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White, Michael White Isaac Newton Biografia

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Titulo da série: 
Personagens que mudaram o mundo 
Os grandes cientistas 
Titulo deste volume: ISAAC NEWTON 
Autor deste volume: Michael While 
Editor do obra original: Helen Exley 
Tradução: Matilde Leone 
Edição: Esnider Pizzo 
Copyright © Michael While, 1990 — Copyright © Exley Publications, 1991 
Publicado pela primeira vez na Grã-Bretanha 
por Exley Publications Ltd, 16 Chalk Hill, Watford, 1991 
Copyright © 1993 by Editora Globo S.A. para a língua portuguesa, em território brasileiro. 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em 
computador ou transmitida de qualquer forma e por quaisquer meios, eletrônicos, mecânicos, por fo-
tocópia, gravação ou outros, sem a permissão expressa e escrita do titular dos direitos autorais. 
I m p r e s s ã o : COCHRANE S.A. A. ESCOBAR WILLIAMS 590 SANTIAGO CHILE, 
NÚMEROS ATRASADOS 
A Editora Globo mantém suas publicações em estoque até seis meses após seu recolhimento. As publi-
cações atrasadas são vendidas pelo preço da última edição lançada (corrigido, caso não haja nenhuma 
edição em banca). Escolha entre as opções abaixo como fazer seu pedido de números atrasados: 
1 - Nas bancas - Através do jornaleiro ou distribuidor Chinaglia de sua cidade 
2 - Pessoalmente - Dirija-se aos endereços abaixo: 
São Paulo: Praça Alfredo Issa, 18 - Centro Rio de Janeiro: Rua Teodoro da Silva, 821 -Grajaú 
Fones: (011) 228-1841 e 229-9427 Fones: (021) 577-4225 e 577-2355 
3 - Por carta - Diretamente à Editora Globo, setor de Números Atrasados: 
Caixa Postal 289, CEP 06455-020, Alphaville, Barueri - SP 
DIVISÃO DE FASCÍCULOS E LIVROS 
Editora Globo S.A. 
Rua do Curtume, 665, CEP 05065-001, São Paulo - SP 
Telex (011) 81574, SP, Brasil 
Distribuidor exclusivo para todo o Brasil: 
Fernando Chinaglia Distribuidora S.A. 
Rua Teodoro da Silva, 907, CEP 20563-900, Rio de Janeiro - RJ 
ISBN (da obra completa) - 85.250.1138-X 
ISBN (deste volume) - 85.250.1128-2 
Créditos das fotos 
Ann Ronan Picture Library: 38; Bridgeman Art Library: 15, 16, 28, 59; com permissão de The British 
Library: 31 (à esquerda); com permissão do Syndics of Cambridge University Library: 43; E T Archi-
ve: 11; Exley Publications: 33; Lincolnshire County Council: 12, 14, 34; The Mansell Collection: 20, 
54; Mary Evans Picture Library: 7, 13, 25; Michael Holford Photographs: 37 (embaixo), 52-53, 53 (em-
baixo); Millbrook House Ltd. (P.B. Whitehouse): 48 (cm cima); The Museum of London: 26-27; Nasa: 
30, 31 (à direita); National Trust Photographic Líbrary/Tessa Musgrave: 45; Paul Brierley: 22, 44; PSA 
Photo Services: 56-57; Robin Wilson: 60; Royal Society (fotografia feita pelo professor Roy Bishop, 
Acadía University, Nova Escócia, Canadá): 13 (em cima); Scala: 41; Science Photo Library: 4 (Nasa), 
5 (Mikki Rain), 9 (Alexander Tsiaras), 18 (David Parker), 36 (Noao), 37 (Dr. John Lorre); Zefa: 8, 48 
(embaixo), 49. Capa: Jeremy Whitaker, com permissão de Lord Portsmouth e The Trustees of the Ports-
mouth Estates. 
II 
Michael White 
ISAAC 
NEWTON 
digitalizado por 
saulod2 
saulod2@gmail.com 
E D I T O R A 
GLOBO 
O problema da gravidade 
Era uma tarde quente, no final do verão de 1666. Um 
homem jovem, segurando um livro sob o braço, pe¬ 
rambulava pelo pomar da casa de sua mãe, em Wools-
thorpe, Lincolnshire, na Inglaterra. Procurava um lu-
gar para se concentrar nos estudos, e acomodou-se 
embaixo de uma árvore. Enquanto folheava as pági-
nas do livro, alguma coisa se moveu entre os ramos, 
acima de sua cabeça. A maçã mais famosa da histó-
ria estava prestes a cair e colocar em movimento uma 
cadeia de acontecimentos que transformariam defi-
nitivamente o mundo da ciência. 
No momento seguinte, a maçã caiu e aterrissou na 
cabeça do jovem de 23 anos: Isaac Newton. Sem dú-
vida doeu, mas também fez o jovem cientista pensar. 
O fato aconteceu justamente no dia em que Isaac 
Newton se perguntava qual seria o fenômeno que 
mantinha a Lua em sua órbita em volta da Terra e 
os planetas em suas trajetórias ao redor do Sol. E foi 
somente depois de se indagar sobre a razão pela qual 
a maçã havia caído, acertando sua cabeça, que ele real-
mente começou a ter a resposta para essas questões: 
a Teoria da Gravidade. 
´´ "O ano milagroso" 
O ano de 1666 seria um assombro. Logo no início, 
em apenas algumas semanas, o Grande Incêndio de 
Londres varrera os últimos vestígios da peste que ha-
via dizimado milhares de vidas na cidade. Isaac New-
ton era um estudante da Universidade de Cambrid-
ge, mas tivera que ficar com a mãe no campo por mais 
de um ano, afastado de Cambridge, também devas-
tada pela epidemia. No campo, Newton podia des-
frutar de isolamento e relativa segurança. Em paz e 
Página anterior: Uma vista 
da Terra, tomada por 
astronautas em órbita da 
Lua. Os cálculos necessários 
para completar com sucesso 
os cerca de 800 mil 
quilômetros da viagem de 
ida e volta à Lua são 
baseados na Lei da 
Gravidade, descoberta por 
Isaac Newton. 
Abaixo: A maçã cai na 
cabeça de Newton, na visão 
bem-humorada do artista. 
Já velho, o cientista 
revelaria que esse incidente 
dera-lhe inspiração para sua 
grande descoberta. 
5 
"Em minha opinião, os 
maiores gênios criativos são 
Galileu e Newton, os quais 
eu considero, de certa 
forma, como partes de uma 
unidade. E, nesta unidade, 
Newton é aquele que 
realizou o mais imponente 
feito no domínio da ciência. 
Os dois foram os primeiros 
a criar um sistema da 
Mecânica, fundamentado 
em poucas leis e dando uma 
teoria geral dos 
movimentos, que representa, 
em sua totalidade, os 
acontecimentos de nosso 
mundo." 
Albert Einstein 
com tranqüilidade, ele pôde se concentrar nos pro-
blemas científicos em que estivera trabalhando du-
rante seus anos de pós-graduação. Seu trabalho, agora, 
começava a dar frutos. 
No ano anterior, conseguira incrível avanço no campo 
da Matemática e da Física. Em 1665, encontrara a res-
posta para um problema que vinha desafiando os ma-
temáticos havia muito, com o teorema que mais tarde 
se tornaria conhecido como o binômio de Newton. 
Tempos depois, Isaac Newton começaria a traba-
lhar naquilo que produziria o maior desenvolvimen-
to na história da Matemática — o cálculo. Hoje, tanto 
o famoso binômio quanto o cálculo são usados em 
programas de computação, enquanto engenheiros es-
paciais os empregam para ajudar a resolver proble-
mas matemáticos complexos, tais como aqueles des-
tinados a garantir a chegada dos foguetes à Lua, a 
mais de 380 mil quilômetros de distância, e o retor-
no à Terra em segurança. Economistas valem-se des-
ses elementos da Matemática para prognosticar o 
comportamento das moedas em todo o mundo e a 
situação econômica dos diferentes países. 
Newton foi um gênio da Matemática. Com pouco 
mais de 20 anos de idade, ele assimilara o trabalho 
de cada matemático notável do mundo. Então, quan-
do já havia esgotado todo o conhecimento comum, 
começou a desenvolver seus próprios teoremas e mé-
todos para criar os fundamentos matemáticos de seu 
trabalho científico. 
Menos de doze meses depois, ele se encontraria à beira 
de sua maior descoberta. Quando Isaac Newton se tor-
nou mundialmente famoso, os escritores relembrariam 
seu curto período na região de Lincolnshire — no ano 
de 1666, quando a queda de uma maçã alterou os ru-
mos da história — e o denominariam "o ano milagroso". 
O mundo de Newton 
No século 17, a ciência ainda vivia sua tenra infân-
cia. No mundo em que Isaac Newton nasceu, havia 
várias pessoas instruídas que ainda acreditavam em 
magia e feitiçaria. Quase nada se sabia sobre os prin-
cípios fundamentais que regiam os elementos e os fe-
nômenos da natureza. Para a maioria das pessoas, 
uma divindade onipotente controlava o universo e 
muitos atribuíam os acontecimentos e fenômenos a 
forças místicas inexplicáveis.Não havia teorias pró-
prias da Mecânica ou idéias capazes de explicar por 
que os corpos se moviam da forma como se moviam. 
Cientistas sabiam pouco sobre a luz e como ela se ma-
nifestava; matérias como Química e Medicina basea-
vam-se mais na mágica que na ciência. Então, não se 
pode ver com surpresa o fato de ninguém entender co-
mo os planetas permaneciam em suas órbitas ou por 
que as maçãs caíam sempre em direção ao solo. To-
davia, até o final de sua vida, Isaac Newton teria as 
respostas para todas essas questões e mudaria com-
pletamente o modo como as pessoas viam o mundo. 
O jovem cientista de Lincolnshire se tornou tão fa-
moso que, ainda em vida, o poeta britânico Alexan-
der Pope cunhou a frase que se tornaria popular: "A 
Natureza e as Leis da Natureza descansam ocultas na 
noite. Deus então disse: 'Deixem Newton existir!' E 
tudo se fez luz." 
Isaac Newton não deve ter compreendido naquela 
época, mas o trabalho começado por ele no "ano mi-
Isaac Newton nasceu em 
uma sociedade que ainda 
acreditava em feitiçaria. A 
maioria da população era 
analfabeta, bem poucas 
pessoas sabiam alguma 
coisa sobre ciência e 
explicavam até o mais 
simples fenômeno pela 
influência dos espíritos e 
demônios. Nesta gravura, 
uma velha, suspeita de ser 
feiticeira, está sendo presa. 
Estima-se que mais de 
1 milhão de pessoas foram 
torturadas e executadas por 
esse motivo durante os 
séculos 16 e 17. 
