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ELETRÔNICA ANALÓGICA AULA 6 Profª Viviana Raquel Zurro CONVERSA INICIAL Caro aluno, nesta aula desenvolveremos estudos sobre circuitos osciladores como geradores de sinais. Estudaremos também realimentação e critérios de estabilidade de sistemas. Durante o desenvolvimento de sistemas eletrônicos, é necessário verificar seu comportamento em determinadas condições. Testes fundamentais, como os de resposta em frequência, são realizados injetando na entrada um sinal de padrão conhecido, o sinal senoidal. Esse sinal senoidal é usado para verificar como o sistema se comporta para diferentes harmônicas do sinal de entrada. Outro teste muito importante é o de resposta ao degrau, em que é aplicado um degrau (onda quadrada) na entrada para verificar a velocidade de resposta do sistema a variações abruptas do sinal de entrada. Também são usados outros padrões conhecidos para outro tipo de testes. Esses sinais-padrões de teste são gerados por diversos dispositivos eletrônicos (osciladores). Os osciladores são usados também como sistemas controladores de tempo, como o clock dos computadores, cujos pulsos são necessários para contagem de tempo, entre outras coisas, nos sistemas de comunicações e em outros sistemas eletrônicos. TEMA 1 – EFEITOS DA REALIMENTAÇÃO NA BANDA PASSANTE DE UM AMPLIFICADOR O conceito de realimentação foi introduzido indiretamente nas aulas anteriores ao falar de transistores e amplificadores operacionais. Realimentar um sistema implica em pegar uma pequena porção do sinal de saída e injetá-lo na entrada subtraindo-o (realimentação negativa) do sinal de entrada ou somando- o (realimentação positiva) com este. A realimentação negativa reduz o ganho do sistema estabilizando-o e melhorando-o. A realimentação positiva, por outra parte, levará o sistema a trabalhar em uma região instável, fazendo com que o circuito oscile. Para que o sistema seja estável, alguns critérios fundamentais devem ser respeitados. O ganho de transferência de um amplificador com realimentação é dado pela equação (1): 3 𝐴𝑓 = 𝐴 1 + 𝛽𝐴 (1) Se 𝛽𝐴 ≫ 1: 𝐴𝑓 ≅ 𝐴 𝛽𝐴 = 1 𝛽 (2) Considerando a equação (2), podemos verificar que o ganho de transferência depende completamente da rede de realimentação 𝛽, mas sabemos que mesmo sendo 𝛽 constante, o ganho A é dependente da frequência. Portanto, em determinadas frequências, |𝛽𝐴| terá um valor pequeno (Millman e Halkias, 1972). 1.1 Realimentação negativa A Figura 1 mostra o diagrama em blocos de um amplificador realimentado: Figura 1 – Diagrama de blocos de um amplificador realimentado |1 + 𝐴𝛽| > 1 𝑟𝑒𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎çã𝑜 𝑛𝑒𝑔𝑎𝑡𝑖𝑣𝑎 (3) O ganho do sistema com realimentação negativa diminui, mas as vantagens que a realimentação negativa traz compensam essa pequena desvantagem. As vantagens são: Redução do ruído; Aumento da banda passante; Estabilização do ganho de tensão; Aumento da impedância de entrada; Diminuição da impedância de saída; 4 Melhoras na resposta linear do sistema. 