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CRISTOLOGIA

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CRISTOLOGIA
A Cristologia é o tratado teológico que explica e motiva a confissão de fé: «Jesus é o Cristo, o Filho de Deus (Mt 16,16; Jo 20,31; 1 Jo 2,22; At 9,22) mediante a narração dos fatos da sua vida pessoal (facta) e a exposição da sua verdade universal (logos). Três palavras indicam o objeto específico da cristologia: Jesus, ou seja, a realidade histórica a qual este nome reenvia; Messias –Cristo, ou seja a sua relação de Salvador dos homens na história; Filho diz respeito a relação específica que o une a Deus. Jesus Cristo é de uma parte, o fundamento e o conteúdo da fé do fiel, como aquela que o Israel se endereçava em Javé. Não apenas cremos partindo de Cristo, apoiados em Cristo, partindo de Cristo, apoiados em Cristo, a maneira de Cristo, mas cremos em Cristo. 
É esta diferença que distingue o hebraísmo do cristianismo. Cristo se põe em continuidade com o AT realizando uma particular forma de profetismo e de sapiência, vivendo à luz de Deus em um sentimento de confiança e obediência, de intimidade e alegria próprio dos daqueles que oram e dos pobres de Javé, por isso se pode falar de uma fé em Jesus. Mas a sua relação com Deus foi nova e única, ele sabia e via, por isso não lhe atribuíam a fé no sentido de adesão a isto que não se vê e que se aceita pela autoridade de quem o diz. A ruptura com Jesus a respeito do seu ambiente religioso e a rejeição da sua pessoa por parte do povo encontram razão naquela identificação dinâmica e pessoal de Cristo com Deus que a consciência cristã explicitará depois nos séculos como filiação e consubstancialidade. A esta realidade filial e divina de Cristo o cristão responde com a fé.
I. O ponto de partida
O ponto de partida e da referência constante da Cristologia é a história pessoal de Jesus Cristo. Essa compreende a mensagem, as ações e o destino de uma pessoa que vive em total obediência ao Pai e junto na aceitação das decisões dos homens em relação a ele.
Deus respeitando a liberdade do seu Filho, Deus não impõe de fora, mas de dentro, doando-nos a existência, tornando possível a liberdade, chamando a uma história. Cristo aceita e corresponde a este envio-mandato do Pai. Cristo realiza no mundo a missão no quadro de uma situação determinada dos homens: ambas as realidades, aquela eterna e aquela temporal, configurando a sua missão. Ele acolheu como próprio destino a condição humana, com tudo isso que essa comporta como graça e como pecado, como possibilidade e como limite.
O conteúdo da cristologia é o ser, o tempo, o fazer, o sofrer, a vida e a morte de Cristo, isto que Deus e os homens fizeram com ele, e isto que ele fez diante de Deus pelos homens. Conteúdos primários da cristologia são o destino, a doutrina, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.
 A história pessoal tem uma dimensão externa e uma interna; para conhecer a fundo a segunda ocorre conhecer a primeira e vice-versa. Os fatos visíveis servem de sinais para alcançar a consciência, a qual se exprime indiretamente através das obras. Uma pessoa revela a si mesma antes de tudo com o seu modo de viver. E como para o homem se dá uma dupla possibilidade de conhecer a Deus – enquanto é causa (origem e fim do homem) e enquanto revela a própria intimidade (revelação sobrenatural). Assim existem 2 modos de atingir a consciência de Jesus. Ou se pode ver do externo como um personagem hebreu que está na origem do cristianismo; ou se pode ver do interno da sua auto-revelação, acolhida na fé.
 A cristologia se propõe em compreender a pessoa de Cristo, a qual, igualmente a cada pessoa humana é história e transcende a história. Todos vivemos em um tempo e em um lugar, mas somos também abertos ao Eterno, disponibilidade e exercício de uma dimensão transcendente (inteligência e liberdade) de fronte do Absoluto. Ocorre passar da história de Cristo a consciência de Cristo. Sabemos que depois de ter analisado as suas ações, a sua mensagem, o destino a qual se submeteu, o seu influxo sobre a história, mas o conheceremos sobretudo acolhendo a revelação da sua identidade profunda, aderindo a sua autoconsciência. História e consciência, vida e destino, palavras e obras de Cristo – quais elementos constitutivos de sua pessoa – são objeto da cristologia. O objetivo último da cristologia é conhecer e compartilhar a consciência pessoal de Cristo.
II. O Objeto
A cristologia explora a realidade de Cristo, a qual envolve Deus, o homem e o mundo. A profissão de fé cristológica põe Cristo em relação como Deus, como Filho eterno. A realidade trinitária funda a da criação e o senso da encarnação. Encarnando-se o Filho revela o Pai e o Espírito, e os arrasta na própria história humana. Deste modo, a realidade trinitária, constitutiva de Cristo, funda a história e o conteúdo do projeto salvífico. A patrística grega usa dois termos para descrever o objeto da cristologia: Teologia (ralação eterna de Cristo com Deus: Trindade) e economia (ação de Cristo no tempo para a salvação dos homens: encarnação).
A consciência de Cristo supõe que se conheça a sua origem e a sua relação com Deus e no mesmo tempo o projeto de salvação que Deus ligou ao seu destino. O ser de Deus e a história do homem são os elementos constitutivos do ser e do destino de Cristo este destino é a chave para compreender o ser de Deus e o seu destino salvífico é também a chave para compreender o nosso destino de homens.
A Igreja primitiva colocou Cristo no horizonte da vida trinitária e leu a história como história de Deus a partir do Pai e do Espírito Santo. A encarnação é o dom do Pai realizado pelo Espírito Santo, o qual prepara e acompanha a inserção temporal de Cristo no mundo. A história de Cristo, é, portanto, realização salvífica do Deus trinitário, ou seja, do Pai que opera em Cristo mediante o Espírito. A Cristologia deve ser apresentada como a conjunção em Cristo do ser de Deus (teologia) e do tempo do homem (economia). Se isto não se verifica, Jesus vem reduzido a um puro evento hebraico ou a um mito universal, um símbolo, um conto de fadas, um folclore.
A confissão de fé da Igreja une indissoluvelmente a pessoa e a obra de Cristo. No sentido mais específico, definimos cristologia o estudo da Pessoa e soteriologia o estudo das obras salvíficas (serviço, ministério).
A pessoa de Cristo é constituída da sua relação eterna com o Pai e com o Espírito, da sua missão salvífica e da sua condição terrena em um tempo e um lugar. São três momento inseparáveis: o em si de Cristo, o para mim, o lá e agora. Não existe um ouro Cristo se não aquele que o Verbo encarnado para uma missão salvífica, realizada em um lugar específico e destinada a todos os homens. Cristo traz aos homens, na sua história, isto que ele é: o seu ser Filho, universalizado e interiorizado pelo Espírito para atraí-los a vida trinitária este seu ser-em-si que é ao mesmo tempo ser-para-mim. É portanto impossível objetivar a realidade de Cristo fazendo abstração do seu significado para nós; como não se pode pensar em sua função para nós abstraindo da sua condição de Filho Unigênito do Pai e Primogênito entre os homens.
a. Paulo Gl 4,4-6: “Quando, porém, chegou a plenitude do tempo enviou Deus o seu Filho, nascido de mulher [ghenménon ek ghinaikós], nascido sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial. E, porque sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito que clama: Aba, Pai! ”. Neste texto podemos ver dois aspectos relevantes: a divindade de Cristo e a maternidade de Maria. 
A divindade de Cristo: Este texto está inserido naquilo que os biblistas chamam esquema de envio, onde neles se percebe que o autor afirma que Deus, o Pai envia o seu Filho, se o Filho é enviado por Deus significa que em Deus desde o princípio é preexistente. O Cristo é desde toda eternidade o Verbo do Pai, gerado não criado e consubstancial ao Pai, existindo desde toda eternidade em relação trinitária ad intra
 com o Pai e o Espírito. Alguns outros textos do NT seguem foram elaborados neste esquema de envio (Gl 4,4; Rm 8,3-4; Jô 3,16; I Jo 4,9). Nestes textos se fala que Deus(Pai) é ele que envia o seu próprio Filho. Isso supõe que o Filho enviado por Deus seja preexistente como filho do Pai (A. Serra, 1995, 776).
Segundo S Tomás de Aquino existe a processão do enviado a respeito daquele que o envia. O fato, portanto que Deus Pai tenha enviado ao mundo o Filho (geração) e o Espírito Santo (spiratio) nos mostra que estes vem de Deus. São enviados pelo Deus Pai ao nosso mundo, mas com esta vinda vimos a conhecer que procedem de Deus, mesmo que o seu mesmo ser (mesma substância divina), é diverso de como eles se revelam as criaturas. A própria missão divina da Trindade nos conduz diretamente a questão da origem em Deus mesmo do Filho e d Espírito Santo, a geração do Filho e a processão do Espírito. No vocabulário teológico tradicional se fala das processões divinas que tem no Pai o seu princípio último. A processão do Verbo se chama geração, porque acontece com uma ação inteligível, e a concepção do intelecto é a semelhança da coisa objeto da intelecção; esta concepção existe na natureza divina, porque em Deus o compreender e ser equivalem.
Quando Paulo fala de Jesus Cristo como filho do Pai, ele usa este vocativo em sentido pleno, Paulo teu a convicção da divindade de Cristo. A convicção profunda iluminada pelo Espírito de Deus, que Jesus é perfeito homem, mas Nele também habita a plenitude de toda divindade. Para Paulo, Jesus é Deus em sentido pleno. “Por meio dele, na verdade, nós também nos tornamos filhos de Deus, em virtude do Espírito Santo, que é o Espírito Santo de Jesus (cf. 2 Ts 2,8; 2 Cor 3,17b; Gl 4,6; Rm 8,9; Fl 1,9). E, por conseguinte, depois que nos tornamos “Filhos no Filho”, podemos invocar Deus com nome inefável de Pai” (A. Serra, 1995, 776).
