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Tema 1 - Sistema de Normas

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Material Teórico 
Direito Civil 
Parte Geral 
 
Tema 1 
Sistema de Normas no Direito 
Brasileiro 
cod Civil_PGeral1706_a01 
Conteudista Responsável: Profª Marlene Lessa 
 
 
2 
 
 
Introdução 
 
 
O ser humano é cercado por regras que são a base 
de comportamentos verificados na própria natureza: 
das mais simples reações químicas até os mais 
diversos mistérios que constituem a matéria. 
 
Tanto os fenômenos naturais como os 
comportamentos humanos seguem padrões que 
merecem relevância. 
 
Toda norma se constitui como resultado da 
observação de comportamentos que se repetem e 
dão origem à uma “regra abstrata”. 
 
As normas de cunho físico e de cunho ético são as que captam a atenção do 
ser humano, dada a relevância que possuem para as sociedades e para seu 
futuro. 
 
Interessa, para nossa aula, as normas de comportamento humano, eis que 
serão estas as que tratam da sociedade. Estão elas dispostas, desde os 
primórdios da civilização, como padrão do homem médio, como o ideal do 
corpo societário, como o “dever ser” do comportamento individual frente ao 
social. 
 
As normas jurídicas, por sua vez, são caracterizadas, no que tange à sua 
incidência, pela determinação e obrigatoriedade de seus comandos. Para 
Ritinha A. S. Georgakilas “em outras palavras, se considerarmos a norma do 
direito positivo como um signo discursivo,veremos que existe algo de muito 
peculiar na situação comunicativa que se instaura, a partir do momento em que 
a norma está apta a incidir, podendo produzir os seus efeitos típicos, 
vinculativos. Este “algo” peculiar, que distingue a situação comunicativa 
normativa das demais espécies de comunicação humana, vem a ser, 
justamente, a imperatividade da norma, ou seja, a obrigatoriedade da 
obediência aos seus comandos pelas pessoas a quem eles se dirigem”1. 
 
 
 
 
Direito é a palavra que revela aquele que não se 
desvia, que mantém o curso reto, que se encaixa 
no padrão, no caso, da norma. 
 
 
 
 
 
1 FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Constituição de 1988: legitimidade, vigência e eficácia, supremacia / 
Tercio Sampaio Ferraz Júnior, Maria Helena Diniz, Ritinha Alzira Stevenson Georgakilas. – São Paulo: 
Atlas, 1989, p. 98. 
 
3 
 
 
 
Daí podermos afirmar que Direito é o conjunto de 
normas jurídicas e se destina a promover o 
controle da sociedade, permitindo que haja 
adequada inserção do indivíduo no corpo social. 
 
 
 
O Direito permite a pacificação social, a medida que traça regras que delimitam 
a esfera individual de cada um, em respeito ao seu próximo, impondo sanções 
em caso de descumprimento. O Direito organiza o ente social ao proporcionar: 
estabilidade nas relações jurídicas, direção para objetivos de alcance social e 
atendimento das necessidades humanas. 
 
Nas palavras de Tercio Sampaio Ferraz Júnior: “a ciência dogmática do direito 
costuma encarar seu objeto, o direito posto e dado previamente, como um 
conjunto compacto de normas, instituições e decisões que lhe compete 
sistematizar, interpretar e direcionar, tendo em vista uma tarefa prática de 
solução de possíveis conflitos que ocorram socialmente. O jurista 
contemporâneo preocupa-se, assim, com o direito que ele postula ser um todo 
coerente, relativamente preciso nas suas determinações, orientado para uma 
ordem finalista, que protege a todos indistintamente2.”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
É sabido, que foi entregue ao Estado. O Poder Legislativo tem a atribuição 
constitucional, no Brasil, de elaborar as leis velando pela sua conformação com 
o sistema jurídico vigente. 
 
A lei, no nosso país, é uma norma escrita e aprovada por um processo 
legislativo que tramita perante o Poder Legislativo. 
 
Nos lembra Kelsen que “norma é o sentido de um ato através do qual uma 
conduta é prescrita, permitida ou, especialmente, facultada, no sentido de 
adjudicada à competência de alguém3”. 
 
 
2 FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Introdução do estudo do direito – técnica, decisão, dominação. São 
Paulo: Altas, 1988, p. 83. 
3 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1987, p.5. 
A quem foi incumbida a 
tarefa de discutir e 
aprovar estas regras tão 
importantes ao ser 
humano no ente social? 
 
 
4 
 
Ainda, conforme as lições de Tércio Sampaio Ferraz Júnior4 “todo ato de 
legislação, realizado pelo poder competente e obedecidos os requisitos do 
ordenamento, é lei. (...) Leis materiais são caracterizadas por sua natureza 
(produção solene e institucionalizada de normas gerais) e leis formais ou 
caracterizadas pela forma (conteúdos que adquirem o caráter de lei porque 
obedecem à sua forma de produção)”. 
 
