Buscar

Aula 14 O significado do jogo em uma perspectiva piagetiana

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 34 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 34 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 34 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

O significado do jogo em uma perspectiva piagetiana
Profª. Msª. Caroline Trevisan Mendes de Almeida
O jogo em uma perspectiva psicogenética
Vamos refletir sobre algumas questões: 
Qual o sentido dos jogos para as crianças? E para você? Qual a relação que eles possuem com o desenvolvimento humano? 
Eles “servem” apenas para distrair e desenvolver habilidades sensoriais e motoras ou têm outra função?
O jogo em uma perspectiva psicogenética
Todos nós, ao menos enquanto éramos crianças, jogamos. Brincar de casinha, jogar bola, brincar de esconde-esconde, de carrinho, jogar peteca, bola de gude, xadrez… São infinitas as possibilidades, tanto nas formas mais solitárias (pular corda, por exemplo) como nas mais coletivas (futebol, basquete etc.). Vivemos momentos de alegria, euforia e até “suamos a camisa”, sentimo-nos frustrados quando errávamos, ou invejávamos a habilidade maior de algum colega…
Enfim, jogar faz parte da vida de todos e, mesmo em condições econômicas mais precárias, sempre as crianças acham uma forma de se divertir, brincando e jogando. Todos, enfim, jogamos, ainda que muitos de nós nunca tenhamos parado para refletir sobre a importância do jogo na nossa vida: seja quando ainda éramos crianças, seja nas fases seguintes.
Perguntas semelhantes a essas foram feitas pelo próprio Piaget. Como seu interesse maior de pesquisa sempre foi compreender como pensavam as crianças, como interagiam com seu próprio conhecimento e como este evoluía ao longo dos anos até a idade adulta, ele logo observou que o jogar era uma atividade ímpar no sentido de conhecer o universo infantil. 
E como sua perspectiva epistemológica é psicogenética, foi esse mesmo ponto de vista que utilizou para estudar esse assunto: ou seja, ele tem um olhar evolutivo e dinâmico para o jogo na vida infantil.
Piaget destaca a principal função dos jogos, qual seja, a de “serem veículo para processos de desenvolvimento e de solicitarem, por sua estrutura e conteúdo, uma qualidade de interação de natureza construtiva”. 
Mas o que isso quer dizer para nós, num contexto de formação em pedagogia e psicologia? 
Que observar os jogos entre crianças e, mais que isso, propô-los intencionalmente a elas – trata-se de uma forma de intervenção que promove o seu desenvolvimento, pois os jogos “pedem” um aperfeiçoamento constante do jogador, além de sua atenção, envolvimento, tomada de decisão e tantas outras habilidades cognitivas, afetivas e sociais tão fundamentais.
As estruturas lúdicas analisadas por Piaget, e que se relacionam aos estádios do desenvolvimento cognitivo, são:
Jogo de exercício (0 a 2 anos)
Os jogos de exercício correspondem à primeira forma de jogo da criança e são característicos do primeiro estádio do desenvolvimento, o sensório-motor, embora essa estrutura de jogo permaneça até a vida adulta.
Como o nome sugere, o foco desse jogo é o exercício de uma função, ou seja, está diretamente relacionado ao prazer que a criança extrai de exercitar (aprender, explorar) uma função. 
Num exemplo, um bebê necessariamente precisa aprender a mamar (em um seio ou mamadeira), por uma questão de sobrevivência, e depende, para isso, da ação do reflexo de sugar, inato, portanto. 
Entretanto, o que Piaget irá observar é que mais do que servir como base para a alimentação do bebê, o reflexo de sugar irá se transformar no esquema de sugar e, além disso, será fonte de brincadeira, de exploração lúdica e de prazer funcional. 
Ou seja, ao repetir (e exercitar, portanto) uma função como o mamar, a criança estará fortalecendo seu domínio sobre ela, o que lhe proporciona satisfação, segurança.
A assimilação funcional, ou o prazer pela alimentação de algo que se tornou parte de um sistema e que por isso pede repetição, caracteriza o aspecto lúdico dos esquemas de ação. A repetição, requerida pelas demandas de assimilação funcional dos esquemas de ação, tem por consequências algo muito importante para o desenvolvimento da criança: a formação de hábitos.
No nosso exemplo, a criança tem prazer em brincar de sugar o seio como um fim em si mesmo, um prazer do sugar/mamar pelo prazer que essa atividade, a sua repetição e o domínio progressivo dessa função, proporciona a ela. E isso nós observamos facilmente quando vemos um bebê ser amamentado a partir de poucas semanas. Ele brinca com o seio da mãe, mesmo sem extrair leite dele. 