1.2 Tipos de realimentação De acordo com a configuração da entrada, a realimentação pode ser série ou paralelo. De acordo com a saída, pode ser de tensão ou de corrente. A Tabela 1 mostra os tipos de realimentação. Na mesma tabela, os parâmetros 𝐴𝑉 e 𝐴𝐼 são os ganhos de tensão e de corrente, respectivamente, 𝐺𝑀 é a transcondutância (ou condutância de transferência) e 𝑅𝑀 é a transresistência (ou resistência de transferência). O amplificador de transcondutância é frequentemente chamado de conversor tensão-corrente, e o amplificador de transresistência é frequentemente chamado de conversor corrente-tensão. Tabela 1: Tipos de realimentação e parâmetros do amplificador realimentado Sinal ou relação Tipo de realimentação Tensão - série Corrente - série Tensão - paralelo Corrente - paralelo Saída Tensão Corrente Tensão Corrente Entrada Tensão Tensão Corrente Corrente 𝑨 𝐴𝑉 𝐺𝑀 𝑅𝑀 𝐴𝐼 𝜷 𝑉𝑓 𝑉𝑜⁄ 𝑉𝑓 𝐼𝑜⁄ 𝐼𝑓 𝑉𝑜⁄ 𝐼𝑓 𝐼𝑜⁄ A Figura 2 mostra os esquemas correspondentes (Boylestad e Nashelsky, 2013). 5 Figura 2 – Diagramas de blocos dos diferentes tipos de realimentação: (a) tensão série, (b) tensão paralelo, (c) corrente série e (d) corrente paralelo TEMA 2 – ESTABILIDADE Na seção anterior, consideramos a realimentação negativa, mas, quando |1 + 𝐴𝛽| < 1, a realimentação é positiva ou regenerativa. Neste caso, o ganho de transferência pode ser maior do que o ganho direto do amplificador sem realimentação. |𝐴𝑓| = |𝐴| |1 + 𝛽𝐴| > |𝐴| (4) A regeneração da realimentação positiva implica em aumento de ganho, mas, devido à baixíssima estabilidade, é raramente usada. Por exemplo: considera-se um amplificador com realimentação positiva sem sinal na entrada, mas devido a ruídos ou distúrbios transitórios, aparece um sinal na saída 𝑋𝑜. Uma porção −𝛽𝑋𝑜 deste sinal de saída é reinjetada na entrada, somando com o sinal de entrada, aparecendo novamente na saída como −𝛽𝐴𝑋𝑜. Esse processo se repete continuamente. Portanto, se −𝛽𝐴𝑋𝑜 = 𝑋𝑜, ou seja, se −𝛽𝐴 = 1, o amplificador oscilará. Realimentação positiva implica em sistema instável, portanto, um amplificador com realimentação positiva tenderá a oscilar. Então, 6 realimentação positiva não é usada em amplificadores, mas combinando realimentação positiva e negativa é possível implementar circuitos osciladores ou geradores de sinais. 2.1 Condição de estabilidade Se um amplificador com realimentação negativa é projetado para atuar em uma determinada faixa de frequência, mas entra em oscilação em determinadas frequências, ele não serve como amplificador. É necessário que o circuito seja estável não somente na faixa de interesse, mas em todas as faixas de frequência. Então, qualquer perturbação transitória se dissipará com o tempo. O sistema é instável se a oscilação persiste por tempo indeterminado ou aumenta até o limite imposto pelo próprio circuito (na maioria dos casos, pela fonte de alimentação). Na aula 5 Tema 4, falamos do plano s de frequência complexa. Nesse tema, temos visto que, se existir um polo com a parte real positiva (realimentação positiva), a amplitude do transitório aumentará indefinidamente (Aula 5, páginas 8 a 12). Portanto, a condição de estabilidade diz que todos os polos de 1 + βA devem estar do lado esquerdo do plano s. 2.2 Critério de Nyquist O critério de Nyquist apresenta uma opção equivalente para estabilidade a partir do estado estável e da resposta em frequência. Como o produto 𝛽𝐴 é um número complexo, pode ser representado