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SUMÁRIO 1 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS ..................................................................... 6 1.1 SERVIÇOS DE SAÚDE PÚBLICA...................................................................... 10 1.1.1 PACS – PSF: origem e evolução histórica .................................................. 10 1.1.1.1 Atribuições dos profissionais que compõem a equipe de saúde da família.. 16 1.1.2 Trajetória da estratégia saúde da família .................................................... 21 1.1.2.1 Década de 70 ............................................................................................... 21 1.1.2.2 Década de 80 ............................................................................................... 21 1.1.2.3 Década de 90 ............................................................................................... 21 1.1..2.4 Década de 2000 .......................................................................................... 22 2 ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA: CONCEITOS BÁSICOS............................ 23 2.1 TERRITORIALIZAÇÃO....................................................................................... 23 2.1.1 Área de abrangência ..................................................................................... 24 2.1.2 Território......................................................................................................... 24 2.1.2.1 População adstrita ........................................................................................ 25 2.2 VÍNCULO............................................................................................................ 25 2.3 CADASTRAMENTO ........................................................................................... 25 2.4 SITUAÇÃO DE SAÚDE ...................................................................................... 29 2.4.1 Indicador de saúde ........................................................................................ 30 2.5 DEMANDA.......................................................................................................... 30 2.6 RISCO ................................................................................................................ 30 2.7 REFERÊNCIA E CONTRARREFERÊNCIA ....................................................... 31 2.8 INTERSETORIALIDADE .................................................................................... 31 2.9 CARÁTER SUBSTITUTIVO ............................................................................... 32 2.10 COMPARAÇÃO ENTRE O MODELO ATUAL E O PSF................................... 32 3 ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA EM MANAUS ............................................. 33 3.1 HISTÓRICO E DESENVOLVIMENTO................................................................ 33 3.2 PRINCIPAIS DESAFIOS .................................................................................... 34 3.3 AVANÇOS DA ESTRATÉGIA EM MANAUS...................................................... 34 3.4 TERRITORIALIZAÇÃO DA ESTRATÉGIA EM MANAUS .................................. 35 3.5 SITUAÇÃO ATUAL DO PSF EM MANAUS........................................................ 36 4 POLÍTICAS E PROGRAMAS DE SAÚDE PÚBLICA ........................................... 37 4.1 CONTROLE DA TUBERCULOSE E ELIMINAÇÃO DA HANSENÍASE.............. 38 4.1.1 Controle da Tuberculose .............................................................................. 38 4.1.2 Esquemas de tratamento .............................................................................. 42 4.1.2.1 Esquema de tratamento antigo..................................................................... 42 4.1.2.2 Esquema de tratamento novo....................................................................... 43 4.1.3 Atribuições do Técnico de enfermagem no controle da Tuberculose...... 45 4.2 ELIMINAÇÃO DA HANSENÍASE........................................................................ 46 4.2.1 Esquemas de tratamento .............................................................................. 47 4.2.1.1 Esquema Multibacilar (MB)........................................................................... 49 4.2.2 Esquema de tratamento para crianças ........................................................ 50 4.2.3 Atribuições do Técnico de enfermagem para eliminação da hanseníase 51 4.3 HIPERDIA – CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) E DIABETES MELLITUS (DM) .................................................................................... 51 4.3.1 Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS).......................................................... 51 4.3.1.2 Atribuições do Técnico de Enfermagem ....................................................... 55 4.3.2 Diabetes Mellitus ........................................................................................... 56 4.3.2.1 Conceito ....................................................................................................... 57 4.3.2.2 Classificação do diabetes ............................................................................. 57 4.3.2.3 Principais sintomas do Diabetes................................................................... 58 5 DST/AIDS – PROGRAMA DE COMBATE ÀS DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS ................................................................................................... 65 5.1 ABORDAGEM SÍNDRÔMICA – FLUXOGRAMAS ............................................. 67 5.1.1 Úlceras genitais ............................................................................................ 67 5.1.2 Corrimento uretral ........................................................................................ 68 5.1.3 Corrimento vaginal e cervicite...................................................................... 69 5.1.4 Dor pélvica (DIP – Doença Inflamatória Pélvica)......................................... 70 5.1.5 Hepatites Virais e HIV/AIDS .......................................................................... 71 5.1.6 Ações essenciais complementares ............................................................. 73 5.2 AÇÕES DE SAÚDE BUCAL............................................................................... 74 5.3 SAÚDE DA MULHER ......................................................................................... 75 5.3.1 Pré-natal ......................................................................................................... 76 5.3.1.1 Ações do Técnico de Enfermagem no pré-natal........................................... 79 5.3.2 Puerpério........................................................................................................ 80 5.3.2.1 Situações que precisam ser observadas durante o acompanhamento puerperal .................................................................................................................. 80 5.3.3 Planejamento familiar (PLAFAM) ................................................................. 82 5.3.3.1 Métodos contraceptivos................................................................................ 83 5.3.4 Programa de prevenção e controle do câncer de colo de útero e mama . 90 5.3.4.1 Coleta do exame citopatológico do colo do útero ......................................... 91 5.3.4.2 Autoexame das mamas ................................................................................ 94 5.3.5 Climatério ....................................................................................................... 94 5.4 SAÚDE DA CRIANÇA ........................................................................................ 96 6 ACOMPANHAMENTO: BOLSA FAMÍLIA - CRITÉRIOS, FLUXO E FORMULÁRIO ................................................................................................................................. 99 6.1OBJETIVO DO PROGRAMA............................................................................ 100 6.2 COMO FUNCIONA........................................................................................... 101 6.3 CONDICIONALIDADES ................................................................................... 102 6.4 ATRIBUIÇÕES DA EQUIPE DE SAÚDE.......................................................... 105 6.5 RESULTADOS ................................................................................................. 105 7 PNI – PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÃO............................................ 106 7.1 INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS AGUDAS (IRA) E DOENÇAS DIARREICAS 109 7.1.1 IRA – Infecção Respiratória Aguda ............................................................ 110 7.1.2 Doenças diarreicas...................................................................................... 110 8 SAÚDE DO IDOSO ............................................................................................. 111 8.1 AS AÇÕES DA ATENÇÃO BÁSICA/SAÚDE DA FAMÍLIA EM ENVELHECIMENTO E SAÚDE DA PESSOA IDOSA............................................ 111 8.1.1 Atribuições comuns a todos os profissionais da equipe ........................ 112 8.1.2 Atribuições do Agente Comunitário de Saúde – ACS .............................. 