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09/10/2018 Estácio file:///W:/2018.2/legislacao_processual_da_mediacao__GON953/aula1.html 1/19 Disciplina: Legislação processual da mediação Aula 1: Evolução histórica dos meios de solução de conflitos. Meios consensuais e adjudicatórios Apresentação Nesta aula, vamos estudar como o Direito Processual brasileiro evoluiu desde os primórdios até chegar a sua forma atual, ou seja, um Código de Processo Civil que alia instrumentos judiciais e extrajudiciais, buscando um equilíbrio que propicie, simultaneamente, o efetivo acesso à justiça e observância das garantias constitucionais. Vamos explorar o Direito brasileiro desde as suas origens (as “Ordenações”), passando pelos Códigos de Processo Civil, chegando ao panorama atual que inclui as Leis de Mediação e Arbitragem, ambas inseridas no conceito contemporâneo de jurisdição. Objetivos Traçar a evolução do Direito brasileiro no uso dos meios de solução de conflitos diversos da jurisdição estatal; Organizar o cenário atual do ordenamento jurídico a fim de identificar as fontes principais de consulta. 09/10/2018 Estácio file:///W:/2018.2/legislacao_processual_da_mediacao__GON953/aula1.html 2/19 A evolução do Direito Processual Civil brasileiro a fim de situar a previsão dos meios adequados de solução de conflitos em nossa legislação Fonte: Shutterstock Entre outras transformações provocadas no país, o estabelecimento dos colonizadores portugueses no Brasil deu grande importância aos Municípios como núcleos administrativos. Neles, a jurisdição competia aos juízes ordinários ou da terra, nomeados entre os “homens bons”, em uma eleição sem participação da Metrópole, que, por sua vez, era representada pelos seus nomeados “juízes de fora”. Nas capitanias hereditárias estabelecidas, era dever dos donatários reger as questões judiciais provenientes de suas terras, dentro dos limites das leis advindas do Reino como pelas então denominadas Cartas Forais. A autoridade jurisdicional máxima era o Ouvidor Geral. Visto que Brasil e Portugal formavam um Estado único, as leis processuais portuguesas tinham plena aplicabilidade por aqui. Foi o período das Ordenações emanadas da Corte. Vigoravam, nessa época: 09/10/2018 Estácio file:///W:/2018.2/legislacao_processual_da_mediacao__GON953/aula1.html 3/19 I As Ordenações Afonsinas, de 1456, inspiradas principalmente no Direito romano, no Direito canônico e nas leis gerais elaboradas a partir do reinado de Afonso II, vigorando à época do Descobrimento. II As Ordenações Manuelinas, de 1521, as primeiras editadas em território nacional. III As Ordenações Filipinas, promulgadas em 1603. As Ordenações Afonsinas cuidavam, quase inteiramente, de questões atinentes à administração pública. O processo civil foi objeto de seu livro III, composto por 128 capítulos, abrangendo os procedimentos de cognição, execução, bem como os recursos. As Ordenações Manuelinas, promulgadas em 1521, não promoveram grandes alterações em relação às Afonsinas, até porque ambas tinham o interesse de preservar e fortalecer a monarquia e a nobreza. No entanto, não se pode deixar de observar que as Ordenações Manuelinas tornaram unos os processos de conhecimento e de execução, não os diferenciando. Promulgadas em 1603, as Ordenações Filipinas foram de grande importância para o Direito brasileiro, até porque vigoraram em parte por um período posterior à independência. Tinham uma estrutura considerada bastante moderna para a época, sendo compostas por cinco livros, dentre os quais o terceiro tratava da parte processual civil. Quanto ao conteúdo, a legislação apresentava um processo marcante formalista, com a prevalência da escrita e forte valorização do princípio dispositivo, com direção das partes sobre o processo. 