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E-BOOK 4 - DIREITO E SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

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Ana Elizabeth Lapa Wanderley Cavalcanti
Direito e Sociedade 
da Informação
Sumário
03
CAPÍTULO 4 – Contratos eletrônicos ................................................................................05
1 Comércio eletrônico e contratos eletrônicos ...................................................................05
2 Contratos eletrônicos: a questão da terminologia e o conceito .........................................06
3 Os Princípios que regem os Contratos Eletrônicos ...........................................................06
4 A segurança do Contrato Eletrônico ..............................................................................08
5 Formação do Contrato Eletrônico .................................................................................10
6 Local de celebração do Contrato Eletrônico e a competência territorial .............................12
7 Classificação dos Contratos Eletrônicos .........................................................................13
8 Conclusão ..................................................................................................................16
05
Capítulo 4 
1 Comércio eletrônico e contratos 
eletrônicos
Com o passar do tempo, a sociedade sofreu enormes mudanças, impondo uma adequação 
constante no ordenamento jurídico. Nos últimos anos, houve uma grande explosão tecnológica, 
possibilitando a realização de negócios sem que se precise sair de casa, 
Assim, a internet foi assumindo enorme importância na vida das pessoas e dos negócios mundo 
afora. Hoje, é possível contratar fazendo uma simples ligação ou um simples clique. Dessa forma, 
as empresas descobriram um novo mercado, o comércio eletrônico, o que, consequentemente, 
alavancou a importância do contrato eletrônico no mundo jurídico e no mundo dos negócios.
Por óbvio, com o advento dessas novas técnicas de contratar, os problemas também apareceram 
com mais facilidade, em especial, pela falta de legislação acerca deste tema. É importante res-
saltar que a legislação sobre tal assunto não pode ser complexa ou de difícil adequação, pois o 
mundo tecnológico muda diariamente e a tecnologia avança de forma feroz.
No Brasil, as compras on-line dispararam sendo cada vez mais comum esse tipo de relação jurí-
dica. Um dos fatores que fizeram alavancar as vendas e o consumo pela internet foi a baixa do 
preço de computadores e a facilidade de parcelamento das compras. Hoje, quase todo mundo 
tem um celular ou um computador ligado à rede que nos permite comprar, vender e fazer negó-
cios com os chamados bens de consumo.
Assim, nesta unidade, estudaremos sobre os contratos eletrônicos, verificando o seu conceito, 
classificação, sistema de aperfeiçoamento, sistema probante, validade jurídica, assinatura eletrô-
nica, relação de consumo e sistema de proteção do consumidor digital.
Fonte: Sakonboon Sansri / Shutterstock
Contratos eletrônicos
06 Laureate- International Universities
Direito e Sociedade da Informação
2 Contratos eletrônicos: a questão da 
terminologia e o conceito
A utilização da terminologia “Contratos Eletrônicos” ainda cria algumas divergências. É possível 
encontrarmos diversos termos para indicar a relação traçada por esses contratos. A título de 
exemplificação, citaremos apenas: “Contrato Cibernético”, “Contrato Digital” e “Contrato Infor-
mático”. Contudo, entendemos que esses termos não são os mais acertados, pois o “cibernético” 
está relacionado à comunicação em rede, o “digital” liga-se diretamente ao mundo da informá-
tica e somente através de computadores e, por fim, o “informático” é aquele que se relaciona 
com a disciplina de contratos de serviços de informática como o contrato de manutenção de 
servidores, de homepage e etc. (BARBAGALO, 2001, p. 37-39).
Dessa forma, entendemos que o termo mais correto é o “Contrato Eletrônico”, levando-se em 
conta, principalmente, que a informação não trafega somente via microcomputadores, como já 
estudado na Unidade 1, mas sim por todos os meios que advém da Sociedade da Informação 
e, além disso, o objeto do contrato eletrônico não se finda em produtos de informática, mas em 
qualquer tipo de objeto, seja material ou imaterial, desde que lícito.
Barbagalo (2001, p. 37-39) entende o contrato eletrônico como “[…] os acordos entre duas ou 
mais pessoas para, entre si, constituírem, modificarem ou extinguirem um vínculo jurídico, de 
natureza patrimonial, expressando suas respectivas declarações de vontade por computadores 
ligados entre si”.