112 8.1.3 Atribuições do médico ................................................................................ 113 8.1.4 Atribuições do enfermeiro .......................................................................... 114 8.1.5 Atribuições do Auxiliar/Técnico de Enfermagem ..................................... 114 8.2 AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL RÁPIDA DA PESSOA IDOSA (AMRPI) .. 115 8.2.1 Fluxo de atendimento.................................................................................. 117 8.2.2 Imunização ................................................................................................... 118 8.3 PROBLEMAS MAIS COMUNS NA PESSOA IDOSA....................................... 119 9 SAÚDE MENTAL ................................................................................................ 120 9.1 REFORMA PSIQUIÁTRICA ............................................................................. 120 9.2 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE MENTAL ................................................... 121 9.2.1 Cenário atual ................................................................................................ 122 9.2.2 Dados importantes ..................................................................................... 122 9.2.3 Desafios........................................................................................................ 122 10 SAMU – SERVIÇO DE ATENDIMENTO MÓVEL DE URGÊNCIA ................... 123 11 DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS MAIS FREQUENTES EM SAÚDE PÚBLICA . 124 11.1 POR VÍRUS................................................................................................... 125 11.1.1 Poliomielite................................................................................................. 125 11.1.2 Raiva ........................................................................................................... 126 11.1.3 Sarampo ..................................................................................................... 128 11.1.4 Hepatites Virais.......................................................................................... 128 11.2 POR BACTÉRIAS........................................................................................... 129 11. 2.1 Cólera ........................................................................................................ 129 11.2.2 Difteria ....................................................................................................... 131 11.2.3 FebreTifoide ............................................................................................... 132 11.3 POR BACILO.................................................................................................. 133 11.3.1 Tétano acidental ........................................................................................ 133 11.4 POR VETORES.............................................................................................. 134 11.4.1 Dengue ....................................................................................................... 134 11.4.2 Malária ........................................................................................................ 135 12 MEDIDAS DE MONITORAMENTO DAS ENFERMIDADES SEGUNDO PROTOCOLOS DE SAÚDE PÚBLICA.................................................................. 135 13 SISTEMA DE INFORMAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA.................................... 137 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 140 ANEXOS ................................................................................................................ 141 ANEXO A - LEGISLAÇÃO (PORTARIAS E LEIS).................................................. 141 ANEXO B– FICHA DE NOTIFICAÇÃO HANSENÍASE........................................... 144 ANEXO C – FICHA DE NOTIFICAÇÃO DA TUBERCULOSE................................ 145 ANEXO D – RELATÓRIO PMA 2 ........................................................................... 146 ANEXO E – RELATÓRIO SSA 2 (FRENTE) .......................................................... 147 ANEXO F – RELATÓRIO SSA 2 (VERSO) ............................................................ 148 ANEXO G – FICHA B HIPERTENSO..................................................................... 149 ANEXO H – FICHA B - DIABÉTICOS..................................................................... 150 ANEXO I – MAPA DE CONTROLE DO SISVAN.................................................... 151 ANEXO J – MAPA COMPLEMENTAR DE ENFERMAGEM (SIGAB) (FRENTE) .. 152 ANEXO L – MAPA COMPLEMENTAR DE ENFERMAGEM (SIGAB) (VERSO) .... 153 ANEXO M – FICHA B - HANSENÍASE................................................................... 154 ANEXO N – FICHA B - GESTANTE....................................................................... 155 ANEXO O - CARTÃO DA GESTANTE (FRENTE) ................................................. 156 ANEXO P – CARTÃO DA GESTANTE (VERSO)................................................... 157 ANEXO Q – FICHA PERINATAL (FRENTE E VERSO) ......................................... 158 ANEXO R – REQUISIÇAO PARA COLETA DO EXAME CITOPATOLÓGICO...... 160 ANEXO S – CARTÃO DA MULHER (FRENTE) ..................................................... 161 ANEXO T – CARTÃO DA MULHER (VERSO) ....................................................... 162 ANEXO U – FICHA D – REGISTRO DE ATIVIDADES, PROCEDIMENTOS E NOTIFICAÇÕES (FRENTE) ................................................................................... 163 ANEXO V – FICHA D – REGISTRO DE ATIVIDADES, PROCEDIMENTOS E NOTIFICAÇÕES (VERSO)..................................................................................... 164 ANEXO W – FICHA B – TUBERCULOSE.............................................................. 165 6 1 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS Até uns trinta anos atrás, a ideia de saúde estava associada à ausência de doenças. Depois se começou a perceber que as doenças estavam associadas aos hábitos de vida, aos ambientes em que as pessoas viviam e a comportamentos e respostas dos indivíduos a situações do dia a dia. A ideia de saúde passou a ser, portanto, entendida como resultado de um conjunto de fatores que tem a ver com o saneamento básico, com a condição social das pessoas, com o trabalho, com a renda, com o nível de educação e assim por diante. Porém, antes da criação do SUS, a assistência à saúde da população estava limitada à condição de trabalho. Quem tinhaemprego registrado na carteira profissional possuía assistência médica por meio das Caixas de Previdência (INAMPS), ou então pagava médicos particulares e, em casos de internação, também pagava pelo serviço. Para quem não tinha emprego registrado ou não podia pagar por uma assistência, tinha que recorrer às Santas Casas de Misericórdia. Para equilibrar essas desigualdades, começou a surgir, nos anos 70, um movimento de Reforma Sanitária no Brasil, representado por professores, pesquisadores, técnicos do setor da saúde, acadêmicos, secretários de saúde, simpatizantes do movimento e intelectuais da saúde. Esse movimento denunciava as precárias condições de saúde de grande parte da população brasileira e defendia que todos deveriam ter acesso aos serviços de saúde, independentemente de sua condição social, e que a saúde deveria fazer parte da política nacional de desenvolvimento e não ser vista apenas pelo lado da previdência social. Os princípios defendidos pela Reforma Sanitária Brasileira eram os seguintes: universalizar o direito à saúde, integralizar as ações de cunhos preventivo e curativo, desenvolvidas pelo Ministério da Saúde e da Previdência separadamente, inverter a entrada do usuário no sistema de atenção (ao invés de buscar o hospital quando já estiver doente, buscar a prevenção – do preventivo para o curativo – promoção da saúde), descentralizar a gestão administrativa e financeira, promover a participação e o controle social. A partir de 1985, começaram os preparativos para a elaboração da Constituição Federal. Em 1986, Realizou-se a 8ª Conferência Nacional de Saúde, onde se firmaram propostas como: universalização, unificação do sistema (MS – 7 INAMPS), integralidade das ações e da atenção, descentralização e participação popular e também foi criada a Comissão Nacional da Reforma Sanitária, com a tarefa de formular as bases para um sistema de saúde brasileiro. Alguns dos integrantes dessa Comissão fizeram parte da Assembleia Nacional Constituinte – conjunto de parlamentares que escreveu a Constituição Federal de 1988. Dessa forma, essa nova maneira de entender saúde está incluída na Constituição, no artigo 196: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. É no capítulo “Saúde”, artigo 198 dessa Constituição, que fica criado o Sistema Único de Saúde – SUS, com o objetivo de promover esse acesso universal e igualitário aos serviços de saúde. A implantação do SUS foi realizada de forma gradual: primeiro veio o SUDS, depois a incorporação do INAMPS ao Ministério da Saúde (Decreto n° 99.060, de 7 de março de 1990), em seguida vieram as leis 8.080 e 8.142. E somente em 27 de julho de 1993, por meio da lei 8.689, o INAMPS foi extinto. Como síntese das discussões sobre políticas de saúde e direito à saúde, o SUS procura unificar todas as instituições e serviços de saúde num único sistema – um comando único no Governo Federal (Ministério da Saúde), um comando único nos