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DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA

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DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA
	Incolumidade é o estado de preservação ou segurança de pessoas ou de coisas em relação a possíveis eventos lesivos. Qdo se fala crime contra a incolumidade pública, se fala de condutas que ofendem a vida, ao patrimônio e a segurança das pessoas.
	Estes crimes se dividem em crimes de perigo comum; crimes contra a segurança, meios de comunicação e transporte e outros serviços públicos; e crimes contra a saúde pública.
DOS CRIMES DE PERIGO COMUM
	No direito penal, perigo é a probabilidade de dano. Para a consumação destes crimes, não há necessidade de lesão ao bem jurídico. 
	Termos a diferença de crimes de dano, de perigo concreto e perigo abstrato (mera conduta).
	Foram estudado os crimes de perigo individuais nos arts. 130 a 136. Aqui estudaremos os crimes de perigo comum, não tendo número determinado de pessoas que possam ser ofendidas. 
	Temos uma causa de aumento geral para todos os crimes de perigo comum, conforme o artigo 258 do CP:
Art. 258 - Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço.
	DOS CRIMES:::
- INCÊNDIO
Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
- Considerações gerais:
	É necessário se preservar a sociedade civil do perigo de fogo, independente do dano que possa seguir. Quer se proteger a segurança coletiva por causa da possibilidade de sua propagação.
	Este crime absorve o crime de dano ao patrimônio.
	Se for com o objetivo de matar ou lesionar alguém, responde em concurso com 121 (qualificado) e 129, em concurso formal. Se for com o fim de apagar os vestígios de outro crime, furto ou roubo, por exemplo, responder pelos dois crimes em concurso material (GONÇALVES, 2019).
- Bem jurídico:
	Incolumidade pública, ou seja, a saúde, segurança, tranquilidade de um número indeterminado de pessoas.
- Objeto material:
	Qualquer substância ou objeto alvo de incêndio, a exemplo, casa, automóvel...
- Sujeitos
	Crime comum como sujeito ativo, podendo ser praticado até pelo seu proprietário, desde que resulte perigo comum.
	O passivo é a sociedade, sendo crime vago.
- Tipo Objetivo:
	O núcleo do tipo é o verbo causar, no sentido de dar origem, provocar ou produzir. Assim, comete o crime que inicia o incêndio, de modo a expor as pessoas em perigo, causando risco efetivo e concreto para um número elevado e indeterminado de pessoas
	Incêndio é o fogo com labaredas de grandes proporções, originado pela combustão de qualquer matéria, tendo o poder de causar destruição. 
	Pode ser praticado de forma livre, por ação e omissão.
	Por se tratar de infração que deixa vestígios, exige-se a realização de perícia no local, para demonstrar a ocorrência do incêndio, como do perigo comum. Tem previsão esta perícia no artigo 173 do CPP.
- Tipo subjetivo:
	No caput é o dolo comum, vontade de causar incêndio, pouco importante a finalidade que causou, sendo importante somente causar o perigo comum.
	Temos a modalidade culposa do §2º, cujo a pena será de 06 meses a 02 anos.
- Consumação e tentativa:
	Tem a consumação quando o incêndio provado pelo agente expõe a perigo as outras pessoas ou o patrimônio.
	É crime material e de perigo concreto. 
	A tentativa é possível, visto que é plurissubsistente, como no ex: de um sujeito jogar combustível em uma casa onde há várias pessoas vizinhas e com grande fluxo de veículos e pessoas que passam próximo.
- Causas de aumento:
	Somente para o incêndio doloso. No culposo não cabe.
§ 1º - As penas aumentam-se de um terço:
I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio;
	Tem o aumento, mesmo que não consiga a vantagem. 
	Ex: incêndio para destruir estoque de empresa; títulos de crédito de alguém. 
	** Se for para conseguir valor do seguro, tem duas posições: (GONÇALVES, 2019) fala que é aqui, sendo absorvido o 171, §2º, V. (MASSON, 2019), fala que é os dois crimes em concurso formal, mas o caput do 250, pra não dar bis in idem.
II - se o incêndio é:
a) em casa habitada ou destinada a habitação;
b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura;
c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo;
d) em estação ferroviária ou aeródromo;
e) em estaleiro, fábrica ou oficina;
f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável;
g) em poço petrolífico ou galeria de mineração;
h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.
	Na questão de incêndio em mata ou floresta (art. 41, Lei 9.605/98), será somente se não causar perigo comum. Se causar, é o crime de incêndio com causa de aumento.
- A questão se soltar balões?
	Soltar balões constitui crime ambiental, do art. 42 da Lei 9.605/98. Mas se resultar em incêndio com perigo comum, responde por este crime. Se trata de dolo eventual e não culpa, por conta de todas as propagandas educativas que se vê na mídia.
- Ação penal e procedimento:
	A ação penal (de todos os crimes de perigo comum) é pública incondicionada e o procedimento comum ordinário para o doloso e sumaríssimo para o culposo.
- EXPLOSÃO
Art. 251 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
- Considerações gerais:
	Este crime também é de perigo, podendo absolver outros crimes, como no caso de dano, o crime de pesca mediante utilização de explosivos.
	Se for com o crime de homicídio, responde pelos dois crimes.
- Bem jurídico:
	Incolumidade pública, ou seja, o que se está falando no artigo: Perigo de vida, integridade física ou patrimônio de outrem, ou seja, de um número indeterminado de pessoas.
- Objeto material:
	É o engenho de dinamite ou substâncias de efeitos análogos como o de ar líquido, gelatinas explosivas, nitroglicerina.
- Sujeitos
	Crime comum como sujeito ativo, podendo ser praticado até pelo seu proprietário, desde que resulte perigo comum.
	O passivo é a sociedade, sendo crime vago.
- Tipo Objetivo:
	O núcleo do tipo é o verbo expor, no sentido de colocar em perigo, causando risco efetivo e concreto para um número elevado e indeterminado de pessoas.
	Os meios de execução são: Explosão (provocar o estouro de substância), Arremesso de Explosivo (lançar com as mãos ou aparelhos qq explosivo, sendo, neste caso, desnecessária a explosão) ou colocação de explosivos (armar o explosivo em determinado local, como minas, sendo prescindível a explosão).
	Se a explosão é em local desabitado, não dá o crime.
- Tipo subjetivo:
	No caput é o dolo comum, sem finalidade específica.
	Temos a modalidade culposa do §3º, cujo a pena será de 06 meses a 02 anos ou 03 meses a 01 ano, dependendo da conduta.
§ 3º - No caso de culpa, se a explosão é de dinamite ou substância de efeitos análogos, a pena é de detenção, de seis meses a dois anos; nos demais casos, é de detenção, de três meses a um ano.
- Consumação e tentativa:
	Tem a consumação quando faz qualquer das condutas do tipo (explosão, arremesso ou colocação), devendo resultar em perigo.
	É crime material e de perigo concreto, devendo ter perícia para este crime.
	A tentativa é possível, visto que é plurissubsistente, como no ex: sujeito vai arremessar e é impedido; vai explodir e é impedido...
- Forma privilegiada:
§ 1º - Se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
	O legislador deu a entender que a dinamite ou explosivos análogos são mais graves, que causam mais perigo. Assim, se não for este tipo de explosivo, como por exemplo explosivo de pólvora (TNT), daí seria privilegiado.
	Quem vai decidirisso? Perícia!!!!!
- Causas de aumento:
	Somente para o incêndio doloso. No culposo não cabe.
§ 2º - As penas aumentam-se de um terço, se ocorre qualquer das hipóteses previstas no § 1º, I, do artigo anterior, ou é visada ou atingida qualquer das coisas enumeradas no nº II do mesmo parágrafo.
	Faz menção ao artigo 250.
- Ação penal e procedimento:
	A ação penal (de todos os crimes de perigo comum) é pública incondicionada e o procedimento comum ordinário para o doloso e sumaríssimo para o culposo.
- USO DE GÁS TÓXICO OU ASFIXIANTE
Art. 252 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, usando de gás tóxico ou asfixiante:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
- Considerações gerais:
	Trata-se também de perigo de perigo, quando se expõe a vida, integridade ou patrimônio de outrem mediante o uso de gás tóxico ou asfixiante.
	A pena é relativamente baixa, podendo o Sursis.
	Tem diferença aqui com o crime do art. 54 da Lei nº 9.605/98, onde prevê a poluição mediante gás, sendo que este é crime de dano, e o do CP é de perigo. Necessária a perícia.
	Tem também o art. 38 da LCP, que prevê: ”provocar, abusivamente, emissão de fumaça, vapor ou gás, que possa ofender ou molestar alguém”. A diferença está na gravidade, onde a perícia irá determinar.
