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Teologia Sistemática 2

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Disciplina: Teologia Sistemática II
Aula 9: Soberania e salvação
Apresentação
Nesta aula, a reflexão teológica, em sua unidade intrínseca entre razão e fé, apresenta a soberania de Deus e a conversão e a salvação em Jesus.
Interessa-nos estudar Deus na Teologia considerando a importância dos estudos bíblicos na atualização da Palavra Dele, escutando o que nos tem a dizer para os dias de hoje. No Cristianismo, o próprio Jesus Cristo é o ponto alfa e ômega, unidade da Escritura, da Tradição e compreensão dos padres. Ele é quem nos revela o Pai.
É nessa perspectiva que veremos o credo cristão: como, ao assumir o israelita em sua dimensão interna, em seu caráter histórico, revela Deus para a humanidade de todas as épocas, ultrapassando o seu limite espacial e temporal.
Objetivos
· Discutir sobre a soberania de Deus;
· Identificar Jesus como Salvador e seu chamado à conversão;
· Inferir o amor do Pai pela promessa do Filho.
A soberania de Deus e a profissão de fé cristã
O credo cristão assim professa:
"Creio em Deus Pai, Todo Poderoso, Criador do céu e da terra".
Aqui nós temos três expressões que se referem a Deus: Pai, Todo Poderoso e Criador.
Falar de Deus mobiliza paixões, causa angústia a muitos e marca a história da humanidade. Para os cristãos, o Deus que salva é anterior ao Deus que cria. É na relação de Israel liberto da Babilônia que se vai para a consciência da criação.
A questão é: quem é este Deus que nos salva?

Fonte: Ben White / Unsplash.
Em nosso dia a dia, temos a sensação de que tudo passa e que ninguém é capaz de preencher nosso anseio por amor e felicidade. Existe uma solidão em nosso interior que anseia em ser satisfeita.
"Quando o ser humano experimenta a solidão, percebe ao mesmo tempo o quanto toda a sua existência é um grito pelo tu e quão pouco ele é feito para ser apenas um eu encerrado em si mesmo".
(RATZINGER, 2015, p. 79)
As dores do mundo e os gritos que ouvimos chamam nossa atenção para esse vazio que o ser humano traz e pede para ser satisfeito, mas sem saber exatamente como.
A experiência com Deus nasce da alegria do acolhimento, do aconchego, fazendo com que cada um experimente o dom do que não foi capaz de realizar, criar ou mesmo atrair. Sabemos que não é por mérito. É o saber-se encontrado, recostado naquilo onde podemos descansar (Jr 1, 5). A realidade humana torna-se ponto de partida para a experiência do Absoluto, que, no Cristianismo, é o Deus Filho, portador da salvação. É o Filho que nos apresenta o Pai.
Outro caminho é quando contemplamos o mundo e tudo que nele há. A beleza e a abundância do universo, entre descobertas e terrores, alturas e abismos, nos remetem à experiência de que há uma ordem em tudo, algo superior que sustenta. Temos aqui uma imagem pouco definida e distante de um Deus Criador, comum a muitas culturas, e que nós chamamos de Pai.
"Existe um Deus"
“Existem muitos deuses"
“Não existe Deus”
São três posições que se relacionam e se opõem entre si, trazem uma unidade e uma singularidade do Absoluto. A compreensão de Deus não é relativa a quem Ele é, mas de como o ser humano se relaciona com Ele.
Atenção
O monoteísmo parte do princípio de que o Absoluto é a consciência conhecedora da humanidade e que pode se dirigir a ela. Para o materialismo, o absoluto é compreendido como matéria, sem predicados pessoais, embora proporcione ao ser humano criar o próprio futuro – é o ser humano que o define e elabora um discurso em sua referência. O politeísmo se relaciona tanto com o monoteísmo quanto com o ateísmo no sentido de uma singularidade de poder que a tudo sustenta.
A profissão em um Deus único surge na fé de Israel e será reformulada pelo Cristianismo
“Escuta, Israel: Iavé, teu Deus, é um só”
(Dt 6, 4)
O credo cristão retoma o israelita com seu sentido e sua história. A luta e a experiência da relação entre Deus e Israel encontram sua continuidade e ruptura na fé cristã.
A fé israelita, uma novidade, é elaborada na relação com os povos vizinhos. Ela traz consigo a renúncia aos deuses e uma decisão existencial frente ao endeusamento dos poderes políticos e ao movimento cósmico de eterno retorno. Israel rompe com a adoração do pão, a adoração do eros e a idolatria pelo poder em um ato histórico de libertação.
Israel traz consigo a denúncia contra a multiplicação das divindades que faz com que se renuncie o que seja propriamente humano, como a segurança e o medo. Ao confirmar o Deus único que tudo cria e sustenta, ela confia-se corajosamente à força que governa o mundo inteiro (e não somente a um povo ou a um lugar) sem apoderar-se dela.
Podemos finalmente começar a compreender como foi participar da comunidade cristã nascente e a profissão de fé que trazia consigo uma decisão existencial com consequências graves, pois ela posicionava o cristão diante de leis que regiam o mundo: o cristão da Igreja nascente não adorava o poder político em que o Império Romano se sustentava nem adorava o prazer e o culto do medo e da superstição que transpassavam as culturas de então. Ser cristão na Antiguidade era lutar por assumir publicamente sua vida, pronto a sacrificá-la.
A profissão do credo de que creio em um só Deus apresenta um programa de importância política justamente por não conter essa intenção, pois relativiza todos os grupos políticos em relação a Deus, anulando pensamentos exclusivistas de poder.
Atenção
As recorrentes idolatrias históricas levaram a humanidade a momentos trágicos de abuso de poder, cujas marcas doloridas ainda permanecem. Esse (novo) Israel relacionou tais marcas a imagens de adultério e prostituição religiosa, revelando a apostasia que o ser humano deixa crescer em seu interior e pela qual passa a se orientar.
