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rock in roll na amazonia grupo capu

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1 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE 
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO 
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS 
COORDENAÇÃO DO BACHARELADO EM HISTÓRIA 
 
 
 
 
WEMERSON DE LIMA CUNHA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ROCK N’ ROLL NA AMAZÔNIA: EXPERIÊNCIAS MUSICAIS DO GRUPO CAPÚ 
NA CIDADE DE RIO BRANCO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO BRANCO 
2014 
 
2 
 
WEMERSON DE LIMA CUNHA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ROCK N’ ROLL NA AMAZÔNIA SUL OCIDENTAL: EXPERIÊNCIAS MUSICAIS 
DO GRUPO CAPÚ NA CIDADE DE RIO BRANCO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO BRANCO – ACRE 
2014 
 
Monografia apresentada como 
exigência parcial para obtenção 
do título de Bacharel em História 
pela Universidade Federal do 
Acre – UFAC, sob a orientação 
do prof. Dr. Airton Chaves Rocha 
3 
 
Monografia defendida e aprovada em ________/__________/__________, pela 
banca examinadora constituída pelos professores: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
________________________________________ 
Dr. Airton Chaves Rocha 
 
________________________________________ 
Dr. José Dourado de Souza 
 
________________________________________ 
MSc Geórgia Pereira Lima 
4 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Agradeço especialmente aos meus pais Wilson e Antonia, minha 
companheira Mayanne e meus irmãos Weuller e Weliton pelo apoio e solidariedade 
durante toda a graduação. 
Agradeço também ao professor Dr. Airton Chaves Rocha pelo tempo 
dedicado e pelas sugestões dadas para que esta monografia se concretizasse. 
Aos professores Dr. José Dourado de Souza e MSc. Geórgia Pereira Lima 
por terem aceitado participar da banca de qualificação. 
Ao entrevistado Clenilson Batista, pelo tempo dedicado ao conceder a 
entrevista, e pela confiança depositada. 
Aos amigos Jorge Neto, Vagner Teles e Marcos Ricardo, com quem dividi 
momentos alegres e difíceis. 
Aos colegas de curso Zenilton, Marileide, Janáira, Luana, Tuti, João 
Isaque, Ionice, Huendson, Thairini e Raquel pelas agradáveis conversas regadas a 
vinho. 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À minha filha Lavignia, amor da minha vida. 
À Mayanne, companheira de todas as horas. 
À meus pais, Wilson e Antonia, por nunca desistirem de oferecerem melhores 
condições para os filhos. 
6 
 
 SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO............................................................................................................9 
CAPÍTULO I: AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL TOCA ROCK....................................16 
1.1 O Grupo Capú e a música rock em Rio Branco...................................................18 
1.2 Formação dos sujeitos e a identificação com o rock............................................27 
CAPÍTULO II: AS MÚSICAS DO GRUPO CAPÚ: ENTRE O REGIONAL E O 
UNIVERSAL..............................................................................................................34 
2.1 Música Acreana...................................................................................................34 
2.2 Música Urbana.....................................................................................................41 
CAPÍTULO III: UM PANORAMA DO ROCK NO SÉCULO XX.................................48 
3.1 Ruídos que crescem: O surgimento da música rock............................................48 
3.2 O rock n’ roll no Brasil..........................................................................................52 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................58 
FONTES E BIBLIOGRAFIA ......................................................................................59 
7 
 
 
RESUMO 
O presente trabalho tem como objetivo tratar das experiências musicais do Grupo 
Capú na cidade de Rio Branco e suas implicações ideológicas, redescobrindo suas 
canções e suas atuações no cenário musical acreano. O recorte temporal consiste 
na formação e atuação do grupo na cidade durante a década de 1980. Buscamos 
compreender em que contexto o Grupo Capú está inserido, discutindo como esteve 
configurada a cidade de Rio Branco no período analisado. Procuramos analisar 
neste trabalho, como houve a formação musical dos membros do grupo, 
compreendendo como houve a identificação com artistas nacionais e internacionais. 
Também buscamos identificar nas músicas do grupo a temática que os músicos 
imprimiram em suas composições, abordando elementos específicos da realidade 
acreana e também elementos mais abrangentes de suas músicas. Além disso, 
procuramos traçar um panorama do rock, rediscutindo seu surgimento nos anos 
1950, sua emergência no Brasil, afim de situar o Grupo Capú dentro da história do 
rock. 
PALAVRAS-CHAVE: Rock, Cidade de Rio Branco, Identidade Cultural. 
8 
 
 
ABSTRACT 
This work aims to address the musical experiences of Grupo Capú in the city of Rio 
Branco and its ideological implications, rediscovering his songs and his 
performances in Acre music scene. The time frame is the formation and performance 
of the group in the city during the 1980. Nicer understand in what context the Grupo 
Capú is located, has been discussing how to set up the city of Rio Branco in the 
analyzed period. We analyzed in this study, as there was the musical training of the 
group, comprising as was identified with national and international artists. We also try 
to identify the songs on the group theme that musicians printed in his compositions, 
addressing specific elements of Acre reality and also broader elements of their 
music. Additionally, we attempt to give an overview of the rock, revisiting its 
emergence in the 1950s, its emergence in Brazil, in order to situate the Grupo Capú 
within the history of rock. 
KEYWORDS: Rock, City of Rio Branco, Cultural Identity. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
INTRODUÇÃO 
O Grupo Capú foi um grupo de rock surgido no final da década de 1970 
constituído por três moradores do Bairro da Capoeira1, personificados nas figuras 
dos irmãos Clenilson e Clevisson e João Veras. A origem do nome “Capú” faz 
referência especificamente ao bairro em que os moravam desde ainda muito jovens. 
Ligados historicamente por parentesco e por laços afetivos de amizade e 
companheirismo, estes sujeitos já na infância manifestaram grande interesse 
exercer alguma atividade relacionada à produção cultural. 
 O recorte espaço-temporal deste trabalho consiste na atuação do 
Grupo Capú ente os anos de 1980 e 1990, fazendo emergir suas canções e suas 
apresentações em espaços culturais diversos da capital rio-branquense. Outros 
artistas também surgem neste período, e, em menor dedicação, são apresentados 
neste trabalho. 
Trabalhar com a história da música já pressupõe inevitavelmente um 
gosto pessoal. A ideia de trabalhar com o rock nasceu fundamentalmente do 
envolvimento que tive ainda muito cedo com a música. Desde a etapa de minha 
escolarização básica (o ensino médio) já havia grande interesse de minha parte em 
conhecer bandas de rock no cenário nacional e também internacionalmente. Magda 
Alves2 afirma que escolher o tema é pensar o objeto e não apenas escolher o 
assunto. Neste sentido, foi envolvimento com a música rock que levou-me a 
redescobrir a história do rock em Rio Branco através do Grupo Capú dentro do 
cenário musical acreano. 
Como um pesquisador movido diversas inquietações no tempo presente, 
redescobrir o Grupo Capú configura-se em um relevante trabalho social, já que este 
grupo representa ainda um elo perdido da cultura musical acreana. Sua existência é 
bastante conhecida entre os amantes do rock na cidade de Rio Branco – embora 
paradoxalmente percebo uma relativa ausência de informação acerca de seu 
trabalho, bem como da difusão de suas músicas em nosso meio social. 
 