	Temos também a questão do gás lacrimogênio pela polícia onde configura estrito cumprimento do dever legal; e se for por particular, é legítima defesa.
- Bem jurídico:
	Incolumidade pública, ou seja, o que se está falando no artigo: Perigo de vida, integridade física ou patrimônio de outrem, ou seja, de um número indeterminado de pessoas.
- Objeto material:
	Gás tóxico ou asfixiante.
- Sujeitos
	Crime comum como sujeito ativo, podendo ser praticado até pelo seu proprietário, desde que resulte perigo comum.
	O passivo é a sociedade, sendo crime vago.
- Tipo Objetivo:
	O núcleo do tipo é o verbo expor, no sentido de colocar em perigo, causando risco efetivo e concreto para um número elevado e indeterminado de pessoas.
	Os meios de execução são a utilização de gás tóxico ou asfixiante.
- Tipo subjetivo:
	No caput é o dolo comum, sem finalidade específica.
	Temos a modalidade culposa no parágrafo único, que a pena é de detenção de 03 meses a 01 ano.
- Consumação e tentativa:
	Tem a consumação quando faz qualquer das condutas do tipo, devendo resultar em perigo.
	É crime material e de perigo concreto, devendo ter perícia para este crime.
	A tentativa é possível também.
- Ação penal e procedimento:
	A ação penal (de todos os crimes de perigo comum) é pública incondicionada e o procedimento comum ordinário para o doloso e sumaríssimo para o culposo.
- Fabrico, fornecimento, aquisição posse ou transporte de explosivos ou gás tóxico, ou asfixiante
Art. 253 - Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
- Considerações gerais:
	Este crime já se trata de crime de perigo abstrato, diferente dos outros.
	Crime de menor potencial ofensivo.
	Com relação a substâncias ou engenhos explosivos, esta parte foi revogado pelo art. 16, inciso III, o Estat. Do desarmamento. O restante está em vigor.
	Tipo penal exige que seja sem a licença. 
	Consumação com qualquer das condutas, não cabendo a tentativa, pois somente a aquisição do material já é consumado o crime.
Inundação
Art. 254 - Causar inundação, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa, no caso de dolo, ou detenção, de seis meses a dois anos, no caso de culpa.
9.1.5.1 Considerações gerais
Segundo Nélson Hungria, inundação é o alagamento de um local de notável extensão, não destinado a receber águas. Segundo, ainda, aquele autor, as águas são desviadas de seus limites naturais ou artificiais, expandindo-se em tal quantidade que cria um perigo de dano a indeterminado número de pessoas ou coisas.
Protege-se, na esteira dos delitos de perigo comum, a incolumidade pública, exposta ao risco ante a inundação. Cuida-se de crime de perigo concreto, de maneira que o delito somente ocorre com a real e comprovada colocação a perigo do bem protegido.
É interessante observar que Hungria denomina o crime do art. 254, do CP, de “inundação efetiva” em contraste com o crime de “perigo de inundação”, tratado no artigo seguinte.
9.1.5.2 Sujeito ativo
Cuida-se de crime comum. Dessa forma, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo.
9.1.5.3 Sujeito passivo
Sujeito passivo é a coletividade. Indiretamente, pode ser o indivíduo que tem a sua vida, incolumidade física ou patrimônio ameaçado pela inundação.
9.1.5.4 Tipo objetivo
O tipo alude a causar inundação, expondo a perigo a vida, saúde ou o patrimônio alheio. Causar é provocar; ser a razão, o motivo ou a origem de um fato, no caso, de inundação.
Inundação é ação ou efeito de inundar; é o alagamento ou transbordamento das águas, cobrindo certa extensão de um terreno.
É possível a prática do delito tanto por ação como por omissão. Neste último caso, pressupõe-se existir o dever de evitar a inundação (crime de omissão imprópria ou comissivo por omissão). Consoante exemplificado por Regis Prado, é o que ocorre na hipótese de o funcionário encarregado da vistoria de uma barragem deixar de reparar uma brecha nela existente, podendo fazê-lo, dando lugar à inundação de determinado local.
9.1.5.5 Tipo subjetivo
Tipo subjetivo é o dolo, ou seja, vontade consciente de causar a inundação ou de assumir o risco da sua ocorrência, expondo a perigo a vida, a incolumidade física ou patrimônio de outrem.
Como visto infra, é possível a punição a título de culpa.
9.1.5.6 Consumação
O crime se aperfeiçoa com a efetiva inundação e a colocação da pessoa ou coisa em perigo concreto. Caso não ocorra perigo, real, efetivo e iminente em detrimento da vida, saúde ou patrimônio (semoventes, plantas, veículos etc.) de outem, não haverá crime.
A tentativa é, em tese, cabível. Todavia, como bem ressaltado pela doutrina, a inundação tentada pode corresponder ao crime de perigo de inundação – analisado no capítulo seguinte – se ocorre, por exemplo, “a destruição ou remoção de obstáculo natural destinado a impedir inundação.”
9.1.5.7 Modalidade culposa
Consoante verificado no tipo do art. 254, do CP, é punível a modalidade culposa de inundação. Todavia, destoando da técnica legislativa em geral adotada tanto no Código Penal como na legislação especial, a inundação culposa está prevista não como parágrafo do artigo, mas, sim, dentro do preceito secundário da norma incriminadora do art. 254, do CP.
Nestes termos, a punição a título de culpa ocorre quando a inundação decorrer de inobservância, por parte do agente, do cuidado objetivamente exigido pelas circunstâncias.
9.1.5.8 Formas qualificadas aplicáveis aos crimes de perigo coletivo
O art. 258, do CP, contempla regra especial relativa a situações preterdolosas de morte ou lesões corporais, regra esta aplicável a todos os crimes de perigo comum, inclusive o crime de inundação. Desse modo, não vigora, aqui, as normas que regem o concurso de crime, disciplinadas nos arts. 69 e segs., da Parte Geral do Código Penal.
Sendo assim, se do fato doloso resultar lesão corporal de natureza grave, a pena é aumentada da metade. Se resulta morte, é aplicada em dobro. Por sua vez, se do fato culposo decorrer lesão corporal de natureza grave, a pena aumenta-se de metade. Se resulta morte, aplica-se a pena do homicídio culposo aumentada de um terço.
9.1.5.9 Pena e ação penal
A pena da inundação na modalidade dolosa é de reclusão de três a seis anos e multa. Para os casos de inundação culposa, a pena é de detenção de seis meses a dois anos.
A ação penal é pública incondicionada. Cabe transação penal ou suspensão condicional do processo no caso de crime culposo.
Perigo de inundação
Art. 255 - Remover, destruir ou inutilizar, em prédio próprio ou alheio, expondo a perigo a vida, a integridadefísica ou o patrimônio de outrem, obstáculo natural ou obra destinada a impedir inundação:
        Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
9.1.6.1 Considerações gerais
O crime de perigo de inundação consiste em remover, destruir ou inutilizar, em prédio próprio ou alheio, expondo a perigo a vida, saúde ou patrimônio alheio, obstáculo natural ou obra destinada a impedir inundação. Diferentemente do delito anterior, no qual a inundação era o perigo, aqui, o que caracteriza o crime é o perigo de inundação.
Com efeito, protege-se a incolumidade pública, em perigo concreto pela remoção, destruição ou inutilização de obstáculo natural ou construído pelo homem com a finalidade de impedir a inundação.
9.1.6.2 Sujeito ativo
Sujeito ativo é qualquer pessoa. Sendo assim, cuida-se de crime comum.
9.1.6.3 Sujeito passivo
Sujeito passivo é a coletividade. Mediatamente será o indivíduo que tem a sua vida, incolumidade física ou patrimônio ameaçado pela inundação.
9.1.6.4 Tipo objetivo
O tipo objetivo alude a três verbos: remover, que significa retirar, transferir, afastar ou passar de um lugar para outro; destruir, querendo dizer arruinar, demolir, extinguir; e inutilizar, que é tornar inúvil, imprestável ou incapaz para determinada função.
O objeto material do crime é o obstáculo natural ou obra destinada a impedir a inundação. No primeiro caso, tem-se as encostas, pedras, barrancos etc. e, no segundo, represas, barragens, diques, paredes, sacos de areia, comportas etc.
Consoante verificado, trata-se de delito de perigo concreto. Segundo Regis Prado, a exigência do perigo faz parte do tipo, integra-o como elemento normativo, de forma que o delito só se consuma com a real superveniência do perigo para o bem jurídico.