Souza (2009, p. 51) conceitua Contrato Eletrônico como
[…] toda e qualquer manifestação de vontade bilateral ou plurilateral que tem por objetivo 
constituir, modificar ou extinguir direitos, de natureza patrimonial ou extrapatrimonial, por 
meio de qualquer processo de telecomunicação eletrônica ou digital, desde que celebrado a 
distância.
Já Coelho (2007, p. 170) define Contrato Eletrônico como o contrato “[…] celebrado por meio 
de transmissão eletrônica de dados. A manifestação de vontade dos contratantes (oferta e acei-
tação) não se veicula nem oralmente, nem por documento escrito, mas pelo registro em meio 
virtual (isto é, despapelizado)”.
Diante dos conceitos acima dispostos, conclui-se que o Contrato Eletrônico é aquele que tem a 
necessidade de que a celebração contratual seja feita via transmissão de dados, de uma pessoa 
para outra, independente dos dispositivos que estejam usando. Ou seja, seja por meio de um PC, 
notebook ou celular, independente do objeto da relação contratada.
3 Os Princípios que regem os Contratos 
Eletrônicos
Como existe a necessidade clara de utilização dos princípios pertinentes, passamos a expor al-
guns princípios cabíveis no direito contratual, acompanhe:
• princípio da autonomia da vontade: por esse princípio, as partes poderão fazer valer de 
suas vontades, ou seja, estipular cláusulas e demonstrar seus interesses, desde que não 
ofendam os bons costumes e muito menos a legislação;
07
• princípio da obrigatoriedade da convenção: é mais conhecido como pacta sunt servanda, 
ou seja, a partir do momento em que as partes fizeram o pacto, o contrato, deverão honrar 
o contratado, sem possibilidade de alterar as cláusulas, exceto no caso de concordância 
de ambas as partes ou de se tratar de algo extraordinário, como, por exemplo, caso 
fortuito ou de força maior;
• princípio do consensualismo: via de regra, o simples acordo de vontade entre as partes 
é o bastante para a validação de um contrato, entretanto, há casos em que a lei prevê o 
cumprimento de certas solenidades formais para que o contrato se aperfeiçoe;
• princípio da relatividade dos efeitos do contrato: esse princípio liça que o contrato só 
gera efeito entre os contraentes, não alcançando terceiros, seja beneficiando ou seja 
prejudicando;
• princípio da boa-fé: também como princípio geral de todos os contratos e operadores 
do direito, esse princípio implica que as partes devem agir com lealdade e confiança 
recíprocas, auxiliando-se mutuamente na formação e na execução do contrato. Assim, 
na interpretação do contrato, deve-se buscar a real intenção das partes celebrantes em 
detrimento da literalidade do texto contratado.
No que tange aos contratos eletrônicos, há ainda a necessidade de preenchimento de alguns 
requisitos específicos, quais sejam:
• princípio da equivalência funcional entre os atos jurídicos produzidos por meios eletrônicos 
e os atos jurídicos produzidos por meios tradicionais: aqui verifica-se que existe a vedação 
de qualquer diferenciação entre os contratos clássicos, com suporte físico tangível 
imediatamente representativo (contrato de papel), e os contratos pela internet, com 
suporte virtual intangível mediatamente representativo (eletrônico). Assim, é impossível 
que o contrato virtual seja considerado inválido por ter sido celebrado eletronicamente;
• princípio da inalterabilidade do direito existente sobre obrigações e contratos: aqui 
também é possível sentir a força que iguala os contratos virtuaise os tangíveis. O suporte 
eletrônico é apenas um veículo para a constituição dos contratos, ou seja, as obrigações 
originadas no ambiente virtual não necessitam, para serem válidas, de uma alteração do 
direito contratual vigente;
• princípio da identificação: para que se evitem futuros conflitos e indagações, é de se 
atentar para a existência da devida identificação das partes que celebram um contrato 
pela internet, de modo que ambas saibam com quem estão lidando, o que pode ser feito 
por meio de assinatura digital, dentre outras possibilidades;
• princípio da verificação: por fim, todos os documentos eletrônicos relacionados com o 
pacto devem ser armazenados, para não serem objeto de alegação de sua não existência 
e possibilitar qualquer eventual verificação futura, preservando-se, assim, a prova da 
celebração contratual.
Diante o exposto, os contratos eletrônicos seguem como bases os princípios comuns dos contra-
tos. Mediante tal informação, conclui-se que os seus requisitos subjetivos de validade são aqueles 
mesmos dos contratos comuns. Desse modo, é necessário que exista de duas ou mais pessoas, 
com vontade livremente manifestada e capacidade civil, para o ato se perfazer de forma válida.