estados (Secretarias Estaduais de Saúde) e um comando único nos municípios (Secretarias Municipais de Saúde). O objetivo é tentar resolver a dicotomia entre a saúde pública (prevenção) e a assistência (curativa), oferecendo uma atenção integral à saúde. Dessa forma, as ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com diretrizes e princípios descritos na tabela abaixo: TABELA 1 DIRETRIZES E PRINCÍPIOS DO SERVIÇO PÚBLICO Princípios Éticos/Doutrinários Princípios Organizacionais/Operativos Universalidade dos serviços: acesso à saúde como direito público subjetivo, integrante dos direitos da cidadania. A universalidade é o princípio segundo o qual “A saúde é o direito de todos e dever do Estado...” (CF, 196). Descentralização dos serviços: O SUS existe em três níveis, também chamado de esferas: federal, estadual e municipal, cada uma com comando único e atribuições próprias. Os municípios têm assumido papel cada vez 8 mais importante na prestação e no gerenciamento dos serviços de saúde; as transferências passaram a ser "fundo-a- fundo", ou seja, baseadas em sua população e no tipo de serviço oferecido, e não no número de atendimentos. A gestão do SUS passa a ser responsabilidade dessas 3 esferas agora entendidas como gestores do SUS. Integralidade da assistência: direito de as pessoas serem atendidas na íntegra nas suas necessidades. “É entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços contínuos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema.” (Lei 8.080, 7°, II). Regionalização e Hierarquização da rede: distribuição espacial dos serviços de modo a atender às necessidades da população por regiões e em diferentes níveis de complexidade. Exige ações articuladas entre estado e municípios sendo-lhes facultada a criação de consórcios. Equidade na prestação dos serviços: a política pública de saúde deve ser redistribuída com o objetivo de corrigir desequilíbrios estaduais e regionais. Deve dar tratamento desigual para situações desiguais. Participação social: O controle social, como também é chamado esse princípio, foi mais bem regulado pela Lei nº 8.142. Os usuários participam da gestão do SUS através das Conferências de Saúde, que ocorrem a cada quatro anos em todos os níveis, e por meio dos Conselhos de Saúde, que são órgãos colegiados também em todos os níveis. Nos Conselhos de Saúde ocorre a chamada paridade: enquanto os usuários têm metade das vagas, o governo tem um quarto e os trabalhadores outro quarto. Esses princípios formam a base do SUS e todas as políticas e ações que tratem de saúde devem incluir esses princípios que foram detalhados na Lei Orgânica de Saúde - 8.080 de 19 de setembro de 1990 e na lei que dispõe sobre o controle social - 8.142 de 28 de dezembro do mesmo ano. A Lei Orgânica da Saúde – 8.080 - estabelece ainda os seguintes princípios: § preservação da autonomia da pessoa na defesa de sua integridade física e moral; § direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; 9 § divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e sua utilização pelo usuário; § utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática; § Integração, em nível executivo, das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico; § conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na prestação de serviços de assistência à saúde da população; § capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; § organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos. Finalmente, o sistema de saúde brasileiro, chamado de Sistema Único de Saúde – SUS é organizado em um conjunto de unidades que prestam serviços de saúde, com ligação entre si (em rede). Essas unidades são subordinadas umas às outras (hierarquia), de tal modo que uma pessoa que está com problema de saúde e que quer prevenir doenças ou precisa de orientação para uma vida mais saudável deveria procurar, primeiramente, a chamada unidade básica, que pode ser um centro de saúde ou uma unidade de saúde da família (nível primário). A partir dessa unidade, se a pessoa precisar de um atendimento especializado, deverá ser encaminhada para um ambulatório ou posto de atendimento médico – PAM (nível secundário) e caso necessite de internação deverá ser encaminhada para um hospital geral ou especializado(nível terciário). Enfim, o SUS, como não poderia deixar de ser, está em constante processo de aperfeiçoamento. Por outro lado, a promoção da saúde à população nunca deixará de sofrer transformações, uma vez que as sociedades são dinâmicas e, a cada dia, surgem novas tecnologias que devem ser incorporadas para melhoria dos serviços e das ações de saúde. Sob outro aspecto não obstante a todo o caminho já percorrido até aqui, o SUS ainda está em estruturação, e se constrói no cotidiano de todos aqueles interessados na mudança da saúde no Brasil. 10 1.1 SERVIÇOS DE SAÚDE PÚBLICA A organização da rede de serviços de saúde pública está orientada segundo os critérios de regionalização, respeitando os princípios de hierarquização e descentralização de atividades e funções. Assim, a prestação de serviços à população é sistematizada em níveis de complexidade, ou seja, primário, secundário e terciário, que são coordenados entre si e orientados para o uso racional de recursos e para o atendimento integral do usuário a fim de garantir a resolutividade. Atualmente, a atenção básica no Estado do Amazonas tem dois modelos de assistência. Um denominado de modelo tradicional, que são as Unidades Básicas de Saúde (UBS), que atende demanda espontânea vinda de qualquer local do Estado ou fora dele, e a Estratégia de Saúde da Família (ESF), chamada de Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF), que atende demanda organizada, ou seja, usuários cadastrados pelo Agente Comunitário de Saúde (ACS). A ESF tem sua área de abrangência definida e é responsável pela saúde das famílias cadastradas nessa área, diferentemente da UBS (modelo tradicional). Porém tanto a UBS quanto a UBSF são responsáveis por promover melhoria das condições de saúde e bem-estar da comunidade, por meio da educação, de ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação, dirigida aos indivíduos, à família e ao meio. Desenvolve ações básicas de saúde na comunidade. No entanto a ESF, que é um modelo de atenção básica recente tem características próprias que norteiam o desenvolvimento das ações de saúde. Essas características serão elencadas abaixo. 1.1.1 PACS – PSF: origem e evolução histórica A origem do Programa Saúde da Família - PSF remonta à década de 70, quando, em vários locais do Brasil, iniciaram experiências em Saúde Pública, como no Murialdo, em Porto Alegre, e na UERJ, no Rio de Janeiro. Em 1993, O Ministério da Saúde do governo brasileiro constituiu um grupo de profissionais com experiência em Saúde Pública para elaborar uma proposta que contemplasse a integralidade pretendida pelo SUS, incorporando o PACS (Programa de Agentes Comunitários de Saúde). 11 O PSF foi implantado como política de Atenção Básica pelo Governo Itamar Franco em 1994, sendo precedido pela implantação do PACS, um programa onde 30 agentes comunitários de saúde (ACS) ficam sob a responsabilidade de 1 enfermeiro. Esse programa foi uma das primeiras estratégias para se começar a mudar o modelo de assistência à saúde. No Brasil a origem do PSF remonta à criação do PACS em 1991, como parte do processo de reforma do setor da saúde, que vinha acontecendo desde a Constituição, com intenção de aumentar a acessibilidade ao sistema de saúde e incrementar as ações de prevenção e promoção da saúde. Em 1994, o Ministério da Saúde lançou o PSF como política nacional de atenção básica, com caráter organizativo e substitutivo, fazendo frente ao modelo tradicional de assistência primária baseada em profissionais médicos especialistas focais. Atualmente, reconhece-se que não é mais um programa e sim uma Estratégia para uma Atenção Primária à Saúde qualificada e resolutiva. Percebendo a expansão do Programa Saúde da Família que se consolidou como estratégia prioritária para a reorganização da Atenção Básica no Brasil, o governo emitiu a Portaria nº 648, de 28 de março de 2006, em que ficava estabelecido que o PSF é a estratégia prioritária do Ministério da Saúde para organizar a Atenção Básica — que tem como um dos seus fundamentos possibilitar o acesso universal e contínuo a serviços de saúde de qualidade, reafirmando os princípios básicos do SUS: universalização, descentralização, integralidade e participação da comunidade - mediante o cadastramento e a vinculação dos usuários. Como consequência de um processo de des-hospitalização e humanização do Sistema Único de Saúde, o programa tem como ponto positivo a valorização dos aspectos que influenciam a saúde das pessoas fora do ambiente hospitalar. De acordo com a Portaria nº 648, de 28 de março de 2006, além das características do processo de trabalho das equipes de Atenção Básica, ficaram definidas as características do processo de trabalho da Saúde da Família: § manter atualizado o cadastramento das famílias e dos indivíduos e utilizar de forma sistemática os dados para a análise da situação de saúde considerando as características sociais, econômicas, culturais, demográficas e epidemiológicas do território; 12 § definição precisa do território de atuação, mapeamento e reconhecimento da área de abrangência, que compreenda o segmento populacional determinado, com atualização contínua; § diagnóstico, programação e implementação das atividades segundo critérios