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Laís Kemelly UNIME – 2020.1 Sinapses A sinapse é uma junção especializada onde uma parte do neurônio faz contato e se comunica com sua célula-alvo, que pode ser outro neurônio ou uma célula muscular/glandular. Após a conversão da energia mecânica, ou seja, do estímulo, em potenciais neurais, uma cascata de eventos acontece. Inicialmente, teremos um influxo de íons positivos no axônio. Se esse influxo for suficiente para atingir um limiar e gerar a despolarização, os potenciais de ação são gerados. Os potenciais de ação podem se propagar por todo o sistema nervoso a partir de sua transmissão para outros neurônios. A sinapse é o local de contato entre esses dois neurônios, que permite a propagação desses potenciais de ação. A transmissão sináptica é o processo de transferência da informação na sinapse. A sinapse elétrica é caraterizada pelo contato e transferência direta entre uma célula e outra. As junções comunicantes são as estruturas especializadas responsáveis por fazer essa “ponte” entre os dois neurônios. Na formação da junção comunicante, temos a associação de seis subunidades de conexinas (proteínas que separam as membranas celulares das junções comunicantes), formando um canal chamado de conéxon. Quando dois conéxons se combinam, eles formam o canal da junção comunicante. Esse canal tem um poro relativamente grande, o que permite a passagem livre de íons entre os citoplasmas das células conectadas, além de moléculas inorgânicas. conexinas → conéxon → canal da junção comunicante SINAPSE ELÉTRICA → BIDIRECIONAL As células que estão conectadas por junções comunicantes estão eletricamente acopladas. É importante ressaltar que a corrente iônica tem livre passagem nos dois sentidos, o que caracteriza a sinapse elétrica como bidirecional. A transmissão nas sinapses elétricas é muito rápida, sendo que o potencial de ação gerado no neurônio pré-sináptico gera de forma quase instantânea o potencial de ação no neurônio pós-sináptico. • O potencial de ação do neurônio pré- sináptico induz um pequeno fluxo de corrente iônica para o outro neurônio, através da junção comunicante • Esse fluxo causa um potencial pós- sináptico, que é “interpretado” pelo segundo neurônio potencial de ação potencial pós-sináptico Laís Kemelly UNIME – 2020.1 Como o fluxo iônico é bidirecional, existe uma relação quase cíclica entre o potencial de ação e o potencial pós sináptico. O segundo neurônio vai gerar um potencial de ação a partir do potencial pós sináptico, e esse PPS vai atuar no primeiro neurônio. (como se o neurônio que recebeu o PPS reenviasse o estímulo) “O PPS produzido por uma única sinapse elétrica no encéfalo de mamíferos é, em geral, pequeno – com pico de 1 mV ou menos – e, por sua vez, pode não ser grande o suficiente para desencadear um potencial de ação na célula pós-sináptica. Entretanto, um neurônio geralmente faz sinapses elétricas com muitos outros neurônios, de forma que vários PPS ocorrendo simultaneamente podem excitar fortemente um neurônio.” (BEAR) Como as sinapses elétricas têm uma propagação quase instantânea, elas são frequentemente encontradas em locais que necessitam de uma atividade neuronal altamente especializada, a exemplo do tronco encefálico. Os neurônios do núcleo olivar inferior do tronco encefálico, por exemplo, realizam sinapses elétricas. Esses neurônios enviam axônios para o cerebelo e têm um papel importante no controle motor. Desse modo, é essencial que a atividade dos neurônios presentes nesse núcleo seja sincrônica e coordenada: a transmissão sináptica é mais rápida e ocorre com menos oscilações. Diferente das sinapses elétricas, as membranas pré e pós sinápticas não se tocam na sinapse química. O espaço entre essas estruturas é a fenda pós sináptica. • Preenchida por matriz extracelular de proteínas fibrosas • Função: manter a adesão entre as membranas pré e pós-sinápticas O lado pré-sináptico geralmente é um terminal axonal. Esse terminal contém: • Vesículas sinápticas em seu interior, responsáveis pelo armazenamento de neurotransmissores. • Grânulos corticais: vesículas maiores com conteúdo proteico solúvel • Zonas ativas: local de liberação dos neurotransmissores, formado a partir da projeção das proteínas para o citoplasma ao longo da face intracelular da membrana. Na porção pós-sináptica, existe um local específico no qual as proteínas ficam acumuladas: a densidade pós-sináptica (DPS). Essa região contém os receptores pós-sinápticos, que convertem os sinais químicos intercelulares (neurotransmissores) em sinais intracelulares (mudança no potencial de membrana ou mudança química na célula pós-sináptica) sinais intercelulares sinais intracelulares A resposta pós sináptica varia de acordo com o neurotransmissor envolvido nesse processo. potencial de ação PPS receptores pós- sinápticos Laís Kemelly UNIME – 2020.1 No SNC, existem vários tipos de sinapses, diferenciados