III. O lugar
Onde se encontra Cristo e onde encontramos as condições objetivas para conhecê-lo? Falamos de lugar temporal (história do mundo) e de lugar eterno de Cristo (Deus em seu plano de salvação), mas se trata sempre de realidade remota e longe da nossa percepção. Qual é portanto o lugar próximo onde se torna possível e no traz o conhecimento de Jesus Cristo? O encontramos nos escritos e nos monumentos que falam de sua existência, mas é sobretudo presente na pessoas que crêem nele e o testemunham vivente e o oferecem aos outros como Salvador (a Igreja) a fé em Cristo não perdurou na história em força de pura recordação de fatos passados, da simples descrição de sua figura, do significado de sua doutrina ou da exemplaridade de sua vida, mas pela fé dos cristãos nele como o Vivente. A fé nos foi transmitida mediante o testemunho e a vida daqueles que creram e como tantas pequenas chamas acendem as outras. Os cristãos indivíduos e comunidade são a mediação necessária a fim de que Cristo possa começar a existir em mim, de mim e pó. O cristianismo não sucede a si mesmo, mas nasce em cada geração, com cada novo crente. Cada batizado é o ponto de chagada de uma história de fé e por sua vez se torna princípio absoluto. Cristo faz dele um novo homem, ele morre para si mesmo e nasce para Cristo, ele já não se pertence a si mesmo mas pertence a Cristo, aquele que foi sepultado em Cristo pelo batismo participa da plenitude da sua ressurreição. A Igreja antes de ser local de testemunho exterior, é local da presença pessoal e do realizar-se comunitário de Cristo. A Igreja realiza si mesma na Eucaristia, através os sinais, as palavras, o gestos realizados por Cristo na noite da traição, qual expressão expressa o seu livre entregar-se através da sua Pessoa presente, reconhecendo-o “cabeça do Corpo” dos crentes, através o apóstolo que confirma a vontade soberana de Cristo, geração depois geração; através o Espírito que ilumina o coração e harmonia a vontade e intelecto no homem; através de todos os seres humanos para os quais Cristo é morto,orientando-se para o futuro que dará comprimento a redenção da inteira criação.
A liturgia atualiza as realidades constitutivas do cristianismo, dos quais a Bíblia é como que portavoz. Sem a liturgia a Bíblia seria uma realidade vazia e sem eficácia, sem a Bíblia, permaneceria cega, sem interpretação e sem inteligibilidade. 
IV. O sujeito
 O sujeito da Cristologia, enquanto ciência teológica é o mesmo da fé: a Igreja como corpo de Cristo, animada pelo seu Espírito, investida da sua mesma missão, fortificada com as graças pessoais e os carismas de edificação comunitária de cada um dos seus membros. A Igreja é o sujeito originário e englobante no qual cada um recebe a fé e vem a essa configurado respondendo aos seus dinamismos intelectivos e volitivos.
Como cada ser humano não vive na solidão, mas nasce e cresce como membro da sociedade e da Igreja, assim o teólogo, mesmo que faça teologia pessoalmente, opera como membro da comunidade crente, da qual atinge a realidade vital crida e através a qual se acrescenta integralmente a tradição perceptiva e interpretativa de Cristo a unidade e a pluralidade da cristologia longo aos séculos é motivada pelo mistério mesmo de Cristo.
Ele de fato, sendo a plenitude de Deus e reconciliador da realidade universal, foge a possibilidade de compreensão de cada indivíduo como de cada época singular somente a fé global da Igreja está em grau de colher e exprimir a realidade global de Cristo.
A unidade da Igreja originou a unidade do cânon das Sagradas Escrituras e tornou possível a convergência dos dogmas favorecendo um crescimento na compreensão de Cristo que integra a unidade do mistério crido com a diversidade de perspectivas das quais os homens escutam e o explicam.
V. O método
Os métodos da cristologia podem ser diferentes. Cada autor pode partir de um particular aspecto da história e do mistério de Jesus Cristo, mas deve depois dá razões de todos os outros aspectos e explicar a conexão interna.
Cada geração de estudiosos e cada escola teológica evidenciará de preferência a origem de Cristo por parte de Deus, ou mesmo, a sua conaturalidade com os homens; a sua condição de Filho encarnado por amor ou a sua solidariedade com o ser humano e com o seu destino assinalado pelo pecado; a sua capacidade de transformar o presente ou a sua abertura ao futuro, mostrando um Deus que reconcilia e ressuscita o homem; a sua personalidade hebréia ou a sua qualidade de cabeça da Igreja. Pode-se começar a falar de Cristo sobre a base do que aconteceu nos dias de João Batista até quando ele subiu aos céus (At 1,22), para alcançar a analisar que coisa Cristo significa hoje para a Igreja e para a humanidade.
Pode-se, porém seguir o caminho contrário: do encontro pessoal com Jesus que a fé torna possível hoje, retroceder a história de Cristo para colher a origem e o fundamento.
A cristologia posterior adotou os percursos já oferecidos já no NT: aquele ascendente e aquele descendente. Neste senso, a exegese e a dogmática procedem paralelamente. Um exemplo de cristologia ascendente, aquela que parte da historicidade de Jesus, passando por sua vida e da experiência vivida dos apóstolos inclusive do evento singular da ressurreição. Uma cristologia descendente parte ao invés do mistério trinitário. O ponto de partida é a encarnação e só depois que vem a história concreta de Jesus Cristo, com tudo isto que esta nos revela sua origem, a sua missão redentora, suas relações com o Pai e como Espírito, o prólogo joanino é um exemplo forte de uma cristologia descendente. 
Exemplo de Cristologia ascendente os sinóticos, vejamos: O Evangelho de Marcos se abre com a aparição pública de Jesus, prossegue mostrando o pregador do Reino, taumaturgo e na cruz, um centurião romano (pagão) diante do que tinha assistido e testemunhado, ele proclama: «Verdadeiramente este homem era filho de Deus» (Mc 15,39), e o Evangelho se fecha com a ressurreição. Mateus e Lucas, com algumas divergências em relação a cronologia, aparecem as bases do AT e os títulos atribuídos, seguem o mesmo percurso: acompanham Jesus no seu subir a Jerusalém, na relação com Deus, no seu manifestar-se antes como Messias (milagres) e depois como Senhor (ressurreição). O agir de Deus em relação ao Cristose exprime em três eventos basilares: concepção, batismo, ressurreição, que o NT pode sintetizar à luz do Salmo: «Tu és meu filho, eu hoje te gerei» (Sl 2,7; cf. At 13,33; Hb 1,5; 5,5; Lc 3,22; Rm 1,4). Esses são integrados com os temas do seu crescimento, da sua missão, da sua consciência, da confirmação de suas ações e obras por parte de Deus.
Se nós tivéssemos a disposição somente os três evangelhos sinóticos, poderíamos chegar a conclusão que Jesus Cristo foi um homem considerado favorito, predileto por Deus, adotado como filho, divinizado por uma intervenção que mudou a sua natureza de homem hebreu. Mas o NT nos oferece também uma outra visão de Cristo: ele vive desde sempre no seio do Pai; é o Logos feito carne, e ele plantou a sua tenda em nosso meio (Jo 1,1-14); ele é o Filho enviado pelo Pai a solidariamente experimentou a morte daqueles que estavam subjugados pelo pecado, e assim destruir o pecado (Rm 8,3-4); existindo dede sempre na condição de Deus, assumiu e revestiu-se da condição de escavo (Kenosis de Cristo – Fl 2,6-11); veio depois dos profetas que tinham falado de Deus, Ele revelou Deus de modo definitivo, sendo Filho, «Ele é o resplendor de sua glória e a expressão do seu ser, imagem de sua substância, sustenta o universo com o poder de sua palavra» (Hb 1,3). Estes testemunhos não são cronologicamente posteriores aquelas dos Evangelhos; as cartas aos filipenses e aos romanos contém uma cristologia descendente e incarnativa que é anterior de qualquer decênio as contos evangélicos.
Se nós tivéssemos a disposição somente estes escritos cujo o centro está no paradoxo do Filho eterno e glorioso que quis emergir em nossa temporalidade, em assumir a nossa história – poderíamos cair na tentação do monofisismo ou do docetismo: Cristo seria um ser eterno que, sem abandonar a natureza divina, apareceu no mundo simplesmente revestido da natureza humana, utilizada como um instrumento em vista de um objetivo, sem consistência própria e portanto destinada a se dissolver. Em verdade, porém, o Eterno se identificou como crucificado, o Filho de Deus se identificou com Jesus, o homem real da nossa história, Jesus de Nazaré verdadeiramente homem, verdadeiramente Deus sem confusão, nem mistura.
A unidade do NT constringe a estabelecer a conexão entre estas duas perspectivas cristológicas. A acentuação pedagógica contemporânea tende para o método ascendente, genético e progressivo, que inicia indagando sobre as primeira expressões teóricas da fé em Cristo, sobre comunidades nas quais teve origem e sobre as categorias utilizadas. Se quer percorrer o caminho da fé feito desde os primeiros discípulos e pela Igreja das origens. O ponto de partida deste método é a história de Jesus; porém, uma coisa é a história real de Jesus Cristo, outra coisa é a história da fé nele. A fé começa com a ressurreição, enquanto a história de Jesus começa trinta anos antes. Além disto, este método tende, segundo autores, para uma dupla compreensão: progressiva ou evolutiva.
A concepção progressiva sustém que já na origem existem afirmações bíblicas e experiências eclesiais (abbá, Kyrios, culto...) contém já em germes a realidade que será explicitada com maior clareza conceitual nas afirmações teológicas posteriores.
A concepção evolutiva (Baur, Bousset, Escola da história das religiões) retém invés que aconteceu uma criação de realidade: Jesus /Messias da compreensão hebraica se tornou existente com o contato com as religiões mistéricas helenísticas, uma figura divina, na qual se crê e ao qual se rende culto e se atribuíram títulos presentes também nas divindades pagãs e dos soberanos.
Existem, portanto, duas as interpretações da cristologia ascendente: uma legítima, que pega com seriedade a historicidade de Jesus, movendo-se dos fatos da sua vida ou da experiência vivida pelos apóstolos na ressurreição; e uma segunda, cristologicamente e na visão cristã inaceitável, que considera a fé viva e atual da Igreja na pessoa de Jesus Cristo como uma criação da religiosidade helenística, em descontinuidade seja com a autoconsciência do mesmo Jesus, seja com a consciência da comunidade cristã das origens.