1 O Bairro da Capoeira localiza-se próximo ao centro da Cidade de Rio Branco,representado 
atualmente por moradores da classe média alta da capital acreana. 
2 ALVES, Magda. Como escrever teses e monografias. Rio de Janeiro: Campus, 2003. 
 
10 
 
No âmbito acadêmico, realizo este trabalho no intuito de contribuir com 
uma temática relativamente nova, pois ao fazer um levantamento bibliográfico, 
constatei uma considerável ausência de conhecimento produzido no que diz respeito 
à história da música. 
Esta monografia visa redescobrir as experiências do Grupo Capú, seus 
integrantes e suas canções no intuito de compreender suas particularidades, bem 
como as suas semelhanças com o cenário nacional e/ou mundial, com quais 
conjuntos dialogaram e como criaram suas identidades. 
Neste trabalho busco identificar como o rock (música de origem 
estadunidense e inglesa) tem sua influência absorvida pelo Grupo Capú e, se de 
alguma maneira, o grupo transforma a música trazendo elementos específicos da 
realidade em que esses sujeitos sociais viveram, além de investigar as suas 
angústias. 
Procuro analisar como as canções criadas pelo Grupo Capú ajudaram na 
construção da identidade destes sujeitos e como estas canções contribuem para a 
mudança de suas visões de mundo bem como a suas posturas na forma de 
enxergar a realidade. 
Pesquiso a formação do Grupo Capú, posicionando-o nas mudanças que 
vinha ocorrendo no Brasil e também no estado do Acre e como estas mudanças 
ajudaram no desenvolvimento da construção da identidade do presente grupo 
durante o período pesquisado. Assim, suas composições, as músicas, suas relações 
rítmicas e poéticas com o contexto em que são criadas para um público determinado 
se constitui em uma abordagem de fundamental importância neste trabalho. 
Ao tratar sobre uma problemática de bastante complexidade na qual 
envolve o tema deste trabalho monográfico, vejo que este está ligado a alguns 
conceitos e categorias que considero como sendo essenciais para a compreensão 
da realidade vivida pelos sujeitos históricos que viveram suas experiências e que 
deram sentido as suas visões de mundo. Assim, vejo que ao desenvolver uma 
análise sobre um grupo de rock, identifico como sendo de bastante relevância tratar 
de um conceito que está intimo e historicamente ligado ao rock – a contracultura. 
Para conceituar o fenômeno da contracultura, estou me apropriando do 
conceito desenvolvido por Carlos Alberto Messeder Pereira que enxerga a 
contracultura como sendo um conjunto de manifestações culturais novas que 
floresceram, não só nos Estados Unidos, como em vários outros países, 
11 
 
especialmente na Europa e, embora com menor intensidade e repercussão, na 
América Latina, e que tinha como característica principal o fato de se opor, de 
diferentes maneiras, à cultura vigente e oficializada pelas principais instituições das 
sociedades do ocidente. (PEREIRA, 1992, p.08) 
Esse movimento constituiu-se historicamente através de um caráter 
fortemente libertário, com enorme apelo junto a juventude de camadas médias 
urbanas colocando em xeque, frontalmente, alguns valores centrais da cultura 
ocidental. 
Analisando as canções, as posturas críticas e contraculturais na produção 
poético-musical de Renato Russo e Cazuza na década de 1980, a estudiosa Mônica 
Nogueira de Assis comenta que 
a contracultura foi um movimento de contestação ocorrido na década de 
sessenta, que preconizava romper com qualquer padrão institucionalizado, 
visando à liberdade de expressão. Desta forma, grupos heterogêneos eram 
atraídos por um sentimento empático, que os fazia sentir membros de uma 
mesma tribo. (...) Nesse contexto, o rock é o estilo musical que representa a 
expressão de uma tribo, caracterizado pelo espírito de contestação e que 
tem um forte poder de mobilização de massas. (ASSIS, 2005, p.09) 
Surgido nos anos 50, inicialmente com o movimento hippie, 
posteriormente com a música rock, uma certa movimentação nas universidades, 
viagens de mochila, drogas, orientalismo, a contracultura sempre levou à frente o 
caráter contestador, de insatisfação, de experiência, enfim, de uma outra realidade. 
Vejo como sendo de fundamental importância neste trabalho discutir 
sobre a música rock. Para realizar essa discussão, procuro não escrever uma 
história cronológica, mas sim mostrar que o gênero rock foi historicamente criado e 
recriado, apresentado e representado de formas diversas e ás vezes até antagônica, 
em diferentes épocas e lugares. Paulo Chacon afirma que conceituar rock constitui-
se em uma absurda pretensão, pois trata-se de um termo bastante variado no tempo 
e no espaço. (CHACON, 1985, p.05) 
O autor comenta que o que se pode afirmar de concreto é que se trata de 
uma música agitável e dançante. (CHACON, 1985, p.05) Ao contrário da música 
erudita que exige o silêncio e o bom comportamento da plateia, o rock pressupõe a 
troca, a integração do conjunto ou do vocalista com o público, no intuito de estimulá-
lo à agitação. Por isso, a reação corpórea é fundamental, caso contrário, não haveria 
rock. O rock precisa de liberdade física. 
12 
 