A seu turno, Celso Delmanto et al. assinalam que, para haver o crime, deve o agente, mediante a prática de tais condutas, expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem. Desse modo, o que se pune “não é a remoção, a destruição ou a inutilização em si mesmas, mas sim a exposição a perigo que tais comportamentos eventualmente ocasionem.”
9.1.6.5 Tipo subjetivo
É o dolo de perigo, ie, representado pela vontade consciente de praticar quaisquer das elementares do tipo, expondo a perigo vida, incolumidade física ou patrimônio de outrem. Não há previsão da modalidade culposa.
9.1.6.6 Consumação
O crime se aperfeiçoa com a prática das condutas descritas no tipo penal, independentemente da ocorrência efetiva de inundação.
A doutrina diverge sobre a possibilidade do conatus. Para a maioria, não cabe tentativa, em razão da estrutura do tipo. Em sentido contrário, Julio Mirabete sustenta que “o agente pode iniciar a remoção do obstáculo, p. ex., ciente de que pode ocorrer perigo comum, sem querê-lo, ocasião em que é impedido de continuar.”
9.1.6.7 Formas qualificadas aplicáveis aos crimes de perigo coletivo
O art. 258, do CP, contempla regra especial relativa a situações preterdolosas de morte ou lesões corporais, regra esta aplicável a todos os crimes de perigo comum, inclusive ao crime de perigo de inundação. Desse modo, não vigora, aqui, as normas que regem o concurso de crime, discipinadas nos arts. 69 e segs., da Parte Geral do Código Penal.
Sendo assim, se do fato doloso resultar lesão corporal de natureza grave, a pena é aumentada da metade. Se resulta morte, é aplicada em dobro.
9.1.6.8 Pena e ação penal
A pena do perigo de inundação é de reclusão, de um a três anos, e multa.
A ação penal é pública incondicionada. É cabível a suspensão condicional do processo.
Desabamento ou desmoronamento
       Art. 256 - Causar desabamento ou desmoronamento, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:
        Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
        Modalidade culposa
        Parágrafo único - Se o crime é culposo:
        Pena - detenção, de seis meses a um ano.
9.1.7.1 Considerações gerais
O art. 256, do CP, contém o crime de expor a perigo a vida, a saúde ou coisa alheia, causando desabamento ou desmoronamento. Causar desabamento é provocar a queda de construções ou obras feitas pelo homem, ao passo que causar desmoronamento importa em provocar queda ou o deslocamento de formações telúricas ou naturais.
Segundo a Exposição de Motivos do Código Penal, o crime consiste no fato de causar, em prédio próprio ou alheio, desabamento total ou parcial de alguma construção, ou qualquer desmoronamento, expondo a perigo a vida, integridade física ou patrimônio de outrem.35
O bem jurídico tutelado é a incolumidade pública, em razão do perigo comum que decorre do desabamento ou desmoronamento.
9.1.7.2 Sujeito ativo
Sujeito ativo é qualquer pessoa, inclusive o proprietário da coisa objeto de desabamento ou desmoronamento.
9.1.7.3 Sujeito passivo
Sujeito passivo é a coletividade. Mediatamente, podem figurar como sujeito passivo aqueles que, de fato, têm a vida, a integridade, ou o patrimônio posto em causa pelo desabamento ou desmoronamento.
9.1.7.4 Tipo objetivo
A conduta criminosa consiste em causar desabamento ou desmoronamento. Causar é o ato de provocar, ser a razão de, o motivo ou a origem de algo. No caso, consiste na conduta do agente que “produz, que provoca, enfim, que é a causa do desabamento ou desmoronamento.”36
Segundo Delmanto, o desabamento pode ocorrer em construções em geral, como edifícios, pontes, paredões etc. Por sua vez, o desmoronamento se dá em barrancos, pedreiras, morros etc. Dessa maneira – segundo aquele autor –, o tipo objetivo requer-se que o agente assim aja expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, ou seja, de um número indeterminado de pessoas ou bens. Deve haver, pois, perigo concreto ou efetivo, e não abstrato ou presumido.37
O desabamento ou desmoronamento pode ser total ou parcial, desde que motivem o aparecimento de perigo concreto, expondo a perigo a vida, a integridade física ou patrimônio de outrem.
Cumpre observar que, se apesar do desabamento ou desmoronamento, não se instala um quadro de perigo para a incolumidade pública, poder-se-á configurar a infração penal contida no art. 29 ou art. 30, ambos da Lei das Contravenções Penais, ou, ainda, o crime do art. 163, do CP (se houver dolo de dano).
9.1.7.5 Tipo subjetivo
O tipo subjetivo é composto pelo dolo, isto é, a vontade consciente de expor a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem a perigo, mediante desabamento ou desmoronamento.
9.1.7.6 Consumação
O crime se aperfeiçoa com a criação, pelo desabamento ou desmoronamento, da situação de perigo concreto. Isto quer dizer que se exige a presença do perigo ao bem jurídico como elemento normativo do tipo.
A tentativa é, em tese, cabível.
9.1.7.7 Modalidade culposa
A modalidade culposa se consubstancia quando o desabamento ou desmoronamento decorrer em razão da inobservância do cuidado objetivamente exigido pelas circunstâncias por parte do agente.
9.1.7.8 Formas qualificadas aplicáveis aos crimes de perigo coletivo
O art. 258, do CP, contempla regra especial relativa a situações preterdolosas de morte ou lesões corporais, regra esta aplicável a todos os crimes de perigo comum, inclusive o crime de desabamento ou desmoronamento. Desse modo, não vigora, aqui, as normas que regem o concurso de crime, disciplinadas nos arts. 69 e segs., da Parte Geral do Código Penal.
Sendo assim, se do fato doloso, resultar lesão corporal de natureza grave, a pena é aumentada da metade. Se resulta morte, é aplicada em dobro. Por sua vez, se do fato culposo decorrer lesão corporal de natureza grave, a pena aumenta-se de metade. Se resulta morte, aplica-se a pena do homicídio culposo aumentada de um terço.
9.1.7.9 Pena e ação penal
A pena de desabamento ou deslocamento doloso é de reclusão de um a quatro anos e multa. Para os casos de desabamento ou deslocamento culposo, a pena é de detenção de seis meses a dois anos.
A ação penal é pública incondicionada. Cabe suspensão condicional do processo tanto para a modalidade dolosa como culposa, bem como transação penal para essa última hipótese.
(Gueiros832-834)
Gueiros, SOUZA, Artur de B., JAPIASSÚ, Carlos Adriano. Direito Penal - Volume Único. Atlas, 05/2018. VitalBook file.
A citação fornecida é uma diretriz. Verifique a exatidão de cada citação antes de usar.
Subtração, ocultação ou inutilização de material de salvamento
        Art. 257 - Subtrair, ocultar ou inutilizar, por ocasião de incêndio, inundação, naufrágio, ou outro desastre ou calamidade, aparelho, material ou qualquer meio destinado a serviço de combate ao perigo, de socorro ou salvamento; ou impedir ou dificultar serviço de tal natureza:
        Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
        Formas qualificadas de crime de perigo comum
	
9.1.8.1 Considerações gerais
No art. 257, do CP, é incriminado o fato de subtrair, ocultar ou inutilizar, por ocasião de incêndio, inundação, naufrágio, ou outro desastre ou calamidade, aparelho, material ou qualquer meio destinado a serviço de combate ao perigo, de socorro, ou salvamento; ou impedir ou dificultar serviço de tal natureza.
O bem jurídico protegido pelo crime é a incolumidade pública, o perigo comum que decorre das condutas proibidas.
9.1.8.2 Sujeito ativo
Qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo, inclusive o proprietário do aparelho ou material de salvamento.
9.1.8.3 Sujeito passivo
É a coletividade. Mediatamente será o indivíduo que tem a sua vida, incolumidade física ou patrimônio diretamente lesado pelas condutas coibidas.