Ao professar o Deus único, unidade e indivisibilidade em seu amor, o (novo) Israel se identifica em uma relação de dependência que não pode ser manipulada. Toda vez que assume outros deuses, percebemos que se escraviza e se define em referência a si mesmo, desprezando a própria cultura, absolutizando o poder, o pão e o eros, além de abandonar sua relação com Deus. Podemos aqui facilmente fazer uma leitura das escravidões atuais às quais o ser humano tem aderido.

Fonte: Ben White / Unsplash.
O nome de Deus
Falarás assim aos filhos de Israel: o Senhor, Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó, enviou-me a vós. É este o meu nome para sempre. É assim que me invocarão em todos os tempos.
(Ex 3, 13-15)
Moisés responde: "o Eu Sou enviou-me a vós" (Ex 3, 14). Deus não vem a ser, Ele é, permanece entre a transitoriedade do mundo com os seus. É o Deus dos nossos pais, é o meu Deus.
Com o fim do exílio da Babilônia (537 a.C.), Israel vê-se livre da escravidão e sua esperança renasce. A sarça ardente é contraposta como “Aquele que é” às divindades. O escrito de Gn 1 feito naquele período afirma que o nosso Deus é o Criador dos seus deuses, que são criaturas do meu Deus.
 Exílio da Babilônia.
Comentário
O Novo Testamento parte da compreensão de que a relação entre o eu e o tu pode ser encontrada no lugar onde o ser humano se deixar encontrar por Ele. O Deus de Israel não é somente uma personalidade própria com o Pai, e sim o Deus supremo, acima de tudo e de todos, já que contém todo o poder. É o Deus da Promessa que aponta para o futuro, dando sentido à história e sendo meta definitiva. É aqui que as primeiras comunidades se abriram ao Deus Trino, ainda que não conseguissem compreender sua singularidade e pluralidade.
A adesão ao Deus cristão leva ao repúdio da estrutura social, da distância aristocrática e da negação do despotismo. É o próprio Deus que se faz próximo. Eu sou o que sou anula outros nomes, diferencia-se, ao mesmo tempo em que se mantém oculto. Na versão grega, a referência se encontra como Senhor.
Jesus Cristo é o nome verdadeiro de Deus. É Nele que se cumprem as promessas, pois Ele torna-se carne da nossa carne, osso dos nossos ossos (Gn 2, 23). É um de nós, participa da nossa vida, conversa conosco, podemos ver seu rosto. O Deus do céu, acima de tudoe de todos, ao qual tudo pertence (embora Ele não pertença a ninguém), torna-se visível, acessível e pessoal.
No último evangelho escrito, o de João, a relação entre Deus e Luz traz a ideia do Ser, identificada com o Eu sou, última e definitiva compreensão bíblica. Da sarça ardente à esperança do fim do exílio, torna-se o testemunho de Jesus de Nazaré.
 Fonte: Falco / Pixabay.
Nele, Deus tem um nome que se comunica com todo o seu significado (Jo 18, 6.26) e que pode ser invocado.
A decisão pela fé dos pais Abraão, Isaac e Jacó traz também um rompimento. O Deus desconhecido de Paulo (At 17, 23-33) é a opção que marca o futuro, desmitologizando o mundo e a religião. A Septuaginta da fé de Israel e a compreensão grega convergem para o Logos na relação entre fé e razão. Decidindo pela Verdade do ser, a Igreja primitiva é acusada de ateísmo.
Criação
O bíblico No princípio nos apresenta uma perspectiva temporal, cronológica. Remete-nos a uma ação de exclusividade do Deus de Israel. Em Gn 1, 1, temos a situação de não criação. Não há tempo, espaço, nada, só possibilidade de ser, em total dependência do criado ao Criador. É pela força da Palavra divina que o mundo vai sendo separado do caos e ordenado.
A dimensão dialógica da Palavra vai apresentando os sinais do amor criador de Deus e o caráter não divino das criaturas. Ele deu nome e compreensão semita de soberania, a de que só Deus é Deus. O mundo criado precede o ser humano, que o recebe como dom e convite para receber e mediar uma relação íntima entre Deus e suas criaturas.
O tempo é valorizado, fecundo, como um chamado ao humano para a decisão em relação a Deus, que está aberto à esperança. O mundo é bom, pois pertence a Deus e responde ao desígnio do Criador. Não temos aqui a presença do dualismo metafísico. A relação entre bondade e dom suscita na pessoa humana a oração de ação de graças e de louvor, representante de todas as criaturas, sacerdote da criação.
A fé bíblica em Deus Criador percorre historicamente as tradições veterotestamentárias até o Novo Testamento e é comum em diferentes religiosidades.

Fonte: Jeff Jacobs / Pixabay.
Jesus Cristo: salvação e conversão
Jesus Cristo é o conteúdo fundamental do Cristianismo, Deus que se faz presente na história, o Eu sou. É a retomada da sede humana do infinito e da felicidade na resposta de amor que se doa até a cruz. Ser cristão é participar desse mistério, tornando-se novo homem e nova mulher.
Assim, o processo de conversão e salvação é a crença na Boa Nova, na mudança de vida pelo encontro com o Senhor. Envolve a aceitação dos limites pessoais e comunitários, o caminho de um outro nós. É atravessar a porta da fé como projeto para a vida inteira.
A atividade evangelizadora na conversão e salvação
O anúncio do Reino de Deus não é de uma estrutura, e sim de uma Pessoa. A crise de Deus é um problema atual, camuflado por uma teologia vazia, que fala de Deus, mas não com Deus.
No anúncio, o Reino se manifesta. A Presença de Deus nos conduz a Ele, mas é preciso dar tudo, dar-se totalmente. Só depois do acolhimento da paixão, morte e ressurreição é que vêm as linhas doutrinais, a formação.
