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Apostila - Teoria da Literatura

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Prof. Jorge Alessandro Página 1 
 
 
 
 
 
 
 
O que é literatura? 
Arte literária é mimese [imitação]; é a arte que imita pela palavra. (Aristóteles) 
Literatura é linguagem carregada de significado. Grande literatura é simplesmente 
linguagem carregada de significado até o máximo grau possível. (Ezra Pound) 
“Poesia, arquitetura, música: arte. Aquilo que amplia as nossas vidas, que dá novo significado à nossa 
existência, que nos faz sonhar. Sonhos feitos de sons, sonhos feitos de pedra, sonhos feitos de 
palavras, não importa, o que importa é sonhar.” (Moacyr Scliar) 
A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito 
do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela 
toma corpo e nova realidade. (Afrânio Coutinho) 
 
O conceito de literatura modifica-se ao longo da história e entre as diversas concepções teóricas. Afinal de contas, 
assim como toda ARTE, elementos subjetivos estão envolvidos na elaboração deste conceito. A literatura estabelece relações 
com a CRIAÇÃO e com o BELO artístico e, com seus instrumentos específicos, recria a realidade humana para traduzir o 
homem e sua história. A Literatura nos confere uma voz universal sempre em companhia (diálogo) com outras artes e outros 
campos do saber como a ciência, a religião, a filosofia, o saber popular, etc 
Mesmo polêmico, o ENEM suscita discussões a respeito do literário em suas questões por isso é vital estar munido de 
um arsenal de conceitos, próprios da Teoria da Literatura. 
Embora existam muitas teorias sobre o literário, alguns aspectos se destacam: 
 A Literatura é imitação-recriação da realidade  A literatura guarda com a realidade uma relação intima 
 A Literatura é uma manifestação da arte  Participa com todas as artes do anseio pelo BELO, e a criação como 
princípio. 
 A Literatura usa a palavra escrita como matéria-prima  É pela linguagem e com seus recursos que a Literatura opera 
sua arte. 
 A Literatura é Manifestação da expressividade e sensibilidade humanas  Traduz a alma humana e seus anseios 
básicos 
 
 
 
 
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Características da linguagem literária 
Ênfase na expressão  O texto literário privilegia a Função poética da linguagem. É preocupado com a mensagem e 
com sua elaboração não apenas em sua semântica, mas também na estética, na sonoridade, na forma, etc 
 
 
 
 
 
Linguagem plurissignificativa  A polissemia é própria da linguagem. A literatura, por sua natureza, explora ao 
máximo as possibilidades de relação simbólica gerando linguagem conotativa (sentido transreal, figurado) 
Lépida e leve 
Língua do meu Amor velosa e doce, 
que me convences de que sou frase, 
que me contornas, que me vestes quase, 
como se o corpo meu de ti vindo me fosse. 
Língua que me cativas, que me enleias 
os surtos de ave estranha, 
em linhas longas de invisíveis teias, 
de que és, há tanto, habilidosa aranha... 
[...] 
Amo-te as sugestões gloriosas e funestas, 
amo-te como todas as mulheres 
te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor, 
pela carne de som que à ideia emprestas 
e pelas frases mudas que proferes 
nos silêncios de Amor!... 
MACHADO, G. In: MORICONI, I. (org.). 
 
Subjetividade  A linguagem literária é sempre mais pessoal. O literário é uma forma de representar o humano, está 
voltada para o SUJEITO, será linguagem carregada de emoções e comprometida com as impressões de seu emissor. 
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, 
minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis 
onde eu escrevera meu nome. 
 O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de 
gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus 
sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu 
peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos. 
(...) O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha 
noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, 
meu medo da morte. (João Cabral de Melo Neto, Os três mal amados) 
 
 
 
 
 
 mar azul 
 
mar azul marco azul 
mar azul marco azul barco azul 
mar azul marco azul barco azul arco azul 
mar azul marco azul barco azul arco azul ar azul 
 (Ferreira Gullart) 
Observe como a palavra “língua” 
nesta poesia sugere de forma 
ambígua sensualidade e a própria 
poesia. 
 