Além de agitável e corpóreo, o autor afirma que no rock é necessário 
cantar. Não importa se o tom ou mesmo a letra estão certos. Daí a pouca 
importância de o rockeiro saber ou não inglês. Se não sabe inventa. (CHACON, 
1985, p.05) 
Dessa forma, rock é, antes de tudo, som. Ao contrário de outras artes que 
nos tocam pelo mais racional órgão dos sentidos, que é a visão, a música nos atinge 
pelo mais sensível, que é a audição. Nesse sentido, dentro da música, uma nota 
distorcida de guitarra parece atingir não só o ouvido e o cérebro, mas cada uma das 
células do corpo humano, fazendo o rock um dos ritmos musicais mais agitados que 
se conhece nas sociedades modernas. 
O rock and roll foi uma das maiores (se não a maior) revolução cultural de 
todo o século XX. O rock trouxe novas preocupações ao mundo da música (como 
estilo ou performance) e levou as letras a um patamar ainda não explorado. A 
principal novidade em termos musicais no rock and roll foi a utilização de um 
instrumento que havia nascido pouco antes do que o próprio ritmo, a guitarra 
elétrica. As primeiras foram criadas na década de 30 do século XX, sendo a primeira 
gravação de um solo de guitarra realizada no ano de 1938, por Eddie Durham, 
violonista e trombonista de jazz. Porém, foi somente duas décadas mais tarde, com 
o rock and roll, que o instrumento foi utilizado em sua plenitude de recursos. 
O rock tem sua origem que remonta a década de 1950 do século 
passado, representado na sua maioria por jovens no sul dos Estados Unidos e logo 
se espalhou invadindo fronteiras. As raízes do rock estão intimamente ligadas às 
classes pobres da sociedade americana, já que este movimento nasceu através da 
mistura de três gêneros musicais: do Blues, do Jazz (ambos tocados por negros, na 
maioria pobre e sem participação política dentro da sociedade americana), e do 
Country (músicas tocadas por pequenos trabalhadores que viviam em áreas rurais). 
De um modo geral, no rock, há instrumentos característicos, como: 
guitarra, bateria e contrabaixo, podendo ter variações como usar instrumentos 
acústicos no lugar de algum deles, ou todos, ou acrescentar outros instrumentos, 
dos quais o teclado é mais comum. Inflexão de voz com clareza, cantada, mas sem 
muitas “subidas” ao agudo também é uma das características do rock, assim como 
as letras sobre problemas percebidos pelos jovens. Ritmicamente, o compasso 4 por 
4 dá a levada. É uma música feita por jovens, principalmente de espaço urbano, com 
ritmos sincronizados com vocalizações de chamados e respostas. Essa 
13 
 
característica de chamados e respostas tem sua origem que remontam o blues 
negro dos Estados Unidos. É o que assinala Roberto Muggiati: 
Gritos acompanhados pela guitarra, (...) ou outros instrumentos pobres e 
rudimentares, o ritmo marcado na batida do pé (...), ao fim de cada frasesobra um tempo livre, que é geralmente preenchido por uma resposta 
instrumental. Esse esquema de chamada-e-esposta sobrevive no rock, no 
diálogo entre voz e guitarra. (MUGGIATI, 1981, p.09) 
 
Para o historiador Paul Friedlander (FRIEDLANDER, 2008, p.23), o rock 
and roll estadunidense se desdobrou basicamente por duas gerações. A primeira 
geração é fundamentalmente de influência negra. Tinha como principais 
representantes nomes como Fats Domino, Chuck Berry, Little Richard e Bill Haley. 
Esses cantores fizeram bastante sucesso no período compreendido entre os anos 
de 1953 e 1955, se tornando assim os pioneiros do rock. As músicas destes 
cantores, em geral, consistiam em uma síntese dos estilos branco (country) e negro 
(blues e rhytm and blues) e dominada por um forte acompanhamento de bateria, 
exibia letras que tratavam das experiências de vida dos adolescentes do pós-guerra, 
como amor, dança, alusões ao sexo e o próprio rock and roll. 
Na segunda geração, Friedlander enfatiza que o rock and roll atingiu 
ainda mais sucesso comercial do que a geração de Bill Halley e seus 
contemporâneos. Tendo como um dos seus principais representantes o lendário 
Elvis Aaron Presley no período posterior ao ano de 1956. Sendo considerada uma 
geração de “brancos”, além dos sucessos de Elvis, havia também cantores que se 
destacavam bastante, como Everly Brothers, Jerry Lee Lewis e Buddy Holly. Ambas 
as gerações foram entusiasticamente abraçada pela juventude da época. 
Os objetivos a serem alcançados com a realização a realização da 
presente monografia tiveram o sentido de compreender porque o Grupo Capú na 
sua forma de fazer música optou pelo estilo rock, quem foram os músicos, o 
contexto local, social e histórico em que o citado grupo se inspirou para produzir sua 
cultura musical e o contexto histórico externo. 
O suporte teórico-metodológico para pensar as problemáticas e o diálogo 
com fontes foi definido a partir da seleção e leitura de uma bibliografia sobre o tema 
procurando identificar os conceitos trabalhados pelos autores, usando também 
trabalhos científicos e outros materiais, isso para definir os conceitos trabalhados 
nos capítulos. Conceitos como identidade cultural, experiência musical, identidades 
da floresta, cultura “paulista”. 
14 
 
