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Certificações e Auditoria Ambiental Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Carlos Eduardo Martins Revisão Textual: Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco A institucionalização da questão ambiental 5 • A Institucionalização da Questão Ambiental • As primeiras discussões internacionais sobre Meio Ambiente • As Organizações de defesa do Meio Ambiente • A Questão Ambiental na ONU · Descrever os processos que envolvem a institucionalização da questão ambiental, isto é, entender o que tem levado os Estados em todas as suas escalas e as organizações internacionais a adotarem os princípios ambientais. Caro(a) aluno(a), Nesta Unidade, em que trataremos da institucionalização da questão ambiental, você terá acesso a diversos recursos. Veja o mapa mental, esquema gráfico que sintetiza o assunto tratado nesta Unidade. Fique atento(a) aos prazos das atividades que serão colocados neste Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) Blackboard. Sempre que possível, recorra à videoaula e à apresentação narrada para esclarecer eventuais dúvidas sobre o conteúdo textual. Em seu tempo livre, procure pesquisar as fontes relacionadas no material complementar. Além disso, tente pesquisar o máximo que puder sobre a institucionalização da questão ambiental. Há inúmeros conteúdos na internet que são úteis ao seu estudo e à sua formação profissional. A institucionalização da Questão a Ambiental 6 Unidade: A institucionalização da questão ambiental Contextualização Caro(a) aluno(a), Para iniciar as discussões desta Unidade, leia o texto de apresentação do Instituto Sea Shepherd Brasil. O Instituto Sea Shepherd http://seashepherd.org.br/quem-somos 7 A Institucionalização da Questão Ambiental Pode-se considerar como parte significativa do processo de institucionalização da questão ambiental o fato de, na atualidade, o tema fazer parte da estrutura tanto de organizações públicas e privadas, quanto do âmbito governamental e não governamental em todas as instâncias, inclusive as dos fóruns internacionais. Todo o enredamento institucional sobre a questão ambiental se deve às preocupações que, nas últimas décadas, têm levado a humanidade a refletir sobre as consequências das suas ações e, com isso, determinar novas formas de realizá-las, levando em conta o que se entende hoje por desenvolvimento sustentável. Entre as ações institucionais que atualmente mais evidenciam a presença da questão ambiental estão as políticas ambientais adotadas pelos governos e organizações produtivas, essas cada vez mais frequentes e abrangentes. Vejamos os principais aspectos da presença cada vez maior dessa temática ambiental no âmbito institucional. As primeiras discussões internacionais sobre Meio Ambiente O debate sobre a questão ambiental não é novo, de modo que pode-se deduzir diversos fragmentos da representação humana sobre o meio ambiente desde a Antiguidade, com as primeiras expressões sobre os cuidados com a água, com o solo, com as florestas e, em última análise, sobre os direitos humanos, pois esse tema tornou-se mais frequente e mais concreto a partir de meados do século XX. Assim, foi durante a Guerra Fria que as discussões acerca da questão ambiental tiveram seu afloramento. Durante as corridas aeroespaciais, tecnológicas e bélicas, não só o descontentamento popular, mas o engajamento pacifista de cientistas e governos empenhados nas resoluções diplomáticas dos problemas geopolíticos internacionais inauguraram as primeiras manifestações – por que não dizer? –, ativistas com relação à causa ambiental. Essas primeiras manifestações foram acompanhadas das originais considerações sobre a qualidade ambiental quanto à produção dos bens de consumo, o que, mais recentemente, foi responsável pela proliferação internacional da certificação ambiental tanto das organizações quanto dos produtos. Entretanto