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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO – ADO Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão - ADO é a ação pertinente para tornar efetiva norma constitucional em razão de omissão de qualquer dos Poderes ou de órgão administrativo. Como a Constituição Federal possui grande amplitude de temas, algumas normas constitucionais necessitam de leis que a regulamentem. A ausência de lei regulamentadora faz com que o dispositivo presente na Constituição fique sem produzir efeitos. Desta forma, a ADO tem o objetivo de provocar o Judiciário para que seja reconhecida a demora na produção da norma regulamentadora. Caso a demora seja de algum dos Poderes, este será cientificado de que a norma precisa ser elaborada. Se for atribuída a um órgão administrativo, o Supremo Tribunal Federal determinará a elaboração da norma em até 30 dias. PREVISÃO CONSTITUCIONAL A Constituição Federal de 1988 adotou a ação de inconstitucionalidade por omissão em seu art. 103, § 2°: § 2º - Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias. A Lei 12.063/2009, que acresceu o Capítulo II-A à Lei 9.868/1999, trouxe a disciplina processual para a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão – ADO. Espécies de Omissão A omissão poderá ser total ou parcial. A omissão total, quando não houver o cumprimento constitucional do dever de legislar. A omissão parcial, quando houver lei integrativa infraconstitucional, porém, de forma insuficiente A inconstitucionalidade por omissão parcial poderá ser parcial propriamente dita ou parcial relativa. Omissão parcial propriamente dita – a lei existe, mas regula de forma deficiente o texto. Omissão parcial relativa - surge quando a lei existe e outorga determinado benefício à certa categoria, mas deixa de concedê-lo a outra, que deveria ter sido contemplada. Ressalte-se que o Poder Judiciário não tem poder legislativo, portanto não pode aumentar vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia (Súmula 339 do Supremo Tribunal Federal). PROPOSIÇÃO Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade: I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX - Confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. http://www.normaslegais.com.br/legislacao/lei-9868-1999.htm Procedimentos A petição inicial da Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão indicará: a) a omissão inconstitucional total ou parcial quanto ao cumprimento de dever constitucional de legislar ou quanto à adoção de providência de índole administrativa; b) o pedido, com suas especificações. A petição inicial, acompanhada de instrumento de procuração, se for o caso, será apresentada em 2 (duas) vias, devendo conter cópias dos documentos necessários para comprovar a alegação de omissão. A petição inicial inepta, não fundamentada, e a manifestamente improcedente serão liminarmente indeferidas pelo relator. Cabe agravo da decisão que indeferir a petição inicial. Proposta a ação direta de inconstitucionalidade por omissão, não se admitirá desistência. Os titulares legitimados poderão manifestar-se, por escrito, sobre o objeto da ação e pedir a juntada de documentos reputados úteis para o exame da matéria, no prazo das informações, bem como apresentar memoriais. O relator poderá solicitar a manifestação do Advogado-Geral da União, que deverá ser encaminhada no prazo de 15 (quinze) dias. O Procurador-Geral da República, nas ações em que não for autor, terá vista do processo, por 15 (quinze) dias, após o decurso do prazo para informações. Medida Cautelar Em caso de excepcional urgência e relevância da matéria, o Tribunal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, observado o disposto no art. 22 da Lei n.º 9.868/99 poderá conceder medida cautelar, após a audiência dos órgãos ou autoridades responsáveis pela omissão inconstitucional, que deverão pronunciar-se no prazo de 5 (cinco) dias. A medida cautelar poderá consistir na suspensão da aplicação da lei ou do ato normativo questionado, no caso de omissão parcial, bem como na suspensão de processos judiciais ou de procedimentos administrativos, ou ainda em outra providência a ser fixada pelo Tribunal. O relator, julgando indispensável, ouvirá o Procurador-Geral da República, no prazo de 3 (três) dias. No julgamento do pedido de medida cautelar, será facultada sustentação oral aos representantes judiciais do requerente e das autoridades ou órgãos responsáveis pela omissão inconstitucional, na forma estabelecida no Regimento do Tribunal. Concedida à medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar, em seção especial do Diário Oficial da União e do Diário da Justiça da União, a parte dispositiva da decisão no prazo de 10 (dez) dias, devendo solicitar as informações à autoridade ou ao órgão responsável pela omissão inconstitucional. Decisão Declarada a inconstitucionalidade por omissão, com observância do disposto no art. 22, da Lei n.