Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – NEaD Gestão de Pessoas Livro-texto EaD Natal/RN 2011 P126g Paes, Ketlle Duarte. Gestão de Pessoas / Ketlle Duarte Paes. – Natal: Edunp, 2011. 288p. : il. ; 20 X 28 cm Ebook – Livro eletrônico disponível on-line. ISBN 978-85-61140-89-2 1. Gestão de Marketing. I. Título. RN/UnP/SIB CDU 658 DIRIGENTES DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP Reitoria Sâmela Soraya Gomes de Oliveira Pró-Reitoria de Graduação e Ação Comunitária Sandra Amaral de Araújo Pró-Reitoria de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação Aarão Lyra NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP Coordenação Geral Barney Silveira Arruda Coordenação Acadêmica Luciana Lopes Xavier Coordenação Pedagógica Edilene Cândido da Silva Design Instrucional Priscilla Carla Silveira Menezes Coordenação de Produção de Recursos Didáticos Michelle Cristine Mazzetto Betti Revisão de Linguagem e Estrutura em EaD Priscilla Carla Silveira Menezes Thalyta Mabel Nobre Barbosa Úrsula Andréa de Araújo Silva Gravação e Edição de Vídeos Daniel Rizzi Coordenação de Logística Helionara Lucena Nunes Supervisão de Logística (Mossoró) Fábio Pereira da Silva Apoio Acadêmico Flávia Helena Miranda de Araújo Thalyta Mabel Nobre Barbosa Úrsula Andréa de Araújo Silva Assistente Administrativo Eliane Ferreira de Santana Gibson Marcelo Galvão de Sousa Miriam Flávia Medeiros de Araújo Ricardo Luiz Quirino da Silva Ketlle Duarte Paes Gestão de Pessoas 1a edição Natal/RN 2011 EQUIPE DE PRODUÇÃO DE RECURSOS DIDÁTICOS Organização Luciana Lopes Xavier Michelle Cristine Mazzetto Betti Coordenação de Produção de Recursos Didáticos Michelle Cristine Mazzetto Betti Revisão de Linguagem e Estrutura em EaD Úrsula Andréa de Araújo Silva Ilustração do Mascote Lucio Masaaki Matsuno EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO Delinea - Tecnologia Educacional Coordenação Pedagógica Margarete Lazzaris Kleis Coordenação de Editoração Charlie Anderson Olsen Larissa Kleis Pereira Coordenação de Revisão Gramatical e Normativa Simone Regina Dias Eduard Marquardt Revisão Gramatical e Normativa Sandra Spricigo Diagramação Alexandre Alves de Freitas Noronha Ilustrações Alexandre Beck KETLLE DUARTE PAES Olá, estudante. Bem-vindo! Vamos iniciar nossa conversa com uma breve apresentação? Pois bem, eu me chamo Ketlle, sou graduada em Administração pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC/ESAG), mestre em administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na linha de pesquisa Organização e Sociedade e doutoranda em administração pela UFSC. Tenho oito anos de experiência profissional e, atualmente, sou instrutora de diversos cursos na área de Gestão de Pessoas, Desenvolvimento Gerencial, Planejamento Estratégico e Administração Geral. Sou também professora na Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI/SC) nos seguintes cursos: Tecnólogo em Gestão de Pessoas, Gestão de Micro, Pequenas e Médias Empresas e Administração de Empresas. E é uma satisfação contribuir na autoria deste livro-texto. CO N H EC EN D O O A U TO R GESTÃO DE PESSOAS Olá, prezado(a) acadêmico(a)! Neste livro-texto, iremos conhecer uma importante função organizacional, a Gestão de Pessoas. Mais do que nunca, a reflexão sobre esta área de conhecimento se faz crucial, já que vivemos em um ambiente que muda com uma velocidade fenomenal. Além disso, este contexto demanda das empresas constantes adaptações em suas funções para sobreviver e prosperar. Assim, na busca pela sobrevivência em um mercado intensamente competitivo, as empresas estão aprimorando conhecimentos e experiências na área de gestão de pessoas para responder ao novo cenário do mundo globalizado. E o que vamos estudar aqui? Bem, nossa proposta começa com um levantamento histórico sobre as origens e a evolução da gestão de pessoas, além de contemplar o que é uma organização, já que é em seu interior que acontecem os processos de gestão de pessoas. A seguir, vamos focar nossa atenção em mostrar a importância e as etapas básicas do planejamento estratégico de gestão de pessoas como ferramenta auxiliar na geração de vantagem competitiva à organização. Vamos também discutir os desafios da contemporaneidade, em virtude do contexto dinâmico do ambiente social, econômico e político, e sua relação com as políticas de gestão de pessoas. Depois de conhecer o ambiente econômico e social que desafia constantemente a área de gestão de pessoas, abordaremos os passos fundamentais dos processos de recrutamento e seleção de pessoas como uma ferramenta importante no provimento de talentos à organização. Continuando nossa caminhada sobre os processos de gestão de pessoas, informaremos os passos básicos para o desenvolvimento e implementação do plano de cargos e salários nas organizações, com o intuito de dinamizar o sistema de gestão de pessoas da empresa. CO N H EC EN D O A D IS CI PL IN A Após desenvolver e implantar o plano de cargos e salários, a empresa necessitará definir políticas de remuneração. Vamos então descrever os planos de recompensas e incentivos e as modalidades de remuneração, bem como os tipos de benefícios sociais dos quais as empresas podem lançar mão para atrair e reter talentos. Iremos abordar ainda os principais elementos relacionados ao treinamento e desenvolvimento das pessoas frente ao atual contexto do ambiente de negócios. Por fim, para concluir nossos estudos, vamos demonstrar como o clima, os valores e a comunicação impactam na interação pessoas- organização. Além disso, buscaremos tratar da importância da cultura, do poder e da liderança no âmbito das relações intraorganizacionais. Como você pode perceber, nosso percurso será repleto de assuntos instigantes. Então, bons estudos! SU M Á RI O Capítulo 1 - As organizações e as pessoas ................................................ 13 1.1 Contextualizando ........................................................................................................... 13 1.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 13 1.2.1 Perspectiva histórica da gestão de pessoas ............................................... 14 1.2.2 Conceitos importantes ....................................................................................... 26 1.2.3 O que são organizações? ................................................................................... 32 1.2.4 Qual a importância das organizações para a gestão de pessoas? ..... 34 1.2.5 As pessoas como parceiras das organizações ........................................... 35 1.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 37 1.4 Para saber mais ............................................................................................................... 38 1.5 Relembrando ................................................................................................................... 39 1.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................. 39 Onde encontrar ...................................................................................................................... 40 Capítulo 2 - Gestão de pessoas no âmbito organizacional ...................... 41 2.1 Contextualizando ........................................................................................................... 41 2.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 41 2.2.1 Por que estudar gestão de pessoas? ............................................................ 41 2.2.2 A importância do planejamento estratégico de gestão de pessoas ..........................................................................................................43 2.2.3 Etapas do planejamento estratégico de gestão de pessoas ............... 53 2.2.4 Avaliação dos resultados a partir do planejamento estratégicode gestão de pessoas ............................................................................. 65 2.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 68 2.4 Para saber mais ............................................................................................................... 69 2.5 Relembrando ................................................................................................................... 70 2.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................. 71 Onde encontrar ...................................................................................................................... 71 Capítulo 3 - Desafios para a gestão de pessoas ........................................ 73 3.1 Contextualizando ........................................................................................................... 73 3.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 74 3.2.1 Desafios competitivos e gestão de pessoas ............................................... 74 3.2.2 Gestão de pessoas e o contexto global e tecnológico ........................... 75 3.2.3 Gestão do capital humano ............................................................................... 92 3.2.4 Os desafios do século 21 para gestão de pessoas ................................... 93 3.2.5 O mercado de trabalho ..................................................................................... 96 3.2.6 Internalização, transferência, expatriação e recolocação de pessoas nas organizações ........................................................................................................... 