A Cristologia descendente se move invés do mistério trinitário. O ponto de partida é a encarnação, como aparece ao fim da história de Jesus, com tudo isto que nos revela sobre sua origem, sua missão redentora, sobre suas relações com o Pai e com o Espírito. É o Espírito que forma a humanidade de Cristo no seio imaculado e virginal de Maria e depois completa a sua obra universalizando-la e interiorizando-la. Os Padres Alexandrinos (S. Atanásio e S. Cirilo de Alexandria) e depois S. Tomás de Aquino, Barth, Hans Urs Von Balthasar são os máximos expoentes da Cristologia descendente, enquanto a Escola Antioquena (Teodoro de Mopsuéstia, Teodoreto de Ciro, S. João Crisóstomo) e depois,, entre tantos outros, Pannenberg e Rahner, propõe uma Cristologia ascendente.
A este ponto se impõe uma questão prévia. Onde está a verdade sobre Cristo? Nas suas mesmíssimas palavras «ipsissima verba» e nas primeiras formulações da Igreja acompanhados de uma fé que torna louvor e que suplica, antes que a inteligência dos crentes posteriores a interprete e entenda? Ou no fim do processo da compreensão eclesial, quando podemos obter todos os elementos fundamentais? De um lado tem o mito da origem temporal, do outro lado a metafísica do princípio constitutivo. A cristologia ascendente tem a convicção de poder dá a plena razão de Cristo indagando o sue ambiente familiar, social e cultural, ou mesmo refletindo sobre as primeiras categorias e títulos com o qual a comunidade o designou quando se acendeu a centelha da fé. Considerá-se normativo, portanto, somente isto que é originário, enquanto se suspeita de tudo isto que é posterior, quase fosse uma falsificação pelas culturas longínquas do universo bíblico e estranhas a mensagem de Jesus. A tese protestante da decadência da Igreja em comparação às origens e aquela de Harnack sobre a helenização do cristianismo, apóiam sobre esta pressuposto.
A perspectiva descendente, ao contrário afirma, que não é no início cronológicoque nos revela a verdadeira identidade de Jesus, mas o princípio eterno, «possibilitante, arché». Se do final da revelação bíblica viemos a conhecer que ele era o Filho, presente junto ao Pai, quando criava o mundo, cuja vinda histórica foi preparada por séculos e séculos em meio ao povo eleito e depois realizada no seio da Santíssima Virgem Maria por obra do Espírito Santo, compreenderemos melhor a sua história. Somos portanto obrigados a nos interrogar sobre as relações do ser de Cristo com Deus anteriormente ao tempo, sobre o permanecer da humanidade mesmo depois que a encarnação chegou ao cumprimento com a morte e ressurreição; enfim, sobre sua relação com o Pai e o Espírito. Nesta perspectiva, as duas missões – encarnação do Verbo e o Envio do Espírito – aparecem coligadas em um projeto que tem a sua origem no Pai e a cuja meta é a deificação, a divinização do homem.
Cristo é inteligível somente quando descobrimos o fundamento, o fim e o conteúdo da encarnação, e a função, o lugar que nessa ocupam o Pai e o Espírito. A Trindade Santa – forma eterna do existir de Deus- é o pressuposto para entender a encarnação em continuidade com a criação e com a revelação do AT, além da sua diferença em relação a todo profetismo e a sabedoria anterior.
Cristo pertence ao ser de Deus, e com Cristo o ser de Deus pertence ao mundo. Somente assim é possível falar de auto-revelação e autodoação de Deus e de Cristo como Salvador escatológico. Somente assim o mistério de Cristo (Trindade Imanente) e a ação de Cristo por nós (Trindade econômica) coincidem. A história de Cristo é legível a partir da sua origem (geração e pertença constitutiva do ser eterno de Deus) e à luz da sua conclusão (recapitulação reconciliadora do Cosmo e a permanência eterna da sua humanidade com Deus). As relações com o Pai e o Espírito é a estrutura e o conteúdo perene da consciência de Cristo. Ele é o fim da históriacomo Filho eterno, porque está no seu início; e a história, sendo pensada por Ele e consumada por Ele, tem uma constituição ontocrística.
Depois desta opção prévia se diversificarão o ponto de partida e a realidade cristológica que se põe ao centro (princípio cristológico fundamental). Diante de uma cristologia ascendente de tipo positivístico e de uma cristologia descendente de tipo dogmático, ocorre recordar que o centro do NT está além: a ressurreição como evento constitutivo de Jesus qual Messias, Senhor e Filho, seguida da transformação dos discípulos em suas testemunhas, missionários dos kerygma,
O núcleo das cristologias primitivas é o binômio morte/ressurreição; o conteúdo das primeiras confissões de fé cristológicas é a identidade do morto e do ressuscitado (identidade entre o Jesus histórico e o Cristo da fé), identidade entre aquele que foi rejeitado pelo homens, mas creditado por Deus. Aquele Jesus que nos foi dado como Messias e Senhor: quem o confessa com a sua boca e crê no seu coração será salvo (At 2,36; Rm 10,9). 
O Mistério Pascal – que retoma e resume a história antecedente de Jesus e a antecipa é a experiência sucessiva do Espírito na Igreja – é o constante ponto de partida e de verificação de cada cristologia; é o seu centro e critério de inteligibilidade. Todo o resto é fundamento metafísico (Trindade, encarnação), preparação histórica (História de Israel, ministério público de Jesus), eficácia salvífica (perdão dos pecados, divinização, vida da Igreja).
Em relação com esta cristologia, que tem como centro o mistério pascal, as outras duas se situam aos extremos: uma põe o princípio e o fim da inteligibilidade da Cristologia na história de Jesus; a outra, a cristologia descendente o põe na Trindade.
A primeira risca de se tornar Jesuologia (cristologia ascendente); a segunda de permanecer na ordem transcendente, sem levar a sério a hebraicidade de Jesus (constitutiva da sua Pessoa) e a sua vida humana com todas as suas determinações familiares, sociais e psicológicas. São estas enfim, as duas categorias a partir do qual se elaboram a cristologia ascendente e aquela descendente.
Os primeiros movimentos do hebreu Jesus, que com o anúncio do Reino deu início a um ação libertadora, entrou em confronto com a situação social, religiosa, acendeu os ideais de fraternidade humana, oferecendo curas, milagres, integração e esperança. Tudo isto que vem depois é a confirmação desta mensagem teórica e da ação história conseqüente. A morte significou a rejeição humana desta vontade; a ressurreição foi a sua confirmação divina. Esta cristologia acentua menos o conteúdo salvífico e a ruptura inovadora seja da morte que da ressurreição.
A cristologia descendente move da realidade trinitária de Deus e colhe Cristo à luz da encarnação. Em Cristo encontramos do Deus feito homem, assimilado ao nosso mundo, por meio dele somos sustentados na nossa limitação e libertados do pecado, tendo ele assumido e enfrentado a morte por nós, nos resgatou do seu poder. A encarnação é a divinização e juntamente redenção: de fato, a fim de que o homem alcançasse o fim pelo qual Deus o havia criado (participação à sua vida divina), foi necessária refazer a criação corrompida pelo pecado.
Esta cristologia propõe a ver concentrado e quase «consumado», o significado de Jesus Cristo no momento da encarnação, como união de Deus com o mundo; é tentada ver a sua morte exclusivamente sob categoria de satisfação pelo pecado; é quase incapaz de ver na ressurreição um valor salvífico. Mais preocupada com a interpretação ontológica da encarnação – como é possível que Deus seja homem e que o homem seja Deus; como podem está juntos, sem confundir-se, Criador com criatura?, tem uma menor sensibilidade pela história. Ocorre todavia recordar a elaboração sistemática mais coerente de uma cristologia descendente a parte III da Summa Theologiae de S. Tomás de Aquino – inclui um amplo tratado sobre os mistérios da vida de Cristo, vistos como ações e paixões por nossa salvação
.
O nosso curso de Cristologia quer estudar e aprofundar a pessoa de Jesus Cristo: a sua história, a sua pessoa e a sua missão (cf. OT 14).
VI. Objetivos primários da Cristologia
Principais problemas que a Cristologia deve esclarecer hoje, são os seguintes:
1. Singular relação de Jesus com Deus como Pai; 2. Unidade com o Pai no Espírito Santo; 3. Relação de Cristo com todos os homens e mulheres; 4. Cristo e o significado da realidade; 5. Cristo e o mal.
1. Singular relação de Jesus com Deus como Pai – não pode ser outro que este o ponto de partida de toda Cristologia. A oração, a obediência filial e a dedicação até ao extremo da missão recebida, vividas em reciprocidade de consciência, amor, autoridade, juízo, são os pontos de união entre o dogma com a história.
As sucessivas afirmações conciliares dever ser coligadas com a realidade vivida de Jesus de Nazaré, e a consciência da Igreja deve se colocar em continuidade com a sua consciência histórica. Disto se revela a novidade, a originalidade e o caráter absoluto de Cristo, junto a sabedoria e o profetismo; e ao mesmo tempo, se colhe como a fé cristológica não seja uma negação do monoteísmo, mas sobretudo, a sua radicalização personalizante. Cristo realizou na própria humanidade a presença absoluta de Deus e afirmou a sua relação intrínseca com ele, enquanto Pai. Sobre esta base vão ilustrados os temas clássicos da divindade, da consubstancialidade e da pré-existência.
2. Unidade com o Pai no Espírito Santo – A história de Jesus inicia com a sua designação messiânica por parte de Deus no momento do batismo nas águas do rio Jordão. A unção com o Espírito Santo qualifica a humanidade de Jesus para o anúncio do Reino de Deus, com poder para cumprir milagres, prodígios, curas (como aconteceu com Moisés), e portanto de ser reconhecido como profeta.
No poder do Espírito Santo Jesus faz milagres, se oferece ao Pai na cruz, leva a perfeição, ao cumprimento o seu destino. Ocorre, portanto esclarecer o nexo entre a morte de Jesus, a ação do Espírito Santo e as implicações do Pai no sacrifício do Filho. Alguns autores no quadro da teologia kenótica (Hegel, Moltmann, Jüngel, Evdokimov, Balthasar, Dürrwell) buscaram estabelecer uma conexão entre a realização trinitária de Deus e a morte de Cristo. Uma função central na morte de Cristo e sua relação com a Trindade teve o Espírito Santo, já que, o mesmo Deus imutável teria sofrido. Alguém chegou a afirmar que o Deus trinitário seria se seria constituído na morte de Cristo e que a história faria parte do ser de Deus.