por um ponto no plano s com a componente real no eixo x e a imaginária no eixo y. Como 𝛽𝐴 é função da frequência, os pontos no plano complexo s são obtidos para os valores de 𝛽𝐴 para todas as frequências (−∞ ≤ 𝑓 ≤ ∞). O lugar geométrico destes pontos é uma curva fechada. O critério de Nyquist diz: o amplificador é instável se a curva contém o ponto −1 + j0, e o amplificador é estável se a curva não contém este ponto (Millman e Halkias, 1972). O critério de Nyquist será estudado em disciplinas posteriores. TEMA 3 – OSCILADORES SENOIDAIS No desenvolvimento de sistemas tanto analógicos quanto digitais, muitas vezes é necessário testar os mesmos com sinais conhecidos (padrão), tais como ondas senoidais, quadradas, triangulares e outros. Os sinais senoidais são 7 usados para testes de resposta em frequência devido ao formato se manter mesmo variando a frequência, somente diminuindo a amplitude para frequência além da banda passante. Por outra parte, os sinais quadrados são muito usados como temporizadores, pulsos de clock. Também são usados como portadores de informação e em muitas outras aplicações. Neste tema, estudaremos geradoresde ondas senoidais. São várias as configurações de circuitos que, sem ter sinal de entrada, apresentam na saída um sinal senoidal. Esses dispositivos são chamados de osciladores lineares, mas, para controlar a amplitude da senoide de saída, será empregada alguma forma de não linearidade. Como todos os osciladores são circuitos não lineares, não será possível aplicar métodos lineares, mas existem técnicas nas quais são necessários dois passos para projetar um oscilador: 1. Análise linear e realimentação; 2. Mecanismo não linear para controle da amplitude (Sedra e Smith, 2000). 3.1 Realimentação e critério de Barkhausen A Figura 3 mostra um amplificador realimentado com um circuito misturador ainda não conectado em laço fechado. O sinal de entrada 𝑥𝑖 diretamente aplicado na entrada do amplificador gera um sinal de saída 𝑥0. A saída da rede de realimentação é: 𝑥𝑓 = 𝛽𝑥0 = 𝐴𝛽𝑥𝑖 (5) A saída do circuito misturador é: 𝑥𝑓 ′ = −𝑥𝑓 = −𝐴𝛽𝑥𝑖 (6) Portanto, o ganho de laço será: 𝐺𝑎𝑛ℎ𝑜 𝑑𝑒 𝑙𝑎ç𝑜 = 𝑥𝑓 ′ 𝑥𝑖 = −𝑥𝑓 𝑥𝑖 = −𝛽𝐴 (7) 8 Figura 3 – Amplificador com ganho 𝐴 e rede de realimentação 𝛽 ainda não conectado em laço fechado Se 𝑥𝑓 ′ for ajustada para ser exatamente igual a 𝑥𝑖, para o amplificador não haverá diferença se tirarmos o sinal externo 𝑥𝑖 e conectarmos o terminal 2 ao terminal 1. Nessa situação, o amplificador continuaria entregando o mesmo sinal de saída 𝑥𝑜. Isso não significa que o sinal deve ser senoidal, e, como o amplificador não é linear, a forma de onda não será necessariamente preservada. Ajustar 𝑥𝑓 ′ para ser igual a 𝑥𝑖 equivale a dizer que 1 = −𝛽𝐴, ou seja, que o ganho de laço deve ser igual a 1 (Millman e Halkias, 1972). 