Buscar

Tricuríase

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Tricuriase
Numeração de páginas na revista impressa: 19 à 24
Resumo
A tricuríase é uma doença parasitária causada pelo Trichuris trichiura, com importante 
impacto universal. No presente artigo é apresentada uma revisão sobre os aspectos mais 
relevantes da tricuríase.
Introdução
A tricuríase, também conhecida como tricocefalíase, é uma parasitose do grupo das geo-
helmintíases determinada pelo Trichuris trichiura (Linnaeus, 1771 Stiles, 1901) ou 
Trichocephalus trichiuris, como era outrora designado(1-4). Como os outros helmintos 
transmitidos através do contato com o solo, o T. trichiura se distribui amplamente pelo 
mundo, nas regiões tropicais e subtropicais, atingindo, mais amiúde, crianças de classes 
menos favorecidas(5). À semelhança de infecção por Enterobius vermicularis, a tricuríase 
acomete uma porção limitada do tubo digestivo, além de ser destituída de uma fase de 
migração tecidual(6). 
O escopo do presente artigo é apresentar os principais aspectos clínicos, diagnósticos, 
terapêuticos e profiláticos da tricuríase.
Etiologia
Os helmintos adultos medem cerca de três a cinco centímetros de comprimento, sendo os 
machos menores que as fêmeas. A extremidade anterior ou cefálica é extremamente 
afilada (delgada) e longa, enquanto a posterior é grossa, dando aos vermes a aparência 
de um chicote por essa razão são denominados, nos países de língua inglesa, de 
“whipworm” (whip = chicote worm = verme)(4).
As fêmeas adultas eliminam por dia aproximadamente 200 ovos/g de fezes, sendo estes 
de aspecto muito característico – em forma de barril alongado ou de limão, cujas 
extremidades parecem tapadas com rolhas de cristal(4). Possuem três camadas em suas 
cascas, o que lhes confere grande resistência, favorecendo sua viabilidade em 
adequadas condições de umidade e temperatura (entre 20° e 30°C) de fato, no solo os 
ovos embrionados infectantes podem permanecer vivos por até cinco anos(4) entretanto, 
resistem pouco à dessecação e à exposição aos raios ultravioleta(7).
Hábitat
Os helmintos adultos vivem, habitualmente, na luz do ceco e do sigmoide, aderidos 
firmemente à mucosa por sua extremidade cefálica. Em algumas situações podem ser 
encontrados em toda a extensão do cólon(8), além de outras regiões do trato digestivo, 
como apêndice vermiforme(9) e vesícula biliar(10), ocasionando complicações por vezes 
fatais.
No trato digestório do homem os vermes adultos podem sobreviver durante muito tempo, 
talvez de seis a oito anos(11).
Ciclo biológico
Os hospedeiros – no caso, apenas os membros da espécie Homo sapiens – infectam-se 
com a ingestão dos ovos embrionados contendo a larva infectante, os quais podem ser 
adquiridos através de água, alimentos ou poeira contaminados – forma conhecida como 
fecal-oral. Diferentemente de outros geo-helmintos, o T. trichiura não realiza ciclo 
pulmonar, sendo sua evolução restrita à luz intestinal.
Ao serem eliminados com as fezes, os ovos, duas a três semanas depois, dão origem a 
um embrião – a larva. Os ovos embrionados, ao serem ingeridos, sofrem dissolução da 
casca pelos fluidos entéricos e a larva é então liberada. Ao que parece, a eclosão das 
larvas ocorre nas últimas porções do intestino delgado, próximo ao ceco(2,11,12). Livres 
na luz intestinal, as larvas penetram nas criptas das glândulas do ceco, aí permanecendo 
por 48 horas. Posteriormente, sofrem novas mudas até o desenvolvimento em vermes 
adultos, o que se dá em torno de 30 a 60 dias após a ingestão dos ovos(2,11-13). Na fase 
adulta os nematódeos realizam a cópula e as fêmeas iniciam a postura dos ovos ainda 
não embrionados. O ciclo inteiro leva cerca de três meses, sendo que os vermes adultos 
vivem por vários anos(5).
Em geral, no tubo digestivo humano se encontram poucos helmintos – de um a dez. 