de risco à saúde, priorizando solução dos problemas de saúde mais frequentes; § prática do cuidado familiar ampliado, efetivada por meio do conhecimento da estrutura e da funcionalidade das famílias que visa propor intervenções que influenciem os processos de saúde-doença dos indivíduos, das famílias e da própria comunidade; § trabalho interdisciplinar e em equipe, integrando áreas técnicas e profissionais de diferentes formações; § promoção e desenvolvimento de ações intersetoriais, buscando parcerias e integrando projetos sociais e setores afins, voltados para a promoção da saúde, de acordo com prioridades e sob a coordenação da gestão municipal; § valorização dos diversos saberes e práticas na perspectiva de uma abordagem integral e resolutiva, possibilitando a criação de vínculos de confiança com ética, compromisso e respeito; § promoção e estímulo à participação da comunidade no controle social, no planejamento, na execução e na avaliação das ações; § acompanhamento e avaliação sistemática das ações implementadas, visando à readequação do processo de trabalho. Nessa mesma portaria foi estabelecido que para a implantação das Equipes de Saúde da Família deve existir (entre outros quesitos) uma equipe multiprofissional responsável por, no máximo, 4.000 habitantes, sendo que a média recomendada é de 3.000 habitantes ou pelo menos 600 famílias. Essa equipe, composta por minimamente 1 médico, 1 enfermeiro, 1 ou 2 auxiliares de enfermagem (ou técnico de enfermagem) e de 4 a 7 Agentes Comunitários de Saúde e deve ter uma jornada de trabalho de 40 horas semanais para todos os integrantes. 13 Essas equipes de PSF direcionam suas ações a partir das informações geradas pelos ACS, analisadas e discutidas com os fornecedores desses dados, visando a uma prática social construtiva e catalisadora de novas vivências. Em 2002 existiam 5.134 equipes de saúde da família, já em 2007 passou para 27.324 equipes de Saúde da Família implantadas distribuídas em 5125 municípios, com cobertura populacional de 46,6% da população brasileira, o que corresponde a cerca de 87,7 milhões de pessoas, situadas em sua maioria na regiões nordeste e sudeste, sendo os estados do Ceará e Minas Gerais os que apresentam o maior número de equipes de PSF em atuação, conforme a figura seguinte. 1998 1999 2000 2001 2002 2003 14 2004 2005 2006 2007 2008 2009 15 JANEIRO/2010 FIGURA 1: Evolução da implantação das equipes saúde da família Brasil - 1998 - outubro/200916 FIGURA 2: Situação de Implantação de Equipes de Saúde da Família, Saúde Bucal e Agentes Comunitários de Saúde. BRASIL - JANEIRO/2010 Esses mapas demonstram o avanço dessa estratégia de saúde pública no Brasil, que traz nos seus princípios e diretriz o objetivo de reorganizar a prática assistencial em novas bases e critérios. Focando a atenção na família, entendida, percebida e situada a partir de seu ambiente físico e social, com suas crenças e valores identificados, favorecendo a compreensão ampliada do processo saúde- doença, no contexto de um território definido geográfica e administrativamente. Enfim, é uma prática que garante um novo olhar dos profissionais em relação ao contexto em que se processam as ações de saúde, visto que pressupõem uma busca ativa de problemas atuais e potenciais, preservando e potencializando as capacidades dos membros da comunidade atendida. 1.1.1.1 Atribuições dos profissionais que compõem a equipe de saúde da família Atribuições comuns a todos os profissionais da equipe: § Participar do processo de territorialização e mapeamento da área de atuação da equipe, identificando grupos, famílias e indivíduos expostos a 17 riscos, inclusive aqueles relativos ao trabalho, e da atualização contínua dessas informações, priorizando as situações a serem acompanhadas no planejamento local. § Realizar o cuidado em saúde da população adscrita, prioritariamente no âmbito da unidade de saúde, no domicílio e nos demais espaços comunitários (escolas, associações entre outros), quando necessário. § Realizar ações de atenção integral conforme a necessidade de saúde da população local, bem como as previstas nas prioridades e protocolos da gestão local. § Garantir a integralidade da atenção por meio da realização de ações de promoção da saúde, prevenção de agravos e curativas; e da garantia de atendimento da demanda espontânea, da realização das ações programáticas e de vigilância à saúde. § Realizar busca ativa e notificação de doenças e agravos de notificação compulsória e de outros agravos e situações de importância local. § Realizar a escuta qualificada das necessidades dos usuários em todas as ações, proporcionando atendimento humanizado e viabilizando o estabelecimento do vínculo. § Responsabilizar-se pela população adscrita, mantendo a coordenação do cuidado mesmo quando esta necessita de atenção em outros serviços do sistema de saúde. § Participar das atividades de planejamento e avaliação das ações da equipe, a partir da utilização dos dados disponíveis. § Promover a mobilização e a participação da comunidade, buscando efetivar o controle social. § Identificar parceiros e recursos na comunidade que possam potencializar ações intersetoriais com a equipe. § Garantir a qualidade do registro das atividades nos sistemas nacionais de informação na Atenção Básica. § Participar das atividades de educação permanente. § Realizar outras ações e atividades a serem definidas de acordo com as prioridades locais. 18 Atribuições do médico: § Executar as ações de assistência integral em todas as fases do ciclo de vida. § Realizar consultas e procedimentos na USF e no domicílio, exercendo suas atividades em horário integral. § Aliar a atuação clínica à prática da saúde coletiva, participando de orientações individuais e em grupo no processo de capacitação continuada e educação em saúde. § Providenciar encaminhamento aos serviços de referência, quando necessário. § Prescrever medicamentos e indicar internação hospitalar. § Solicitar exames complementares. § Verificar e atestar óbito. Atribuições do enfermeiro: § Realizar consultas e procedimentos de enfermagem na USF e no domicílio, solicitar exames complementares conforme protocolos estabelecidos nos Programas do Ministério da Saúde e as disposições legais da profissão. § Executar as ações de assistência integral em todas as fases do ciclo de vida. § No nível de suas competências, executar assistência básica e ações de vigilância epidemiológica e sanitária. § Organizar e coordenar a criação de grupos de patologias específicas. § Planejar e coordenar ações para capacitação dos ACS e de técnicos de enfermagem, com vistas ao desempenho de suas funções. § Coordenar a atualização das fichas cadastrais e alimentar o fluxo dos sistemas de informação. Atribuições do auxiliar ou técnico de enfermagem: 19 § Realizar procedimentos de enfermagem dentro das suas competências técnicas e legais. § Realizar procedimentos de enfermagem na USF e nos domicílios, dentro do planejamento de ações traçado pela equipe. § Zelar pela limpeza e ordem do material e de equipamentos e das dependências da USF, garantindo o controle de infecção. § Realizar ações de educação em saúde aos grupos de patologias específicas e às famílias de risco, conforme planejamento da USF. § Promover e incentivar pré-natal e aleitamento, imunização, crescimento e desenvolvimento etc. § Consolidar e entregar as estatísticas da ESF. Atribuições do agente comunitário de saúde: § Cadastrar as famílias e atualizar permanentemente esse cadastro. § Identificar indivíduos e famílias expostos a situações de risco. § Identificar áreas de risco. § Orientar as famílias para utilização adequada dos serviços de saúde, encaminhando-as e até agendando consultas, exames e atendimento odontológico, quando necessário. § Realizar, por meio de visita domiciliar, acompanhamento mensal de todas as famílias sob sua responsabilidade. § Desenvolver ações de educação e vigilância à saúde, com ênfase na promoção da saúde e na prevenção de doenças. § Traduzir para a ESF a dinâmica social da comunidade, suas necessidades, potencialidades e limites. § Monitoramento dos grupos de sua MA (microárea). § Identificar parceiros e recursos existentes na comunidade que possam ser potencializados pela equipes. 20 Atualmente em algumas equipes de saúde da família foi incluído o programa de saúde bucal, portanto fazem parte dessas equipes o dentista e o auxiliar de consultório dentário e suas atribuições são: Atribuições do cirurgião-dentista: § Traçar o perfil de saúde bucal da população adstrita. § Encaminhar e orientar os usuários que apresentarem problemas mais complexos a outros níveis de assistência, assegurando seu acompanhamento. § Realizar pequenas cirurgias ambulatoriais. § Prescrever medicamentos de sua competência e outras orientações na conformidade dos diagnósticos efetuados. § Emitir laudos, pareceres e atestados sobre assuntos de sua competência. § Coordenar ações coletivas de promoção e prevenção em saúde bucal, programando e supervisionando o fornecimento de insumos. § Capacitar as equipes de saúde da família no que se refere às ações educativas e preventivas em saúde bucal. § Supervisionar o trabalho desenvolvido pelo THD (técnico de higiene dentária) e/ou ACD (auxiliar de consultório dentário). Atribuições do ACD: § Sob supervisão do cirurgião dentista ou do THD, realizar procedimentos educativos e preventivos aos usuários, individuais ou coletivos, como evidenciação de placa bacteriana, escovação supervisionada, orientações de escovação, uso de fio dental. § Proceder à desinfecção e esterilização de materiais e instrumentos utilizados. § Preparar e organizar o instrumental e materiais (sugador, espelho, sonda etc.) necessários para o trabalho. 