3.1.1 Critério de Barkhausen Considerando que o oscilador opera linearmente e que o amplificador ou a rede de realimentação ou ambos têm elementos reativos, o único sinal que manteria sua forma de onda seria senoidal. A condição 𝑥𝑖 = 𝑥𝑓 ′ implica que amplitude, frequência e fase de 𝑥𝑓 ′ e 𝑥𝑖 são exatamente iguais, mas o deslocamento de fase imposto pela rede reativa é função da frequência. Assim, podemos enunciar um importante princípio: a frequência na qual um oscilador senoidal operará é a frequência para a qual o deslocamento total introduzido é igual a zero. Ou seja, quando o sinal de entrada passa pelo amplificador e pela rede de realimentação, volta novamente para a entrada com fase 0 ou múltiplo inteiro de 2𝜋. Em outras palavras: a frequência de um oscilador senoidal é igual à frequência para a qual o deslocamento de fase do ganho de laço é igual a zero. A condição de ganho de laço unitário 1 = −𝛽𝐴 é chamada de critério de Barkhausen. Este princípio está de acordo com a fórmula de realimentação 𝐴𝑓 = 9 𝐴 ∕ (1 + 𝛽𝐴), para 1 = −𝛽𝐴, 𝐴𝑓 → ∞. Isso pode ser interpretado da seguinte maneira: haverá tensão na saída mesmo sem aplicar sinal externo na entrada. 3.1.2 Considerações práticas Na Figura 4, é possível ver três situações diferentes. No primeiro caso, |𝛽𝐴| < 1. Se retirarmos o sinal externo, a oscilação decairá até parar completamente. No segundo caso, |𝛽𝐴| > 1, a amplitude aumentará até ser limitada pelo próprio sistema. Esse é um sistema instável. No último caso, |𝛽𝐴| = 1, a oscilação se manterá indefinidamente. Figura 4 – Resposta de um circuito com realimentação. (a) |𝛽𝐴| < 1, (b) |𝛽𝐴| > 1, (c) |𝛽𝐴| = 1 (a) (b) (c) 3.1.3 Controle não linear de amplitude O critério de Barkhausen garante que a oscilação será mantida enquanto a alimentação do circuito estiver ligada, mas na prática variações dos parâmetros dos componentes (tanto ativos como passivos) devidas a fatores externos (tais como temperatura, envelhecimento etc.) variam o valor de |𝛽𝐴|. Se este valor for diferente de 1, a oscilação decairá gradativamente até desaparecer ou -10 -5 0 5 10 0 200 400 600 800 1000 Amp. Tempo -50 -30 -10 10 30 50 0 200 400 600 800 1000 Amp. Tempo-Vsat +Vsat -10 -5 0 5 10 0 200 400 600 800 1000 Amp. Tempo 10 aumentará gradativamente até ser limitada pelo próprio circuito. Portanto, será necessário um mecanismo que force |𝛽𝐴| a permanecer igual a 1 na amplitude desejada do sinal de saída. Os métodos básicos não lineares para controle da amplitude são: Circuito limitador – este circuito limita a amplitude no valor desejado. Um FET operando na região de tríodo como resistor controlado por tensão, fornecendo um controle automático de ganho (Sedra e Smith, 2000). A Figura 5 mostra o processo de geração de uma oscilação em regime permanente, desde o ruído inicial até o estabelecimento do regime permanente (Boylestad e Nashelsky, 2013). Figura 5 – Processo de geração de uma oscilação em regime permanente TEMA 4 – TIPOS DE OSCILADORES Em todo oscilador real, o ganho de laço é ligeiramente maior do que 1, e a amplitude da oscilação é limitada pela própria não linearidade. Trabalhar com osciladores é bastante difícil devido às não linearidades. Em muitos casos, a incursão na faixa de operação não linear é pequena, então podemos desconsiderar completamente essas não linearidades. 4.1 Oscilador de deslocamento de fase O oscilador de deslocamento de fase é composto por um circuito ativo com uma rede de realimentação reativa. Na Figura 6 o amplificador é um elemento ativo conectado em uma configuração conhecida a malha de realimentação destacada em azul é composta por uma cascata de 3 circuitos RC (Boylestad e Nashelsky, 2013). 