e de fato, da questão ambiental pode-se dizer que ocorreu quando esse 8 Unidade: A institucionalização da questão ambiental tema passou para a esfera dos fóruns nacionais e internacionais.As Organizações de defesa do Meio Ambiente A partir das décadas de 1950 e 1960, a questão ambiental extrapolou o ambiente acadêmico e ganhou status de luta de classes ou de grupos nacionais e internacionais. As primeiras manifestações em defesa da natureza e dos direitos humanos fundamentais acabaram convertendo-se em associações ativistas. Em um primeiro momento, esses grupos atuavam no convencimento por meio das manifestações organizadas, ainda muito praticadas, mas, posteriormente, passaram a articular suas demandas em conjunto com as dos partidos políticos simpáticos à causa ambiental, até o ponto de surgirem os chamados “partidos verdes”. O primeiro partido verde apareceu na Nova Zelândia, da luta de trabalhadores da construção civil que se recusaram a participar de obras em locais considerados culturais e sagrados pelos aborígenes. Daí em diante, os princípios “verdes” começaram a se difundir entre aqueles que queriam manter uma postura política “nem à esquerda, nem à direita”. Além dos movimentos político-partidários, o ambientalismo transformou-se em ativismo radical. Movimentos de luta em defesa do meio ambiente, como o World Wide Fund for Nature (WWF) (Figura 1), surgido em 1961 na Suíça; o Greenpeace, criado no Canadá, em 1971; Sea Shepherd Conservation Society (Figura 2), fundada nos Estados Unidos, em 1977. Essas organizações são mais conhecidas pelas ações invasivas contra o que acreditam se tratar de agressões à natureza e, por esses motivos, diversos integrantes já passaram pelos tribunais e frequentemente respondem às ações na justiça. Figura 2 – Logomarca da Sea Shepherd Conservation Society Fonte: www.seashepherd.org Figura 1 – Logomarca do WWF Fonte: wwf.org 9 Em 1984, o serviço secreto francês detonou uma bomba no navio Rainbow Warrior (Figura 3), que servia de suporte para as ações do Greenpeace e estava atracado no porto de Auckland, Nova Zelândia. A ideia era interromper um protesto que a organização planejava fazer, denunciando os testes nucleares que a França realizava no Atol de Mururoa, no Arquipélago de Tuamotu, na Polinésia Francesa. O ataque não só afundou a embarcação, como matou um ativista do grupo. A partir da publicidade desse episódio, a França nunca mais produziu detonações nucleares na região. Figura 3 – Barco Rainbow Warrior, do Greenpeace, adernado após o atentado a bomba Fonte: greenpeace.org A partir dessas primeiras referências, diversas outras organizações ativistas tiveram suas atividades iniciadas pelo mundo, nas mais diversas lutas, desde a defesa dos direitos humanos, como é o caso da Amnesty International – Anistia Internacional –, fundada em 1961, em Londres, Inglaterra, até a proteção e defesa dos animais, caso da União Internacional Protetora dos Animais (Uipa). Considerando todos os aspectos analisados até este ponto, podemos considerar que a questão ambiental alcançou um patamar internacional. É a partir desta perspectiva que devemos entender a assimilação da temática ambiental pela Organização das Nações Unidas (ONU). 10 Unidade: A institucionalização da questão ambiental A Questão Ambiental na ONU A ONU (Figura 4) é uma instituição de congregação internacional com perfil supranacional, isto é, representa os poderes constituídos pelos Estados Nacionais. Figura 4 – Logomarca ou bandeira da ONU Foi criada em 1945, em uma conferência realizada por cerca de cinquenta chefes de Estado, em São Francisco, Estados Unidos (Figura 5). A partir de sua criação, a ONU teve sua sede transferida para a cidade de Nova Iorque, Estados Unidos. Atualmente, a ONU representa 193 países, ou Estados-membros. O Brasil é considerado um membro fundador da ONU, pois esteve presente e firmou a Carta de São