Aqui está em jogo um problema real, mas certa reflexão teológica atual faz eco a gnose. Tratá-se de uma dialética inaceitável à luz da criação e da aliança; enquanto no NT em nenhum caso é indicada expressamente uma relação constitutiva do mistério trinitário, e em particular do Espírito Santo, com a morte de Cristo. A exigência pneumatologia cruz deve então encontrar o seu fundamento.
3. Relação de Cristo com todos os homens – A afirmação da salvação universal em Cristo supõe que o seu destino determine em antecipação todos os homens, independente de sua pessoal decisão. Como entender esta participação no destino de Cristo, da íntima liberdade do homem, como se alguma coisa se pudesse decidir a essa? Faz-se recurso as categorias da personalidade corporativa e da substituição, a categoria moral da solidariedade é insuficiente.
Qual relação pode haver entre um homem e os outros, e qual peculiar ligação de destino e de ser se pode estabelecer entre Cristo e nós, fazendo que o valor da sua vida se possa se tornar o nosso, sem que isto se reduza a um apura imputação externa, e sem que se tenha de agredir a profunda convicção do homem moderno a respeito do seu ser insubstituível? Kant afirma que o homem jamais pode ser considerado um meio, mas sempre como fim, e que não é em algum modo substituível. Heidegger acrescenta: «Nenhum morre pelo outro» como conciliar, portanto, com esta concepção antropológica centrada sobre a autonomia dosujeito, o significado universal da redenção operada por Cristo?
A linha antropológica, que vai de Kant e chega até Rahner e se alinha com a idéia de alteridade, representação e responsabilidade em relação ao outro, e sobre o conceito de ser em relação e em-carregado do próximo. Cristo realizou ao máximo grau a exigência constitutiva de cada homem, já expressa em Gn 4,9: ser responsável do irmão, seu protetor e não seu dominador, encarregando do seu destino.
O outro vai considerado como verdadeiro próximo e não como possível inimigo; as relação em relação a ele deve ser de pró-existência e não de contra-existência. Morrendo por nós Cristo nos revelou um homem novo, que não vive egoisticamente para a própria afirmação ou autonomia, mas que se destaca por si, se ocupa dos outros e perdendo a própria vida, a salva (Mc 8,35-36).
Jacobi, Dostoëvskij, Buber, Lévinas, Schürmann, Balthasar... traçaram esta nova linha de compreensão do homem, que reflete a pleno o destino de Cristo. A cristologia tornou possível uma nova antropologia, e esta por sua vez abre o caminho de uma mais significativa compreensão de Cristo.
4. Cristo e o significado da realidade – Porque a Cristologia deve ser presente na história, ao seu centro está a figura concreta de Jesus, apresentada na história e decifrada por uma cristologia narrativa e hermenêutica. Tudo isto porém não é ainda insuficiente. Cristo não pode ser compreendido e aceitado como salvação real e complexivo do homem, se não se mostra o seu significado para todas aquelas ordens nos quais o homem se realiza: Deus, cosmo, humanidade pessoal, próximo, futuro, ser. Daqui surge a necessidade de evidenciar o lugar ocupado por Cristo na criação, a sua presença na constituição do ser humano, ao seu envolvimento em Deus e a participação de Deus nele. A cristologia atual, para ser válida e poder dá respostas as questões últimas, deve implicar a teologia, a antropologia e a metafísica. Da pessoa de Cristo deve aparecer:
- que a origem do ser é o amor;
- que a realidade merece confiança;
Que o futuro é a promessa de reconciliação e aperfeiçoamento, não abismo de ameaçadora incerteza;
- que a íntima natureza do homem é cristicamente configurada: fundada Nele, conformada a Ele, destinada a encontrar Nele a própria plenitude (cf. Cl 1,16-20).
5. Cristo e o mal – Jesus se encontrou historicamente em contato com todo gênero de mal: físicos, morais, sociais, espirituais. Já que na raiz de todos os males está o mal pessoal, que como afirma o catecismo da Igreja católica, é um mal pessoal e não abstração, chamada Diabo, demônio ou Satanás.
Os seus gestos de cura e de misericórdia devem ser situados diante ao problema fundamental: o mal no mundo, o mal radical, a alienação pessoal, o poder violento, a marginalização social, a solidão extrema.
É sobre este contexto que é necessário compreender a sua morte, na qual Cristo, igualmente com cada homem, aceita a sua condição criatural e reconhece a Deus e a soberania do seu ser. Diante deste desafio supremo ele exercita no máximo grau a sua liberdade, realiza a sua filiação e entrega a vida como súplica de intercessão e de solidariedade fraterna com todos os homens pecadores. O pecado não é somente uma condição moral, que pode ser corrigida e superada, mas um poder que ameaça a realidade mesma, dominando-la e criando caos em relação da sua origem e do seu destino.
Isso vai debelado como se faz com uma força violenta ou um inimigo cruel. Revelando o amor como poder supremo, Cristo Jesus vence o pecado e a morte mediante a própria liberdade entregue à morte (salário e conseqüência do pecado), e com o dom interior do seu Espírito. São estas as realidades que nos fazem livres, tornando possível a confiança alegre e total Nele.
Mas além do lado negativo da existência do mal, da presença de Satanás, é preciso confrontar Cristo com o seu lado positivo: a felicidade. O seu Evangelho é uma «Boa Nova», as suas bem-aventuranças projetam uma aventura magnífica: quem crê Nele entrará na vida. isto nos leva a concluir que Cristo não seja visto somente em relação com o mal, o pecado, o demônio e as nossas carências, mas sobretudo em relação com a plenitude oferecida por Deus a cada homem singular. Essencial, na vida de Cristo, é o advento do Reino de Deus, e com esse a felicidade do homem. O desmascara o mal e a vitória sobre o pecado são conseqüências. Deus é infinitamente maior do que o mal e o pecado, maior que Satanás e da morte (mal como uma partícula de átomo comparado com a infinitude do amor que supera o Universo). A ressurreição, qual definitiva vitória sobre Satanás e sobre todo o mal,sobre o pecado e sobre a morte, é a Palavra essencial, fundamental sobre Cristo.
VII. O ANÚNCIO DO REINO
7.1 João Batista
A primeira manifestação histórica/oficial de Jesus acontece no ambiente do Batista, iniciador de um movimento de conversão em vista do juízo de Deus iminente. “João Batista esteve no deserto proclamando um batismo de arrependimento para o perdão dos pecados. E ai até ele toda a região da Judéia e todos os habitantes de Jerusalém, e eram batizado por ele no rio Jordão, confessando seus pecados” (Mc 1,4-5). Ritos de abluções eram usados em várias religiões e na práxis religiosa de Israel o batismo ao qual deviam se submeter os prosélitos para entrar para fazer parte do povo eleito tinha um significado seja religioso que nacional.
Os essênios tinham incrementado os banhos de purificação em função do seu radicalismo e da distância que eles davam da religião praticada no Templo. Mas o rito da água como exercitava João Batista era um evento novo: é a passagem do ritualismo moral à conversão do coração; se implora o perdão e a salvação de Deus. fazendo-se batizar, Jesus mostra que partilha a mesma preocupação e as exortações de João diante de um acontecimento que será decisivo para todo o povo: o juízo iminente de Deus.
Não sabemos com exatidão quais as relações pessoais entre os dois, além do acontecimento do Jordão. Existe entretanto uma conexão inegável e uma inegável diferença. Esses dividem o gesto do batismo (batizar/ser batizado), a convicção de encontrar-se diante de uma hora decisiva da história (sentido escatológico), a vontade de reunir Israel para este momento supremo, o apelo a conversão interior, a tomada de distância do Templo de Jerusalém, a aproximação ao povo da terra, a exigência de justiça, a religião do coração. Mas na pregação de Jesus se exprime uma dimensão originária profética, unida a uma ruptura /novidade em respeito a João. 
7.2 Batismo de Jesus
O Batista “decide” de certo modo o destino de Jesus: ativamente lhe conferindo o batismo, passivamente, enquanto Jesus considera a sua eliminação violenta como um sinal divino para o começo da própria missão. O batismo de Jesus – como todos os outros acontecimentos onde ocorre uma comunicação entre Deus e o homem, a graça encontra a natureza e lhe vem confiada uma missão divina – é descrito com termos que recordam as Teofanias do AT, introduzem símbolos e vozes que conotam um evento salvífico.
As diferentes versões dos sinóticos acentuam o aspecto pessoal (Jesus como ator como destinatário da voz divina), ou mesmo aquele público (Jesus é apresentado aos outros com as palavras que reenviam seja a idéia messiânica do Rei entronizado, seja a imagem do Servo e do Filho amado (Mc 1,9-11; Mt 3,16-17; Lc 3,21-22; cf. Sl 2,7; Gn 22,2; Is 42,1). O Espírito realiza a conformação interior de Jesus, enquanto a voz do céu o confirma diante da multidão.
Com o batismo e a unção do Espírito tem início a progressiva constituição e qualificação messiânica do Homem Jesus (At 10,37-38). Como no trecho da anunciação se diz que o Espírito forma a sua humanidade no útero de Maria (Lc 1,35), aqui o mesmo Espírito – criador ao princípio (Gn 1,2) qualifica a sua humanidade em vista de uma missão a cumprir. A unção do Espírito será um tema chave da cristologia patrística, mas virá a ser abandonado a partir do séc. IV diante do perigo de uma compreensão adocionista de Jesus. A idéiade uma cristologia pneumática – segundo o qual Jesus um novo homem, qualificado pelo Espírito e destinado por Deus para cumprir uma missão na linha do profetismo anticotestamentário que não aquela da filiação divina única, levando assim que o evento do Batismo perdesse sua importância essencial no quadro da compreensão da pessoa e da missão de Jesus Cristo.
Todavia a sua importância é objetiva e relevante dizer que Jesus é ungido pelo Espírito significa que a ação divina configura a sua humanidade, ilumina a sua consciência, fortalece a sua vontade, conferindo-lhe autoridade para realizar a missão que recebeu. 
Estamos diante de um evento não ocasional, mas permanente e constitutivo. O Espírito desce e permanece sobre Jesus (Jo 1,3), e quando a sua humanidade, depois de passar através da morte e a ressurreição, será definitivamente assumida na vida de Deus, se transformará ela mesma em fonte, nascente do Espírito para todos (Jo 7,39). Enquanto os sinóticos acentuam a primeira perspectiva (o Espírito configura o íntimo de Jesus e o guia na missão), João afirma a permanência e a ação do Espírito desde o início e evidencia sobretudo o envio do Espírito por parte de Cristo glorificado (Jo 9,30; 20,22). Jesus é fruto do Espírito em um sentido e Senhor do Espírito em um outro (2 Cor 3,17).