Mas isso não vale só para esse esquema: podemos pensar que quando qualquer um de nós, mesmo quando mais velhos, aprendemos uma função nova – como aprender a utilizar sozinho os talheres ou um aparelho celular novo, por exemplo – vivenciamos um prazer em explorar e “brincar” com esse objeto que vai além do uso prático da alimentação independente e da comunicação com outra pessoa ou dos efeitos práticos que o aparelho permite realizar.
Nesse sentido, como afirmamos anteriormente, os jogos de exercício que se iniciam quando a inteligência ainda é pré-verbal, essencialmente prática e inconsciente, permanecem como “pano de fundo” em nossas vidas para sempre. 
Ou melhor, pensando na perspectiva psicogenética do autor, quanto mais um bebê e uma criança pequena forem expostos e estimulados a viverem situações de jogos de exercício, isso criará uma base de prazer e satisfação em aprender que se manterá até a vida adulta. 
Ou, em contrapartida, se privarmos um bebê de “brincar” com os objetos e explorar livremente sua ação sobre eles, ele poderá desenvolver uma relação pouco prazerosa, mecânica, com as aprendizagens futuras.
Vemos, então, que a criança bem pequena brinca/joga sozinha, mesmo que sem utilização da noção de regras (o que só será possível cognitivamente bem mais adiante). 
Com isso, Piaget quer mostrar que o ato de jogar é uma atividade natural e espontânea do homem e surge como prazer funcional em repetir exercícios motores (gestos, movimentos) – agitar os braços, sacudir objetos, emitir sons, caminhar, pular, correr etc.
Jogo Simbólico (2 a 6 anos)
Com o avanço do desenvolvimento infantil e a aquisição da capacidade de representação, alicerçada principalmente na linguagem falada, veremos o aparecimento de uma nova estrutura lúdica: o jogo simbólico. 
Como o nome destaca aqui, o foco não estará mais no prazer do exercício de uma função, mas em simbolizar, imaginar, criar significados para os objetos e situações.
Nesses chamados jogos de faz de conta, a satisfação do eu estará na possibilidade de transformação do real em função dos seus desejos.
Jogo Simbólico
O jogo simbólico tem como função assimilar as relações e os significados predominantes no meio ambiente e, também, é uma maneira de autoexpressão, de criação pessoal.
O jogo de faz de conta possibilita à criança a realização de sonhos e fantasias, revela conflitos, medos e angústias, aliviando tensões e frustrações. É a fase das brincadeiras de boneca, casinha, escolinha, personagens, super-heróis etc.
Por que jogar e brincar são formas de representação? Uma das consequências maravilhosas, nesse contexto de repetir, variar, recombinar e inventar, é poder criar representações. Quando brincam de casinha, as crianças vivem a experiência de reconstruir o cotidiano e simbolizar a vida (MACEDO, 2002, s.d.)
É importante frisar que esse movimento de atribuir significados aos objetos e às pessoas (como ao se tornar uma princesa ou bruxa) a criança não faz apenas com base em conteúdos individuais: muito ao contrário, pelo jogo simbólico, as crianças expressam e “mergulham” no universo de sua cultura, do grupo a que pertencem. 
Embora o brincar simbólico seja universal, uma necessidade de todo ser humano (o que Piaget perseguiu em sua obra: o sujeito epistêmico e universal), o tema de brincadeira e como cada criança representará os papéis será específico e particular de cada contexto e cada criança.
“Outro aspecto fundamental na estrutura dos jogos simbólicos é sua função socializadora. Graças a eles, as crianças aprendem, também, a se tornarem, por exemplo, brasileiras, aprendem a sentirpertencendo a uma pátria, a uma cultura ou religião. Esquemas simbólicos são, a propósito, organizações de imagens, de ideias, de representações, de atividades corporais, por intermédio das quais o sujeito pode tematizar um papel, pode operar uma coisa como se fosse outra, pode realizar ações como conteúdos de formas agora simbólicas, isto é, que representam aspectos sociais e culturais (MACEDO, p. 160).”
Nos jogos de exercício, era o corpo da criança, sua capacidade de funcionar de agir, que sustentava seu prazer. Aqui, o prazer estará em dominar esse universo simbólico e, inclusive, buscar compreendê-lo, mas agora numa dimensão relacional e coletiva. 
Quando um grupo de crianças brinca de casinha, por exemplo, e representam os diferentes papéis, de mãe, pai, filho etc., elas estão buscando compreender como se dão essas relações na vida social.
“No jogo de exercício, a criança descobre a forma da ação, no simbólico, ela inventa o conteúdo para os objetos (MACEDO, PETTY, PASSOS, 1997).”