98 3.3 Aplicando a teoria na prática ...................................................................................105 3.4 Para saber mais .............................................................................................................106 3.5 Relembrando .................................................................................................................107 3.6 Testando os seus conhecimentos ...........................................................................108 Onde encontrar ....................................................................................................................108 Capítulo 4 - Os processos de gestão de pessoas: recrutamento e seleção ............................................................................. 111 4.1 Contextualizando .........................................................................................................111 4.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................111 4.2.1 Conceito de recrutamento ......................................................................................................111 4.2.2 Modalidades de recrutamento de pessoas .......................................................................113 4.2.3 Avaliação dos resultados do recrutamento .......................................................................125 4.2.4 Conceito de seleção ...................................................................................................................127 4.2.5 Mapeamento das competências ...........................................................................................129 4.2.6 Fontes de informações de candidatos a emprego .........................................................135 4.2.7 Avaliação dos resultados da seleção de pessoas .............................................................137 4.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................139 4.4 Para saber mais ......................................................................................................................................140 4.5 Relembrando ..........................................................................................................................................141 4.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................141 Onde encontrar .............................................................................................................................................142 Capítulo 5 - Os processos de gestão de pessoas: plano de cargos e salários ...........143 5.1 Contextualizando ..................................................................................................................................143 5.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................144 5.2.1 Os fundamentos do plano de cargos e salários ...............................................................144 5.2.2 Conceito de cargo .......................................................................................................................149 5.2.3 Desenho de cargos .....................................................................................................................153 5.2.4 Modelos de desenho de cargos .............................................................................................155 5.2.5 Descrição e análise de cargos .................................................................................................162 5.2.6 Métodos de avaliação de cargos ...........................................................................................167 5.2.7 Pesquisa salarial ...........................................................................................................................173 5.2.8 Política salarial ..............................................................................................................................175 5.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................177 5.4 Para saber mais ......................................................................................................................................178 5.5 Relembrando ..........................................................................................................................................178 5.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................179 Onde encontrar .............................................................................................................................................179 Capítulo 6 - Os processos de gestão de pessoas: remuneração e benefícios ...........181 6.1 Contextualizando ..................................................................................................................................181 6.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................182 6.2.1 Recompensas e incentivos ......................................................................................................182 6.2.2 Conceito de remuneração .......................................................................................................192 6.2.3 Os tipos de remuneração ........................................................................................................194 6.2.4 Programas de incentivo nas empresas ................................................................................197 6.2.5 Conceito de benefícios sociais ..............................................................................................2036.2.6 Tipos de benefícios sociais.......................................................................................................205 6.2.7 Desenho do plano de benefícios ..........................................................................................207 6.2.8 Custos dos benefícios sociais ..............................................................................................208 6.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................209 6.4 Para saber mais ......................................................................................................................................210 6.5 Relembrando ..........................................................................................................................................210 6.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................211 Onde encontrar .............................................................................................................................................211 Capítulo 7 - Os processos de gestão de pessoas: treinamento de desenvolvimento................................................................................213 7.1 Contextualizando ..................................................................................................................................213 7.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................214 7.2.1 Conceito de treinamento .........................................................................................................214 7.2.2 Elaborando o programa de treinamento ...........................................................................216 7.2.3 Implementação do programa de treinamento ................................................................219 7.2.4 Avaliação do programa de treinamento.............................................................................224 7.2.5 Desenvolvimento de pessoas .................................................................................................226 7.2.6 Conceito de desenvolvimento ...............................................................................................229 7.2.7 Métodos de desenvolvimento de pessoas ........................................................................230 7.2.8 Avaliação do programa de desenvolvimento ...................................................................241 7.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................242 7.4 Para saber mais ......................................................................................................................................243 7.5 Relembrando ..........................................................................................................................................244 7.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................245 Onde encontrar .............................................................................................................................................245 Capítulo 8 - A interação entre pessoas e organização ...............................................247 8.1 Contextualizando ..................................................................................................................................247 8.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................248 8.2.1 Clima organizacional .................................................................................................................248 8.2.2 O processo de socialização organizacional .......................................................................250 8.2.3 O processo de comunicação organizacional ...................................................................253 8.2.4 Valores, atitudes e satisfação com a organização ............................................................258 8.2.5 Cultura organizacional ..............................................................................................................262 8.2.6 Poder ...............................................................................................................................................273 8.2.7 Liderança ........................................................................................................................................274 8.