O primeiro aspecto indica a historicidade, a real condição humana e a realização sucessiva de Jesus no mundo sob a ação do Espírito. O segundo indica o primado do Cristo glorificado sobre todos os seres humanos, os quais recebem a plenitude de graça e de vida através do Espírito Santo que ele doa sem limites (Jo 1,16; 3,34). Pode-se, portanto afirmar que Jesus Cristo é o homem do Espírito: aparecido na história, como ungido, movido, conduzido pelo Espírito, sai da história doando o seu Espírito (Jo 19,30) e enviando aos crentes o Espírito Santo (Jo 20,22).
7.3 Novidade de Jesus: o anúncio do Reino
Tema central e novidade da pregação de Jesus é a chegada do Reino de Deus na história humana: “veio Jesus para a Galiléia proclamando o Evangelho de Deus: ‘Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho’” (Mc 1,4-15). A idéia do Reino de Deus – “Deus Rei” é um conceito radicado nas camadas profundas do AT (Sl 145,13); Dn 2,44; 4,31) – caracteriza a inteira pregação de Jesus e serve como conexão entre a proclamação inicial e as ações posteriores, as parábolas e as bem-aventuranças, a vocação de Israel e as exigências do discipulado, os milagres, a última ceia e a morte na cruz.
A morte do Batista põe fim a uma fase da história salvífica e faz iniciar uma outra. Até agora estavam em vigor as leis e os profetas, agora começa o Reino de Deus (Lc 16,16). A ordem antiga do preceito e do juízo sucede a ordem novo da graça e do perdão. Este conteúdo salvífico consente de falar de Evangelho (boa notícia), de “Evangelho do Reino” (Mt 4,23; 9,35; 24,14).
7.4 Evento crítico
A primeira característica do anúncio do Reino é de ser um evento crítico. É o ponto culminante e um projeto de Deus, que coloca os ouvintes diante de uma situação decisiva: devem se decidir porque o momento é crítico. É tempo de graça, mas também de risco. Poderia se assistir um grande privilégio: “Felizes os olhos que vêem o que vedes! Pois eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que vós vedes, mas não o viram, ouvir o que ouvis, mas não ouviram” (Lc 10,23-24). A história de Israel alcança assim o seu cumprimento, porque isto que acontece com Jesus é o ápice do plano de Deus e a realização de suas promessas. Deus é fiel e se apresenta ao povo para fazer isto que os profetas tinham anunciado e esperado. Daqui o dúplice pedido de Jesus: “Alegrai-vos e convertei-vos”. Cada possibilidade de conquistar alguma coisa, e cada privilégio de receber em dom, comporta o risco de não reconhecê-lo e de não aceitá-lo. Por isto, a extrema oferta traz consigo uma extrema crise. O reino de Deus comporta o juízo sobre os homens. Para compreender o eco real do anúncio de Jesus ocorre reviver os anúncios proféticos sobre o Senhor que, como Rei, vem salvar o seu povo. “”.Por isto mesmo o meu povo conhecerá o meu nome, por isto mesmo saberá, naquele dia, que eu sou o que diz: Eis-me aqui. Como são belos, sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia a paz, do que proclama boas novas e anuncia a salvação, do que dia a Sião: ‘O Senhor teu Deus reina!’ (Is 52,6-7).
7.5 Basiléia, realeza, soberanidade, reino de Deus
A expressão Basiléia tou theou (melek Iahweh, malkuta Yahweh) nos conduz a experiências comuns sobre o significado o rei nas religiões do Oriente, qual o lugar importante e principal que ocupa Deus, que é o verdadeiro rei no mundo, mas sobretudo das experiências específicas com Yahweh, o Deus que fez aliança como seu povo, fazendo deste povo um “reino de sacerdotes, uma nação santa” (Ex 19,6). Enfim nos leva a uma experiência universal: a dependência do homem de um poder que o ultrapassa O homem lhe resta confiar Nele, dele se espera a reconstrução de sua vida e o perdão de suas culpas, a satisfação de seu desejo de justiça, a resposta ao seu desejo de plenitude de paz.
O termo basiléia consente várias traduções: condição real ou realiza de Deus; o seu exercício em relação aos súditos ou soberania; âmbito em que se exercita o Reino. Os dois aspectos, aquele dinâmico e aquele local são presentes na pregação de Jesus e são ilustradas nas Parábolas. Dos três significados possíveis (dignidade real, exercício da soberania, âmbito de soberanidade) aquele fundamental é o segundo, o exercício da soberania. Jesus anuncia que Deus vem exercitar concretamente sobre os homens a sua realeza, benevolência, domínio, paz, perdão, juízo, e condenação? Diversamente da mensagem de João Batista, aquele de Jesus é uma oferta incondicional de graça divina, que solicita o homem a escuta vigilante, ao acolhimento, a conversão e a fé. Por isto o Reino, além de oferta de Deus, é uma descoberta do homem, exige aceitação, vai vivida com grande privilégio ou sorte, mas deve ser conquistado, portanto é também fruto do nosso esforço.
7.6 Reino já vindo, que está para chegar, que virá
As fórmulas evangélicas oscilam no fixar com exatidão as relações do Reino com o tempo. Existem dois verbos chaves (está vizinho, próximo de vir): Mc 1,15; Mt 3,2; 4,17;10,7 e o outro verbo que significa “chegou de surpresa”, “se fez presente” (Mt 12,28; Lc 11,20). O primeiro indica proximidade e iminência, o outro exprime a chegada surpreendente. É um evento já realizado, e portanto uma presença dentro da história (escatologia realizada: Dodd)? É um projeto aberto do qual Jesus faz parte, mas que vai além dele porque inclui a sua comunidade futura e se estenderá ao universo inteiro (escatologia em realização: Jeremias, Kummel)? É um apelo pessoal contido na palavra que requer aceitação
A cristologia em alguns teólogos clássicos
5. Cristologia e outras disciplinas teológicas
. Do Jesus Histórico ao Cristo da fé
1. Fundamentos antigo-testamentário ao Mistério de Cristo (mediador real, mediador sacerdotal, mediador celeste)
2. As genealogias de Jesus
3. Os títulos de Cristo: “Quem é” o sujeito desta existência
4. A Cristologia nos sinóticos
5. A Cristologia paulina
6. A cristologia joanina (Evangelho, epistolas e Apocalipse)
II.2 Caminhada de Jesus histórico 
1. A infância e a vida oculta de Jesus
2. O batismo de Jesus
3. As tentações de Jesus
4. A pregação de Jesus
5. Os milagres de Jesus
CRISTOLOGIA – PARTE III
VIII. O EVENTO CRISTO NO NOVO TESTAMENTO
8.1 Cristologia pré-pascal
A. JESUS AS ORIGENS DA CRISTOLOGIA
O núcleo fundamental da Cristologia se origina do Jesus pré-pascal (histórico). Tudo começou com Jesus de Nazaré: isto não constitui somente o pressuposto da Teologia do NT, mas é a sua origem e fundamento. A pesquisa exegética se tornou menos cética sobre a possibilidade de se chegar, através de testemunhos evangélicos, ao Jesus histórico, convicta de atingir não só os «ipssima verba Jesus», quanto o «ipissimum Jesum». Pode-se assimdelinear um quadro global da existência de Jesus, da sua mensagem central, dos seus comportamentos característicos, da suas ações de poder, da sua morte na cruz.
Superando o ceticismo bultmanniano sobre a possibilidade de se conhecer a vida e a personalidade de Jesus – além da simples afirmação de sua existência, da pregação do reino e da sua morte – se tende a colocar sempre mais em evidência a cristologia «pré-pascal», como fundamento para a compreensão do Cristo Pascal e da mesma cristologia «pós-pascal». O Jesus pré-pascal não pertence somente a história hebraica, mas faz parte essencial do cristianismo. É verdade que o evento pascal constitui a verdadeira chave de leitura da pessoa e da obra de Cristo, mas esta pessoa e esta obra já tinha se começado a se manifestar nas vicissitudes históricas. O Jesus terreno, histórico se compreende em sua plenitude à luz da Páscoa, mas o Cristo pascal não é que o mesmo o Crucificado ressuscitado.
O Jesus pré-pascal tem de fato um intrínseco e essencial significado cristológico e soteriologico. Nele existe já a manifestação da bondade divina que se encarna e que salva. A sua vida terrena não é simples propedêutica à Páscoa. Referir-se a Ele, portanto, não significa seguir um fantasma salvificamente que não se pode confiar ou que não tem alguma influência. Ele representa invés o verdadeiro ponto de partida da cristologia. As primeiras catequeses apostólicas exprime com convicção esta ligação, como se pode constatar no discurso de Pedro em Pentecostes (cf. At 2,22-24).
A fé cristã, completamente pascal, a história pré-pascal traz uma dimensão insubstituível. O NT, portanto, mais que ser uma negação de uma cristologia pré-pascal, contém invés os eventos mais significativos: o batismo, as obras de poder, a extraordinária intimidade com o Pai, o seguimento, a paixão e morte. também na base da teologia paulina e joanina não existe um simples ponto matemático, mas as duas realidades fundamentais das vicissitudes histórico-teológica de Jesus: a sua encarnação e a sua morte na cruz. Não se pode tornar vã, e considerar cristologicamente irrelevante, a realidade histórica de Jesus pré-pascal, do momento que a sua vida terrena é «grávida de cristologia». «Enquanto anuncia o evento Cristo como acontecimento de salvação – afirma E. Lohse -, o Evangelho está indissoluvelmente unido a história de Jesus de Nazaré»
.
B. CRISTOLOGIA IMPLÍCITA OU ABERTA?
Geralmente se considera a ressurreição como a origem histórica da fé em Jesus Cristo. Se faz sempre mais convicta, porém, hoje a afirmação da decisiva relevância do Jesus histórico para a mesma fé dos discípulos. Por isso, o início da Cristologia deve ser reconduzida no âmbito da sua caminhada pré-pascal. E isto para evitar conclusões extravagantes: «Quem jamais – afirma em relação a isto J. Jeremias – teria em mente de fazer começar o Islã somente depois da morte de Maomé, e o budismo depois daquela de Buda?»