Enfatiza, também, Miguel Reale que “lei, no sentido técnico da palavra, só 
existe quando a norma escrita é constitutiva de direito, ou esclarecendo melhor, 
quando ela induz algo de novo com caráter obrigatório no sistema jurídico em 
vigor, disciplinando comportamentos individuais ou atividades públicas5”. 
 
As leis brasileiras passam por controle orgânico, sendo elaboradas de acordo 
com ditames constitucionais. Estudaremos a importância das leis e suas 
facetas neste encontro. 
 
 
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro 
 
 
O Decreto 4.657, de 1942 é o diploma que estabeleceu todo o regime de 
princípios norteadores das leis e normas do direito. 
 
A denominação “Lei de Introdução ao Código Civil” foi utilizada por conta do 
então Código de 1916 que tratava de um código de normas (ou “a lei das 
leis”) em seu início. Posteriormente alterada pelo Decreto de 1942, não perdeu 
o caráter de regular situações jurídicas de todos os ramos do nosso 
ordenamento. Em 2010, com o advento da Lei 12.376/10, passou a ter 
expresso reconhecimento para alcance de todos os tipos normativos e não 
apenas no ramo do Direito Civil, como alguns argumentavam - que era o que 
lhe conferia o nome. Atualmente recebe o nome de LINDB, Lei de Introdução 
às Normas do Direito Brasileiro. 
 
 
A função primordial da LINDB é explicitar a aplicação das normas em nosso 
sistema jurídico, como nos ensina a Prof. MARIA HELENA DINIZ6: 
 
1. Início da obrigatoriedade legal – art.1o 
2. Tempo da obrigatoriedade legal – art. 2o; 
3. Eficácia da Ordem Jurídica – art. 3o; 
4. Integração de lacunas – art. 4o; 
5. Interpretação – art. 5o; 
6. Direito Intertemporal – art.6o; 
7. Direito Internacional Privado brasileiro – arts. 7º a 17; 
8. Atos civis, no estrangeiro, das autoridades consulares brasileiras – arts. 
18 e 19; 
 
 
4 FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Introdução do estudo do direito – técnica, decisão, dominação. São 
Paulo: Altas, 1988, p. 211. 
5 REALE, Miguel. Lições Prelimianres de Direito. – 17 ed rev e atual – São Paulo: Saraiva, 1990, p.163. 
6 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1989, p.45. 
 
5 
 
Início da Obrigatoriedade Legal 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em 
todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente 
publicada. 
 
 
 
Vigência 
 
É a aptidão para a lei incidir, para dar significação jurídica aos fatos. 
 
Se a Lei é vigente, ocorrem os fatos e efeitos nela previstos. A lei é apta para 
incidir sobre a sociedade. Se a lei é vigente sua observância é obrigatória. 
 
Para Hans Kelsen “a norma pode valer (ser vigente) quando o ato de vontade 
de que ela constitui o sentido já não mais existe”7. 
 
Nas lições de Miguel Reale8 “a vigência ou validade formal é a executoriedade 
compulsória de uma regra de direito, por haver preenchido os requisitos 
essenciais à sua feitura ou elaboração (...) o primeiro (requisito) se refere à 
ordem das competências do poder político, legitimidade do órgão emanador da 
regra. É necessário que o órgão que promulgou a regra tenha legitimidade pra 
fazê-lo,por ter sido constituído para tal fim”. 
 
Há ainda uma importante conceituação de Maria Helena Diniz no que diz 
respeito à vigência, a saber, “designaria, então, a existência específica da 
norma em determinada época, caracterizando o preceito normativo, que rege 
relações sociais aqui e agora (hic et nunc)9”. 
 
Também é necessário que tenha a competência para legislar sobre a matéria 
enfocada e que o procedimento de elaboração da lei tenha sido respeitado. 
 
 
 
 
 
 
 
7 KELSEN, Hans. Op. cit p. 11. 
8 REALE, Miguel. Op. cit p. 108. 
9 FERRAZ, Júnior; Tércio Sampaio. Constituição de 1988: legitimidade, vigência e eficácia, supremacia / 
Tercio Sampaio Ferraz Júnior, Maria Helena Diniz, Ritinha Alzira Stevenson Georgakilas. – São Paulo: 
Atlas, 1989, p.68. 
 
6 
Elaboração da Lei 
 
A lei para poder incidir deve ser submetida a processo de elaboração. A Lei 
Complementar 95/1998 determina as regras para estruturação legal: 
 
 
Art. 3o A lei será estruturada em três partes básicas: 
I - parte preliminar, compreendendo a epígrafe, a ementa, o preâmbulo, 
o enunciado do objeto e a indicação do âmbito de aplicação das 
disposições normativas; 
II - parte normativa, compreendendo o texto das normas de conteúdo 
substantivo relacionadas com a matéria regulada; 
III - parte final, compreendendo as disposições pertinentes às medidas 
necessárias à implementação das normas de conteúdo substantivo, às 
disposições transitórias, se for o caso, a cláusula de vigência e a 
cláusula de revogação, quando couber. 
 
Art. 8o A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a 
contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, 
reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as 
leis de pequena repercussão. 
 