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................280 8.4 Para saber mais ......................................................................................................................................281 8.5 Relembrando ..........................................................................................................................................281 8.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................282 Onde encontrar .............................................................................................................................................283 Referências ................................................................................................................... 287 Capítulo 1 13 Gestão de Pessoas AS ORGANIZAÇÕES E AS PESSOAS CAPÍTULO 1 1.1 Contextualizando Neste capítulo, você irá conhecer a gestão de pessoas no contexto histórico, situando-a no âmbito da teoria administrativa e das organizações. Com isso, você poderá compreender a emergência dos diversos modelos de gestão de pessoas que cada momento histórico oportuniza. Assim, esperamos que ao final do capítulo você seja capaz de: • identificar os antecedentes históricos da gestão de pessoas; • identificar as principais fases e modelos de gestão de pessoas; • conceituar e caracterizar a organização; • caracterizar a relação entre as organizações e as pessoas. 1.2 Conhecendo a teoria Você sabia que a gestão de pessoas, tal como a conhecemos hoje nas organizações, é resultado das transformações ocorridas na função de recursos humanos ao longo dos anos? E que essa evolução acompanhou o desenvolvimento das teorias administrativas, sendo, por isso, fortemente influenciada por elas? Conforme iremos estudar, esse contexto contribuiu para que a área de gestão de pessoas assumisse uma postura mais estratégica nas organizações e para que os seus processos fossem ampliados. Capítulo 1 14 Gestão de Pessoas Mas como se deu a evolução da área de recursos humanos, principalmente em um ambiente de constantes mudanças? Para compreender esse processo, precisamos primeiro entender como ele se desenvolveu em uma perspectiva histórica. O que isso quer dizer? Quer dizer que precisamos identificar de que maneira as mudanças ocorridas no cenário das teorias administrativas contribuíram para o processo de emergência das novas tendências de gestão de pessoas. Justamente o nosso foco a partir de agora. 1.2.1 Perspectiva histórica da gestão de pessoas A história da humanidade, na visão de Chiavenato (2010), tem demonstrado a centralidade do trabalho na vida das pessoas. Como prova disso, o autor cita os desdobramentos da atividade laboral do ser humano: trabalho escravo, trabalho artesanal, trabalho fabril etc. O autor ainda ressalta que o conceito atual de trabalho assalariado surge a partir da Revolução Industrial e se afirma como tal ao longo do século 20. Desse modo, podemos afirmar que o referido século trouxe grandes mudanças tecnológicas, econômicas, políticas e sociais queinfluenciaram as organizações, sua administração e seu comportamento, impactando, sobretudo, na gestão de pessoas. A economia mundial sofreu modificações profundas a partir da segunda metade do século 18, quando se iniciou, na Inglaterra, a Revolução Industrial. Estreitamente relacionada ao desenvolvimento do sistema capitalista, a industrialização se estendeu por todo o mundo e determinou o surgimento de novas formas de sociedade, de Estado e de pensamento. SAIBA QUE Ainda para Chiavenato (2010), o século 20 também comportou três distintas eras organizacionais: Capítulo 1 15 Gestão de Pessoas • era industrial clássica; • era industrial neoclássica; • era da informação. Vamos então conhecer melhor as características de cada uma delas? Afinal, essa compreensão nos permitirá compreender melhor as práticas e políticas de gestão de pessoas ao longo do tempo. Era da industrialização clássica A era da industrialização clássica compreende, conforme observa Chiavenato (2010), o período logo após a Revolução Industrial até meados de 1950. Esse período ficou marcado pela intensificação da industrialização com reflexo mundial e pelo surgimento dos chamados países desenvolvidos. Nesse contexto, ganha importância o tipo organizacional burocrático, no qual a departamentalização, a centralização da tomada de decisão e o estabelecimento de regras de comportamento são aspectos centrais. Além disso, segundo o autor, nesse período dá-se a emergência da Teoria Clássica da Administração que, juntamente com o modelo burocrático, havia se configurado como o modelo de gestão ideal para as organizações da época. As características fundamentais desse período consistem em um ambiente envolvido por mudanças vagarosas e previsíveis. Por isso, o modelo burocrático de organização triunfou como modelo de gestão na época. Complementando, como o contexto que envolvia as organizações era conservador e havia relativo grau de certeza quanto ao ambiente externo, isto permitia às empresas voltarem sua atenção principalmente para o processo produtivo. Ou seja, a busca pela eficiência era a preocupação central e, para alcançá-la, as empresas seguiam o caminho da padronização e simplificação das tarefas. Nesse contexto, destaca o autor, as pessoas eram consideradas fator de produção da mesma maneira que as máquinas, os equipamentos e as matérias-primas. Capítulo 1 16 Gestão de Pessoas Figura 1 – Estrutura organizacional típica da era da industrialização clássica Era Industrial Clássica Desenho mecanístico à Muitos níveis hierárquicos e coordenação centralizada à Departamentalização funcional para assegurar especialização à Padrões rígidos de comunicação e cargos definitivos e limitados à Pequena capacidade de processamento da informação à Cargos individuais especializados com tarefas simples e repetitivas à Ênfase na eficiência da produção, no método e na rotina à Adequado para ambiente estável e imutável e tecnologia fixa e permanente à Nenhuma capacidade para mudança e inovação Fonte: Chiavenato (2010) Era da industrialização neoclássica Esse período, conforme a observação de Chiavenato (2010), inicia a partir da década de 1950 e se estende até os anos 1990. O evento que marcou a emergência dessa era foi a Segunda Guerra Mundial, que trouxe consigo grandes mudanças ambientais, com a ampliação dos mercados de uma esfera local para uma realidade global. Capítulo 1 17 Gestão de Pessoas Tal fato exigiu das empresas readaptação à nova realidade, na qual o modelo burocrático foi redimensionado pela teoria estruturalista como forma de conciliar a teoria da burocracia com as ideias advindas da teoria das relações humanas. A partir de então, a área de gestão de pessoas passou a considerar as trocas de informações entre as organizações e seu ambiente. A teoria das relações humanas surgiu a partir de 1927 em função da chamada experiência de Hawthorne. O objetivo da pesquisa era verificar a influência da iluminação na produtividade dos trabalhadores. Contudo, Elton Mayo, responsável pela pesquisa, verificou a influência de fatores psicológicos sobre a produtividade. Assim, a grande contribuição dessa abordagem foi a descoberta dos grupos informais dentro das organizações como importantes fontes geradoras de motivação, e, portanto, capazes de efetivamente impactar na produção (CHIAVENATO, 2010). SAIBA QUE Cabe destacar ainda, conforme Chiavenato (2010), que no decorrer do período neoclássico surge a teoria dos sistemas, que defende a avaliação da organização como um todo e não somente em departamentos ou setores. Na administração, afirma Chiavenato (2010), a teoria dos sistemas ganhou importância principalmente em função da necessidade de maior integração das teorias anteriores, bem como da intensificação do uso da tecnologia da informação nas empresas. Nesse sentido, na perspectiva sistêmica, os sistemas vivos, sejam indivíduos ou organizações, são analisados como sistema abertos, mantendo um contínuo intercâmbio de matéria, energia e informação com o ambiente. Capítulo 1 18 Gestão de Pessoas Figura 2 – Estrutura organizacional típica da era industrial neoclássica Era Industrial Neoclássica Desenho matricial à Desenho híbrido: estrutura funcional acoplada à estrutura de P/S à Coordenação descentralizada sob dupla subordinação: autoridade funcional e autoridade de projeto (produto/serviço) à Padrões duplos de interação em cargos mutáveis e inovadores à Aumento de capacidade de processamento da informação à Cargos adequados para tarefas mais complexas e inovadoras à Ideal para ambiente instável e mutável e tecnologia mutável à Razoável capacidade para mudança e inovação Fonte: Chiavenato (2010) Era da informação A era da informação compreende o período que começou a partir da década de 1990 até os dias atuais. A sua principal característica, ressalta Chiavenato (2010), consiste nas rápidas e constantes mudanças. Saiba que a tecnologia da informação forneceu as bases para a emergência da globalização da economia e das culturas. Nessa nova realidade, a competitividade intensificou-se entre as organizações, proporcionando uma transformação da divisão social do trabalho, nas quais as empresas passaram a migrar de um continente para outro em busca de novas oportunidades de investimento. Capítulo 1 19 Gestão de Pessoas Assim, complementa Chiavenato (2010), em um tempo em que a informação está ao alcance de todos, as empresas melhor sucedidas serão aquelas capazes de utilizar a informação criando, a partir daí, vantagem competitiva. O autor ainda destaca que na era da informação as