Não se pode negar hoje um suficiente e amplo consenso sobre a possibilidade de se reencontrar já na vida terrena os indícios que permitem aos discípulos de compreender o significado da pessoa e da obra de Jesus. Este reconhecimento não é de certo tematizado nem conceitualizado adequadamente, como acontecerá depois da Páscoa e depois da efusão do Espírito Santo. Porém existe. E se trata de uma atitude que responde a extraordinariedade bem perceptível daquele que eles tem diante dele. Já antes da Páscoa de fato, eles se puseram o problema do «ser» de Jesus, operando uma primeira passagem da sua exousía (a sua autoridade) a sua ousía (a sua realidade pessoal): «Desta exousía de Cristo concluir a ousía dele se torna uma necessidade lógica, não mitológica»
. Por isto a passagem do Jesus anunciador ao Cristo anunciado se opera já antes da Páscoa: «Desde os primeiros contatos com Jesus, os discípulos o estavam interpretando, e as tradições da Igreja primitiva e os escritores evangélicos (justamente e inevitavelmente) continuaram levando adiante este processo de interpretação»
 
Por isto, se pode legitimamente falar de cristologia «pré-pascal» ou implícita. Implícita não no sentido que em Jesus faltem indícios decisivos de reconhecimento cristológico, mas no sentido, que esses não são ainda adequadamente explicitados e tematizados pelos discípulos. Falta a eles a iluminação da Páscoa, que fixará definitivamente o significado do evento Cristo. Da parte de Jesus, invés, a sua existência, como expressão da sua íntima autoconsciência, é inteiramente orientada em sentido cristológico. Ele se é sempre apresentado como aquele que tem autoridade absoluta de Deus no campo espiritual. 
Por este motivo se deveria falar não tanto de cristologia implícita, quanto de cristologia «aberta». A cristologia aberta seria a cristologia pré-pascal, isto é, a fé incipiente dos discípulos, que tem já os elementos fundamentais onde deverá se fundar (autoridade espiritual, milagres) e que portanto permanece «aberta» ao seu cumprimento na ressurreição, evento decisivo de iluminação do inteiro mistério de Jesus Cristo. A ressurreição de fato, continua o lugar privilegiado de interpretação não somente de Jesus pré-pascal, mas também do Cristo preexistente e do Cristo glorificado e parusíaco.
Em conclusão, se pode legitimamente falar de cristologia já antes da páscoa, do momento que Jesus mesmo colocou seus discípulos diante da decisão da fé em relação à sua pessoa: «E vós quem dizeis que eu sou?» (Mt 16,15). Tal cristologia pré-pascal não é somente determinada pelos títulos de Jesus, quanto da realidade global expressa por sua autoconsciência, da sua pregação e das suas obras, realidades estas que reivindicam toda uma autoridade divina. Essa permanece depois aberta à iluminação definitiva da ressurreição, como cume da revelação cristológica da figura de Jesus de Nazaré, a cuja confissão seja antes, seja depois da Páscoa permanece porém sempre um exclusivo dom do Pai no Espírito.
C. A PREGAÇÃO DE JESUS
A pregação, o anúncio, o ensinamento é a característica mais relevante da atividade de Jesus antes do mistério pascal. Ele se apresentou como Mestre (didáskalos) e como tal vem chamado no NT (este termo designa 41 vezes Jesus e 29 vezes vem usado como título direto). Este seu apelativo (cf. Mc 9,17.38; Mt 8,19; Lc 10,25) é ordinariamente a tradução do termo hebraico rabi, muitas vezes usado também nesta forma nos Evangelhos (Mc 9,5; 10,51; 11,21; 14,56; Jo 1,38; 20,16). Jesus falou e agiu como um mestre do seu tempo, dirimindo dúvidas jurídicas (Lc 12,13s), questões doutrinais (Mc 12,18ss), e recolhendo em torno di si discípulos.
O termo «mestre» vem usado também de modo absoluto como sinônimo de Jesus, o mestre (cf. Mt 9,11; 10,24s; 17,24). Neste sentido é de se entender a exortação mesma de Jesus aos seus discípulos: «Quanto a vós, não vos façais chamar de mestre: porque tendes um só Mestre e sois todos irmãos» (Mt 23,8). Provavelmente estamos diante (cf. Mc 14,14) de uma interessante reintepretação cristológica do título pré-pascal: “Jesus é o mestre e também depois da sua morte possuiu uma autoridade duradoura (cf. Jo 3,2; 11,27s e 13,13s, no qual o didáskalos aparece junto a outros títulos cristológicos)”
.
Uma característica original de Jesus foi a sua extraordinária autoridade. O seu ensinamento era realizado com autoridade. Depois que ele falou na sinagoga de Cafarnaum, os escutadores permaneceram «impressionados como o seu ensinamento; pois ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas» (Mc 1,22; 1,27; Mt 7,29). Enquanto os escribas eram intérpretes da tradição dos padres, Jesus ensina com uma autoridade que pertence somente a Deus (cf. Lc 4,32-36).
Por isso, seja a multidão, como também os discípulos o consideram como um profeta (Mc 6,15; 8,28; 24,19; Mt 21,46; Lc 7,16). Jesus porém, se considera superior aos profetas: «Pois bem! Aqui está aqui está mais do que Jonas» (Mt 12,41; Lc 11,32); «Pois bem aqui está mais do que Salomão» (Lc 11,31). Este «mais» tem um valor absoluto. Jesus não se apresenta como um dos tantosprofetas. Nele tem um salto qualitativo absoluto. É o profeta último, definitivo, superior aos outros. O profeta que manifesta a palavra e a vontade de Deus. O título cristológico joanino «Logos» resumirá esta realidade profunda pré-pascal de Jesus.
O conteúdo essencial de sua pregação é o anúncio do Reino como realidade oposta a tudo isto que é presente e terreno e que portanto é unicamente dom de Deus. A vinda do reino não pode ser humanamente acelerada nem mediante a luta contra os inimigos de Deus (como queriam os zelotas), nem mediante a observância meticulosa da lei (como faziam os fariseus). Nem pode ser reservada somente a um círculo fechado de perfeitos, identificáveis, a exemplo com a comunidade essência de Qumrã. A espera do Reino deve ser paciente e com confiança (cf. as parábolas do grão de mostarda, do fermento, e da semente que cresce do solo: Mc 4,30-32; Mt 13,33; Mc 4,26-29).
A expressão «Reino de Deus» e o seu sinônimo «reino dos céus» é utilizada sobretudo nos sinóticos (mais de 120 vezes, enquanto em João se encontra somente 5 vezes e umas trinta vezes nos outros livros do NT). Essa é característica da pregação de Jesus pré-pascal. Se concorda que na expressão presente no Evangelho de Marcos se resume fielmente a mensagem de Jesus histórico: «Cumpriu-se o tempo, e o Reinado de Deus aproximou-se: convertei-vos e crede no Evangelho» (Mc 1,15; Mt 4,17). A causa da pregação de Jesus é o anúncio do reino de Deus e a sua vinda sobre a terra.
O Reino de Deus não indica um território particular, mas a real soberania de Deus sobre a humanidade. O Reino de Deus é presente lá onde está presente a vida, a justiça, a paz e a fraternidade, a reconciliação, alegria o louvor e a adoração ao Deus vivo e verdadeiro. Estando na oração mesma de Jesus (Mt 6,10-13), o reino se atuará onde e quando venha completa a vontade de Deus, seja santificado o seu nome, exista abundância de bens materiais e espirituais, se atue a liberação do mal. Trata-se de um reino que realiza a totalidade dos bens messiânicos anunciados pelos mediadores reais, sacerdotais, proféticos e celestes e que traz, portanto, reconciliação, paz, liberdade, alegria, salvação. Um reino de futuro absoluto e liberado da inteira humanidade em Deus. Um reino evocável com as imagens da nova aliança, do grande banquete, das núpcias reais, do grande convite. Um reino que visualiza e concretiza a utopia da felicidade absoluta, da vida e da alegria definitiva, da superação do ódio, da divisão, do pecado, da morte.
A realidade do Reino é sumamente misteriosa. Jesus proclama que este Reino está vizinho:
«O tempo se completou e o Reino de Deus está vizinho» (Mc 1,15).
Chegou:
«Felizes os olhos que vêem o que vós vedes! Pois eu vos digo, muitos profetas e muitos reis quiseram ver o que vós vedes e não viram, ouvir o que ouvis e não ouviram» (Lc 10,23s).
Na sinagoga de Nazaré, comentando Isaias disse:
«Hoje, esta escritura se realizou para vós que a ouvis» (Lc 4,21).
É chegado, portanto, o tempo messiânico em que «os cegos recobram a vista e os coxos andam direito, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa Nova é anunciada aos pobres, e feliz de quem não cair por causa de mim!» (Mt 11,5-6). Também mediante as parábolas Jesus sublinha a presença do Reino na realidade cotidiana e concreta: no grão de mostarda (Mc 4,31), no fermento (Mt 13,33), na semente (Mc 4,26s).
Ao mesmo tempo, porém, o reino é uma realidade última, escatológica, que colocará fim à história e que se situa além da história mesma. O seu cumprimento será realizado pela Parusia do Filho que virá no seu Reino (Mt 16,28; Mc 9,1; Lc 9,27). Jesus faz orar «venha o teu Reino» (Mt 6,10). A realidade do Reino é, portanto complexa. O reino já está presente no tempo, mas não ainda plenamente realizado em relação com toda a humanidade. A história, já está assinalada qualitativamente da presença do Reino, que tende ao seu cumprimento último e definitivo na Parusia.
O reino é, além disto, um dom exclusivo de Deus. O homem não se pode autodoar, nem politicamente, nem socialmente, nem eticamente. Por isto, é Reino de Deus. «Não temas pequeno rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino» (Lc 12,32). O Reino tem um intrínseco caráter soteriologico. É oferta salvífica para o homem: «Jesus percorria todas as cidades e aldeias, e ali ensinava em suas sinagogas, proclamando a Boa Nova do reino e curando toda doença e toda enfermidade» (Mt 9,35).
O reino de Deus se manifesta na história como superação e destruição do mal físico e moral, do pecado, da dor e da morte. É a re-criação do homem e da natureza. O reino é a realização da espera messiânica através da pessoa e da obra de Jesus:
O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me conferiu unção para anunciar a boa nova aos pobres. Enviou-me para proclamar aos cativos a libertação e aos cegos, a recuperação da vista, para despedir os oprimidos em liberdade e para proclamar um ano de acolhimento, de graça da parte do Senhor» (Lc 4,16-19).