9.1.8.4 Tipo objetivo
Há cinco verbos contidos no tipo penal: subtrair, ocultar, inutilizar, impedir e dificultar. Subtrair significa tirar as escondidas, retirar indevidamente; ocultar, que significa encobrir, esconder; inutilizar, que significa tornar inútil, imprestável; impedir, que quer dizer impossibilitar o prosseguimento de algo, embaraçar, estorvar; e dificultar, ou seja, tornar difícil ou custoso fazer.38
O pressuposto lógico do delito sob consideração é que tais condutas ocorram por ocasião do incêndio, inundação, naufrágio, ou outro desastre ou calamidade, que vêm a ser elementos do tipo. Incêndio e inundação já foram devidamente definidos na análise dos arts. 250 e 254, do CP, respectivamente. Naufrágio significa, etimologicamente, “fratura de navio (navis fragium), mas veio a assumir o sentido genérico de perda do navio por qualquer causa violenta”.39 O naufrágio como crime de perigo em si encontra-se tipificado no art. 261, do CP, visto adiante. Por fim, desastre ou calamidade consiste no evento que causa sofrimento ou grande prejuízo material ou moral para pessoas físicas ou jurídicas. É desgraça, ruína, catástrofe ou infortúnio de significativa proporção. A origem do desastre ou calamidade, no caso, é irrelevante, podendo ser até natural.40
O tipo se divide em duas partes. Na primeira, há a subtração, ocultação ou inutilização de aparelho, material ou qualquer meio destinado a serviço de combate ao perigo, de socorro ou salvamento. É o que ocorre, por exemplo, quando o agente por ocasião do sinistro apontado no tipo, subtrai extintor de incêndio, colete salva-vidas, corda, escada etc.
Na segunda parte do dispositivo, há o impedimento ou a dificultação relacionado com o serviço de combate ao perigo, de socorro ou salvamento. Tais condutas devem ser realizadas durante calamidade ou desastre. É o que se verifica, por exemplo, quando o agente dá indicação errada do local do sinistro para uma equipe do corpo de bombeiros acionada para prestar socorro ante um desastre.41
9.1.8.5 Tipo subjetivo
É o dolo, i.e., a vontade consciente de praticar as elementares do crime. Não há previsão de modalidade culposa.
9.1.8.6 Consumação
O crime se aperfeiçoa, na primeira parte do dispositivo, com a efetiva subtração, ocultação ou inutilização dos objetos descritos, ainda que haja salvamento ou prestação de socorro por outro meio. Na segunda parte, o crime se consuma com o efetivo impedimento ou dificultação da prestação daquele serviço.
A tentativa é, em tese, cabível.
9.1.8.7 Formas qualificadas aplicáveis aos crimes de perigo coletivo
O art. 258, do CP, contempla regra especial relativa a situações preterdolosas de morte ou lesões corporais, regra esta aplicável a todos os crimes de perigo comum, inclusive ao crime de subtração, ocultação ou inutilização de material de salvamento. Desse modo, não vigora, aqui, as normas que regem o concurso de crime, disciplinadas nos arts. 69 e segs., da Parte Geral do Código Penal.
Sendo assim, se do fato doloso resultar lesão corporal de natureza grave, a pena é aumentada da metade. Se resulta morte, é aplicada em dobro.
9.1.8.8 Concurso de crimes
Segundo Alberto Silva Franco et al., se o agente provocou o incêndio, a inundação ou desastre e, depois, pratica uma das condutas descritas no tipo do artigo sob consideração, responderá pelos dois crimes na forma do concurso material. Haverá, também, concurso de crimes se o agente subtrai material de socorro ou salvamento pertencente a outrem (crime de furto) ou se o inutiliza (crime de dano).42
Por fim, o impedimento ou dificultação dos serviços de combate ao perigo etc. pode também dar azo ao concurso com o crime de constrangimento ilegal.
9.1.8.9 Pena e ação penal
A pena é de reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
A ação penal é pública incondicionada.
        Art. 259 - Difundir doença ou praga que possa causar dano a floresta, plantação ou animais de utilidade econômica:
        Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
        Modalidade culposa
        Parágrafo único - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a seis meses, ou multa.
O crime do art. 259, do CP, foi revogado pelo crime contido no art. 61, da Lei nº 9.605/1998. Verbis: art. 61. Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas: Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Diante da revogação total do mencionado art. 259, do CP, dispensa-se maiores comentários.
DOS CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA
-Epidemia
Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos:
Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
§ 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro.
§ 2º - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a dois anos, ou, se resulta morte, de dois a quatro anos.
9.3.1 Epidemia
9.3.1.1 Considerações gerais
Os crimes contra a saúde pública em geral, obviamente incluindo a epidemia, seriam preocupação político-criminal relativamente recente. Em tempos passados, as questões hoje tidas como de saúde pública eram tratadas como questões mágicas ou religiosas, “castigos divinos” que os homens deveriam suportar ou ser agraciados com a cura.
Com o desenvolvimento da ciência moderna, neste caso especificamente da medicina moderna, tais questões, tratadas sob o prisma da universalidade religiosa, foram tendo sua compreensão modificada para a avaliação de verdade ou falsidade das premissas nas relações causais das doenças, seus efeitos e curas. Observadas as práticas danosas e tomadas desde um paradigma de publicidade, a substituição da resposta divina do passado pela tutela jurídica da modernidade tornou dever do Estado tutelar a saúde pública, entendida como Direito Constitucional básico, a partir do marco do Estado Democrático de Direito Social e inclusive com repercussões no Direito Penal.95 Para este, importará em especial a proibição de condutas que coloquem em perigo a saúde pública nos moldes em que ela é modernamente concebida.
Cumpre registrar o significado jurídico-penal de saúde pública. A expressão é composta pelo substantivo “saúde” e o adjetivo “pública”. No que se entende por “saúde”, vale-se principalmente daquela definição de saúde proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) já em 1946, que a considera como o estado de completo bem-estar físico, mental e social. Em relação a “pública”, em um primeiro momento ela poderia ser compreendida como aquilo que é da generalidade das pessoas sob a tutela do direito, da comunidade ou coletividade, incluindo aí todos os indivíduos que a compõem.
Note-se que a saúde pública, buscadadesde a perspectiva constitucional, encontra sua tutela presente no art. 196, justificando sua tutela penal pelo legislador ordinário (ou, neste caso, a recepção constitucional dos tipos do presente capítulo). Conforme o teor daquele dispositivo constitucional, a “saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação”.
Deve-se, ainda, em considerações iniciais, apontar o conflito de leis existentes entre os crimes contra a saúde pública e as disposições que tutelam a economia popular e a ordem econômica. Nesse sentido, diante da profusão de leis penais especiais, em especial as Leis nº 1.521/1951 e a Lei nº 8.137/1990, há grande debate doutrinário e jurisprudencial acerca da revogação tácita dos tipos penais dos arts. 270 a 278, todos do CP, dada a similitude do conteúdo normativo de tais incriminações.96
Em relação especificamente à epidemia, sua inclusão no rol dos crimes contra a saúde pública, justifica-se tendo em vista a sua gravidade, que atinge numerosas pessoas.
Questiona-se se o crime em questão seria de dano ou de perigo. Com efeito, para uma corrente minoritária, tratar-se-ia de crime de dano.97 Contudo, de acordo com a doutrina majoritária, tem-se que seria crime de perigo. Em desdobramento da discussão, questiona-se, ainda, se se trataria de crime de perigo abstrato ou concreto. Cezar Bitencourt posiciona-se a favor do perigo abstrato.98 Por outro lado, para Guilherme Nucci e Régis Prado, dentre outros, é crime de perigo concreto. 99 Esta discussão é importante porque caso se entenda que o crime é de perigo concreto, é preciso que haja prova da existência da epidemia; em caso de perigo abstrato, não.
Em que pesem as opiniões divergentes, parece, de fato, assistir razão aos que entendem se tratar de perigo concreto. Nas palavras de Guilherme Nucci, “o tipo exige que o sujeito provoque o surgimento de uma epidemia. Ora, havendo a disseminação de uma doença rapidamente, numa localidade, é certo que o perigo surgido é concreto. Cremos inexistir possibilidade de muitas pessoas ficarem doentes ao mesmo tempo e isso não ser considerado um perigo efetivo para a saúde pública”.100
Demais a mais, o que torna a epidemia um evento periclitante é o fato de que após o ato inicial do autor de propagar os germes patogênicos, ela, ao infectar um sujeito que seja, passa a se espalhar sem que ninguém precise agir para isso, gerando o perigo de dano para a integridade física e a vida de todos na comunidade. Ao se tratar da infecção de um sujeito, o perigo em questão é concreto, bem como se considera como vítima não só a comunidade (o que se pensaria no perigo abstrato), mas sim as pessoas infectadas em concreto (caso do perigo concreto). De forma semelhante, como já adiantado, é o magistério de Luiz Régis Prado.101
Por outro giro, caso se tratasse de perigo abstrato, na ausência de comprovação da epidemia, bastaria espalhar germes patogênicos que o perigo de dano para qualquer pessoa concreta estaria presumido pelo legislador. Não parece ter sido o caso a partir da leitura do tipo, que exige literalmente “causar epidemia” e não “propagar germes”. Em sendo a epidemia o resultado exigido e sendo ela, por definição, doença que ataca ao mesmo tempo e no mesmo lugar grande número de pessoas, entender que ela não precisa ser comprovada poderia estender os limites da aplicação do tipo, colocando em dúvida a legalidade estrita que caracteriza o direito penal.