09/10/2018 Estácio file:///W:/2018.2/legislacao_processual_da_mediacao__GON953/aula1.html 4/19 O Livro III era dividido em quatro partes que disciplinavam, nesta ordem: a fase postulatória, a fase instrutória, a fase decisória e a fase executória, destinada ao processo de execução, além da regulamentação dos procedimentos ordinários, sumários (previstos para casos específicos) e especiais (aplicados a determinadas ações). Além das Ordenações Filipinas, influenciavam na Justiça do país as Cartas dos Donatários, dos Governadores e Ouvidores e, ainda, o poder dos senhores de engenho, que faziam sua própria justiça ou influenciavam a Justiça oficial, ora pelo prestígio que ostentavam, ora pelo parentesco com os magistrados. As ordenações foram sucedidas pela Lei de 18 de agosto de 1769. Proclamada a independência em 7 de setembro de 1822, era necessário refundar o Direito brasileiro, o que foi feito com a Constituição Imperial de 1824. Incorporando os valores das revoluções liberais do fim do século XVIII, a Carta Constitucional introduziu em nosso ordenamento diversas inovações e princípios fundamentais, principalmente na seara penal, em que era mais evidente a necessidade de mudanças para, por exemplo, abolir a tortura e todas as penas cruéis. Ademais, determinou-se a separação de poderes e, peculiarmente, criou-se o Poder Moderador, nas mãos do Imperador, com a função de harmonizar o relacionamento entre as funções de Estado, o seu funcionamento e garantir os direitos ditados pela Carta Magna. 09/10/2018 Estácio file:///W:/2018.2/legislacao_processual_da_mediacao__GON953/aula1.html 5/19 Fonte: http://www.estudokids.com.br/ <http://www.estudokids.com.br/wp- content/uploads/2014/08/independencia-do- brasil.jpg> Estipulou se ainda a necessidade e a obrigatoriedade de um juízo conciliatório prévio. Interessante transcrevermos aqui os Art. 161 e 162 da Constituição do Império, que estabeleciam, respectivamente, a tentativa prévia de conciliação como pressuposto de constituição válida do processo e a atribuição de competência ao juiz de paz para tentar promovê la: Art. 161. Sem se fazer constar, que se tem intentado o meio da reconciliação, não se começará Processo algum. Art. 162. Para este fim haverá juizes de Paz, os quaes serão electivos pelo mesmo tempo, e maneira, por que se elegem os Vereadores das Camaras. Suas attribuições, e Districtos serão regulados por Lei. O advento da Constituição Imperial não retirou, contudo, automaticamente, a vigência das normas da antiga metrópole. Isso porque o Decreto de 20 de outubro de 1823 as adotou como leis brasileiras, revogando apenas as disposições contrárias à soberania nacional e ao regime brasileiro. Por isso, as Ordenações Filipinas continuaram produzindo efeitos. http://www.estudokids.com.br/wp-content/uploads/2014/08/independencia-do-brasil.jpg 09/10/2018 Estácio file:///W:/2018.2/legislacao_processual_da_mediacao__GON953/aula1.html 6/19 Em 1850, com a promulgação do Código Comercial, foram editados os Regulamentos nº 737 (considerado o primeiro diploma processual brasileiro fora do âmbito criminal) e 738, que tratavam, respectivamente, do processo das causas comerciais e do funcionamento dos tribunais e juízes do comércio. O Direito Processual Civil, entretanto, não recebeu normativa própria, o que manteve em vigência, no ponto, as disposições das Ordenações e suas posteriores modificações. Diante disso, o governo imperial baixou, em 1876, uma Consolidação das Leis do Processo Civil, com força de lei, que ficou conhecida como Consolidação Ribas, em virtude de sua elaboração a cargo do Conselheiro Antônio Joaquim Ribas. Logo depois de proclamada a República, o Regulamento 737 teve sua aplicação estendida às causas cíveis, mantendo se a aplicação das Ordenações e suas modificações aos casos de jurisdição voluntária e de processos especiais. 09/10/2018 Estácio file:///W:/2018.2/legislacao_processual_da_mediacao__GON953/aula1.html 7/19 Fonte: https://www.acasadolivrojuridico.com.br/ <https://www.acasadolivrojuridico.com.br/images/capas/C30301.jpg > Contudo, a primeira Constituição da República, em 1891, transmitiu aos Estados membros a competência legislativa sobre matéria processual, aumentando o espectro de competênciaantes pertencente somente à União Federal. Com isso, diversos Códigos Estaduais foram promulgados, regulamentando as mais diversas questões processuais. Fonte: Shutterstock Em 1º de janeiro de 1916, foi editado o Código Civil Brasileiro, que acabou, em algumas disposições, extrapolando o direito material para alcançar também algumas matérias de natureza processual. No Rio de Janeiro, então Distrito Federal, foi editado o Código Judiciário de 1919, Lei nº 1.580, de 20 de janeiro, sendo em