Francisco, que deu origem a essa instituição. Figura 5 – Conferência de São Francisco (1945) Fonte: UN Photo/Lundquist 11 Entre outros aspectos, a finalidade da ONU é a de congregaras nações e propiciar um ambiente de relacionamento amistoso e diplomático internacional, no qual as resoluções tenderiam à solução por meio do diálogo, contrariamente ao que havia ocorrido nas décadas anteriores, marcadas por duas guerras mundiais. Entre os temas aos quais a ONU se dedica, está a questão ambiental. Para este fim, a ONU tem, desde as suas primeiras conferências, auxiliado na mediação de diversos acordos, tratados e resoluções internacionais sobre o meio ambiente. Nas próximas linhas analisaremos algumas resoluções originadas em conferências da ONU e que representam a sua intervenção na temática ambiental. As Conferências da ONU sobre Meio Ambiente Em 1959, a ONU realizou em Washington, a Convenção sobre Pesca no Atlântico Norte. Nesse evento foi assinado um dos tratados mais relevantes do ponto de vista ambiental até àquela altura – o Tratado da Antártica. Esse documento resolveu uma questão geopolítica e ambiental significativamente grave naquele contexto. Até 1959, diversos países reivindicavam posses (Figura 6) na superfície da Antártica, até então, o único Continente onde o homem ainda não havia se fixado. Entretanto, diversas suposições acreditavam, o que se confirmou posteriormente, que o solo antártico era provido de muitas riquezas naturais e isto moveu diversas nações a implantarem tentativas de colonização, em princípio fracassadas e que geraram inúmeras discussões acaloradas nos fóruns internacionais, entre os quais, alguns na própria ONU. Figura 6 – Áreas no Continente antártico reivindicadas por diversos países Fonte: Wikimedia Commons 12 Unidade: A institucionalização da questão ambiental Note que na Figura 6, à exceção da área de cor branca, em 1959 todas as demais se encontravam reivindicadas por alguma nação. Todavia, a partir da assinatura do Tratado houve o compromisso desses países reivindicantes em respeitar o espaço antártico sem alterá- lo, realizando apenas pesquisas científicas. Em 1957, o Conselho Internacional da União Científica (ICSU) criou o Comitê Especial para Pesquisas Antárticas (Scar), formado por especialistas encarregados pelas investigações cientificas nesse continente, durante o período de julho de 1957 até dezembro de 1958, denominado ano geofísico internacional. Países como Argentina; Austrália; Bélgica; Brasil; Chile; Estados Unidos; França; Japão; Noruega; Nova Zelândia; Reino Unido; República Sul Africana e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) – hoje Rússia – criaram suas estações de pesquisa e, após a assinatura do Tratado, mantiveram as estações funcionando com o compromisso de aperfeiçoarem as pesquisas sobre o Continente. A seguir são relacionadas algumas das convenções realizadas pela ONU para discutir questões ambientais: • 1960 – Convenção Sobre a Proteção dos Trabalhadores Contra Radiações Ionizantes; • 1960 – Convenção Sobre a Responsabilidade de Terceiros no Uso da Energia Nuclear; • 1961 – Convenção Sobre a Proteção de Novas Qualidades de Plantas e o Reconhecimento e Proteção dos Cultivadores de Novas Variedades de Plantas; • 1962 – Acordo de Cooperação em Pesca Marítima; • 1963 – Convenção de Viena Sobre a Responsabilidade Civil por Danos Nucleares; • 1963 – Acordo Sobre a Poluição do Rio Reno – Cooperação Entre Países para Prevenir a Poluição e Manter a Qualidade da Água; • 1963 – Tratado Proibindo os Ensaios Nucleares na Atmosfera, no Espaço Extraterrestre; • 1964 – Convenção Sobre o Conselho Internacional para a Exploração do Mar; • 1966 – Convenção Sobre a Conservação do Atum do Atlântico; • 1967 – Convenção Fitossanitária Africana de Controle e Eliminação de Pragas das Plantas; • 1968 – Convenção Africana Sobre a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais; • 1969 – Convenção Sobre a Conservação dos Recursos Vivos do Atlântico Sudeste; • 1969 – Convenção Internacional Sobre a Responsabilidade Civil por Danos Causados pela Poluição por Óleo – Petróleo; • 1969 – Convenção Relativa à Intervenção em Alto Mar em Caso de Acidentes com Óleo – Petróleo; • 1971 – Convenção – de Ramsar – Relativa às Áreas Úmidas de Importância Internacional; • 1971 – Convênio Sobre a Proteção Contra os Riscos de Contaminação por Benzeno; • 1971 – Convênio Sobre a Responsabilidade Civil na Esfera do Transporte Marítimo de Materiais Nucleares. 