Como opção metodológica, elaboramos este trabalho priorizando a 
entrevista realizada com Clenilson Batista no dia 12 de dezembro de 2013 na 
Biblioteca Pública do Acre, por entender que o músico possui uma posição de maior 
destaque no grupo, e manteve-se durante a atuação do grupo, como a pessoa que 
idealizou as apresentações do conjunto. Através de uma entrevista de história de 
vida, buscamos compreender a trajetória do músico durante o período que esteve 
atuando no Grupo Capú 
Com formação autodidata, na faixa dos sessenta anos de idade e ainda 
morador do bairro da Capoeira, nos dias atuais, o músico é vice-presidente da 
Cooperativa de Música do Acre. Além de compositor, ocupa-se também como 
lendólogo, escritor e ativista cultural. 
Também usamos neste trabalho o documentário intitulado “A História do 
Grupo Capú”. Produzido no ano de 2008, o documentário foi produzido por Mazé 
Oliveira, (esposa de Hermógenes, que teve breve passagem pelo Grupo Capú) 
através de um projeto aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura do Estado do Acre 
administrado pela Fundação Elias Mansour. Neste documentário, observamos que 
há uma intencionalidade por parte da produtora em colocar seu esposo como 
fundador do grupo, principalmente pelo fato de as falas de Clenilson Batista e João 
Veras além de serem breves, são frequentemente interrompidas e dão lugar a voz 
de um narrador que privilegia a participação de Hermógenes do grupo. Dessa forma, 
utilizar o referido documentário, tivemos o cuidado de confrontá-los com a entrevista 
realizada com Clenilson Batista. 
Com o músico João Veras, elaboramos uma entrevista via e-mail, uma 
vez que não foi possível realizar tal procedimento pessoalmente. Assim, fazemos 
uma ressalva: não foi possível fazer análises sobre como o entrevistado se porta em 
cada pergunta, mas, em contrapartida, ele pode refletir ou pesquisar em arquivos 
pessoais sobre os assuntos abordados, nos dando uma resposta mais concisa. 
Formado em Letras e em Direito pela Universidade Federal do Acre, o músico João 
Veras com 52 anos nos dias atuais, além de Advogado, é poeta, flautista e 
percussionista. Além das entrevistas, foram feitas conversas informais via e-mail 
com João Veras, afim de tirar algumas dúvidas que foram surgindo durante a 
construção do trabalho. 
A presente monografia é composta de três capítulos. No capítulo I 
procuramos definir a composição social e musical dos componentes do Grupo Capú, 
15 
 
além compreender aspectos da história da cidade de Rio Branco de então, e a 
opção do grupo pelo rock. Buscamos compreender a proposta musical do grupo, 
suas atuações, seus discursos, sua proposta de resistência, além de mostrar a 
formação musical dos componentes dentro de uma cidade que está passando por 
profundas mudanças. 
No segundo capítulo buscamos fazer uma análise de letras de músicas 
produzidas pelo grupo, procurando-se compreender as temáticas imprimidas em 
suas músicas. Assim, procuramos identificar nas músicas do grupo músicas que 
trazer elementos da região, isto é, temas acreanos e também procuramos mostrar 
temas mais abrangentes de suas músicas. 
E por fim no capítulo III, procuramos situar o Grupo Musical Capú no 
contexto nacional dos anos de 1980 e na produção do rock internacional. 
 
 
 
 
 
16 
 
 
CAPÍTULO I: AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL TOCA ROCK 
Neste capítulo inicial se propõe situar no tempo e no espaço a existência 
do Grupo Capú, buscando-se mensurar porque o Grupo Capú optou pelo estilo 
musical rock, indo na contramão de outros grupos musicais existente na cidade de 
Rio Branco no final da década de 1970 e nos 80. Procura-se compreender aspectos 
vivenciados na capital do Acre no período de transição da economia baseada no 
extrativismo vegetal para a agropecuária. 
A partir da década de 1970, o Estado do Acre passou por mudanças 
significativas. O governo brasileiro na pessoa do presidente General Garrastazu 
Médici, desencadeou o slogan “Integrar para não entregar”. Nesse período, o 
governo do Acre promoveu uma política de reocupação do estado. O governador 
Francisco Wanderley Dantas buscando implantar a pecuária no estado, fez uma 
campanha publicitária no sul e sudeste do Brasil, colocando à venda grande parte 
dos seringais acreanos, com o seguinte slogan: “Migre para o Acre, invista no Acre e 
exporte pelo pacífico”. 
A partir da campanha desencadeada no Brasil, os velhos donos da terra 
começaram a vender seus seringais para compradores do centro-sul, atraídos pelos 
baixos preços da terra, com pagamentos facilitados pelos governos estadual e 
federal. 
Assis retrata que “comparando-se, à época, o preço de um hectare de 
terra em São Paulo, no Acre era suficiente para comprar 15 hectares”. (ASSIS, 
2002, p. 47) Com a compra dos seringais acreanos, um grande problema social 
estava prestes a ter início: a briga pela posse de terras dos seringueiros que 
moravam nas colocações de seringa com os compradores de terras que chegaram 
ao Acre nos anos 70. 
Com a venda dos seringais para os investidores do Centro-Sul do Brasil, 
foram eles desativados e, a partir daí, passaram a derrubar a floresta para a 
implantação da pecuária. 
Devido a tais transformações nas terras acreanas, diversas famílias de 
seringueiros, agricultores, pescadores migram para a cidade de Rio Branco e lá 
constituíram a periferia da capital no Estado. Assis retrata que 
17 
 
A migração dos seringais para Rio Branco foi bem acentuada, pois, até o 
início de 1970, a população urbana de Rio Branco era de, 
aproximadamente, 52.375 habitantes e na área rural era de, 
aproximadamente, 78.930habitantes. No início de 1980 a população urbana 
de Rio Branco era de 109.815 habitantes. Esse crescimento se deve ao fato 
da migração constante dos seringais para a cidade. (ASSIS, 2002, p. 55) 
Mesmo sendo o brigados a deixar suas antigas moradias, grande parte de 
seringueiros passaram a se organizar principalmente ajudados pela Igreja Católica, 
através das CEBs, que divulgava o seu “Catecismo”, o qual informava sobre o que 
era o Estatuto da Terra, o INCRA, e como resistir às ameaças de expulsão dos 
seringais. 
Assim foi caracterizada a luta social dos moradores dos bairros 
periféricos, agindo como sujeitos sociais que não se conformavam com o sistema 
econômico implantado no estado do Acre, e passaram a organizar-se em 
Associações de Moradores, participando do Centro de Defesa dos Direitos Humanos 
da Igreja Católica, entidade que garantiu respaldo jurídico a vários pleitos de 
desapropriações de áreas de terras urbanas, e posicionando-se contra a violação de 
direitos básicos de pessoas que não tinham acesso ao poder judiciário. 
Com o processo de ocupação do meio urbano na cidade de Rio Branco, 
passaram a surgir conflitos, principalmente com o poder público, como a polícia. 
Essa nova população passou cada vez mais a incomodar os habitantes da cidade. 
Enquanto que no início dos anos de 1970 foi um processo de ocupação com poucos 
casos de violência, nos anos 80, foram anos de extrema violência com incontáveis 
números de assassinatos. 
A partir do momento em que está sendo implantado um novo sistema de 
produção no estado, vão surgindo também novas formas de se produzir arte, 
contestando os valores urbanos. Maria do Perpétuo Socorro Calixto Marques retrata 
que desde o início da década de 1970 
vêm se multiplicando sempre mais os grupos teatrais. Paralelamente, foram 
criados alguns programas musicais no rádio, como o Momento Experiência, 
os jornais do sul começaram a ser distribuídos nas bancas; surge o Cine 
Clube Aquiri; Aparece o jornal Varadouro; estreia o grupo musical Raízes 
(CALIXTO MARQUES, 2005, p.31) 
Assim como no teatro, a música no Acre teve um período de grande 
difusão com os festivais de música. Eles foram espaços de divulgação da produção 
musical autoral, que trazia a identidade cultural acreana, marcada por vários estilos 
musicais. 
18 
 