A mesma ideia surge quando se comenta sobre os requisitos objetivos de validade, como a li-
citude do objeto, o seu valor econômico, a possibilidade física e jurídica de sua acessibilidade.
08 Laureate- International Universities
Direito e Sociedade da Informação
4 A segurança do Contrato Eletrônico
Uma questão surge naturalmente a respeito das garantias as quais o contratante terá, já que 
na relação virtual pode não existir prova documental e sem esta se torna imensamente difícil o 
cumprimento do avençado.
É lógico que os contratantes no meio eletrônico, como no meio físico, têm a necessidade de es-
perar e exigir da outra parte a probidade e boa-fé nos contratos. Ainda assim, hoje, o conceito 
de documento deve ser ampliado, de modo que abranja igualmente o documento eletrônico, 
sempre tendo em mente que ele não está necessariamente preso ao meio no qual foi criado e 
que a sua materialização é simples.
Com a intenção de aumentar ainda mais a segurança, vem à tona a assinatura digital criptogra-
fada. Como já foi dito, o contrato eletrônico marca-se por ser realizado sem o contato entre as 
partes, tornando essa uma característica inerente dos mesmos. As partes utilizam computadores 
diversos, conectados das mais diversas partes do mundo, o que, sem dúvida, gera certa insegu-
rança, uma vez que o consumidor pode acabar sendo enganado por um criminoso.
O contrato pela internet é seguro e é inegável que possui várias vantagens, pois, além de reduzir 
custos administrativos, é rápido, o que explica seu forte crescimento nos últimos anos em todo 
o mundo. Essa modalidade é geralmente utilizada para a compra de quaisquer tipos de bens e 
também para contratação de serviços, movimentações financeiras através de internet banking, 
dentre muitas outras facilidades.
Lazzareschi Neto, em seu artigo Comércio Eletrônico e Política de Privacidade (2011), traz alguns 
pontos sobre segurança virtual, vejamos:
Dentre os cuidados básicos no estabelecimento de uma adequada política de privacidade há 
de se ressaltar os empregados na própria elaboração do contrato a ser veiculado pelo site, 
cuja linguagem deve ser clara e precisa e sua redação com caracteres ostensivos, facilitando 
a compreensão do leitor. Além disso, as regras de privacidade devem ser facilmente acessíveis 
pelos internautas, evitando-se quaisquer dificuldades na localização das páginas onde 
armazenadas. As faculdades da empresa na utilização das informações coletadas devem estar 
em local destacado e ser bem delimitadas, evitando-se sempre a outorga de direitos ilimitados. 
Do mesmo modo, as cláusulas que implicarem limitação de direitos do usuário deverão ser 
redigidas com destaque, permitindo seu fácil entendimento.
Ao elaborar as regras de privacidade, deve-se levar em conta o tipo de empreendimento e as 
ferramentas tecnológicas empregadas na coleta de dados (são utilizados cookies? quais tipos 
são utilizados?), moldando-se o contrato às particularidades do negócio. Empreendimentos que 
coletam informações sensíveis – tais como as fornecidas a instituições financeiras, laboratórios, 
hospitais, etc. – exigem um maior cuidado na redação e posterior aplicação das regras de 
privacidade, pois implicam elevados riscos de responsabilização.
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Fonte: Stokkete / Shutterstock
É de essencial importância que os contratos sejam bem descritos, uma vez que as partes não 
estão frente a frente para clarear pontos que possam não ser bem compreendidos. Assim, temos 
que a interpretação do contrato eletrônico é algo especial a se estudar. O Código Civil, por 
exemplo, em seu artigo 423, menciona que o contrato por adesão deve ser interpretado de forma 
mais favorável ao aderente. No ordenamento consumerista, no Código de defesa do Consumi-
dor (CDC), em seu artigo 47, entendido em concomitância com o artigo 54, já é usado essa in-
terpretação nas cláusulas ambíguas e contraditórias, devido à vulnerabilidade e hipossuficiência 
dos consumidores em muitos casos.
O contratante consumidor continuará, no contrato eletrônico, detentor de seus direitos, haja 
vista que na realidade pela verdade real sempre haverá uma grande diferença de forças entre 
contratantes, obrigando o contratante a concordar com algumas cláusulas já previamente esta-
belecidas, se aproximando muito de um contrato de adesão.