13 A Conferência de Estocolmo (1972) Entre todas as convenções promovidas pela ONU até aquele momento, a de maior relevância – do ponto de vista ambiental – foi, sem dúvida, a Convenção das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, Suécia, em 1972. A Convenção de Estocolmo teve 113 chefes de Estado, contou com cerca de 250 organizações não governamentais e com organismos internos da ONU. Nessa oportunidade foi assinada a Convenção das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente Humano – Declaração de Princípios Sobre a Proteção do Meio Ambiente –, por meio da qual se disseminou os princípios de comportamento e responsabilidade que deveriam governar as decisões relativas às questões ambientais. Além do documento supracitado, a Convenção também formulou o plano de ação que convidava todos os países, os organismos da ONU, além de todas as organizações internacionais a cooperarem com a busca de soluções para os problemas ambientais considerados mais graves. Foi no fim da década de 1960 e início de 1970 que teve origem a crença de que as atividades humanas eram as únicas responsáveis pelo que se convencionou chamar de “degradação” da natureza, o que implicaria em riscos futuros ao próprio bem-estar da humanidade. Os debates que se seguiram durante a reunião polarizaram de um lado, os países mais desenvolvidos e de outro, as nações em desenvolvimento. Enquanto os primeiros estavam preocupados com o futuro a partir de uma perspectiva extremamente pessimista e alarmista, com proposições conservacionistas da natureza remanescente, por meio de medidas preventivas; por outro lado, os países em desenvolvimento, varridos por problemas socioeconômicos dos mais diversos, reivindicavam o direito de crescimento econômico mais breve possível, contrariando exatamente as premissas do grupo de nações desenvolvidas. Em sua contra-argumentação, os países em desenvolvimento lembraram às nações desenvolvidas que essas já tinham chegado ao auge de suas capacidades produtivas e de consumo ao custo da degradação ambiental anunciada e que, agora, impunham restrições de crescimento aos países em desenvolvimento daquele contexto. Além de todos os aspectos mencionados, a Convenção de Estocolmo também promoveu a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) – United Nations Environment Programme –, sediado em Nairóbi, Quênia. De Estocolmo em diante foram realizadas diversas convenções na ONU sobre meio ambiente, entre as quais: • 1973 – Convenção Sobre o Comércio Internacional de Espécies de Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (Cites); • 1974 – Convenção Sobre a Proteção Ambiental nos Países Escandinavos – Dinamarca, Finlândia, Suécia e Noruega; • 1977 – Convenção para a Proteção dos Trabalhadores Contra Problemas Ambientais – Proteção Contra Problemas Relacionados à Poluição do Ar, Som, Vibração; • 1978 – Convenção Regional do Kuwait Sobre a Proteção dos Ambientes Marinhos; 14 Unidade: A institucionalização da questão ambiental • 1979 – Convenção para a Proteção das Espécies Migratórias de Animais Selvagens; • 1982 – Convenção Sobre o Direito do Mar; • 1985 – Tratado de Zonas Livres de Elementos Nucleares do Pacífico Sul; • 1986 – Convenção Sobre a Breve Notificação a Respeito de Acidentes Nucleares; • 1987 – Protocolo de Montreal Sobre as Substâncias que