Vitral na Igreja Católica em Dublin mostrando o batismo de Jesus.
Temos então o batismo, o início da vida pública como novo homem e nova mulher, no qual se revela o Espírito Santo. Enquanto Povo de Deus, vamos dialogando com as culturas, anunciando o Reino e nos formando, buscando meios para a fé de diferentes gerações e apresentando um sentido para a vida.
Na diversidade religiosa e cultural, há o diálogo. Em relação a esses povos, é preciso proximidade com:
· Diferentes riquezas que apresentarem;
· Leituras de mundo deles;
· Sentidos que dão à vida;
· Modo como buscam a Verdade e a relação com Deus.
É preciso dar atenção aos cristãos que estão afastados, pois eles precisam ser novamente evangelizados e provocados com iniciativas novas em conformidade com a Revelação.
Para os batizados presentes em nossas igrejas, é preciso animação bíblica permanente, apresentando a realidade da fé relacionada à experiência com a realidade, com o mundo. Há um vazio pastoral que precisa ser superado, e a Sagrada Escritura nos oferece diversos acessos a Deus, como a Criação, os diversos momentos históricos e a nossa semelhança na relação entre o Pai e o Filho.
A mistagogia, ou seja, o ensino da Igreja em sua dinâmica, precisa alcançar as pessoas não atingidas pela evangelização clássica. É preciso enfatizar o papel dos evangelizadores na semeadura do Evangelho, em um serviço humilde e em oração, partindo de Cristo para chegar ao mais íntimo do coração humano.
Tanto o crente como o não crente participam da dúvida da fé. O diálogo abre as portas no caminho que exige o envolvimento. Nos três momentos desse processo (formação dos evangelizadores, decisão pessoal de vida e liturgia comunitária), é necessário envolver:
· Martyria (testemunho);
· Kerigma (anúncio);
· Didascalia (ensinamento);
· Crises;
· Liturgia;
· Koinomia (comunhão);
· Diaconia (serviço);
Na formação contínua, as teologias bíblica e pastoral apresentam o caminho para se identificar um tema como chave para o trabalho: a pastoral ajuda na observação do caminhar, iluminando pontos significativos e incentivando possibilidades reais para o encontro com Deus.
Dica
A conversão e a salvação não são atos estanques, mas uma inserção em um processo contínuo, em que as dimensões da fé, da razão e do amor se conciliam com a própria vida. É aprender a viver o Caminho do discipulado, vencer guetos, panelinhas, grupos fechados, para alcançar a consciência de família, que caminha e se ajuda no êxodo de si para a Jerusalém Celeste. Como comunidade, família de Deus, a liturgia é associada à formação no aprofundamento dos Mistérios.
Caridade enquanto conversão e salvação
O verdadeiro conhecimento de Deus se encontra em Jesus Cristo, centro da fé cristã. Sabemos que precisamos intensificar o testemunho da caridade. Não no sentido da compreensão humana, mas da divina.
A dúvida sobre o Deus da fé não responder aos tempos atuais precisa ser respondida. O salto no Logos, no amor, é o que possibilita a compreensão e o anúncio. O Absoluto é Amar, corrige e dá sentido à razão, mostra o paradoxo em relação aos valores do mundo. E, por isso mesmo, é divino. Os primeiros cristãos viviam na certeza de que podiam dar razão de sua fé (1Pd 3, 15).
O pensamento Criador é amor. Enquanto amor, também é pensamento em um único Deus. O amor cristão não é somente uma ideia bonita, e sim uma opção fundamental pela vida: anuncia um início e uma direção definitiva. É uma escolha essencial para a compreensão da fé, que desafia o aparente escândalo e absurdo em tal escolha.
Perseverar na fé do que não se compreende, no Logos, na profissão do eu creio, é entender que nossa compreensão do mundo, do humano e de Deus não é o suficiente. Aqui podemos entender que o pequeno nunca é pequeno demais, que o esquecido, o miserável, o último, a fronteira e a periferia são o objetivo último, o fim do cristão. As pequenas coisas de cada dia, feitas com o coração aberto e para os demais, tornam-se grandes em Deus.
A caridade não está no fazer, nas pessoas, nas coisas e na ideia. A caridade aqui se encontra no associar-se a Deus e Nele tudo ordenar. De um pequeno trabalho, como varrer a casa (Lc 15, 8), às atividades cotidianas, como o semear (Lc 8, 4-8).

Fonte: Gerd Altmann / Pixabay.
A cruz e o perdão
A conversão e a salvação incluem o perdão dos pecados. A luz de Deus ilumina nossa obscuridade, pode dar-nos vida. E essa luz se manifesta de modo especial na cruz. No coração transpassado de Jesus, Ele se apresenta como a própria liberdade, abrindo-se à humanidade de modo plenamente livre: Ele tinha tudo e tudo entrega ao Pai.
Só assim podemos compreender a ressurreição e seu sentido como evento final da humanidade, nos apontando a importância da história humana, de sua responsabilidade na resposta e na abertura para Deus. O mal cometido continua repercutindo no mundo até o fim, até a parusia.
Nesse processo, temos o caráterperformativo. Da cruz à ressurreição, há o perdão, o transformar a vida daquele que crê, a inserção na realidade que questiona a pessoa de hoje, que a interpela a entrar na relação com Deus e a comunicar a alegria do que se torna conhecedor e participante.
A conversão é uma atitude interior permanente de significação de toda a vida. É também decisão em se arriscar e romper com tudo o que é contrário a essa decisão. O cristão define um novo lugar no mundo real, convertendo-se no pensar e no falar, no sentir e no agir, a partir de um conceito novo e próprio de Verdade e realidade.