Entretanto, em certas ocasiões podem existir até centenas de vermes.
Aspectos clínicos
As manifestações clínicas da tricuríase guardam estreita relação com o grau de infecção 
parasitária e de nutrição dos enfermos. Com efeito, nas crianças e adultos bem nutridos, 
com baixa carga parasitária, a doença pode mostrar-se assintomática, com o diagnóstico 
sendo uma eventualidade, geralmente quando da realização de um exame 
coproparasitológico(2). Diferentes investigações têm demonstrado que a maioria das 
infecções por T. trichiura é assintomática – algo explicável pelas incipientes reações 
teciduais desencadeadas pelo helminto(5) –, mas as infecções de maior monta podem 
provocar manifestações gastrointestinais(5). 
Os sintomas gerais observados são variáveis, sendo relatados irritabilidade, insônia ou 
sonolência, apatia, anorexia, adinamia, palidez acentuada, prurido anal e, às vezes, 
urticária. Ao exame físico, as crianças exibem distensão abdominal, timpanismo 
acentuado, palidez, emagrecimento e hipodesenvolvimento pôndero-estatural(2,11,13-23).
Quando o grau de parasitismo aumenta – moderado ou intenso –, os sintomas se tornam 
evidentes, aparecendo cólicas abdominais – principalmente no quadrante inferior direito – 
e diarreia crônica (alteração mais comum), caracterizada por fezes líquidas ou pastosas 
ou disenteria, acompanhada de desconforto abdominal e prolapso retal – relacionado às 
infecções maciças em crianças desnutridas –, anemia hipocrômica e palidez acentuada. 
Ainda podem ser encontradas enterorragia maciça, emagrecimento, hipodesenvolvimento 
pôndero-estatural e anorexia, com a simulação de um quadro de retocolite ulcerativa 
idiopática(24).
Parece haver relação entre a infecção por T. trichiura e a deficiência de zinco, como 
demonstrado por alguns autores(25).
Bermudez e cols.(14) descreveram, minuciosamente, o aspecto endoscópico retal de 23 
casos de tricuríase infantil, os quais apresentavam diarreia mucossanguinolenta e 
prolapso retal em dez. Nestes doentes o número de ovos/g de fezes oscilou entre 4.000 e 
360.000 foram encontradas: em quatro casos imagem retoscópica normal em dez, retite 
superficial e em nove, imagem de retite ulcerosa (numerosas ulcerações sangrantes, 
pouco profundas e com grande quantidade de helmintos). Em outras investigações, 
utilizando retossigmoidoscopia, têm sido observado, nas infecções maciças graves, 
mucosa retal hiperemiada e ulcerações com vermes aderidos(14).
O diagnóstico diferencial, inicialmente, deve ser realizado com outras parasitoses 
intestinais. Colite amebiana e/ou retocolite ulcerativa devem ser também suspeitadas na 
presença de disenteria com enterorragia(7).
Não houve diferença estatisticamente significativa entre o índice de infecção por T. 
trichiura em enfermos infectados e não infectados pelo vírus da imunodeficiência humana 
(HIV)(27).
Complicações
A tricuríase pode, em raras ocasiões, determinar quadros clínicos graves, eventualmente 
fatais. Isso ocorre, geralmente, em crianças ou adultos jovens, com intenso parasitismo e 
déficit no estado nutricional, relacionável à baixa imunidade.
Conforme já mencionado, o helminto pode, em condições excepcionais, migrar para o 
apêndice ou a vesícula biliar, produzindo quadros de apendicite aguda perfurada ou 
colecistite, cujo diagnóstico, geralmente, é anatomopatológico(9,10,18). 
Galan & Tejeiro(10) descreveram o primeiro caso de colecistite subaguda por tricuríase, 
em uma enferma de 50 anos apresentando colecistopatia há cinco anos. Marra(11) relata 
o caso fatal de uma criança de quatro anos com anemia intensa e numerosos ovos de T. 
trichiura nas fezes. À necrópsia foi evidenciada intensa ileocolite produzida pelo verme. 
Getz(19) menciona quatro casos fatais em portadores de infecção maciça, verificando à 
necrópsia a presença de numerosos vermes provocando colite intensa.