11 Figura 6 – Esquema básico de um oscilador de deslocamento de fase A saída do último par RC retorna à entrada do amplificador. A carga que a rede de realimentação representa para a carga pode ser desprezada. Como o amplificador está em configuração de inversor, provoca um deslocamento de fase de 180o, e a rede de realimentação provocará mais um deslocamento. Em algumas frequências, a defasagem provocada pela rede de realimentação será de 180o. Nestas frequências o deslocamento de fase total do sinal que entra no amplificador será novamente igual a zero. Nestas frequências o circuito oscilará com amplitude suficientemente grande. 4.1.1 Oscilador de deslocamento de fase com FET Analisando a malha de realimentação do sistema da Figura 7, podemos deduzir que: −𝛽 = 𝑉𝑓 ′ 𝑉0 = 1 1 − 5𝛼2 − 𝑗(6𝛼 − 𝛼3) (8) Sendo 𝛼 = 1 𝜔𝑅𝐶 , o deslocamento de fase do ganho de laço será de 180o para 𝛼2 = 6. Nessas condições, a frequência de oscilação será (Millman e Halkias, 1972): 𝜔 = 1 𝑅𝐶√6 [ 𝑟𝑎𝑑 𝑠 ] ⇒ 𝑓 = 1 2𝜋𝑅𝐶√6 [𝐻𝑧] (9) 12 Figura 7 – Oscilador de deslocamento de fase com transistor de efeito de campo Fonte: Boylestad e Nashelsky (2013) 4.1.2 Oscilador de deslocamento de fase com transistor de junção Se usarmos um transistor de junção como elemento ativo, a resistência R de saída da rede de realimentação será ligada à base do transistor. No entanto, diferentemente do oscilador com FET que usa realimentação de tensão série, no transistor de junção será usada realimentação de tensão paralelo. Na Figura 8 é apresentado um oscilador de deslocamento de fase com transistor. Figura 8 – Oscilador de deslocamento de fase com transistor de junção Fonte: Boylestad e Nashelsky (2013) + 𝑉𝑜 - + 𝑉𝑓 ′ = −𝑉𝑓 - 𝐼𝑏 𝐼3 13 O critério de Barkhausen determina que 𝐼3 e 𝐼𝑏 devem estar em fase, nesse caso a frequência de oscilação será: 𝑓 = 1 2𝜋𝑅𝐶 1 √6 + 4 𝑅𝑐 𝑅 (10) A Figura 9 apresenta um oscilador de deslocamento de fase com amplificador operacional cuja frequência de oscilação é dada pela equação (9). Figura 9 – Oscilador de deslocamento de fase com amplificador operacional Fonte: Boylestad e Nashelsky (2013) 4.2 Forma geral de um oscilador ressonante (oscilador sintonizado)A forma geral de um oscilador é a apresentada na Figura 10(a). O dispositivo ativo pode ser um FET, um transistor de junção ou um amplificador operacional. Na análise a seguir, consideraremos que o dispositivo tem impedância de entrada infinita (FET ou amplificador operacional). A Figura 10(b) mostra o modelo linear equivalente com ganho −𝐴𝑣 e impedância de saída 𝑅𝑜. A realimentação do circuito é tipo tensão – série. 14 Figura 10 – (a) Configuração básica de um oscilador ressonante; (b) Circuito linear equivalente (a) (b) Ganho de laço: Considerando a Figura 10: 𝑍𝐿 = (𝑍1 + 𝑍3) ∥ 𝑍2 (11) o ganho sem realimentação será: 𝐴 = −𝐴𝑣 𝑍𝐿 𝑍𝐿 + 𝑍0 (12) O fator de realimentação é: 𝛽 = − 𝑍1 𝑍1 + 𝑍3 (13) O ganho de laço é: −𝐴𝛽 = −𝐴𝑣𝑍1𝑍2 𝑅0(𝑍1 + 𝑍2 + 𝑍3) + 𝑍2(𝑍1 + 𝑍3) (14) Sendo 𝑍1, 𝑍2 e 𝑍3 elementos puramente reativos: 𝑍1 = 𝑗𝑋1, 𝑍2 = 𝑗𝑋2 e 𝑍3 = 𝑗𝑋3 com 𝑋 = 𝜔𝐿 indutivo, e 𝑋 = − 1 𝜔𝐶 capacitivo, então: 𝐼 = 0 15 −𝐴𝛽 = 𝐴𝑣𝑋1𝑋2 𝑗𝑅𝑜(𝑋1 + 𝑋2 + 𝑋3) − 𝑋2(𝑋1 + 𝑋3) (15) Para que o deslocamento de fase seja igual a zero, a parte imaginária do denominador deve