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Processo Civil O que é um processo? O processo é o instrumento da jurisdição, o meio de que se vale o juiz para aplicar a lei ao caso concreto. Não é um fim em si, já que ninguém deseja a instauração do processo por si só, mas meio de conseguir determinado resultado: a prestação jurisdicional, que tutelará determinado direito, solucionando o conflito. O processo é o instrumento através do qual se obtém a prestação jurisdicional, o caminho formado por atos processuais que obedecem a regras específicas e que vão culminar em uma sentença. “Um conjunto de atos realizados sob o crivo do contraditório, que cria uma relação jurídica da qual surgem deveres, poderes, faculdades, ônus sujeições para as partes que dela participam.” (Pinho) Em geral, o Procedimento (modo pelo qual se executam os atos processuais) comum se subdivide em quatro fases: • A postulatória, na qual o autor formula sua pretensão por meio da petição inicial e o réu apresenta a sua resposta; • a ordinatória, em que o juiz saneia o processo e aprecia os requerimentos de provas formulados pelas partes; • a instrutória, em que são produzidas as prova ao convencimento do juiz; • e a decisória, na qual se dá a sentença. A fase postulatória ocorre inicialmente por meio da petição inicial. Petição Inicial é o ato que dá início ao processo, e define os contornos subjetivo e objetivo da lide, dos quais o juiz não poderá desbordar. É por meio dela que será possível apurar os elementos identificadores da ação: as partes, o pedido e a causa de pedir. Lide Fenômeno social. Interesses em conflitos caracterizados por pretensão resistida. Métodos de Solução de Conflitos 1) Autotutela (Força) 2) Autocomposição (Acordo) 3) Arbitragem (Arbitro) 4) Jurisdição (Poder Judiciário) A Heterocomposição é a técnica pela qual as partes elegem um terceiro para “julgar” a lide com as mesmas prerrogativas do poder judiciário. As duas formas principais são: Arbitragem e Jurisdição. Sentença: norma jurídica inter partes. Sentença é a decisão do juiz sobre os pedidos formulados na petição inicial, ainda que o processo prossiga. Sentença de mérito: sentença que analisa o pedido do autor. Jurisdição: poder-dever do estado de compor um conflito de interesses. Manifestação de soberania do estado. Substitutividade: O magistrado (de forma imparcial), substituirá as vontades das partes, aplicando o bom direito, ou seja, a vontade Estatal que foi positivado (transformado em normas), através da lei que emana do povo. Imparcialidade: O poder jurisdicional e decorrente da lei e não de critérios subjetivos, assim sendo, para a perfeita aplicação do direito é necessário que os membros pertencentes do Poder Judiciário atuem com imparcialidade, desprovidos de qualquer interesse particular sobre a lide. Características: • Lide (Jurisdição contenciosa) o Sem lide (Jurisdição voluntária) • Substitutividade: quando não há autocomposição, prevalece a vontade do estado. o Só existe na jurisdição contenciosa. o Encontramos a jurisdição substituindo a vontade das partes litigantes, que não podem de forma alguma praticar a autotutela. A sentença outorgará à parte que teve seu direito efetivado aquilo a que faz jus. • Inércia o A jurisdição não é prestada de ofício, ou seja, necessária a provocação do Judiciário para o desenvolvimento da atividade jurisdicional. Ora, o juiz, imparcial não promoverá, pelo seu próprio interesse, o deslinde da demanda. o Regra: Art. 2, CPC; o Exceção: Art. 712, CPC. • Definitividade – Principal característica: o Vale lembrar que a jurisdição é a única apta a formar a coisa julgada material. A sentença transitada em julgado, em regra, é imodificável, conforme artigo 5º, XXXVI, da Constituição Federal, salvo nos casos previstos no artigo 966 do Código de Processo Civil. Princípios Processuais Art. 2º O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei. A inércia é necessária para a imparcialidade do juiz. Princípio do impulso oficial: A partir da propositura da demanda (pedido) através da Petição inicial, o juiz possui a obrigação de conduzir o processo até o momento de sentença. O dever de impulso oficial guarda correlação com a garantia constitucional da celeridade processual. (Vide Art. 5° LXXVIII CF/88) LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. Em face do princípio da inercia, o juiz está limitado ao que foi pedido na petição inicial, em outras palavras, o juiz não pode conceber além do que foi pedido (sentença “ultra petita”), não pode conceber algo diferente do que foi pedido (sentença “extra petita”) nem poderá deixar de apreciar pedidos constantes na petição inicial (sentença “citra petita”). *A doutrina denomina de princípio da adstrição, princípio da congruência ou da conformidade, que é desdobramento do princípio do dispositivo (art. 2º). Petição (pedido inicial) X demanda (pedido dos direitos disponíveis) Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. Princípio da inafastabilidade da jurisdição: (Vide Art. 5° XXXV CF/88) XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; • Possibilidade de propositura de demanda preventivas (contra ameaças); o Ex: Interdito Proibitório (combatendo ameaça ao direito de posse), embargo de obra irregular e habeas corpus preventivo. • A demanda judicial também pode ser proposta para combater ato ilícito já praticado ou para combater ofensas já praticadas contra direitos. Obs.: não esquecer que, não raro, a jurisdição também pode ser voluntaria, ou seja, o indivíduo pode estar querendo apenas a homologação judicial de um direito, que não está sendo ofendido nem ameaçado. Ex: pedido de troca de nome, pedido de adoção, pedido de interdição de incapaz etc. Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. O juiz pode proferir três espécies de sentença: • Extinção do processo sem resolução de mérito (sentença terminativa), ou seja, sentença em que o pedido do autor não é analisado; • Sentença de procedência (sentença de mérito a favor do autor); • Sentença de improcedência (sentença mérito a favor do réu). A sentença terminativa é uma sentença anômala, afinal não é normal que um indivíduo movimente a máquina judiciaria para ao final não ter a solução do litígio existente na sociedade. Para que a sentença não seja terminativa, mas seja uma sentença de mérito, o juiz deverá verificar a presença dos pressupostos processuais (requisito necessário para existência do processo válido). O Art. 04º estabelece o princípio da primazia (importância) da decisão de mérito. (Art. 139º, IX, CPC) Considerando o presente princípio, o juiz deverá determinar o saneamento (correção) dos defeitos processuais (problemas de pressupostos processuais) de acordo com que determina a o Art. 139º IX do CPC sempre com objetivo de proferir uma solução (sentença) com a resolução de mérito. O Art. 04º reforça o dever de celeridade processual. O processo pode possuir duas fases muito claras: a) Fase de certificação do direito (fase de conhecimento), fase em que o juiz declara se o direito existe e a quem pertence; b) Fase de satisfação do direito (fase de execução), na qual o juiz busca efetivar (concretizar) o direito já declarado (certificado por sentença como existente). A importância (primazia) de um rápido julgamento de mérito é um valor que deve estar presente tanto na fase de conhecimento quanto na fase de execução. Art. 5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé.Art. 5º (Princípio da boa-fé, lealdade processual) O CPC não se preocupa com a boa-fé subjetiva (não se preocupa com o aspecto anímico, referente as intenções do agente), mas com a boa-fé objetiva, decorrente das condutas efetivamente adotadas no curso do processo. Art. 79. Responde por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como autor, réu ou interveniente. O ato de má-fé é um ato contrário ao direito, portanto revela-se ato ilícito. Se referido ato gerar dano, surgirá o dever de indenizar. Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que: I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; II - alterar a verdade dos fatos; III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal; IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo; V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; VI - provocar incidente manifestamente infundado; VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório. O legislador já estabeleceu um rol de condutas que podem ser enquadradas como atos de má- fé, conforme se observa no art. 80 do CPC. O art. 81, por sua vez, estabelece as sanções aplicáveis ao litigante de má-fé: a) Indenização de perdas e danos; b) Pagamento de multa de 1% a 10% sobre o valor da causa; (se o valor da causa for muito pequeno, ou seja, irrisório, o juiz poderá fixar a multa em até 10 (dez) salários mínimos, conforme §2 do art. 81 do CPC). (A multa será revertida ao poder judiciário; c) Honorários advocatícios; d) As despesas / custos do processo. Observar que o art. 5º impõe o dever de boa-fé não apenas às partes, mas a todos os sujeitos que de alguma forma participarem do processo, incluindo o juiz, que não é parte, mas sujeito imparcial. Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Princípio da Cooperação Este princípio se correlaciona ao princípio da boa-fé. Significa que todos os sujeitos (e não apenas as partes) devem praticar atos com o objetivo de possibilitar a extinção do processo com o julgamento de mérito. O dever de cooperação pode ser direcionado às partes: nesse caso, autor e réu não podem adotar condutas que dificultem o julgamento de mérito. Pode ser também direcionado ao juiz, que deverá adotar deveres de esclarecimento visando sempre a correção de vícios processuais pelas partes com a finalidade de proferir uma sentença de mérito. O dever de cooperação do juiz ainda encontra assento no art. 139, inciso 9, do CPC. Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo- lhe: I - assegurar às partes igualdade de tratamento; II - velar pela duração razoável do processo; III – prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça e indeferir postulações meramente protelatórias; IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub- rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária; V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com auxílio de conciliadores e mediadores judiciais; VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito; VII - exercer o poder de polícia, requisitando, quando necessário, força policial, além da segurança interna dos fóruns e tribunais; VIII - determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal das partes, para inquiri-las sobre os fatos da causa, hipótese em que não incidirá a pena de confesso; IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios processuais; X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem o art. 5º da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985 , e o art. 82 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 , para, se for o caso, promover a propositura da ação coletiva respectiva. Parágrafo único. A dilação de prazos prevista no inciso VI somente pode ser determinada antes de encerrado o prazo regular. Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. Princípio da Isonomia / Princípio da Igualdade A isonomia é o valor (princípio) mais importante da república, fato constatado pelo que se observa do art. 5, caput, da constituição federal. A concepção de isonomia não pode ser a de uma isonomia meramente formal, mas de uma isonomia material, segundo defendido por Aristóteles, que afirmava a necessidade de se tratar os desiguais de forma desigual, na medida desta desigualdade. Na arena de batalha do processo, as partes são munidas de armas, ou seja, de instrumentos e possibilidades processuais, com a finalidade de satisfazerem seus respectivos direitos. Esta possibilidade consagra o princípio da paridade de armas. É certo que o princípio da paridade de armas consagra, dentro do processo civil, o princípio da isonomia. Entretanto, é possível haver tratamento desigual entre as partes como forma de consagrar a isonomia material (isonomia aristotélica), justamente como forma de superar situações de desigualdade. Ex.: concessão da justiça gratuita apenas para os necessitados. (Miserabilidade Econômica =/= Miserabilidade Jurídica) Ex. 2: Prazo em dobro para MP, DP e Advocacia Pública. Ex. 3: Inversão do ônus da prova nos casos de hipossuficiência do consumidor dos processos que versem sobre relações de consumo. As garantias do contraditório e da ampla defesa se comunicam entre si, conforme se observa o art. 5º, inciso LV, da CF. Trata-se de garantias aplicáveis aos processos judiciais e administrativos. A ideia de ampla defesa vincula-se na imagem do acusado, que poderá se defender com a utilização de todas as armas processuais disponíveis. A ideia de contraditório é mais ampla que a ideia de ampla defesa, pois o contraditório é direcionado tanto ao autor como ao réu. Com efeito, o autor possui o direito de se manifestar, em contraditório, sobre os fatos alegados pelo réu em sua ampla defesa. Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. A norma impõe a necessidade de que, ao julgar, o juiz decida com respeito aos valores (aos fins) da sociedade. Ou seja, ao decidir, o juiz deve estar atento a como a sua decisão afeta não apenas as partes, mas toda a coletividade. A norma ainda impõe que as decisões dos juízes sejam justas (razoabilidade e proporcionalidade). A norma também preconiza o respeito ao princípio da legalidade. Todavia, a lei poderá deixar de ser aplicada ao caso concreto se ela for inconstitucional. Com efeito, o controle de constitucionalidade pode ser concentrado (realizado pelo SFT, por exemplo) ou pode ser difuso (realizado por cada juiz no julgamento do caso concreto). Fato é que o controle de constitucionalidade afasta a aplicação da lei em homenagem a supremacia da constituição (neoconstitucionalismo). Cumpre registrar que a publicidade não é irrestrita. No Brasil, o princípio é o da publicidade mitigada, uma vez que determinados processos correm em segredo de justiça. Vide art. 107, I, CPC e art. 93, IX, CF (princípio da publicidade mitigada). Art. 107. O advogado tem direito a: I - examinar,em cartório de fórum e secretaria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independentemente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anotações, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado constituído terá acesso aos autos; Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) O princípio da publicidade mitigada encontra amparo no art. 93, IX, CF. A eficiência significa que o juiz deve produzir decisões de mérito no menor tempo possível (e com menor custo possível) para fins de resolutividade do conflito. Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica: I - à tutela provisória de urgência; II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III ; III - à decisão prevista no art. 701 . Obs.: estudamos apenas inciso I. A norma estabelece o princípio do contraditório prévio, ou seja, o debate entre autor e réu deve anteceder qualquer decisão judicial. A regra do contraditório prévio reside na compreensão de que a decisão judicial é uma síntese do debate apresentado entre as partes, no qual o autor apresenta uma tese e o réu uma antítese. O princípio do contraditório, todavia, não é absoluto, uma vez que existem situações em que o juiz deve decidir antes e somente a pós abrir o contraditório, conforme se observa art. 9, parágrafo único, do CPC. Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. As questões debatidas pelo autor e pelo réu dentro do processo podem ser: a) Questões de fato (referente ao que ocorre no mundo fenomênico); b) Questões processuais (referente ao que ocorre no mundo processual, dentro do processo). As questões de fato, em regra, não podem ser conhecidas de ofício (ex officio), pois dependem de alegação pelas partes. Por outro lado, as questões independem, em regra, de alegação pelas partes, afinal, podem ser conhecidas de ofício pelo juiz. Sempre que surgir uma questão de fato dentro do processo (fato novo), o juiz deverá abrir o contraditório, nos termos do art. 7º e 9º do CPC. Ex.: Petição inicial (extrato comprovando o pagamento) Contraditório Contestação (extrato comprovando o pagamento) Contraditório Petição do autor sobre o fato novo (o autor poderá se manifestar sobre a questão de fato alegada pelo réu, qual seja: suposto pagamento da quantia emprestada). Obs.: O exemplo acima revela o contraditório exercido à luz de questões de fato, que, por serem justamente questões de fato, tinham que ser alegadas pelas partes. Com efeito, saber se houve empréstimo ou pagamento deste são questões que dependem de alegação e, sobretudo, comprovação pelas partes. Obs. 2: Observar que alegar questões de fato e não as provas pode configurar uma litigância de má-fé nos termos do art. 80, inciso X do CPC. Caso o juiz não abra o debate democrático antes de decidir determinada questão, ainda que se trate de questão que possa decidir de ex officio, referida decisão padecerá de nulidade. Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público. Princípio da Publicidade, a vedar atos processuais, audiências e sessões de julgamentos secretos. A publicidade possibilita o controle interno e externo dos atos judiciais (e processuais). O controle interno é realizado pelas próprias partes e pelos seus respectivos advogados, que poderão recorrer ao tomarem conhecimento de decisões ilegais ou inconstitucionais. O controle externo, por sua vez, é realizado pela população e por entidades ao tomarem conhecimento dos atos judiciais. Este controle pode ser realizado através de mobilizações sociais, passeatas, críticas abalizadas, entre outros instrumentos possibilitados pela democracia. O dever de motivação, por sua vez, significa que toda decisão judicial deve estar fundamentada para que se possa saber se trata de uma decisão correta ou não. Observa-se assim que o dever de fundamentação promove a realização do controle das decisões judiciais. Ciente que o dever de fundamentação e publicidade são os dois lados de uma mesma moeda, afinal, juntos auxiliam os atos de controle interno e externos das decisões judiciais, percebe-se o porquê de ambas as garantias estarem juntas (interligadas) no art. 93, IX, da CF. É de se observar que em algumas situações o controle externo precisa ser contido em face da garantia da intimidade e da segurança pública, fato que justifica em existência de processo em segredo de justiça. Teoria da ação O direito de ação é um direito fundamental (Art. 5º, XXXV, CF). XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; Em face do diálogo entre a constituição e a lei processual (neoprocessualismo), o CPC também consagra o direito de ação como um princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 3º, CPC). O direito de ação é o direito de requerer uma tutela (proteção) jurisdicional para afastar ameaça ou ofensa a direitos. O direito de ação é