Em 1980, é realizado em Rio Branco a primeira edição do Festival 
Acreano de Música Popular – o FAMP. Com duração até o ano de 1993, as edições 
do FAMP contribuíram significativamente para que cantores acreanos pudessem 
extravasar seus descontentamentos. 
No ano de 1983 aparece no cenário musical acreano o Festival de Praia 
do Amapá. Considerado um festival mais livre, onde havia pouca presença da 
polícia, neste festival, os músicos se sentiam mais livres em expressar suas ideias, e 
passavam a cantar cada vez mais temas relacionados à denúncia, o duro cotidiano 
do seringueiro, o canto em defesa da floresta. 
Ambos os festivais foram espaços de divulgação da música acreana, que 
trazia a pluralidade de estilos musicais. Em um contexto marcado pela luta em 
defesa da terra, e da forte perseguição do Governo Militar Brasileiro, os festivais de 
música do Acre, além da produção musical, serviam para que se juntassem os 
artistas que produziam não só música, mas poesia, informação, ideias, 
comportamentos e principalmente opiniões. 
1.1 O Grupo Capú e o rock em Rio Branco 
Enquanto sujeitos sociais, Clenilson Batista e Clevisson Batista, filhos de 
pai nordestino que veio ao Acre em busca de melhores dias, são acreanos crescidos 
no Bairro da Capoeira, que nos anos 70 foi um bairro periférico. Os irmãos 
cresceram juntamente com diversas outras famílias em meio a dificuldades, assim 
como João Veras, também morador do bairro da Capoeira desde criança. Nesse 
sentido, grande parte das músicas composta por estes sujeitos refletem o lugar 
social ao qual pertencem. 
Dessa forma, o Grupo Capú, enquanto grupo musical que expressa suas 
ideias através de suas músicas, tem seu posicionamento ideológico voltado para as 
resistências, para a denúncia em um contexto de fortes perseguições e 
assassinatos. Assim, para o Grupo Capú, fazer música implica em enfrentamento 
político, em promover o canto em defesa da floresta, dos seringueiros. 
O Grupo Capú fez sua primeira apresentação musical no Festival Acreano 
de Música Popular – FAMP no ano de 1980, tendo como integrantes os irmãos 
Clenilson e Clevisson e João Veras. Inicialmente, o conjunto fez suas apresentações 
auxiliados pela banda-base do FAMP, chamada Banda Tropical, formada pelos 
músicos Nilton no teclado, James no violão e Gavião na bateria. Esta banda 
19 
 
compunha a base do festival, auxiliando artistas que não dispunham de instrumentos 
para as apresentações. 
Até o ano de 1982, o Grupo Capú ainda não dispunha de todos os 
instrumentos para se apresentarem no FAMP. Dessa forma, nas edições do FAMP 
de 1980 e 1981, o conjunto apresentou-se usando como instrumento próprio apenas 
um violão, no qual que foi tocado e cantado por Clenilson Batista e com Clevisson 
Batista e João Veras nos vocais. A partir do ano de 1982, João Veras passa a usar a 
flauta doce e Clevisson Batista toca o contrabaixo nas apresentações do grupo. 
Assim, O Grupo Capú, a partir do ano de 1982 passa a se apresentar com Clenilson 
Batista como vocalista e violonista, Clevisson Batista tocando contrabaixo e João 
Veras tocando flauta doce no grupo. 
Em entrevista cedida via e-mail no dia 29 de março de 2014, ao ser 
questionado sobre os motivos que levaram o grupo ao optar pela música rock, o 
músico João Veras comenta que 
o rock (...), é para além da música, uma atitude de vida que pega muito na 
faixa etária da juventude em que nos encontrávamos naquele período. 
Outra razão é a limitação técnica. Explico. Não éramos experts em 
instrumentos e o rock normalmente traz uma simplicidade tanto nos acordes 
quanto nos ritmos. 3 
 Diferentemente de outros ritmos que exigem a música “certinha”, com 
versos e ritmos bem elaborados e perfeitamente sincronizados, o rock quebra as 
regras do bom comportamento, exigindo do artista apenas a energia e a integração 
com o público. 
 No documentário intitulado “A História do Grupo Capú”, produzido por 
Mazé Oliveira, em depoimento, Clenilson Batista narra: 
Aí eu fui, tive que ir pro rio, que minha mãe tava lá em tratamento. E lá 
encontrei um primo da minha mãe que me deu um violão de presente. Falei 
pra ele que queria fazer e que não sabia tocar e tal e queria aprender que 
era pra não pedir pra ninguém pra fazer música pra mim. Aí ele foi e me 
ensinou as três primeiras notas musicais que era o Ré, me ensinou o Ré, 
fazer Lá e fazer Mi. E com essas três notas eu já comecei a fazer algumas 
músicas.4 
 Pode-se perceber tanto no discurso de João Veras quanto no de 
Clenilson Batista a simplicidade da música do Grupo Capú. A opção pela música 
rock aparece por uma dupla função: por um lado, a música rock aparece como um 
 