Quando jogadores de bilhar 
competem em um torneio, 
eles usam a experiência de 
anos de prática na avaliação 
de forças e ângulos para 
acertar as bolas nas 
caçapas. No entanto, usando 
as leis da Mecânica de 
Newton para calcular cada 
tacada, seria possível 
programar um computador 
para ser um jogador de 
bilhar campeão do mundo. 
lagroso" formaria as bases de toda a Matemática e da 
Física para os trezentos anos seguintes. Três séculos de-
pois da aterrissagem daquela maçã em sua cabeça, os 
homens poderiam pousar na Lua e enviar máquinas 
a planetas distantes usando suas teorias e descobertas. 
As ciências modernas são tão fundamentadas no tra-
balho desse homem notável que áreas inteiras da Físi-
ca e da Matemática são chamadas "newtonianas". 
O cientista versátil 
Talvez a maior das contribuições de Newton tenha sido 
as leis da Mecânica, capazes de explicar como as for-
ças agem sobre os corpos em repouso ou em movi-
mento. E, aplicando essas leis em qualquer sistema 
mecânico, é possível prever o efeito que uma força 
terá sobre qualquer objeto. Conhecidos o peso e a ve-
locidade de duas bolas de bilhar, por exemplo, pode-
se calcular, pelas leis de Newton, o efeito que uma 
bola terá sobre a outra quando o jogador, aplicando 
determinada força, der a tacada. Essas leis são usa-
das, em conjunto, em todas as áreas da ciência — do 
desenho de carros e barcos à previsão do curso das 
naves espaciais enviadas à Lua; da fabricação de mo-
tores de avião à produção de patins aerodinâmicos. 
Newton também desenvolveu a Teoria da Gravidade 
para explicar como os planetas viajam em volta do 
Sol. A mesma teoria explica por que não flutuamos, 
mas sim permanecemos firmemente presos à terra. 
Newton dedicou-se ainda a muitas outras áreas da 
Física. Suas teorias sobre a luz ajudaram cientistas 
e engenheiros a projetar melhores telescópios e mi-
croscópios, óculos e câmeras. Suas descobertas no 
campo da Ótica levaram a invenções tais como a te-
levisão e o laser. Armadas com essas teorias, gera-
ções e gerações de físicos puderam desenvolver os con-
ceitos de Newton em máquinas e aparelhos utiliza-
dos atualmente por todos nós. 
A história de como ele chegou a fazer essas monu-
mentais descobertas começou a poucos passos da 
Isaac Newton é, 
provavelmente, mais 
conhecido pela Teoria da 
Gravidade, mas também fez 
grandes descobertas no 
estudo da luz. O trabalho 
de Newton desempenha um 
papel importante na 
tecnologia do século 20. 
Aqui, um cirurgião usa raio 
laser durante uma cirurgia 
de olhos. O laser se torna 
cada vez mais um 
instrumento importante na 
Medicina e, se não fossem 
os estudos de Newton no 
campo da Ótica, ele poderia 
nunca ter sido descoberto. 
famosa macieira, no jardim de sua mãe, em Lincoln-
shire. Lá, no coração da Inglaterra, nasceu Sir Isaac 
Newton. De origem tão simples, sua influência se ex-
pandiu para mudar o mundo. 
"Sir Isaac sempre foi um 
garoto sensato, calado e 
pensativo e era conhecido 
por quase nunca brincar 
com os meninos fora de 
casa, em suas tolas 
diversões; certamente, ele 
preferia ficar em casa, 
mesmo entre as meninas, e 
freqüentemente fabricava 
pequenas mesas, armários e 
outros utensílios para mim e 
minhas amigas, para colocar 
nossas bonecas e 
quinquilharias." 
Miss Storer, amiga de infância de 
Isaac Newton 
Infância em Lincolnshire 
Isaac Newton nasceu logo depois da meia-noite do 
dia de Natal de 1642. Como bebê prematuro, o mé-
dico que acompanhou o parto não esperava que so-
brevivesse. Seu pai, um fazendeiro razoavelmente prós-
pero, morrera três meses antes, deixando para Han-
nah, mãe de Isaac, a tarefa de criar o menino da ma-
neira que pudesse. 
A família de Newton não era pobre — a casa na 
propriedade rural do pai era grande e confortável —, 
mas para a viúva não foi uma incumbência fácil edu-
car o menino sozinha. 
Nessa época, a Inglaterra vivia um estado de tre-
menda convulsão social. Em 1629, o rei Charles I ha-
via dissolvido o Parlamento porque queria dirigir o 
país com seus próprios métodos, sem precisar se sub-
meter à lei ou se importar com os desejos do povo. 
Charles I reinou dessa forma durante onze anos, 
com a oposição crescendo ao longo do tempo. Atra-
vés do país, um sentimento de revolta se desencadea-
va, motivado por vários fatores, entre eles a adoção 
de novas regras para a Igreja da Inglaterra e as medi-
das do rei exigindo dinheiro do povo de forma ilegal. 
Em 1642, ano do nascimento de Isaac, a Guerra 
Civil começou para se decidir quem ficaria com o po-
der no país — o rei ou o Parlamento. Seguiram-se 
inúmeras batalhas sangrentas entre os parlamentaris-
tas e monarquistas, conduzidas pelo rei Charles I. 
Isaac Newton estava exatamente com 6 anos de ida-
de quando a guerra acabou. Essa divisão do país afe-
taria a Inglaterra por toda sua vida e ele se tornaria 
um enérgico porta-voz dos protestantes. 
Enquanto o jovem Isaac estava, provavelmente, 
alheio aos acontecimentos, o adormecido vilarejo on-
de morava viveu duas batalhas a menos de 80 quilô-
metros de sua casa. 
A maior parte de Lincolnshire estava nas mãos dos 
parlamentaristas, mas a família de Isaac apoiava o 
rei. Por isso, estiveram muitas vezes em perigo, como 
quando as tropas parlamentaristas marcharam na di-
reção de sua casa. A única maneira de sobreviver 
seria guardar para si mesmos os pontos de vista so-
bre a Monarquia. Isaac poderia ter sido duramente 
afetado pela inquietação política — mas foi mais pre-
judicado pela decisão da mãe de se casar novamen-
te, quando ele estava com apenas 3 anos de idade. 
O padrasto odiado 
O padrasto era um clérigo rico, chamado Barnabas 
Smith, reitor eclesiástico de South Witham, um lu-
garejo a poucas milhas de distância de Woolsthorpe. 
O pequeno Isaac começaria, então, a viver tempos 
dramáticos e, como ele mesmo recordaria para os ami-
gos mais íntimos, muitos anos depois, ele sentia ape-
nas ciúme e rancor em relação ao novo pai. Mas o 
pior ainda estava por vir. O padrasto ordenou a Han-
nah Newton que deixasse o menino vivendo com a 
avó em Woolsthorpe, quando ela se mudou para 
South Witham para cuidar do novo marido e de seu 
pequeno filho. 
Isaac nunca se relacionou bem com a avó. Ami-
gos e colegas raramente ouviram-no falar sobre ela, 
quando relembrava sua infância. Algumas pessoas di-
ziam que o trauma vivido por ele com esse casamen-to deixou-o marcado para toda a vida e foi responsá-
vel pela melancolia em sua adolescência e pelos pro-
blemas emocionais de sua existência. 
Ele abominou Barnabas Smith pelo resto de sua 
vida. Quando ficou mais velho, começou a escrever 
um diário no qual descarregava os sentimentos de re-
pulsa pelo homem. Mesmo na velhice, quase 80 anos 
depois, Isaac diria aos amigos como, muitas vezes, 
sonhara matar o padrasto e resgatar a mãe do poder 
da "besta". 
Fascinação por máquinas 
A infância de Isaac foi uma época solitária. Ele 
fez poucos amigos e, normalmente, se guardava pa-
ra si mesmo. Inúmeras vezes trancou-se no quarto 
dos fundos da casa de sua mãe, onde passava o 
dia fazendo pipas, relógios de sol e pequenas in-
venções mecânicas. 
A Inglaterra da infância de 
Newton era um país em 
conflito político. A Guerra 
Civil inglesa começou pouco 
antes de seu nascimento e 
continuou até ele completar 
6 anos. Em janeiro de 1649, 
a guerra acabou e o rei 
Charles I foi executado. 
Isaac Newton, com 12 anos. 
Este retrato fornece uma 
apurada impressão do 
menino. Ele era um 
adolescente melancólico, 
com muita dificuldade para 
fazer amigos. Passava a 
maior parte do tempo 
sozinho, quando não estava 
na escola. O artista 
capturou fielmente o ar de 
reflexão e de maturidade do 
jovem Newton. Nessa época 
ele se divertia construindo 
brinquedos e maquetes. 
Pouco tempo depois, Isaac se tornou conhecido na 
região pelos seus inventos. As pessoas do local e os pa-
rentes se espantavam com sua habilidade na constru-
ção de réplicas exatas de carroças e máquinas sobre ro-
das. Uma vez, quando estava com 13 anos de idade, 
criou a maquete de um moinho de vento que foi cons-
truído no povoado. A maquete funcionou perfeitamente 
e ele até conseguiu fazer as asas se movimentarem, co-
locando um camundongo no interior, sobre a roda do 
moinho. As pessoas brincavam, dizendo que ele po-
deria até moer o milho dentro da maquete. 
Por essas histórias a respeito da habilidade preco-
ce de Isaac com máquinas, fica fácil avaliar como 
ele se dedicou aos problemas de Física quando estu-
dou na Universidade de Cambridge. Por toda a vida, 
Newton usou seu talento natural com as mãos para 
construir modelos e elaborar instrumentos científi-
cos, principalmente quando fez seu primeiro telescó-
pio refletor e pesquisou as lentes usadas em suas fa-
mosas experiências com a luz. 
Período escolar 
Quando Isaac tinha 10 anos, o padrasto, Barnabas 
Smith, morreu. Sua mãe voltou para a casa de Wools-
thorpe. Dois anos depois, Isaac entrou na escola de 
Grantham, perto de onde permanecera com seu tio, 
na cidade. 
Como muitos outros notáveis cientistas, Isaac cau-
sou pouca impressão na escola. Era considerado de 
nível médio pelos professores e anti-social pelos com-
panheiros de classe. Mais tarde, admitiu que negli-
genciava suas tarefas e passava grande parte do tem-
po criando modelos e realizando experiências. 
Isaac não era benquisto pelos outros meninos da 
escola. Fisicamente frágil, sem resistência, não po-
dia participar dos jogos e lutas pesados que compu-
nham a rotina do período escolar. Menino estudioso 
e calado, nunca fez muitos amigos. Em vez de brin-
car depois das aulas, ele corria para casa e, no pe-
queno quarto, fazia seus modelos e móveis para as 
casas de bonecas das meninas. Em vez de se impres-
sionarem com sua perícia, os outros meninos inveja-
vam a criatividade e o talento científico de Newton. 