§ 1o A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que 
estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da 
publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia 
subsequente à sua consumação integral. 
§ 2o As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a 
cláusula ‘esta lei entra em vigor após decorridos (o número de) dias de 
sua publicação oficial. 
 
Art. 9o A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as 
leis ou disposições legais revogadas. 
 
 
 
Assim, a lei federal formalmente elaborada, incide sobre todo o território 
nacional. Alguns doutrinadores apontam esta incidência nacional da lei como 
resultado do “princípio da vigência síncrona” da lei, a saber, ao mesmo 
tempo ela deve ser obedecida no Brasil e onde for obrigatória a norma 
brasileira no exterior. 
 
 
Prazo 
 
Se nada estiver estipulado a lei começa a viger 45 dias após sua publicação. 
 
No estrangeiro o prazo é de 3 (três) meses: 
 
 
 
LINDB, Art. 1O, § 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei 
brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente 
publicada. 
 
 
 
7 
 
 
Vacatio Legis 
 
É a “vacância da lei”, ou seja, o período, o lapso temporal entre a 
PUBLICAÇÃO da lei (em Diário Oficial) e sua vigência. Não adianta a lei ser 
publicada e todos desconhecerem seu conteúdo - no mundo real. Para que a 
coletividade possa ser cientificada da lei há este prazo para cumprimento do 
preceito que vigorará. 
 
 
LINDB, Art. 1O, § 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova 
publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e 
dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação. 
§ 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. 
 
 
Interessante é observação do fenômeno descrito por Kelsen acerca da 
cronologia entre a vigência e a eficácia da norma jurídica: “uma norma jurídica 
entra em vigor antes ainda de se tornar eficaz, isto é, antes de ser seguida e 
aplicada. (...) Porém uma norma jurídica deixa de ser considerada válida 
quando permanece por muito tempo ineficaz. A eficácia é, nesta medida, 
condição da vigência, visto que ao estabelecimento de uma norma deve seguir 
a sua eficácia para que ela não perca sua vigência”. 
 
Acerca da eficácia da norma, deve ser enfatizado que esta qualidade “diz 
respeito às condições fáticas, axiológicas e técnicas da atuação da norma 
jurídica. A eficácia vem a ser a qualidade do preceito normativo vigente de 
produzir efeitos jurídicos concretos, supondo, não só a questão de sua 
condição técnica de aplicação, observância ou não, pelas pessoas a quem se 
dirige, mas também de sua adequação em face da realidade social, por ele 
disciplinada, e aos valores vigentes nesta sociedade10” (como Maria Helena 
Diniz bem detalha). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10FERRAZ, Júnior. Tércio Sampaio. Constituição de 1988: legitimidade, vigência e eficácia, supremacia / 
Tercio Sampaio Ferraz Júnior, Maria Helena Diniz, Ritinha Alzira Stevenson Georgakilas. – São Paulo: 
Atlas, 1989, p. 68. 
 
8 
 
Tempo da Obrigatoriedade Legal 
 
 
Caracteriza o caráter temporal, o período em que 
uma lei está em vigor - já que ela pode ser criada 
para existir durante certo período (que são as 
chamadas leis de vigência temporária) ou por 
período indeterminado (que são as leis de vigência 
permanente). 
 
 
LINDB - Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá 
vigor até que outra a modifique ou revogue. 
§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, 
quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a 
matéria de que tratava a lei anterior. 
§ 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par 
das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. 
§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por 
ter a lei revogadora perdido a vigência. 
 
 
 
Portanto, o tempo da lei rege sua vigência. Na lei temporária, finalizado seu 
prazo de “validade”, ela também cessará. Ex. leis orçamentárias. 
 
Na lei permanente ela só deixará de existir se for REVOGADA (Princípio da 
Continuidade). 
 
Há que se esclarecer que uma norma, mesmo que não esteja mais em vigor, 
poderá continuar vinculando seus destinatários, uma vez que já teve seus 
efeitos cumpridos no mundo concreto, em atendimento ao art. 6o. Da LINDB e 
à Constituição Federal (art. 5o, XXXVI). 
 
Revogação 
 
É o fim, a extinção da norma, a perda da vigência da lei. Ela se torna sem 
efeito, sem obrigatoriedade. Espécies de revogação: 
 
a. TOTAL ou “ab-rogação” – Exemplo: Lei 10.406/2002 – Novo Código 
Civil revogou totalmente a Lei 3.071/1916, o antigo Código Civil e a 
Primeira Parte da Lei 556/1850, o Código Comercial. 
 
b. PARCIAL ou “derrogação” – Exemplo: Lei 11.698 de 2008 revogou 
parcialmente o Novo Código Civil nos artigos 1583 e 1584, mas atribuiu 
a esses artigos nova redação, sobre a guarda compartilhada. 
 