organizações requerem agilidade, mobilidade, inovação e mudança, a fim de enfrentar as novas ameaças e oportunidades em um ambiente dinâmico e turbulento. Isto porque os processos organizacionais, nesse contexto, passam a ser constantemente ajustados às necessidades dos clientes. Sobre essa era, Chiavenato (2010) expõe também que em organizações mais expostas à mudança a estrutura organizacional assume um perfil mais flexível, baseado em equipes multifuncionais de trabalho com atividades provisórias voltadas para projetos específicos. Além disso, conforme o autor, o capital financeiro deixa de ser o recurso mais importante, cedendo lugar para o conhecimento e o capital humano. Figura 3 – Estrutura organizacional típica da era da informação Era da Informação Desenho orgânico à Ênfase em equipes autônomas e não mais em órgãos ou departamentos à Elevada interdependência entre as redes internas de equipes à Organização ágil, maleável, fluída, simples e inovadora à Intensa interação através de cargos autodefinidos e mutáveis à Cargos flexíveis e adequados a tarefas complexas e variadas à Capacidade expandida de processamento da informação à Ênfase na mudança, na criatividade e na inovação à Ideal para ambiente mutável e dinâmico e tecnologia de ponta Fonte:Chiavenato (2010) Capítulo 1 20 Gestão de Pessoas Perceba que as três eras citadas anteriormente por Chiavenato (2010) serviram de base para diversas abordagens sobre a forma de lidar com as pessoas dentro das empresas. É consenso entre vários autores (DUTRA, 2011; FISHER, 2002; CHIAVENATO, 2010) que ao longo do último século a área de recursos humanos passou por algumas etapas distintas. Na visão de Chiavenato (2010), as etapas das quais estamos falando são: • das relações industriais; • dos recursos humanos; • da gestão de pessoas. Podemos ainda ressaltar que cada etapa está em consonância com as ideias predominantes à sua época, bem como com as necessidades das organizações. Com relação à primeira etapa, Chiavenato (2010) ressalta que o departamento de relações industriais tinha como função fazer cumprir as demandas legais da relação de emprego, tais como: admissão de pessoal, anotações na carteira de trabalho, controle das horas trabalhadas, contagem de férias etc. Ainda de acordo com o autor, nessa etapa predominam as atividades operacionais e burocráticas, sendo as pessoas consideradas como apêndice das máquinas e meras fornecedoras de esforço físico e muscular, conforme exemplificamos com a imagem a seguir. Figura 4 – Era industrial clássica: pessoas vistas como extensão das máquinas Fonte: 06photo <www.shutterstock.com> Capítulo 1 21 Gestão de Pessoas Na próxima etapa, os departamentos de relações industriais são substituídos pelos departamentos de recursos humanos. Estes, além das tarefas operacionais e burocráticas já citadas, assumem também funções táticas, prestando serviço especializado como recrutamento, seleção, treinamento, avaliação, remuneração, higiene e segurança do trabalho e de relações trabalhistas e sindicais (CHIAVENATO, 2010). Com relação à última etapa, Chiavenato (2010) destaca o surgimento das equipes de gestão de pessoas, em que as práticas de recursos humanos são delegadas aos gerentes de linha em toda a organização. E o que se nota nesta nova realidade? Bem, as tarefas operacionais e burocráticas não essenciais são, muitas vezes, terceirizadas, fato que libera o gestor de pessoas para assumir atividades estratégicas visando o futuro da organização. Nessa abordagem, segundo o autor, as pessoas passam a desempenhar um papel mais ativo e inteligente na administração dos demais recursos organizacionais. Ainda no que diz respeito às etapas citadas, cabe destacar sucintamente a visão de Fischer (2011) sobre o assunto. Para este autor, a evolução da área de recursos humanos demonstra a ocorrência de quatro modelos de gestão de pessoas nas organizações. O primeiro é o modelo de gestão de pessoas como departamento de pessoal, tendo os empregados como um fator de produção, cujos custos devem ser geridos da mesma forma que os dos demais fatores produtivos. O segundo diz respeito ao modelo de comportamento humano, voltado para a integração, para o comprometimento dos empregados e para a adaptabilidade. Já o terceiro é o modelo de gestão estratégica de pessoas, que busca vincular a área de recursos humanos às estratégias organizacionais, adaptar-se às necessidades da empresa e promover as pessoas como elementos de diferenciação. Figura 5 – As relações de trabalho e a moderna gestão de pessoas Fonte: Beck (2011) Capítulo 1 22 Gestão de Pessoas O último, concebido a partir dos anos 1980, é o modelo de gestão de pessoas baseado nas competências. Este modelo considera a atuação da empresa em um ambiente competitivo, enfatizando a relação entre o desempenho humano e os resultados da organização. Segundo esta abordagem, as competências humanas definem a competitividade da empresa desenvolvida em um processo integrativo e orientada para os benefícios do cliente (FISCHER, 2011). Para o mesmo autor (2011), os modelos de gestão de pessoas citados foram fortemente influenciados pela cultura e pela tecnologia e processos de trabalho presentes nas empresas. Além disso, ele salienta, houve influência também de fatores ambientais externos, tais como o contexto social, econômico e político. E você deve saber que uma análise da evolução organizacional, de maneira geral, revela que as diversas teorias que fundamentaram o desenvolvimento das empresas também acabaram por influenciar as transformações sofridas pela área de recursos humanos (FISCHER, 2011). Fischer (2011) também ressalta que as diversas correntes do pensamento administrativo influenciaram sobremaneira a função de recursos humanos. No início do século 20, a administração científica e clássica trouxe as visões de Taylor e Fayol, e ambos buscaram fundamentar cientificamente as atividades administrativas e o trabalho. Taylor se dedicou a promover a racionalização do trabalho, com o estudo dos tempos e movimentos, promovendo a mecanização da produção e a simplificação das tarefas. Já Fayol descreveu os princípios da administração, quais sejam: prever, organizar, comandar, coordenar e controlar. Aqui, cabe destacar, conforme Fischer (2011), que também as ideias de Henry Ford contribuíram para o fortalecimento da produção em massa de bens padronizados, bem como para o aumento dos salários e para a diminuição da jornada de trabalho sem, com isso, prejudicar a produtividade. Esse contexto, na visão de Dutra (2011), originou o departamento de pessoal nas indústrias, no qual o trabalho se resumia a algo humilhante, mecânico e limitante do desenvolvimento das pessoas e da própria organização. Capítulo 1 23 Gestão de Pessoas Além de ser um dos pioneiros da indústria automobilística, o fundador da Ford Motors, Henry Ford, também ficou conhecido, quando, no início do século 20 (década de 1910), passou a produzir automóveis em série nas suas fábricas. Por meio da linha de montagem, conseguiu reduzir custos e produzir mais em menos tempo e, com isso, ficar em vantagem frente aos seus concorrentes. Outro aspecto que marcou o chamado fordismo foram os altos salários oferecidos por Ford aos seus funcionários. Fonte: <http://commons. wikimedia.org> BIOGRAFIA Seguindo a linha do tempo das correntes do pensamento administrativo, Dutra (2011) destaca a emergência da Escola de Relações Humanas, cujo representante mais ilustre foi o psicólogo Elton Mayo. A importância dessa escola cresceu em função dos resultados obtidos por meio da famosa experiência de Hawthorne, na fábrica da Western Eletric, no ano de 1927. Era objetivo de Mayo e sua equipe verificar a influência da iluminação na produtividade, no índice de acidentes e na fadiga dos trabalhadores. Contudo, conforme sublinha Dutra (2011), tal experiência revelou a interferência de fatores psicológicos e sociais no resultado do trabalho. Assim, os resultados da experiência de Hawthorne demonstraram que uma maior atenção dispensada às pessoas dentro das empresas as motivava a produzir mais. Com isso, os cientistas da Escola de Relações Humanas contribuíram, sobremaneira, para destacar a importância dos grupos informais no âmbito das organizações. Ademais, o processo histórico da área de recursos humanos demonstrou que o período posterior à Segunda Guerra Mundial fortaleceu o poder dos sindicatos, situação que pressionou a área de recursos humanos a preocupar-se mais com as condições de trabalho e a relação com os empregados, marcando a transição do departamento de pessoal para o departamento de relações industriais (DUTRA, 2011). Capítulo 1 24 Gestão de Pessoas Já nos anos de 1960, segundo o autor, sobre forte influência da abordagem sistêmica, a área de recursos humanos sofreu nova transformação e passou a se chamar administração de recursos humanos. Assim, observa Gil (2001, p. 20): “o aparecimento da Administração de Recursos Humanos deve-se à introdução de conceitos originários da Teoria Geral dos Sistemas à gestão de pessoal”. Esta abordagem trouxe avisão de que a empresa é um conjunto de partes inter-relacionadas, sendo maior que a soma das suas partes. Nesse contexto, as mudanças ocorridas nos anos de 1980, alimentadas pela globalização, deram impulso à chamada gestão de pessoas, que passou a considerar as pessoas como parceiras na geração de vantagem competitiva para a organização (GIL, 2001; DUTRA, 2011). E note o seguinte: a gestão de pessoas se consolidou no meio organizacional, ficando também conhecida como gestão de talentos, gestão do capital humano ou gestão do capital intelectual (GIL, 2001). Para Dutra (2011), ficou