O próprio Código de Defesa do Consumidor tem mecanismos para defender as partes mais 
fracas da relação, confira:
Artigo 47 [Código de Defesa do Consumidor] - As cláusulas contratuais serão interpretadas de 
maneira mais favorável ao consumidor.
[...]
Artigo 54 [Código de Defesa do Consumidor] - Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas 
tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo 
fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar 
substancialmente seu conteúdo. 
Artigo 423 [Código Civil] - Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou 
contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.
10 Laureate- International Universities
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5 Formação do Contrato Eletrônico
Muito importante é a informação sobre a data de formação do Contrato Eletrônico. Esse termo 
é essencial, pois é a partir daí que os deveres e direitos surgem para os contraentes, executando 
o negócio acordado sem a possibilidade unilateral de retratação, e com o laço de responsabili-
zação contratual que vem a ser criado. O contrato “nasce” quando a proposta é aceita mediante 
declaração direcionada.
Normalmente, nos contratos convencionais, com as partes presentes, o acordo se confirma no 
momento em que o oblato (pessoa a quem é direcionada a proposta) aceita a proposta, uma vez 
que a presença das partes permite tal deliberação.
Fonte: Sergey Nivens / Shutterstock
Como muito bem nos ensina Gonçalves (2016, p. 80), 
[...] aceitação é a concordância com os termos da proposta. É manifestação de vontade 
imprescindível para que se repute concluído o contrato, pois, somente quando o oblato se converte 
em aceitante e faz aderir a sua vontade à do proponente, a oferta se transforma em contrato.
A Contratação pode ser feita entre presentes e ausentes. E no caso dos Contratos Eletrônicos 
convencionou-se falar que a contratação é entre ausentes. Apesar de que alguns doutrinadores 
se posicionarem no sentido de que nem sempre assim o será, como veremos na questão da clas-
sificação dos contratos eletrônicos.
Quando o assunto é o contrato entre “ausentes”, aplica-se a teoria da expedição, em que não 
basta a redação da resposta, é necessário que esta tenha sido expedida. Ou seja, que tenha saí-
do do alcance e controle do oblato, regrada pelo nosso Código Civil no art. 434. Aqui se requer 
um pouco mais de atenção, pois, diferentementedos contratos entre presentes, a avença não se 
aperfeiçoa no momento em que o oblato elabora a aceitação. 
Assim, transcrevemos o artigo 434 do Código Civil:
Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, 
exceto:
I - no caso do artigo antecedente;
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III - se ela não chegar no prazo convencionado.
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Da simples leitura do artigo acima, verificamos que os contratos entre ausentes tornam-se perfei-
tos no momento em que se envia a aceitação ao proponente. A aceitação pode ser executada de 
várias formas, algumas das mais comuns são por fac-símile, por carta, por e-mail e etc.
Assim sendo, nos termos do tema proposto, Contratos Eletrônicos, aplicar-se-á como momento 
legal da perfeição do contrato o envio da mensagem eletrônica confirmando a aceitação do que 
é proposto, tornando-se, então, um ato jurídico perfeito.
É importante destacar a ressalva feita pelo artigo 433 do Código Civil, que diz: “Art. 433. Con-
sidera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação 
do aceitante”.
A doutrina majoritária ensina que – após se observar a ressalva no inciso I do artigo 434, que 
faz remissão ao artigo 433 – a aceitação do contrato não se reputará existente, pois a aceitação 
será inexistente se a ela for antecedida, ou junto com ela chegar, alguma forma de retratação 
da decisão do aceitante, como descrito no Art. 433. Tal hipótese é muito difícil de ocorrer nos 
contratos eletrônicos, tendo em vista que a confirmação por e-mail ou pelo próprio sítio (site) é 
imediata na maioria das vezes.