Isto somente tornava as coisas piores. Mas, pouco 
Acima: Woolsthorpe Manor, 
a casa onde Isaac Newton 
nasceu. 
À esquerda: cena de uma 
sala de aula de uma escola 
típica do século 17. Foi na 
escola que Newton, 
finalmente, conquistou o 
respeito de outros meninos 
e de seus professores, depois 
de vencer um valentão em 
uma briga no recreio. 
Até Isaac Newton quis dizer 
ao mundo que esteve aqui! 
Seus professores, 
provavelmente, ficaram 
furiosos quando o menino 
gravou seu nome no 
patamar da janela da 
Grantham School. Anos 
depois, porém, quando 
Isaac Newton tornou-se um 
cientista famoso, eles 
preservariam a inscrição 
como atração para as 
gerações futuras. 
"Nesse meio tempo, Mr. 
Stokes, que Newton tinha 
em alta consideração, 
solicitou a sua mãe, muitas 
vezes com veemência, que o 
jovem voltasse aos estudos, 
o canal apropriado para 
desenvolver suas tendências. 
Ele disse a Hannah Newton 
que seria uma grande perda 
para o mundo assim como 
uma vã tentativa enterrar 
um gênio tão promissor em 
trabalhos rústicos, 
visivelmente opostos a seu 
temperamento; que a única 
maneira pela qual ele 
poderia preservar ou 
aumentar sua ventura seria 
preparando-o para a 
universidade." 
W. Stukeley, 
primeiro biógrafo de Newton 
14 
antes de completar de 14 anos ocorreu um fato im-
portante que provocou grandes mudanças. 
Isaac envolveu-se em uma briga com o valentão 
da escola. Ele era muito maior que Isaac e extre-
mamente malvisto entre os outros meninos. Ape-
sar de ser pequeno e completamente frágil, Isaac 
ganhou a luta pela astúcia, provocando em seu ri-
val um sério sangramento nasal. Depois dessa vi-
tória, Isaac se tornou muito estimado, o que o en-
corajou a se dedicar firmemente à escola e a ven-
cer tanto física quanto intelectualmente. Funcio-
nou tão bem que ele logo se tornaria um líder, ga-
nhando o respeito dos professores e dos colegas 
de classe. 
Lavrador ou erudito? 
Apesar do talento de Isaac, em 1659 Hannah New-
ton decidiu tirar seu filho da escola para traba-
lhar na fazenda da família. Se não fosse por dois 
extraordinários fatos, Isaac Newton poderia ter 
continuado como lavrador pelo resto de sua vida. 
O primeiro foi que seu valoroso talento já era re-
conhecido por duas pessoas importantes — seu tio 
e o diretor da escola de Grantham, Henry Stokes. 
Durante seus últimos anos na Grantham, Isaac se 
tornara um aluno brilhante, e Henry Stokes o con-
siderava o melhor estudante que ele já tivera. Era 
fácil perceber o quanto Isaac se tornara intelectual; 
estava sempre lendo livros escolares e arquitetando 
soluções engenhosas para os problemas. Trabalhava 
nas teorias dos primeiros cientistas, encontrando res-
postas para intrigantes enigmas matemáticos e cu-
riosidades científicas. Mas, apesar de seus méritos 
intelectuais, Isaac era absorto e negligente — o que 
provocaria o segundo fato: sua mãe se convenceu 
de que o jovem rapaz era um lavrador absolutamente 
sem futuro. 
Então, depois de muita persuasão e da insistên-
cia dos dois influentes homens, em 1661, com 18 
anos de idade, Isaac ingressou na Universidade de 
Cambridge. 
Hannah, a mãe de Isaac, não era pobre, mas não po-
dia garantir todo o seu estudo universitário. Então, ele 
ingressou como uma espécie de "servente" — con-
dição em que certas universidades (como a de Cam-
bridge) admitiam estudantes que não podiam pagá-
las em troca da limpeza dos quartos dos alunos pa-
gantes, servindo à mesa e executando trabalhos para 
seus superiores. No entanto, Newton se esforçava para 
superar essas humilhações. O que interessava era ga-
rantir a universidade, pois este era o passo mais im-
portante de sua vida. Nunca mais seria forçado a um 
trabalho que odiava, como a agricultura. Estaria cer-
cado por outros alunos de seu nível — intelectuais 
e pensadores. E, em três curtos anos, poderia se gra-
duar e ser um cientista de verdade. 
Primeiros dias em Cambridge 
Ele chegou a Cambridge no dia 4 de junho. Era um 
belo dia ensolarado e Newton caminhou pela cidade, 
ao longo das margens do rio Cam, admirando o con-
junto de prédios que se estendia ao longo do rio, com 
seus majestosos gramados se espalhando até a beira 
da água. Cambridge não era uma grande cidade. Pa-
ra qualquer pessoa vinda de Londres, parecia uma sin-
gela e pitoresca cidadezinha, mas para Isaac foium 
verdadeiro choque. Ele nunca estivera além do vilare-
jo de Lincolnshire, e Cambridge, com seus 6 mil ha-
bitantes, significava uma mudança drástica. 
Preparou-se para começar os estudos imediatamen-
te. No primeiro dia, comprou um cadeado para sua 
mesa, um vidro de tinta, um caderno e algumas ve-
las que usaria para iluminar o quarto, já que ele cos-
tumava trabalhar noite adentro. 
No entanto, o entusiasmo de Newton foi diminuin-
do à medida que percebia não haver se livrado real-
mente da desagradável vida pueril da escola, e que 
muitos alunos eram exatamente iguais aos meninos 
que pensava ter deixado em Woolsthorpe. Como rí-
gido protestante, não perdia tempo bebendo ou jo-
gando. Na universidade, Newton deparou com mui-
tas coisas pela primeira vez, e imediatamente ganhou 
fama de jovem enfadonho e muito sério. 
No entanto, ele logo se acomodou e encontrou um 
amigo no estudante protestante John Wickins, e os 
dois dividiam os aposentos no Trinity College, em 
Cambridge. 
Biblioteca Wren, no Trinity 
College, na época em que 
Newton foi aluno da 
Universidade de Cambridge. 
Apesar de seu aspecto 
tranqüilo, Cambridge — 
com seus estudantes 
barulhentos, comerciantes e 
outros tipos urbanos — 
deve ter sido, de fato, um 
choque cultural para 
Newton. Ele raramente 
havia se aventurado além 
da área vizinha ao tranqüilo 
vilarejo onde nascera. 
Depois de poucos meses na universidade, Isaac co-
meçou a relaxar um pouco e aderiu à vida de estu-
dante e à liberdade que ela proporcionava. Ele não 
desertou de sua fé, mas, gradualmente, começou a 
gostar de freqüentar a taverna com John e de um jo-
go de cartas com seus amigos. 
Novas idéias 
Foi nessa época que Newton começou a formular, em 
seus aposentos em Cambridge, suas primeiras teorias 
sobre forças e movimentos, pelas quais ele se torna-
ria famoso. Lá, também, ele deu início ao desenvol-
vimento das idéias sobre a natureza da luz e como 
um pedaço de vidro especialmente moldado, chama-
do prisma, pode decompor a luz, do vermelho ao vio-
leta, nas cores do arco-íris. 
E foi nas pavimentadas ruas de Cambridge e sob 
as elevadas torres da cidade, que Isaac Newton co-
meçou a pensar em gravidade e a maquinar outras 
idéias pelas quais alcançaria o reconhecimento uni-
versal nos anos futuros. 
Primeiramente, porém, teria de encontrar uma ma-
neira de compreender minuciosamente esses difíceis 
conceitos. Para isso, Newton sabia que deveria usar 
matemáticas muito avançadas. Para resolver os mis-
térios do universo, precisaria aprender o máximo pos-
sível sobre o assunto. E, como o que existia era ainda 
insuficiente, Newton teria de inventar sua própria ma-
temática — o cálculo. Naquele momento, porém, ele 
precisava continuar com seus deveres na faculdade e 
ser aprovado nos exames para permanecer em Cam-
bridge. Essa era uma proeza digna de nota: concen-
trar a atenção nos cursos de Filosofia da universida-
de e trabalhar em suas próprias idéias no escasso tempo 
disponível. Somente dessa maneira poderia conquis-
tar o respeito de seus professores. Mais tarde, estaria 
apto a mostrar ao mundo da ciência o caminho a se-
guir nos trezentos anos futuros. 
Uma feliz descoberta 
Numa tarde de domingo, no começo da primavera de 1664, 
Isaac e John Wickins decidiram visitar uma feira que 
chegara a Cambridge. Entre os espetáculos secundários, 
barracas de novidades, trapaceiros e artistas, Newton 
Página anterior: Quando 
Isaac Newton chegou a 
Cambridge, desaprovava 
com veemência a bebida e o 
jogo, mas, gradualmente, ele 
mudava seus severos pontos 
de vista protestantes. Teria 
sido em tavernas como a 
mostrada aqui que Isaac e 
seu companheiro de quarto, 
John Wickins, bebiam a 
ocasional cerveja e jogavam 
cartas com outros amigos 
da universidade. 
"De acordo com minhas 
observações, apesar de Sir 
Isaac Newton ter um 
temperamento sério e 
tranqüilo, eu o vi rir muitas 
vezes... Ele usava vários 
provérbios, chegando à 
zombaria e à perspicácia. 
Acompanhado, ele se 
comportava muito 
agradavelmente; cortês, 
afável, era fácil fazê-lo 
sorrir — e até rir... Ele 
podia ser uma companhia 
muito agradável e, algumas 
vezes, até loquaz." 
W. Stukeley, 
primeiro biógrafo de Newton 
Newton começou suas 
pesquisas sobre as 
propriedades da luz depois 
de deparar com um prisma 
em uma barraca de uma 
feira, em Cambridge. Na 
primeira experiência ele 
descobriu que, quando a luz 
branca passa através do 
prisma, ele a divide 
compondo um arco-íris. 
Newton chamou o resultado 
dessa divisão da luz de 
espectro. A luz se ordena 
do violeta ao vermelho, de 
alto a baixo. 
fez uma descoberta que teria enorme influência tan-
to em seu futuro como no futuro da ciência. 
Ele estava passando pelas barracas e bancas espa-
lhadas, com berloques e quinquilharias coloridas, em 
animada conversa com John, quando subitamente seus 
olhos foram atraídos por um estranho objeto, faiscan-
do ao sol da tarde. Ficou tocado pela beleza e fascina-
do com a delicadeza da superfície do objeto. Imedia-
tamente, Newton deu-se conta de que poderia pôr em 
prática alguma proveitosa experiência e comprou o ob-
jeto. Em seu quarto, no Trinity, naquela mesma tarde, 
começou a fazer as experiências com o prisma. 