Esgotam a Camada de Ozônio; • 1989 – Convenção Sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços para os Resíduos Perigosos – Convenção da Basileia; • 1991 – Convenção Africana Sobre o Banimento da Importação e Controle do Movimento e o Gerenciamento de Resíduos Perigosos Transfronteiriços – Convenção de Bamako.A Conferência do Rio de Janeiro (1992) A Conferência da ONU Sobre Meio Ambiente, ocorrida no Rio de Janeiro entre 3 e 14 de junho de 1992, popularmente conhecida como Earth Summit – Cúpula da Terra, ou simplesmente Eco- 92 –, foi o marco no qual o princípio da sustentabilidade passou das ideias para as ações. O documento produzido e firmado pelos mais de 170 chefes de Estado presentes, denominado Declaração do Rio sobre meio ambiente e desenvolvimento, ou simplesmente Carta do Rio, apresentou 27 princípios nos quais o fundamento básico de ação institucional era o “desenvolvimento sustentável”. Tal conceito foi anteriormente elaborado em um longo documento denominado Our common future – Nosso futuro comum, ou simplesmente Relatório Brundtland –, produzido em 1987 pela Comissão sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, à época, liderada pela primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. O relatório demonstrava a preocupação em relação à capacidade de a natureza absorver e se recuperar das agressões provocadas pelas atividades econômicas. Quanto a isso, o documento se soma ao conhecido texto de Dennis L. Meadows, Os limites do crescimento. Esse livro reflete o pensamento do chamado “Clube de Roma”, o qual pregava que, em escala global, devem-se impor limites ao crescimento econômico a fim de garantir a estabilização ou a redução dos impactos das atividades humanas sobre o meio ambiente. A polêmica em torno do Relatório Brundtland veio dos representantes de países em desenvolvimento, os quais reivindicavam o direito de crescerem aproveitando os recursos naturais em seus territórios, assim como as nações industrializadas tinham feito anteriormente. Em complemento à Carta do Rio, a Eco-92 também foi responsável pela criação de um roteiro, ou um plano de ação com prazo estabelecido, a fim de orientar governos, agências de desenvolvimento e crédito, grupos setoriais com vistas a reduzir, corrigir, ou até evitar impactos sobre a natureza, esses decorrentes das atividades humanas. Tal documento ficou conhecido como Agenda 21. A partir do qual teve início o que podemos denominar de gestão ambiental, no sentido de se tornar a ferramenta de convergência de ações com vistas ao desenvolvimento sustentável. Além dos documentos mencionados, a Eco-92 também produziu importantes resoluções que vieram a se tornar basilares na gestão ambiental – os Princípios para a Administração Sustentável das Florestas; a Convenção da Biodiversidade e a Convenção Sobre Mudança 15 do Clima. Da Eco-92 em diante, o tema mudanças climáticas passou a se tornar frequente durante as conferências que se seguiram, entre as quais: • 1993 – Convenção Sobre Responsabilidade Civil por Danos Resultantes de Atividades Perigosas ao Meio Ambiente – Conselho da Europa (CEE), outros países; • 1994 – Convenção Internacional de Combate à Desertificação nos Países Afetados por Desertificação e/ou Seca. As Conferências das Partes (COP) e as Mudanças Climáticas As “partes” da Convenção de Mudanças Climáticas reúnem-se anualmente desde 1995, em Conferências das Partes (COP) para avaliar o avanço das ações relacionadas às mudanças climáticas. É nas COP que as diretrizes sobre as mudanças climáticas são definidas. Desde a sua fundação, em 1994, houve 21 reuniões anuais, a saber: • 1995: COP1 – Berlim, Alemanha; • 1996: COP2 – Genebra, Suíça; • 1997: COP3 – Quioto, Japão; • 1998: COP4 – Quioto, Japão; • 1999: COP5 – Bonn, Alemanha; • 2000: COP6 – Haia, Holanda; • 2001: COP7 – Bonn, Alemanha e Marrakech, Marrocos; • 2002: COP8 – Nova Deli, Índia; • 2003: COP9 – Milão, Itália; • 2004: COP10 - Buenos Aires, Argentina; • 2005: COP11 - Montreal, Canadá; • 2006: COP12 – Nairóbi, Quênia; • 2007: COP13 – Bali, Indonésia; • 2008: COP14 – Potznan, Polônia; • 2009: COP15 – Copenhague, Dinamarca; • 2010: COP16 – Cancun, México; • 2011: COP17 – Durban, África do Sul; • 2012: COP18 – Doha, Catar; • 2013: COP19 – Varsóvia, Polônia; • 2014: COP20 – Lima, Peru; • 2015: COP21 – Paris, França. Todavia, nenhuma das convenções da ONU foi mais representativa quanto ao tema mudanças climáticas do que a Convenção de Quioto, no Japão. 