º 9.868/99 será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias. Em caso de omissão imputável a órgão administrativo, as providências deverão ser adotadas no prazo de 30 (trinta) dias, ou em prazo razoável a ser estipulado excepcionalmente pelo Tribunal, tendo em vista as circunstâncias específicas do caso e o interesse público envolvido. BASES: Artigo 102 § 3º da Constituição Federal, e artigos 12-A a 12-H da Lei 9.868/1999 instituído pela Lei 12.063/2009– Regulamentação Processual da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão – ADO e os citados no texto. http://www.normaslegais.com.br/legislacao/lei-9868-1999.htm AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO – ADO Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão - ADO é a ação pertinente para tornar efetiva norma constitucional em razão de omissão de qualquer dos Poderes ou de órgão administrativo. Como a Constituição Federal possui grande amplitude de temas, algumas normas constitucionais necessitam de leis que a regulamentem. A ausência de lei regulamentadora faz com que o dispositivo presente na Constituição fique sem produzir efeitos. Desta forma, a ADO tem o objetivo de provocar o Judiciário para que seja reconhecida a demora na produção da norma regulamentadora. Caso a demora seja de algum dos Poderes, este será cientificado de que a norma precisa ser elaborada. Se for atribuída a um órgão administrativo, o Supremo Tribunal Federal determinará a elaboração da norma em até 30 dias. PREVISÃO CONSTITUCIONAL A Constituição Federal de 1988 adotou a ação de inconstitucionalidade por omissão em seu art. 103, § 2°: § 2º - Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias. A Lei 12.063/2009, que acresceu o Capítulo II-A à Lei 9.868/1999, trouxe a disciplina processual para a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão – ADO. Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) Aquela que importa no reconhecimento judicial do estado de inércia do Poder Público, conferindo ao Supremo Tribunal Federal, unicamente, o poder de cientificar o legislador inadimplente, para que este adote as medidas necessárias à concretização do texto constitucional. Não assiste ao Supremo TribunalFederal, contudo, em face dos próprios limites fixados pela Carta Política em tema de inconstitucionalidade por omissão, a prerrogativa de expedir provimentos normativos com o objetivo de suprir a inatividade do órgão legislativo inadimplente. OBJETO DA ADO O art. 103, §2º, fala em “omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional”. Logo, podemos concluir que a ADIn por omissão tem como objeto medidas que não foram adotadas. A questão é: quais medidas seriam essas e em quais situações se admite a ADO? A doutrina diverge quanto à natureza dos atos que podem ser objeto deste tipo de controle. Uma primeira corrente defende que a omissão inconstitucional, seja ela de ato normativo ou de ato administrativo, pode ser objeto da ADIn por omissão. Uma segunda corrente, mais restritiva, entende que a ADO só tem como objeto atos normativos do Executivo e da Administração Pública. Filia-se à primeira corrente Tavares (2002, pág. 338), afirmando que “No caso da ação direta de inconstitucionalidade para combater a omissão há expressa referência constitucional a ‘omissão de medida’, sem qualquer restrição de qual medida (não se fala, por exemplo, em ‘omissão de medida normativa’), o que leva à conclusão de abertura do remédio para situações de omissão não normativa” (TAVARES, 2002, p.338). http://www.normaslegais.com.br/legislacao/lei-9868-1999.htm Além do texto constitucional, os defensores deste entendimento também passaram a utilizar o art. 12-B, I, da Lei 9.868/99, incluso pela lei 12.063/09, que se refere a “dever constitucional de legislar ou quanto à adoção de providência de índole administrativa”. No presente estudo, discorda-se de tal interpretação e adota-se a