3 Entrevista realizada no dia 29 de março de 2014 
4 Depoimento presente no documentário intitulado “A História do Grupo Capú”, produzido por Mazé 
Oliveira. 
20 
 
estilo musical que exige pouco recurso técnico e pouco conhecimento sobre 
estrutura musical; por outro lado, o rock carrega consigo a característica de se 
contrapor as ideias vigentes da sociedade, fazendo com que os jovens possam 
extravasar suas angústias e seus descontentamentos. 
O Grupo Capú insere-se no campo musical acreano contrapondo-se à 
grande parte dos músicos presentes na capital rio-branquense – que tocavam 
músicas basicamente influenciados pela Música Popular Brasileira - MPB. De forma 
irreverente, o Grupo Capú utilizou-se de elementos ousados durante suas 
apresentações nos festivais de músicas nos anos 80. 
 Os festivais de música popular brasileira que aconteceram em São 
Paulo e no Rio de Janeirodesde ano de 1965 até o ano de 1985, exerceram forte 
influência nos músicos acreanos bem como na criação dos festivais de músicas do 
Acre, principalmente na criação do Festival Acreano de Música Popular, o FAMP. 
 Durante a realização dos FAMP’s e de outros festivais como o Festival 
de Praia do Amapá nos anos 80, emergiu-se diversos artistas talentosos que tinham 
forte influência da MPB como Sérgio Tabuada, Cláudio Roberto, Narciso Augusto, 
Dinho Gonçalves, Heloy de Castro, Beto Brasiliense e Pia Vila. Estes artistas, 
contribuíram para que no campo da música acreana houvesse uma pluralidade de 
estilos musicais, com influências, além da MPB, do forró, do brega, do baião, enfim, 
de grande parte das músicas tocadas no rádio, mas sempre criando letras que 
refletisse o ambiente vivido no estado acreano. 
Dentro do contexto dos festivais de música do Acre em meio aos vários 
artistas que tocavam músicas influenciadas pela MBP, o Grupo Capú aparece com 
uma proposta musical inteiramente nova. Com um discurso contundente de 
transformação social, visual extravagante e com inovador uso da teatralidade nas 
apresentações. 
O grupo estudado apresenta diversas características de grupos e 
cantores de rock do Brasil e algumas bandas britânicas e estadunidenses. No grupo, 
há instrumentos característicos do rock, como guitarra, bateria e contrabaixo. No 
universo musical do rock ainda podem haver variações de outros instrumentos como 
violino, teclado ou saxofone. No Grupo Capú, os integrantes optam pelo uso da 
flauta doce. 
As músicas compostas pelo Grupo Capú apresentam uma riqueza 
peculiar que tinham abordagens das mais variadas. Ainda que, com poucos 
21 
 
recursos, como a aparelhagem bastante limitada e sem a presença de todos os 
instrumentos para os membros do grupo, onde o Grupo Capú, inicialmente, 
apresentou-se com a Banda Tropical – que fazia a banda base do FAMP para 
auxiliar os artistas se apresentarem no festival, o Grupo Capú usou-se de bastante 
criatividade para as apresentações. 
As músicas do Grupo Capú mostravam diversos descontentamentos, 
anseios, desilusões, e a luta em defesa da terra, além de temas transcendentais de 
forte influência do rock psicodélico de bandas britânicas como Led Zeppelin, Pink 
Floyd e Deep Purple. 
No que diz respeito às vestes, o grupo usou-se sempre de visuais 
extravagantes, de forma que impactasse ao público acreano. Os integrantes sempre 
buscavam o uso de elementos como ossos presos ao pescoço, roupas rasgadas e 
postura irreverente. 
Para o grupo, as apresentações não consistiam em apenas “cantar as 
músicas” ao público. Cada apresentação tinha como objetivo impactar o público, 
mostrar o novo, ou seja, as apresentações se mostravam como espetáculos. Para 
isso, o grupo sempre se utilizavam a teatralização. 
Ao analisarmos o espetáculo chamado “A Ressurreição de Raul Seixas”, 
no final dos anos 80, o grupo convida o artista Salomão Matos para interpretar na 
apresentação o cantor Raul Seixas. Este espetáculo tinha como atração no show a 
ressurreição do cantor baiano. Para isso, Salomão Matos fantasiava-se de Raul 
Seixas e era colocado em um caixão sobre o centro do palco. Enquanto os músicos 
cantavam suas músicas, outros atores convidados vestidos com grandes roupas 
brancas, simulavam um ritual de ressurreição frente ao caixão, emitindo vibrações 
para que o “corpo” se levantasse, até que, no final da apresentação, o “corpo” de 
Raul Seixas se levanta repentinamente do caixão com uma guitarra e canta de 
forma enérgica os versos da canção “rock do diabo”.5 
O uso de recursos como as artes cênicas demonstram uma considerável 
criatividade dos músicos, uma vez que, estes músicos percebem que a identificação 
do público com o artista muitas vezes não se restringe apenas a parte sonora ou 
musical. O lado visual da apresentação musical enriquece de forma significativa, já 
 
5 Segunda faixa do álbum Novo Aeon, do cantor Raul Seixas lançado em 1975. Esta canção do 
cantor baiano por muito tempo foi considerada o hino do rock brasileiro, pois ao mesmo tempo que foi 
censurada pela ditadura militar devido ao teor subversivo da canção, foi abraçada por grande parte 
dos músicos rockeiros nos anos 80 pela sua crítica aos valores morais da sociedade. 
22 
 
que faz com que as músicas apresentadas “ganhe forma”, faz com que a plateia 
receptora não apenas ouça, mas também visualize a música. 
O grupo aqui analisado neste trabalho embora não tiveram destaque 
nacional, fizeram excursões no interior do estado, além de divulgarem suas músicas 
em apresentações fora do estado, o que contribuiu significativamente para uma 
maior circulação das músicas do grupo no estado acreano, uma vez que, a partir do 
momento em que o conjunto ganha a oportunidade de difundir suas músicas fora do 
Acre, amplia-se o número de ouvintes, pois passam a valorizar cada vez mais o 
trabalho do grupo. 
O Grupo Capú participou de eventos importantes fora do Brasil, 
divulgando suas mensagens que, através de suas músicas, levaram a outros 
ouvintes de vários lugares do mundo, parte da história musical do Acre. 
O Grupo Capú participou juntamente com João das Neves6 do Grupo 
Poronga. Nesta ocasião, no ano de 1989, o teatrólogo estava divulgando o seu 
trabalho intitulado “Tributo a Chico Mendes”, que acabara de ser assassinado no 
ano anterior, em diversos lugares do Brasil. Assim, o Grupo Capú esteve na 
inauguração do Parque Chico Mendes, na cidade de São Miguel Paulista. Em 
seguida, no mesmo ano, o Grupo Capú participa da Primeira Mostra Internacional de 
Teatro, na cidade de Londrina, Paraná. 
Outro grande acontecimento que o Grupo Capú participou foi quando, 
juntamente com diversos outros artistas acreanos, o conjunto recebe um convite de 
acadêmicos ligados a Universidade Federal do Acre para participar da Semana do 
Meio Ambiente no ano de 1989, na cidade do Rio de Janeiro. Nesta oportunidade, o 
Grupo Capú teve o privilégio de cantar a música acreana em um dos mais 
tradicionais espaço cultural do Brasil – o Circo Voador. 
Essas experiências de tocar fora do estado Acre trouxeram uma dupla 
contribuição para o conjunto. A primeira constitui na oportunidade de levar a sua 
mensagem a um público diferenciado, com outra visão de mundo. Dessa forma, a 
impressão que esse público tem com a música pode dar um maior impulso no 
trabalho do artista. A segunda contribuição liga-se ao fato de que o contato do artista 
 