O efeito arco-íris 
Primeiro, ele correu as cortinas através de todas as 
janelas, deixando apenas uma aberta. Sobre essa ja-
nela sem cortina, colocou um pedaço de cartolina e 
fez uma diminuta abertura, para que ela pudesse fil-
trar para dentro do quarto o brilho da luz solar. En-
tão, ele recuou e observou o feixe de luz entrando no 
quarto escuro, através da pequena abertura. Em se-
guida, suspendendo o prisma até o feixe de luz, dei-
xou o raio de luz entrar em um lado do prisma e ob-
servou as diferentes faixas emergindo dele e brilhan-
do sobre a parede branca. A luz natural que havia 
peneirado no prisma estava dividida como um arco-
íris e podia ser vista na parede. Variava do violeta, 
no alto, passando pelo anil, azul, verde, amarelo e 
laranja, até o vermelho, embaixo. 
Newton estava fascinado. As pessoas haviam visto 
esse fenômeno muitas vezes antes, mas ninguém ha-
via realmente investigado o que o causava. Muitos 
acreditavam que o efeito do arco-íris já estivesse con-
tido no prisma e escapasse em função do brilho do 
sol sobre ele. Cientistas da época perceberam que o 
vidro estava alterando a luz dentro do prisma, mas 
não sabiam o porquê. Um prisma era pouco mais que 
uma novidade ou um brinquedo interessante, mas para 
Newton significava um grande achado, e ele queria 
conhecer todos os seus segredos. 
"Eu mantenho o objeto 
constantemente à minha 
frente e espero até as 
primeiras luzes da aurora se 
abrirem lentamente, pouco a 
pouco, em uma total e 
límpida luz." 
Isaac Newton 
Mais experiências 
Depois de ter produzido, em sua parede, o arco-íris 
que denominou espectro, Newton pôs-se a testar o 
que havia observado. A primeira coisa que fez foi blo-
quear todas as diferentes faixas saídas do prisma, com 
exceção de uma: a vermelha. Todas as outras eram 
separadas do espectro usando um pedaço de cartoli-
na com um pequeno orifício que somente permitia 
a passagem do feixe vermelho. Então, ele recuou e 
olhou a faixa vermelha sozinha na parede, em dúvi-
da sobre o que fazer em seguida. O que aconteceria 
— pensava — se agora fizesse a faixa vermelha pas-
sar através de outro prisma? Poderia ela se dividir 
em outro arco-íris, como ocorrera com a luz solar 
que entrava pela janela? 
Newton comprou outro prisma e colocou-o na tra-
jetória da faixa vermelha de luz para ver o que emer-
gia do outro lado. Nada de arco-íris. Do lado oposto 
do prisma não saía nada mais do que a faixa vermelha 
com que ele o iluminara. Não houve efeito arco-íris, 
apenas a faixa vermelha isolada. Tudo o que ocorreufoi um pequeno desvio no caminho que a luz percor-
reu dentro do vidro. 
Esse fato poderia ter apenas um significado: os raios 
do sol continham todas as diferentes matizes do espectro 
— violeta, indigo, azul, verde, amarelo, laranja e verme-
lho — e mais nada. Era impossível continuar dividindo 
a luz mais e mais. Se a luz vermelha entrasse no prisma, 
somente luz vermelha sairia dele. Se se projetasse luz 
azul no prisma, somente luz azul sairia do outro lado. 
O primeiro cientista moderno 
O espantoso era ninguém ter decifrado isso antes. 
Além do mais, é difícil dizer por quê. O fato simples 
é que, por serem os prismas considerados brinque-
dos, os cientistas nunca se preocuparam em fazer ex-
periências com eles. Aqueles que estudaram os pris-
mas antes de Newton, no passado, não levaram as coi-
sas longe o suficiente para descobrir algo realmente 
proveitoso e estavam satisfeitos em se encantar com 
o efeito arco-íris produzido pelo prisma. Isso reque-
ria um gênio com a habilidade de Newton para gal-
gar um degrau a mais: investigar por que o arco-íris 
emergiu quando a luz branca incidiu sobre o prisma 
e, então, ver se as diferentes nuanças poderiam ser 
separadas infinitamente, exatamente como acontecera 
com o primeiro feixe luminoso. 
Newton registrava suas descobertas e conjeturava 
sobre o que significavam. Ele media a largura de ca-
da faixa, alterava a distância entre o prisma e a pare-
de e testava todas as possibilidades. Então, e somen-
te então, ele poderia colocar todas as suas descober-
tas em linguagem matemática, que lhe permitisse for-
mular teorias para explicar o que acontecia. 
Isso era típico de Isaac Newton. Não satisfeito ape-
nas em fazer observações, ele sempre traduzia o que 
via para a linguagem matemática e avançava com teo-
rias gerais. Era o que o fazia tão diferente de outros 
cientistas de seu tempo. Cientistas modernos usam 
esse método de trabalho e, porque já o usava há tre-
zentos anos, Isaac Newton é considerado o primeiro 
cientista moderno. 
Newton passou muitos meses trabalhando com seus 
prismas, maquinando mais e mais experiências em seu 
quarto, em Cambridge. De vez em quando extenuava-se 
Página anterior: Newton 
ficou fascinado com as 
propriedades do prisma e 
realizou incontáveis 
experiências em seus 
aposentos no Trinity 
College. Fechando as 
cortinas e deixando o 
quarto em semi-escuridão, 
os efeitos do prisma eram 
mais fáceis de observar. 
Ainda quando estudante, ele 
chegou ao entendimento de 
como a luz se conduz a 
partir do seu ponto de 
origem. 
"Eu nunca soube que ele 
tivesse alguma recreação ou 
passatempo, tampouco um 
passeio para tomar ar, 
caminhada, jogo de bola ou 
qualquer outro exercício que 
fosse, considerando perdidas 
todas as horas que não 
fossem gastas em seus 
estudos." 
Dr. Humphrey Newton, 
assistente de Isaac Newton 
Depois de produzir o 
espectro, Newton decidiu 
passá-lo através de um 
segundo prisma. Ele viu 
uma luz branca surgindo do 
outro lado e, acertadamente, 
concluiu que havia 
recombinado as faixas de 
luz separadas. A experiência 
demonstrou que a luz 
branca era composta de 
todas as partes do arco-íris. 
Para provar, ele construiu 
um círculo com todas as 
partes do arco-íris (como o 
da esquerda) e girou-o 
rapidamente. Como se pode 
ver, à direita, esse 
movimento simula o efeito 
do segundo prisma e faz o 
círculo parecer branco. 
com a sobrecarga de trabalho e, em mais de uma ocasião, 
John Wickins o encontrou esparramado sobre os papéis 
em sua mesa, caído no sono, depois de lutar com um 
problema particularmente difícil. Muitas vezes, esque-
cia as refeições, e seu gato engordava, comendo o pra-
to intocado deixado para esfriar na borda de sua mesa. 
Depois de concentrados esforços, ele concluiu que nós 
vemos os objetos porque toda luz que nos circunda é re-
fletida ou devolvida, seja o que for que estivermos olhan-
do, e essa luz chega aos sensores em nossos olhos. En-
tão, ele foi além. Baseado em experimentos, Isaac New-
ton descobriu que a luz visível, a luz que nos possibilita 
ver o mundo, é feita de todas as diferentes nuanças do 
arco-íris. Quando elas são fundidas, nós vemos uma luz 
branca. Quando uma parte do espectro se extravia, a 
luz não mais aparenta ser branca — ela é colorida. 
Muitos cientistas pararam neste ponto. Mas Isaac 
sempre mergulhava em um problema até sentir que 
não havia nada mais para aprender sobre ele. Tendo 
estabelecido que a luz se originava dos diferentes ma-
tizes do espectro, ele quis ver se poderia recombinᬠ
los para conseguir a luz branca novamente. 
Acoplou a cartolina à janela e, outra vez, permitiu 
que alguma luz passasse através do orifício. Essa luz 
passou através do prisma exatamente como na pri-
meira experiência. Realmente, lá estava o espectro na 
parede. Desta vez, entretanto, ao invés de bloquear 
todas, menos a faixa vermelha, ele deixou todo o es-
pectro produzido pelo primeiro prisma passar por um 
segundo prisma, colocado perto do primeiro. Então, 
com grande ansiedade, ele voltou-se para o lado opos-
to do segundo prisma para ver o que havia aconteci-
do. Lá estava um solitário feixe de luz branca emer-
gindo de sua base de vidro. Newton foi, provavelmen-
te, a primeira pessoa na história a juntar todas as co-
res do arco-íris em um único feixe luminoso de luz 
branca. Ele havia desfeito um arco-íris! 
"Seu café da manhã 
consistia somente de pão 
com manteiga e chá, feito 
com pedaços de casca de 
laranja fervidos em água 
que ele adoçava com 
açúcar. Ele bebia vinho 
apenas no jantar e, na 
maioria das vezes, bebia 
somente água." 
W. Stukeley, 
primeiro biógrafo de Newton 
O círculo giratório 
Como se todas essas evidências não bastassem, New-
ton realizou outra experiência para ter certeza de que 
suas descobertas teriam crédito. Ele logo compreen-
deu que o espectro não é formado de quantidades 
iguais de cada feixe luminoso — em um arco-íris, há 
sempre mais azul que vermelho. Então, ele simulou 
o modo como a natureza combina um arco-íris. 
Newton recortou um pequeno círculo de cartoli-
na, com cerca de 10 centímetros de diâmetro e di-
vidiu-o em sete setores de tamanhos diferentes. Os 
setores representavam as sete faixas visíveis do arco-
íris com as quais ele coloriu cada um. Em seguida, 
acoplou o círculo de cartolina sobre um eixo e girou-o 
o mais rápido que pôde. Olhando fixamente, de certa 
distância, parecia branco. Ele havia surpreendido seus 
próprios olhos. Como o círculo rodava muito rapi-
damente, os diferentes feixes luminosos, em suas cor-
retas proporções, pareciam fundir-se e, juntos, pro-
duzir a luz branca. 
Newton estava extasiado. Mais e mais refeições eram 
desperdiçadas enquanto passava longas horas ano-
tando detalhadamente suas descobertas para legar às 
futuras gerações os benefícios de suas experiências. 
"Ele se esquecera de 
dormir e Wickins o 
encontrara na manhã 
seguinte satisfeito por ter 
descoberto alguma 
proposição e completamente 
indiferente à noite de sono 
perdida." 
Richard Westfall, de sua 
biografia Nunca em Repouso 
Uma visão mais clara 
Newton não publicou seu trabalho imediatamente e 
suas descobertas sobre a luz não foram conhecidas 
senão muitos anos depois. Mas, mesmo assim, ou-
tros cientistas foram rápidos em tirar vantagens delas. 