claro que a administração científica condicionou a gestão de pessoas durante todo o século 20. Perspectiva histórica da gestão de pessoas no Brasil Conforme observa Dutra (2011), o contexto político, econômico e social no Brasil foi responsável pelas transformações ocorridas na área de recursos humanos ao longo do século passado. O autor observa inclusive certo consenso na literatura de que os diferentes modelos de governo no país, além das interferências exógenas no que tange à tecnologia e aos modelos de gestão, ditaram a dinâmica da área de recursos humanos em terras brasileiras. Dutra (2002, p. 34) continua sua análise observando que o: processo de evolução da Gestão de Pessoas no Brasil é marcado por características legais e pelo referencial taylorista. É com esse pano de fundo que os dirigentes empresariais e profissionais especializados foram formados. Durante a década de 80, algumas empresas foram demandando novos conceitos e instrumentos de gestão, mas o desconforto com essas questões só se consolida nos últimos anos da década de 90. Capítulo 1 25 Gestão de Pessoas Autores como Gil (2001) e Dutra (2011) salientam que até 1930 inexistia qualquer modelo de gestão de pessoas no Brasil. Conforme Dutra (2011), nesse período havia uma atividade industrial incipiente, fruto do esgotamento do modelo exportador cafeeiro. O autor destaca também que os núcleos de trabalhadores mais organizados eram o ferroviário, o portuário e o setor têxtil. Essa fase é denominada por Wood Jr (apud DUTRA, 2011) como pré-jurídico-trabalhista, em virtude da inexistência de legislação trabalhista. Entretanto, conforme o autor, a partir nos anos 1940, inicia-se a formação, no país, de um corpo de leis para reger as relações entre trabalho e capital. Inicia-se, também nesse período, a criação dos sindicatos de trabalhadores e de empresas, bem como de uma estrutura jurídica para mediar os conflitos entre trabalhadores e patrões. Essa nova realidade gera pressão para que as empresas busquem organizar a gestão de pessoas de acordo com as exigências legais estabelecidas. Assim, foi durante o governo de Getúlio Vargas que surgiu grande parte das iniciativas de estruturação das relações trabalhistas, sendo criados, nesse período, o Ministério do Trabalho e a Consolidação das Leis do Trabalho (GIRARDI, 2008). De acordo com Girardi (2008), nas décadas de 1950 e 1960 assistiu-se a uma expansão da industrialização que contou com a ajuda dos investimentos estrangeiros. Conforme Dutra (2011), nesse período o país viveu um processo de redemocratização, preocupando-se, sobretudo, com o desenvolvimento econômico por meio da intensificação dos investimentos na indústria de base e do movimento de substituição de importações. Nesse contexto, destaca o autor, multinacionais foram estimuladas a se instalar no Brasil, trazendo consigo práticas mais estruturadas de gestão de pessoas. Observe o comentário de Girardi (2008): essas iniciativas foram favorecidas em função de uma gestão empreendedora do presidente Juscelino Kubitschek, além do surgimento do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), o que exigiu pessoal com maior qualificação para a adaptação às novas tecnologias provenientes. Na década de 1970, sublinha Girardi (2008), ocorreu o chamado milagre econômico brasileiro, e a área de recursos humanos passou a atuar de forma Capítulo 1 26 Gestão de Pessoas mais profissionalizante e abrangente, envolvendo-se gradativamente com as estratégias da empresa. Segundo o autor, nesse período o administrador de empresas começou a ser valorizado como profissional de recursos humanos, dando origem à chamada administração de recursos humanos. Os anos 1980, observa Girardi (2008), foram tempos de grande recessão econômica, mas também do florescimento de novas teorias e técnicas de gestão, como, por exemplo, descentralização, downsizing, empowerment, modelos japoneses de gestão e de trabalho, programas de qualidade, reengenharia, just-in-time e remuneração variável, entre outros. A área de recursos humanos passou a ser mais exigida com relação à atuação, competência, qualidade e produtividade dos empregados. De acordo com Girardi (2008) com a globalização e a tecnologia da informação, nos anos 1990, a área de recursos humanos assumiu aos poucos uma postura mais estratégica. A partir daí, emerge a gestão de pessoas, na qual o foco passou a ser a capacitação do colaborador, em conjunto com os resultados organizacionais. Note ainda que, conforme o autor, nesse novo modelo de gestão, todos os integrantes da organização são responsáveis pelos seus resultados; os gerentes de área acumulam também a função de gestores de recursos humanos, compartilhando as decisões estratégicas juntamente com a área de recursos humanos estratégicos, e elaboram as suas políticas e diretrizes com a cúpula organizacional (GIRARDI, 2008, WOOD JR., 2000; GIL, 2001; DUTRA, 2011). 1.2.2 Conceitos importantes É consenso geral que as organizações dependem do desempenho humano para o seu sucesso. Isto ficou evidenciado quando realizamos um resgate histórico da evolução da área de gestão de pessoas. Notamos que, ao longo do século 20, as pessoas foram ganhando destaque dentro das empresas, tendo um papel fundamental na busca da vantagem competitiva. Assim, de acordo com Fischer (2011), em função do que foi dito, as empresas necessitam desenvolver e organizar um modelo de gestão de pessoas que atenda as demandas internas e externas à organização. Nesse sentido, ressalta o autor, o que diferencia um modelo do outro são algumas características próprias, notadamente oriundas da sua cultura, bem como da sua capacidade de interferir no ambiente organizacional imprimindo-lhe identidade própria. Capítulo 1 27 Gestão de Pessoas Fischer (2011) observa também que, ao analisar a história dos modelos de gestão, percebe-se que eles se articulam a partir de alguns conceitos centrais que orientam sua prática. CONCEITO Um modelo de gestão de pessoas diz respeito à forma “pela qual uma empresa se organiza para gerenciar e orientar o comportamento humano no trabalho” (FISCHER, 2011, p. 12). Para tanto, a organização se estrutura, define estratégias, políticas e processos de gestão. Perceba que a concorrência mais ampla valoriza o comportamento humano. Isto porque o comportamento humano passa a compor as estratégias de negócios, tornando-se elemento de diferenciação na busca pela vantagem competitiva. O autor, entretanto, chama atenção para o fato de que não se trata de repetir o velho jargão de que as organizações estão cada vez mais valorizando o elemento humano. Para ele, a organização não está se tornando mais humana por causa da nova onda competitiva, mas diz respeito, sobretudo, a um novo imperativo: quanto mais os negócios se sofisticam, mais seu sucesso depende do desempenho das pessoas. Com isso, para Fischer (2011), alguns fatores internos e externos da organização devem ser conhecidos, já que o desempenho das pessoas depende deles. Vamos então conhecer quais são os fatores considerados pelo autor? Os fatores internos abrangem o tipo de tecnologia adotada pela empresa, a organização do trabalho, a cultura e a estrutura organizacional. Já os fatores externos podem ser originados na sociedade ou nomercado. Confira a seguir um detalhamento de cada um deles. Fatores internos • Tecnologia adotada: a automatização ou robotização condicionam o comportamento no trabalho, podendo exigir doses diferentes de autonomia. Capítulo 1 28 Gestão de Pessoas • Organização do trabalho: diferentes formas de organização exigem distintas maneiras de buscar o comportamento adequado pelo processo de trabalho adotado. Assim, por exemplo, as práticas de qualidade total determinam políticas que orientem o padrão de desempenho desejado. • Cultura organizacional: os pressupostos da cultura da empresa interferem, e, ao mesmo tempo, sofrem influência do modelo de gestão de pessoas adotado. • Estrutura organizacional: uma estrutura hierarquizada e vertical propicia um modelo de pessoas segmentado, ao passo que uma estrutura mais flexível, matricial ou em rede, pede um modelo que focalize a empresa de forma global. Fatores externos • Originados na sociedade: cultura do trabalho na sociedade, legislação, intervenções do Estado e dos sindicatos. • Originados no mercado: define o perfil de competências organizacionais. CONCEITO Competência significa “um conjunto de habilidades e tecnologias que permite a uma empresa oferecer um determinado benefício a seus clientes”, aspecto fundamental para a competitividade e consequentemente para a sobrevivência da organização (PRALAHAD; HAMEL, 1995, p. 229). Conforme Fischer (2011), esses diversos fatores se interligam nas relações pessoais, interpessoais e sociais que direcionam o comportamento das pessoas nas organizações, expressando o que o autor chamou de elementos componentes do modelo de gestão de pessoas: • princípios: orientações de valor e crenças básicas; Capítulo 1 29 Gestão de Pessoas • políticas: determinam diretrizes de atuação para objetivos de médio e longo prazo nas relações organizacionais; • processos: elementos mais visíveis do modelo, tais como o plano de cargos e salários, a administração de carreira, as pesquisas de clima organizacional etc. Diante do exposto, torna-se importante fazermos um resgate de outros conceitos caros à área de gestão de pessoas. Para empreender nossa tarefa, iremos nos apoiar no trabalho de Dutra (2011). Perceba que o autor destaca que, historicamente, as pessoas vêm sendo tratadas pelas empresas como um recurso a ser administrado. A despeito das transformações na organização da produção ao longo do