seguida substituído pelo Código de Processo Civil do DF, de 31 de dezembro de 1924, devidamente promulgado pelo Decreto nº 16.751. https://www.acasadolivrojuridico.com.br/images/capas/C30301.jpg 09/10/2018 Estácio file:///W:/2018.2/legislacao_processual_da_mediacao__GON953/aula1.html 8/19 Com o fim da República Velha, a Constituição de 1934 passou a atribuir competência exclusiva para a União Federal para legislar sobre Direito Processual. A tendência foi mantida com a Carta outorgada de 1937, em seu Art. 16, XVI, culminando com a edição do Código Brasileiro de Processo Civil, por meio do Decreto-lei nº 1.608, de 18 de setembro de 1939. A unificação processual foi pela premente necessidade de se tratar de maneira uniforme o processo civil, ante a profusão de leis estaduais que não se moimportantestravam aptas a tutelar de forma satisfatória os direitos dos particulares. O CPC de 1939 trouxe ao país algumas das mais modernas doutrinas europeias da época, com a introdução de importantes inovações em nosso ordenamento processual, como o princípio da oralidade e a combinação do princípio dispositivo e do princípio do juiz ativo, possibilitando uma maior celeridade nos procedimentos. Chegamos, assim, ao segundo Código de Processo Civil, introduzido em nosso ordenamento jurídico pela Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, e baseado no anteprojeto de autoria de Alfredo Buzaid. 09/10/2018 Estácio file:///W:/2018.2/legislacao_processual_da_mediacao__GON953/aula1.html 9/19 Com o passar do tempo, com o surgimento de novas demandas sociais, o CPC de 1973 sofreu diversas alterações, principalmente a partir do início da década de 1990. Foi um momento caracterizado pela Reforma Processual, caracterizada por dezenas de leis alteradoras destinadas a promover mudanças pontuais e ajustes “cirúrgicos”. Em 1994, ocorreu a primeira reforma significativa. Podem ser citadas como exemplos as sistematizações da tutela antecipada e da tutela específica das obrigações de fazer e não fazer, e o novo regime do recurso de agravo, entre outras. Em dezembro de 2004, depois de muitos anos de debates, foi enfim aprovada e editada a Emenda Constitucional nº 45, que trouxe a chamada “Reforma do Poder Judiciário”. Atenção Em 2009, os chefes dos Três Poderes assinaram, em 13 de abril, o II Pacto Republicano. O referido documento tinha como objetivos o acesso à Justiça: I - especialmente dos mais necessitados. II - o aprimoramento da prestação jurisdicional. III - o aperfeiçoamento e fortalecimento das instituições do Estado. 09/10/2018 Estácio file:///W:/2018.2/legislacao_processual_da_mediacao__GON953/aula1.html 10/19 Palácio do Planalto / Poder Executivo| Fonte: https://pt.dreamstime.com/ <https://pt.dreamstime.com/> Supremo Tribunal Federal / Poder Judiciário| Fonte: http://arquitetablog.blogspot.com/ <http://arquitetablog.blogspot.com/2011/08/brasilia- supremo-tribunal-e-palacio-do.html> Congresso Nacional / Poder Legislativo| Fonte: http://vejanomapa.net.br/ <http://vejanomapa.net.br/palacio-do- planalto-brasilia/> Também em 2009, foi formada uma comissão de juristas, com o fito de elaborar um anteprojeto para o Novo Código Civil. https://pt.dreamstime.com/ http://arquitetablog.blogspot.com/2011/08/brasilia-supremo-tribunal-e-palacio-do.html http://vejanomapa.net.br/palacio-do-planalto-brasilia/ 09/10/2018 Estácio file:///W:/2018.2/legislacao_processual_da_mediacao__GON953/aula1.html 11/19 Logo em dezembro daquele ano, a comissão concluiu a primeira fase de seus trabalhos. Após, submeteu a proposta elaborada a oito audiências públicas, que resultaram na análise de mais de mil sugestões. Em seguida, foram consultados Ministros dos Tribunais Superiores e, finalmente, iniciado o processo legislativo. A Comissão do Senado, no dia 24 de novembro de 2010, apresentou seu relatório com um projeto substitutivo, o PLS n. 166/2010, do Senador Valter Pereira, que, com algumas alterações, foi aprovado pelo plenário em 15 de dezembro de 2010. Após minuciosa revisão na Presidência do Senado, o texto final foi então encaminhado à sanção presidencial, em fevereiro de 2015. Em 16 de março, o projeto foi sancionado pela Presidência da República, sendo publicado, com sete vetos, no Diário Oficial do dia seguinte. Com