21 § Instrumentar o cirurgião dentista ou THD durante a realização de procedimentos clínicos (trabalho a quatro mãos). § Agendar o paciente e orientá-lo quanto ao retorno e à preservação do tratamento. § Acompanhar e desenvolver trabalhos com a equipe de Saúde da Família no tocante à saúde bucal. 1.1.2 Trajetória da estratégia saúde da família Enfim, a evolução do PSF se deu da seguinteforma: 1.1.2.1 Década de 70 1974 - Projeto de Saúde Comunitária da Unidade São José do Murialdo da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul com Projeto Voluntários de Saúde (pessoal da comunidade atuando junto à equipe de saúde comunitária do Murialdo). 1976 - Início dos primeiros programas de Residência Médica na área de Saúde Comunitária, Medicina Integral e Medicina Comunitária. 1.1.2.2 Década de 80 Início da experiência de Agentes Comunitários e Saúde pelo Ministério da Saúde. 1.1.2.3 Década de 90 1991 – Criação oficial do PACS (Programa de Agentes Comunitários de Saúde) pelo Ministério da Saúde. 22 1994 – Realização do estudo “Avaliação Qualitativa do PACS”; criação do Programa Saúde da Família; primeiro documento oficial “Programa Saúde da Família: dentro de casa”; e criação de procedimentos vinculados ao PSF e ao PACS na tabela do Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS); a população coberta pelo PSF era em torno de 1 milhão de pessoas. 1996 – Legalização da Norma Operacional Básica (NOB 01/96) para definição de um novo modelo de financiamento para a atenção básica à saúde. 1997 – Lançamento do Reforsus, um projeto de financiamento para impulsionar a implantação dos Polos de Capacitação, Formação e Educação Permanente de Recursos Humanos para Saúde da Família; publicação de um segundo documento oficial “PSF: uma estratégia para a reorientação do modelo assistencial”, dirigido aos gestores e trabalhadores do SUS e instituições de ensino; PACS e PSF são incluídos na agenda de prioridade da Política de Saúde; publicação da Portaria MS/GM nº. 1882, criando o Piso de Atenção Básica (PAB), e da portaria MS/GM nº. 1886, com as normas de funcionamento do PSF e do PACS. 1998 - O PSF passa a ser considerado estratégia estruturante da organização do SUS; início da transferência dos incentivos financeiros fundo a fundo destinados ao PSF e ao PACS, do Fundo Nacional de Saúde para os Fundos Municipais de Saúde; primeiro grande evento: “I Seminário de Experiências Internacionais em Saúde da Família”; edição do “Manual para a Organização da Atenção Básica”, que serviu como importante respaldo organizacional para o PSF; definição, pela primeira vez, de orçamento próprio para o PSF, estabelecido no Plano Plurianual. 1999 — Realização do 1º Pacto da Atenção Básica e do segundo grande evento, “I Mostra Nacional de Produção em Saúde da Família — construindo um novo modelo”; realização do estudo “Avaliação da implantação e funcionamento do Programa Saúde da Família”; edição da Portaria nº. 1.329, que estabelece as faixas de incentivo ao PSF por cobertura populacional. 1.1..2.4 Década de 2000 2000 - Criação do Departamento de Atenção Básica para consolidar a Estratégia de Saúde da Família; publicação dos Indicadores de 1999 do Sistema de Informação da 23 Atenção Básica; a população atendida alcança o percentual de 20% da população brasileira. 2001 - Edição da “Norma Operacional da Assistência à Saúde — NOAS/01”, ênfase na qualificação da atenção básica; realização de um terceiro evento, “II Seminário Internacional de Experiências em Atenção Básica/Saúde da Família”; apoio à entrega de medicamentos básicos às Equipe de Saúde da Família (ESF); incorporação das ações de saúde bucal ao PSF; realização da primeira fase do estudo “Monitoramento das equipes de Saúde da Família no Brasil”. 2002 - Realização de um quarto evento: “PSF — A saúde mais perto de 50 milhões de brasileiros” e da segunda fase do estudo “Monitoramento das equipes de Saúde da Família no Brasil”; A população coberta pelo PSF ultrapassa os 50 milhões de pessoas. 2003 - Início da execução do Programa de Expansão e Consolidação da Estratégia de Saúde da Família (Proesf), cuja proposta inicial era a ampliação do programa em municípios de grande porte, ou seja, com mais de 100 mil habitantes, e publicação dos Indicadores de 2000, 2001 e 2002 do Sistema de Informação da Atenção Básica. 2006 - Considerando a expansão do PSF, que se consolidou como estratégia prioritária para reorganização da atenção básica no Brasil e primeiro nível da atenção à saúde no SUS, o Ministério da Saúde publicou a Portaria Nº 648, de 28 de Março de 2006, que aprova a Política Nacional de Atenção Básica estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para sua organização no PSF e PACS, entre outras portarias importantes. 2 ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA: CONCEITOS BÁSICOS A implantação desse novo modelo de assistência trouxe algumas características e conceitos que serão descritos a abaixo: 2.1 TERRITORIALIZAÇÃO Processo de definição das áreas de abrangência dos serviços de saúde locais. 24 Deve levar em conta o mapa do município, mapas censitários (IBGE), condições culturais, econômicas e sociais da população local, meios de transporte, dinâmica demográfica da área e homogeneidade de riscos. Deve ser flexível, passível de revisão de acordo com as mudanças de aspectos locais. 2.1.1 Área de abrangência Área sob a responsabilidade de um determinado serviço de saúde ou equipe de PSF. A equipe deverá trabalhar em prol da resolutividade no combate e na prevenção dos agravos e na promoção à saúde dos membros daquele território. 2.1.2 Território O Território-Distrito: conjunto total, espaço-populacional do sistema regionalizado, em geral coincidindo com um limite ou uma definição político- administrativa, como um município, subdivisões municipais ou conjunto de municípios e corresponde a uma definida coordenação sanitária, de articulação interna e externa. Em Manaus é dividido em 4 distritos: norte, sul, leste e oeste. O Território-Área: primeira subdivisão do Território-Distrito, devendo representar o espaço da população adscrita, que estabeleça vínculo e relação com uma Unidade de Saúde, permitindo a melhor relação e fluxo população-serviços, com essa unidade de saúde e outros necessários e compatíveis com a atenção e saúde no nível primário de atendimento. Então cada USF tem sua área de atuação. O Território-Microárea seria uma subdivisão do Território-Área próxima ao conceito de "área homogênea de risco", permitindo e objetivando contínua análise epidemiológica com identificação e enfrentamento continuado dos problemas de saúde. Geralmente são 6 a 7 microáreas (MA) por USF e cada uma delas fica sob responsabilidade de um ACS, que mantém atualizado o cadastro e as informações de cada família da sua MA. 25 Território-Moradia: espaço de menor agregação social, familiar ou de grupos de indivíduos, permitindo aprofundar o conhecimento epidemiológico e o desenvolvimento de ações de saúde. 2.1.2.1 População adstrita É a população residente na área de atuação de uma Equipe de Saúde da Família ou serviço de saúde. Estando adstrita às áreas, cabe à equipe ou ao serviço a constituição de um vínculo entre o sistema e essa população, de forma a permitir o cultivo da responsabilização por parte dos profissionais de saúde. 2.2 VÍNCULO Em saúde, significa a manutenção ativa do cuidado por meio de ações que objetivem a monitoração constante das condições de saúde de um usuário ou família. Desenvolve-se a partir do contato inicial com o agente comunitário ou outro membro da equipe e aperfeiçoa-se a cada contato, à medida que a equipe se informa mais sobre as condições de vida dos usuários e se relaciona com eles. 2.3 CADASTRAMENTO Atribuição básica dos agentes comunitários de saúde de uma equipe de saúde da família: § Visa ao levantamento do número de pessoas de uma determinada área, a estrutura etária, escolarização, condições de moradia e história pregressa da saúde das mesmas. Para isso, utiliza-se um formulário chamado Ficha A e, a partir disso, constitui-se o prontuário familiar. 