de acordo com a parte do neurônio que é responsável pelo contato pós-sináptico. • Sinapse axodendrítica: a membrana pós- sináptica é um dendrito • Sinapse axossomática: membrana pós- sináptica no corpo celular • Sinapse axoaxônica: membrana pós- sináptica está em outro axônio. Outra classificação das sinapses leva em conta a espessura das membranas pré e pós sinápticas. Com base nas diferenças desse aspecto, temos duas classificações: • Sinapse assimétrica/tipo I de Gray: a membrana pós-sináptica é mais espessa do que a pré-sináptica. Geralmente conduz estímulos excitatórios • Sinapse simétrica/tipo II de Gray: as diferenciações da membrana têm espessuras similares. Geralmente conduz estímulos inibitórios Obs: esse tópico vai falar dos neurotransmissores de uma forma bem generalizada. Os principais neurotransmissores podem ser classificados em três categorias químicas. Um mesmo neurônio pode armazenar diversas categorias de neurotransmissores. A liberação de cada um deles é mediada por condições específicas. Os neurotransmissores aminoácidos e aminas são pequenas moléculas orgânicas. Esses dois tipos são armazenados nas vesículas sinápticas. Já os neurotransmissores peptídeos são compostos por cadeias de aminoácidos mais longas, se configurando como uma molécula grande. Por esse motivo, são armazenados nos grânulos secretores. Diferentes neurotransmissores são sintetizados de diferentes maneiras. Em uma visão geral, temos os seguintes passos: Síntese de aminoácidos e aminas • As enzimas envolvidas na síntese são transportadas até o terminal axonal • Com a atuação enzimática, as moléculas percussoras são convertidas em neurotransmissores. • A partir dos transportadores, os neurotransmissores recém-sintetizados podem se concentrar nas vesículas. Laís Kemelly UNIME – 2020.1 Síntese de Peptídeos • Os aminoácidos são polimerizados no retículo endoplasmático rugoso • Os peptídeos longos recém-sintetizados são clivados no Complexo de Golgi • A partir dessa clivagem, surgem fragmentos menores. Um deles é o neurotransmissor ativo. • Os grânulos secretores contendo os peptídeos processados se desprendem do complexo de Golgi • Transporte axoplasmático dos grânulos secretores em direção ao terminal axonal Depende da chegada de um potencial de ação no terminal axonal e ocorre por exocitose. • Chegada do potencial de ação no terminal axonal • Despolarização da membrana do terminal • Abertura de canais de Ca+ dependentes de voltagem nas zonas ativas. • Fusão da bicamada lipídica da membrana da vesícula sináptica com a membrana pré- sináptica • Exocitose do conteúdo da vesícula na fenda sináptica A liberação dos neurotransmissores peptídicos tambémé dependente de Ca+, mas requer uma série de alta frequência de potenciais de ação. O limiar é mais alto porque os grânulos secretores que armazenam esses NTs se localizam distantes dos sítios de influxo de Ca+. Por esse motivo, a liberação dos peptídeos é mais lenta em comparação à de aminas/aminoácidos. Após a liberação, os neurotransmissores dentro da fenda sináptica vão interagir com as proteínas receptoras específicas do neurônio pós-sináptico. Quando o neurotransmissor faz a ligação com seu receptor, isso causa uma mudança conformacional na proteína. Os receptores são divididos em dois grandes grupos: • Canais iônicos ativados por neurotransmissores • Receptores acoplados a proteínas G Esses receptores são proteínas transmembrana, compostas por 4 ou 5 subunidades que juntas, formam um poro entre elas. Esse poro normalmente está fechado. Quando o neurotransmissor se liga a sítios específicos na região extracelular do canal, ele induz uma mudança conformacional (torção das subunidades), causando a abertura do poro. Laís Kemelly UNIME – 2020.1 A característica do potencial de ação gerado depende da permeabilidade do canal iônico a determinados íons. Se os canais abertos forem permeáveis ao Na+, o efeito resultante será a despolarização da membrana da célula pós-sináptica. Esse processo tende a trazer o potencial de membrana para o limiar do potencial de ação, desencadeando um efeito excitatório. ↳ O glutamato e a acetilcolina são capazes de gerar PEPS (potencial excitatório pós- sináptico) Nos canais permeáveis ao Cl-, o efeito final é a hiperpolarização da membrana pós-sináptica. Isso afasta o potencial de membrana do limiar de geração do potencial de ação, tendo um efeito inibitório. ↳ O GABA e a glicina são capazes de gerar PIPS (potencial inibitório pós-sináptico) As sinapses que são recebidas por canais iônicos têm como característica a transmissão rápida. No caso dos receptores acoplados a proteínas G, as ações pós-sinápticas serão mais lentas, mais duradouras e mais diversificadas. • O neurotransmissor liga-se ao receptor na membrana pós-sináptica • O receptor proteico ativa as proteínas G • As proteínas G se movem livremente ao longo da face intracelular da membrana pós sináptica • Uma vez