ser zero: 𝑋1 + 𝑋2 + 𝑋3 = 0 (16) −𝐴𝛽 = 𝐴𝑣𝑋1𝑋2 −𝑋2(𝑋1 + 𝑋3) = − 𝐴𝑣𝑋1 (𝑋1 + 𝑋3) (17) O circuito vai oscilar na frequência de ressonância da combinação em série de 𝑋1, 𝑋2 e 𝑋3. Combinando as equações (16) e (17): −𝐴𝛽 = 𝐴𝑣𝑋1 𝑋2 (18) Como −𝐴𝛽 deve ser positivo com magnitude maior o igual a 1, 𝑋1 e 𝑋2 devem ter o mesmo sinal, ou seja, devem ser duas reatâncias do mesmo tipo (indutores ou capacitores), e 𝑋3 deve ter o sinal oposto. Portanto, se 𝑋1 e 𝑋2 são indutores, 𝑋3 deverá ser um capacitor. Essa configuração chama-se oscilador Hartley. Se 𝑋1 e 𝑋2 são capacitores, 𝑋3 deverá ser um indutor. Essa configuração chama-se oscilador Colpitts (Millman e Halkias, 1972). A Figura 11 mostra um oscilador Colpitts e a Figura 12 mostra um oscilador Hartley. Figura 11 – Oscilador Colpitts com FET como elemento ativo Fonte: Boylestad e Nashelsky (2013) 16 Figura 12 – Oscilador Hartley com transistor de junção como elemento ativo Fonte: Boylestad e Nashelsky (2013) 4.3 Oscilador de ponte de Wien O oscilador em ponte de Wien mostrado na Figura 13 é um circuito que usa uma fonte balanceada como rede de realimentação. O elemento ativo é um amplificador operacional (ideal) com as seguintes características: Ganho de laço aberto 𝐴𝑣 → ∞ Impedância de saída 𝑅𝑜 → 0. Impedância de entrada 𝑅𝑖 → ∞ Banda passante 𝐵𝑃 → ∞ Figura 13 – Oscilador em ponte de Wien com amplificador operacional como elemento ativo 17 Como 𝑉𝑜 = 𝐴𝑣𝑉𝑖 o ganho de laço será: −𝛽𝐴 = 𝑉𝑜 𝑉𝑜′ = 𝐴𝑣𝑉𝑖 𝑉𝑜′ (19) 𝑉𝑖 = 𝑉2 − 𝑉1 (20) Trabalhando com as Equações 19 e 20 sendo 𝐴𝑣 = 𝐴: −𝛽 = 𝑉𝑖 𝑉𝑜′ = 𝑉2 − 𝑉1 𝑉𝑜′ = 𝑍2 𝑍1 + 𝑍2 − 𝑅2 𝑅1 + 𝑅2 (21) De acordo com a Equação 21, é possível verificar que 𝑍1 e 𝑍2 têm o mesmo ângulo de fase na frequência 𝑓0: 𝑍1 = 𝑅 − 𝑗 𝜔𝐶 = 𝜔𝐶𝑅 − 𝑗 𝜔𝐶 (22) 𝑍2 = 𝑅 ⋅ (− 𝑗 𝜔𝐶) 𝑅 − 𝑗 𝜔𝐶 𝑍2 = − 𝑗𝑅 𝜔𝐶 𝜔𝐶𝑅 − 𝑗 𝜔𝐶 𝑍2 = −𝑗𝑅 𝜔𝐶𝑅 − 𝑗 (23) Considerando o primeiro termo da Equação 21: 𝑍2 𝑍1 + 𝑍2 = −𝑗𝑅 𝜔𝐶𝑅 − 𝑗 𝜔𝐶𝑅 − 𝑗 𝜔𝐶 + −𝑗𝑅 𝜔𝐶𝑅 − 𝑗 (24) Trabalhando com a Equação 24: 18 𝑍2 𝑍1 + 𝑍2 = −𝑗𝑅 𝜔𝐶𝑅 − 𝑗 (𝜔𝐶𝑅 − 𝑗)2 − 𝑗𝜔𝐶𝑅 𝜔𝐶. (𝜔𝐶𝑅 − 𝑗) 𝑍2 𝑍1 + 𝑍2 = −𝑗𝑅 (𝜔𝐶𝑅 − 𝑗)2 − 𝑗𝜔𝐶𝑅 𝜔𝐶 = −𝑗𝜔𝐶𝑅 (𝜔𝐶𝑅 − 𝑗)2 − 𝑗𝜔𝐶𝑅 (25) Trabalhando com o denominador da Equação 25: (𝜔𝐶𝑅 − 𝑗)2 − 𝑗𝜔𝐶𝑅 = (𝜔𝐶𝑅)2 − 2𝑗𝜔𝐶𝑅 − 1 − 𝑗𝜔𝐶𝑅 = (𝜔𝐶𝑅)2 − 3𝑗𝜔𝐶𝑅 − 1 ((𝜔𝐶𝑅)2 − 1) − 3𝑗𝜔𝐶𝑅 = 𝑎 − 𝑗𝑏 Substituindo na Equação 25: 𝑍2 𝑍1 + 𝑍2 = −𝑗𝜔𝐶𝑅 𝑎 − 𝑗𝑏 . 𝑎 + 𝑗𝑏 𝑎 + 𝑗𝑏 = −𝑗𝜔𝐶𝑅. (𝑎 + 𝑗𝑏) 𝑎2 + 𝑏2 (26) Trabalhando com o numerador: −𝑗𝜔𝐶𝑅. (𝑎 + 𝑗𝑏) = −𝑗𝜔𝐶𝑅. ((𝜔𝐶𝑅)2 − 1 + 3𝑗𝜔𝐶𝑅) (27) −𝑗𝜔𝐶𝑅. ((𝜔𝐶𝑅)2 − 1) + (−𝑗𝜔𝐶𝑅)(3𝑗𝜔𝐶𝑅) = −𝑗𝜔𝐶𝑅. ((𝜔𝐶𝑅)2 − 1) + 3(𝜔𝐶𝑅)2 Reescrevendo a Equação 27: −𝑗𝜔𝐶𝑅. (𝑎 + 𝑗𝑏) = −𝑗𝜔𝐶𝑅. ((𝜔𝐶𝑅)2 − 1) + 3(𝜔𝐶𝑅)2 (28) 𝑍2 𝑍1 + 𝑍2 = 3(𝜔𝐶𝑅)2 − 𝑗𝜔𝐶𝑅. ((𝜔𝐶𝑅)2 − 1) 𝑎2 + 𝑏2 (29) Na frequência de oscilação, o termo imaginário da Equação 29 tem que ser igual a zero: −𝑗𝜔0𝐶𝑅. ((𝜔0𝐶𝑅) 2 − 1) 𝑎2 + 𝑏2 = 0 (30) Portanto: 19 (𝜔0𝐶𝑅) 2 − 1 ⇒ 𝜔0𝐶𝑅 = 1 (31) 𝜔0 = 1 𝑅𝐶 → 𝑓0 = 1 2𝜋𝑅𝐶 (32) Em 𝜔 = 𝜔0: 𝑍2 𝑍1 + 𝑍2 | 𝜔0 = 3(𝜔0𝐶𝑅) 2 − 𝑗𝜔0𝐶𝑅. ((𝜔0𝐶𝑅) 2 − 1) ((𝜔0𝐶𝑅)2 − 1)2 + 9(𝜔0𝐶𝑅)2 (33) Combinando as Equações 32 e 33: 𝑍2 𝑍1 + 𝑍2 | 𝜔0 = 3 ( 1 𝑅𝐶 . 𝐶𝑅) 2 (( 1 𝑅𝐶 . 𝐶𝑅) 2 − 1) 2 + 9 ( 1 𝑅𝐶 . 𝐶𝑅) 2 = = 3. 12 (12 − 1)2 + 9. 12 (34) Portanto: 𝑍2 𝑍1 + 𝑍2 | 𝜔0 = 1 3 ⇒ 𝑉2 𝑉𝑜′ = 1 3 (35) Para o amplificador ideal 𝑉𝑖 = 0 [𝑉], portanto: 𝑉𝑖 𝑉𝑜′ | 𝜔0 = 1 3 − 𝑅2 𝑅1 + 𝑅2 ⇒ 0 = 1 3 − 𝑅2 𝑅1 + 𝑅2 (36) Então: 1 3 = 𝑅2 𝑅1 + 𝑅2 ⇒ 𝑅1 = 2𝑅2 (37) O ganho de laço deve ser igual a 1 com fase igual a zero. Como 𝐴𝑣 é um número positivo, a fase de −𝛽 será igual a zero, mas a magnitude, não. Isso é possível fazendo 𝑅2 𝑅1+𝑅2 < 1 3 . 