materializado através da propositura da petição inicial. Nenhum ato e nenhuma lei podem impedir o protocolo de uma petição inicial perante o poder judiciário, ou seja, não pode impedir a propositura de uma demanda. A petição inicial é um ato processual que materializa o direito de ação e, ao mesmo tempo, apresenta ao Estado-juiz uma demanda. Percebe-se, portanto, a existência de uma relação circular entre a petição inicial e a demanda. Cumpre observar que o direito incondicionado a apresentação de uma demanda (art. 5º, XXXV, CF) não significa o direito de um julgamento de mérito. Afinal, a análise do mérito da demanda exige a prévia satisfação dos pressupostos processuais. A ausência dos pressupostos processuais acaba gerando uma sentença terminativa ao qual se qualifica como uma sentença anômala por não ter o potencial de pacificar o meio social. O direito de ação enquanto direito fundamental abstrato é um direito incondicionado, afinal, todo aquele que sofrer ameaça ou lesão ao direito pode bater as portas do judiciário. No momento do protocolo da petição inicial, o direito abstrato da ação se concretiza. O direito de ação concretamente exercido é um direito condicionado, afinal, o poder judiciário só poderá conceder o mérito da demanda com a satisfação dos pressupostos de admissibilidade. Na época do CPC/73, o juiz somente poderia proferir uma sentença de mérito se passasse de duas barreiras: a) Das condições da ação; b) pressupostos processuais. No CPC/73, as condições da ação eram: a) Legitimidade b) Interesse de agir c) Possibilidade jurídica do pedido. Por lógica, todos os demais requisitos necessários ao julgamento de mérito seriam pressupostos processuais. (Ex.: custas, procuração, competência do juiz, citação etc.) O CPC de 2015 simplificou o tratoda matéria ao: a) Juntar as condições da ação dos pressupostos processuais em uma única barreira, atualmente denominados de pressupostos processuais. (PP 2015 = CA73 + PP73) b) A possibilidade jurídica do pedido não é mais condição da ação e nem pressuposto processual, enfim, não é mais requisito a condicionar o julgamento de mérito. Dessa forma, se o autor apresentar um pedido impossível, o juiz pode proferir o julgamento de mérito, porém, de improcedência. Obs.: O artigo 17 do CPC confirma a exclusão da possibilidade jurídica do pedido como condição ao julgamento de mérito, ao se referir apenas à legitimidade e ao interesse de agir. Obs.: Ausentes a legitimidade e o interesse de agir, o juiz proferirá a sentença terminativa com base o artigo 485, VI, CPC. Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: IV - Verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; Compreendendo a diferença entre julgamento de mérito e o julgamento que não analisa o mérito por ausência pressupostos processuais, devemos fazer algumas importantes observações: a) Em regra, todo processo se inicia com a petição inicial e se encerrará em definitivo com o trânsito em julgado. b) Todo processo, portanto, terá o eu trânsito em julgado, afinal, todo processo é finito (porque o número de recursos é limitado). c) Todo trânsito em julgado faz surgir o fenômeno da coisa julgada FORMAL. Em outras palavras, a coisa julgada formal significa que nada mais poderá ser decidido na fase de conhecimento do processo. d) A existência de coisa julgada formal não significa a existência de coisa julgada material, necessariamente, afinal, são institutos distintos. e) A coisa julgada formal (decorrente do transito em julgado) significa que nada mais poderá ser decidido dentro do mesmo processo, mas não impede a rediscussão da questão em outro processo, uma vez que nem toda decisão que transita em julgado é uma decisão definitiva (as decisões definitivas, que são aquelas que analisam o mérito, estão previstas no art. 487 do CPC). f) Toda coisa julgada material (decisão proferidas com base no art. 487 CPC e que transitarem em julgado) faz coisa julgada formal, mas nem toda coisa julgada formal está acompanhada de coisa julgada material. Cognição e Jurisdição Ao receber uma demanda, o juiz passa a exercer o poder-dever de decidir. Entretanto ele somente poderá exercer esta jurisdição sobre as questões das quais tomar conhecimento. Percebe-se assim a vinculação entre jurisdição e cognição. As questões podem ser conhecidas pelo juiz através das partes, afinal, o réu suscita através de sua contestação. Ex.: Ação de investigação de paternidade e alimentos. Como já sabemos, existem questões EX OFFICIO, ou seja, existem na esfera de cognição do juiz e devem ser decididas mesmo sem terem sido alegadas pelas partes. Anotações no quadro Art. 485, sem resolução demérito, coisa julgada formal. Pode haver novo processo com mesmas partes, causa de pedir e pedido. Art. 487, com resolução de mérito, coisa julgada material. Não pode haver novo processo com mesmas partes, causa de pedir e pedido. 240 + 485, V, CPC Art. 240. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). § 1º A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura da ação. § 2º Incumbe ao autor adotar, no prazo de 10 (dez) dias, as providências necessárias para viabilizar a citação, sob pena de não se aplicar o disposto no § 1º. § 3º A parte não será prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao serviço judiciário. § 4º O efeito retroativo a que se refere o § 1º aplica-se à decadência e aos demais prazos extintivos previstos em lei. Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: V - Reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada; A litispendência se caracteriza através do ajuizamento de duas ações que possuam as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido, como determinam os §§ 1º e 2º do art. 337, do NCPC: “§ 1º Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada, quando se reproduz ação anteriormente ajuizada. Quando a decisão gera efeitos fora do processo, há coisa julgada matéria. Litisconsórcio, quando várias pessoas se juntam para litigar. É um fenômeno processual caracterizado pela pluralidade de sujeitos, em um ou em ambos os polos de um processo judicial. As partes, quando em litisconsórcio, são denominadas litisconsortes. Legitimidade ordinária x Legitimidade extraordinária A parte legítima para a propositura da ação é, na grande maioria dos casos, aquela que está autorizada por uma determinada situação legitimamente estabelecida no direito material. Em outras palavras: em regra, apenas o titular do direito material é que pode pleiteá-lo em juízo. Em hipóteses excepcionais, confere-se, contudo, legitimidade a quem não é o titular do direito material deduzido em juízo. Ocorre, então, o chamado fenômeno da substituição processual. O substituto processual, portanto, é aquele que atua em nome próprio na defesa de direito alheio por força do ordenamento jurídico. A substituição processual é legitimação extraordinária, que se opõe à ordinária porque decorre de situações legitimantes excepcionais, decorrentes da lei ou do sistema. Segundo Antônio Carlos de Araújo Cintra “ocorre a substituição processual quando alguém é legitimado a pleitear em juízo, em nome próprio, na defesa de interesse alheio, de que o seu seja dependente. Não se confunde, pois, a substituição processual com a representação, uma vez que nesta o representante age em nome do representado”. Prossegue ainda referido autor, distinguindo a substituição processual da sucessão no processo: “Em primeiro lugar, note-se, a substituição processual pode se verificar na própria formação do processo, não havendo, nestes casos, como se falar que o substituto tenha sucedido ao substituído no processo, porque o substituído nem sequer, chegou a participar da relação processual. Quando, entretanto, acontece que a substituição se faça no curso do processo, isto é, quando temos hipótese de substituição sucessiva, ocorre, realmente, sucessão no processo; mas uma sucessão essa que, em vez de, como em geral acontece, o sucessor entrar no processo para atuar em nome próprio por um interesse que lhe é próprio, o sucessor assume a causa para, em nome próprio, pleitear por um interesse alheio. Desta forma, conclui-se que a substituição processual pode-se dar com ou sem sucessão no processo; e, quando é com sucessão, apresenta características próprias. Com a expressão “agir em nome próprio”, reconhece-se o substituto processual como parte, com todos os poderes, direitos, deveres e ônus que lhe são inerentes. O substituto processual ainda que defenda interesse alheio não tem sua conduta pautada por esse sujeito. O substituto processual, em outras palavras, atua com total independência no processo. Daí o porquê de o substituto poder atuar em juízo independentemente da vontade do substituto. Nos casos em que ocorrer a substituição, segundo o art. 18, parágrafo único, do Código de Processo Civil o substituído poderá intervir como assistente litisconsorcial nos termos do art. 124 do Código (“Art. 124. Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente sempre que a sentença influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido”). Causa de pedir são os fatos, acontecimentos. O Direito sempre surge a partir de um fato. Fatos diferentes denotam ações diferentes. Pedido podeser uma anulação, uma declaração etc. - Extinção da segunda ação sem julgamento de mérito fundamentada aos olhos da constituição: segurança jurídica e a coisa julgada (art. 5º, XXXVI, CF). Coisa julgada formal (art. 485) -> efeito endoprocessual. Coisa julgada material (art. 487) -> efeito extraprocessual. Competência A competência é um pressuposto processual de validade uma vez que o julgamento de uma determinada demanda somente pode ser realizado por um juiz competente. A criação da competência pela legislação possui duplo fundamento: a) Necessidade de especialização dos juízes em determinadas matérias; b) A necessidade de otimização de tempo de julgamento (garantia da celeridade processual). A competência se divide em dois grandes grupos: a) (in) competência absoluta (em razão da matéria); b) (in) competência relativa (em razão do território). Art. 64. A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão preliminar de contestação. § 1º A incompetência absoluta pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição e deve ser declarada de ofício. § 2º Após manifestação da parte contrária, o juiz decidirá imediatamente a alegação de incompetência. § 3º Caso a alegação de incompetência seja acolhida, os autos serão remetidos ao juízo competente. § 4º Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente. Art. 65. Prorrogar-se-á a competência relativa se o réu não alegar a incompetência em preliminar de contestação. Parágrafo único. A incompetência relativa pode ser alegada pelo Ministério Público nas causas em que atuar. A incompetência absoluta pode ser alegada pelas partes ou conhecida de ofício pelo juiz, a qualquer momento até o trânsito em julgado. Se acaso sobrevier o trânsito em julgado de uma decisão de mérito proferida por um juiz absolutamente incompetente, será cabível alegar nulidade desta decisão em sede de ação rescisória (art. 966, II, do CPC) a ser proposta no prazo máximo de 2 (dois) anos a teor do artigo 975 do CPC. Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: I. se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz; II. for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente; III. resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei; IV. ofender a coisa julgada; V. violar manifestamente norma jurídica; VI. for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória; VII. obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável; VIII. for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos. §1º Há erro de fato quando a decisão rescindenda admitir fato inexistente ou quando considerar inexistente fato efetivamente ocorrido, sendo indispensável, em ambos os casos, que o fato não represente ponto controvertido sobre o qual o juiz deveria ter se pronunciado. §2º Nas hipóteses previstas nos incisos do caput, será rescindível a decisão transitada em julgado que, embora não seja de mérito, impeça: I. nova propositura da demanda; ou II. admissibilidade do recurso correspondente. §3º A ação rescisória pode ter por objeto apenas 1 (um) capítulo da decisão. §4º Os atos de disposição de direitos, praticados pelas partes ou por outros participantes do processo e homologados pelo juízo, bem como os atos homologatórios praticados no curso da execução, estão sujeitos à anulação, nos termos da lei. §5º Cabe ação rescisória, com fundamento no inciso V do caput deste artigo, contra decisão baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos que não tenha considerado a existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento. §6º Quando a ação rescisória fundar-se na hipótese do § 5º deste artigo, caberá ao autor, sob pena de inépcia, demonstrar, fundamentadamente, tratar-se de situação particularizada por hipótese fática distinta ou de questão jurídica não examinada, a impor outra solução jurídica. Art. 975. O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo. § 1o Prorroga-se até o primeiro dia útil imediatamente subsequente o prazo a que se refere o caput, quando expirar durante férias forenses, recesso, feriados ou em dia em que não houver expediente forense. § 2o Se fundada a ação no inciso VII do art. 966, o termo inicial do prazo será a data de descoberta da prova nova, observado o prazo máximo de 5 (cinco) anos, contado do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo. § 3o Nas hipóteses de simulação ou de colusão das partes, o prazo começa a contar, para o terceiro prejudicado e para o Ministério Público, que não interveio no processo, a partir do momento em que têm ciência da simulação ou da colusão. Res (coisa) cisória (quebrar). Quebrar a coisa julgada. Após este prazo máximo de dois anos, a coisa julgada material se torna coisa julgada material soberana. Obs.: a ação rescisória não pode ser utilizada contra toda e qualquer decisão de mérito transitada em julgada, mas apenas nas hipóteses exclusivas do art. 966 do CPC. De igual forma, existe uma limitação temporal, afinal, em regra referida ação somente pode ser proposta no prazo máximo de dois anos do trânsito em julgado. Findo referido prazo, a decisão de mérito não poderá mais ser rescindida, haja visto o surgimento da “coisa julgada material soberana”. Partindo da premissa de que a incompetência territorial é uma incompetência relativa, esta não pode ser alegada de ofício pelo juiz, devendo ser alegada pelo réu em sua contestação (art. 65, CPC). Se não for alegada pelo réu, ocorrerá o fenômeno da prorrogação de competência: o juiz que era relativamente incompetente, em razão do território, tornar-se-á competente para julgar a demanda, não sendo cabível se cogitar na futura utilização de ação rescisória. Obs.: Em que pese a incompetência territorial ser, em regra, relativa, quando se tratar de ações que versem sobre direitos reais IMOBILIÁRIOS, direito de vizinhança, direito de posse, a competência territorial será absoluta, tratando-se de vício de pressuposto processual que poderá ser conhecido de ofício pelo juiz. Obs.: a competência territorial em causas que versem sobre direito imobiliário é considerada absoluta, em face da necessidade de o juiz ter contato com a coisa (inspeção judicial), tudo com a finalidade de proferir decisões acertadas, de onde revela-se evidente interesse público. Vide art. 47, caput, §1 e §2, CPC. Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa. § 1º O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova. § 2º A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta. Distribuída a demanda ao poder judiciário, a competência resta estabilizada, ainda que haja modificações no estado de fato. Em outras palavras: o princípio da perpetuatio jurisdictiones é uma garantia contra pretensões de escolha de magistrados para julgar as demandas, uma vez que ela perpetua a competência jurisdicional. Obs.: não se aplica a perpetuatio jurisdictiones nos casos de incompetência. Obs. 2: o processo pode ser redistribuídoem duas hipóteses: A) quando o órgão jurisdicional for extinto; B) quando o órgão jurisdicional sofrer modificação de sua competência absoluta (em razão de sua matéria). Vide art. 43 do CPC. Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta. Roteiro para distribuição de competência 1) A competência é da justiça brasileira? Apenas se o fato aconteceu no Brasil, se a obrigação terá que ser cumprida no Brasil ou se a pessoa ou bens estiverem no Brasil. Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que: I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal. 2) a matéria é de competência de tribunal superior? STF, STJ, TST, TSE e TSM. STF (Art. 102, CF) – presidente da república, vice-presidente, membros do congresso nacional, seus próprios ministros, o procurador-geral da república, o ministros de estado, comandantes da marinha, do exército e da aeronáutica, membros dos tribunais superiores, do tribunal de contas da união, chefes de missão diplomática de caráter permanente, membros do próprio STF, conflitos entre a união e os estados, ações contra o conselho nacional de justiça e contra o conselho nacional do ministério público, etc. STJ (Art. 105, CF) – governadores dos estados e DF, desembargadores dos tribunais de justiça dos estados e DF, membros dos tribunais de contas dos estados e DF, os dos tribunais regionais federais, dos tribunais regionais eleitorais e do trabalho, os membros dos conselhos ou tribunais de contas dos municípios e os do ministério público da união. Competência originária é a que nasce diretamente nos tribunais 3) A competência é da justiça comum? (federal/estadual) ou a competência é da justiça especial? (TST, TSE, STM) TRF (Art. 108, CF) – processar e julgar: os juízes federais da área de sua jurisdição, incluído os da justiça militar e da justiça do trabalho; os membros do ministério público da união, ressalvada a competência da justiça eleitoral. 4) Não sendo competência da justiça especializada, verificar se a competência é da justiça comum federal ou estadual. Obs.: atentar para o fato de que a constituição não versa sobre a competência estadual, a qual possui natureza residual. A competência da justiça federal está prevista no art. 108 da CF (competência originária do TRF) e no art. 109 da CF (competência da JF do primeiro grau). 5) Sendo a competência da justiça estadual, analisar se se trata de competência de primeiro grau ou competência originária do tribunal de justiça. Obs.: cada estado da federação possui autonomia (e não soberania). Esta autonomia, que é uma característica federativa, possibilita que cada estado da federação se auto-organize. Essa auto-organização ocorre através das respectivas constituições estaduais. Nesse sentido, vide art. 125, §1 da CF/88. Consequentemente, são as constituições estaduais que organizam (distribuem competências) as respectivas justiças estaduais. Portanto, saber se uma demanda inicia em primeiro grau de jurisdição (juiz singular) ou diretamente no tribunal de justiça significa analisar a própria constituição do estado. 