No século 17, óculos eram objetos raros, usa-
dos somente pelos ricos e, mesmo assim, de quali-
dade sofrível. Poucas décadas depois de suas pu-
blicações, as pesquisas de Newton ajudariam a pro-
duzir importantes avanços no desenho de lentes e 
na produção de óculos. 
O microscópio fora inventado mais de cinqüenta 
anos antes do nascimento de Newton, mas era um 
aparelho primitivo, produzindo imagens imprecisas 
e manchadas. Antes do século 18, a aplicação das 
descobertas de Newton o transformariaem um ins-
trumento sofisticado, propiciando avanços em mui-
tas áreas da Biologia e da Medicina. 
Provavelmente, o resultado mais importante dos 
estudos de Newton sobre a luz, durante os meses em 
Cambridge, seria a criação, mais de cem anos de-
pois, de uma completa e nova ciência — a Espec-
troscopia —, que é o estudo da luz emitida pelas cha-
mas produzidas quando um material é queimado. As 
chamas do fogo aparentam ter uma infinidade de 
diferentes vermelhos, púrpuras e azuis saltando en-
tre elas. A razão disso é que, quando diferentes ma-
teriais são queimados, produzem luz composta de 
diferentes quantidades de cada feixe luminoso do es-
pectro. Fazendo com que passe através de um pris-
ma, os cientistas podem dividir a luz em suas partes 
componentes, exatamente como Newton fez com a 
luz do sol. Dessa maneira, eles podem descobrir qual 
a substância química existente nos materiais que es-
tão sendo queimados. 
Fugindo da Grande Peste 
Newton havia concluído todas essas grandes desco-
bertas antes de se formar. Em abril de 1664, depois 
de três anos de estudos, ele se tornaria um aluno 
da faculdade. Fora promovido da condição de servi-
çal e não teria mais que realizar as tarefas esperadas 
dele, um pobre não-graduado. Um ano depois, em 
1665, seria Bacharel em Artes, título concedido auto-
maticamente depois de quatro anos de universidade. 
Significava que ele poderia passar mais quatro anos 
vivendo no Trinity College, prosseguindo em qual-
quer área de conhecimento que desejasse estudar. 
Newton imediatamente se empenhou em desenvol-
ver suas idéias sobre o mecanismo da luz e, ao mes-
mo tempo, iniciou suas pesquisas no campo da gra-
vidade e sobre a forma como os planetas se movem 
em suas trajetórias. 
No entanto, suas primeiras experiências em Cam-
bridge tiveram de ser interrompidas. No verão de 1665, 
uma grande calamidade estava prestes a se abater 
A Grande Peste de 1665 foi 
um dos piores desastres 
naturais da história da 
Inglaterra. A terrível 
epidemia atingiu ricos e 
pobres, velhos e moços, 
deixando em seu caminho 
um rastro de horrível 
sofrimento e o mau cheiro dos 
corpos em decomposição. 
O Grande Incêndio de 
Londres começou no dia 
2 de setembro de 1666, um 
pouco antes de a peste 
desaparecer completamente. 
Começou em uma padaria 
em Pudding Lane, no centro 
de Londres. De lá, o fogo se 
alastrou para tomar a cidade 
toda e ardeu por quatro dias 
até se extinguir, deixando 
mais de 13 mil casas em 
cinzas. 
sobre o país. Ninguém poderia evitá-la e contra ela 
havia uma insignificante defesa — a Grande Peste 
estava chegando. 
A peste começou em Londres, onde a população 
vivia em espaços exíguos e em condições anti-higiêni-
cas. Devastou a cidade. Milhares de pessoas morriam 
com horríveis sintomas. As vítimas tinham uma febre 
terrível e seus corpos eram cobertos por imensas feri-
das supuradas antes de morrerem, lentamente, con¬ 
sumindo-se era dores. Os cadáveres eram coletados 
e transportados através da cidade em enormes carro-
ças, e então queimados em valas comuns, longe das 
principais áreas habitadas. Em alguns distritos, os 
mortos e agonizantes ultrapassavam o número de 
vivos. Então, durante os meses quentes de 1665, 
a peste começou a se espalhar além da capital. 
Pessoas saíam de Londres carregando a terrível 
doença para outras cidades e infectavam suas po-
pulações. Por volta de junho de 1665, Cambridge 
se tornou muito perigosa para viver, e a universi-
dade foi fechada. Junto com os outros estudantes, 
Newton deixou Cambridge. Voltou para Lincolns-
hire, onde pôde continuar seus estudos na casa da 
fazenda. 
René Descartes foi, 
provavelmente, o maior 
cientista e filósofo francês 
do século 17. Apesar de ter 
morrido quando Newton 
estava com apenas 7 anos 
de idade, sua obra 
sobreviveu à sua morte e 
representou as idéias da 
Nova Ciência, que deitaram 
os fundamentos para o 
trabalho monumental de 
Newton. Em particular, as 
descobertas de Descartes 
em geometria tiveram uma 
grande influência sobre 
Newton, enquanto esteve 
em Cambridge. 
De volta para casa 
Durante o último ano passado no Trinity College, 
Newton havia trabalhado arduamente. Depois de ob-
ter sua graduação, tivera mais tempo livre para se 
dedicar aos interesses próprios. O primeiro obstá-
culo a transpor para desenvolver suas idéias era sua 
carência em matemática avançada. 
Apesar de o estudo de matemática ser uma parte 
importante de seu curso, existiam bem poucos mate-
máticos no mundo que tivessem desenvolvido alguma 
coisa parecida com as técnicas de que ele necessita-
va. Mas havia alguns, e ele conseguiu acesso aos li-
vros deles nas grandes bibliotecas de Cambridge. 
Escolhendo entre as estantes, Newton descobriu 
trabalhos do famoso filósofo e matemático fran-
cês René Descartes e do filósofo britânico Henry 
More. Esses homens lideraram a "Nova Ciência", 
um audacioso e criativo movimento de pensado-
res espalhados pela Europa, que estavam tentan-
do derrubar as fronteiras da ciência e da matemá-
tica moderna. 
O jovem Newton, então com 23 anos de idade, 
ficaria surpreso se lhe dissessem que em poucos anos 
ele também seria um dos mais respeitados membros 
desse "clube" exclusivo. 
Em Cambridge, no começo de 1665, Newton leu 
tudo o que conseguiu das obras desses pensadores 
e, quando não pôde encontrar o que necessitava pa-
ra suas primeiras teorias sobre a luz e a mecânica, 
ele achou uma saída: criou sua própria matemática. 
Foi nessa época, quando a epidemia fez de Cam-
bridge um lugar muito arriscado para viver, que ele 
alcançou os primeiros poucos degraus do desenvol-
vimento de suas teorias. A paz e o isolamento de 
Lincolnshire serviram para nutrir seu dom criativo. 
No final do verão, aconteceria o extraordinário 
salto à frente, quando a maçã caiu sobre sua cabe-
ça, e Newton começou realmente a se envolver com 
a teoria da gravitação. 
Gravidade 
Em Cambridge, ele estivera brincando com a idéia 
de que algumas forças da natureza agem a distância. 
A idéia de um objeto ser afetado por outro sem esta-
rem conectados por arames ou cordas era tão estra-
nha que poucos cientistas a imaginaram antes. Mas 
aumentava a evidência de uma força que fazia isso 
— a força que mantém os planetas em suas trajetó-
rias, por exemplo. Havia, definitivamente, uma atra-
ção estranha entre os objetos, invisível para o olho. 
Newton se perguntava de que maneira podiam os pla-
netas ficar orbitando em torno do Sol e a Lua em 
torno da Terra. Não havia cordões sustentando a Terra 
e a Lua juntas, então, como poderiam essas coisas 
acontecer, a não ser que alguma força desconhecida 
e invisível estivesse em ação? 
Quando a maçã caiu da árvore, no jardim de sua 
mãe, e aterrissou na cabeça do jovem gênio, Isaac 
Newton soube que aquela maçã havia sido atraída 
para a terra pela mesma força invisível que segurava 
os planetas e a Lua em suas órbitas — a força da gra-
vidade. A terra estava exercendo uma força de atra-
ção sobre a maçã e puxou-a para si, da mesma for-
ma que o Sol a exerce sobre os planetas, e a Terra, 
sobre a Lua. Mas, se fosse esse o caso, por que os 
planetas não se espatifavam de encontro ao Sol nem 
a Lua se despedaçava de encontro à Terra, da mesma 
forma como havia acontecido com a maçã de encon-
tro ao chão? 
O balde de água 
Newton lutou com esses problemas durante dias. En-
tão, justamente quando estava se preparando para re-
tornar à universidade, a verdade o surpreendeu. Por 
alguma estranha razão, naquele exato momento ele re-
cordava um jogo praticado na escola. Todas juntas, 
as memórias voltaram em profusão. Elas retornavam 
uma a uma para estacionar no meio de um pátio, on-
de ele segurava uma corda amarrada à alça de um balde 
d'água. A idéia era girar o balde pelo final da corda 
tão depressa quanto pudesse.Para ganhar, o jogador 
precisava rodopiar o balde em volta de sua cabeça sem 
derramar uma gota de água. Todos ficavam atônitos 
com o fato de a água sempre se manter no balde com 
o movimento giratório. 
Este era justamente o "flash" de memória de que 
ele precisava. Subitamente, tudo fazia sentido. Tinha de 
"Newton reconheceu sua 
própria capacidade porque 
compreendeu o significado 
de seus empreendimentos. 
Ele não, se mediu meramente 
pelos padrões de Cambridge. 
Ele se comparou aos mestres 
da ciência européia cujos 
livros lera." 
Richard Westfall, em sua biografia 
Nunca em Repouso 
"Depois do jantar, com a 
temperatura se tornando 
morna, nós fomos ao jardim 
e tomamos chá, sob as 
sombras de algumas 
macieiras, somente ele 
(Newton) e eu. Em meio a 
outras conversas, ele me 
disse que se encontrava na 
mesma situação de quando, 
anteriormente, a noção de 
gravidade se formara em sua 
mente, provocada pela 
queda de uma maçã, 
quando ele se sentara sob a 
macieira em estado 
contemplativa Por que 
aquela queda sempre 
perpendicular ao chão? — 
pensava ele consigo mesma" 
W. Stukeley, 
primeiro biógrafo de Newton 
Edwards White, astronauta 
da Nasa, flutua livre da 
ação da gravidade, acima 
da Terra. No espaço, os 
corpos (incluindo seres 
humanos) sofrem uma atração 
gravitacional em direção à 
Terra próxima de zero. 
30 
existir outra força, com o efeito de impulsionar os 
planetas, e que era igual à força de atração do Sol. 