corrente restritiva. Barroso, seguindo o entendimento restritivo, explica que as omissões impugnáveis pela ADO são as de cunho normativo, pois, “Omissões de outras espécies são atacáveis por mecanismos jurídicos diversos. Ademais o termo normativo tem alcance mais amplo do que legislativo, porque nele se compreendem atos ferais, abstratos e obrigatórios de outros Poderes e não apenas daquele ao qual cabe, precipuamente, a criação do direito positivo” (BARROSO, 2011, p.280). Seguindo a linha de raciocínio apontada pelo autor, chega-se à conclusão de que apesar da literalidade do texto constitucional, devemos interpretar o dispositivo dentro do contexto em que está inserido, e não de forma isolada. A ADO é espécie de ação direta de inconstitucionalidade, tendo a mesma natureza e finalidade. É a ADO modalidade de controle abstrato de constitucionalidade. Por meio dela instaura-se um processo objetivo de controle de constitucionalidade. É o controle abstrato-principal. Não se destina, portanto, à solução de conflitos concretos, atuando tão-somente na esfera normativa. Veloso leciona que, “Não é qualquer falta de providência de órgãos públicos que pode legitimar a intervenção do Judiciário, em sede de ação de inconstitucionalidade por omissão, mas somente a ausência de medidas de cunho normativo, ou seja, de atos administrativos normativos, que são os que contêm regras gerais e abstratas, não sendo leis em sentido formal, mas apresentando-se como lei, no aspecto material. A ação governamental. No sentido de realizações, tarefas, obras, programas administrativos, está fora do âmbito da inconstitucionalidade por omissão” (VELOSO, 2000, p.251). Acrescenta-se que o §3º do art. 103 da CF não fala expressamente em ato administrativo, mas em medidas provenientes de órgão administrativo. Interpretando-se o dispositivo levando em consideração o contexto em que está inserido, é intuitivo que o texto refere-se a atos da administração, formalmente administrativos, mas essencialmente normativos, com caráter abstrato e genérico. O próprio STF já esclareceu que a ADO “não é de ser proposta para que seja praticado determinado ato administrativo em caso concreto, mas sim visa a que seja expedido ato normativo que se torne necessário para o cumprimento de preceito constitucional que, sem ele, não poderia ser aplicado”. (ADI 19/AL, Rel. Min. Aldir Passarinho, DJU de 14-8-89, p. 5.456). POSSIBILIDADE DE MEDIDA CAUTELAR Entendia o Supremo Tribunal Federal ser incompatível concessão de medida cautelar em face de ação direta de inconstitucionalidade por omissão. Tal entendimento se coadunava com a interpretação dada à própria ADI por omissão, pois se nem mesmo o provimento judicial último podia afastar a omissão, não havia sentido em exame preliminar, pois não haveria nada a se garantir. Logo, a idéia da impossibilidade de medida cautelar em ADO estava ligada à idéia da mera comunicação como efeito da ADO. Sucede que a Lei nº 12.063/09 acrescentou o art. 12-F na Lei nº 9.868/99, prevendo expressamente a possibilidade de medida cautelar na ADO. Prevê o novo art. 12-F que: “Em caso de excepcional urgência e relevância de matéria, o Tribunal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, observado o disposto no art. 22, poderá conceder medida cautelar, após a audiência dos órgãos ou autoridades responsáveis pela omissão inconstitucional, que deverão pronunciar-se no prazo de 5 (cinco) dias.” Nessa perspectiva, Dirley da Cunha Junior, diz que, “A medida cautelar poderá consistir na suspensão da aplicação da lei ou do ato normativo questionado, no caso der omissão parcial, bem como na suspensão de processos judiciais ou de procedimentos administrativos, ou ainda em outra providência a ser fixada pelo Tribunal” (CUNHA JUNIOR, 2011, p.393). A inovação legislativa sinaliza uma mudança de visão em relação aos efeitos da ADO, pois propõe uma posição mais ativa da Suprema Corte, podendo dispor de mais meios para garantir a eficácia das suas decisões e a própria supremacia constitucional. A possibilidade da medida cautelar abre um precedente para a possibilidade de os efeitos da decisão da ADO irem além da mera notificação, pois se o STF já pode garantir certo grau de efetividade à decisão preliminar, por que não poderia garantir efetividade à sua decisão final? EFEITOS DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO: UMA ANÁLISE DE SUAS POSSIBILIDADES Dispõe o §2º do art. 103 