Ainda, Pinheiro (2017, p. 539) nos lembra que os contratos no meio digital possuem algumas 
peculiaridades que devem ser observadas, são elas: a) indicação clara da responsabilidade de 
todos os envolvidos; b) clareza na política de informação; c) conter política de segurança e pri-
vacidade; d) conter cláusula de arbitragem; e) especificação sobre a territorialidade, podendo, 
inclusive, dispor sobre o foro competente para julgar lides; e f) relação dos parceiros envolvidos 
no negócio. Além disso, a mencionada autora também atenta para a questão da força probante 
no tocante à autoria (autenticidade) dos Contratos Eletrônicos. É importante frisar que a auten-
ticidade significa pressuposto da autoria, identificável de acordo com os arts. 408, 410, 411 e 
412 do Novo Código de Processo Civil. Ainda não há regras próprias sobre o assunto no Brasil, 
mas já se tem admitido provas por meio de documento eletrônico e até mesmo de assinatura 
digital, o que mostra que nossos Tribunais estão cada vez mais adeptos ao reconhecimento da 
validade dos negócios jurídicos em meio digital (como requer a Medida Provisória 2.200, de 
2001, que instituiu a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras - ICP-Brasil que disciplina a 
questão da integridade, autenticidade e validade dos documentos eletrônicos).
Fonte: Maksim Kabakou / Shutterstock
12 Laureate- International Universities
Direito e Sociedade da Informação
6 Local de celebração do Contrato 
Eletrônico e a competência territorial
Outra preocupação que se deve ter quando se trata de Contratos Eletrônicos diz respeito à de-
terminação do lugar da celebração do contrato. Tal observação é fundamental para a resolução 
de problemas decorrentes da definição de onde a parte prejudicada poderá procurar os meios 
legais para resolver os impasses decorrentes do cumprimento do contrato, bem como da lei apli-
cável, o que muitas vezes poderá resultar em uma questão de direito.
No Brasil, o Código Civil determina, no art. 435, que: “Art. 435. Reputar-se-á celebrado o con-
trato no lugar em que foi proposto”. Fazendo a interpretação do artigo supracitado, temos que 
o negócio jurídico contratual reputa-se celebrado no lugar em que foi proposto, no mesmo local 
onde a proposta foi expedida, seja no território nacional ou em território internacional. 
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Lei n. 12.376 de 2010) prescreve de forma 
semelhante em seu art. 9º, § 2º, que a obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no 
lugar em que residir o proponente, devendo ser aplicada a respectiva legislação: “Art. 9º § 2º- A 
obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente”.
Conclui-se que se o sítio estiver hospedado na Inglaterra, onde lá reside o proponente, e uma 
pessoa acesse o contrato do Brasil, o contrato aperfeiçoou-se naquele país, o que, consequente-
mente, submeterá o contrato à legislação inglesa. A localização dos servidores utilizados pouco 
importará nessa questão de competência territorial.
Ainda no que diz respeito a este tópico, ressalta-se que o foro competente poderá ser deliberado 
pelas partes. Os contratantes têm liberdade para tomar essa decisão, podendo, entretanto, insti-
tuir o juízo arbitral (Lei nº. 9.307 de 1996) como forma preponderante de resolução de litígios. 
Por outro lado, o Código de Defesa do Consumidor permite que consumidores brasileiros possu-
am o direito de promover quaisquer ações fundadas na responsabilidade do fornecedor perante 
o foro do seu próprio domicílio, mas isso não afasta a legislação a ser aplicada. Ou seja, a lei 
do país de onde se originou a proposta (art. 101 do CDC). Sem dúvida nenhuma, isso gera inse-
guranças e esse é um dos problemas relacionados ao comércio eletrônico realizado por meio de 
contratos eletrônicos. Daí a tendência de que no futuro tenhamos uma espécies de Tribunal Inter-
nacional ou Órgão específico para dirimir tais litígios, provavelmente, no formato de mediação e 
arbitragem. Assim, enquanto isso não acontece, o consumidor brasileiro tem duas alternativas: a) 
move ação judicial no país sede da empresa; ou b) ajuíza ação no Brasil amparado pela Cons-
tituição Federal (art. 5º, inciso XXXII), Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (art. 9º, 
§2º), Código de Processo Civil (art. 21, inciso II) e Código de Defesa do Consumidor (art. 101, 
inciso, I). (GONÇALVES, 2016, p. 86-87).
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Fonte: Digital Genetics / Shutterstock
7 Classificação dos Contratos Eletrônicos
A busca pela organização e pela necessidade de identificação dos contratos eletrônicos fez com 
que a doutrina classificasse os contratos virtuais de diversas formas. É importante ressaltar os 
mais usuais no meio jurídico. Acompanhe:
Contratos Eletrônicos Interativos
O contrato eletrônico interativo é utilizado em maior número no campo virtual, fazendo com que 
seja o mais peculiar. Sua forma é a mais típica, se encaixando plenamente no que foi exposto 
até o momento.