Esta força de impulsão é a mesma que mantém a água 
no balde quando ele está girando. Newton chamou 
esta força de centrífuga e afirmou que ela só ocorria 
quando um objeto girava em torno de outro, rapida-
mente. O objeto em movimento estava constantemente 
escapando das garras da gravidade. Foi justamente 
por isso que a maçã não flutuou sobre sua cabeça. 
Ela não estava girando em torno da Terra, como a 
Lua; então, ela não sofreu a ação da força centrífuga 
e foi puxada para o chão por causa da gravidade. 
De volta a Cambridge 
Por volta de 1667, a peste havia acabado e Cambrid-
ge estava segura outra vez. A universidade foi rea-
berta e, em março, Newton retornou a seus aposen-
tos no Trinity College. 
Assim que se instalou, começou a trabalhar na teo-
ria que havia elaborado pouco antes de deixar Lin-
Acima, à esquerda: Um 
desenho do século 19, 
satirizando a Teoria da 
Gravidade, de Newton. 
Acima: O ônibus espacial 
Atlantis, lançado do Centro 
Espacial Kennedy. Apesar 
de a viagem de uma nave 
espacial necessitar de 
cálculos incrivelmente 
apurados, a teoria de 
Newton sobre a gravitação é 
usada, quase inalterada, 
para programá-la. 
31 
"Newton foi o primeiro a 
ver claramente que uma 
explicação, se necessária ou 
possível, de qualquer modo 
chega à etapa final. Ele 
tomava os fatos conhecidos, 
formava uma teoria, que se 
adaptava a eles e poderia 
ser expressa em termos 
matemáticos, deduzia a 
conseqüência lógica e 
matemática da teoria, 
comparava novamente com 
os fatos pela observação e 
experiência, e via que a 
concordância estava 
completa." 
W.C, Dampier 
colnshire. Ele manuscrevera fórmulas matemáticas para 
ver se sua idéia poderia funcionar. Depois de semanas 
de esforço concentrado, havia completado os cálculos 
e constatou que estava certo. Havia uma força invisível 
em ação que mantinha os planetas em seus cursos. 
Não satisfeito com esses avanços, ele queria saber 
mais sobre a força misteriosa. Percebeu que a força 
da gravidade se tornava mais fraca quanto mais lon-
ge um corpo estivesse do outro. Ele sabia, por exem-
plo, que os planetas mais distantes do Sol sentiam 
uma atração menor que aqueles mais próximos. Co-
mo se dava a mudança de intensidade? 
Usando a matemática avançada que havia desen-
volvido antes de deixar Cambridge, ele deduziu que 
se um planeta estivesse duas vezes mais longe do Sol 
do que outro, ele sofreria somente um quarto da for-
ça da gravidade. Se fosse três vezes mais distante, so-
freria apenas um nono da força. 
Conforme os números surgiam de sua caneta, ele 
instantaneamente compreendia o que aquilo signifi-
cava. Se os números estivessem corretos, a força da 
gravidade obedecia a uma "lei do inverso do qua-
drado". Em outras palavras, se a distância entre ob-
jetos fosse dobrada, a força de atração entre eles se-
ria um quarto do que era antes, já que 2 X 2 = 4. 
Se a distância fosse triplicada, a força seria um no-
no, já que 3 X 3 = 9. Se a distância fosse quatro 
vezes superior, a força seria de um dezesseis avós da 
medida original, porque 4 X 4 = 16. A palavra "in-
verso" simplesmente significa que o 4, 9 ou 16 vêm 
abaixo da linha em uma fração (em outras palavras, 
eles se tornam o denominador de uma fração). 
Bolsa de estudos 
Essa descoberta significou um grande avanço. Os cien-
tistas, antes de Newton, haviam imaginado tal força 
invisível na natureza, mas ninguém se esforçara para 
descobrir como ela funcionava e, ainda menos, co-
mo mudava de intensidade em distâncias diferentes. 
Graças a todas suas descobertas com a luz — antes 
da epidemia — e de sua nova matemática, seis meses 
depois do retorno à universidade de Cambridge, New-
ton, então com 25 anos de idade, foi promovido para 
a ilustre posição de pesquisador do Trinity College. 
Foi uma subida meteórica, possível graças à sua 
crescente amizade com o professor de Matemática do 
Trinity — Isaac Barrow. Os dois Isaacs formavam um 
estranho par. Barrow era extrovertido, enquanto New-
ton era tímido e retraído. Entretanto, eles trabalha-
ram juntos e se tornaram amigos, além de colegas. 
Barrow compreendeu o potencial de Newton depois 
de conhecer o esforço que ele havia feito durante os 
anos da peste, mas seria a publicação de um novo 
trabalho do matemático dinamarquês Nicolas Mer-
cator que atrairia a atenção do resto do mundo cien-
tífico para o talento de Newton. 
Em 1668, Mercator publicou um livro de matemá-
tica chamado Logarithmotechnia. Poucas semanas de-
pois, Newton recebeu uma cópia do livro e, depois 
de algumas horas de leitura, ficou apavorado. Mer-
cator escrevera sobre a matemática que ele, Isaac New-
ton, havia descoberto poucos anos antes da epide-
mia. Newton anotara suas invenções mas não publi-
cara as conclusões. A única pessoa que sabia ter sido 
Newton o primeiro a fazer essas descobertas era o 
professor Barrow. 
O que faria ele? Newton não poderia deixar outro 
matemático receber o crédito por todo o trabalho rea-
lizado por ele antes de deixar Cambridge, em 1665. 
A maioria das pessoas divulgaria imediatamen-
te que haviam feito a descoberta três anos antes. 
Mas, em certos casos, Isaac Newton era um homem 
muito peculiar. Como muitos gênios, não abordava 
Acima: Diagrama ilustrando 
a Teoria da Gravidade de 
Newton. A força de atração 
entre os corpos depende da 
massa dos corpos e da 
distância entre eles. Isto é 
representado pela equação 
F = G m m /d, onde G 
significa o poder de 
gravidade, m e m são as 
massas dos corpos e d a 
distância entre eles. 
as questões da mesma forma que a maior parte das 
pessoas. Ele sempre demonstrava cautela e mesmo 
reserva em permitir que outras pessoas conhecessem 
seu trabalho e esse tipo de atitude o acompanhou até 
a velhice. Mas, não fosse pelo fato de sua vaidade 
o impedir de continuar calado, talvez ele nunca rece-
besse o crédito por suas descobertas em Matemática. 
Página anterior: Esta 
pintura é um apurado 
retrato do jovem Newton, 
cansado e abatido pelas 
pressões de sua inexorável 
busca das leis secretas da 
natureza. 
Os planos de Newton 
Ele tinha um plano. Pediu ao professor Barrow para 
publicar seus manuscritos originais, anonimamente, 
e fazê-los circular entre seus colegas mais influentes, 
cm Londres e na Europa. Somente quando essa pu-
blicação fosse aceita como o trabalhooriginal (ante-
rior ao de Mercator), Barrow estaria autorizado a 
anunciar o nome do autor. 
Foi o que aconteceu. Em dois dias, Newton tinha 
os manuscritos originais organizados e o professor 
Barrow os fez circular. Em seu primeiro trabalho pu-
blicado, Newton explanou suas idéias com maiores 
c mais precisos detalhes do que o matemático Mer-
cator fizera cm seu livro, e, em poucas semanas, to-
da a comunidade científica havia aceito sua versão 
da história. Somente então foi revelado o nome do 
autor e Isaac Newton tornou-se renomado por seus 
avanços em Matemática. 
Professor de Matemática 
Pouco tempo depois, seu amigo e grande defensor, 
Isaac Barrow, decidiu se aposentar como professor 
de Matemática do Trinity para prosseguir seus estu-
dos particulares. Ele nomeou Newton seu sucessor. 
Os diretores da universidade concordaram com a es-
colha e, com 26 anos de idade, Isaac Newton tornou-se 
o mais jovem professor de Matemática de todos os 
tempos de Cambridge. 
Era um posto importante. Agora, seu trabalho se-
ria tomado com seriedade e ele não necessitaria mais 
recorrer a métodos secretos para convencer as pes-
soas, como fizera no episódio de Mercator. 
Mas, Newton não era um gênio em tudo. A função 
de professor exigia pronunciamentos de discursos al-
gumas vezes por ano, mas ele era um orador limita-
do. A assistência diminuía gradualmente e, numa 
"Em matemática, Sir Isaac 
Newton podia algumas vezes 
ver quase por intuição, 
mesmo sem demonstração, 
como foi o caso da famosa 
proposição no seu Principia, 
de que todos os 
paralelogramas circunscritos 
sobre o diâmetro conjugado 
de uma elipse são iguais..." 
William Whiston 
Página seguinte, embaixo: 
O telescópio refletor que 
Newton desenhou na 
década de 1670 era muito 
superior ao primário 
telescópio construído 
por Galileu. 
Acima e na página 
seguinte, no alto: Galáxias 
a milhões de anos-luz da 
Terra. O desenvolvimento 
de telescópios sofisticados, 
baseado nos princípios de 
Newton, possibilitou aos 
astrônomos enxergar mais 
além, no espaço, como 
nunca antes. 
36 
ocasião que se tornou famosa, ele fez um discurso 
para uma sala vazia, tendo apenas as paredes como 
ouvintes. 
Por outro lado, o posto se ajustava perfeitamente 
a ele. Pagava um salário razoável e ele tinha apenas 
que dar poucas instruções e assistir a reuniões e ceri-
mônias ocasionais. Um dos principais benefícios de 
ser professor do Trinity era a liberdade e o tempo pa-
ra realizar suas próprias investigações. 
O telescópio refrator de Galileu 
O primeiro telescópio fora inventado mais de 60 
anos antes, em 1608. Apesar de não ter inventado 
o aparelho, o notável cientista italiano Galileu Ga-
lilei tornou-o popular. 
Galileu sabia que a luz se movia em linhas retas 
e, também, que, quando a luz de um objeto dis-
tante chegava à superfície de uma lente, ela se tor-
nava curva devido ao vidro da lente. Então, se um 
observador colocar um olho no outro lado da len-
te, a luz que chega até esse olho aparenta vir de 
um objeto muito maior. 
Galileu chamou seu telescópio de "telescópio re-
frator". Consistia de duas lentes colocadas uma 
em cada extremidade de um tubo. A lente mais 
distante é chamada "lente objetiva" e a mais pró-
xima ao olho, de "lente ocular". A lente objetiva 
focalizava a luz dentro do tubo e a lente ocular 
ampliava o objeto distante, inclinando a luz vin-
da dele. 
Este tipo de telescópio funcionou muito bem e 
as notícias sobre a invenção se espalharam por toda 
parte. Em poucos anos, os telescópios refratores 
já eram usados por astrônomos em toda a Euro-
pa para estudar a Lua e os planetas do sistema 
solar. 