da Constituição que da decisão que declarar a inconstitucionalidade por omissão, será dada ciência ao poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão administrativo, para suprir a omissão no prazo de trinta dias. Como pode ser visto, o dispositivo constitucional fala somente em cientificação do órgão omisso, não vislumbrando uma ação mais efetiva e interventiva por parte do Poder Judiciário na concretização da decisão. Contudo, existe uma controvérsia doutrinária no tocante aos efeitos da decisão da ADO. Isso porque se existe uma corrente que defende a interpretação literal do dispositivo (a corrente não-concretista), em sentido adverso existe a corrente concretista, que entende que o texto constitucional disse menos do que queria dizer, pois se interpretarmos o §2º do art. 103 conjuntamente com outros preceitos da constituição chegaremos ao entendimento de que o Poder judiciário pode ter uma ação mais ativa para concretizar a sua decisão. Passa-se a analisar primeiramente os argumentos da corrente não-concretista. • CORRENTE NÃO-CONCRETISTA A corrente não-concretista entende que após declarada a inconstitucionalidade por omissão, cabe ao STF simplesmente cientificar o órgão competente sobre a omissão. Entende desta forma Juliano Taveira Bernardes, que embora inicialmente reconheça que “a sentença da ADInO possui reduzidos efeitos práticos”, conclui que “na dicção constituinte, não é possível que o STF supra a omissão inconstitucional”. E finaliza a discussão defendendo que “mesmo quando procedente o pedido da ADInO, o provimento do STF, como se viu, limita-se à intimação/comunicação da mora ao órgão inadimplente”. (BERNARDES,2011, pág. 560) Os defensores da correntenão-concretista invocam principalmente os princípios da democracia e da divisão dos poderes como óbices à possibilidade de uma atuação judicial supletiva. Entendem que ao suprir a omissão de outro poder, estaria o judiciário extravasando os seus limites de atuação, comprometendo a separação e o equilíbrio dos poderes. O STF atualmente segue o entendimento de que a decisão da ADInO tem caráter puramente mandamental, tendo decidido que “em sede de controle abstrato, ao declarar a situação de inconstitucionalidade por omissão, [a Corte] não poderá, em hipótese alguma, substituindo-se ao órgão estatal inadimplente, expedir provimentos normativos que atuem como sucedâneo da norma reclamada pela Constituição, mas não editada – ou editada de maneira incompleta – pelo Poder Público”. (decisão monocrática do Min. Celso de Mello na ADIN 1.484/DF). Contudo, no julgamento da ADI 3.682/MT, realizado na sessão plenária de 9 de maio de 2007, o Supremo Tribunal já demonstrou uma posição mais ativa no tocante à decisão da ADI por omissão. De forma inédita, a decisão reconheceu, além da mora do legislador quanto à omissão da regulamentação do §4º do art. 18 da Constituição Federal, o dever constitucional de legislar do Congresso Nacional. Além disso, fixou a Corte o prazo de dezoito meses para que o Congresso Nacional regulamentasse o §4º do art. 18 da Constituição. Com isso, a Suprema Corte deixa de compreender a decisão em sede de ADO como meramente declaratória, deixando claro que a decisão que constata a existênci8a de omissão inconstitucional e determina ao legislador que tome as medidas necessárias ao suprimento da lacuna constitui sentença de caráter nitidamente mandamental, que impõe ao legislador em mora, o dever, dentro de um prazo razoável, de proceder à eliminação do estado de inconstitucionalidade. Essa decisão, embora represente uma postura mais ativa da Corte na concretização da decisão em sede de ADO, ainda não adotou o caráter concretista. É que embora a Corte tenha avançado no sentido de reconhecer a sentença como mandamental, e não apenas declaratória e apesar de haver fixado prazo para o Poder Legislativo, a efetiva concretização da Constituição ainda ficou à mercê da vontade do legislador, dependendo dele a colmatação da lacuna inconstitucional. Não dispôs a decisão de meios mais efetivos para garantir a supremacia e efetividade da Constituição. Todavia, não podemos deixar de reconhecer o avanço esta decisão representou. Bernardes, defendendo uma postura não-ativista do STF, chega a criticar essa decisão: “Essa decisão, óbvio, é de discutível constitucionalidade, pois claramente exorbita dos efeitos que o constituinte delimitou à decisão que declara a inconstitucionalidade por