século 20, os conceitos sobre gestão de pessoas têm ainda como fio condutor o controle sobre o comportamento das pessoas. Dentre as principais mudanças citadas por Dutra (2011), destacamos as seguintes: • exigência de estruturas organizacionais flexíveis a adaptadas às contingências impostas pelo ambiente; • exigência de processos decisórios ágeis e focados nas demandas do mercado; • exigência de maior velocidade para entrar e sair de mercados locais e globais e para revitalizar os produtos ou serviços; • exigência de alto grau de competitividade, necessitando pessoas que se articulem para formarem um time de contínuo aperfeiçoamento. CONCEITO Dutra (2011, p. 17) explica que a gestão de pessoas é “um conjunto de políticas e práticas que permitem a conciliação de expectativas entre a organização e as pessoas para que ambas possam realizá-las ao longo do tempo”. Quando se refere à política, o autor a entende como um conjunto de princípios e diretrizes que balizam o comportamento da organização. Já quando se refere a práticas, o autor as entende como procedimentos, métodos e técnicas utilizadas para a implementação de decisões para nortear as ações da organização frente a seu ambiente externo. Capítulo 1 30 Gestão de Pessoas Dutra (2011) sublinha que a gestão de pessoas tem sido estudada como uma função organizacional e acrescenta que essa abordagem se origina em Fayol, que procura compreender a administração subdividindo-a em funções essenciais existentes em qualquer empresa. Em função disso, Dutra (2011) acrescenta que a gestão de pessoas consiste em um conjunto de atividades essenciais, tais como: • atração, manutenção, motivação, treinamento e desenvolvimento de pessoas (TOLEDO, 1978 apud DUTRA, 2011); • prover as organizações com uma força efetiva de trabalho (WERTHER, 1983 apud DUTRA, 2011); • promover a procura, desenvolvimento, remuneração, integração e manutenção de pessoas no âmbito organizacional (FLIPPO, 1970 apud DUTRA, 2011). Contudo, apesar de Dutra (2011) entender que as atividades citadas auxiliam na compreensão da importância da gestão de pessoas, ele sustenta igualmente que há a necessidade de se investigar a forma como a gestão de pessoas interage com as demais funções organizacionais. Ele cita Prestes Motta para sublinhar a importância da abordagem sistêmica na compreensão desse processo: De acordo com a abordagem sistêmica, a organização é vista em termos comportamentais inter-relacionados. Há uma tendência de enfatizar mais os papéis que as pessoas desempenham do que as próprias pessoas, entendendo-se papel como um conjunto de atividades associadas a um ponto específico do espaço organizacional, a que se pode chamar cargo [...]. A organização acaba por ser entendida como um sistema de conjuntos de papéis, mediante os quais as pessoas se mantêm inter-relacionadas (MOTTA, 1979 apud DUTRA, 2011, p. 18). De acordo com a perspectiva sistêmica, a gestão de pessoas passa a ser vista como um sistema integrando um sistema maior com o qual interage. A abordagem sistêmica procura entender a gestão de pessoas com base na interação entre seus subsistemas e destes com toda a organização, com o ambiente externo e com as pessoas. Capítulo 1 31 Gestão de Pessoas Nesse contexto, Dutra (2011) observa ainda que é possível identificar algumas alterações nas práticas estabelecidas pelas empresas que apontam na direção dada à gestão de pessoas pelas organizações, na qual verifica-se uma crescente preferência por: • transparência nos critérios que norteiam as relações entre a empresa e as pessoas; • práticas de gestão que privilegiem a conciliação de expectativas das pessoas e da empresa; • formas de carreira e remuneração centradas na agregação de valor das pessoas ao negócio da empresa; • processos de comunicação para que as pessoas possam contribuir para o negócio da empresa e aprimoramento de sua relação com ela; • espaços para que as pessoas possam assumir atribuições; • responsabilidades de maior complexidade em função de sua competência. Dutra (2011) propõe uma leitura mais clara da realidade organizacional no que se refere à gestão de pessoas, integrando a visão funcionalista e a visão sistêmica à perspectiva do desenvolvimento humano. Para tanto, ele analisa o processo pelo qual a pessoa agrega valor para a organização e esta agrega valor para a pessoa, partindo das seguintes: aprendizagem, pessoas e competência. Vamos saber o que o autor quer dizer com cada uma delas? Acompanhe. • Aprendizagem: a criação de uma cultura de aprendizagem nas organizações é fundamental para dar respostas a um ambiente exigente, complexo e dinâmico. A existência dessa cultura depende dos vínculos estabelecidos entre as pessoas e a organização. As culturas centradas no comprometimento mútuo, entre pessoas e organização, na gestão participativa e na busca de renovação contínua terão mais chances de sucesso por estarem alinhadas com valores que vêm sendo consolidados em nossa sociedade. • Dimensões das pessoas: diz respeito à pessoa ser vista como um ser integral e único. Assim, o desafio lançado para a gestão de pessoas é como encarar cada pessoa considerando sua individualidade e como gerenciá-la dentro desse ambiente de diversidade. Capítulo 1 32 Gestão de Pessoas • Competência: alguns autores consideram competência como significando um conjunto de qualificações que a pessoa possui para executar umtrabalho com um nível superior de desempenho. Ainda em relação à competência, Dutra (2011) a considera uma dimensão relacional que pode ser atribuída a diferentes atores. Isto quer dizer que, de um lado, temos a organização possuidora de um conjunto de competências advindas de sua gênese e formação que lhe conferem vantagens competitivas. De outro lado, temos as pessoas que possuem um conjunto de competências que podem ou não estar sendo aproveitadas pela organização. Note que, para o autor, ao se colocar a organização e as pessoas lado a lado, é possível verificar um processo contínuo de troca de competências. A organização transfere seu patrimônio de conhecimentos para as pessoas, enriquecendo-as e preparando-as para enfrentar novas situações profissionais. As pessoas, ao desenvolverem sua capacidade individual, transferem para a organização seu aprendizado, capacitando a organização para enfrentar novos desafios (DUTRA, 2011). 1.2.3 O que são organizações? Na sua concepção, o que é uma organização? Embora seja uma nomenclatura bastante usada, nem sempre o termo é compreendido da forma correta, principalmente dentro do campo da gestão de pessoas. Então, antes de darmos sequência ao conteúdo, vamos conhecer o conceito adotado ao longo desta disciplina para organização. CONCEITO De acordo com Etzioni (1967), uma organização é uma combinação intencional de pessoas e de tecnologia para atingir um determinado objetivo. Uma empresa é uma organização, assim como também o é uma divisão, um departamento ou uma seção dentro de uma organização maior. Capítulo 1 33 Gestão de Pessoas Então, já que uma organização cumpre determinados objetivos, ela necessita de pessoas, dinheiro, materiais e recursos. Esses insumos ingressam na organização, sendo transformados em bens e serviços para a geração de lucros. Os lucros ajudam a assegurar a continuidade das organizações (ETZIONI, 1967). A administração, na visão de Etzioni (1967), inclui o planejamento, a organização, a liderança e o controle do desempenho das pessoas. Além disso, é importante sublinhar que as organizações operam dentro de um meio ambiente que inclui fornecedores, clientes e concorrentes, bem como uma grande variedade de condições legais, econômicas, sociais e tecnológicas. Veja o que propõe Etzioni (1967): se examinássemos nossas vidas, concluiríamos que as organizações invadem tanto a sociedade como nossa vida particular. Isto porque diariamente estamos em contato com as organizações, seja como membros (no trabalho, escola, vida social e cívica, na igreja), seja como clientes, pacientes, consumidores ou cidadãos. Outro estudioso do tema, Hampton (1980) afirma que apesar de as pessoas tenderem a pensar nas realizações a partir de uma perspectiva individual, a maioria das realizações sociais são promovidas por meio da união de pessoas com objetivos comuns. Ora, de fato, nossa sociedade desenvolveu-se graças à criação de organizações fornecedoras de bens e serviços necessários à sobrevivência das pessoas. Nesse sentido, para Hampton (1980) vivemos em uma “sociedade organizacional”, na qual as organizações são as principais realizadoras. Aqui vale sublinhar que no mundo em que vivemos certas realizações só podem ser alcançadas mediante a ação convergente de grupos de pessoas. Neste sentido, qualquer que seja o objetivo – obtenção de lucro, educação, religião, saúde, construção de um estádio de futebol –, ele pode ser alcançado de modo mais eficaz e eficiente pela ação conjunta de indivíduos. Com isto, temos que as organizações são instrumentos vitais da sociedade e suas realizações resultaram em enormes aumentos do padrão de vida da sociedade (HAMPTON, 1980). Outra visão sobre o conceito de organização que vale a pena levarmos em conta é aquela que a considera como tendo uma existência própria independente das pessoas e das suas atividades. Sendo assim, a organização se comporta, interage com outras organizações, adapta-se aos seus ambientes Capítulo 1 34 Gestão de Pessoas e é capaz de aprender, entre tantas outras disposições. Como afirma Etzioni (1967, p. 11), “mais do que qualquer outro agrupamento social, as organizações controlam sua natureza e seu destino”. Já segundo Blau e Scott (1979), as organizações são definidas como coletividades que foram criadas para a concretização de objetivos específicos. Contudo, deve ficar claro que elas têm características diferenciadoras que incluem fronteiras relativamente fixas, uma ordem normativa, níveis de autoridade, um sistema de comunicações e de incentivos que permite, aos diversos tipos de participantes, trabalharem juntos para a realização de metas comuns. 