Depois que Jesus disse isto ele acrescentou: «Hoje, esta escritura se realizou para vós que a ouvis» (Lc 4,21).
O Reino possui uma dimensão cristológica. Identifica-se com a pessoa mesma de Jesus e com a sua presença. Aos discípulos de João Batista que o perguntaram «És tu Aquele que vem ou devemos esperar outro?» (Mt 11,3), Jesus responde: 
Jesus lhes respondeu: Ide referir a João o que ouvis e vedes: os cegos recobram a vista e os coxos andam direito, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa Nova é anunciada aos pobres, e feliz de quem não se escandaliza por causa de mim (Mt 11,4-6).
Jesus, isto é, se auto-define como reino de Deus. A sua presença é a presença do Reino. A sua doutrina, as suas ações, o seu comportamento constitui a irrupção do Reino de Deus sobre a terra. É verdade que cabe ao Pai dá o Reino (Lc 12,32), mas é também verdade que Jesus o prepara para nós ao mesmo título: «Eu preparo para vós um Reino, como o Pai o preparou por mim» (Lc 22,29). Com Jesus teve início o ano da graça do Senhor (Lc 4,19).
O Reino de Deus é, portanto, um dom oferto pelo Pai em Jesus Cristo e que inicia a dá os seus frutos na história, mesmo que o seu cumprimento definitivo acontecerá somente na Parusia. Isso implica da parte do homem conversão e acolhimento radical das suas exigências: desfazer-se de tudo para comprar a pérola preciosa (Mt 13,45-46), abandonar a família e os próprios bens (Mt 10,37), arriscar a própria vida (Lc 17,33; Mc 9,43; Mt 5,29). O reino é de fato uma porta estreita (Lc 13,24).
«Em verdade eu vos digo: se não mudardes e não vos tornardes como as crianças, não entrarão no Reino dos céus» (Mt 18,3).
O reino implica total dependência do homem a Deus, assim como as crianças dependem totalmente dos cuidados dos pais. Trata-se de um renascimento do alto: «Em verdade, em verdade eu te digo: a menos que nasça de novo, ninguém pode ver o Reino de Deus» (Jo 3,3). Um loghion do Evangelho de Tomé, que se retém autêntico, traz o seguinte dito de Jesus: «Quem está vizinho a mim, está vizinho ao fogo; quem está longe de mim está longe do Reino»
.
O reino se realiza na proximidade absoluta de Jesus, cuja pessoa é já cumprimento do Reino. Inaugurada por Jesus, a vinda do Reino será prolongada na Igreja (Mt 13,38; 21,43).
D. AS ATITUDES DE JESUS
1. Em relação à lei e ao Templo
Também a atitude que Jesus tem no confronto de instituições, ambientes e categorias de pessoas é um importante indício para a individuação da sua consciência messiânica e para o gradual despertar da interrogação cristológica por parte dos discípulos já antes da Páscoa.
A atitude de Jesus diante da Lei é um dos pontos chaves da leitura histórico-teológica da sua existência. Com tal termo o NT se designa exclusivamente a lei escrita (distinta das tradições dos homens: cf. Mt15,3.6; Mc 7,8-9.13; Col 2,8), e portanto aqueles textos legislativos e aquelas prescrições cultuais que formavam a ordenação da vida do povo que Iahwehtinha escolhido e libertado. Não raras vezes, porém, o termo indica todo o AT. A Lei (Torah em hebraico e nómos em grego; sinônimos de Torah são: ordem, palavras, juízos, decretos, prescrições, testemunhos, mandamentos) é o elemento fundamental da consciência do povo hebreu (cf. Sl 119). Essa é a presença de Deus em meio ao povo, do qual plasma o comportamento religioso e ético. Foi Moisés a receber as tábuas da lei, os dez mandamento (Dt 10,4). Por isto, Moisés se tornou sinônimo de lei (cf. Lc 2,22; Mt 8,4; 19,7; 22,24).
Jesus confirma a sua adesão à Lei. Ele declara de não ser vindo para abolir a Lei ou os profetas: «Não penseis que vim suprimir a Lei ou os Profetas: não vim suprimir, mas cumprir» (Mt 5,17). Mesmo não opondo-se à Lei, ele porém, não hesita a transgredir algumas prescrições, como por exemplo, a lei do sábado (Mc 2,28), o jejum (Mc 2,18-20(, a impureza no comer (Mc 7,1-8).
Jesus se considera livre diante da Lei (Mt 17,24-27). O seu comportamento foi assim original em relação as leis, por ele considerada superada pelo seu evento, que em João ele afirma: «Com efeito, se crêsseis em Moisés creríeis em mim, pois é a meu respeito que ele escreveu» (Jo 5,46).
Isto quer dizer que a Lei s os profetas apontam para Jesus e encontram nele a sua referência definitiva.
Jesus se permite de julgar Moisés como revisionador da lei de Deus, Moisés, de fato, legislou a partir não da verdade original do homem criado por Deus, mas da fraqueza humana (cf. Mc 10,5). Neste contexto devem ser avaliados as notas antíteses do discurso da Montanha de Mateus (cf. Mt 5,17-48). Se concorda em entender esta contraposição em relação à lei como um importante indício de Jesus histórico. Ele não comenta a Lei, mas se põe sobre essa. Enquanto os profetas iniciavam com a fórmula: «Assim fala Iahweh», Jesus Cristo inicia com as palavras: «Ouviste o que foi dito ... Pois eu vos digo». Põe-se assim sobre o mesmo plano do legislador original, de Deus mesmo, não para superar ou contradizer a lei querida e dada por Deus, mas para revelar o verdadeiro conteúdo e o significado entendido por Deus. Também a fórmula: «Em verdade em verdade (amém amém) vos digo» sublinha esta sua autoridade unida da lei antiga, superior a essa e reveladora da verdadeira vontade do Pai.
Nos confrontos do Templo, considerado sede privilegiada da presença divina e centro de irradiação e de oração para todos os povos (Is 2,1-3; 56,7; Ag 2,6-9; Ml 3,1), Jesus iniciou um comportamento de respeito. Ele ensina no Templo (Mc 11,27; 12,35; 14,49) e o considera a Casa de Deus (Lc 6,4; Mt 23, 16-21), a Casa do Pai (Lc 2,49; Jo 2,16), casa de oração (Lc 19,46). Não falta porém um gesto de absoluta liberdade em relação ao Templo, aquele da «purificação» descrito por todos os 4 evangelistas (Mt 21,12-17; Mc 11,15-17; Lc 19,45-48; Jo 2,13-16). Em tal gesto contém duas afirmações: o anúncio da ruína do Templo (Mc 13,2) e a sua substituição pela pessoa mesma de Jesus. Um evangelista, de fato, anota, que «ele falava do templo do seu corpo» (Jo 2,21). E que disto os discípulos se recordavam na Páscoa: «Por isso, depois que Jesus foi ressuscitado dentre os mortos, os seus discípulos lembraram-se de que ele falara assim, e creram na Escritura, bem como na palavra que havia dito» (Jo 2,22).
A morte de Jesus assinala o fim do Templo: «O véu do Santuário rasgou-se em duas partes de alto a baixo» (Mc 15,38). O seu sacrifício põe termo ao Templo e ao culto antigo. Para encontrar Deus e a sua presença privilegiada e única sobre a terra é suficiente encontrar-se com Jesus. É ele o novo Templo de Deus. O mistério do Templo é portanto a presença de Deus não mais em um lugar físico, mas na pessoa de Jesus. O novo culto não é mais no Templo de Jerusalém mas reside na adoração trinitária de Deus Pai no Espírito Santo e na Verdade que é Jesus (cf. Jo 4,21).
2. Nos confrontos dos pecadores e dos excluídos
A atitude nos confrontos dos excluídos é um dos traços melhor atestados de Jesus histórico. Por isso se falou de «Jesus em má companhia». De fato um dos seus apelativos neotestamentários foi de «Eis um glutão e um beberrão, amigos dos coletores de impostos e dos pecadores» (Mt 11,19). Na mensagem de Jesus a vizinhança do reino significa aproximação salvífica de Deus nos confrontos dos publicanos, prostitutas, samaritanos, leprosos, (expulsos pela lei da sociedade), viúvas, crianças. Ignorantes pobres, pagãos, doentes
.
A sua pessoa e a sua presença dizem respeito em primeiro lugar os pobres e pecadores: «Não são os que tem saúde que precisam de médico, mas os doentes» (Mt 9,12); «Em verdade, eu vos digo, os coletores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus» (Mt 21,32).
Jesus participa junto à mesa com os pecadores. Diversamente dos essênios de Qumrã, que admitiam só os «puros». Jesus anuncia que também aos perdidos são convidados a mesa do reino. Por isto, aceita o convite de Zaqueu, chefe dos publicanos (Lc 19,2), para convertê-lo a Deus e à salvação.
Então Jesus disse a seu respeito: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também ele é filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido (Lc 19,9-10).
Misericórdia e perdão emergem também no episódio joanino da mulher «surpreendida em adultério» (Jo 8,3), por Jesus não vem a ser condenada, mas é convidada à conversão. «Ninguém, Senhor. E Jesus lhe disse: Eu também não te condeno: vai, e doravante não peques mais» (Jo 8,11).
Não se trata aqui de uma atitude de simples tolerância, próprio da bondade e da misericórdia de um homem pecador e por isso compreensivo em relação ao pecado dos outros. Trata-se invés, de um gesto de bondade absoluta de Jesus, inocente, em relação aos pobres e aos pecadores, colocados na mesma possibilidade de conversão e de perdão diante a Deus. São de fato os marginalizados, os excluídos e os perdidos objeto da predileção de Jesus. Na parábola da ovelha perdida e reencontrada ele afirma: «Assim vosso Pai que está nos céus não quer que nenhum desses pequeninos se perca» (Mt 18,14).
Em Lucas a Palavra de Jesus ressoa com maior radicalidade: «Eu vos digo, é assim que haverá alegria no céu por um só pecador que se converta, mais do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão» (Lc 15,7).
O seu comportamento em relação ao pecado resultou ainda mais provocatório e lhe custou a acusação de blasfemador. Jesus não só curava, mas avançava a pretensão de perdoar os pecados: «Pois bem, para que saibais que o Filho do homem tem autoridade para perdoar os pecados na terra – diz ao paralítico: Eu te digo: levanta-te toma a tua maca e vai para a casa» (Mc 2, 10-11).