Os livros de história infantil, os filmes de animação, a literatura infantil em geral oferecem exemplos vários desse momento tão rico e fascinante da vida infantil e de como esses jogos simbólicos são necessários ao desenvolvimento cognitivo, afetivo e social e não são distrações, apenas.
Piaget afirma que nem sempre é fácil distinguir um jogo de exercício de um jogo simbólico. Por exemplo, porque podemos encontrar jogos de exercícios verbais, como quando as crianças brincam com as palavras. 
Mas como, então, saber diferenciá-los? No primeiro caso, o interesse da criança está na mera repetição das palavras, na brincadeira com sons, por exemplo, e no segundo “ela se interessa pelas realidades simbolizadas, servindo tão só o símbolo para evocá-las” (PIAGET, 1945, 1990, p. 56). Mais uma vez, portanto, fica claro que a dimensão sociocultural é uma das características marcantes desse tipo de jogo.
Piaget afirma que grande parte dos conteúdos simbolizados na brincadeira são conscientes para o sujeito: por exemplo, se ele utiliza uma colher como uma varinha mágica, ele tem noção clara das funções (da colher e da varinha) e do modo como é possível associá-las na brincadeira. 
Porém, ele também reconhecerá que há um simbolismo secundário, como ele denomina, nos jogos cujas motivações podem ser inconscientes ao próprio sujeito. Esse é um dos raros, mas marcantes, momentos em sua obra em que trata de temas relacionados à afetividade. 
Ele dirá que o símbolo permite à criança expressar diferentes “esquemas afetivos, isto é, resumos ou moldes dos diversos sentimentos sucessivos que esse personagem provoca” . 
Ou seja, além dos conteúdos culturais referentes àquilo que observa e assimila cognitivamente das relações de que participa, a criança, num ato de simbolizar um pai numa brincadeira de casinha, por exemplo, expressará seus sentimentos diversos (e mesmo ambivalentes, como amor e temor, submissão e independência etc.) frente a essa figura.
Jogo de construção (Transição)
Os jogos de construção merecem um tratamento em paralelo por Piaget, que os coloca entre a condição de jogo e de trabalho inteligente.
O que é um jogo de construção? Ele permite uma vivência antecipada, e controlada, do real pela criança, implicando um planejamento e um esforço maior de acomodação do que o jogo simbólico. 
No jogo simbólico, a criança, obviamente, precisa considerar as características próprias dos objetos, acomodando-se a elas, para que possa brincar, mas isso de forma bastante flexível. 
Por exemplo, para representar uma espada num jogo de faz de conta, o objeto deverá minimamente poder “parecer” ou “evocar” uma varinha: ou seja, um galho de árvore, uma colher, um lápis poderão ser utilizados, mas um fio de lã ou uma bola não servirão. No jogo simbólico o que prevalecia era o desejo do sujeito.
Já nos jogos de construção (construir com blocos, peças de encaixe, montar quebra-cabeças, por exemplo), a criança precisará ser mais fiel às características do objeto para que sua imaginação possa ser colocada em prática. Para construir uma torre com blocos, ela deverá, progressivamente, aprender que os maiores e mais pesados deverão servir de base para os menores e mais leves, para que ela se sustente. 
Podemos perceber, inclusive, que começa a aparecer um universo de regras, de limites mais claros, que o sujeito deverá respeitar para que possa realizar seus desejos. A imaginação e a criatividade (núcleo dos jogos simbólicos) continuam fortemente presentes e alimentando o envolvimento no jogo, bem como o prazer funcional de explorar e repetir diferentes combinações de objetos, analisando seus efeitos (prazer funcional dos jogos de exercício). 
Agora a palavra-chave que surge é a relação com o futuro, com o encadeamento lógico entre as ações: a capacidade de antecipar situações e retroagir frente a experiências passadas, para poder agir no presente. Portanto, vemos que aqui a capacidade operatória – construída ao longo do terceiro estádio do desenvolvimento – estará fortemente vinculada a essa estrutura lúdica.
Para Piaget, os jogos de construção não se constituem como uma estrutura particular de jogo, mas se situam numa transição entre jogo e trabalho, ou entre jogo simbólico e imitação.
“Os jogos de construção ou de criação (…) assinalam uma transformação interna na noção de símbolo, no sentido da representação adaptada. Quando a criança, ao invés de representar um barco com um pedaço de madeira, constrói realmente um barco, escavando a madeira, plantando mastros, colocando velas e acrescentando-lhe bancos, o significante acaba por confundir-se com o próprio significado e o jogo simbólico com uma verdadeira imitação do barco (PIAGET, 1945,1990, p. 148).”
Nesses tipos de jogo, portanto, a relação mais estreita com o real, com a transformação real dos objetos e a reprodução de situações ou objetos concretos, é bastante clara e, por isso mesmo, possui esse importante vínculo com o trabalho na vida adulta.