Atenção
Nessa dinâmica, podemos compreender a salvação. Jesus não veio simplesmente nos redimir, no sentido de pagar uma dívida, como se fôssemos escravos de guerra ou pessoas falidas. Não é uma reparação no sentido de ações expiatórias da culpa para que pudéssemos reatar relações com Deus, algo comum aos cultos de desagravo antigos. A questão não é jurídica, e sim antropológica. A compreensão do Antigo Testamento, em relação à ideia de se salvar um povo de um sistema de opressão, é superada no Novo Testamento, na relação pessoal referente à escravidão do pecado.
A salvação em Jesus Cristo nos torna livres para seguir a Deus na radicalidade do amor que se entrega sem reservas. É aqui que temos a pessoa salva: na ressurreição. O grito mais íntimo pelo infinito encontra sua resposta no amar, na morte para si a fim de encontrar a eternidade no doar-se ao outro, colocando as necessidades dele acima das próprias. A cruz assumida, sinal de morte, é o caminho da ressurreição.
No encontro cotidiano de Deus através das pessoas e do mundo, podemos superar os próprios limites. Esse é o caminho indicado por Aquele que já passou e que sustenta a todos: o amor. Só nessa abertura total se compreende a ressurreição: como fruto desse amor.
Estamos no amor do próprio Deus. Em sua entrada na história, Ele cria uma nova pessoa, imortal, a partir de cada um de nós, no caminho da vida definitiva para o acesso perpétuo a Deus, o face a face eterno. A superação das limitações materiais, de tudo que envolve o biológico, define o fim humano, tornando-o razão de tudo, inserindo o eterno no tempo presente.
O sentido da antropologia encontra o da cristologia na escatologia, tendo a soteriologia como caminho. A criação vive no cosmo - e nele a história humana se desenvolve em direção a Jesus Cristo na responsabilidade livre de cada um. Nessa direção, a salvação se encontra em referência ao juízo.
O julgar os vivos e os mortos, ação própria do Filho professada no credo, é a garantia que permite a realização do Amor na alegria e esperança do cumprimento das promessas e da plenitude da vida. “Não temas! Sou eu!” (Ap 1, 17) é a chegada do Senhor da Salvação, o mesmo que nos acompanha na vida de fé.

Fonte: Helena Mohlin / Pixabay.
Atividade
1. Ouça a música Se meu povo orar, do grupo Expressão Vocal e, para poder refletir melhor, transcreva sua letra. Em seguida, identifique elementos que retratam a soberania de Deus.
Gabarito
2. Ao ler Mt 25, 34-46, podemos considerar a identidade cristã convertida e salva, pois ela assume o serviço ao próximo como projeto pessoal e comunitário de vida. Pense a realidade de sua comunidade religiosa e de seu entorno, considerando as necessidades e os recursos disponíveis. Identifique três possíveis serviços que podem ser prestados e que testemunhem a presença de Jesus no meio de vocês.
Gabarito
3. Relacione as expressões aos seus significados:
Martyria 1 Kerigma 2 Didascalia 3 Koinomia 4 Diaconia 5
a) Ensinamento
12345
b) Testemunho
12345
c) Anúncio
12345
d) Serviço
12345
e) Comunhão
12345
Gabarito
Créditos
Redator: Bernardo Monteiro
Designer Instrucional: Simone Teles
Web Designer: Lerik Lopes
Referências
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Disciplina: Teologia Sistemática II
Aula 10: Igreja e ser humano: graça, salvação e vida eterna
Apresentação
Nesta aula, veremos como a doutrina da Igreja está fundamentada em discussões teológicas que atravessaram os séculos através de seus concílios e os principais expoentes desse debate teológico.
Objetivos
· Relacionar a Igreja e o ser humano na ação da graça, da salvação e da vida eterna;
· Definir os conceitos de justificação, regeneração, santificação e glorificação;
· Discutir a história do debate teológico da Igreja em seus pontos principais.
Relação entre a Igreja e a humanidade
Quem pensa em dizer que são felizes os pobres, os caluniados, os perseguidos e os encarcerados? Onde estamos? Em um mundo alucinado de figuras literárias, paradoxos e hipérboles? [...]
O que Jesus quer dizer na montanha é o seguinte: você não tem um pedaço de pão e morre de fome na rua. Falta-lhe uma casa para dormir e morre de frio na intempérie. Não tem liberdade porque está confinado numa prisão. Falta-lhe prestígio porque foi caluniado.
Você, portanto, nada possui. Mas tem um Deus vivo e vibrante que preenche por completo todos os espaços interiores? Bem-aventurado! Felicidade total: você tem tudo, nada lhe falta. “O Senhor é meu Pastor e nada me faltará”. Para poder compreender os grandes paradoxos do Reino, é condição indispensável possuir uma viva experiência de Deus, porque – reiteramos – “só se sabe aquilo que vive”.
(LARRAÑAGA, 2012, p. 10-12)
No símbolo apostólico, a Igreja se coloca como expressão do fundamento do Deus Trino em sua proximidade e futuro do ser humano, percorrendo e transcendendo a história através da tríade Povo-Corpo-Igreja. No creio, primeira pessoa do singular, cada um se insere no movimento que confirma a conversão do próprio ser no diálogo entre o eu e o nós, o eu e o tu, inserindo-se no Corpo de Cristo e sendo resultado da conversão histórica em que a Igreja afirma o que acredita: quem é e quem foi Cristo.
A fé resulta do diálogo que pressupõe o ouvir, o receber e o responder à revelação que não se pode chegar por si mesmo. Esse caráter social pelo qual o Espírito se comunica chama a comunidade a guardar e anunciar a Boa Nova, na qual cada um pode viver sua própria experiência com a Verdade.
Fonte: Falco / Pixabay.
O Cristianismo não é um sistema de ideias, e sim um caminho comum. O nós é a realidade de comunhão e participação na oração na comunidade, unidade do Corpo de Cristo. É a escola de serviço que vai libertando do egoísmo na compreensão e no anúncio da Verdade.