Trata-se de uma interatividade entre um internauta e um sistema munido de informações especí-
ficas acessíveis, criado e colocado à disposição por uma empresa, ou mesmo por outra pessoa 
que pode nem estar conectada, tendo ciência da contratação posteriormente.
Esses contratos acontecem milhões de vezes por dia em todo o mundo, em uma simples interação 
pessoa/programa em que se demonstra o interesse de contratação.
Ressalva-se que o sistema aplicativo com o qual a comunicação acontece nada mais é do que 
um programa de computador com a função de acessar um banco de dados específico. Tal pro-
grama normalmente é dotado de funcionalidades capazes de direcionar o internauta a serviços, 
bens de consumos, produtos, formulários e etc.
Ponto crítico que deve ser diferenciado é o fato desses contratos possuírem como característica 
uma grande carga de generalidade de cláusulas, o que não pode ser confundido com os fami-
gerados contratos de adesão.
14 Laureate- International Universities
Direito e Sociedade da Informação
Os contratos de adesão naturalmente possuem cláusulas que são pré-estabelecidas por uma das 
partes, sem que essas cláusulas possam ser modificadas ou, ao menos, discutidas. Na maioria 
das vezes, tais contratos são entregues na forma escrita onde se completam dados necessários 
como nome, valores e locais.
Já o que acontecenos contratos eletrônicos interativos é a afinidade intrínseca com as condições 
gerais dos contratos. Aqui, as condições a que se submetem os contratos interativos, mesmo com 
a aceitação de ambas as partes, tácita ou expressamente, e também com cláusulas construídas 
preteritamente, diferenciam-se do contrato de adesão por não possuírem uma rigidez tal qual a 
deste. No entanto, uma forma de contrato eletrônico interativo pode se transformar em um con-
trato de adesão, tudo dependerá do molejo e das possibilidades de fazer alterações nos mesmos.
Diante dessa forma de classificação, a parte contratante interage com um sistema, ao qual sabe 
quem é seu proprietário, fazendo com que a vontade seja externada, gerando o vínculo con-
tratual. Portanto, o computador interligado à rede, utilizado desse modo, atua como auxiliar no 
processo de formação da vontade.
Contratos Eletrônicos Interpessoais
São os contratos solenizados por computador quando ele é utilizado como meio direto de comu-
nicação entre as partes, ou seja, existe a vontade simultânea de ambas as partes naquele exato 
momento. A interação não se faz por qualquer programa ou sistema computacional, uma vez 
que aqui a vontade não é pré-estabelecida. A interação humana é a grande característica dessa 
forma contratual, sendo o computador apenas a ferramenta de comunicação.
Esse tipo contratual pode ser dividido em duas categorias diferentes, acompanhe:
A primeira classificação é decorrente dos contratos eletrônicos interpessoais, que possuem simul-
taneidade na celebração, em tempo real no mundo virtual. Os contratos são firmados por partes 
que estejam, ao mesmo tempo, atreladas à rede, exprimindo a declaração de vontade, sendo 
recebida por ambas as partes no mesmo momento em que é declarada ou em curto espaço de 
tempo.
Corroborando com o aludido, notório é que os contratos firmados de forma eletrônica interpes-
soal simultânea têm analogia com os contratos firmados por qualquer outra forma de comuni-
cação, seja por carta, telefone etc. A teoria assim os considera, pois eles têm possibilidade de 
resposta imediata. Podemos fazer tal analogia ao analisarmos o disposto no artigo 428, inciso I, 
do Código Civil Brasileiro que assim dispõe:
Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:
I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também 
presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante.
Esse artigo é muito importante, pois o mesmo estendeu o escopo de probabilidades de se ter o 
acordo entre presentes ao dispor “ou por meio de comunicação semelhante”.
Com essa redação, qualquer meio de se contratar que se assemelhe ao disposto na Lei não 
necessitará de analogia ou nova redação legal para poder ser considerado como contrato entre 
presentes.
Contratos em que o protesto e a recepção da vontade não ocorrem simultaneamente, mas para 
os quais existe um espaço de tempo entre a declaração de uma parte e a recepção desta pela 
outra parte, são contratos eletrônicos interpessoais não simultâneos.
No contexto desta pesquisa, observa-se como contratos não simultâneos aqueles celebrados 
via correio eletrônico, que, como se infere do próprio nome, equivale a uma correspondência 
comum.