16 Unidade: A institucionalização da questão ambiental A Convenção de Quioto (1997) Essa convenção resultou da formação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC), formada durante a Eco-92. Do total de países-membros da ONU, 154 nações assinaram a Convenção, a qual assumiu como compromisso a ser implementado o reconhecimento das mudanças do clima global como uma preocupação comum dos seres humanos. Assim, a CQNUMC propôs a elaboração e a adoção de estratégias de combate às causas das mudanças climáticas a fim de proteger e garantir o bem-estar das gerações futuras. A partir de 1994 foram estabelecidas as “partes” – OCDE e pelos países industrializados da antiga União Soviética e do Leste Europeu –, chamados também de “países do anexo I”, considerados os maiores emissores de Gases do Efeito Estufa (GEE), como o CO2 ou dióxido de carbono, portanto, responsáveis pelas mudanças climáticas – responsabilidades comuns, mas diferenciadas – e que, por esse motivo, deveriam “assumir a liderança” nas ações relacionadas ao combate às alterações climáticas. O compromisso das “partes” não é obrigatório para os membros do acordo, mas fomenta “protocolos” para acordos futuros. Por exemplo, na Convenção de Quioto, de 1997, entrou em vigor o protocolo que tornou obrigatória a redução das emissões supracitada, com os seguintes parâmetros: • Meta: determina que as “partes” do chamado anexo I reduzam suas emissões de GEE em 5,2%, valores relativos a 1990; • Prazo: entre 2008 e 2012 – conhecido como primeiro período de compromisso; • Descumprimento: sanções. Para os países não listados no anexo I, ou “países não anexo I”, entre os quais o Brasil, foram colocadas medidas para um tipo de crescimento com um mínimo de emissões, contando com a alocação de recursos provenientes dos “países do anexo I”. Na tentativa de auxiliar os “países do anexo I” a alcançarem suas metas de redução de emissões, o Protocolo de Quioto dispõe de três mecanismos de flexibilização, a saber: • Comércio de emissões; • Implementação conjunta; • Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). O Protocolo estabeleceu as regras para o funcionamento do MDL, projetos em todo o mundo que reduzem as emissões de gases ou captam o carbono emitido por processos industriais. MDL é a base do comércio de carbono obrigatório. Nesse mercado são comercializadas emissões de gases do efeito estufa, onde os países desenvolvidos, que devem cumprir a redução da emissão desses gases, compram créditos de países em desenvolvimento. Em geral, o MDL compreende os financiamentos de projetos pelos países desenvolvidos, geralmente relacionados a reflorestamentos ou a energias alternativas nos países em desenvolvimento. Os dois primeiros se aplicam aos “países do anexo I”, já o MDL diz respeito aos “países não anexo I”. 