Cumpre observar que o bem jurídico que se protege é a incolumidade pública, no particular aspecto da saúde pública, exposta ao perigo pela propagação dos germes que causam a epidemia. Importante ainda ter em conta que a regra do Código Penal relativa às formas qualificadas decorrentes da lesão corporal grave e da morte, contida nos arts. 258, 267 e 285, todos do CP, não se aplica ao crime de epidemia.
9.3.1.2 Sujeito ativo
Sujeito ativo é qualquer pessoa, inclusive aquela pessoa que eventualmente se encontre infectada.
9.3.1.3 Sujeito passivo
É a coletividade, por se tratar de tutela da saúde pública. Demais disso, sujeito passivo poderão ser aqueles indivíduos porventura atingidos pela epidemia.
9.3.1.4 Tipo objetivo
O núcleo da conduta é causar epidemia. O verbo causar assemelha-se a provocar, promover, produzir etc. Exige, portanto, comportamento ativo, ação. Contudo, como se verifica com os crimes de forma geral, é cabível a punição na forma de omissão imprópria, quando há a figura do garantidor na forma do art. 13, § 2º, do CP.
Já “epidemia” é doença acidental e passageira que ataca ao mesmo tempo e no mesmo lugar grande número de pessoas, conforme lecionado por Alberto Silva Franco et al.102 No caso, epidemia é doença grave – vale dizer, não mero resfriado ou gripe – e de fácil difusão, como, por exemplo, tifo, peste, poliomielite, raiva etc.
Deve-se observar que epidemia vem do grego epidemein, que, literalmente, significa “espalhar-se pelo povo”. Ela está normalmente aproximada da pandemia e da endemia, mas com elas não se confunde. A pandemia é a epidemia em escala mundial; internacional. Por exemplo, há a ameaça de pandemia acarretada pela gripe suína, pelo vírus do ebola, a febre amarela etc. Endemia, por sua vez, é a doença que se fixa em determinada localidade.103 A endemia provém de causa habitual, constante e periódica, enraizada, diga-se, em uma determinada localidade, como ocorre com a malária em certas regiões do País. Difere-se, portanto, epidemia, que é acidental e transeunte.
Há, ainda, no tipo, o elemento normativo germes patológicos que aparece como complemento do núcleo da descrição da conduta. Germes patológicos, para fins penais, significam seres unicelulares que produzem moléstia infecciosa ou, nas palavras de Alberto Silva Franco et al., agentes nocivos produtores de doenças como tifo, poliomelite, raiva, difteria etc.104
Uma vez que a propagação de tais germes é o meio pelo qual se causa a epidemia, entende-se que o delito pode ser perpetrado, isto é, a epidemia pode ser propagada por qualquer meio idôneo. É o que ocorre, por exemplo, por meio de ratos infectados, ou mesmo pela dengue, zika e chikungunha, transmissíveis pelo mosquito Aedes aegypti, em ambiente aberto ou fechado.105
9.3.1.5 Tipo subjetivo
É o dolo, ou seja, a vontade consciente de causar epidemia.
Se há finalidade de matar ou lesionar alguém (isto é, pessoa determinada), haverá o concurso formal da epidemia com homicídio ou lesões corporais ou, ainda, com o tipo de art. 131, conforme o dolo do agente.
9.3.1.6 Consumação
O crime se consuma com a efetiva instalação da epidemia. Conforme lecionado por Hungria, “desde que se apresente certo de número de casos sucessivos, a indicar a progressiva difusão da moléstia”.106
A tentativa é cabível. É o que ocorre quando, por exemplo, não obstante a ação do agente, há a eficiente adoção de medidas sanitárias que impedem a proliferação dos germes.
9.3.1.7 Forma qualificada
As formas qualificadas, ou, melhor dizendo, preterdolosas, dos crimes contra a incolumidade pública, observam a sistemática fixada no art. 258, do CP, replicada nos arts. 263 e 285, ambos do CP. Todavia, isso não vale para o crime de epidemia, consoante expressamente excepcionado no dispositivo por último assinalado.
Dessa forma, se da epidemia resulta morte, a pena é aplicada em dobro. Trata-se, como dito, de fórmula preterdolosa. Basta uma única morte. A multiplicidade de mortes não altera a causa de aumento. É de se observar que epidemia é crime de perigo. Isso quer dizer, como visto linhas antes, que se o agente opera com dolo de perigo, para epidemia, e dolo de dano, contra a vida de outrem, haverá concurso formal de crimes, a depender das circunstâncias fáticas.
Cuida-se de crime hediondo, nos termos do art. 1º, VII, da Lei nº 8.072/1990.
9.3.1.8 Modalidade culposa
A epidemia culposa decorre da inobservância do dever de cautela exigido nas circunstâncias.É o que se constata, por exemplo, no irresponsável manuseio médico hospitalar de vírus altamente contagioso, ou na concessão de alta médica, de forma indevida, para paciente portador da moléstia, ou, ainda, na falta de esterilização adequada do instrumental médico etc.
Mais uma vez, importante notar que neste caso se aplica o disposto no art. 267, § 2º, do CP, e não a regra constante no art. 285 c/c art. 258, ambos do CP. Por isso, no caso da forma culposa da epidemia, a pena é distinta, cominando-se detenção, de um a dois anos; ou, se resulta morte, detenção, de dois a quatro anos.
9.3.1.9 Pena e ação penal
A pena prevista é de reclusão, de dez a 15 anos. Para a hipótese da forma qualificada do § 1º, a pena será aplicada em dobro, ou seja, de 20 a 30 anos. Já na forma culposa do § 2º a previsão é de pena de detenção, de um a dois anos, ou, se resulta morte, de dois a quatro anos.
A ação penal é pública incondicionada. Cabe transação penal ou suspensão condicional do processo apenas para a modalidade culposa.
-Infração de medida sanitária preventiva
Art. 268 - Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se o agente é funcionário da saúde pública ou exerce a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro.
	Crime de abate irregular de gado, frango..., reutilização de agulhas hipodérmicas em hospital, medidas de prevenção de infecção hospitalar. 
	Bem jurídico é a proteção da incolumidade pública, quanto a saúde coletiva.
	Sujeito ativo é comum, sendo que se for quaisquer das pessoas do PU, neste caso tem aumento de pena de 1/3. Aqui se divide em duas classes, sendo um funcionário público (327) e os demais as profissões específicas. 
	A conduta do crime consiste em infringir (no sentido de desrespeitar, transgredir), determinação do poder público (leis, decretos, portarias), que são destinadas a impedir introdução ou propagação de doenças contagiosas.
	Pode ser por ação ou omissão.
	As doenças aqui somente são as que atingem o ser humano, não a de animais. Mas pode-se ter normas para regulamentação de manuseio com animais, que tenham doenças que atingem o ser humano.
	Não entra aqui a violação de dispositivo de regulamentação sanitária, mas somente aquelas voltadas ao impedimento de introdução ou propagação da doença. 
	Se trata de norma penal em branco, devendo ter normas de cunho imperativo ou obrigatório, excluindo os conselhos ou advertências. 
	Tipo subjetivo é o dolo de infringir a determinação do poder público.
	Consumação no momento em que se viola a determinação, sendo crime formal, não importando se vai ter a doença ou não. Cabe tentativa.
Omissão de notificação de doença
Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
	Anteriormente no CP de 1890, este crime era uma contravenção.
	Protege-se a incolumidade pública, para que não se propague a outras pessoas estas doenças.
	É uma notável exceção ao sigilo médico, sendo que este não cometerá o crime de violação de segredo profissional (154 CP).
	Crime de perigo abstrato.
	Sujeito ativo é próprio, somente o médico (farmacêutico, enfermeiro, dentista).
	Passivo é a coletividade.
	Conduta é omissiva própria de deixar de denunciar à autoridade pública a doença de notificação compulsória (normal penal em branco, Lei 6.259/75, regulamentada pela Portaria 1.100/96), como exemplo, cólera, rubéola, dengue, hanseníase, tuberculose, hepatite, meningite.
	Pouco importa como o médico veio saber da doença, sendo somente necessário que ele se omita qdo fica sabendo.
	Tem até o art. 169 da CLT, que fala que é obrigatória a notificação das doenças profissionais relacionadas ao trabalho.
	Deve-se denunciar à autoridade pública (Ministério da Saúde, vigilância sanitária).
	Tipo subjetivo é somente o dolo.
