uma sociologia do sistema escolar. Seu projeto científico foca-se 
mais para a elucidação dos mecanismos de funcionamento dos diferentes espaços 
sociais, tais como o Estado, a Igreja, o esporte, a moda, a linguagem, a literatura, o siste-
ma de ensino, etc. Entendemos assim que sua principal preocupação está em analisar 
a relação indivíduo –sociedade de forma mais concreta nos diferentesespaços sociais.
Ao analisar a mediação entre estrutura e ator social, o autor introduz a noção de habi-
tus, que se origina na filosofia escolástica, como um sistema de disposições duráveis, 
trata, portanto do resultado de um processo de aprendizagem social, produzido pelo 
contato dos agentes em diversas estruturas sociais. As condições materiais caracterís-
ticas de uma determinada classe social e a incidência destas condições de existência 
no contexto familiar constituem, uma mediação fundamental na produção do habitus. 
De acordo com Bourdieu (1980) o habitus pode ser entendido como um 
sistema de disposições duráveis e transferíveis, estruturas estruturadas dispostas a fun-
cionar como estruturas estruturantes, isto é, como princípios geradores e organizado-
res de práticas de representações que podem ser objetivamente adaptados a seu fim 
sem supor a intenção consciente dos fins e o domínio expresso das operações ne-
cessárias para atingi-lo, objetivamente reguladas e reguladoras, sem ser o produto da 
obediência de regras, sendo coletivamente orquestradas, sem ser o produto da ação 
organizadora de um regente (p. 88-89)
De forma prática podemos entender que esse modelo pode induzir a esquematizações 
simplistas. Frequentar, por exemplo, um determinado estabelecimento, degustar um 
prato, beber de um vinho raro, possuir um carro fora-de-série ou praticar uma modalida-
de de esporte não significa uma distinção automática. Por exemplo, a virada de costume 
de um “novo-rico” pode ser vista mais como ostentação do que um sinal de distinção. 
O campo esportivo é rico em exemplos de distinção. Um mesmo esporte pode ser 
praticado e assistido de modos diferentes. No riquíssimo circo da “Fórmula l” o ingresso 
mais barato custa próximo de um salário-mínimo, enquadrando-se, talvez, dentro do 
padrão de consumo de funcionários públicos, pequenos comerciantes e trabalhado-
res qualificados. A entrada mais cara atinge cifras superiores a três mil dólares. Com 
este ticket pode-se frequentar locais com serviços de buffet, transporte aéreo (helicóp-
teros), serviço de atendimento médico com urgência e, importantíssimo, livre acesso 
aos carros e pilotos oficiais. O paddock é o espaço dos profissionais liberais bem-su-
cedidos, das manequins internacionais, dos altos políticos, dos grandes industriais e 
dos comandantes das finanças. Isso mostra, de pronto, que o mesmo esporte destina 
lugares na plateia totalmente distintos. As fronteiras, não seria necessário dizer, são 
guardadas por rígidos esquemas de segurança.
Deste modo, o habitus então funcionaria como um esquema de ação, de percepção 
e de reflexão, que está presente no corpo e na mente – como em posturas e gestos 
(hexis), maneiras de ver e classificar da coletividade de um determinado campo, ope-
rando distinções. As disposições presentes no habitus são plásticas e flexíveis, podendo 
ser fortes ou fracas e são adquiridas pela interiorização das estruturas sociais.
Se o habitus orienta a prática dos agentes, esta somente se realiza na medida em que 
as disposições duráveis dos atores entram em contato com a situação. Desta forma, 
a prática é entendida por Bourdieu como uma relação dialética entre situação e ha-
bitus. Em seus trabalhos mais recentes, o que ele dedignava como situação, passou 
a designar como campo. Tal noção consiste no espaço em que ocorrem as relações 
entre os indivíduos, grupos e estruturas sociais, espaço este sempre dinâmico e com 
uma dinâmica que obedece a leis próprias, animada sempre pelas disputas ocorridas 
em seu interior, e cujo móvel é invariavelmente o interesse em ser bem-sucedido nas 
relações estabelecidas entre os seus componentes (seja no nível dos agentes, seja no 
nível das estruturas).