No Brasil, Armirante & Campos(9) relataram um caso de apendicite aguda perfurativa e 
Gouveia e cols.(24) citaram um paciente que apresentava quadro clínico idêntico ao da 
retocolite ulcerativa idiopática grave. Após a terapêutica específica houve cura do 
enfermo. Casos de enterorragia grave, provocado por T. trichiura, isolada ou 
acompanhada por prolapsoretal, foram descritos em crianças por Camillo-Coura(15) e 
Scatena e cols.(22).
A lesão da mucosa intestinal pode, ainda, favorecer a infecção por protozoários intestinais 
e bactérias, sendo várias as referências à associação de amebíase e balantidíase com 
tricuríase(27).
Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico parasitológico da tricuríase é feito através de métodos qualitativos e 
quantitativos(2,3,4,13,28,29). Entre os primeiros devem ser destacados os exames de 
sedimentação espontânea (em água, durante 24 horas) e de Hoffman, Pons e Janer entre 
os métodos quantitativos podem ser citados os de Stoll-Hausheer, Barbosa e Kato-Katz, 
sendo este último atualmente mais utilizado, devido à facilidade na contagem dos ovos e 
no preparo.
Uma correlação entre infecção por T. trichiura e a detecção de sangue oculto nas fezes foi 
realizada em 146 escolares na província de Narathiwat, Tailândia. A positividade para 
sangue oculto nas fezes foi de 9,1% nos enfermos com menos de 500 ovos por grama de 
fezes e de 36,9% naqueles com 500 ovos por grama de fezes ou mais. Este estudo 
sugeriu que a infecção por T. trichiura com uma intensidade maior ou igual a 500 ovos por 
grama de fezes pode estar associada a sangramento intestinal(26). 
Tratamento
No que tange ao tratamento da helmintíase, as drogas atualmente administradas, além de 
possuírem excelente tolerância, são dotadas de eficácia terapêutica bastante elevada.
Parasitismo isolado
Naqueles pacientes com infecção isolada, a substância de escolha é o oxipirantel 
(Tricocelâ), fármaco que proporciona índices de cura parasitológica em torno de 86% a 
90%(30-34) (Quadro 1). Os efeitos adversos são desprezíveis.
Parasitismo múltiplo
Naqueles enfermos poliparasitados devem utilizar-se anti-helmínticos de amplo espectro, 
tais como mebendazol, albendazol e pamoato de pirantel (Quadro 1). 
O controle de cura parasitológica da tricuríase é feito no sétimo, décimo quarto e vigésimo 
primeiro dias após o tratamento, preferencialmente com métodos quantitativos. A técnica 
mais usada é a de Kato-Katz, por sua elevada sensibilidade.
Epidemiologia, profilaxia e controle
Aspectos epidemiológicos
A tricuríase é uma geo-helmintíase bastante difundida, registrando, com a ascaridíase e a 
ancilostomíase, incidência muito elevada nos países subdesenvolvidos ou em 
desenvolvimento. Tem distribuição mundial estimada em cerca de 500 milhões de casos, 
predominando nas regiões de clima quente e úmido, graças às precárias condições 
socioeconômicas das populações. As crianças são mais frequentemente infectadas do 
que os adultos e tendem a ter cargas parasitárias mais altas(6). Em diversas partes do 
mundo, nas quais a desnutrição proteico-calórica e a anemia carencial são frequentes, a 
prevalência desta infecção pode chegar a 95%(33).
A maior prevalência de infecção ocorre em crianças na faixa etária entre 5 e 15 anos.
Em 1947, Stoll(36) já admitia a existência mundial de mais de 350 milhões de indivíduos 
infectados pelo helminto em tela, dos quais 38 milhões na América Latina. No México, 
Biagi(2) relata que 28,4% da população, ou seja, 14.200.000 de indivíduos estavam 
parasitados pelo T. trichiura. Na Colômbia, Gomez(8) avalia sua prevalência em torno de 
50%(15). Em Recife, Dobbin Júnior(37), em um primeiro inquérito realizado em 1958, no 
bairro de Santo Amaro, encontrou 76% e, posteriormente, o mesmo autor(38) no ano 
seguinte, no subúrbio de Encruzilhada, achou 84% de infecção.