Jogos de regras (7 a 15 anos)
Última estrutura estudada por Piaget e a mais complexa, que engloba as características das precedentes, os jogos de regras pressupõem a existência de parceiros e um conjunto de obrigações (regras), o que lhe confere um caráter eminentemente social. Havendo regras, há consequentemente a obrigação de sujeitar-se a elas, com forte pressão para que ocorra acomodação do sujeito frente às exigências do ambiente, ao que é externo a ele e deve ser compartilhado pelo grupo.
Ainda que possamos observar que mesmo em crianças menores de 6 ou 7 anos já existam algumas condições – normas – para que os jogos e brincadeiras aconteçam, os jogos de regras no seu sentido e no seu uso integral serão possíveis com a conquista da capacidade operatória. Ela possibilita a reversibilidade lógica e, também, a reciprocidade nas relações interpessoais.
Assim, por volta dos 7 anos, as crianças aprendem as regras dos jogos que são transmitidas socialmente, e o mesmo permanece durante toda a vida do sujeito. Esses jogos são jogados em grupo e, pela descentração natural do período operatório, as regras podem ser internalizadas com maior significado pelo sujeito. 
Assim, o que caracteriza o jogo de regras é a existência de um conjunto de leis organizadas e planejadas pelo grupo, e o não cumprimento dessas regras pode levar a conflitos e, muitas vezes, a não possibilidade de vitória pelo jogador. 
Os jogos de regras são classificados como: jogos sensório-motor (futebol) e jogos intelectuais (xadrez, dama, baralho).
Piaget deu extrema importância aos jogos de regras como ilustrativos dos sucessivos progressos no desenvolvimento cognitivo. Isso porque eles congregam a síntese da evolução da inteligência e da moralidade: para sermos bons jogadores, não bastam qualidades intelectuais, da análise das probabilidades das jogadas, por exemplo, mas é essencial que moralmente os jogadores possam aderir a uma condição de respeito mútuo, reciprocidade e autonomia.
Jean Piaget investigoua maneira como a criança constrói o significado da regra e, para isso, criou vários dilemas que, em formato de histórias, possibilitavam à criança julgar quem errou e, dessa forma, compreender o pensamento do sujeito em relação ao desenvolvimento do julgamento moral.
Os dilemas morais apresentam temas comuns na infância (dano material, mentira, roubo) e permitem compreender de que maneira ocorre o desenvolvimento na construção da regra pela criança, o que estará diretamente ligado à capacidade de a criança participar dos jogos de regras, aceitando e submetendo-se a elas.
Os jogos de regras constituem importantes situações em que as crianças e adolescentes experimentam essas diferentes relações com as regras, assumindo progressivamente uma postura mais autônoma e, portanto, responsável.
O caráter essencialmente coletivo dos jogos de regras remete a um tipo de assimilação específico: a assimilação recíproca (a adesão mútua às regras propostas pelo jogo). 
O jogador deverá canalizar sua criatividade, sua imaginação (própria dos jogos simbólicos) para o contexto permitido no jogo: num jogo de xadrez, por exemplo, cada um será rei, rainha, bispo etc., dominando seu exército na busca pela vitória. Mas esta última só trará verdadeira satisfação se ocorrer dentro do limite das regras.
Os jogos de regras envolvem, assim, a competição. Ou seja, é preciso haver um desejo comum aos jogadores de ganhar o jogo: seja de superar o parceiro, seja superar a si mesmo (o que tem maior valor em termos piagetianos, pois implica melhores equilibrações cognitivas e o autoaperfeiçoamento dos sujeitos). 
Vemos, por exemplo, como as crianças a partir de certa idade (7, 8 anos, em geral) não aceitam que as deixemos ganhar, que joguemos com elas “de mentirinha”: elas querem vencer seriamente, dentro das regras do jogo (não querem a vitória a qualquer custo, como quando eram mais novas).
Isso, entretanto, não exclui de forma nenhuma a necessidade de cooperação: de cumprimento às regras do jogo e ao adversário. Para Piaget, ambas – competição (que impulsiona o desenvolvimento, o desejo de ser cada vez melhor) e a cooperação (que valida, que legitima as minhas conquistas) – são inseparáveis.
Além dessas habilidades sociais, os jogos de regras demandam o desenvolvimento de estratégias, do pensamento hipotético-dedutivo, de análises combinatórias, da habilidade de lidar simultaneamente com o passado (jogadas já feitas), o futuro (onde quero chegar), para decidir no presente (efetuar minha jogada).
Reflexão:
Qual a importância dos jogos para o desenvolvimento infantil?
De que forma podemos utilizar os jogos visando o desenvolvimento das crianças?

Continue navegando