ativadas, as proteínas G ativam proteínas efetoras. Essas proteínas podem ser canais iônicos ativados por proteínas G ou enzimas que sintetizam segundos mensageiros. Esses segundos mensageiros intracelulares se difundem para o citosol e tem a capacidade de ativar enzimas adicionais, regulando canais iônicos e alterando o metabolismo celular. Com a capacidade de desencadear diversos efeitos metabólicos, os receptores de proteínas G também podem ser chamados de receptores metabotrópicos. “O mesmo neurotransmissor pode ter diferentes ações pós-sinápticas, dependendo do receptor que ele vai ativar” (BEAR) Laís Kemelly UNIME – 2020.1 Depois que o neurotransmissor realizar sua interação com o receptor pós-sináptico, eles devem ser removidos da fenda sináptica. Isso pode acontecer por: • Difusão das moléculas de neurotransmissor através do líquido extracelular para longe das sinapses • Recaptação para dentro do terminal pré- sináptico. Cada neurotransmissor possui um transportador específico que realiza esse processo de recaptação até o citosol pré-sináptico. No citosol, os neurotransmissores podem: • Sofrer degradação enzimática e reciclagem de seus produtos • Concentrar-se novamente no interior das vesículas Caso algum dos mecanismos de reciclagem/degradação falhem, isso pode levar à dessensibilização de seus receptores. Isso significa que os canais ativados pelo neurotransmissor permanecerão fechados, mesmo com sua contínua presença. A integração sináptica é o processo pelo qual múltiplos potenciais sinápticos se combinam em um neurônio pós-sináptico. A maioria dos neurônios do SNC recebe vários sinais pré-sinápticos ao mesmo tempo, o que leva à ativação de vários receptores. Cabe ao neurônio pós-sináptico “organizar” esses sinais químicos e iônicos recebidos, transformando-os em potencial de ação e dando seguimento à sua propagação. Recapitulando, temos uma PEPS quando o influxo iônico em uma membrana pós-sináptica resulta em sua despolarização. Em uma única membrana pós- sináptica, podem existir milhares de canais iônicos, sendo que a quantidade de canais que serão ativados depende da quantidade de neurotransmissor liberado. Os mecanismos de integração das PEPs são: Somação espacial → adicionar PEPSs gerados simultaneamente em muitas sinapses em um dendrito. Chegam várias informações, cada uma por um axônio. Essas informações se associam e geram um PEPS único Somação temporal → adicionar PEPSs gerados na mesma sinapse e que ocorrem em um intervalo bem curto de tempo. Nesse caso, são vários estímulos seguidos partindo de um mesmo axônio. Uma PIPS é gerada a partir da ativação de canais iônicos permeáveis à Cl- por algum neurotransmissor (GABA ou glicina). O influxo de Cl- na membrana causa uma hiperpolarização. Inibição por derivação: quando há um PIPS ativo, ele funciona como uma barreira que impede a continuidade da passagem do estímulo excitatório. Laís Kemelly UNIME – 2020.1 • Quando um canal de Cl- é aberto, ele atravessa a membrana e altera seu potencial para o potencial de equilíbrio do cloreto, que é -65mV. • Ou seja, o influxo de Cl- vai manter o potencial de membrana em -65mV, gerando um local de inibição ativo Mesmo que o influxo de Cl- não cause uma hiperpolarização (reduzir o limiar para abaixo de - 65), o fato de manter em -65mV já configura um mecanismo inibitório. Esse é o esquema de uma transmissão excitatória. E isso é uma transmissão inibitória. Note que não houve um bloqueio do sinal excitatório, mas sim uma estimulação simultânea dele com o inibitório. Quando o potencial de ação excitatório chega no local de inibição ativo, o estímulo não tem seguimento. Para isso acontecer, a despolarização deveria acontecer, mas como o PIPS está mantendo o limiar em -65mV, a despolarização é “freada”. Isso impede que o estímulo excitatório seja liberado na fenda sináptica, apesar de ter atuado na membrana pré-sináptica. “A ativação de uma sinapse excitatória conduz ao influxo de cargas positivas para o interior do dendrito. Essa corrente despolariza a membrana à medida que flui rumo ao corpo celular. No local da sinapse inibitória ativa, entretanto, o potencial de membrana é igual ao ECl, − 65 mV. Assim, nesse local, uma corrente positiva flui para fora através da membrana para trazer o Vm para − 65 mV. Essa sinapse age como um desvio elétrico, que impede que a corrente flua através do corpo celular até o cone de implantação axonal. Esse tipo de inibição é chamado de inibição por derivação. A verdadeira base da inibição por derivação é o movimento de entrada dos íons cloreto negativamente carregados, os quais formalmente equivalem a uma corrente positiva de saída.” (BEAR) BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Transmissão Sináptica. In: BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: Desvendando o sistema nervoso. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
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