	Consuma-se no momento em que o médico toma conhecimento e se omite de informar ao poder público. Se tiver prazo, quando termina o prazo.
	Não cabe tentativa.
- Envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal
Art. 270 - Envenenar água potável, de uso comum ou particular, ou substância alimentícia ou medicinal destinada a consumo:
Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
	Pena bem alta foi atribuída pela Lei dos Crimes Hediondos, sendo então considerado hediondo. Em 1994, a LCH foi modificada e então retiraram do rol este crime.
	Tem autores (Luiz Regis Prado) que fala que a primeira parte deste crime foi revogado pelo crime do art. 54 do Código Ambiental (9.605/98), mas prevalece que não, que no C. Ambiental é poluir qualquer água. Aqui, é somente a água potável.
	Crime protege a incolumidade pública. Crime de perigo abstrato, bastando somente a conduta do envenenamento.
	Sujeitos bicomum.
	A conduta é com o verbo envenenar, colocar veneno (substância que causa lesão ou morte no organismo humano, quando ingerida ou em contato com o corpo).
	Seria o envenenamento de:
- água potável de uso comum (rios, riachos) ou particular (poços, reservatório de uma empresa ou casa) ;
- substância alimentícia (líquida ou sólida para alimentação humana. 
- medicinal (uso interno ou externo para cura, tratamento ou prevenção de moléstias).
	Tem que causar um perigo comum (uso de um número indiscriminado de pessoas), se for individual é homicídio tentado ou consumado de forma qualificado, ou ainda, se não tiver a condição de matar será lesão corporal, ou ainda crime de perigo individual.
	Tem também as formas equiparadas:
§ 1º - Está sujeito à mesma pena quem entrega a consumo ou tem em depósito, para o fim de ser distribuída, a água ou a substância envenenada.
	Aqui é uma pessoa totalmente alheia ao caput, sendo que comete quem entrega a consumo ou tem em depósito (conduta permanente).
	Mas tem que que saber (dolo) ou desconfiar (culpa) que está envenenada.
	Tipo subjetivo admite o dolo (caput) ou a culpa
§ 2º - Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
	A consumação se dá com o efetivo envenenamento. É crime formal, não necessitando de se causar dano a alguém. Tentativa é possível.
- Corrupção ou poluição de água potável
Art. 271 - Corromper ou poluir água potável, de uso comum ou particular, tornando-a imprópria para consumo ou nociva à saúde:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
	Entende-se que o art. 54 da Lei 9.605/1998 revogou, tacitamente, o art. 271, do Código Penal. As elementares do crime em questão estão incluídas no tipo de poluição, previsto pelo art. 54 da Lei nº 9.605/1998, posto que de maior amplitude.
Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 2º Se o crime:
III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade;
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
	Sujeitos bicomum.
	O crime de corrupção ou poluição de água potável significa estragar, apodrecer, infectar, poluir, sujar, profanar, conspurcar. Água potável é a destinada ao consumo humano, ou seja, à alimentação do indeterminado número de pessoas (é o que dá a nota de crime de perigo comum).
- Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de substância ou produtos alimentícios 
Art. 272 - Corromper, adulterar, falsificar ou alterar substância ou produto alimentício destinado a consumo, tornando-o nociva à saúde ou reduzindo-lhe o valor nutritivo:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. 
	Crime que sofreu uma grande modificação com a Lei nº 9.677/98, respondendo a um grande clamor público para punir quem falsificava os alimentos.
	Há muitas críticas desta lei, que alterou as penas dos crimes nos artigo 272 a 277 do CP, pois as penas são bem altas, sendo que alguns autores falam em ilegalidadepela ofensa ao princípio da proporcionalidade.
	Mas deve ser pensado que este crime protege a incolumidade pública, sendo que são crimes de extrema gravidade contra a coletividade.
	Se o crime for de enganar no comércio, pode-se falar em estelionato ou crimes de relação de consumo (CDC).
	Exemplos deste crime: Cozinhar com óleo estragado (TJSP); Adição de sulfato de sódio à carne (TJSP); Adição de bromato de potássio à massa de pão (TJSP); Adição de carne de cavalo na fabricação de linguiça (TJRJ); amônia na carne (TJSP); 
	Não configura o crime: Venda de carne estragada (se não foi adulterada....., não dá o crime-TJRN); Açúcar no vinho; melado de cana no mel; por falta de perigo de dano à incolumidade pública.
	Algumas condutas são de perigo concreto e outras em abstrato, sendo que há divergências doutrinárias sobre isso.
	Os sujeitos são bicomum.
	O Tipo Objetivo deste crime tem vários núcleos, sendo tipo misto alternativo: Corromper, adulterar, falsificar ou alterar. 
	Tem também as condutas equiparadas do artigo.
§ 1º-A - Incorre nas penas deste artigo quem fabrica, vende, expõe à venda, importa, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo a substância alimentícia ou o produto falsificado, corrompido ou adulterado. 
	Os objetos materiais são: substância ou produto alimentício destinado a consumo – Neste caso envolve as bebidas ou comidas sólidas em geral. O §1º trouxe uma norma explicativa sobre as bebidas.
§ 1º - Está sujeito às mesmas penas quem pratica as ações previstas neste artigo em relação a bebidas, com ou sem teor alcoólico.
	**Trata-se de crime que consiste em efetivamente tornar os produtos alimentícios nocivos à saúde ou reduzir o seu valor nutritivo. TEM, QUE TER PERÍCIA de um dos dois. 
	Tipo subjetivo do caput é doloso e tem o §2º que traz a modalidade culposa:
§ 2º - Se o crime é culposo: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. 
	Consumação se dá com a prática de uma das condutas do tipo. Tentativa é possível. Não há necessidade de efetivo dano à saúde
- Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais
Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais: 
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa. 
	Este crime foi uns dos principais focos da alteração nas penas pela Lei nº 9.677/98, visto que é preocupante a falsificação de medicamentos. Nesta época, teve vários problemas de medicamentos adulterados e importados, causando risco e danos para a população.
	Vê-se que este crime protege a incolumidade pública e é um crime de perigo concreto.
	Comete este crime quem modifica o produto que fabrica, empregando substância inadequada ou inócua ou reduzindo o valor terapêutico.
	Ex: Importação irregular de anabolizantes (TRF4); importação de medicamento não autorizado ou registrado (TRF4); depósito de medicamento sem registro de procedência ignorada (STJ); Alteração em composto vitamínico (TJSP); 
	O objeto material deste crime é bem complexo, sendo qualquer produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais – ou seja, substância líquida ou sólida voltada à atenuação da dor ou à cura dos enfermos, ou ainda, a matéria destinada à prevenção das doenças.
	Dentro do objeto material, este artigo traz uma norma explicativa no seu §1º-A 
§ 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os medicamentos, as matérias-primas, os insumos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de uso em diagnóstico.
	- Medicamentos são os produtos farmacêuticos, tecnicamente produzidos com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fim diagnóstico. 
	- Matérias-primas são as substâncias ativas ou inativas que servem à fabricação de medicamentos e outros produtos referidos pela lei. 
	- Insumos farmacêuticos são as droga ou matérias-primas aditivas destinadas para o emprego em medicamentos. 
	- Cosméticos são produtos de uso externo, destinados à proteção ou embelezamento das diferentes partes do corpo (talcos, cremes de beleza, loções de beleza, ruges, blushes, batons, bronzeadores solares, rímeis, sombras, laquês, brilhantinas, esmaltes, loções capilares etc.). 
	- Saneadores são produtos destinados à higienização e desinfecção de ambientes. 
	- Produtos de uso em diagnóstico são aqueles utilizados para o conhecimento ou determinação de doença.
	**Verifica uma desproporção entre os objetos materiais, se equiparando um talco para os pés ou esmalte, para um medicamento para o tratamento de câncer.
	Sujeitos bicomum.
	Tipo objetivo tem as condutas do caput de falsificar, corromper, adulterar ou alterar.
	Aqui é a pessoa que modifica os medicamentos.
	Mas têm também as condutas equiparadas do §1º.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado.
§ 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º em relação a produtos em qualquer das seguintes condições: 
I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente; 
II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior; 
III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização; 
IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade; 
V - de procedência ignorada; 
VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente. 
	O STF e STJ pacificaram o entendimento no sentido da inconstitucionalidade do preceito secundário do § 1º-B, do art. 273, do CP. Determinou-se, em uma interpretação sistêmica de todo o ordenamento jurídico-penal, que a sanção a ser observada deva ser aquela prevista para o crime de tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/2006). (HC 353248. 5ª T. Min. Jorge Mussi. Pub. DJe de 19/05/2016)
	Tipo subjetivo é o dolo, sendo que admite a modalidade culposa:
§ 2º - Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. 