6) Definida a competência do juiz singular da justiça estadual / federal, deve-se investigar qual é o foro competente. JF - seção judiciária; JE - comarca. Obs.: as competências territoriais estão estabelecidas dentro do código de processo civil, havendo-se lembrar que existem competências territoriais relativas e competências territoriais absolutas. 7) Encontrado o foro competente, investigar se existe vara especializada. Obs.: as varas judiciais possuem competência especializada em razão do(a): a) matéria (ex.: família, inventário, registro público etc.); b) pessoa (ex.: vara da infância e juventude, fazenda pública, idosos etc.); c) valor da causa (ex.: juizados especiais). Obs.: quem estabelece se existem varas especializadas ou não é a Lei de Organização Judiciária do Estado (LOJE). 8) Investigar se existe juízo prevento (aquele que toma o primeiro contato com a demanda). Obs.: a prevenção revela que um determinado juízo, por já ter tomado conhecimento da matéria, resta vinculado ao julgamento da demanda. 9) Não havendo juiz prevento, a demanda sofrerá livre distribuição, oportunidade em que restará fixada a competência em concreto, a qual não poderá ser modificada em homenagem a perpetuatio jurisdictiones, aparentes art. 43 do CPC. Quesitos 1) João, juiz de direito, deseja impetrar um mandado de segurança contra ato do conselheiro do Conselho Nacional de Justiça. 2) Joana, alemã, casada com Schmitt, alemão, já falecido, deseja entrar com ação de inventário em face de imóveis localizados em João Pessoa. 3) Tadeu, servidor público do IBAMA, autarquia federal, bateu no carro de Pedro quando estava em serviço, dirigindo veículo oficial. Tadeu mora em João Pessoa, Pedro em Recife, e o acidente se deu em Goiânia. 4) Lucas, servidor público do município de Porto Alegre, sofreu diminuição indevida do seu salário pelo respectivo ente municipal e deseja propor ação de cobrança. 5) O governador do estado W deu um tiro em um determinado cidadão. Onde tramitará a ação penal? 6) Maria, besta que era, emprestou 5 mil a Ana, a qual não pagou referido empréstimo. Maria reside em João Pessoa e Ana em Recife. Competência em valor da causa Lei 9.099/95 – 405 salários mínimos (juízo estadual). Lei 10.259/2001 – 605 salários mínimos (juízo federal) – Obrigatoriedade (competência absoluta). Resumo geral sobre competência Competência Funcional - Fases do processo Funcional – absoluta Matéria – absoluta Território – relativa. Exceto imóveis (absoluta) Valor da causa – JE (relativa), JF (absoluta Pessoa – absoluta Litisconsórcio Ativo: vários autores vs um único réu. Passivo: um autor vs vários réus. Misto: vários autores vs vários réus. Ativo: um acidente de avião em que há diversos falecidos. As famílias se juntam para processar um único réu que é a empresa de aviação. Passivo: um proprietário tem suas terras invadidas por várias famílias. Faz uma reintegração de posse contra todos os réus. Misto: duas pessoas compram um aparelho eletrônico nas lojas americanas e o aparelho para de funcionar. As duas pessoas podem entrar contra as lojas americanas e a fabricante (Motorola). Litisconsórcio facultativo: poderia ser julgado individualmente. Litisconsórcio obrigatório: é um verdadeiro pressuposto processual. No primeiro momento, há uma obrigatoriedade por expressa determinação legal. No segundo caso, a formação dependerá da conveniência que a parte acredita existir no caso concreto em litigar em conjunto, dentro dos limites legais. O art. 144 do CPC prevê que “o litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes”. O dispositivo legal serve para indicar os dois fundamentos que tornam a formação do litisconsórcio necessária. Quando a decisão do juiz afetar mais de uma pessoa, haverá um litisconsórcio porque o prejudicado tem que se defender. Digamos que um senhor de idade acabou de casar-se com uma jovem de 18 anos. Casou-se com a intenção de deixar a pensão pormorte à jovem, assim, fraudando a previdência. O MP pode propor a anulação do casamento e, consequentemente, um litisconsórcio passivo necessário (obrigatório) ocorre. Na reinvindicação de uma casa, por exemplo, sendo o autor casado no regime de comunhão de bens, é obrigatório o litisconsórcio do autor com seu cônjuge. Se trata de um litisconsórcio necessário ativo. O litisconsórcio é simples quando cada pessoa vai receber uma determinada decisão. Quando o litisconsórcio for unitário, a decisão vai ser a mesma para todos. Classificação do litisconsórcio a) Quanto ao polo processual: a. Ativo: vários autores; b. Passivo: vários réus; c. Misto: vários autores e vários réus. b) Quanto ao momento de formação: a. Anterior (antecedente, prévio, originário): o litisconsórcio é formado já no início do processo, ou seja, já é indicado desde a petição inicial. b. Posterior (ulterior, incidental, decorrente): o litisconsórcio é formado no decorrer da relação processual. Ex.: sucessão processual por morte do réu, oportunidade em que os herdeiros serão chamados para formação de um litisconsórcio passivo ulterior. c) Quanto a obrigatoriedade: a. Facultativo: nesse caso, o advogado pode formar o litisconsórcio com a finalidade de economizar tempo e energia (garantia da celeridade processual), bem como evitar decisões contraditórias (garantia da segurança jurídica). b. Necessário: trata-se de litisconsórcio obrigatório, o que ocorre em duas hipóteses: i. Litisconsórcio necessário por exigência da lei. Ex.: usucapião. ii. Litisconsórcio obrigatório: porque a decisão judicial afetará, necessariamente, o patrimônio jurídico de mais de uma pessoa. Ex.: ação de anulação de casamento proposta pelo ministério público contra pessoas que desejam fraudar o INSS. d) Quanto a forma como a decisão judicial repercutirá no direito material dos litisconsortes: a. Unitário: a decisão judicial será uniforme para todos os litisconsortes. b. Simples: cada litisconsorte receberá uma decisão judicial individualizada. Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando: I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide; II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir; III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito. § 1º O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença. § 2º O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação ou resposta, que recomeçará da intimação da decisão que o solucionar. Art. 114. O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes. Art. 115. A sentença de mérito, quando proferida sem a integração do contraditório, será: I - nula, se a decisão deveria ser uniforme em relação a todos que deveriam ter integrado o processo; II - ineficaz, nos outros casos, apenas para os que não foram citados. Parágrafo único. Nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o juiz determinará ao autor que requeira a citação de todos que devam ser litisconsortes, dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção do processo. Art. 116. O litisconsórcio será unitário quando, pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir o mérito de modo uniforme para todos os litisconsortes. Art. 117. Os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte adversa, como litigantes distintos, exceto no litisconsórcio unitário, caso em que os atos e as omissões de um não prejudicarão os outros, mas os poderão beneficiar. Art. 118. Cada litisconsorte tem o direito de promover o andamento do processo, e todos devem ser intimados dos respectivos atos. 1) Explique o que é uma sentença de mérito, diferenciando-a de uma sentença terminativa, dando exemplo de uma e de outra à luz dos artigos 485, 487, do CPC: O processo foi projetado para resultar em um julgamento de mérito, que solucionaria a lide e geraria pacificação social. Por essa razão, essa espécie de julgamento é considerada o fim normal dessa fase procedimental. Naturalmente nem sempre isso é possível no caso concreto, devendo o sistema conviver com o fim anômalo do processo, que se dá por meio de sentença terminativa (art. 485 do CPC). A sentença de mérito é a decisão judicial cuja faz uma síntese das alegações feitas pelo autor (tese) e pelo réu (antítese) e analisa a procedência do pedido. Já a sentença terminativa ocorre quando há vícios insanáveis no processo que são pressupostos e cujo sem eles não é possível analisar o mérito. O juiz, ao verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual, por exemplo, deferiria sentença terminativa. Noutro exemplo, um taxista que sofre um dano decorrente de um acidente de trânsito e processa a outra parte, exigindo indenização por danos materiais e lucros cessantes, tem o mérito de seu pedido analisado e, se o juiz decide a favor dele, tem uma decisão de mérito procedente. 2) O que são os pressupostos processuais, e quais as modificações ocorridas no âmbito das antigas condições da ação, de acordo com o novo CPC? Pressupostos processuais são requisitos que um processo precisa atender para ser considerado válido e existente. Na época do CPC/73, o juiz somente poderia proferir uma sentença de mérito se passasse de duas barreiras: das condições da ação; dos pressupostos processuais. No CPC/73, as condições da ação eram: legitimidade; interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido. Por lógica, todos os demais requisitos necessários ao julgamento de mérito seriam pressupostos processuais. (Ex.: custas, procuração, competência do juiz, citação etc.) O CPC de 2015 simplificou o trato da matéria ao: A. Juntar as condições da ação dos pressupostos processuais em uma única barreira, atualmente denominados de pressupostos processuais. (PP 2015 = CA73 + PP73) B. A possibilidade jurídica do pedido não é mais condição da ação e nem pressuposto processual, enfim, não é mais requisito a condicionar o julgamento de mérito. Dessa forma, se o autor apresentar um pedido impossível, o juiz pode proferir o julgamento de mérito, porém, de improcedência. Obs.: O artigo 17 do CPC confirma a exclusão da possibilidade jurídica do pedido como condição ao julgamento de mérito, ao se referir apenas à legitimidade e ao interesse de agir. 3) Disserte sobre legitimidade, interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido. Legitimidade é o vínculo que a parte tem com o direito em juízo para postular ou defender seus interesses. A parte legítima para a propositura da ação é, na grande maioria dos casos, aquela que está autorizada por uma determinada situação legitimamente estabelecida no direito material. Em outras palavras: em regra, apenas o titular do direito material é que pode pleiteá-lo em juízo. Em hipóteses excepcionais, confere-se, contudo, legitimidade a quem não é o titular do direito material deduzido em juízo. Ocorre, então, o chamado fenômeno da substituição processual. O substituto processual, portanto, é aquele que atua em nome próprio na defesa de direito alheio por força do ordenamento jurídico. A substituição processual é legitimação extraordinária, que se opõe à ordinária porque decorre de situações legitimantes excepcionais, decorrentes da lei ou do sistema. Interesse de agir é a utilidade que o provimento jurisdicional pode trazer ao demandante (art. 19, CPC). Possibilidade jurídica do pedido consiste na formulação da pretensão, em tese, existente na ordemjurídica. 4) O direito processual (direito ao processo) se confunde com o direito material? Por quê? Não. O direito material é o conjunto de normas que atribuem direitos aos indivíduos, trata das relações entre as partes, é o interesse primário, a própria relação subjetiva, por exemplo o direito à vida, o direito ao nome, o direito à privacidade etc. Quando esses direitos são violados, entra em cena o direito processual, que é o conjunto de regras que organizam o instrumento pelo qual se buscará o reparo à violação do direito material, é um interesse secundário, e que se trata de uma relação triangular, pois o juiz passa a intermediar o conflito entre as partes. 5) Qual a diferença entre coisa julgada material e coisa julgada formal à luz das noções de definitividade e de cognição? A coisa julgada material é formada após uma decisão de mérito. O Estado-juiz, desenvolvendo todo um trabalho intelectual minucioso e imparcial, conduz a uma tutela jurisdicional mais adequada à pretensão de direito material deduzida em juízo. A coisa julgada material forma a coisa julgada formal, mas nem toda coisa julgada formal contém coisa julgada material. A coisa julgada material produz definitividade, tendo efeitos extraprocessuais. A formal, entretanto, apenas endoprocessual.
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