Tomemos como exemplo o campo do esporte, no qual as lutas travadas pelos atletas 
para se afirmarem não é o mesmo tipo de luta que o professor deve realizar para se 
afirmar no Campo Acadêmico. Tais lutas seguem regras diferentes devido ao fato de 
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SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS SOCIOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO-CULTURAIS E DIREITOS HUMANOS
serem campos diferentes.
Bourdieu postula ainda, a existência de diferentes tipos de capital, tal conceito discu-
te a quantidade de acúmulo de forças dos agentes em suas posições no campo. Os 
capitais possuem volume (quantidade) e estrutura (tipo de capital) se dividindo em 
quatro tipos principais:
a) Econômico: ligado aos meios de produção e renda.
b) Cultural: se subdivide em 3 tipos – a saber: institucionalizado (diplomas e títulos), 
incorporado (expressão oral) e objetivo (posse de quadros ou obras de arte).
c) Social: é o conjunto das relações sociais de que dispõe um indivíduo, sendo que, 
é necessária a manutenção das relações sociais, das redes (convites recíprocos).
d) Simbólico: está ligado à honra, ao reconhecimento e corresponde ao conjunto 
de rituais (etiquetas, protocolo)
Outro conceito de vital importância dentro da vasta obra de Bourdieu, trata da Vio-
lência Simbólica, que descreve o processo pelo qual a classe que domina economica-
mente impõe sua cultura aos dominados. Juntamente com o sociólogo Jean-Claude 
Passeron, partem do princípio de que a cultura, ou o sistema simbólico, é arbitrária, 
uma vez que não se assenta numa realidade dada como natural. O sistema simbólico 
de uma determinada cultura é uma construção social e sua manutenção é funda-
mental para a perpetuação de uma determinada sociedade, através da interiorização 
da cultura por todos os membros da mesma. 
Assim, a violência simbólica expressa-se na imposição “legítima” e dissimulada, com a 
interiorização da cultura dominante, reproduzindo as relações do mundo do trabalho. 
O dominado não se opõe ao seu opressor, já que não se percebe como vítima deste 
processo: ao contrário, o oprimido considera a situação natural e inevitável.
A violência simbólica pode ser exercida por diferentes instituições da sociedade: o 
Estado, a mídia, a escola, etc. O Estado age desta maneira, por exemplo, ao propor 
leis que naturalizam a disparidade educacional entre brancos e negros, como a Lei de 
Cotas para Negros nas Universidades Públicas. A mídia, ao impor a indústria cultural 
como cultura, massificando a cultura popular por um lado e restringindo cada vez 
mais o acesso a uma cultura, por assim dizer, “elitizada”.
5 SOCIOLOGIA 
CONTEMPORÂNEA
5.1 A CRISE DOS PARADIGMAS SOCIOLOGICOS E 
A PÓS-MODERNIDADE
As múltiplas maneiras das quais o termo pós-modernidade tem sido usado tornam 
impossível a tarefa de destacar alguns poucos ensaios, ou um livro específico, como 
exemplos inquestionáveis do pós-modernidade na sociologia. Reconhecendo que a 
variedade de significados associados aos termos pós-modernidade e pós-moderno 
tem suas raízes na polissemia do conceito de Modernidade, é mais frutífero destacar 
uma série de questões colocadas pelos autores eventualmente classificados como 
pós-modernos à teoria e à pesquisa social.
Embora os pós-modernos insistam numa proposta de desconstrução da Sociologia, 
na verdade, existem pontos que aproximam os diversos elementos da análise pós-mo-
derna dos principais constituintes da tradição sociológica. Em muitas de suas mani-
festações, aquela se direciona ao mesmo tipo de questões que inquietaram a ima-
ginação sociológica, desde o surgimento da disciplina no século XIX. Essas questões 
incluem as referentes à natureza e extensão das transformações em larga escala nas 
sociedades ocidentais, aos seus efeitos correspondentes sobre a natureza da interação 
e a construção das identidades, e à necessidade de novas estratégias metodológicas.
Assim, é possível destacar como algumas das principais mudanças estruturais enfati-
zadas nas abordagens pós-modernas as seguintes: o declínio da eficácia política dos 
Estados-Nação que apareceram na modernidade (tanto internamente quanto exter-
namente), as transformações econômicas nos processos de produção e na organiza-
ção das relações de produção, e, no campo da cultura,

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