omissão em sede de ADInO. Trata- se de manifestação de ativismo judicial, cuja eficácia prática é igualmente discutível, porquanto o STF não tem como obrigar o legislador a cumprir o prazo fixado, tampouco aplicar alguma espécie de sanção jurídica em caso de descumprimento. Aliás, até hoje, o Congresso Nacional não cumpriu o prazo assinalado na ADIn 3.682/MT e há muito ultrapassado[…]” (BERNARDES, 2011, p.561) No mesmo sentido Zavascki (2001, p.18), em sua obra “Eficácia das sentenças na jurisdição constitucional”, ao tratar da eficácia prática dos provimentos decorrentes do controle de omissão: “desamparados que são de força executiva, fica na dependência do efeito político que a sua inobservância poderá gerar para os responsáveis”. • CORRENTE CONCRETISTA De acordo com a corrente concretista, o §2º do art. 103, ao limitar o efeito da decisão da ADO à cientificação ao Poder competente para a adoção das providências necessárias, disse menos do que pretendia dizer. Isso porque interpretar literalmente a norma não condiz com o real objetivo do legislador. Sugere-se que haja uma interpretação que leve em conta outros preceitos constitucionais, bem como as razões que motivaram o constituinte a introduzir o dispositivo. Nesses termos, a ADO deve ser compreendida em contexto com a sua finalidade e com a ordem constitucional. Entendemos ser esta a compreensão mais escorreita no que diz respeito aos efeitos da ADO, pois se olharmos a razão de ser das ações de controle de constitucionalidade por omissão do poder público, perceberemos que estas ações surgiram com o propósito de solucionar o problema da falta de efetividade da Constituição. Temer faz a seguinte observação, “A primeira afirmação que se deve fazer é aquela referente à finalidade desse controle: é a de realizar, na sua plenitude, a vontade constituinte. Seja: nenhuma norma constitucional deixará de alcançar eficácia plena. Os preceitos que demandarem regulamentação legislativa ou aqueles simplesmente programáticos não deixarão de ser invocáveis e exequíveis em razão da inércia do legislador. O que se quer é que a inação (omissão) do legislador não venha a impedir o auferimento de direitos por aqueles a quem a norma constitucional se destina. Quer-se – com tal forma de controle – passar da abstração para a concreção; da inação para a ação; do descritivo para o realizado. O legislador constituinte de 1988 baseou-se nas experiências constitucionais anteriores, quando muitas normas não foram regulamentadas por legislação integrativa e, por isso, tornaram- se ineficazes” (TEMER, 2002, p. 51-52). Assim sendo, não pode-se compreender a norma discutida de forma literal, pois caso se aceite que o único efeito da decisão de inconstitucionalidade por omissão é a mera ciência da declaração ao órgão inerte, estaria sendo renegando a própria finalidade da ADO, pois com a mera cientificação, a efetividade da Constituição continuará ao bel-prazer do legislador ou do órgão administrativo omisso. Com isto, a vontade do constituinte originário restará comprometida pela falta de efetividade, pois nada garante que o omisso, comunicado da decisão, venha a suprir a omissão. Luiz Guilherme Marinoni (2012, p.1116), explica que: “Raciocinou-se até aqui, como se a decisão na ação de inconstitucionalidade estivesse limitada à declaração da omissão inconstitucional, com a sua comunicação ao Poder para a tomada das providências necessárias – posição do STF”. Continua Marinoni dizendo que (2012, p.1116): “é evidente que esta decisão não é adequada do ponto de vista da efetividade do processo e da tutela da ordem constitucional, já que outorga a quem tem o dever de legislar a possibilidade de se omitir, deixando ao desamparo direitos e normas constitucionais”. Para Marinoni (2012, p.1116): “Isto é assim porque, ao se comunicar o dever de editar a norma, não se espera sanção pelo descumprimento ou mesmo se extrai o preceito faltante da inércia do legislador”. Gilmar Mendes (2010, p. 1369) diz que não é correto afirmar que a “decisão que constata a existência da omissão constitucional e determina ao legislador que empreenda as medidas necessárias à colmatação da lacuna constitucional não produz maiores alterações na ordem jurídica”. Mendes (2010, 1369) defende que a decisão possui natureza mandamental e “impõe ao legislador em mora o dever de, dentro de um prazo razoável, proceder à eliminação do estado de inconstitucionalidade”. Neste