Um novo tipo de telescópio 
No começo da década de 1670, Newton construiu 
um novo tipo de telescópio, ao mesmo tempo di-
ferente e mais potente. 
Consistia de um grande espelho na extremida-
de de um tubo fino. Era um tipo especial, curvo, 
chamado espelho côncavo. Se você o olha de frente, 
a curva se afasta — quase como quando se observa 
o interior de uma caverna diminuta. Olhando-se por 
trás, ela cresce em sua direção. 
Newton percebeu que, se a luz vinda de um ob-
jeto distante, como um planeta, atingisse esse es-
pelho especial, ela seria rebatida para um ponto 
em frente dele. O espelho produzia o mesmo efei-
to que o da lente ocular, no telescópio refrator. 
A lente fazia a luz parecer vir de um objeto muito 
mais distante. Se a luz fosse, então, refletida para 
dentro de um ampliador ao lado do tubo, o obser-
vador poderia ver uma imagem ampliada do pla-
neta. Newton denominou seu invento de "telescó-
pio refletor". 
O surpreendente telescópio de Newton era revolu-
cionário e mais potente que a maioria dos telescó-
pios refratores — e ele o construiu com suas próprias 
mãos. Esmerilhou as lentes, formatou e poliu o es-
pelho, construiu o tubo e até desenhou e fabricou os 
próprios instrumentos! As habilidades manuais apren-
didas quando criança, criando maquetes e miniatu-
ras, em Lincolnshire, tornaram-se muito úteis. 
A Royal Society começou 
com reuniões esporádicas, 
mas logo que Newton se 
tornou seu presidente 
cresceu rapidamente, 
tornando-se uma instituição 
respeitada e prestigiada. 
Aqui podemos ver uma 
reunião da Royal Society 
durante o período da 
presidência de Newton. Ele 
aparece no centro do 
desenho presidindo uma 
sessão. 
A Sociedade Real 
O telescópio refletor de Isaac Newton fora uma sen-
sação e, se ainda não estavam convencidos, outros 
cientistas da época compreenderam então que tinham 
um verdadeiro gênio em seu meio. No começo de 
1672, Newton foi convidado para membro da distin-
ta e seleta Royal Society (Sociedade Real). 
A Royal Society consistia em um pequeno círculo 
de cientistas veteranos que haviam formado um gru-
po, em 1660, quando Newton estava com apenas 18 
anos. Eles tinham o apoio do rei Charles II e, entre 
seus membros, estavam homens importantíssimos e 
famosos como o químico Robert Boyle e o cientista 
c arquiteto Christopher Wren, que construiu a Cate-
dral de São Paulo, em Londres. Um convite para 
juntar-se a essa categoria de cientistas era um gran-
de privilégio, e Newton agarrou a chance. 
Desentendimentos 
Em fevereiro, logo após passar a integrar a Royal So-
ciety, Isaac Newton, então com 30 anos, pronunciou 
sua primeira palestra. Envolvia a demonstração de uma 
de suas teorias para um auditório, na sociedade, acom-
panhada de uma pequena publicação. Newton escolheu 
falar sobre sua teoria da luz e do espectro. Foi nesse pri-
meiro debate que ele se encontrou (e discutiu) com ou-
tro grande cientista da época, Robert Hooke, que se tor-
naria, mais tarde, secretário da Royal Society. 
Os dois homens eram respeitados cientistas e im-
portantes personalidades, mas abordavam a ciência 
de maneiras totalmente diferentes e nunca se haviam 
visto frente a frente. Cada um estava convencido de 
que seus métodos eram os acertados. 
Newton sempre fora muito cuidadoso e meticulo-
so, perseguindo um problema até conseguir a resposta, 
aprendendo o máximo possível em suas pesquisas. 
Hooke era um excelente cientista que trabalhava em 
várias diferentes questões ao mesmo tempo. Entre-
tanto, ele não explorava cada uma com tanta profun-
didade, como fazia Newton. 
Não era apenas essa a razão de seus desentendi-
mentos. Havia, também, uma questão de rivalidade 
profissional. 
Hooke considerava-se um especialista em luz. Dis-
cordava da teoria de Newton e defendia suas próprias 
idéias. Pela primeira vez em sua vida, Isaac Newton 
se confrontava com um igual no mundo científico. 
Por muitos anos as rixas conturbaram a Royal So-
ciety e a comunidade científica em geral. E, desde 
aquele primeiro encontro, os dois homens nunca pu-
deram ser amigos — tornaram-se inimigos. 
Alquimia 
Em Cambridge, Newton levou adiante seus estudos,em segredo. A Royal Society tomava um pouco de 
seu tempo e as estradas barrentas e esburacadas torna-
Pagina seguinte: Um 
laboratório de alquimia. De 
tempos remotos até o século 
18, a Química era envolta 
em mistério. Alquimistas 
eram pouco mais que 
feiticeiros em seus métodos. 
Eles acreditavam que metais 
sem valor podiam ser 
transformados em ouro e 
que podiam misturar poções 
mágicas para se tornarem, e 
outras pessoas também, 
imortais. Até que, no século 
18, químicos autênticos 
como John Dalton 
demonstraram que a 
alquimia se baseava em 
falsas idéias. Então, essas 
teorias antiquadas 
desapareceram para sempre. 
"Precaução, prudência e 
reserva eram os elementos 
naturais do caráter de 
Newton. Alguma tendência 
à arrogância, como a 
propensão ao menosprezo 
pelo convívio social, era 
logo superada. Erguendo-se 
do mais baixo extrato da 
pequena nobreza fundiária 
(seu pai era incapaz de 
assinar o nome), Newton 
encontrou pouca 
compreensão familiar em 
relação a seus méritos 
intelectuais: é sempre menos 
fácil viver com um gênio 
que admirá-lo 
postumamente." 
Rupert Haíl 
vam as viagens em carruagens de rodas de madeira, 
desconfortáveis e cansativas. Ele somente faria a longa 
jornada quando precisasse, o que era raro. 
Por causa de todas as discussões e disputas, ele de-
cidiu deixar a Física e a Matemática por um tempo 
e passou a dedicar-se a pesquisas em outras áreas da 
ciência. Por muitos anos, o tema que mais ocupou 
seus pensamentos foi a Alquimia — a precursora da 
Química. 
Alquimistas não eram cientistas. Assemelhavam-
se a mágicos ou curandeiros, pretendendo realizar o 
impossível — formulando poções para conseguir a 
imortalidade, "filtros de amor" e curas milagrosas. 
Newton não gostaria de ser incluído entre eles. Os 
alquimistas eram descuidados e desorganizados com 
seu trabalho. Guardavam poucos registros de suas des-
cobertas e não compreendiam realmente o que esta-
vam fazendo. Newton era o oposto, e a única razão 
para envolver-se com tais coisas era a ânsia infinita 
de conhecimentos. Ele queria saber tudo e qualquer 
área de estudo o interessava. 
Os segredos da alquimia eram impalpáveis. Ele pô-
de ver que vários amadores dedicados ao assunto, pelo 
mundo afora, ocupavam-se da alquimia de maneira 
terrivelmente desorganizada. Newton estava conven-
cido de que poderia contribuir valiosamente com es-
sa vasta e inexplorada área da ciência. 
O cientista cauteloso 
O que fazia Newton tão diferente de qualquer outro 
que se dedicava à área da alquimia era sua incrível 
meticulosidade e cautela. Ele anotava todas as suas 
descobertas e apoiava os conceitos com experiências. 
Várias pessoas consideram Isaac Newton o primeiro 
cientista de verdade por causa de seus cuidadosos mé-
todos e porque, por ter usado a Matemática para des-
crever as coisas, pôde provar a partir da experiência. 
Ele foi o primeiro a agir assim e muitos o conside-
ram o fundador da ciência moderna como nós a co-
nhecemos hoje. 
Newton usou seus métodos na alquimia, mas, ao 
contrário de seu trabalho em Física e Matemática, 
ele não fez grandes avanços em Química. Dia após dia 
ele permaneceria em seu laboratório no Trinity. Ele 
havia formado sua própria coleção de frascos, co-
pos, tubos e condensadores e arquitetava experiência 
após experiência. Mas não teve muita sorte. Os se-
gredos da Química sempre o enganaram e, depois de 
vários anos de pesquisa, ele conseguiu bem pouco. 
Então, em uma tarde morna de junho de 1679, 
aconteceu algo para alterar o curso de sua vida 
e pôr fim a seus estudos de alquimia. Estava no 
laboratório, como de costume, combinando pro-
dutos químicos e misturando tubos de testes de so-
luções, quando bateram à porta. Era um mensa-
geiro, a cavalo. Entregou a Newton um envelope 
contendo uma única folha de papel. Ele abriu e 
leu o conteúdo. Depois de passar os olhos rapida-
mente pelas primeiras palavras, tomou conhecimen-
to da terrível verdade: Hannah Newton, sua mãe, 
estava morrendo. 
"Newton (...) era obcecado 
pelo ideal do rigor e 
dificilmente se convencia de 
que alguma coisa estivesse 
pronta para publicação." 
Richard Westfall, em sua 
biografia Nunca em Repouso 
De volta a Lincolnshire 
Durante os seis meses seguintes, Newton não pôde 
pensar em alquimia nem mesmo em suas queridas 
Física e Matemática. Todo o seu tempo foi subita-
mente ocupado com os assuntos da propriedade de 
sua mãe. Ele e seu jovem meio-irmão, Benjamin 
Smith, o filho de seu odiado padrasto, eram os úni-
cos herdeiros. 
Foram vários meses para organizar o inventário da 
casa e da fazenda. Benjamin era um jovem irrespon-
sável, em quem não se poderia confiar para admi-
nistrar a herança. Para tornar a situação pior, o jo-
vem rapaz estava doente e acamado, e Newton teve 
de dar ordens à governanta e cuidar da administra-
ção geral da fazenda. Foi apenas no começo de 1680 
que ele transferiu a propriedade para um adminis-
trador de confiança e retornou à cultura e a suas ex-
periências no Trinity. 
Retorno à Mecânica 
Retornando a Cambridge, Newton tomou uma deci-
são. Colocaria de lado seus experimentos de alqui-
mia, por enquanto. Havia feito mais do que o possí-
vel e precisava voltar-se para outros assuntos. 
Em Londres, os debates com Robert Hooke esta-
vam se tornando cada vez piores. Newton esforçava-
se para não perder a calma em público. Durante al-
guns anos, cartas furiosas continuavam sendo troca-
das entre Hooke, em Londres, e Newton, em Cam-
bridge. E tornavam-se cada vez mais iradas. Hooke 
não conseguia aceitar os enunciados de Newton e de-
clarava continuamente que as coisas com as quais con-
cordava ele — Hooke — havia inventado antes. Era 
o que acontecia com as leis do movimento, que New-
ton estava desenvolvendo. 