 
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Ficcionalidade  Na Literatura a realidade não está representada como em um espelho (reproduzida), mas subvertida, 
recriada. A FICÇÃO permite ao escritor traduzida a realidade segundo determinado ponto de vista, recria-la pela imaginação ou 
simplesmente relativiza-la pela fantasia 
 “Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor Samsa deu por si na cama transformado 
num gigantesco inseto. Estava deitado sobre o dorso, tão duro que parecia revestido de metal, e, ao 
levantar um pouco a cabeça, divisou o arredondado ventre castanho dividido em duros segmentos 
arqueados, sobre o qual a colcha dificilmente mantinha a posição e estava a ponto de escorregar. 
Comparadas com o resto do corpo, as inúmeras pernas, que eram miseravelmente finas, agitavam-se 
desesperadamente diante de seus olhos.” (Franz Kafka, A Metamorfose) 
Autonomia  A arte não possui uma obrigação pragmática, ou seja, não está comprometida com o utilitário. O artista 
de literatura não escreve obrigado a um determinado fim. A literatura é o próprio fim, ou seja autônoma. 
Escrevo. E pronto. 
Escrevo porque preciso, 
preciso porque estou tonto. 
Ninguém tem nada com isso. 
Escrevo porque amanhece, 
e as estrelas lá no céu 
lembram letras no papel, 
quando o poema me anoitece. 
A aranha tece teias. 
O peixe beija e morde o que vê. 
Eu escrevo apenas. 
Tem que ter por quê? 
(Paulo Leminski) 
 
Verso e prosa 
 Em PROSA – as linhas ocupam toda a extensão horizontal da página (Períodos e parágrafos) 
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos 
achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de 
histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. 
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-
postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra 
bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade". Clarice Lispector, Felicidade Clandestina 
 
 Em VERSO - as linhas não ocupam toda a extensão horizontal da página. (Verso e estrofes) 
Amar é jogo difícil. 
Amar é dever de ofício. 
Amar é fogo de artifício? 
Amar é saber-se físsil. 
 
Amante: coração fendido. 
Amante: coração queimado. 
Amante: jogador Ferido. 
Mário Faustino, in O homem e sua hora e outros poemas. 
São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 157 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Gêneros da Literatura 
 Lírico – Diz respeito às POESIAS, traduções do interior humano e seus sentimentos e desejos. 
 Épico – Diz respeito às NARRATIVAS, criação de histórias heroicas como representação dos feitos humanos. 
 Dramático – Diz respeito às ENCENAÇÕES, textos criados para transmutarem em ação na representação teatral. 
( 
Funções da Literatura 
A Literatura ainda que autônoma pode servir a determinados fins inserida na subjetividade e na história humana, algumas a 
saber: 
Função Estética  É a função criadora da literatura, sua capacidade de expressar o Belo que todos carregamos 
intuitivamente 
 
Função expressiva  A Literatura é um importante canal da expressão humana, uma forma de “sedizer” no mundo e 
assim criar sua identidade. 
Motivo 
 
Eu canto porque o instante existe 
e a minha vida está completa. 
Não sou alegre nem sou triste: 
sou poeta. 
 
Irmão das coisas fugidias, 
não sinto gozo nem tormento. 
Atravesso noites e dias 
no vento. 
 
Se desmorono ou se edifico, 
se permaneço ou me desfaço, 
— não sei, não sei. Não sei se fico 
ou passo. 
 