A revogação só existe se há conflito entre os textos das normas. Se o conteúdo 
se complementa ou um detalha o que o outro generaliza não é caso de 
revogação. A revogação expressa define quais leis ou disposições legais ela 
está revogando (art. 9o. da Lei Complementar 95/98), enquanto a tácita 
 
9 
incompatibiliza o texto anterior com o posterior, prevalecendo o que a lei nova 
modificou. 
Repristinação 
 
É o “restabelecimento” da lei revogada. Ele é vedado, em regra, no nosso 
ordenamento jurídico. Está detalhado no § 3o do art. 2o da LINDB: 
 
 
 
A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já 
existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. 
 
 
 
 
Eficácia da Ordem Jurídica 
 
 
 
 
Para que o ordenamento jurídico seja eficaz, 
ele deve ser obedecido. 
 
 
 
 
Diz Miguel Reale que “reconhecido o Direito, é ele incorporado à maneira de 
ser e de agir da coletividade (...) Não há norma jurídica sem um mínimo de 
eficácia, de execução ou aplicação no meio do grupo. (...) a regra de direito 
deve, por conseguinte, ser formalmente válida e socialmente eficaz”11. 
 
Arremata TheodorViehweg12, que é possível utilizar a tópica como técnica de 
argumentação na análise da vigência e eficácia de uma norma. A tópica, neste 
caso “é uma técnica que busca assinalar sugestões, indicar possibilidades, 
desvendando caminhos ou vias, tendo por finalidade uma decisão”. Para saber 
se uma lei mostra-se eficaz são enfatizadas “premissas (topoi), sistemas e 
fundamentos que levam a uma conclusão plausível, mas não única”. Portanto, 
o interessado é levado a conhecer – de modo dinâmico, o conjunto de 
condições que estão sendo utilizadas – mas permitindo que o mesmo seja 
adaptado e maleável à outras mudanças necessárias.”. 
 
A eficácia vem a ser a qualidade do preceito normativo vigente de produzir 
efeitos concretos, supondo, não só a questão de sua condição técnica de 
aplicação, observância, ou não, pelas pessoas a quem se dirige, mas também 
de sua adequação em face da realidade social, por ele disciplinada, e aos 
valores vigentes nessa sociedade. (...) 
 
 
 
 
11 MIGUEL, Reale. Op. cit. p. 113. 
12 VIEHWEG, Theodor apud DINIZ, Maria Helena. FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Constituição de 
1988: legitimidade, vigência e eficácia, supremacia / Tercio Sampaio Ferraz Júnior, Maria Helena Diniz, 
Ritinha Alzira Stevenson Georgakilas. – São Paulo: Atlas, 1989, p 84. 
 
10 
 
Por exemplo, a lei que determina a possibilidade de utilização de equipamento 
de vigilância indireta de condenado (tornozeleira eletrônica) – Lei 12.258/2010: 
a eficácia do uso de equipamento de monitoração eletrônica está sempre 
passando por aperfeiçoamentos para verificar se há condições, na realidade, 
de abranger mais pessoas condenadas que devem ficar à parte do sistema 
carcerário, mas com restrições à liberdade. O uso da tópica é relevante para 
soluções. Havendo perguntas, que ficam sempre abertas, há condições de se 
indicar mais premissas e, deste modo, ajustar às mudanças comportamentais 
do grupo social em questão. 
 
Em sentido técnico a eficácia de uma norma indica que ela teria possibilidade 
de ser aplicada, de produzir efeitos jurídicos, porque foram cumpridas as 
condições para isto requeridas (eficácia jurídica), sem que haja qualquer 
relação de dependência de sua observância ou inobservância pelos seus 
destinatários. 
 
Daí a necessidade de APLICAÇÃO DA LEI no mundo fático. 
 
 
 
Lei 
 
Neste contexto, pode ser definida como uma regra geral de direito, abstrata e 
permanente, dotada de sanção, expressa pela vontade de uma autoridade 
competente, de cunho obrigatório e forma escrita (VENOSA13). 
 
 
 
 
LINDB - Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que 
não a conhece. 
 
 
 
 
A publicação da lei tem como finalidade marcar o momento de obrigatoriedade 
da lei. Publicar é tornar conhecido, público. A publicação determina que não 
será aceita a desculpa de ignorância do conteúdo legal14. 
 
Entre a publicação da lei e o prazo de vigência, temos a vacância da lei 
(vacatio legis), como vimos, para preparar a população para cumprir as 
exigências ou determinações que lhe serão impostas. 
 
Exemplo: Necessidade de uso de farol baixo, durante o dia – Lei 13.290/2016 -
foi aprovada e publicada em Diário Oficial em 24 de maio de 2016 e entrou em 
vigor 45 dias depois para todos os motoristas se adaptarem. 
 
 
 
13 VENOSA, Sílvio de Salvo.Direito Civil:parte geral – 2a ed. – São Paulo: Altas, 2002, p.37. – (Coleção 
direito civil; V.1). 
14 É o princípio da irrelevância do desconhecimento da lei, o qual afasta a “exceptio ignorantiae juris”. 
 
11 
Integração de Lacunas 
 
 
Nem toda a situação jurídica pode ser antecipada pelo 
legislador ou prevista pela lei. E então, como agir em 
caso de omissão, falta de previsão da lei? 
 