	E a consumação vem com a prática de qualquer das ações típicas, não importando se terá prejuízo ou não à saúde de alguém. Delito formal. Cabe tentativa.
Emprego de processo proibido ou de substância não permitida
Art. 274 - Empregar, no fabrico de produto destinado a consumo, revestimento, gaseificação artificial, matéria corante, substância aromática, anti-séptica, conservadora ou qualquer outra não expressamente permitida pela legislação sanitária:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. 
	Crime que sofreu alteração com a Lei 9.677/98, que elevou a pena do crime.
	Se tutela a incolumidade pública, no que diz respeito à saúde.
	É crime de perigo abstrato e deve-se ter um risco de dano à coletividade.
	É crime comum, mas em geral é praticado pelo dirigente ou empregado de empresa que fabrica o produto destinado ao consumo.
	Passivo é a coletividade.
	A conduta tem como verbo a palavra empregar, no sentido de utilizar, aplicar, realizar.
	
	E tem que ser para fabricação de material destinado a consumo comum, revestimento, gaseificação, corante, aromatizante, antisséptico, conservante, ou qualquer outra não expressamente permitida pela legislação sanitária. Revestimento é o invólucro, aquilo que cobre a coisa; gaseificação artificial é processo industrial que reduz algo sólido ou líquido em gás, como verificado em refrigerantes; material corante é aquele destinado a colorir ou tingir a coisa; substância aromática é aquela com propriedade odoríficas, perfumadas; substância antisséptica é aquela capaz de evitar a fermentação de matéria orgânica; e, por fim, substância conservante é a que por fim evita a proliferação de germes, como, por exemplo, o sal mineral.
	Se trata de uma norma penal em branco, visto que têm várias legislações sanitárias, a exemplo, a Lei nº 6437/77, que prevê produtos proibidos, como o Bromato de potássio na fabricação de pães ou corante amarelo, para falarque foram feitos com ovos.
	O termo “produto fabricado e destinado a consumo”, traz a interpretação de que não é só pra alimentação ou medicamentos, mas também para perfumaria, cosméticos em geral.
	O tipo subjetivo é só o dolo.
	A consumação se dá com o emprego do processo ou substância não permitida pela legislação, sendo cabível a tentativa.
	
Invólucro ou recipiente com falsa indicação
Art. 275 - Inculcar, em invólucro ou recipiente de produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais, a existência de substância que não se encontra em seu conteúdo ou que nele existe em quantidade menor que a mencionada: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. 
	O crime se dá no verbo inculcar, que significa indicar, relevar, recomendar, demonstrar. 
	Se comete este crime quando se indica/demonstra no invólucro (tudo que serve para envolver, como capas, rótulos, bulas, pacotes) ou recipientes (objeto capaz de conter líquidos ou sólidos, como ex os potes, sacos plásticos, latas, frascos) de produto alimentícios, terapêuticos ou medicinais, a existência de produtos que não se tem neles ou então, tem mais em quantidade inferior ao informado.
	É um crime que se presume a fraude, pois é uma forma de enganar os que vão adquirir.
	Ademais, a conduta deve causar risco à saúde, pois se encontra no capítulo contra a incolumidade pública.
	A consumação se dá com a falsa indicação, sendo cabível a tentativa.
	Não confundir com o artigo 66 do CDC, sendo que o 275 é mais específico e o CDC é mais genérico.
Produto ou substância nas condições dos dois artigos anteriores
Art. 276 - Vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, entregar a consumo produto nas condições dos arts. 274 e 275.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. 
	Este crime é um complemento dos dois artigos anteriores, sendo que utilizar o mesmo objeto material.
	Crime que protege a incolumidade pública também, com sujeitos bicomum.
	Mas aqui o sujeito vai praticar as condutas do tipo que são vender; expor a venda; ter em depósito para vender; ou de qualquer forma entregar a consumo, salientando-se, no último caso, exigir-se a interpretação analógica.
	Se cometer o 274 e 275 e este crime, responde somente pelos artigos anteriores, visto que se trata de um pós fato impunível, operando a absorção.
	E a consumação se dá com uma das condutas, sendo tipo misto alternativo, cabendo tentativa.
Substância destinada à falsificação
Art. 277 - Vender, expor à venda, ter em depósito ou ceder substância destinada à falsificação de produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. 
	Se trata de um crime preparatório para os crimes anteriores (274 a 276).
	Tem a mesma finalidade dos demais, protegendo a saúde pública.
	Esses produtos (substâncias destinada à falsificação) podem ser: farinha de linhaça no farelo de trigo, milho e arroz; farinha de mostarda no farelo de trigo, uva no mate, diversas plantas medicinais que são semelhantes mas não faz efeito; ...).
	As condutas são misto alternativas e dolosas.
	Consumação se dá com as condutas verbais destas substâncias e a tentativa é possível.
Outras substâncias nocivas à saúde pública
Art. 278 - Fabricar, vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, entregar a consumo coisa ou substância nociva à saúde, ainda que não destinada à alimentação ou a fim medicinal:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
	Substância nociva à saúde é aquela capaz de provocar dano orgânico ou psicológico. Deve ter perícia.
	Novamente se tutela a incolumidade pública, no que pertine à saúde pública. A particularidade aqui é que se trata de tipo autônomo com técnica legislativa própria, valendo-se de elemento normativo para alcançar as condutas não alcançadas ainda pelos tipos anteriores na intenção de melhor proteger a saúde pública.
	Trata-se de ações múltiplas, referentes à fabricação e comercialização de substâncias nocivas a saúde que não sejam alimentos e remédios. Substâncias nocivas à saúde, no caso em questão, compreendem, por exemplo: o cigarro adulterado, talheres, canetas, lápis, colas, tinta, mamadeira, chupeta com determinada nocividade, pomada, inseticida.
	Exemplo que o STF deu foi a entrega a consumo de sangue contaminado.
	Há conflito de leis penais com o art. 7º do CDC, sendo que no CDC é pra pessoa determinada, aqui é para pessoas indeterminadas e não consumidor.
	Tem a modalidade culposa também:
Parágrafo único - Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
	Consumação se dá com algumas das condutas, sendo tipo misto alternativo e a tentativa é possível.
- 279 foi revogado pelos Arts. 7º e 23 do CDC.
	Previa a conduta de vender, expor à venda, entregar matéria prima ou mercadoria em condições impróprias ao consumo. Detenção de 02 a 05 anos.
Medicamento em desacordo com receita médica
Art. 280 - Fornecer substância medicinal em desacordo com receita médica:
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa.
	Há o crime com a substituição do medicamento prescrito pelo médico, na receita médica, por outro de qualidade, espécie e quantidade diversa. Por receita médica entende-se “a prescrição feita pelo médico, por escrito, em regra, em papel com seu timbre”.
	É para proteger a pessoa de qualquer ato arbitrário em detrimento do trabalho do médico. 
	Assim, mesmo se for benéfico ao paciente, comete o crime a pessoa que faz essa conduta, pois pode ser que o paciente seja alérgico ou tenha reações a outros medicamentos que não aquele indicado pelo médico.
	Bem jurídico é a saúde pública.
	Substância medicinal é o produto destinado a servir de medicamento, cuja finalidade é a preservação, tratamento ou cura de alguma doença.
	O sujeito ativo é comum, mas na prática é a pessoa que vender ou comercializa medicamento.
	Passivo é a coletividade.
	A conduta é o verbo fornecer a substância medicinal.
	E tem a elementar: em desacordo com receita médica. Isso quer dizer que a receita de dentista e parteira não comete o crime.
	Se a receita médica contiver algum equívoco ou tiver em doses excessivas?? O farmacêutico deve entrar em contato com o médico, conforme dispõe o art. 254 do Regulamento Nacional de Saúde.
	Na impossibilidade de contatar prontamente o médico, o farmacêutico poderá fornecer a droga correta caso haja premência, justificando-se a conduta em razão do estado de necessidade (art. 24, do CP). De toda sorte, deve-se tentar, antes, localizar o médico para que este corrija expressamente o erro.
	E o fornecimento de medicamento similar ou genérico? Não há crime, porque eles têm o mesmo princípio ativo do medicamento original, sendo que a própria legislação permite o comércio destes medicamentos.
	O tipo subjetivo é doloso e culposo, conforma PU.
Parágrafo único - Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
	A consumação se dá com o fornecimento, ainda que gratuito, em desacordo com a receita, admitindo tentativa.
Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica
Art. 282 - Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
	Consoante o art. 5º, inc. XIII, da CF/1988, é assegurada a liberdade do exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, desde que atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelece. 
	No delito em tela há justamente o desrespeito às qualificações profissionais legalmente exigidas que se pune, pois a medicina, a atividade de odontologia e farmacêutica exige alguns requisitos.
	O bem jurídico protegido é a incolumidade pública.
	O objeto material são as profissões de médico, dentista ou farmacêutico. Não entra o enfermeiro, médico veterinário, massagista, parteiras, acupuntura.
	Se o protético exercer a profissão de dentista, comete este crime.
	Tem a diferença com a contravenção de exercício irregular da profissão, do art. 47 da LCP:
Art. 47. Exercer profissãoou atividade econômica ou anunciar que a exerce, sem preencher as condições a que por lei está subordinado o seu exercício:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis.
	Na LCP é todas as profissões, exceto o médico, dentista e farmacêutico. Especialmente para nós, o bacharel que exerce a advocacia, comete esta contravenção. Tem agora o tecnólogo em serviços jurídicos.
	O sujeito ativo é comum, sendo próprio na conduta de exceder os limites.
	Passivo é a coletividade e o atendido de forma irregular.
	Se o médico, dentista ou farmacêutico estiver suspenso, cometem 359 se for suspensão judicial ou 205 se for suspensão administrativa.
	O verbo é exercer, que significa o mesmo que praticar, exercitar com reiteração, ainda que graciosamente, a profissão do médico, dentista ou farmacêutico, “sem autorização legal”. Significa dizer que o agente não tem o diploma obrigatório para exercer a profissão ou, tendo-o, não o registrou em local competente. Não obstante, de forma criminosa, ele realiza atos característicos da referida profissão.
	O médico que se forma em outro país e exerce a medicina sem autorização comete este crime. O programa mais médico exige uma autorização especial do governo.
	Deve-se salientar que práticos e estudantes têm permissão, posto que limitada, para desempenhar determinados atos profissionais.
	Com relação ao exercício ilegal com excesso dos limites, cuida-se do exercício da profissão com excesso funcional. Em suma, praticam-se atos que extrapolam os limites legais: médico que manipula remédio, ou farmacêutico que prescreve medicamento, ou dentista que trata câncer na boca ou aplica anestesia geral. No caso de exercício profissional fora dos limites territoriais, estar-se-á diante apenas de uma infração administrativa.
	Segundo o STJ, a referência típica a autorização legal importa em norma penal em branco. Por esse motivo, entendeu-se atípica a conduta de exercício da acupuntura, em razão da ausência de regulamentação dessa atividade.
	Se for atos praticados em situações de emergências ou na falta de profissionais habilitados ou pequenos auxílios familiar, não comete o crime por ser estado de necessidade ou ausência de dolo.
	Tipo subjetivo é o dolo, e se for com fim específico de lucro, tem a multa, conforme PU:
Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa.
	A consumação se dá de forma habitual, ou seja, deve exercer. Por ser habitual, não cabe tentativa.
	Há a possibilidade de concurso entre o 282 e o crime de curandeirismo.
	Há também a possibilidade de concurso com o tráfico de drogas.
Charlatanismo
Art. 283 - Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
	Charlatão – do francês charlatan e do italiano ciarlatano – é o indivíduo falador, impostor, que se vende por erudito; demais disso, é quem inculca drogas de muito préstimo e segredos de medicina. Charlatanismo, portanto, é termo cuja origem quer significar falar muito, tagarelar, inculcar ou propagar a cura de doenças.
	No passado, atribuía-se o adjetivo de charlatão àqueles que, em feiras ou praças públicas das cidades, faziam propaganda dos produtos que vendiam, em voz alta, exagerando suas qualidades ou propriedades medicinais. Posteriormente, limitou-se seu significado àqueles que, de má-fé, iludia os inocentes, fazendo-os crer em curas milagrosas, em processos infalíveis etc.
	Tutela-se a saúde pública.
	O objeto material é o anúncio de cura secreta e infalível - procedimentos ignorados pela medicina, que o charlatão diz que somente ele conhece e diz ser infalível.
	Sujeito ativo é comum e passivo a coletividade.
	O tipo exige os verbos inculcar, que significa aconselhar, sugerir, propagandear; bem como anunciar, que significa publicar, avisar, transmitir.
	Tipo somente doloso.
	A consumação é formal, não importa se conseguiu convencer alguma pessoa, cabendo tentativa. 
	Tem diferença em charlatanismo e 171, apesar dos dois terem a fraude. O 283 só é a conduta de inculcar ou anunciar. Se a vítima compra e tem prejuízo em razão do ato, responde em concurso material com o 171. É o exemplo de alguém vendendo um chá para cura do câncer por um elevado preço.
Curandeirismo
Art. 284 - Exercer o curandeirismo:
I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;
II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;
III - fazendo diagnósticos:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
	O exercício do curandeirismo perpassa sua história. Além da vertente histórica, motivações culturais, religiosas e até mesmo econômicas justificaram a popularização de crendices e curandeirismos. 
	A doutrina assinala, assim, que seria uma particularidade brasileira o tratamento penal do curandeirismo. Isso porque seriam poucos os ordenamentos jurídicos que, como o nosso, disciplinam essa matéria. 
	O bem jurídico em apreço é a saúde pública da coletividade exposta a perigo pela prática do curandeirismo, pela atividade de pessoas ignorantes ou atrasadas, que de medicina não possuem a menor noção e, não obstante, se dispõem a curar os que as procuram, a tratar de suas doenças. 
	Este crime não conflita com a previsão do art. 5º, VI, da CF, dispositivo que assegura o direito de liberdade religiosa. O que se criminaliza não é a religião ou a crença, mas somente os atos que ameacem a saúde pública (nos termos científicos da modernidade) sob o manto de religião (o limite do direito à liberdade religiosa é não oferecer perigo à saúde pública). Demais a mais, deve-se indicar os atos concretamente praticados pelo suposto curandeiro. 
	O objeto material é a substância prescrita ou aplicada, o gesto, palavra ou qualquer outro meio, e o diagnóstico.
	O sujeito ativo é comum e o passivo é a coletividade.
	O verbo é exercer, que é o mesmo que praticar, exercitar com reiteração, etc. O que se exerce é o curandeirismo. É o exercício da arte de curar de quem não tem a necessária habilitação profissional, por meios não científicos.
	O exercício do curandeirismo se dá de três formas: 1) prescrevendo (receitando), ministrando (dando a consumo) ou aplicando (utilizando), habitualmente, qualquer substância (não necessariamente substância que faça mal); 2) usando gestos, palavras ou qualquer outro meio (que trariam a cura mágica); ou 3) fazendo diagnósticos (apontando qual é a doença a partir dos sintomas exteriorizados).
	Importante notar, ao fim, que ainda que somente o primeiro inciso cite expressamente o termo “habitualmente”, ao se tratar do exercício do curandeirismo, exige-se a habitualidade.
	Tipo subjetivo é o dolo. Se tiver a remuneração, tem aumento de pena do PU.
Parágrafo único - Se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica também sujeito à multa.
	A consumação se dá de forma habitual, não cabendo tentativa.
	Segundo Nélson Hungria, os crimes dos arts. 282, 283 e 284, todos do CP, não se confundem. Isso porque, “enquanto o exercente ilegal da medicina tem conhecimentos médicos, embora não esteja devidamente habilitado para praticar a arte de curar, e o charlatão pode ser o próprio médico que abastarda sua profissão com falsas promessas de cura, o curandeiro (caribamba, mezinheiro, raizeiro) é o ignorante chapado sem os conhecimentos da medicina, que se arvora em debelador dos males corpóreos”.
	Tem também a diferença com o 171, sendo que no curandeirismo, o sujeito acredita que tem o poder de curar. O 171, o sujeito sabe que não tem este poder e nem vai conseguir.
	E se mediante a informação de que vai exercer o curandeirismo mediante atos sexuais, pode responder por violação mediante fraude, estupro se a vítima se sentir constrangida e até estupro de vulnerável se for menor ou incapaz.
Forma qualificada
Art. 285 - Aplica-se o disposto no art. 258 aos crimes previstos neste Capítulo, salvo quanto ao definido no art. 267.
Art. 258 – 
	Se do crime doloso de perigo comum:
		- resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa deliberdade é aumentada de metade; 
		- se resulta morte, é aplicada em dobro. 
	No caso de culpa, se do fato:
		- resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; 
		- se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço.
	** Salvo no art. 267, que é o crime de Epidemia e tem penas bem maiores e qualificadoras específicas. 
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