base no texto aprovado, pode-se dizer que se buscou um balanceamento entre boas ideias já existentes e as necessidades de mudança, sempre com o objetivo de assegurar maior celeridade na prestação jurisdicional. Assim, a conciliação foi elevada em importância, passando a ser o primeiro ato de convocação do réu a juízo. A conciliação está, em verdade, inserida no âmbito dos meios adequados de solução de conflitos, de que se deve, sempre que possível, lançar mão, já que apresentam maior eficiência, se comparados à prestação jurisdicional. Quando o processo legislativo já parecia esgotado, no final de 2015 foi apresentado o Projeto de Lei nº 168/2015, objetivando a modificação de alguns dispositivos do NCPC, ainda na vacatio. As alterações mais importantes repercutiram sobre a ordem cronológica, ajustes nas hipóteses de ação rescisória e de reclamação e o retorno do juízo de admissibilidade dos recursos excepcionais, com a sistematização dos 09/10/2018 Estácio file:///W:/2018.2/legislacao_processual_da_mediacao__GON953/aula1.html 12/19 recursos de agravo (nos próprios autos) e agravo interno a depender da decisão exarada pelo Tribunal a quo. A proposição acabou aprovada e publicada, sem vetos presidenciais, em 5 de fevereiro de 2016, como Lei nº 13.256. As alterações foram efetivadas de forma a que os dispositivos entrassem em vigor junto com os demais artigos não alterados da Lei nº 13.105/15, apesar de, durante algum tempo, ter havido insegurança na doutrina quanto à data exata da vigência do CPC/2015. A interação entre o CPC/2015 e a evolução da legislação brasileira até o advento da Lei nº 13.140/2015 Após o advento do NCPC, com a mesma base ideológica, de privilegiar o acesso à justiça e a duração razoável do processo, tivemos ainda a edição da Lei de Mediação e da Lei que reformou pontos específicos do procedimento da arbitragem. Os meios adequados de solução de controvérsia apresentam-se, desde a segunda metade do século XX, como a melhor saída para os problemas de lentidão e inefetividade da justiça estatal. Por isso, o NCPC tomou a opção de valorizar as conciliações e as mediações judiciais, bem como a arbitragem, demonstrando uma verdadeira modificação de paradigma em relação a essas questões. 09/10/2018 Estácio file:///W:/2018.2/legislacao_processual_da_mediacao__GON953/aula1.html 13/19 Fonte: Shutterstock Em sua Exposição de Motivos, destaca: Pretendeu-se converter o processo em instrumento incluído no contexto social em que produzirá efeito o seu resultado. Deu-se ênfase à possibilidade de as partes porem fim ao conflito pela via da mediação ou da conciliação. Entendeu-se que a satisfação efetiva das partes pode dar-se de modo mais intenso se a solução é por elas criada e não imposta pelo juiz. Fonte: http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=4202820 <http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=4202820> As primeiras notícias do uso da conciliação em nosso ordenamento datam das Ordenações Filipinas. Nesse diploma havia menção à tentativa conciliatória prévia à propositura da demanda. (Texto disponível aqui <http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/ordenacoes.htm> ). Essa ideia acabou por inspirar a Constituição do Império, de 1824,que estabelecia uma etapa de conciliação preliminar, de competência dos juízes de paz (como se pode aferir da leitura do Art. 161: Do Poder Judicial: sem se fazer constar, que se tem intentado o meio da reconciliação, não se começará processo algum). http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=4202820 http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/ordenacoes.htm 09/10/2018 Estácio file:///W:/2018.2/legislacao_processual_da_mediacao__GON953/aula1.html 14/19 Inspirou ainda o Decreto nº 737 de 1850 (o Art. 23 do Decreto 737/1850 trazia norma no sentido de que não se deveria admitir causa comercial proposta perante o juízo contencioso, como regra, sem que fosse tentada a conciliação). Em 1890, já na República, a prática foi extinta, por meio do Decreto nº 359, considerando que ela havia se tornado inútil. Como relata Michele Paumgartten, após este decreto, muitos Estados mantiveram a conciliação, geralmente confiada à Justiça de Paz, mas com caráter meramente facultativo. O