Huggins(39), em 1971, realizando um inquérito em escolares do bairro da Boa Vista, 
verificou a prevalência de 77%.
Nohmi(12), efetuando um estudo helmintológico em Macapá, em 100 pessoas 
procedentes de um igarapé, obteve a taxa de 93%, enquanto em outros 100 indivíduos, 
moradores da cidade, em bairros isentos de igarapés, a prevalência foi de 68%.
Um estudo realizado em Eirunepé, Amazonas, no qual foram examinadas 413 amostras 
de fezes, demonstrou que em 64,4% das amostras o exame foi positivo para algum 
protozoário ou helminto, sendo encontrada em 39,5% infecção mista. Trichuris trichiura foi 
encontrado em 77 amostras (18,6%)(40).
Em outro estudo, na cidade de São Raimundo Nonato, sudeste do Piauí, foram 
analisadas 265 amostras fecais da população, sendo 57% positivos para 
enteroparasitoses. Nenhum exame foi positivo para T. trichiura, mostrando um padrão 
diferente do restante do país(41).
Como se observa, ainda que não haja dados recentes em âmbito nacional para avaliação 
mais pormenorizada, a tricuríase a despeito de todas as medidas utilizadas para seu 
controle (educação sanitária, tratamento específico, entre outras) constitui ainda um grave 
problema de saúde pública no Brasil.
Profilaxia e controle
Já existem inúmeras evidências acumuladas mostrando que as condições 
socioeconômicas estão fortemente associadas às taxas de enteroparasitose de uma 
população. Nestes termos, medidas como a assistência primária à saúde ao alcance de 
todos, com o discernimento de que a saúde de uma população é influenciada não só 
pelos serviços de saúde, mas por uma série de fatores ambientais, sociais e econômicos, 
apresenta-se como importante fator para o controle das helmintíases intestinais. 
Sobressaem, então, medidas importantes para esta finalidade:
· Existência de local adequado para depósito das fezes: fossas e latrinas
· Educação sanitária: lavar as mãos antes das refeições e após a defecação 
lavagem cuidadosa de frutas e verduras proteção dos alimentos contra insetos, como 
moscas e baratas abolir adubação com fezes humanas
· Tratamento periódico da população de risco (2/2 meses ou 3/3 meses), por um 
período de um a dois anos.
Neste último âmbito pode mencionar-se um estudo realizado em Pernambuco, a fim de 
conhecer o impacto do tratamento anti-helmínico sobre as infecções por Ascaris 
lumbricoides, T. trichiura e ancilostomídeos. Foram coletadas amostras de fezes dos 
moradores. Dos casos positivos, metade foi tratada com albendazol e a outra metade com 
mebendazol. Após o tratamento, o número de casos positivos se reduziu drasticamente, 
assim permanecendo após um ano. A ocorrência de A. lumbricoides e ancilostomídeos 
diminuiu significativamente, ao contrário dos casos de T. trichiura. Foi recomendado que o 
tratamento fosse seletivo e anual, com albendazol, pelo seu custo-benefício(42).
De modo similar, a população de Nukufetau, uma ilha remota em Tuvalu no oeste do 
Pacífico, recebeu dietilcarbamazina e albendazol durante três anos consecutivos, tendo a 
última administração ocorrida seis meses antes de um estudo sobre helmintos 
transmitidos pelo solo. Nas amostras de fezes foram encontradas 69,9% de Ancylostoma 
duodenale e T. trichiura. Este último helminto esteve presente em 68,4%, igualmente em 
todas as faixas etárias, provando que o tratamento prévio obteve mínimo impacto sobre a 
infecção por T. trichiura(43). 
Considerações finais
Ainda não se pode calcular ao certo – devido à necessidade de estudos mais numerosos 
e em âmbito mundial – o verdadeiro impacto da infecção pelo T. trichiura no planeta. 
Torna-se necessária a educação da população quanto à profilaxia – incluindo-se, neste 
âmbito, os aspectos relativos a higiene, ecologia e saúde – e, igualmente, quanto à 
importância de buscar o serviço de saúde frente às manifestações da doença, a fim de 
realizar o diagnóstico e receber a terapêutica apropriada o mais precocemente possível – 
provavelmente a medida mais importante no controle da helmintíase.

Continue navegando