Sei que canto. E a canção é tudo. 
Tem sangue eterno a asa ritmada. 
E um dia sei que estarei mudo: 
— mais nada. 
Cecília Meireles MEIRELES, 
Função Sócio-política  É a capacidade da literatura de remontar a história humana para destacar pontos de vista, 
lutas, protestos, interferindo e modificando a realidade. 
NÃO HÁ VAGAS 
Ferreira Gullar 
O preço do feijão 
não cabe no poema. O preço 
do arroz 
não cabe no poema. 
Não cabem no poema o gás 
a luz o telefone 
a sonegação 
do leite 
da carne 
do açúcar 
do pão 
(...) 
- porque o poema, senhores, 
 está fechado: 
 "não há vagas" 
 
Só cabe no poema 
o homem sem estômago 
a mulher de nuvens 
a fruta sem preço 
 
 O poema, senhores, 
 não fede 
 nem cheira 
 
. 
http://pensador.uol.com.br/autor/cecilia_meireles/
 
 
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Função Didática  A Literatura é muitas vezes utilizada para ensinar princípios e ilustrar valores e fatos históricos 
 A PÁTRIA 
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste! 
Criança! não verás nenhum país como este! 
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta! 
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa, 
É um seio de mãe a transbordar carinhos. 
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos, 
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos! 
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos! 
Vê que grande extensão de matas, onde impera 
Fecunda e luminosa, a eterna primavera! 
Boa terra! jamais negou a quem trabalha 
O pão que mata a fome, o teto que agasalha... 
Quem com o seu suor a fecunda e umedece, 
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece! 
Criança! não verás país nenhum como este: 
Imita na grandeza a terra em que nasceste! (Olavo Bilac( 
Função Lúdica  A Literatura, pela sua liberdade de construção, promove uma forma de fruição e prazer, sendo 
assim utilizada como forma de lazer e entretenimento. 
Poesia é... brincar com as palavras 
como se brinca com bola, 
papagaio, pião. 
Só que bola, papagaio, pião 
de tanto brincar se gastam. 
As palavras não: 
Quanto mais se brinca com elas, 
mais novas ficam. 
Como a água do rio 
que é água sempre nova. 
Como cada dia que é sempre um novo dia. 
Vamos brincar de poesia? 
José Paulo Paes 
 
Estilo - É o modo de expressar-se de um escritor, ou de um grupo ou período literário. 
 
 Estilo individual - quando se estuda a maneira de escrever de um determinado escritor, destacando suas 
peculiaridades estilísticas. 
 
 Estilo de época – conjunto de características que distinguem as obras literárias de um dado período. 
 
 
 
 
 
 
Aprendi com meu filho de dez anos 
 Que a poesia é a descoberta 
 Das coisas que eu nunca vi. 
 Oswald de Andrade 
http://pensador.uol.com.br/autor/jose_paulo_paes/
 
 
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Alguns conceitos importantes 
Alegoria - Metáfora ou série de metáforas que concretizam um pensamento ou uma realidade abstracta. A alegoria aparece 
muitas vezes como uma personificação. 
Catarse - “Purgação, purificação, limpeza. O efeito moral e purificador da tragédia clássica, cujas situações dramáticas, de extrema 
intensidade e violência, trazem à tona os sentimentos de terror e piedade dos espectadores, proporcionando-lhes o alívio, ou purgação, 
desses sentimentos.” 
Conotação - É a propriedade que possui uma palavra de ampliar seu campo semântico, dentro de um contexto, podendo ocasionar 
várias interpretações 
Denotação - É a propriedade que possui uma palavra de limitar-se a seu próprio conceito, de trazer apenas o seu significado primitivo, 
original 
 Ficção - “Ficção vem do latim fictionem e significa “ato de fingir, de simular”. É o produto da imaginação, da invenção, da fantasia, da 
criação.” 
Polissemia - Polissemia (do grego polys + sema) – é a propriedade que a palavra tem de receber mais de um significado, uma 
interpretação 
Semântica - Semântica (do grego semantiké - “a arte da significação”). É o estudo das mudanças de significação que as palavras 
sofrem no tempo e no espaço. É o estudo do sentido das palavras. 
Contexto - Termo linguístico que designa tanto as palavras que pertencem a um determinado enunciado como a realidade a que as 
palavras se referem (contexto extra-verbal) 
http://www.prof2000.pt/users/jmatafer/crecursos/recursos/glossario_de_termos_literarios.htm#METÁFORA

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