20 Considerando: 𝑉1 𝑉𝑜 ′ = 𝑅2 𝑅1 + 𝑅2 = 1 3 − 1 𝛿 (38) Como 𝛿 é um número maior do que 3: −𝛽 = 𝑉2 − 𝑉1 𝑉𝑜 ′ = 𝑉2 𝑉𝑜 ′ − 1 3 + 1 𝛿 (39) Em 𝜔 = 𝜔0: 𝑉2 𝑉0 ′| 𝜔0 = 1 3 ⇒ −𝛽 = 1 3 − 1 3 + 1 𝛿 (40) Considerando 𝐴𝑣 = 𝛿, é cumprida a condição −𝛽𝐴 = 1. Essa condição se cumpre somente na frequência 𝑓0 (Millman e Halkias, 1972). 4.4 Osciladores a cristal A um cristal piezoelétrico (quartzo) com eletrodos metálicos em faces opostas é aplicada uma diferença de potencial entre os eletrodos. As cargas dentro do cristal serão submetidas a forças. Se o dispositivo estiver corretamente montado, deformações ocorrerão no cristal, o qual vibrará quando excitado corretamente. O fator de qualidade Q e a frequência de ressonância dependem de como o dispositivo é montado, do tamanho do cristal e de como as superfícies estão orientadas em relação aos seus eixos. Existem vários tipos de cristais comercializados com frequências na faixa dos kHz aos MHz e fatores de qualidade Q na faixa de mil a centos de milhares. Como o cristal é extremamente estável em relação a envelhecimento e temperatura e tem valores de Q extremamente altos, a estabilidade em frequência de osciladores a cristal é muito alta. A Figura 14 mostra o símbolo e o equivalente elétrico do cristal piezoelétrico. No modelo eletromecânico, a resistência 𝑅 é devida à fricção interna da estrutura do cristal quando está vibrando, a indutância 𝐿 representa a inércia (mola) e 𝐶 a compliância (rigidez do cristal), enquanto 𝐶𝑀 representa a capacitância do encapsulado quando o cristal não está vibrando e é devida ao 21 mesmo ser composto por duas placas paralelas (contatos metálicos) separadas por um dielétrico (cristal). Para um cristal de 90 kHz, os valores típicos são 𝑅 = 15 𝑘𝛺, 𝐿 = 137 𝐻 e 𝐶 = 0,0235 𝑛𝐹, que correspondem a um 𝑄 = 5.500, com dimensões de 30x4x1,5 mm, 𝐶𝑀 ≅ 3,5 𝑝𝐹 muito maior do que 𝐶. Figura 14 – Cristal piezoelétrico com seu respectivo modelo elétrico O cristal tem duas frequências de ressonância: Frequência de ressonância série correspondente a 𝑅, 𝐿 e 𝐶. Cristal com baixa impedância. Frequência de ressonância paralelo correspondente a 𝑅, 𝐿 e 𝐶𝑀. Cristal com alta impedância (Millman e Halkias, 1972). A Figura 15 mostra duas configurações de oscilador a cristal com transistores (Boylestad e Nashelsky, 2013). Figura 15 – (a)Oscilador a cristal série ressonante com MOSFET. (b) Oscilador a cristal paralelo ressonante com TBJ (a) (b) 22 TEMA 5 – ESTABILIDADE EM FREQUÊNCIA Devido aos elementos que compõem o oscilador serem reais, a frequência inicialmente calculada vai variar ao redor do valor inicial para cima ou para baixo, às vezes erraticamente, às vezes uniformemente em uma direção. Esta variação é devida à variabilidade de todos os componentes que constituem o oscilador, desde a fonte de alimentação, incluindo elementos ativos e reativos. A estabilidade em frequência de um oscilador é a capacidade que ele tem de manter estável a frequência perto do valor escolhido pelo máximo tempo possível. É impossível manter invariantes os parâmetros dos elementos do