6 João das Neves é considerado um dos maiores teatrólogos brasileiros. Ganhou forte 
reconhecimento devido a seus trabalhos ligados a dramaturgia. Também foi fundador a partir do ano 
de 1964, de grupos de teatro ligados a cultura de protesto e resistência. 
23 
 
com outra cultura, pode fazer com que o compositor possa inserir outros valores em 
suas músicas. 
A música e a vida dos músicos do Grupo Capú está mergulhada em um 
contexto de várias transformações que o estado passava na década de 1980. Além 
disso, as várias mudanças que os anos 80 estava passando havia sido iniciado a 
muito tempo atrás, principalmente a partir do início da década de 1970. 
Desde os anos 1970, o Estado do Acre passou por mudanças 
significativas no cenário político e econômico, que o fez sofrer graves e significativas 
transformações que marcou a vida de milhares sujeitos que aqui habitavam. 
Maria do Perpétuo Socorro Calixto Marques, estudando a produção 
teatral de Rio Branco, retrata que 
Até o início dos anos 70 (...), a economia acreana era eminentemente 
extrativista e a população vivia exclusivamente da extração do látex. 
Naquele momento, o governo local (...) adota a política e assentamento de 
famílias do centro sul do país. Nessa perspectiva de reorganização 
econômica, as terras acreanas são colocadas à venda e destinadas, 
principalmente, a grandes latifundiáriosque desejavam estender suas 
propriedades. (CALIXTO MARQUES, 2005, p. 2005) 
A partir do governo de Francisco Wanderley Dantas, (1971-1974), houve 
a chamada “invasão dos paulistas” que causou um significativo desequilíbrio na 
ainda rural e agrária sociedade acreana, o que em breve período de tempo levou 
seringueiros e pecuaristas da região sul e sudeste do Brasil a um grave conflito 
direto pela posse da terra. Já bastante sofrida com a falência dos seringais e o 
declínio do extrativismo da borracha e castanha, que por muito tempo foi a base de 
sustentação da economia acreana, grande parte da população agora tinha de 
enfrentar a luta pelas terras do Acre. 
Dessa forma, grande parte da população mais pobre, composta 
basicamente de ex-seringueiros, pequenos comerciantes e índios, tiveram como seu 
principal opositor a figura do “paulista”. De um modo mais geral, este representava 
os protagonistas da frente agropecuária, os empresários do Centro Sul do país, que 
(apoiados pelo governo dos militares) se apossaram dos territórios tradicionais de 
índios e seringueiros. Através da oposição entre os acreanos e os “paulistas”, foi 
construída ao longo do movimento de resistência contra a expropriação da terra, 
contra a transformação dos seringais em fazendas e contra a derrubada de 
seringueiras e castanheiras para a formação de pastos. (MORAIS, 2008, p.108) 
24 
 
Nos anos 80, na cidade de Rio Branco, foram anos em que a cidade foi 
gradativamente adquirindo espaços bem delimitados, principalmente após a 
formação dos bairros periféricos. Assim, este período percebemos o aparecimento 
de uma espécie de rivalidade entre bairros da cidade, chegando ao ponto de haver 
frequentemente brigas entre moradores em alguns lugares da cidade, como a Praça 
Plácido de Castro, localizada no centro de Rio Branco, e algumas boates, como a 
danceteria Rock Safari. Essas casas de shows, por diversas vezes, serviam para os 
jovens, que se reuniam em grupos de um mesmo bairro, disputarem através de 
brigas, ganharem destaque, e consequentemente respeito nos bairros em que 
moravam. 
Percebemos que a própria ideia de criação do nome “Grupo Capú” está 
vinculado aos vários códigos que a cidade rio-branquense possuía. Na cidade de 
Rio Branco, após a falência dos seringais acreanos, há a presença de diversos 
famílias compostas principalmente de ex-seringueiros saindo das áreas rurais para a 
capital, o que em pouco tempo, daria início a formação dos bairros periféricos da 
cidade. 
Com a cidade se consolidando enquanto território urbano, os bairros 
acreanos foram cada vez mais se transformando em áreas territorialmente bem 
definidas. Assim, em pouco tempo esses bairros só seriam frequentados por 
pessoas que pertencessem ao bairro. Se em determinado bairro, houvesse a 
presença de pessoas alheias ao ambiente, este fato seria visto como falta de 
respeito, o que frequentemente causava conflitos. 
O músico Clenilson Batista, ao comentar os motivos que levaram aos 
membros escolherem o nome do grupo, comenta que 
(...), essa ideia veio basicamente do João Veras, que a gente tava sentado 
e escolhendo, um dos que a gente tinha colocado era “Anjos Negros” e esse 
nome já tava quase pegando quando (...) o João Veras disse assim: - mas 
pô, porque a gente não põe o apelido, põe o nome do bairro da gente, 
“Capoeira”? (...), então “Capú” é o nome do apelido do bairro.7 
Pode-se compreender que o nome dado ao grupo de “Capú” vem da ideia 
de rivalidade entre bairros da cidade de Rio Branco, uma vez que, o nome que por 
algum tempo já estava prestes a ser adotado pelo grupo seria os “Anjos Negros”. 
Diferentemente do nome “Capú”, os “Anjos Negros” constitui um nome que já está 
associado ao rock, pois traz a ideia de irreverencia, da fuga dos padrões. 
 