trabalho defende-se que não garantir a efetividade da Constituição compromete os próprios alicerces da Constituição de 1988, que nasce com o ideal neoconstitucional do estado constitucional de direito, onde a supremacia da constituição deve ser garantida acima de qualquer circunstância. Por isso, a Constituição de 1988 nasceu dispondo de instrumentos para garantir sua própria efetividade, bem como para se defender de qualquer ameaça à sua supremacia. É a ADO um desses instrumentos de auto-garantia e auto-defesa da Constituição. Neste contexto, parece inaceitável conceber a ADO como instrumento de efeito anódino. Barroso, criticando a decisão do STF, ensina que, “A literalidade do §2º do art. 103 e aresistência do Supremo Tribunal Federal em dar-lhe sentido mais abrangente, sob o fundamento de que não pode tornar-se legislador positivo, transformaram a ação direta de inconstitucionalidade por omissão em um remédio jurídico de baixa eficácia e, consequentemente, de uso limitado. A reduzida valia da mera ciência dá ao instituto um efeito essencialmente moral ou político, próprio para quem busca uma declaração de princípios, mais insuficiente para a tutela objetiva do ordenamento constitucional, quando vulnerado em sua supremacia” (BARROSO, 2011, p. 290). Como solução, alguns doutrinadores falam em responsabilização do Estado em caso de recalcitrância, com o que não concordamos, por entendermos que a finalidade é a efetividade da constituição e não a responsabilização do Estado. O que parece ser a solução ideal é defender um aprimoramento ao efeito literal previsto no §2º do art. 103 da Constituição, sendo razoável que o Poder Judiciário possa estabelecer um prazo para que a omissão seja remediada. Conforme a situação, não atendendo o omisso a determinação judicial, competirá ao Poder Judiciário dispor normativamente sobre a matéria não regulamentada pelo Poder Público competente. Essa decisão será temporária, valendo até a adoção das medidas necessárias por parte do Poder Público omisso. Defendendo esta solução, Dirley da Cunha Junior (2011, p. 413), ressalta que tal consequência “Longe de vulnerar o princípio da divisão de funções estatais, logra conciliar o princípio da autonomia do legislador e o princípio da prevalência da Constituição, que se traduz na exigência incondicional do efetivo cumprimento das normas constitucionais” (CUNHA JUNIOR, 2011, p. 413). No mesmo sentido Silva, entende que, “A mera ciência do Poder Legislativo pode ser ineficaz, já que ele ao está obrigado a legislar. Nos termos estabelecidos, o princípio da discricionariedade do legislador continua intacto, e está bem que assim seja. Mas isso não impediria que a sentença que reconhecesse a omissão inconstitucional já pudesse dispor normativamente sobre a matéria até que a omissão legislativa fosse suprida. Com isso, conciliar-se-iam o princípio político da autonomia do legislador e a exigência do efetivo cumprimento das normas constitucionais” (SILVA, 1999, p. 50-51). Entende-se que a solução não fere a liberdade política de legislar do Poder Legislativo. Pois o Judiciário apenas estabelece um prazo para que o Legislativo aja, não obrigando coercitivamente o Poder Legislativo a agir. Em caso de inação do referido poder, o judiciário vem suprir a lacuna inconstitucional, por ser inadmissível em um estado constitucional de direito a falta de solução pelo Poder Judiciário quando chamado a solucionar um caso de não efetividade constitucional. Não mais se admite que a sociedade fique sem resposta e que as garantias constitucionais dependam da boa vontade do legislador. Contesta-se a ideia do princípio da separação dos poderes como óbice à possibilidade de atuação judicial supletiva. Primeiramente porque a separação dos poderes não é um fim em si mesma. Por fim, a idéia de separação de poderes já não é tida como uma verdade absoluta, pois hoje fala-se muito mais em equilíbrio e harmonia dos poderes, pois já não se vislumbra a idéia de três poderes estanques, incomunicáveis entre si. Verifica-se, portanto, que a atuação supletiva do Supremo nos casos de inação do órgão omisso é a solução mais adequada para garantir os desígnios constitucionais, garantindo a realização do direito fundamental à efetivação da constituição, direito este de suma importância em um estado regido por uma constituição marcadamente dirigente, como a nossa.
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