Apesar de nunca competirem em público, as car-
tas entre Newton e Hooke eram mordazes. Em uma 
ocasião, quando Hooke alegou que havia descober-
to primeiro as teorias de Newton, este escreveu para 
o secretário da Royal Society: 
"Hooke não tem feito nada e mesmo assim escre-
ve como se conhecesse e tivesse sugerido tudo, me-
nos o que precisa ser determinado pelo esforço dos 
cálculos e observações, esquivando-se dessa labuta 
Uma das diferenças entre 
Newton e a maioria dos 
cientistas que o precederam 
era seu meticuloso método 
de trabalho. Ele entendia 
que a ciência, especialmente 
a Física, era matéria exata 
que devia ser abordada de 
modo estritamente 
disciplinado. Uma vez que o 
experimento fosse 
esquematizado, ele o repetia 
várias vezes a fim de 
eliminar os erros ou 
qualquer possibilidade de 
acaso — e então guardava 
registros impecáveis de suas 
descobertas. 
As Leis da Mecânica de 
Newton em ação: Aqui 
pode-se ver as bolas de um 
brinquedo colidindo 
conforme o vaivém 
periódico. O movimento 
das bolas demonstra as leis 
que Newton incluiu no 
livro Principia — os 
princípios que governam o 
movimento das bolas são 
os mesmos que ditam o 
curso de um carro de 
corrida, de um avião 
supersônico ou de uma 
nave interplanetária. 
Página seguinte: Principia 
foi descrito como o maior 
trabalho da história da 
ciência. Em um único 
volume, Newton estabeleceu 
os fundamentos do estudo 
da Mecânica para os 
trezentos anos seguintes. 
Suas teorias, contidas no 
Principia, também 
conquistaram a imaginação 
popular. Foi um sucesso 
imediato dentro da 
comunidade cientifica, por 
toda a Europa, e, ainda em 
vida, Newton se tornaria 
amplamente aceito como o 
mais importante gênio 
científico da Inglaterra. 
em razão de seus outros negócios; entretanto, ele de-
veria, de preferência, ter-se justificado por motivo 
de incompetência". 
Os dois homens se encontravam muito raramente, 
a não ser nas reuniões da Royal Society e, mesmo as-
sim, normalmente, havia um gélidosilêncio entre eles. 
Certa vez, Newton escreveu para seu amigo Edmund 
Halley dizendo que Hooke não era mais que um "si-
mulador" e um "ganancioso". 
Mas, algo de bom surgiu dessa questão. Newton 
ficou tão aborrecido com as constantes declarações 
de Hooke de que fora o primeiro a descobrir suas 
teorias do movimento que o orgulhoso homem se lan-
çou de coração e alma em suas pesquisas. 
Apesar de seu orgulho e de sua raiva, Newton ain-
da colocou obstáculos à publicação de seu traba-
lho. Seus amigos, constantemente, o repreendiam: 
"Se você está tão irritado com Hooke, por que não 
publica sua tese e não o desmascara de uma vez?" 
Newton sempre se queixava de ainda não estar pron-
to para isso. Até que seu amigo mais íntimo decidiu 
intervir. 
Um amigo persuasivo 
Em maio de 1684, o amigo da maior confiança de 
Isaac Newton, o cientista Edmund Halley, fez uma 
viagem especial de sua casa, em Londres, a Cam-
bridge. Sua missão era persuadir Newton, de uma 
vez por todas, a publicar as conclusões de seu tra-
balho sobre a Mecânica — a ciência do movimento 
dos corpos —, que ele vinha desenvolvendo lenta-
mente, desde a Grande Peste. 
No início, Newton não se convenceu. Não se sen-
tia preparado para publicar um trabalho inacabado. 
Mas Halley tinha um par de curingas na manga. 
Primeiro, ele sugeriu que Newton não publicasse 
simplesmente um pequeno livreto de idéias meio aca-
badas. Tinha uma sugestão muito maior. Ele, Ed-
mund Halley, financiaria a publicação de um livro 
descrevendo todas as teorias que (como secretamen-
te sabia) seu amigo havia formulado. E também con-
venceu Newton de que, a menos que agisse rapida-
mente, outros poderiam fazê-lo, repetindo-se o epi-
sódio de Mercator, ocorrido seis anos antes. 
"O grande trabalho de 
Isaac Newton, Princípios 
Matemáticos, que ele 
escreveu em apenas oito 
meses, foi publicado em 
1687. Ele incorpora todos 
os seus estudos sobre a 
Mecânica e é respeitado 
por muitos por ser o mais 
grandioso trabalho 
científico já publicado." 
James Carvell, no livro Nomes 
Famosos da Engenharia 
Depois de muito argumentar, Edmund Halley dei-
xou Cambridge com a promessa de Newton de se 
dedicar inteiramente a escrever o relato total de suas 
maiores descobertas. 
O auge do avanço científico 
Newton demorou dois anos para acabar seu livro, 
escrevendo dia e noite para completar o trabalho. 
No dia 28 de abril de 1686, o livro finalmente es-
taria pronto: Philosophiae Naturalis Principia Ma-
thematica (Princípios Matemáticos da Filosofia Na-
tural) geralmente citado como Principia (Princípios). 
O livro foi enviado à Royal Society naquela mesma 
tarde e trechos dele foram lidos para os cientistas, 
apesar do autor haver decidido não comparecer. 
Para a maior parte dos cientistas reunidos na Arun-
del House, a sede da Royal Society, o livro foi uma 
revelação. Descrevia os conceitos de Newton sobre 
a gravidade, a força centrífuga e como as duas se 
relacionam. Tanto quanto idéias mais antigas, o li-
vro trazia novas propostas em profusão. Entretanto, 
o que o Principia continha de mais valioso eram os 
conceitos que se tornaram conhecidos como as Leis 
da Mecânica de Newton, ou Leis do Movimento. 
Inércia 
Há três leis da Mecânica (veja na página 62) descri-
tas no Principia, mas a primeira, que se ocupa do 
conceito da inércia, tem aplicação mais ampla. 
Inércia é o termo dado para a tendência de todos 
os objetos de resistir à mudança ou ao movimento. 
Para movimentar um objeto, tem-se que aplicar uma 
força sobre ele, para que supere sua inércia. 'Inér-
cia" é a palavra usada para descrever o estado de 
uma pessoa preguiçosa — os preguiçosos têm que 
superar sua inércia para fazer alguma coisa. 
Newton escreveu que por causa dessa inércia to-
dos os objetos continuam em estado de repouso ou 
movendo-se em uma linha reta, a menos que sejam 
afetados por uma força exterior. 
É fácil constatar que essa afirmação é verdadeira. 
Se uma bola perfeitamente lisa for rolada ao longo 
de uma superfície perfeitamente lisa, e não ventar ou 
aparecer outra força em ação, a bola poderá, teori-
camente, continuar rolando para sempre. Certamente, 
na vida real a bola tenderá a diminuir a velocidade 
e, eventualmente, parar — por causa de forças ex-
ternas, como a fricção e as correntes de ar. 
O predecessor imediato de Newton, no campo da 
Mecânica, foi o físico italiano Galileu. Ele havia es-
tudado as propriedades da queda dos objetos, mas 
ninguém antes de Newton imaginara por que uma 
força tinha que ser aplicada a um objeto em repou-
so para colocá-lo em movimento. 
Nova sabedoria 
Hoje, noções como força ou inércia são admitidas 
sem restrições. Elas parecem óbvias. Na época de 
Newton, a noção de forças e da aplicação de ener-
gia para superar a inércia dos objetos era idéia to-
talmente nova. 
Mil anos antes de Newton, o filósofo grego Leu-
cippus havia formulado a Teoria da Causalidade. 
"Nada acontece sem uma causa, mas tudo com uma 
causa e por necessidade." 
Isto parece uma declaração óbvia, mas terrivelmen-
te vaga. Newton defendeu a idéia de que é preciso 
a ação de uma força para que um objeto vença a 
inércia ou mude sua trajetória. Ele provou essa tese 
usando a geometria e prognosticou o efeito causado 
pela aplicação de forças de várias intensidades so-
bre diferentes objetos. É onde a ciência "real" de 
Newton era tão diferente da filosofia dos gregos e 
dos pseudocientistas de antes da época de Galileu. 
Newton estabeleceu leis que poderiam ser aplica-
das para prever acontecimentos com extraordinária 
exatidão. A mecânica de Newton era metódica, ba-
seada em sólidos e simples princípios fundamentais, 
leis irrefutáveis que podiam ser aplicadas nos mais 
complexos e elaborados problemas — tais como o 
envio de naves espaciais aos planetas ou alguma coisa 
relativamente simples como os movimentos de uma 
bola de bilhar sobre uma superfície plana. 
Realmente revolucionário nas descobertas de New-
ton era o conceito de que um objeto se movimenta 
ou modifica o trajeto em função das forças externas 
"75o absorto, tão sério em 
seus estudos que comia 
muito frugalmente; mais 
ainda, freqüentemente 
esquecia de comer; tanto 
que, entrando em seu 
quarto, eu encontrei seu 
prato intacta Quando lhe 
lembrei, ele respondeu: 
'Esqueci!' — e então, indo 
para a mesa, comeu um 
bocado ou dois, em pé; por 
isso, eu não posso dizer 
que alguma vez o tenha visto 
sentado à mesa por 
vontade própria..." 
Dr. Humphrey Newton, assistente 
de Isaac Newton 
agindo sobre ele, e não, como as pessoas pensa-
vam, graças ao resultado de uma variação interna 
do próprio objeto. Algumas vezes, entretanto, é 
a combustão de gases no motor de um avião que 
o faz se movimentar, mas é a força, ou impulso, 
que o motor exerce sobre o ar que o leva a vencer 
sua inércia e voar. 
Um conceito prático 
Poucos anos depois da publicação do Principia, 
o conceito da inércia, ao lado das duas outras leis, 
já havia começado a transformar o mundo de ou-
tros cientistas e engenheiros. Eles adotaram as leis 
de Newton em projetos de máquinas e equipamen-
tos científicos, relógios e invenções dotadas de ro-
das, qualquer coisa que envolvesse partes móveis. 
As leis tornaram possível descobrir se uma má-
quina funcionaria corretamente mesmo antes de 
ser construída. 
Desde essa época, o pensamento científico mudou 
fundamentalmente — nunca mais seria o mesmo. 
Página anterior, no alto: A 
aplicação das teorias de 
Newton em nossos dias se 
estende às áreas de 
engenharia e ciências. Estas 
fotos mostram exemplos 
diários da engenharia 
moderna, que se vale das 
leis da Mecânica e da 
Dinâmica, reveladas por 
Newton no livro Principia. 
O vasto conhecimento 
tecnológico necessário para 
desenhar e construir pontes 
suspensas e levantar arranha-

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