Podemos exemplificar a questão dos danos causados por 
“hackers”, questões sobre “barriga de aluguel”, aplicação 
de células tronco, enfim, um infinito mundo de novos fatos 
e conflitos que podem ocasionar dúvidas sobre a aplicação 
da lei. 
 
Como o Poder Judiciário não pode se eximir de julgar, em observância ao 
Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição, há um sistema para equacionar os 
possíveis “brancos” na legislação. 
 
O artigo 4o da LINDB justamente aponta para a Teoria das Lacunas: 
 
 
Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a 
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
 
 
 
 
Analogia 
 
É o processo de raciocínio lógico pelo qual o juiz estende o preceito legal a 
casos não diretamente compreendidos na descrição legal (VENOSA)15. 
 
Por exemplo, no caso da lei de arrendamento mercantil ou leasing, aplica-se o 
instituto da compra e venda e locação caso haja omissão de previsão expressa 
no caso concreto (analogia legal). 
 
Em havendo dificuldade para encontrar textos semelhantes é possível extrair 
de um complexo de normas a razão de identidade entre a norma encontrada e 
o caso a ser solucionado (analogia jurídica). 
 
Exemplo: mesmo antes de haver o Código Civil (1916) era utilizado o Decreto 
No. 2.681/1912 (das estradas de ferro) para casos em que se precisava aferir 
indenizações decorrentes de responsabilidade civil e culpa (art. 20 do Decreto). 
 
Portanto, como leciona Maria Helena Diniz16 “para integrar lacunas o juiz 
recorre, preliminarmente, à analogia, que consiste em aplicar, a um caso não 
regulado de modo direto ou específico por uma norma jurídica, uma prescrição 
normativa prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não 
contemplado, fundando-se na identidade do motivo da norma e não na 
identidade do fato”. 
 
 
15 VENOSA, Sílvio de Salvo. Op. Cit. p.48. 
16 DINIZ, Maria Helena. As lacunas do Direito – 2 ed aum e atual – São Paulo: Saraiva, 1989, p.142. 
 
12 
Costume 
 
Significa aplicar o uso e a convicção jurídica, sendo portanto a norma jurídica 
que deriva da longa prática uniforme, constante, pública e geral de determinado 
ato com a convicção de sua necessidade (MARIA HELENA DINIZ)17. 
 
Podem ser secundum legem (aqueles previstos na lei); praeter legem (aquele 
que não está previsto na lei, mas é admitido em caráter supletivo). Exemplo: 
cheque pós-datado = o cheque é ordem de pagamento à vista, mas tornou-se 
costume a sua emissão pós-datada; contra legem (aquele se forma em 
sentido contrário à lei) - SHIKICIMA18. 
 
Miguel Reale afirma que o costume jurídico é caracterizado por elementos 
fundamentais: “um é a repetição habitual de um comportamento durante certo 
período de tempo; o outro é a consciência social da obrigatoriedade deste 
comportamento (tal conduta é vista como necessária ou conveniente ao 
interesse social). De maneira mais objetiva poderíamos dizer que um costume 
adquire a qualidade de costume jurídico quando passa a se referir 
intencionalmente a valores do Direito, tanto para realizar um valor positivo, 
considerado de interesse social, como para impedir a ocorrência de um valor 
negativo, um desvalor”19. 
 
Alf Ross20 enfatiza que os costumes deram origem às regras tradicionais que o 
juízes se utilizavam para julgar, mas que aos poucos situações novas exigiram 
que os julgadores fossem descobrindo o que era adequado e correto para ser 
aplicado: “o costume é o ponto de partida natural da evolução jurídica (...). Uma 
decisão norueguesa refere-se ao caso do proprietário de um sítio em Trysil que 
apresentou uma demanda sustentando que, segundo o costume daquela 
região, os pequenos proprietários tinham o direito de se apropriarem da 
madeira caída que se encontrava em terra alheia. A existência desse costume 
não foi aceita”. Conclui o doutrinador que este caso seria um típico exemplo de 
costume jurídico, se tivesse sido acolhido. Não o foi porque o que regula a 
propriedade é a lei. 
 
 
Princípios Gerais de Direito 
 
São as regras antiquíssimas que se originam de valores e fundamentos 
inseridos, implícita ou explicitamente, nas sociedades de que se temnotícia e 
que acabaram se incorporando ao nosso sistema jurídico. 
 
Roberto Senise Lisboa nos lembra que se resumem a: honestae vivere (viver 
de modo honesto); neminem laedere (não prejudicar ou lesionar o próximo) e 
suum cuique tribuere (dar a cada um o que é seu). 
 
 
17 DINIZ,Maria Helena. Op. Cit.p. 55. 
18 SHIKICIMA, Nelson Sussumu et al. Direito civil – 3.ed. rev., ampl. e atual. – São Paulo: DJP Editora, 
2008. – Coleção lições do direito para exame da OAB. 
19 REALE, Miguel. Op. cit. p. 158. 
20 ROSS, Alf. Direito e Justiça – tradução Edson Bini – revisão técnica Alysson Leandro Mascaro – Bauru, 
SP: EDIPRO, 2000. p. 121. 
 