26 FIGURA 3: Cadastramentode famílias feito pelo ACS Fonte: Ministério da Saúde. § É atividade básica para o trabalho de uma equipe de PSF, utilizada no planejamento de todas as ações. § Exige manutenção mensal de dados pelos ACS. QUADRO 1 FICHA DE CADASTRAMENTO – SAÚDE DA FAMÍLIA FICHA A SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE ATENÇÃO BÁSICA UF |__|__| ENDEREÇO NÚMERO |__|__|__| __ BAIRRO CEP |__|__|__|__|__| - |__|__|__| MUNICÍPIO |__|__|__|__|__|__|__| SEGMENTO |__|__| ÁREA |__|__|__| MICROÁREA |__|__| FAMÍLIA |__|__|__| DATA |__|__|-|__|__|-|__|__| CADASTRO DA FAMÍLIA PESSOAS COM 15 ANOS E MAIS DATA NASC. IIDAD E SSEX O ALFABETIZADO OCUPAÇÃO DOENÇA OU CONDIÇÃO REFERIDA NOME sim não (sigla) 27 PESSOAS DE 0 A 14 ANOS DATA NASC. IIDAD E SSEX O FREQUENTA A ESCOLA OCUPAÇÃO DOENÇA OU CONDIÇÃO REFERIDA NOME sim não (sigla) Siglas para a indicação das doenças e/ou condições referidas ALC - Alcoolismo EPI - Epilepsia HAN - Hanseníase TB - Tuberculose CHA – Chagas GES - Gestação MAL - Malária DEF - Deficiência HA - Hipertensão Arterial DIA - Diabetes SITUAÇÃO DA MORADIA E SANEAMENTO 28 TIPO DE CASA TRATAMENTO DA ÁGUA NO DOMICÍLIO Tijolo/Adobe Filtração Taipa revestida Fervura Taipa não revestida Cloração Madeira Sem tratamento Material aproveitado ABASTECIMENTO DE ÁGUA Outro – Especificar: Rede pública Poço ou nascente Número de cômodos / peças Outros Energia elétrica DESTINO DE FEZES E URINA DESTINO DO LIXO Sistema de esgoto (rede geral) Coletado Fossa Queimado Enterrado Céu aberto Céu aberto OUTRAS INFORMAÇÕES Alguém da família possui Plano de Saúde? Número de pessoas cobertas por Plano de Saúde Nome do Plano de Saúde |__| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| __| EM CASO DE DOENÇA PROCURA PARTICIPA DE GRUPOS COMUNITÁRIOS Hospital Cooperativa Unidade de Saúde Grupo religioso Benzedeira Associações Farmácia Outros - especificar: Outros - especificar: MEIOS DE COMUNICAÇÃO QUE MAIS UTILIZA MEIOS DE TRANSPORTE QUE MAIS UTILIZA Rádio Ônibus 29 Televisão Caminhão Outros - Especificar: Carro Carroça Outros - especificar: Observações: Cada família terá somente um formulário preenchido, não importa o número de pessoas na casa. As informações registradas na Ficha A vão para a Secretaria Municipal de Saúde, e parte delas vai para Secretaria Estadual de Saúde e, finalmente, para o Ministério da Saúde. É um instrumento que permite aos gestores municipais, estaduais e federais conhecerem a realidade da saúde das pessoas nos municípios brasileiros. 2.4 SITUAÇÃO DE SAÚDE É levantada a partir de um trabalho de diagnóstico situacional pela equipe de saúde. Corresponde ao retrato das condições de saúde da comunidade em um determinado instante. Esse trabalho norteará as decisões e ações daquela equipe. Por ser dinâmico, tal retrato pressupõe uma avaliação contínua (pois a situação pode alterar-se a qualquer momento), com o objetivo de reajustar o rumo do trabalho por meio da correção das ações e dos objetivos. Devem-se construir indicadores que possibilitem tanto o entendimento do contexto atual (situação) como a avaliação da mudança do mesmo após as ações realizadas. 30 2.4.1 Indicador de saúde Medida simples de uma das dimensões do estado de saúde. Por exemplo, a esperança de vida, a taxa de mortalidade infantil, a taxa de mortalidade padronizada. São características dimensionadas estatisticamente. 2.5 DEMANDA Pressão sobre os serviços gerada pela necessidade dos usuários. Pode ser classificada em três categorias: Demanda Espontânea: decorrente da procura aos serviços de saúde a partir da constatação, pelo próprio paciente, da existência de um agravo. Demanda Reprimida: que pode ocorrer após um trabalho concentrado de diagnóstico situacional por parte dos profissionais de saúde em uma área antes desprovida desse tipo de atenção. Demanda Organizada ou Direcionada: que ocorre em uma área permanentemente monitorada por uma equipe ou serviço de saúde capaz de diagnosticar a existência de um agravo com antecedência e oferecer ao usuário uma solução para o mesmo. 2.6 RISCO As pessoas e as comunidades têm diferentes probabilidades de adoecer e morrer para cada problema de saúde conhecido. Essa diversidade de chances se deve à distribuição heterogênea dos riscos à saúde, que são fatores facilitadores do desencadeamento de tais processos. Podem ter diversas naturezas: § Risco Constitucional diz respeito à constituição genética do sujeito e às chances, herdadas naturalmente, de adoecer e morrer. § Risco Individual se refere ao estilo de vida de cada indivíduo (atividades físicas, alimentação, tabagismo, alcoolismo, droga). É importante lembrar 31 que esses fatores podem ser mais ou menos prevalentes em certas sociedades, uma vez que o estilo de vida não é uma condição exclusivamente individual. § Riscos ambientais se referem aos fatores presentes na comunidade em que vive ou trabalha o sujeito e que podem agir sobre sua saúde, como, por exemplo, a poluição atmosférica, as condições de trabalho e a infraestrutura sanitária da comunidade. § Riscos sociais são aqueles decorrentes das condições familiares financeiras e afetivas, bem como os referentes à inserção social do indivíduo na sociedade e o reconhecimento do seu valor. Vale lembrar que essa divisão é, por muitas vezes, meramente didática, uma vez que, alguns riscos ambientais (como a falta de uma rede de esgoto) são consequências de questões sociais. 2.7 REFERÊNCIA E CONTRARREFERÊNCIA Ato de se encaminhar pacientes já atendidos para outras instâncias do sistema de saúde a fim de se garantir a integralidade da atenção. Referência: encaminhamento de pacientes do nível primário para níveis mais especializados. Contrarreferência: é o encaminhamento dos níveis especializados aos primários. Ambos os procedimentos requerem uma articulação mínima eficaz entre as diversas instâncias dos serviços de saúde, seja na mesma instituição, seja entre serviços de bairros ou municípios diferentes. 2.8 INTERSETORIALIDADE É a articulação entre sujeitos de setores sociais diversos e, portanto, de saberes, poderes e vontades diversos para enfrentar problemas complexos. 32 Pretende possibilitar a superação da fragmentação dos conhecimentos e das estruturas sociais para produzir efeitos mais significativos na saúde da população. 2.9 CARÁTER SUBSTITUTIVO Não significa criação de novas estruturas de serviços, exceto em áreas desprovidas e sim a substituição das práticas convencionais de assistência por um novo processo de trabalho, cujo eixo está centrado na vigilância à saúde. 2.10 COMPARAÇÃO ENTRE O MODELO ATUAL E O PSF QUADRO 2 COMPARATIVO ENTRE O MODELO ATUAL DE SAÚDE DA FAMÍLIA E O PSF Modelo de atenção à saúde atual Modelo da estratégia saúde da família A atenção está centrada no órgão doente. Enfatiza a medicina curativa. Ação fragmentada, sem racionalidade e voltada para a demanda espontânea. O médico é o centro do serviço de saúde e todas as ações convergem para ele. É um modelo centralizador limitadoa ação setorial. O indivíduo é o único objeto de ação, desconsiderando as relações sociais. Não se volta para a causa dos problemas A atenção está voltada para a promoção da saúde do ser humano, membro de uma família e de uma comunidade. Atende a demanda adscrita de forma sistematizada, contínua e racionalizada programando as ações possíveis. Prega a integralidade da assistência enfatizando a prevenção da saúde estudando as causas de risco. A noção de saber e de poder estão centrados na equipe de saúde. Prega a intersetorialidade nas ações. Analisa o indivíduo com suas percepções próprias, mas integrando-o à família e à comunidade. 33 Em resumo, no modelo dominante, as práticas de saúde do Brasil, centram-se na atuação na doença quase sempre a partir da demanda espontânea aos serviços, com ênfase na medicina curativa. Já no PSF, o que se busca é a integralidade da assistência, respondendo à demanda espontânea de forma contínua e racionalizada. Outra distinção de base entre os modelos está na consideração do objeto da ação da saúde. Enquanto no modelo hegemônico podemos perceber um processo de objetivação do indivíduo, que se torna passível de atuação basicamente medicalizada e individual, no PSF, pretende-se tratar o indivíduo como sujeito integrado a partir de ações que valorizem essa dimensão mais global. Portanto, a construção do novo modelo assistencial centrado nas estratégias de implantação e generalização do Programa Saúde da Família, articulados com o princípio de descentralização, municipalização, integralidade e qualidade nos cuidados de saúde é parte indissociável da consolidação e aprimoramento do Sistema Único de Saúde – SUS. 3 ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA EM MANAUS Consiste numa nova sistemática no modelo de assistência à saúde de Manaus, reestruturando a porta de entrada do sistema, na tentativa de efetivar os princípios e diretrizes do SUS e proporcionar maior cobertura populacional. Procurando desenvolver, com as famílias de uma área determinada, ações de atenção primária à saúde, com qualidade, humanização e participação da comunidade. 3.1 HISTÓRICO E DESENVOLVIMENTO § Iníciou em novembro de 1988, com a elaboração de um projeto propondo: § Instalação de 15 equipes. § Acomodação das equipes em imóveis alugados. § Cada equipe com: 1 médico, 1 enfermeiro, 3 aux. de enfermagem e 6 ACS. § Com até 1000 famílias por equipe. 34 § Em março de 1999, começou a implantação do PSF em Manaus, com as seguintes características: § Acomodação das equipes em imóvel de 40m², com 4 cômodos (1 consultório, 1 recepção, 1 farmácia e 1 banheiro). § Cada equipe com: 1 médico, 2 aux. de enfermagem e 7 ACS; depois foi incorporado o enfermeiro a equipe por determinação do Ministério da Saúde. § Cada equipe com uma média de 1050 famílias por equipe (1 médico; 1 enfermeiro; 2 auxiliares de enfermagem e 7 ACS). § Apoio técnico pela equipe de supervisão. Que foi extinta no início de 2007 quando se criou os distritos de saúde (norte, sul, leste, oeste). 3.2 PRINCIPAIS DESAFIOS § Processo de mudança, principalmente para os profissionais envolvidos, exigindo deles esforço, criatividade, determinação, compromisso e responsabilidade para superar as dificuldades que toda mudança traz e, assim, atingir a proposta do PSF. § Formação profissional deficiente. § Entraves políticos, econômicos, culturais e estruturais encontrados no decurso de viabilização das ações. § Necessidade de monitoramento e avaliação, para respaldar o enfrentamento dos problemas e otimizar as oportunidades de crescimento e sustentabilidade do PSF. 3.3 AVANÇOS DA ESTRATÉGIA EM MANAUS Criação de novas oportunidades de acesso aos serviços às comunidades mais vulneráveis, diminuindo estatisticamente alguns indicadores de saúde, como por exemplo, a desnutrição infantil. 