No diálogo histórico com as diferentes culturas, em que tanto se aprende como se ensina, os cristãos alargam a fé e se apresentam como peregrinos na busca de Deus. Ser Igreja de Cristo pressupõe a abertura ao diálogo com as culturas, religiosas ou não.
A relação com Deus e os semelhantes é sempre inseparável, pois é perdoando que se é perdoado (Mt 6,12). Ama-se como Jesus ama (Jo 13,34). O diálogo é o lugar em que alguém se comunica a si próprio configurado a Cristo. O símbolo apostólico é a profissão comum em Deus, em unidade no espírito da Palavra e na adoração. Portanto, a união entre os que creem é fruto da fé que direciona a Igreja de Cristo.
A Igreja no Novo Testamento
A Igreja nascente assume o compromisso entre o anúncio do Reino no meio de nós e a resposta humana (Mt 11,2-5; Lc 4,43; Jo 18,36), tendo o mistério da Páscoa, a ceia como mistério da Nova e Eterna Aliança (Is 53,10-12; Mt 8,17; Mc 10,45), a partir da memória da peshat judaica e do envio do Espírito em Pentecostes (At 2,1-41).
A Igreja se compreende como nova criação na qual as promessas do Antigo Testamento (Gn 2,7 até a torre de Babel; Ezequiel 36,26s; Jr 31,33) se realizam em um só coração e uma só alma (At 4,32) e na convivência fraterna (At 2,41-47).
Nos escritos joaninos, encontramos a Igreja como:
· Comunhão entre Deus e os homens (Jo 6,56);
· Nascer de Deus (1Jo 3,10);
· Ser de Deus (1Jo 2,16);
· Ter a vida (Jo 6,57; 1Jo 5,12);
· Ser ramo de sua videira (Jo 15,1-6).
Fonte: Pete Linforth / Pixabay.
Assim, a comunhão com Cristo é comunhão com a Trindade, fonte da comunhão dos discípulos entre si. Portanto, a Igreja, que é sacramento de comunhãona história, é descrita das seguintes formas:
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Paulo
É o Novo Israel (Gl 3,16, 27-29; Rm 1,16; Ef 3,5s), o novo Povo de Deus chamado por Jesus para a Ekklesia (Rm 8,28; 1Cor 1,26-28). Povo sacerdotal: santo, consagrado para o culto espiritual (Rm 12,1; 1Cor 1,2; 2Cor 5, 17). É o Corpo de Cristo (1Cor 3,23; 2Cor 10,7; Rm 8,9; Gl 2,20; Cl 2,12s) e sua Esposa, distinta e unida a Ele (Ef 5,25-32). A Mãe que gera os filhos de Deus (Gl 4,26);
Escritos pastorais
É comunidade consagrada a partir de um chamado universal para a salvação de todos (1Tm 2,4; Tt 2,11), pela Encarnação (1Tm 1,15), de modo gratuito (Tt 3,4s), para se entregar por todos (1Tm 1,16). Na Igreja, temos os epíscopos e presbíteros (1Tm 3,1-7; Tt 1,6-9; 2Tm 2,24-26), diáconos (1Tm 3,8 -13), viúvas (1Tm 5,3-16), mulheres em geral (Tt 2,3-5), velhos (Tt 2,2s) e ricos (1Tm 6,17-19). A autoridade é suave, firme e paciente (1Tm 4,12; 2Tm 1,7; Tt 2,15), em testemunho pelo Evangelho (1Tm 4,16; 2Tm 1,8) e pela sã doutrina (Tt 1,9.13; 1Tm 6,3-5).
 O Pentecostes, que dá início ao cristianismo primitivo. Fonte: Wikipedia.
A Igreja as primeiras comunidades e a Patrística
A formação de comunidades é característica do Cristianismo. Jesus vem em sua família e forma a comunidade dos discípulos, que evangelizam, formando novas comunidades como lugar de viver a fé. Essas comunidades são exortadas a viver conforme a sã doutrina recebida dos apóstolos: Igreja apostólica.
Devido às controvérsias teológicas, a Igreja elabora argumentos para aprofundar as reflexões. Os concílios são o lugar apropriado de unidade da Igreja. Segue abaixo a descrição resumida das discussões realizadas nesses concílios e alguns de seus principais expoentes no debate teológico:
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Concílio de Nicéia (325):
Ao argumentar sobre o Logos, o concílio expressa sua relação na Trindade. Atanásio (296-373) contribui com a doutrina da Igreja enquanto comunhão de vida com Cristo e, consequentemente, com o Pai.
Concílio de Constantinopla (381):
Insere o Espírito Santo nas discussões.
Cirilo de Alexandria (378-444):
Considera a humanidade em Cristo em parentesco radical com Deus – a Encarnação é o ponto de partida; a Igreja, o prolongamento desse mistério em que todos são unidos a Cristo pela infusão do Espírito e pela comunhão do Pão.
Hilário de Poitiers (310-367):
Identifica a Igreja como sacramentum, a união de todos os homens com Cristo e entre si na comunhão do Pão.
Concílio de Éfeso (431):
Ao proclamar a Theotókos, identifica a unidade das duas naturezas, a humana e a divina, além da pessoa humana renascida pelo batismo através da Igreja.
Agostinho (354-430):
Desenvolve o conceito do Cristo total, unidade entre cabeça e membros, Cristo e Igreja. Sendo o Espírito Santo a alma, a Igreja é santa. As pessoas humanas são ministros através dos quais Cristo age na santificação da humanidade. Desse modo, uma só é a Igreja.
Gregório de Nazianzo (329-390):
Afirma a filiação de Deus pelo batismo e consequente participação na comunhão de vida na Santíssima Trindade. Tendo Cristo passado por todas as etapas da vida, santificando a existência humana, a Encarnação se prolonga na vida cristã.