circuito oscilador devido a serem muitos elementos e muitos parâmetros para controlar. Em segundo lugar, os parâmetros dos elementos ativos são instáveis e difíceis de manter constantes. Por último, é difícil onde estão os componentes no circuito e como as variações neles estão interferindo no funcionamento do oscilador. A principal causa de variações dos parâmetros dos dispositivos é a temperatura, portanto é uma das principais causas das variações na frequência. Os elementos ativos são fortemente dependentes de temperatura, então é necessário levar em conta essa dependência durante o projeto do oscilador. 5.1 Critério de estabilidade Se em um oscilador existe um conjunto de elementos que tem a propriedade de, na frequência de oscilação, introduzir uma grande variação de fase θ com a frequência, dθ dω serve como medição da independência da frequência de todas as outras características do circuito. A estabilidade em frequência melhora com o aumento de dθ dω . No limite, com dθ dω tendendo a infinito, a frequência do oscilador depende somente desse conjunto de elementos e fica completamente independente de todas as outras características do circuito (Millman e Halkias, 1972). Os osciladores a cristal apresentam grandes vantagens pois os cristais são extremamente estáveis em frequência, e a estabilidade do circuito oscilador depende essencialmente do cristal e nada mais. Para verificar a estabilidade em frequência de diferentes tipos de osciladores, 𝑑𝜃 𝑑𝜔 deverá ser verificado para cada um deles na frequência de 23 oscilação. O circuito que tiver o maior valor de 𝑑𝜃 𝑑𝜔 terá maior estabilidade na dita frequência. FINALIZANDO Nesta aula foram verificados conteúdos referentes a diferentes tipos de circuitos osciladores. Foram apresentados os circuitos básicos com diferentes configurações usando diferentes tipos de dispositivos ativos. Osciladores são componentes fundamentais de muitos sistemas e podem gerar sinais de vários formatos como ondas senoidais, quadradas e triangulares, fora outros tipos de sinais específicos. Eles são usados em aplicações analógicas e digitais. Nesta aula, falamos principalmente de osciladores geradores de ondas senoidais. Como foi visto na Aula 5, a onda senoidal é usada para verificação de resposta em frequência de sistemas devido a que é a única onda que não sofre deformação (só variação de amplitude) quando a frequência varia. Em desenvolvimento de sistemas é de fundamental importância dispor de dispositivos que gerem formas de onda conhecidas para poder estudar o comportamento de sistemas. Para finalizar, cabe lembrar que esta rota de estudo é somente um guia e que aluno, além de ler este guia de estudos, deve estudar pelo livro-texto e pelo material de leitura obrigatória disponibilizado na Aula. Capítulo 14: Realimentação e circuitos osciladores – página 626. REFERÊNCIAS BOYLESTAD, R. L.; NASHELSKY, L. Dispositivos eletrônicos e teoria de circuitos. 11. ed. São Paulo: Pearson Education, 2013. MILLMAN, J.; HALKIAS, C. C. Integrated Electronics: Analog and Digital Circuits and Systems. Tokyo: McGraw-Hill, 1972. SEDRA, A. S.; SMITH, K. C. Microeletrônica. 4. ed. São Paulo: Makron Books, 2000.
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