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Esses contratos estão contemplados no Código Civil quando, em seu art. 434, caput, utiliza a 
expressão “contrato entre ausentes”, confira:
Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, 
exceto:
I - no caso do artigo antecedente;
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III - se ela não chegar no prazo convencionado.
Tal artigo aperfeiçoou o que era dito no Código Civil de 1916, no qual houve a substituição à 
menção de “correspondência epistolar”, que fazia o art. 1.086, in verbis:
Art. 1.086. Os contratos por correspondência epistolar, ou telegráfica, tornam-se perfeitos 
desde que a aceitação é expedida, exceto:
I - no caso do artigo antecedente;
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III - se ela não chegar no prazo convencionado.
Se as partes trocam e-mails instantaneamente, trata-se de operações simultâneas, bastando que 
ambas estejam conectadas aos seus computadores no mesmo momento. Entretanto, caso exista 
um certo período de tempo entre a troca de mensagens, o contrato não deverá ser classificado 
como simultâneo.
Uma segunda corrente entende que mesmo que a comunicação via correio eletrônico seja muito 
ligeira, esta não pode ser avaliada como instantânea. Isso se deve pelo fato de que para se ter 
ingresso à mensagem enviada por e-mail, é imperativa nova influência com o computador.
Na verdade, para quem segue essa corrente, é imperioso que exista uma nova ação para que 
nasça a possibilidade de acessar o conteúdo da mensagem recebida, o que remove a instanta-
neidade da comunicação.
Contratos Eletrônicos Intersistêmicos
Esses contratos são caracterizados quando se utiliza o computador como ponto convergente de 
vontades preexistentes. Ou seja, quando as partes direcionam sinteticamente as vontades resul-
tantes de negociação prévia, sem que o equipamento intervenha no campo da vontade, visto que 
já era pré-existente.
Assim sendo, observa-se que o computador é apenas uma ferramenta que possibilita às partes 
exporem suas vontades na realização de um negócio jurídico válido.
Como há de se notar, no presente caso, a vontade nasceu quando os sistemas foram “pré-des-
tinados”, pois ali a manifestação volitiva das partes abrangidas nas contratações intersistêmicas 
ocorreu no momento em que os sistemas foram programados para a consumação de cada uma 
das comunicações eletrônicas.
Tecnicamente, nessa modalidade de contratação eletrônica, destaca-se a utilização do Electronic 
Data Interchange (EDI), que admite o diálogo eletrônico entre sistemas aplicativos distintos, me-
diante utilização de “documentos padrões” ou “padrões de EDF”.
Na verdade, essa forma de contratação se caracteriza por se realizar entre pessoas jurídicas e é 
notadamente voltada a relações comerciais de atacado. Uma operação de EDI dá-se, por exem-
plo, quando um empreendimento participa com o sistema de vendas de um fornecedor visando a 
compra de um produto. Nesse entendimento, são trocados, por exemplo, documentos eletrônicos 
de pedido de compra e toda logística envolvida.
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Nessa forma contratual, o uso do computador é um simples meio de comunicação, o contrato 
principal é celebrizado de forma tradicional e nele são constituídas as regras gerais de funciona-
mento das ocorrências posteriores feitas mediante uso do computador, que poderão constituir-se 
em outros contratos, chamados de “derivados”.
8 Conclusão
Fonte: Dusit / Shutterstock
Por óbvio, deverá haver a utilização de ambos institutos, Código Civil e Código do Consumidor 
no meio eletrônico, havendo uma comunicação entre esses diplomas, a fim de proteger as par-
tes, seja contratante, seja contratado, para que o comércio eletrônico continue a crescer e para 
que haja a devida proteção para as partes.
Ainda que o Código de Processo Civil tenha sido objeto de reforma, nada se fala acerca do 
contrato de compra e venda por meio da internet, e-commerce ou até mesmo sobre direito eletrô-
nico. Assim, o que se pode concluir é que o operador do direito deverá fazer o uso da analogia 
acerca do que aplicar nesse tipo de contrato, ante a falta de amparo legal.
Vive-se em períodos de inovações e o momento de regulamentar os contratos eletrônicos se deu 
com a criação do Novo Código Civil. Nesse contexto, não é a falta de legislação que irá impedir 
o crescimento e a expansão da realidade do mundo eletrônico, porém haverá um retardo dos 
problemas gerados por tal crescimento.
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Referências
ALBERTIN, Alberto Luiz. Comércio Eletrônico. São Paulo: Atlas, 2004.
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