35 Introdução de uma nova metodologia de organização do trabalho dos profissionais de saúde: indivíduo/família/comunidade/equipe, estabelecendo vínculo e conhecendo a realidade em que vivem as pessoas e suas reais necessidades. Tradução, na prática, do conceito de responsabilidade sanitária. Articulação da rede de saúde, de forma hierarquizada e regionalizada, para garantir o acesso aos serviços de maior complexidade. A territorialização: proporciona escolha das áreas orientadas prioritariamente pelos riscos ambientais e sociais existentes. A organização do trabalho leva em conta o perfil epidemiológico de cada localidade (características demográficas, principais doenças e agravos diagnosticados e as condições que influenciam esses problemas/cadastramento das famílias). 3.4 TERRITORIALIZAÇÃO DA ESTRATÉGIA EM MANAUS O município foi dividido por zonas e em cada uma delas tem um distrito de saúde responsável pelas unidades de saúde dessas zonas: oeste/centro-oeste; sul/centro-sul; leste e norte. Atualmente, existem 165 unidades de saúde da família (USF), cada uma responsável por aproximadamente 5250 pessoas. Há 177 equipes de saúde da família (ESF), cada uma com 1 médico, 1 enfermeiro, 2 auxiliares de enfermagem e 7 ACS. Essas equipes trabalham com área adstrita: são 7 microáreas com 1 ACS para cada uma delas, responsável por uma média de 400 a 750 pessoas. O objetivo para 2010 é continuar a construção dos módulos, novas unidades de saúde da família com uma estrutura física ampliada e mais adequada à prestação dos serviços à comunidade, além de ampliação da saúde bucal. 36 FIGURA 4: novo modelo arquitetônico da USF (Fonte: SEMSA – Manaus) 3.5 SITUAÇÃO ATUAL DO PSF EM MANAUS QUADRO 3 N° DE UNIDADES DE SAÚDE DA FAMÍLIA X N° DE EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA (MANAUS, 2006) ZONA N° DE UNIDADES DE SAÚDE DA FAMÍLIA N° DE EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA NORTE 40 43 SUL 53 53 LESTE 33 37 OESTE 39 44 TOTAL 165 177 QUADRO 4 PROFISSIONAIS DE SAÚDE DO PSF EM MANAUS Profissionais Norte Sul Leste Oeste TOTAL Médicos 43 53 37 40 173 Enfermeiros 43 53 37 40 173 Equipe Básica Dentistas 10 - - - 10 Edited by Foxit Reader Copyright(C) by Foxit Corporation,2005-2009 For Evaluation Only. 37 Aux./Téc. de enfermagem 86 106 74 80 346 ACS 197 371 259 280 1107 * TOTAL: 1799 * N° de profissionais em fevereiro/2006. QUADRO 5 POPULAÇÃO ASSISTIDA PELO PSF EM MANAUS ÁREA PROGRAMAS DE SAÚDE ZONA Famílias Pessoas Crianças < 2anos Gestantes HAS DIA HAN TB Norte 25.713 106.014 4.490 940 3.538 1.087 26 36 Sul 40.805 169.036 6.848 963 8.941 2.953 32 57 Leste 50.507 213.637 11.804 1.993 6.635 2.176 82 62 Oeste 33.306 171.618 6.033 1.039 6.577 2.331 39 59 Total 150.341 660.305 29.175 4.935 25.691 8.547 179 214 Cobertura 41,46% Fonte: SIAB/2006 A cobertura em Manaus ainda é baixa, por isso o objetivo da Secretaria Municipal de Saúde é a expansão dessa cobertura por meio de melhorias nas equipes de saúde da família já existentes e construção de novas unidades de saúde, estabelecendo uma efetiva inserção dessa estratégia de saúde no município. 4 POLÍTICAS E PROGRAMAS DE SAÚDE PÚBLICA A atenção básica ou atenção primária em saúde aborda os problemas mais comuns na comunidade, oferecendo serviços de prevenção, cura e reabilitação. A atenção primária é a chave para que a meta de saúde seja atingida com justiça social. Devendo ser plenamente desenvolvida pelas equipes da UBS e UBSF. É considerada a porta de entrada para o sistema de saúde. Avalia o paciente ao primeiro contato e garante a oferta de serviços continuados aos outros níveis de atenção à saúde. 38 FIGURA 5: Políticas e programas de saúde pública O Ministério da Saúde divide as ações da atenção básica em programas de saúde e baseando-se nesses programas elaboram-se manuais e protocolosque embasam as condutas e ações dos profissionais que atuam na Atenção Básica, visando ao controle e à eliminação dos principais problemas de saúde pública. 4.1 CONTROLE DA TUBERCULOSE E ELIMINAÇÃO DA HANSENÍASE 4.1.1 Controle da Tuberculose A tuberculose é um problema de saúde prioritário no Brasil, que juntamente com outros 21 países em desenvolvimento, albergam 80% dos casos mundiais da doença. No Brasil, estima-se que ocorram 129.000 casos por ano, dos quais são notificados cerca de 90.000. Em 1998, o coeficiente de mortalidade foi de 3,5 por 100.000 habitantes. Esses números, entretanto, não representam a realidade do País, pois parte dos doentes não são diagnosticados nem registrados oficialmente. PORTA DE ENTRADA Nível Primário Resolução 85% ** * Nível Secundário / Resolução 10% Centros de Especialidades Nível Terciário = Resolução 5% Hospitais de Referência 39 O ministério da Saúde define a tuberculose como prioridade entre as políticas governamentais de saúde e estabelece diretrizes para as ações. Busca ativa de casos: os sintomáticos respiratórios: a equipe de saúde deve estar preparada para realizar a busca sistemática de sintomáticos respiratórios, ou seja, das pessoas maiores de 15 anos que procuram os serviços de saúde por qualquer motivo e apresentam queixas de tosse e expectoração por três semanas ou mais. Entre esses, deve-se procurar o doente com tuberculose pulmonar bacilífera, fonte de infecção para outros indivíduos. Diagnóstico clínico de casos: § Acesso a exames para diagnóstico e controle: laboratorial e radiológico. § Cadastramento e notificação dos portadores da doença. O caso deverá ser notificado por meio do preenchimento da ficha de notificação do SINAN (ver anexos), pelo profissional (médico ou enfermeiro) da unidade que atendeu o paciente, depois essa ficha deverá ser encaminhada para digitação no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Acompanhamento e tratamento dos casos (supervisionado ou autoadministrado): § Disponibilizar os medicamentos para os doentes inscritos no programa. § Manter o Livro de Controle de Tratamento dos Casos de Tuberculose com informações atualizadas acerca do seu acompanhamento, baciloscopias e critério de alta. Essas informações devem ser enviadas mensalmente para a Vigilância Epidemiológica para serem digitadas no SINAN (Sistema de informações de agravos de notificações). § Fazer visita domiciliar, quando necessário. § Realizar ações educativas e preventivas. A tuberculose é uma doença infecciosa e contagiosa, causada por um microorganismo denominado Mycobacterium tuberculosis, também denominado de bacilo de Koch (BK), que se propaga meio do ar, por gotículas contendo os bacilos expelidos por um doente com tuberculose (TB) pulmonar ao tossir, espirrar ou falar em voz alta. Quando essas gotículas são inaladas por pessoas sadias, provocam a infecção tuberculosa e o risco de desenvolver a doença. 40 A tuberculose é transmitida de pessoa a pessoa pelo ar. FIGURA 6: Transmissão da Tuberculose por meio do ar Fonte: Manual Técnico para o controle da Tuberculose. A propagação da tuberculose está intimamente ligada às condições de vida da população. Prolifera, como todas as doenças infecciosas, em áreas de grande concentração humana, com precários serviços de infraestrutura urbana, como saneamento e habitação, onde coexistem a fome e miséria. Por isso, a sua incidência é maior nas periferias das grandes cidades, podendo, porém, acometer qualquer pessoa mesmo em áreas rurais. Uma vez infectada, a pessoa pode desenvolver tuberculose doença em qualquer fase da vida. Isso acontece quando o sistema imune não pode mais manter os bacilos sob controle e eles se multiplicam rapidamente. 41 Figura 7: órgãos mais acometidos pela tuberculose doença Fonte: Manual Técnico para o controle da Tuberculose. Todos os órgãos podem ser acometidos pelo bacilo da tuberculose, porém, ocorre mais frequentemente nos pulmões, gânglios, pleura, rins, cérebro e ossos. Apenas em torno de 10% das pessoas infectadas adoecem, metade delas durante os dois primeiros anos após a infecção e a outra metade ao longo de sua vida. Essa estimativa está correta se não existirem outras infecções ou doenças que debilitem o sistema imunológico da pessoa, como, por exemplo: § diabetes mellitus (dm); § infecção pelo HIV; § tratamento prolongado com corticosteroídes; § terapia imunossupressora; § doenças renais crônicas, entre outras; § desnutrição calórico-proteica. FIGURA 8: tratamento para doenças que debilitam o sistema imunológico 42 4.1.2 Esquemas de tratamento 4.1.2.1 Esquema de tratamento antigo A associação medicamentosa adequada, doses corretas, uso por tempo suficiente, com supervisão da tomada dos medicamentos (atual estratégia do tratamento supervisionado – DOTS) são os meios para garantir a adesão ao tratamento e evitar a persistência bacteriana e o desenvolvimento de resistência às drogas, assegurando assim a cura do paciente. Para o tratamento de casos novos utiliza-se esquema I (2RHZ/4RH) em regime diário, sendo a tomada dos medicamentos observada diretamente em pelo menos três dias da semana durante os primeiros dois meses e uma observação por semana até o final do tratamento. TABELA 2 ESQUEMA BÁSICO ANTIGO (ESQUEMA I) – 2RHZ/4RH CASOS NOVOS DE TODAS AS FORMAS DE TUBERCULOSE PULMONAR E EXTRAPULMONAR Peso do doente Até 20 kg Mais de 20 kg e até 35 kg Mais de 35 kg e até 45 kg Mais de 45 kg Fases do tratamento Drogas mg/kg/dia mg/dia mg/dia mg/dia 1.ª fase (2 meses - RHZ) R H Z 10 10 35 300 200 1.000 450 300 1.500 600 400 2.000 2.