Gregório de Nissa (330-394):
Desenvolve a mútua relação de uns com os outros e de todos com Cristo.
João Crisóstomo (347- 407):
Destaca os mais necessitados como membros do Corpo de Cristo e o necessário servir da Igreja em relação a eles em obra sacerdotal e de fruição de graças.
Leão Magno (440-461):
Centra a unidade por Roma, sendo Pedro e Paulo os fundamentos da Igreja.
Concílio de Calcedônia (451):
Afirma a união hipostática da Igreja na unidade das naturezas humana e divina.
 Fonte: Wikipedia.
 Fonte: Wikipedia.
A Igreja na Idade Média
A cristandade se desenvolve como sistema sociocultural cujos valores cristãos permeiam instâncias da própria cultura cristã. O apogeu disso foi no século XIII. A Igreja se apresentava, em sua noção de comunhão, em continuidade com o Mistério da Encarnação.
A Igreja sacramentava e atingia a todos no contexto histórico:
· Visível para a ação da graça e de caráter jurídico;
· Invisível na comunhão dos santos e na chamada de cada cristão.
Devido à formação das monarquias nacionais (séculos XIV e XV), a Igreja buscou distinção na sociedade civil em pleno desenvolvimento de seus aspectos jurídico e institucional.
A Igreja na Modernidade
Entre os séculos XVI e XVIII, o movimento da Reforma enfatiza a espiritualidade, com especial relevo à humanidade visível: a carne corrompida pelo pecado na concupiscência desregrada. De aspecto jurídico, somente o interior pode ser receptível à justificação, com o Pai cobrindo a pessoa humana com os méritos de Cristo e justificando o homem pecador e sem mediação visível.
Concílio de Trento. Fonte: Wikipedia.
Saiba mais
O Concílio de Trento acentua os aspectos visíveis e institucionais, destacando o valor objetivo dos sacramentos, as faculdades e a jurisdição da hierarquia da Igreja. A ênfase na comunhão de vida entre Cristo e os cristãos acentua esse aspecto místico.
Com o declínio da filosofia e da metafísica no século XVII, tendências rigoristas e pessimistas se manifestam. O protestantismo afirma a incapacidade da natureza humana para o bem, corrompida pelo pecado. O estabelecimento das monarquias absolutistas promove o recuo da participação pessoal no espaço civil, refletindo na identidade religiosa e no ser Igreja.
Entre os séculos XVI e XVIII, a apologética busca a Igreja a partir da abstração da fé, não admitindo o valor transcendental da Igreja no diálogo com os protestantes.

Fonte: DDZ Photo / Pixabay.
A Igreja na atualidade
Entre os séculos XIX e XX, o aspecto místico da Igreja é enfatizado. Subordinada ao poder civil, a Igreja nacional é idealizada e racionalizada, suscitando interesse crescente no estudo do Corpo de Cristo e do Mistério da Encarnação. Buscando superar o individualismo e o racionalismo, há estudos em relação a:
· Magistério;
· Unidade;
· Hierarquia;
· Culto;
· Pastoreio.
A Eclesiologia se renova de modo sistemático, buscando a isenção de tendências místicas. O princípio vital é identificado nas ações dos membros enquanto princípio espiritual que anima a Igreja. Em um intervalo de quase cem anos, dois concílios realizados no Vaticano abordaram as seguintes questões:
Concílio Vaticano I (1869-1870)
Aprova questões de fé e moral no primado e na infalibilidade do Papa;
Concílio Vaticano II (1962-1965)
Ao longo do século XX, a consciência orgânica e harmoniosa de Corpo visível de Cristo em favor do serviço ao mundo culminará na expressão Igreja santa formada de pecadores.
pergunto se esse modo de proceder é correto, universal, científico, ecumênico, católico, em grego ‘katholon’, ou seja, que abraça o todo e contempla o todo. Nesse sentido, podemos perguntar se o modo de proceder é católico.
(ALBERIGO, 1999, p. 306)
Preocupada com as realidades humanas, a Igreja se insere na dinâmica do mundo com identidade evangélica de diakonia. Temos o reconhecimento inter-religioso da igualdade fundamental entre toda a humanidade dotada de alma racional e criada à imagem de Deus, com a mesma natureza e origem, redimida por Cristo, com vocação e destino divinos (Gaudium et Spes 29).
Os diferentes dramas e contextos históricos limítrofes instigam a unidade e a relação fraterna como credibilidade da Igreja e chamada à ação em favor dos que mais precisam. Nessa comunhão, a Igreja se manifesta como unidade de todo o Povo de Deus em sua constituição de povo sacerdotal, participante do sacerdócio real de Cristo que é a força na caminhada rumo à casa do Pai.
A Graça
A doutrina da Graça é a comunhão da vida da pessoa humana que, libertada do pecado e da morte, é chamada à vida eterna. Ela é inserida no plano de Deus (1Jo 4,9-13; Rm 5,5) e na radicalidade do Mistério da Encarnação do Filho de Deus.
Conferida pela fé da Igreja - Esposa no Batismo, enquanto Corpo de Cristo -, a graça é suficiente para o espírito santificante agir em nós.
A Graça no AntigoTestamento
No Antigo Testamento, o mistério da ternura de Deus com seu povo e a resposta que dele exigia podem ser encontrados nestes temas e expressões relacionados à graça:
1
O substantivo hen (LXX: gr. cháris = benevolência, bem-querer, inclinação sobre o mísero). Gn 6, 8; Ex 33,12;
2
O verbo hanan (LXX: Eleein = ser benévolo, misericordioso, clemente). Deus é, em total liberalidade, oferecedor da graça: Ex 33,19;
3
O substantivo hesed (LXX= gr. éleos: compaixão, misericórdia): Deus generoso para com os seus se mostra na fidelidade amorosa com que observa sua aliança. Ex 34,6;
4
Rahamím (gr. oiktirmovõ compassivo; oiktivrw: ter compaixão): é misericórdia, ternura, é o Ser maternal, cordialidade no perdão dos pecados do povo eleito. 2,21s; Is 54,7; Jr 16,5;
5
Emunáh (emét) = fidelidade aos amados com todo o ser, verdade, garantia, cf. Amen.