1.2.4 Qual a importância das organizações para a gestão de pessoas? Todos nós sabemos que cada sociedade, cada família, cada país, cada grupo social tem sua cultura, seus costumes, seus hábitos, moldando sua postura diante da sociedade. O mesmo pode ser dito das organizações, já que são capazes de influenciar diretamente nossas vidas e a sociedade em que vivemos. Conforme colocado por Milkovich e Boudreau (2000), as práticas de gestão de pessoas variam conforme o tipo de empresa. Isto porque as empresas possuem tamanhos diferentes, pertencem a setores diferentes e estão, muitas vezes, localizadas em áreas geográficas diferentes. Assim, as organizações, enquanto espaço para as práticas de gestão de pessoas, possuem alguns fatores organizacionais cruciais que impactam nas políticas de recursos humanos. Na visão de Milkovich e Boudreau (2000), estes fatores são financeiros, estruturais e tecnológicos. Vamos conhecer cada um deles? • Financeiros: o fluxo de caixa positivo é condição fundamental para que a empresa possa honrar seus compromissos financeiros. Entre os mais importantes está a folha de pagamento dos funcionários. Entretanto, Milkovich e Boudreau (2000) chamam atenção para o fato de que o fluxo de caixa não é a única preocupação financeira das empresas e citam como exemplo as estratégias de marketing que, muitas vezes, adiam os lucros para garantir uma fatia do mercado no futuro afetando, sobretudo, as decisões de recursos humanos. Capítulo 1 35 Gestão de Pessoas • Estruturais: conforme Milkovich e Boudreau (2000), o formato da organização é um dos fatores que tem mais desafiado as organizações atualmente. Ora, em um mundo em rápida transformação tecnológica, novas modelagens de empresas se fazem necessárias para melhor capitanear as novas tecnologias e atender às demandas dos clientes e empregados. Para os autores, a estrutura organizacional tem profundas implicações nas relações de trabalho e, portanto, nas práticas de gestão de pessoas. Por exemplo, a redução dos níveis hierárquicos e a ampliação das tarefas de cada empregado são alguns desses efeitos. • Tecnológicos: a tecnologia consiste num conjunto de processos e técnicas utilizadas para a produção de bens e serviços. Nesse sentido, muitas vezes nos deparamos, nas organizações, com a extinção de algumas atividades em virtude da aplicação da tecnologia nos postos de trabalho. A tecnologia, apoiada por ações efetivas de recursos humanos, tais como treinamento e desenvolvimento, pode melhorar significativamente a produtividade organizacional. Todas as dimensões citadas importam em nossa análise, pois as estratégias mais gerais das organizações necessitam ser colocadas em práticas pelas pessoas. Isto quer dizer que a área de recursos humanos tem um papel fundamental na implementação das estratégias competitivas. As organizações, por sua vez, importam para a gestão de pessoas, já que fornecem a estrutura organizacional básica para que a gestão de pessoas, juntamente com as demais áreas da empresa, possa realizar as atividades essenciais que são o motivo de ser da empresa. 1.2.5 As pessoas como parceiras das organizações Na atualidade, as organizações estão ampliandosua visão estratégica na busca por parcerias. Isto porque a produção de bens e serviços somente se realiza com a participação de parceiros, cada qual contribuindo com algum recurso. Nesse sentido, os fornecedores contribuem com matérias-primas, serviços e tecnologias. Os acionistas e investidores fornecem capital e investimentos para ampliação da capacidade de produção e aquisição de recursos. Capítulo 1 36 Gestão de Pessoas E os empregados? Estes contribuem com seus conhecimentos e habilidades para uma eficaz e efetiva tomada de decisão e ações que dinamizem a organização. Os clientes, ao adquirirem os bens e serviços das empresas, contribuem para sua permanência em um mercado cada vez mais competitivo (CHIAVENATO, 2010). Figura 6 – Os vários parceiros das organizações Acionistas Proprietários Colaboradores Empresa GerentesDiretores ComunidadeTerceiros Clientes e Usuários Fornecedores Fonte: Chiavenato (2010) De acordo com Chiavenato (2010), as organizações estão sempre buscando a inclusão de novos parceiros para fortificar seus negócios e expandir suas fronteiras por meio de alianças estratégicas. Entretanto, os parceiros só continuam a investir seus esforços na organização na medida em que obtêm retornos satisfatórios de seus investimentos. As ações recíprocas de parceria, possibilitadas graças ao caráter sistêmico, conferem às organizações um efeito sinergético na reunião dos recursos e parceiros para aumentar seus resultados (CHIAVENATO, 2010). O autor salienta ainda que costumeiramente as organizações costumavam privilegiar os parceiros mais importantes, tais como os acionistas e investidores. Essa diferença, entretanto, está sendo ressignificada a partir de uma visão sistêmica na qual todos os parceiros do negócio têm um peso semelhante. Acontece que, nessa nova configuração, o parceiro mais próximo da organização é o empregado, responsável pela realização das atividades organizacionais e, portanto um parceiro a ser bem valorizado (CHIAVENATO, 2010). Capítulo 1 37 Gestão de Pessoas Outra questão importante levantada por Chiavenato (2010) refere-se à escolha entre tratar as pessoas como recursos ou como parceiras da organização. O autor informa que, quando vistos como recursos, os empregados são tratados de forma padronizada, precisando ser administrados, o que envolve planejamento, organização, direção e controle das suas atividades. Contudo, o autor lembra que frente a um ambiente dinâmico altamente competitivo, a organização necessita visualizar as pessoas como parceiras e como fornecedoras de conhecimento, habilidades e competências. E aqui terminamos este primeiro capítulo da disciplina de Gestão de Pessoas. Mas antes de seguirmos às atividades de fixação, que tal acompanhar um estudo de caso relacionado ao tema que você acabou de ver? Vamos lá! 1.3 Aplicando a teoria na prática Agora chegou a hora de colocar em prática alguns conhecimentos vistos ao longo do capítulo. Você está preparado? Então, vamos ao caso. Nesta sessão discutiremos um estudo de caso proposto por Chiavenato (2010, p. 4): “O departamento de recursos humanos da Brasil Cosmopolita”. Como diretora de recursos humanos da Brasil Cosmopolita S/A, Márcia Guerreiro tinha pela frente um importante desafio: transformar o departamento de recursos humanos (DRH), um órgão tradicional e burocrático, em um componente estratégico da empresa. Para tanto, era necessário tomar três providências iniciais: focalizar o DRH no negócio da empresa, reforçar as atividades estratégicas e terceirizar algumas das atividades burocráticas, como processamento da folha de pagamento, controle do ponto do pessoal, medidas disciplinares, refeitório. A ideia básica era enxugar o DRH para torná-lo mais ágil e flexível, a fim de concentrar-se no essencial: lidar com assuntos estratégicos relacionados às pessoas. Márcia convocou todos os funcionários do seu departamento para trocar ideias, definir objetivos e metas. Ela queria que todos participassem ativamente nessa transformação. Fonte: CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas. 3. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. Capítulo 1 38 Gestão de Pessoas Com base neste caso e a partir do conteúdo estudado, o que você faria se estivesse no lugar de Márcia? Bem, você deve ter percebido que os desafios a serem enfrentados por Márcia e sua equipe são muitos. Conforme você acompanhou neste primeiro capítulo, no decorrer do século 20, a gestão de pessoas nas organizações empresariais deixou de abranger apenas atividades operacionais e legalistas, abrangendo também as ações estratégicas da empresa. Com base nesse contexto, Márcia poderia montar um workshop com sua equipe, no qual cada um traria uma proposta para as novas ações de gestão de pessoas. A partir desse encontro poderiam começar a definir novos objetivos para a área de recursos humanos, alinhando as práticas dessa área com as estratégias gerais da empresa. Já que se vive um tempo de grandes mudanças sociais e econômicas, nada mais sensato do que começar o processo de transformação e modernização pela área que é responsável pelo comportamento das pessoas. 1.4 Para saber mais Site: Revista Você RH URL: <http://revistavocerh.abril.com.br> Neste site, você vai encontrar diversas informações, artigos e entrevistas sobre a gestão de pessoas nas organizações. Filme: Tempos Modernos Direção: Charles Chaplin Ano: 1936 O filme retrata o que se passa no início do século 20, época da Revolução Industrial, quando a elevação do consumo em massa aumentou o número de trabalhadores nas fábricas, abordando criticamente os principais conceitos da teoria clássica da administração, sobretudo o taylorismo, fonte de muitas das práticas de recursos humanos. Capítulo 1 39 Gestão de Pessoas 1.5 Relembrando Agora, vamos relembrar alguns pontos importantes deste capítulo? Vamos lá, então. Neste capítulo, você aprendeu que: • a gestão de pessoas evoluiu no curso da história sob a influência das teorias administrativas gerando diferentes modelos ao longo do século 20; • a gestão de pessoas comportou, ao longo do século 20, quatro modelos de gestão de pessoas nas organizações: modelo de departamento de pessoal; modelo de comportamento humano; modelo de gestão estratégica de pessoas; modelo de gestão de pessoas baseado nas competências; • as empresas necessitam desenvolver e organizar um modelo de gestão de pessoas que atenda as demandas internas e externas à organização envolvida em um ambiente dinâmico e turbulento; • um modelo de gestão de pessoas diz respeito à forma pela qual uma empresa se organiza para gerenciar e orientar o comportamento humano no trabalho; • uma organização é uma combinação intencional de pessoas e de tecnologia para atingir um determinado objetivo; • a organização, para criar valor maior, precisa visualizar as pessoas como parceiras. Isto significa que as pessoas são fornecedoras de conhecimento, habilidades, competências e capital intelectual. 