tema ganhou novo fôlego no âmbito trabalhista. A Consolidação das Leis do Trabalho estruturou as chamadas Juntas de Conciliação e Julgamento, posteriormente reformuladas como varas do trabalho pela EC 24/1999. Em 2000, a Lei 9.958 instituiu as comissões de conciliação, com o fito de que a tentativa conciliatória prévia passasse a ser obrigatória em qualquer demanda trabalhista, inserindo o Art. 625-D na CLT. Alguns anos mais tarde, o STF suspendeu cautelarmente o dispositivo, no que se refere ao caráter obrigatório da medida, por entendê-lo incompatível com a Constituição (ADI 2160 MC, Relator(a): Min. OCTAVIO GALLOTTI, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 13/05/2009, DJe-200 DIVULG 22-10-2009 PUBLIC 23-10-2009 EMENT VOL-02379-01 PP- 00129 RIOBTP v. 21, n. 250, 2010, p. 18-47). No CPC/73, houve a previsão da audiência preliminar, no Art. 331, dispositivo esse que passou por alterações, primeiro pela Lei nº 8.952/94 e, posteriormente, pela Lei nº 10.444/2002. Com os Juizados Especiais, a conciliação novamente ganhou força, prevendo o antigo Juizado Especial de Pequenas Causas, em seu Art. 2º, que se buscaria, sempre que possível, a conciliação. Posteriormente, a Constituição previu a criação dos Juizados Especiais, os quais seriam competentes para conciliar em causas de menor complexidade. Em 1994, com a edição da Lei nº 8.952/94, alterou-se o CPC/73 para incluir a conciliação entre os deveres do Juiz e inseri-la como uma das finalidades da audiência preliminar. 09/10/2018 Estácio file:///W:/2018.2/legislacao_processual_da_mediacao__GON953/aula1.html 15/19 Conciliação finalidade da audiência preliminar | Fonte: Shutterstock Passados mais de 70 anos de seu primeiro registro legislativo, hoje é realidade a Semana da Conciliação, estimulada pelo Conselho Nacional de Justiça, realizada anualmente, em todos os tribunais brasileiros. Os resultados são publicados no site do CNJ, o qual mantém estatísticas de acordos realizados. O CPC/2015 prevê o instituto da conciliação em diversos dispositivos. Os mais relevantes são os Art. 165, §2º, 334, 359 e 487, III. Quanto a outro método adequado de solução de conflitos, a mediação, o esforço do legislador em positivá-la é mais recente. A primeira tentativa foi o Projeto de Lei nº 4.827/98, proposto pela Deputada Zulaiê Cobra, que trazia uma regulamentação concisa, estabelecendo a definição de mediação e elencando algumas disposições a respeito. Contudo, o PL acabou arquivado após oito anos de tramitação acidentada. Já em 2010, com um maior amadurecimento dos debates sobre a matéria, o Conselho Nacional de Justiça, implementando, de forma definitiva, o denominado sistema multiportas, editou a Resolução nº 125. O Art. 1º da Resolução institui a Política Judiciária Nacional de tratamento dos conflitos de interesses, visando a garantir o direito à solução dos conflitos por meios adequados, explicitando que é dever do Poder Judiciário, além da solução adjudicada mediante sentença, oferecer outras formas para resolver 09/10/2018 Estácio file:///W:/2018.2/legislacao_processual_da_mediacao__GON953/aula1.html 16/19 controvérsias, especialmente os chamados meios consensuais, como a mediação e a conciliação, assim como prestar atendimento e orientação ao cidadão. Fonte: Shutterstock Nesse diapasão, em 2011, o Senador Ricardo Ferraço apresentou o Projeto de Lei nº 517/11, voltado a regulamentar a mediação judicial e a extrajudicial, em harmonia com a Resolução nº 125 do CNJ. Posteriormente, apensaram-se ao PLS 517 mais duas iniciativas legislativas: o PLS 405/13, fruto do trabalho realizado por Comissão instituída pelo Senado, e presidida pelo Min. Luis Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça; e o PLS 434/13, fruto de Comissão instituída pelo CNJ e pelo Ministério da Justiça, presidida pelos Min. Nancy Andrighi e Marco Buzzi, ambos do STJ, e pelo Secretário da Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça, Flavio Croce Caetano. 