Dom de si para o povo amado, a graça de Deus pode ser encontrada em diversos momentos do texto sagrado:
· A expulsão do paraíso e a promessa da vitória da descendência da Mulher (Gn 3, 15);
· A escolha de Abraão e a promessa de bênção (Gn 12,1-4);
· A aliança (Gn 15; Ex 24);
· Os profetas, arautos e sinais de Deus;
· Davi e sua genealogia;
· A promessa do Messias.
Também podemos destacar a ação da graça de Deus em momentos como:
· A escolha gratuita do povo: Dt 7,6-8; Is 51,17 - 52,10;
· O convite para o povo que merece punição Is 51,17 – 52,1-2.7-10;
· A aliança e a glória de Deus: para consagrá-lo definitivamente Ex 33,18-20; 24,16;
· O perdão, expressão de amor divino: Os 2,11.
Atenção
Destacamos os três aspectos do perdão: na dimensão pessoal, ele apela à conversão e à fidelidade à Aliança; na social, valoriza diante de Deus as relações humanas; e na escatológica, a promessa de um novo céu e uma nova terra (Is 65,17; 66,22).
A Graça no Novo Testamento
Nos evangelhos sinóticos: A Graça se identifica na pessoa de Jesus, pelo qual começamos a viver a vida de Deus. Crer é entregar-se a Deus, iniciar a vida nova, receber Jesus em si e amar a todos. A graça de Deus é a Salvação para que vivamos eternamente na intimidade divina (Mt 21,33-46; Mc 2,16; Lc 15,11ss).
Em João: Jesus é o portador escatológico da graça (Jo 5,26 1Jo 2,29). Nascendo de Deus, que nasce em nós (Jo 1,13; 1Jo 3,14.36), somos um em Cristo e com Cristo na Trindade (Jo 10,37s). A graça santificante é o início da glória escatológica (Jo 1,12; 1Jo 5,6s).
Paulo: Apresenta a doutrina da graça relacionada à experiência: estar com a Igreja é estar com Jesus (Rm 5,15), dom absoluto (Rm 3,21-24) e universal (Rm 4,16; 1Tm 2,4ss) pelo qual recebemos a filiação divina (Rm 5,2).
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Comentário
Na compreensão cristã, a graça é a justificação do pecador que precisa da colaboração de sua liberdade (Rm 5,1-2) segundo a vontade de Deus (Fl 2,13). Nesse processo, temos a santificação cristã, fruto do amor operante de Cristo na vida da pessoa humana pela fé (2Cor 9,8; Col 1,10).
Viver em Cristo indica a dinâmica e a essência intrínseca da graça (2 Cor 12,9; Rm 8,1; 1Cor 1,30; 2Cor 5,1.2.7). Na carta aos Hebreus, a graça encontra-se na oferta de Cristo, Sumo Sacerdote, por nós (Hb 4,16; 10,29).
Desenvolvimento histórico da compreensão da Graça
Na crença de que, depois do Batismo, a maior graça é o martírio (Gl 2,20; 2Cor 3,18; 2Cor 4,7), o papa Clemente I (88-97) apresenta a graça como:
· Dons de Deus;
· Vida imortal;
· Esplendor em justiça;
· Santificação.
Apresentamos a seguir uma divisão cronológica da noção de graça para a Igreja através dos séculos:
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93-97
Na Carta aos Coríntios, temos os benefícios de Deus pela criação e ressurreição dos corpos. A justificação vem da fé, e não das pretensões humanas;
Início do século II
Na Didaquê, temos o conceito abrangente de salvação: pessoal e comunitário;
150
O pastor de Hermas a expressa como sendo “a misericórdia do Senhor, cujo dom maravilhoso é o Espírito dado aos penitentes”;
Século II
Na carta a Diogneto, fala-se da consciência de santidade dos cristãos, cuja nova justiça é alcançada por Cristo para nós;
100-165
Justino centraliza a plenitude do Logos em Jesus Cristo, sabedoria e conhecimento para a humanidade;
130-202
Irineu de Lyon afirma um único plano de salvação e uma única revelação: o Deus uno é Pai de Jesus Cristo, o novo Adão, que renova a criação. A Igreja é o lugar específico da graça, pela qual a imagem da criatura espiritual é elevada por Jesus Cristo para realizar à semelhança de Deus, imagem que é renovada em seu ser;
170-235
Hipólito Romano destaca a imortalidade e divinização que a graça realiza no caminho entre imagem e semelhança;
354-430
Agostinho declara a impotência humana para elevar-se. Origem em Deus e anterior à intenção e decisão do homem, a salvação predestina a humanidade para o céu (Rm 8,29). Todos têm a graça suficiente (1Tm 2,4), dom livre de Deus. Movida pelo amor, a vontade tende para o bem através da ação do Espírito Santo;
1274
Para Tomás de Aquino, a graça começa com o Criador no paraíso, antes da Encarnação e da Redenção, assumindo a humanidade em sua íntima realidade e elevando-a à participação da graça divina (graça não criada). Sendo o próprio Deus mistério e conteúdo da graça não criada, dom que se dá a nós (2Pd 1,3-4) e que leva a cada um a participar de si e com o próximo de maneira nova, transforma-nos pela sua habitação em nós, fazendo-nos participantes de sua vida. Em Tomás, a predestinação acentua mais a liberdade do homem e diz que é essencialmente mistério que ultrapassa a nossa compreensão.