Isto suscitou estupor (cf. Mc 2,12), mas também incompreensão: «Blasfema! Quem pode perdoar os pecados a não ser Deus só?» (Mc 2,7). Nesta sua atitude, contudo, Jesus oferece um significado decisivo do fato que a misericórdia e o perdão de Deus em relação ao homem passa através do seu gesto, sua palavra, da sua ação.
3. Nos confrontos dos doentes e sofredores
No tempo de Jesus obviamente não existiam os hodiernos conhecimentos científicos e genéticos sobre as doenças e os microorganismos que as podiam causar. Nem existia uma adequadas teorias dos males psíquicos e mentais. Nem se conheciam, ao menos em Israel, operações cirúrgicas significativas, com exceção da técnica usada na circuncisão, que, porém, tinha um caráter sócio-religioso, que propriamente terapêutico. Também as regras de higiene eram rudimentares senão carentes, assim como os tratamentos e os remédios, que muitas vezes se reduziam a dietas (Lc 8,55), unções e cataplasmas (cf. Is 1,6; 38,21), colírios (Ap 3,18), banhos (Jo 5,4). No NT vem descritas mal formações físicas, como a surdez e a mudez (cf. Mc 7,31-37), a epilepsia (Lc 9,38; Mt 17,14), a hidropisia (Lc 14,2), as hemorragias (cf. Mt 9,20-22), etc. A atividade curadora de Jesus cobre o inteiro arco do seu apostolado:
A seguir percorrendo toda a Galiléia, ele ensinava em suas sinagogas, proclamava a Boa Nova do Reino e curava toda doençae enfermidade entre o povo. Sua fama espalhou-s epor toda a Síria, e trouxeram-lhe todos os que padeciam de toda espécie de doenças e tormentos: endemoninhados, lunáticos, paralíticos; ele os curou (Mt 4,23-24; cf. Mt 9,35; 14,34-36; 15,30-31).
São inumeráveis as curas operadas por Jesus. Cura da febre a sogra de Pedro com um gesto de afeto: a «tocou com a mão e a febre desapareceu» (Mt 8,15). Cura o paralítico e também perdoa os pecados (cf. Mt 9,1-8). Cura a mulher que há doze anos sofria de hemorragia (Mt 9,20-22). Restitui a vista aos cegos (Mt 9,27-31; 20,29-34; Mc 8,22-26). Extraordinário o caso do jovem cego desde o nascimento, que curado por Jesus, encheu de grande alegria não somente a multidão, mas também os seus mesmos genitores (Jo 9,1-41). Doa de novo o ouvido e a palavra a um surdo-mudo (Mc 7,31-37) e o uso da articulação a um homem com a mão seca (Mt 12,9-14). Cura um epiléptico (Mt 17,14-21), um hidrópico (Lc 14,1-6) e a um mulher encurvada, enferma por 18 anos ele restitui a plena saúde (Lc 13,10-17).
Uma vez foi Jesus mesmo que se dirigiu a um doente crônico, abandonado por todos já com uns 38 anos naquela situação. Encontrando-se em Jerusalém, entrou na piscina betsaida, de cinco pórticos , sob os quais jazia um grande números de enfermos: cegos, coxos, paralíticos (Jo 5,3).
Havia lá um homem enfermo fazia já trinta e oito anos. Jesus o viu deitado e, sendo informado de que ele estava nesse estado já desde muito tempo, disse-lhe: queres ficar curado? O enfermo lhe respondeu: Senhor, eu não tenho ninguém para mergulhar-me na piscina no momento em que a água começa a se agitar; e, no tempo que levo para chegar lá, outro desce antes de mim. Jesus lhe disse: levanta-te, toma a tua maca e anda. E imediatamente o homem ficou curado; tomou a maca e andava (Jo 5,5-9).
Provavelmente esta piscina era ou foi uma espécie de santuário pagão, dedicado a Asclépio, o deus curador grego. Com a sua água abundante e fresca de nascente tinha um poder regenerador para a saúde. Jesus toma a iniciativa: «Queres ficar curado?» (Jo 5,6). Neste paralítico a humanidade de ontem e hoje e de cada tempo é marcada pela marginalização causada pela doença e solidão, que é libertada por Jesus, o Filho do Deus vivo. 
Jesus vence não só o pecado e as doenças, mas também Satanás e o paganismo. Ele liberta os homens possuídos e escravizados pelo maligno. «Ao anoitecer, trouxeram-lhe numerosos endemoninhados. Ele expulsou os espíritos pela palavra e curou todos os doentes, para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías: Foi ele quem levou as nossas enfermidades e carregou sobre si as nossas doenças» (Mt 8,16-17).
Curou os dois endemoninhados de Gadara (Mt 8,28-34; Mc 5,1-20; Lc 8,26-39), o endemoninhado de Cafarnaum (Mc 1,21-28; Lc 4, 31-37) e um endemoninhado cego e mudo (Mt 12,22-24). Na luta contra os endemoninhados, porém Jesus se encontra não só diante de pessoas doentes, mas combate o próprio adversário do bem, o Pai da mentira, o tentador por excelência, sedutor do homem e o assassino desde o início (cf. Jo 8,44). Jesus vence Satanás e seus demônios. O poder de Jesus é infinitamente superior aquele de Satanás. Nos exorcismos ele não só cura a doença, mas expele, expulsa aquele que é o adversário do Reino de Deus e o inimigo número um do homem, ser vivo espiritual, pervertido e perversor. Na luta entre o bem e o mal Jesus é o único vencedor de Satanás.
4. Em relação às mulheres
Em relação às mulheres Jesus teve uma atitude de acolhimento sereno e de grande respeito, estimando-as e valorizando-as. Ele vivia em uma sociedade e uma cultura androcêntrica e discriminadora: as mulheres eram consideradas inferiores aos homens, eram humilhadas nos seus direitos mais fundamentais como pessoas. Eram antes propriedades do Pai e depois do marido, não tinham direito de testemunhar, não podiam aprender a Tora. Neste ambiente preconceituoso Jesus age sem animosidade, mas com liberdade e coragem. Aproxima-se das mulheres, as cura, as acolhe com carinho, não discrimina as estrangeiras (cura a filha da mulher siro-finícia Mc 7,24-34), supera os tabus sobre a impureza legal cura a mulher que sofria de hemorragia, sempre sangrando: Mc 5,34, cultiva amizade sadia com Marta e Maria, irmãs de Lázaro: Lc 10,38-42; Jo 11.
Uma novidade inaudita é vista com seu comportamento misericordioso em relação as mulheres que eram desprezadas porque pecadoras públicas ou adúlteras, como a pecadora pública que entra na casa do fariseu para ungir os pés de Jesus com óleo perfumado (Lc 7,37-47) ou a mulher pega em flagrante adultério (Jo 8,3-11). Um exemplo significativo é dado pelo seu diálogo com a samaritana. Trata-se de uma mulher não hebréia e notoriamente pecadora, do momento que teve 5 maridos e aquele com o qual convivia agora não era o seu marido. É uma situação particularmente grave, tanto que os discípulos se «maravilharam que estivesse falando com uma mulher (Jo 4,27). Não obstante, Jesus conversa com ela, manifesta-a o mistério do Pai, aquele da adoração trinitária e o segredo da sua pessoa. Oferece-lhe a verdadeira água vida e ele se apresenta como o verdadeiro esposo da humanidade (ele é o sétimo que preenche verdadeiramente o coração do ser humano).
Jesus lhe disse: ‘Acredita-me, ó mulher, vem a hora em que nem sobre esta montanha, nem em Jerusalém que adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora, e é agora, na qual os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; tais são os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e por isso, os que o adoram devem adorar em espírito e em verdade’. A mulher lhe disse: ‘Eu sei que um Messias deve vir – aquele que chamam Cristo. Quando vier ele nos anunciará todas as coisas’. Jesus lhe disse: ‘Sou eu que estou falando a ti’ (Jo 4,21-26).
Para Jesus a mulher era igualmente capz como o homem de penetrar nas grandes verdades religiosas, de aceitá-las e vivenciá-las e também de anunciar tais verdades. A samaritana de fato se torna discípula e mensageira entre os habitantes da sua vila que Jesus era o Cristo. «muitos samaritanos daquela cidade creram nele pelas palavras da mulher (Jo 4,39).
Também Marta como Pedro, irmã de Lázaro faz uma entusiasmada profissão de fé: «Sim Senhor, respondeu ela, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus. Aquele que vem ao mundo» (Jo 11,27).
As mulheres com Jesus crescem na maturidade da fé e vencem o apartheid da sua cultura machista. Foram essas que o acompanharam até a cruz sem traí-lo (cf. Mt 27,55). Por esta fidelidade Jesus deu a elas a alegria de serem as primeiras anunciadoras da sua ressurreição. Aparecendo a Madalena, Jesus confia a ela e primeira alegre mensagem. «Maria de Mágdala veio, pois, anunciar aos discípulos: ‘Eu vi o Senhor, e eis o que ele me disse’» (Jo 20,18). 
Jesus tem um comportamento de homem equilibrado e extraordinariamente harmônico. A fonte de tal comportamento não é nem a cultura do seu tempo, fortemente androcêntrica, nem a simples oposição a tal cultura. Jesus obedece, de ato, a lei da criação e da redenção. O seu critério de ação é a realidade do início, aquela da igual dignidade e nobreza do homem e da mulher (Gn 1,27). Para aqueles que falam da carta de divórcio permitido pro Moisés, Jesus rebate que no início não era assim (Mc 10,6).
5. Em relação aos pequenos e fracos
O prêmio da eterna comunhão com Deus dependerá do acolhimento de Jesus nos pequenos, pobres e necessitados, cf. Mt 25,34-40.
Enquanto «instruía os seus discípulos» (Mc 9,31), Jesus «tomou uma criança e o colocou no meio e abraçando-lhe disse: quem acolhe uma destas crianças em meu nome, acolhe a mim» (Mc 9, 36-37). Aos discípulos, homens maduros que discutiam quem era o maior entre eles. Jesus responde com um gesto simbólico: o maior é o menor, o primeiro é o último, o patrão é o servo de todos. O verdadeiro adulto no reino dos céus é a criança. Não são as crianças que devem se tornar com adultos, mas os adultos que

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