09/10/2018 Estácio file:///W:/2018.2/legislacao_processual_da_mediacao__GON953/aula1.html 17/19 Fonte: Shutterstock Foram convocadas audiências públicas para que os três projetos fossem discutidos, debatendo-se as questões controvertidas que ainda cercam o tema. Em 2013, o Senador Vital do Rego, relator, apresentou um Substitutivo ao PLS 517/11 com o objetivo de congregar o que havia de melhor nas três iniciativas. O Substitutivo foi aprovado e remetido à Câmara, onde foi autuado como Projeto de Lei 7.169/14. Durante 2014, os deputados realizaram audiências públicas e um Substitutivo foi apresentado pelo Dep. Sergio Zveiter, relator da matéria na CCJ. O texto foi consolidado, aprovado e devolvido ao Senado em março de 2015, para apreciação das alterações feitas no processo legislativo. Em junho, o projeto foi aprovado na casa iniciadora do PL, sem modificações. Sancionado pela Presidente da República, converteu-se na Lei nº 13.140/15, sem vetos. É interessante observar também que, na esteira do CNJ, o CNMP editou a Resolução nº 118/14, que dispõe sobre a política nacional de incentivo à autocomposição no âmbito do Ministério Público. Atividade 1. Indique as principais fontes normativas da mediação nos dias atuais. 2. Os meios de solução consensual de conflitos só foram introduzidos no Direito brasileiro com o CPC/2015 ou já existiam antes? 09/10/2018 Estácio file:///W:/2018.2/legislacao_processual_da_mediacao__GON953/aula1.html 18/19 3. É possível afirmar que existe hoje no Brasil uma política pública de resolução consensual de conflitos? Referências BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Vicissitudes da audiência preliminar: Temas de Direito Processual. 9.ª série. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 129-139. CAPPELLETTI, Mauro. Os métodos alternativos de solução de conflitos no quadro do movimento universal de acesso à Justiça. Revista de Processo, vol. 74. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994, p. 82/97. GRECO, Leonardo. Jurisdição voluntária moderna. São Paulo: Dialética, 2003. MARINONI, Luiz Guilherme. Garantia da tempestividade da tutela jurisdicional e duplo grau de jurisdição. In: TUCCI, José Rogério Cruz e. Garantias constitucionais do processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 218. PAUMGARTTEN, Michele Pedrosa. Novo Processo Civil Brasileiro: Métodos adequados de resolução de conflitos. Função Judicial - Negociação - Conciliação - Mediação - Arbitragem - Conforme o Novo Código de Processo Civil - Lei 13.105 de 16.03.2015. Curitiba: Juruá, 2015, p. 45. PELUSO, Antonio C.; RICHA, Morgana de A. (coord.). Conciliação e Mediação: Estruturação da política judiciaria nacional. Rio de Janeiro: Forense, 2011. PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. O marco legal da mediação no Brasil: Comentários à Lei nº 13.140/15. In: GABBAY, Daniela M.; TAKAHASHI, Bruno. Justiça Federal: inovações nos mecanismos consensuais de solução de conflitos. Brasília: Gazeta Jurídica, 2014. SALOMÃO, Luis Felipe; ROCHA, Caio. Arbitragem e Mediação: A reforma da legislação brasileira. São Paulo: Atlas, 2015.SPENGLER, Fabiana Marion; SPENGLER NETO, Theobaldo. Mediação enquanto política pública: A teoria, a prática e o projeto de lei. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2010. 09/10/2018 Estácio file:///W:/2018.2/legislacao_processual_da_mediacao__GON953/aula1.html 19/19 WAMBIER, Teresa A. A. (Org.). Reforma do Judiciário: Primeiros ensaios críticos sobre a EC nº 45/2004. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. Próximos Passos Na próxima aula, aprenderemos um pouco mais sobre as diversas ferramentas de resolução consensual de conflitos. Para tanto, vamos fixar as principais semelhanças e distinções entre a negociação, a conciliação, a mediação e a arbitragem. Procuraremos, portanto: Examinar as principais ferramentas de resolução de conflitos; Compreender a diferenças entre os meios de composição e os meios de imposição de solução; Assimilar as características mais importantes da mediação no Direito brasileiro. Explore mais Leia o texto: • “O Marco Legal da Mediação no Brasil”. <https://www.academia.edu/32226099/O_MARCO_LEGAL_DA_MEDIAC_A_ O_NO_BRASIL_-_Atualiza%C3%A7%C3%A3o_em_2016> Assista ao vídeo: • “É Lei. Lei de Mediação”. <https://www.youtube.com/watch? v=SOXTIh85sEI> TV Senado. https://www.academia.edu/32226099/O_MARCO_LEGAL_DA_MEDIAC_A_O_NO_BRASIL_-_Atualiza%C3%A7%C3%A3o_em_2016 https://www.youtube.com/watch?v=SOXTIh85sEI
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