O nominalismo, ao questionar a relação das coisas com a verdade, elabora três conceitos:
· A incapacidade humana para o bem pela permanência da concupiscência após o batismo;
· A graça como aceitação da humanidade por Deus através de Jesus Cristo, não considerando o perdão, a santificação e a deificação da pessoa humana;
· A fé enquanto confiança do pecador em relação à Escritura. Assim, diminui a ênfase da graça habitual, dissolvendo a relação entre natureza e graça.
Lutero (1483-1546), sem exaltar a inabitação do Espírito Santo, afirma que ele produz um processo de santificação na pessoa humana. O pecado original é relacionado à concupiscência pela constância com que a pessoa humana a comete, dominando a liberdade e se incapacitando para realização de algo bom. Somente pela graça (sola gratia) e na fé (sola fidei) é que a justificação vem de Deus, imputando justiça ao pecador.
 Lutero.
Dica
A justificação é essencialmente um juízo de Deus através da justiça de Cristo: ao olhar para si, a pessoa humana é sempre pecadora; ao olhar para Deus, é sem pecado – não possui a graça, e a justificação se completa somente no juízo final.
O Concílio de Trento (1545-1563) afirma que a concupiscência não é pecado, e sim teste da fidelidade, sendo o pecado original vencido unicamente pelos méritos de Cristo. A natureza humana não alcança por si a graça; mesmo ferida pelo pecado original, ela não é totalmente corrompida.
A graça é dom e antecede a iniciativa humana, movida por Deus a colaborar livremente, embora possa ser negada. Já a justificação perdoa só o pecado como também santifica a pessoa humana. As boas obras não são a causa da graça, mas com ela a fazem crescer.
Podemos verificar um encontro dessas posições na constituição Lumen Gentium 16 do Concílio Vaticano II:
Nem a divina Providência nega os auxílios necessários à salvação àqueles que, sem culpa, não chegaram ainda ao conhecimento explícito de Deus e se esforçam, não sem o auxílio da graça, por levar uma vida reta. Tudo o que de bom e verdadeiro neles há, é considerado pela Igreja como preparação para receberem o Evangelho, dado por Aquele que ilumina todos os homens, para que possuam finalmente a vida.
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Justificação
Doutrina desenvolvida pela Reforma, a justificação pela fé é a salvação do pecador em sua apresentação a Deus, considerado justo e salvo da ira divina. Envolve três aspectos:
· Perdão ou remissão dos pecados;
· Restauração do favor de Deus;
·Imputação da justiça de Cristo.
Regeneração
Regeneração é uma doutrina relacionada á justificação que envolve a vida interior e a resposta do pecador ao chamado à conversão. É concernente à nova realidade espiritual, com identificação na morte de Cristo através do Batismo, apresentando aspectos de:
· Novo nascimento (Jo 1,12-13);
· Purificação (Tt 3,5);
· Vivificação (Ef 4,24);
· Nova criação (2Cor 5,17);
· Ressurreição (Rm 6,2-7).
A regeneração torna filho de Deus aquele que crê, podendo chamá-lo de Pai por se tornar herdeiro (Rm 8,16-17) e participante da natureza divina (2Pd 1,4), modificando-se (1Jo 3,14) em amor pela Palavra (1Pd 2,2) e pelos inimigos (Mt 5,44).
Santificação
Tt 3,5-7; Rm 5,5 e 1Cor 3,16-17 são versículos que sinalizam a santificação, processo que nos torna participantes em Jesus Cristo (Jo 15,1-8), conformando-nos a Ele através da ação da graça (Gl 3,27; Rm 6,2-12) no agir e no sofrer (Mt 10,38; 1Pd 1,3.23; Ef 1,13s; 1Jo 3,1s).
A habitação em nós da graça divina nos eleva a novas criaturas (Gl 6,15). É um início de vida entre a humanidade e a Trindade (At 2,38; Hb 2,4; Gl 3,2.5). O Espírito torna plena a salvação de Deus em nós (Jo 5,24; Gl 5,22-25; 1Jo 5,12).
Glorificação
A glorificação é o momento culminante da obra redentora de Deus em que o retorno glorioso de Jesus revelará a que glória a humanidade é chamada e libertará a criação (Rm 8,20-21).
Iniciada na ressurreição de Cristo, a glorificação segue pelo Batismo, quando morremos e renascemos em Cristo (Rm 6,8), culminando na entrada dos santos na glória de Deus (1Cor 15). A pessoa toda é glorificada, o que inclui o corpo, coparticipante da natureza divina (2Pd 1,11).
Herdeiros do Reino (Tg 2,5; Ap 22,5), seremos também herdeiros de sua glória (Rm 8,17-19).
Atividade
1. No Credo Apostólico, a Igreja é caracterizada através de 4 notas: (a) una, (b) santa, (c) católica e (d) apostólica. Correlacione o sentido de cada nota:
(     ) O Espírito age através dos pecadores da Igreja.
(     ) A doutrina cristã é desenvolvida a partir dos primeiros testemunhos.
(     ) A Igreja é o Corpo de Cristo, da qual cada um é membro.
(     ) A universalidade é característica da Igreja.
Gabarito
2. O conceito de pecado original é muito debatido na Teologia, com posições definidas que envolvem a concupiscência enquanto impedimento ou dificultador do bem. Aqui temos a relação entre natureza e graça, bem como o modo como nos relacionamos com Deus. Esses pontos definem posições e desenvolvimentos. Como ponto em comum, temos a nossa incapacidade para sermos melhores sem o auxílio da graça. Também podemos dizer que a vida em comunidade tanto é um desafio como um lugar de encontro para nossos dramas comuns em que podemos nos auxiliar.
Enumere três questões que podemos aprender na convivência fraterna em nossa comunidade.
Gabarito
Créditos
Redator: Bernardo Monteiro
Designer Instrucional: Simone Teles
Web Designer: Lerik Lopes
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