13 
Pablo Jimenez Serrano21 aponta outros cuja relevância os incorporou ao nosso 
sistema legal: “A ignorância da lei não exime de seu cumprimento”; “ninguém 
deve fazer justiça com as próprias mãos”; “liberdade é a faculdade natural de 
agir livremente em tudo o que a lei não proíbe”. Podemos, ademais, 
exemplificar a aplicabilidade de outros princípios gerais: 
 
Por exemplo: a Teoria da Aparência e o princípio da segurança jurídica. 
 
No próprio direito administrativo, a teoria da aparência encontra aplicação, 
como acontece em relação ao funcionário de fato, cuja validade de seus atos é 
reconhecida em relação aos terceiros de boa-fé. Na verdade a exigência da 
preservação da segurança das relações jurídicas e o registro da boa-fé de 
terceiro devem justificar o acolhimento da teoria da aparência22(NERY). 
 
 
 
Interpretação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
É o método no qual é perseguido o significado e o alcance da lei que se 
pretende aclarar, detalhar. Interpretar compreende aplicar “a hermenêutica” 
jurídica, ou seja, realizar uma atividade lógica de aplicação de regras e normas 
que solucionarão um caso concreto. As regras viabilizam entender o significado 
da norma, sem acrescentar, sem inovar, sem exceder o sentido legal. 
 
 
Segundo Pablo Jimenez Serrano23 a interpretação “é o processo pelo qual se 
determina o sentido e alcance da norma, ao ser identificada com uma relação 
jurídica. A hermenêutica é parte da ciência jurídica que tem por objeto o estudo 
e a sistematização de processos interpretativos.” 
 
A doutrina24 aponta como Métodos de Interpretação: a verificação gramatical 
(pelo sentido, pela etimologia e sintaxe das palavras), o histórico (comparação 
entre os projetos de lei, debates parlamentares, enfim, a história da aprovação 
da norma), sistemático (leva em conta todo o regramento, o conjunto, e não a 
norma isoladamente considerada) e o teleológico (o fim, o objetivo da norma): 
 
 
 
21 SERRANO, Pablo Jimenez. Interpretação jurídica – 1 ed – São Paulo: Desafio Cultural, 2002, p.66. 
22 NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Novo código civil e legislação extravagante 
anotados: atualizado - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 1081. 
23 SERRANO, Pablo Jimenez. Op. cit. p. 21. 
24 Já mencionada: Maria Helena Diniz, Silvio Venosa, Ada Pellegrini Grinover. 
 
14 
 
 
 
Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se 
dirige e às exigências do bem comum. 
 
 
 
 
Direito Intertemporal 
 
 
Está previsto no art. 6o da LINDB. Envolve entendermos a 
regra de IRRETROATIVIDADE da lei. 
 
Então, uma nova lei que entra em vigor gera seus efeitos a 
todos (efeito geral) IMEDIATAMENTE, como regra. 
 
 
Exceção: A lei deve respeitar o ATO JURÍDICO PERFEITO, o DIREITO 
ADQUIRIDO e a COISA JULGADA: 
 
 
 
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato 
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. 
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei 
vigente ao tempo em que se efetuou. 
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou 
alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício 
tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio 
de outrem. 
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que 
já não caiba recurso. 
 
 
 
 
Vejamos os exemplos... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
RE 205193 / RS - RIO GRANDE DO SUL 
RECURSO EXTRAORDINÁRIO 
Relator(a): Min. CELSO DE MELLO 
Julgamento: 25/02/1997 Órgão Julgador: Primeira Turma 
 