1.6 Testando os seus conhecimentos Neste item, vamos testar nossos conhecimentos respondendo às questões que seguem. 1) Quais as mudanças que aconteceram no cenário de gestão de pessoas nas organizações no século 20? 2) Como aconteceu a evolução da gestão de pessoas no Brasil? Capítulo 1 40 Gestão de Pessoas 3) Qual o conceito de gestão de pessoas? 4) O que são organizações? Onde encontrar BLAU, P. M.; SCOTT, W. R. Organizações formais: uma abordagem comparativa. São Paulo: Atlas, 1979. CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas. 3. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. DUTRA, J. S. Gestão de pessoas: modelo, processos, tendências e perspectivas. São Paulo: Atlas, 2011. ETZIONI, A. Organizações modernas. São Paulo: Pioneira, 1967. FISCHER, A. L. Um resgate conceitual e histórico dos modelos de gestão de pessoas. In: FLEURY, M. T. L. (Coord.). As pessoas na organização. São Paulo: Gente,2002. GIL, A. C. Gestão de pessoas: enfoque nos papéis profissionais. São Paulo: Atlas, 2001. GIRARDI, D. Da seção de pessoal à gestão estratégica de pessoas: consultoria interna de recursos humanos. Florianópolis: Pandion, 2008. HAMEL, G.; PRAHALAD, C. K. Competindo pelo futuro: estratégias inovadoras para obter o controle do seu setor e criar os mercados de amanhã. 7. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1995. HAMPTON, D. R. Administração contemporânea: teoria, prática e casos. São Paulo: McGraw-Hill, 1980. MILKOVICH, G. T.; BOUDREAU, J. W. Administração de recursos humanos. São Paulo: Atlas, 2000. WOOD JR., T. Mudança organizacional e transformação da função recursos humanos. In: ______. (Coord.). Mudança organizacional: aprofundando temas atuais em administração de empresas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000. p. 239-260. Capítulo 2 41 Gestão de Pessoas GESTÃO DE PESSOAS NO ÂMBITO ORGANIZACIONAL CAPÍTULO 2 2.1 Contextualizando Neste capítulo, você irá refletir sobre a importância de estudar a gestão de pessoas a partir de uma perspectiva estratégica. Desse modo, você compreenderá a relevância de se alinhar a gestão estratégica de recursos humanos com os objetivos e estratégias gerais das organizações. Tendo em vista este contexto, esperamos que, ao final deste capítulo, você seja capaz de: • identificar os principais conceitos de estratégia e planejamento estratégico de gestão de pessoas; • descrever as etapas básicas para o desenvolvimento do planejamento estratégico de gestão de pessoas; • identificar as vantagens de integrar o planejamento estratégico de gestão de pessoas às estratégias organizacionais; • caracterizar os métodos para avaliar a efetividade da estratégia. 2.2 Conhecendo a teoria 2.2.1 Por que estudar gestão de pessoas? A era da informação trouxe muitos desafios para a gestão de pessoas. Isto acabou contribuindo para que os profissionais da área buscassem melhores estratégias na alocação do capital intelectual das pessoas para, assim, alcançarem vantagem competitiva. Capítulo 2 42 Gestão de Pessoas Da mesma forma, o estudo aprofundado dessa função organizacional permite à empresa lançar mão das ferramentas operacionais e estratégicas da gestão de pessoas e, com isso, trazer ganhos adicionais à empresa perante o mercado competitivo. Para completar, a gestão de pessoas está fortemente relacionada com as aspirações de carreiras das pessoas e extrapola o interesse restrito na área de recursos humanos (BOHLANDER; SNELL, 2009). Em outras palavras, significa dizer que seja qual for a área de atuação do profissional, o conhecimento dos processos e ferramentas de gestão é crucial para o seu aprimoramento. Isto porque questões como o preenchimento de cargo na empresa, o projeto de cargos e equipes, o processo de qualificação dos funcionários, a identificação de abordagens para aprimorar o desempenho e recompensar os funcionários são relevantes para todos os gerentes da empresa e não restritas à área de recursos humanos. Para reforçar o tema de que estamos tratando, acompanhe o pensamento de Bohlander e Snell (2009): os autores salientam que trabalhar com pessoas requer a compreensão do comportamento humano e o conhecimento das várias práticas disponíveis para construir uma força de trabalho motivada e qualificada. Além disso, para atingir as metas da empresa, há a necessidade de atenção para com as questões econômicas, tecnológicas, sociais e políticas, que facilitam ou criam obstáculos aos esforços para o alcance das metas organizacionais. Na era da informação, mais do que nunca, as habilidades, o conhecimento e as capacidades das pessoas são os ativos mais distintivos e renováveis nos quais uma empresa pode se basear. “Pode-se obter capital e construir edifícios, mas é preciso pessoas para se montar uma empresa”, afirmou Thomas Watson, fundador da IBM. (BOHLANDER; SNELL, 2009) CURIOSIDADE Capítulo 2 43 Gestão de Pessoas Cabe destacar ainda que “competir por meio de pessoas” (BOHLANDER; SNELL, 2009, p. 3) é uma função que se estende a toda a empresa. A gestão de pessoas deve ajudar a organização a mesclar vários aspectos do gerenciamento global com os desafios competitivos. Com isso, note que ao equilibrar as demandas gerais da organização, a área de recursos humanos desempenha um importante papel na obtenção do melhor das pessoas, propiciando um ambiente de trabalho que atenda suas necessidades de curto e longo prazos. 2.2.2 A importância do planejamento estratégico de gestão de pessoas Muito provavelmente, você já deve ter percebido que, atualmente, a característica mais marcante no ambiente organizacional é a mudança (ALBUQUERQUE, 2002). As transformações nas empresas, e também na sociedade, são profundas e ocorrem em ritmo acelerado. Resultado disso: as inovações tecnológicas, a globalização da economia e a acirrada competitividade entre as empresas acabam por gerar impactos relevantes sobre a gestão das organizações, sobretudo na área de recursos humanos. Inclusive, para Albuquerque (2002), um dos impactos mais expressivos dessas mudanças diz respeito ao aumento do nível de qualificação e de conhecimento exigidos dos profissionais com implicação direta nos modelos utilizados na sua administração. Perspectiva histórica da gestão estratégica de pessoas Albuquerque (2002) também ressalta que a preocupação com a dimensão estratégica tem ocupado um espaço central nas discussões empresariais, nos debates acadêmicos e na literatura de administração. Este fato tem relação com a competição acirrada exacerbada pela globalização social e econômica, bem como com a acelerada revolução tecnológica. Capítulo 2 44 Gestão de Pessoas DEFINIÇÃO O termo estratégia apresenta diferentes definições, configurando, em certo sentido, um processo evolutivo de adaptação das organizações ao ambiente interno e externo. Historicamente, a origem do conceito de estratégia encontra-se no campo militar. A palavra tem origem no grego strategos, arte de um general do exército. No campo da administração, está associada às decisões tomadas em nível organizacional para estabelecerem as condições presentes e futuras da empresa em relação ao ambiente (SOUZA, 1999). Albuquerque (2002) chama atenção para o fato de o termo estratégia ser utilizado sob diversos sentidos: ora significando expectativas e anseios, ora ações prescritivas, ora expressando a perplexidade das pessoas diante das mudanças no ambiente e seus impactos sobre a gestão organizacional. E o que propõe o autor diante disso? Ele defende: faz-se necessária uma discussão dos conceitos de estratégia, gestão estratégica e recursos humanos a partir de uma perspectiva evolutiva. Ainda mais que o campo de estudos da estratégia empresarial é relativamente recente na administração. Sua emergência se deu na década de 1980, consolidando-se, principalmente, na década de 1990. Nessa perspectiva histórica, note que alguns momentos são significativos, conforme Zacarelli (1996, apud ALBUQUERQUE, 2002): • 1965 – ano considerado o marco histórico no estudo da estratégia nas empresas, com o lançamento do livro de Igor Ansoff com ênfase no planejamento estratégico; • década de 1980 – lançamento das obras de Michael Porter, disseminando novos conceitos de estratégia e competitividade no âmbito empresarial e das nações; • década de 1990 – publicação do livro The rise and fall of strategic planning, de Henry Mintzberg, autor renomado na área de administração. Capítulo 2 45 Gestão de Pessoas Henry Mintzberg, nascido em 1939, é um autor muito produtivo, escrevendo sobre estratégia de gerência e de negócios, com mais de 140 artigos publicados e treze livros no seu nome. Em seu livro A ascensão e a queda do planejamento estratégico, realizou uma crítica sobre o planejamento estratégico, que, segundo ele, fica desatualizado assim que terminado. Ele é professor de
Compartilhar