ª fase (4 meses - RH) R H 10 10 300 200 450 300 600 400 Siglas: Rifampicina = R; Isoniazida = H; Pirazinamida = Z. Observações: 43 a) As drogas deverão ser administradas preferencialmente em jejum, em uma única tomada ou, em caso de intolerância digestiva, junto com uma refeição. b) Em casos individualizados, cuja evolução clínica inicial não tenha sido satisfatória, ou ainda nos casos de TB extrapulmonar, com a orientação de especialistas, o tempo de tratamento poderá ser prolongado, na sua 2ª fase, por mais três meses (2RHZ/7RH). c) Os casos de tuberculose associados ao HIV, resistência ao tratamento e recidiva devem ser encaminhados para unidades de referência (em Manaus a unidade de referência é a Policlínica Cardoso Fontes), em seu município ou em municípios vizinhos, para serem tratados. 4.1.2.2 Esquema de tratamento novo Em agosto de 2009 o Sistema Único de Saúde (SUS) lançou um novo medicamento para tratar a tuberculose. O medicamento DFC (dose fixa combinada), popularmente conhecido como “quatro em um”, produzido graças a um acordo de transferência de tecnologia entre um produtor indiano e o governo brasileiro. 44 TABELA 3 ESQUEMA NOVO PARA TRATAMENTO DA TUBERCULOSE ESQUEMA BÁSICO PARA ADULTOS E ADOLESCENTES (2RHZE/4RH) R (Rifampicina) – H (Isoniazida) – Z (Pirazinamida) – E (Etambutol) O esquema básico com quatro fármacos é mundialmente utilizado, com excelentes resultados quanto à efetividade, em particular pela maior adesão ao tratamento. Espera-se com a introdução de um quarto fármaco aumentar o sucesso terapêutico e evitar o aumento da multirresistência (resistência a Rifampicina + Isoniazida). As vantagens da mudança da apresentação dos fármacos são, entre outras, o maior conforto do paciente, pela redução do número de comprimidos a serem ingeridos; a impossibilidade de tomada isolada de fármacos e a simplificação da gestão farmacêutica em todos os níveis. Indicações: casos novos de todas as formas detuberculose pulmonar e extrapulmonar (exceto meningoencefalite) infectados ou não pelo HIV. Caso novo é Regime Fármacos Faixa de peso Unidades/dose Meses 2RHZE Fase intensiva RHZE 150/75/400/275 comprimido em dose fixa combinada 20 a 35 kg 36 a 50 kg >50 kg 2 comprimidos 3 comprimidos 4 comprimidos 2 4RH Fase de manutenção RH 300/200 ou 150/100 cápsula 20 a 35 kg 36 a 50 kg >50 kg 1 cápsula 300/200 1 cáps 300/200 + 1 cáp 150/ 100 2 cápsulas 300/200 4 45 todo paciente que nunca usou ou usou por menos de 30 dias medicamentos para tuberculose. Retratamento: recidiva (independentemente do tempo decorrido do primeiro episódio) ou retorno após abandono com doença ativa. Preconiza-se a solicitação de cultura, identificação e teste de sensibilidade em todos os casos de retratamento. ATENÇÃO: para crianças até 10 anos continuará sendo preconizado o tratamento antigo. 4.1.3 Atribuições do Técnico de enfermagem no controle da Tuberculose § Identificar os sintomáticos respiratórios em visita domiciliar na comunidade e na unidade básica de saúde. § Convocar os comunicantes (pessoas que convivem com o doente de tuberculose) à unidade de saúde para consulta, diagnóstico e tratamento, quando necessário. § Orientar a coleta e o encaminhamento do escarro dos sintomáticos respiratórios. § Fornecer medicação, orientar o seu uso e a importância do tratamento. Esclarecer as dúvidas dos doentes. § Supervisionar o uso correto da medicação nas visitas domiciliares e o comparecimento às consultas de acordo com a rotina da equipe. § Agendar consulta extra, quando necessário. § Convocar o doente faltoso à consulta: planejar visita domiciliar. § Convocar o doente em abandono de tratamento: planejar visita domiciliar. § Realizar ações educativas junto à comunidade. § Participar, com a equipe, do planejamento das ações para o controle da tuberculose na comunidade. § Manter a ficha do SIAB (acompanhamento de TB) atualizada (ver anexos). Enfim, dentre as várias estratégias para estender o Plano Nacional de Controle da Tuberculose a todos os municípios brasileiros está a expansão e a 46 consolidação da Estratégia de Saúde da Família (ESF), em parceria com as prefeituras municipais. 4.2 ELIMINAÇÃO DA HANSENÍASE A hanseníase é uma doença infectocontagiosa, de evolução lenta, que se manifesta principalmente por sinais e sintomas dermatoneurológicos: lesões na pele e nos nervos periféricos, principalmente nos olhos, mãos e pés. O diagnóstico precoce da hanseníase e o seu tratamento adequado evitam a evolução da doença, consequentemente impedem a instalação das incapacidades físicas por ela provocadas. O comprometimento dos nervos periféricos é a característica principal da doença, dando-lhe um grande potencial para provocar incapacidades físicas que podem, inclusive, evoluir para deformidades. Essas incapacidades e deformidades podem acarretar alguns problemas, tais como diminuição da capacidade de trabalho, limitação da vida social e problemas psicológicos. São responsáveis, também, pelo estigma e preconceito contra a doença. Por isso mesmo ratifica-se que a hanseníase é doença curável e quanto mais precocemente diagnostica e tratada, mais rapidamente se cura o paciente. A hanseníase é causada pelo Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen, que é um parasita intracelular obrigatório, com afinidade por células cutâneas e por células dos nervos periféricos, que se instala no organismo da pessoa infectada, podendo se multiplicar. O tempo de multiplicação do bacilo é lento, podendo durar, em média, de 11 a 16 dias. O homem é considerado a única fonte de infecção da hanseníase. O contágio dá-se por uma pessoa doente, portadora do bacilo de Hansen, não tratada, que o elimina para o meio exterior, contagiando pessoas susceptíveis. A principal via de eliminação do bacilo, pelo indivíduo doente de hanseníase, e a mais provável porta de entrada no organismo passível de ser infectado são as vias aéreas superiores, o trato respiratório. No entanto, para que a transmissão do bacilo ocorra, é necessário um contato direto com a pessoa doente não tratada. 47 Quando a pessoa doente inicia o tratamento quimioterápico, ela deixa de ser transmissora da doença, pois as primeiras doses da medicação matam os bacilos, tornando-os incapazes de infectar outras pessoas. As ações preconizadas são: § Busca ativa de casos. § Diagnóstico clínico e laboratorial (multi/paucibacilares). § Cadastramento dos portadores. § Notificação do caso – a hanseníase é uma doença de notificação compulsória. Concluído o diagnóstico da doença, o caso deverá ser notificado por meio do preenchimento da ficha de notificação do SINAN (ver anexos), pelo profissional (médico ou enfermeiro) da unidade que atendeu o paciente, depois essa ficha deverá ser encaminhada para digitação no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). FIGURA 9: Tipos de lesões da Hanseníase Fonte: Guia para o Controle da Hanseníase. 4.2.1 Esquemas de tratamento 48 O tratamento do paciente com hanseníase é fundamental para curá-lo, alguns procedimentos como fechar a fonte de infecção interrompendo a cadeia de transmissão da doença são estratégicos no controle da endemia para eliminar a hanseníase enquanto problema de saúde pública. QUADRO 6 ESQUEMA PAUCIBACILAR (PB) Neste caso é utilizada uma combinação da rifampicina e dapsona, acondicionados numa cartela, no seguinte esquema: § rifampicina: uma dose mensal de 600 mg (2 cápsulas de 300 mg) com administração supervisionada; § dapsona: uma dose mensal de 100mg supervisionada e uma dose diária autoadministrada; § duração do tratamento: 6 doses mensais supervisionadas de rifampicina; § critério de alta: 6 doses supervisionadas em até 9 meses. 49 FIGURA10: Esquema de Tratamento Paucibacilar Fonte: Guia para o Controle da Hanseníase. 4.2.1.1 Esquema Multibacilar (MB) Aqui é utilizada uma combinação da rifampicina, dapsona e de clofazimina, acondicionados numa cartela, no seguinte esquema: § rifampicina: uma dose mensal de 600 mg (2 cápsulas de 300 mg) com administração supervisionada; § clofazimina: uma dose mensal de 300 mg (3 cápsulas de 100 mg) com administração supervisionada e uma dose diária de 50mg autoadministrada; e dapsona: uma dose mensal de 100mg supervisionada e uma dose diária autoadministrada; § duração do tratamento: 12 doses mensais supervisionadas de rifampicina; § critério de alta: 12 doses supervisionadas em até 18 meses. 50 FIGURA 11: Esguema de Tratamento Multibacilar Fonte: Guia para o Controle da Hanseníase. 4.2.2 Esquema de tratamento para crianças Para crianças com hanseníase, as doses de medicamentos dos esquemas Paucibacilar e Multibacilar, são ajustadas, de acordo com os seguintes quadros: QUADRO 7 ESQUEMA PAUCIBACILAR 51 QUADRO 8 ESQUEMA MULTIBACILAR 4.2.3 Atribuições do Técnico de enfermagem para eliminação da hanseníase § Planejar as ações de assistência e controle juntamente com a equipe de saúde. § Realizar ações educativas para a família e comunidade. § Identificar e notificar situações e casos suspeitos da doença. § Realizar medidas de controle dos contatos. § Realizar busca ativa dos casos. § Realizar visitas domiciliares em doentes faltosos ou em abandono de tratamento. § Realizar busca de faltosos e contatos. § Fazer supervisão da dose medicamentosa, em domicílio ou na unidade de saúde. § Agendamento de consultas. 4.3 HIPERDIA – CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) E DIABETES MELLITUS (DM) 4.3.1 Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) A Hipertensão Arterial Sistêmica é a mais frequente
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