E M E N T A: RECURSO EXTRAORDINÁRIO - CADERNETA DE 
POUPANÇA - CONTRATO DE DEPÓSITO VALIDAMENTE 
CELEBRADO - ATO JURÍDICO PERFEITO - INTANGIBILIDADE 
CONSTITUCIONAL - CF/88, ART. 5º, XXXVI - 
INAPLICABILIDADE DE LEI SUPERVENIENTE À DATA DA 
CELEBRAÇÃO DO CONTRATO DE DEPÓSITO, MESMO 
QUANTO AOS EFEITOS FUTUROS DECORRENTES DO 
AJUSTE NEGOCIAL - RE NÃO CONHECIDO. CONTRATOS 
VALIDAMENTE CELEBRADOS - ATO JURÍDICO PERFEITO - 
ESTATUTO DE REGÊNCIA - LEI CONTEMPORÂNEA AO 
MOMENTO DA CELEBRAÇÃO. - Os contratos submetem-se, 
quanto ao seu estatuto de regência, ao ordenamento normativo 
vigente à época de sua celebração. Mesmo os efeitos futuros 
oriundos de contratos anteriormente celebrados não se expõem 
ao domínio normativo de leis supervenientes. As consequências 
jurídicas que emergem de um ajuste negocial válido são regidas 
pela legislação em vigor no momento de sua pactuação. Os 
contratos - que se qualificam como atos jurídicos perfeitos (RT 
547/215) - acham-se protegidos, em sua integralidade, inclusive 
quanto aos efeitos futuros, pela norma de salvaguarda constante 
do art. 5º, XXXVI, da Constituição da República. Doutrina e 
precedentes. INAPLICABILIDADE DE LEI NOVA AOS EFEITOS 
FUTUROS DE CONTRATO ANTERIORMENTE CELEBRADO - 
HIPÓTESE DE RETROATIVIDADE MÍNIMA - OFENSA AO 
PATRIMÔNIO JURÍDICO DE UM DOS CONTRATANTES - 
INADMISSIBILIDADE. - A incidência imediata da lei nova sobre os 
efeitos futuros de um contrato preexistente, precisamente por 
afetar a própria causa geradora do ajuste negocial, reveste-se de 
caráter retroativo (retroatividade injusta de grau mínimo), 
achando-se desautorizada pela cláusula constitucional que tutela 
a intangibilidade das situações jurídicas definitivamente 
consolidadas. Precedentes. LEIS DE ORDEM PÚBLICA - 
RAZÕES DE ESTADO - MOTIVOS QUE NÃO JUSTIFICAM O 
DESRESPEITO ESTATAL À CONSTITUIÇÃO - PREVALÊNCIA 
DA NORMA INSCRITA NO ART. 5º, XXXVI, DA CONSTITUIÇÃO. 
- A possibilidade de intervenção do Estado no domínio econômico 
não exonera o Poder Público do dever jurídico de respeitar os 
postulados que emergem do ordenamento constitucional 
brasileiro. Razões de Estado - que muitas vezes configuram 
fundamentos políticos destinados a justificar, pragmaticamente, ex 
parte principis, a inaceitável adoção de medidas de caráter 
normativo - não podem ser invocadas para viabilizar o 
descumprimento da própria Constituição. 
 
 
 
16 
As normas de ordem pública - que também se sujeitam à cláusula 
inscrita no art. 5º, XXXVI, da Carta Política (RTJ 143/724) - não 
podem frustrar a plena eficácia da ordem constitucional, 
comprometendo-a em sua integridade e desrespeitando-a em sua 
autoridade. 
Indexação 
CV1642, CORREÇÃO MONETÁRIA, ÍNDICE DE ATUALIZAÇÃO, 
CADERNETA DE POUPANÇA, EFEITOS FUTUROS, LEI NOVA, 
INAPLICAÇÃO, ATO JURÍDICO PERFEITO, 
RECONHECIMENTO. 
 
 
 
 
SÚMULA VINCULANTE No.1 (STF): Ofende a garantia constitucional do ato 
jurídico perfeito a decisão que, sem ponderar as circunstâncias do caso 
concreto, desconsidera a validez e a eficácia de acordo constante de termo de 
adesão instituído pela Lei Complementar 110/2001. 
 
Para saber mais sobre este assunto: 
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/jurisprudenciaSumulaVinculante/anexo/SUV_01_02_03__Debates.pdf 
 
 
 
Direito Internacional Privado Brasileiro 
 
A LINDB vai tratar também, de regras que nosso país impõe à casos em que 
pode haver mais de duas legislações regendo uma determinada situação 
jurídica. O Brasil, por sua lei, vem dar limites ao ordenamento jurídico alheio. É 
uma forma de equacionar as relações jurídicas - de interesse do país - no 
cenário internacional. 
 
É sabido que existem fatos jurídicosque suplantam limites territoriais dos 
países. Portanto, nossa legislação vem suprir isso e regulamentar certos casos. 
 
A LINDB destina-se a apontar a resolução destas situações frente a conflitos 
entre normas internas e internacionais, considerando que a maior parte das 
relações jurídicas regulamentadas pelo Direito Internacional Privado tem 
natureza civil. 
 
 
 
Portanto, os arts.7 a 17 da LINDB destinam-se a regular as 
situações em que leis de países estrangeiros e leis 
brasileiras são aplicadas em relações jurídicas que não 
coincidem exatamente com seus espaços territoriais ou 
fronteiras. 
 
 
 
 
 
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/jurisprudenciaSumulaVinculante/anexo/SUV_01_02_03__Debates.pdf
 
17 
 
São exemplos da eficácia da lei no espaço: herdeiro brasileiro possui bens 
localizados em diversos países – pode ser aplicada nossa lei; empresas 
nacionais que celebram contrato com empresas estrangeiras para cumprimento 
de obrigações em certo país - pode ser aplicada nossa lei ou a do local em 
que foi realizado o negócio, etc. 
 
São basicamente os princípios que regem tais questões: o da Territorialidade 
(a norma se restringe ao território do país em que foi aprovada) e o da 
Extraterritorialidade (a norma estrangeira pode ser aplicada por outros países 
em seus territórios, em casos específicos). 
 
O nosso país adotou o Princípio da Territorialidade Moderada, ou seja, o 
Brasil mescla os dois princípios acima, permitindo aplicação de norma 
estrangeira com relação ao “estatuto pessoal” do estrangeiro (ou seja, a 
situação jurídica do estrangeiro é considerada pela lei de seu país de origem, 
obedecendo, entretanto, o art. 17 da LINDB - soberania nacional, ordem 
pública e bons costumes). 
 