17 Figura 7 – Distribuição dos países em relação à CQNUMC Fonte: Wikimedia Commons Segundo a disposição apresentada na Figura 7, os países estão distribuídos segundo a sequência abaixo relacionada: • Anexo I: são as 43 “partes” da UNFCCC, incluindo a comunidade europeia. Essas “partes” são os chamados países industrializados – desenvolvidos – e/ou as Economias em Transição (EIT). Os quatorze EIT são os ex-socialistas; • Anexo II: são as 24 “partes” da UNFCCC, incluindo a União Europeia. Essas “partes” compreendem os membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). São obrigadas a aprovisionar aporte financeiro e técnico para os EIT e os demais países em desenvolvimento, no intuito de auxiliá-los na redução de suas emissões – mitigação das alterações climáticas – e gerenciar os impactos negativos das mudanças climáticas – adaptação às alterações climáticas; • Anexo B: são as “partes” relacionadas no “anexo B” do Protocolo de Quioto.Dito de outra forma, são as “partes do anexo I” com metas de primeira ou de segunda ordem das emissões de GEE; • Não anexo I: tratam-se das “partes” da UNFCCC não listadas no anexo I. São considerados países em desenvolvimento, que podem vir a se tornar “países do anexo I” assim que estiverem relativamente mais desenvolvidos. Para se ter uma ideia do nível de aprofundamento institucional da questão ambiental, o Protocolo de Quioto passou a vigorar em 16 de fevereiro de 2005, assim que foram atendidas as condições que exigiam a ratificação por, pelo menos, 55% das 154 nações signatárias da Convenção, as quais também fossem responsáveis por cerca de 55% das emissões de GEE. Dos principais emissores mundiais, somente os Estados Unidos, apesar das suas responsabilidades e obrigações definidas pela Convenção, não ratificaram o Protocolo de Quioto. A ratificação brasileira ocorreu apenas em 23 de agosto de 2002, sendo que a aprovação definitiva pelo Estado brasileiro se deu pelo Decreto Legislativo n.º 144/2002. A Figura 7 apresenta a disposição dos países em relação à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC). 18 Unidade: A institucionalização da questão ambiental Material Complementar Sites: Organizações supranacionais do meio ambiente PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente http://nacoesunidas.org/agencia/pnuma/ Organizações não governamentais do meio ambiente http://www.wwf.org.br/ GreenPeace http://www.greenpeace.org/brasil/pt/ Sea Shepherd http://seashepherd.org.br/ Conferências da Organização das Nações Unidas (ONU) A ONU e o meio ambiente http://nacoesunidas.org/acao/meio-ambiente Eco-92 Conferência Rio-92 sobre o meio ambiente do planeta: desenvolvimento sustentável dos países http://goo.gl/2HFM6O Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) http://www.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas 19 Referências BELMONTE, Roberto Villar. Mudanças do clima, mudanças de vidas: como o aquecimento global já afeta o Brasil. São Paulo: Greenpeace, 2006. BRASIL. Câmara dos Deputados. Comissão de Turismo e Desporto. Mudanças climáticas: o turismo em busca da ecoeficiência. Brasília, DF: Edições Câmara, 2008. BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério das Relações Exteriores. Protocolo de Quioto. Brasília, DF, [20--?]. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Inter-relações entre biodiversidade e mudanças climáticas: recomendações para a integração das considerações sobre biodiversidade na implementação da convenção: quadro das Nações Unidas sobre mudança do clima e seu protocolo de Kyoto. Brasília, DF, 2007a. ______. O Brasil e meio ambiente antártico. Brasília, DF, 2007. ______. Consumo sustentável: manual de educação. Brasília, DF, 2002. ______.; MARENGO, José A. Mudanças climáticas globais e seus efeitos sobre a biodiversidade: caracterização do clima atual e definição das alterações climáticas para o território brasileiro ao longo do século XXI. 2. ed. Brasília, DF, 2007. DIAS, Reinaldo. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2009. GREENPEACE. Aquecimento global: o relatório do Greenpeace. Rio de Janeiro: FGV, 1992. PRIMAVESI, Odo. Aquecimento global e mudanças climáticas: uma visão integrada tropical. São Paulo: Embrapa, 2007. ROBERTS, Adam. Governança global. Rio de Janeiro: Konrad Adenauer Stiftung, 2008. 20 Unidade: A institucionalização da questão ambiental Anotações
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