 
Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras 
sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os 
direitos de família. 
§ 1o Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira 
quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração. 
§ 2o O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante 
autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes. 
§ 3o Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade 
do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal. 
§ 4o O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em 
que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro 
domicílio conjugal. 
§ 5º O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante 
expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega 
do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime 
de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e 
dada esta adoção ao competente registro. 
§ 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges 
forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano 
da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação 
judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito 
imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das 
sentenças estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça, na 
forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do 
interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de 
sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem 
a produzir todos os efeitos legais. (Redação dada pela Lei nº 12.036, 
de 2009). 
§ 7o Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-
se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou 
curador aos incapazes sob sua guarda. 
§ 8o Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada 
no lugar de sua residência ou naquele em que se encontre. 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12036.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12036.htm#art2
 
18 
Art. 8o Para qualificar os bens e regular as relações a eles 
concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados. 
§ 1o Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, 
quanto aos bens moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte 
para outros lugares. 
§ 2o O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja 
posse se encontre a coisa apenhada. 
 
Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país 
em que se constituírem. 
§ 1o Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo 
de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades 
da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato. 
§ 2o A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar 
em que residir o proponente. 
 
Art. 10 A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em 
que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a 
natureza e a situação dos bens. 
§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será 
regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos 
brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais 
favorável a lei pessoal do de cujus. 
§ 2o A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para 
suceder. 
 
Art. 11. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como 
as sociedades e as fundações, obedecem à lei do Estado em que se 
constituírem. 
§ 1o Não poderão, entretanto. ter no Brasil filiais, agências ou 
estabelecimentos antes de serem os atos constitutivos aprovados pelo 
Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei brasileira. 
§ 2o Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer 
natureza, que eles tenham constituído, dirijam ou hajam investido de 
funções públicas, não poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou 
susceptíveis de desapropriação. 
§ 3o Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos 
prédios necessários à sede dos representantes diplomáticos ou dos 
agentes consulares. 
 
Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu 
domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação. 
§ 1o Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações, 
relativas a imóveis situados no Brasil. 
§ 2o A autoridade judiciária brasileira cumprirá, concedido o exequatur e 
segundo a forma estabelecida pele lei brasileira, as diligências 
deprecadas por autoridade estrangeira competente, observando a lei 
desta, quanto ao objeto das diligências. 
 
Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei 
que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não 
admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça. 
 
Art. 14. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem 
a invoca prova do texto e da vigência. 
 
 
19 
Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, 
que reúna os seguintes requisitos: 
a) haver sido proferida por juiz competente; 
b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à 
revelia; 
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades 
necessárias para a execução no lugar em que, foi proferida; 
d) estar traduzida por intérprete autorizado; 
e) ) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal (atualmente a 
competência é do STJ).Parágrafo único. Revogado 
 
Art. 16. Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de 
aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem 
considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei. 
 
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer 
declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem 
a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. 
 
 
 
 
Atos civis, no estrangeiro, das autoridades consulares 
brasileiras. 
 
 
 
As autoridades consulares brasileiras possuem 
competência para realização dos atos de Registro Civil e 
tabelionato para os brasileirosque estejam no exterior: 
 
 
 
 
 
Art. 18. Tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades 
consulares brasileiras para lhes celebrar o casamento e os mais atos de 
Registro Civil e de tabelionato, inclusive o registro de nascimento e de 
óbito dos filhos de brasileiro ou brasileira nascido no país da sede do 
Consulado. 
 
§ 1º As autoridades consulares brasileiras também poderão celebrar a 
separação consensual e o divórcio consensual de brasileiros, não 
havendo filhos menores ou incapazes do casal e observados os 
requisitos legais quanto aos prazos, devendo constar da respectiva 
escritura pública as disposições relativas à descrição e à partilha dos 
bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à 
retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou à manutenção do 
nome adotado quando se deu o casamento. (Incluído pela Lei nº 
12.874, de 2013). Vigência 
§ 2º É indispensável a assistência de advogado, devidamente 
constituído, que se dará mediante a subscrição de petição, juntamente 
com ambas as partes, ou com apenas uma delas, caso a outra constitua 
advogado próprio, não se fazendo necessário que a assinatura do 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12874.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12874.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12874.htm#art3
 
20 
advogado conste da escritura pública. (Incluído pela Lei nº 12.874, de 
2013). Vigência 
 
Art. 19. Reputam-se válidos todos os atos indicados no artigo anterior e 
celebrados pelos cônsules brasileiros na vigência do Decreto-lei nº 
4.657, de 4 de setembro de 1942, desde que satisfaçam todos os 
requisitos legais. 
 
Parágrafo único. No caso em que a celebração desses atos tiver sido 
recusada pelas autoridades consulares, com fundamento no artigo 18 
do mesmo Decreto-lei, ao interessado é facultado renovar o pedido 
dentro em 90 (noventa) dias contados da data da publicação desta lei. 
 
 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12874.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12874.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12874.htm#art3

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