7 Entrevista realizada no dia 12 de dezembro de 2013. 
25 
 
Através da escolha do nome do conjunto de “Grupo Capú”, nota-se a 
preocupação dos membros em dar uma maior visibilidade ao bairro da Capoeira. 
Clenilson demonstra uma certa satisfação ao explicar que: 
Aí eu achei legal, porque naquela época tinha essa guerra de bairro, né, era 
sempre “ver quem era o melhor bairro”, pô, era legal porque tinha essa 
coisa né, tinha esse espírito, é, então é Capú. Aí fechou com Capú. Aí é 
como nasce o nome Capú de Capoeira, de bairro da Capoeira.8 
 Com as apresentações do Grupo Capú nas diversas localidades da 
cidade, cada vez mais os jovens iram se popularizando como os “meninos da 
Capoeira”. Ao mesmo tempo em que os jovens iam se destacando no cenário 
musical com suas composições, o bairro da Capoeira ganhava uma maior 
visibilidade, uma vez que havia uma intensa rivalidade entre diversos bairros da 
cidade. O próprio nome do grupo nos traz uma lógica da resistência, da denúncia 
frente ao contexto vivido na cidade. 
O bairro da Capoeira da década de 1980 foi completamente diferente do 
que o bairro dias atuais. Se hoje o bairro é considerado um bairro nobre, próximo ao 
centro comercial da cidade, com infraestrutura bem construída, o bairro da Capoeira 
de três décadas atrás é visto como o inverso: bairro sem nenhuma infraestrutura, 
considerado um bairro periférico, principalmente pelo fato de ser constituído por 
moradores com recursos financeiros bastante limitados. 
A ideia de periferia associado ao bairro da Capoeira está vinculado não a 
ideia de bairro distante do centro da cidade. Periferia está associado a “distância 
social” em que está situado. A periferia de Rio Branco, vai se formar, a partir dos 
anos 70, bastante próximo ao centro da cidade. O próprio bairro da Capoeira está 
localizado a menos de dois quilômetros dos principais prédios que compõe a 
administração pública do estado do Acre, como o Palácio, a Assembleia Legislativa 
e o Quartel da Polícia Militar do estado do Acre. 
Grande parte das atividades culturais produzidas no Acre a partir da 
década de 1970 estão mergulhadas dentro dos intensos conflitos entre os paulistas, 
“os novos donos” da terra e os seringueiros e índios, os moradores tradicionais da 
floresta. Assim, a partir deste conflito, vai emergir no campo da produção cultural 
acreana diversas manifestações artísticas que passam a sair em defesa dos 
seringueiros e da floresta amazônica. 
 
8 Idem. 
26 
 
Podemos observar que o surgimento de diversas atividades culturais em 
Rio Branco ocorreram paralelamente a eclosão de conflitos sociais consequentes 
das contínuas mudanças socioeconômicas do estado. A pesquisadora Maria do 
Perpétuo Socorro Calixto Marques retrata que 
entre 1970 a 1988, alguns jovens começaram a se articular e a produzir 
trabalhos artísticos que denunciassem a nova realidade e os perigos que 
afligiam os moradores. A prática teatral foi um dos instrumentos de que se 
serviram os grupos da época. (CALIXTO MARQUES, 2005, p.19) 
No campo cultural, nos anos 70 já havia produções musicais em 
atividade, principalmente com os conjuntos “Os Bárbaros”, e “Os Mugs”. Estas 
bandas tocaram desde os anos 60 em bailes e clubes como Rio Branco, Juventus e 
Atlético Acreano, bem como em outras cidades do interior e até mesmo fora do 
estado como Porto Velho e Manaus. Fortemente influenciados pelas canções vindas 
do Rio de Janeiro, principalmente músicas da Jovem Guarda, cantores como 
“Eduardo Araújo” e “Renato e seus Blue Caps”, foram significativos para formação 
cultural destes músicos. 
Nos anos 70 também temos o surgimento das Escolas de Samba em Rio 
Branco. Fortemente influenciados pelos desfiles das Escolas de Samba do Rio de 
Janeiro, alguns dos blocos carnavalescos formados nos bairros da cidade tornaram-
se Escolas de Samba. No ano de 1972 começaram a ocorrer disputas entre duas 
escolas de grande destaque em Rio Branco: A Escola de Samba Unidos da Cadeia 
Velha, que tinha como líder a figura de João Aguiar,que veio do Rio de Janeiro, e a 
Escola de Samba Unidos do Bairro Quinze, comandada por Santinho. As disputas, 
cujo palco principal era a Avenida Getúlio Vargas, durante as festas de Momo, 
estendiam-se às rádios que executavam as músicas de cada uma das escolas e 
movimentavam o panorama cultural de Rio Branco. 
Outra novidade foi a chegada, ainda que um tanto tardia, da televisão ao 
Acre. Isso aconteceu em 1974, ano de Copa do Mundo, promovendo uma ainda 
maior integração cultural do Acre ao restante do país e incorporando atividades 
consagradas regionalmente como os programas de auditório que rapidamente 
passaram a acontecer também na televisão. Porém, lembram alguns saudosistas de 
plantão, que a chegada da televisão também provocou uma certa deterioração no 
antigo costume das famílias de se reunirem nas calçadas, no fim da tarde, para 
conversar e comentar as últimas novidades. O antigo modo de vida acreano parecia 
então definitivamente superado. 
27 
 
No início dos anos 80, surge o Festival Acreano de Música Popular – o 
FAMP. Fortemente influenciado pelos festivais de música que aconteciam 
principalmente no Rio de janeiro, ou de outras partes do Brasil, o FAMP trouxe à 
tona a oportunidade para que os artistas acreanos mostrassem a criatividade sonora 
e poética, explicitando nas músicas o a visão tanto universal quanto regionalista dos 
diversos acontecimentos que permeavam na vida do artistas acreanos. 
Não podemos descartar também influencias do Festival de Woodstock e 
do movimento estudantil que procurava meios para veicular seus protestos contra o 
Regime Militar então vigente. 
28 
 
 
1.2 Formação dos sujeitos e a identificação com o rock 
Durante a segunda metade do século XX, a mídia contribuiu 
significativamente pra a construção do estereótipo do jovem. As músicas feitas por 
bandas consideradas internacionais, geralmente originárias dos Estados Unidos e 
Inglaterra e cantadas em inglês, fizeram com que os jovens se identificassem com a 
letra ou apenas com a sonoridade. Dentro desse contexto de transformações, a 
figura do jovem surge como um “novo” consumidor, uma classe que passa, cada vez 
mais, a ganhar uma certa autonomia. 
O surgimento desta nova visão sobre o que é ser jovem, coincide com o 
aparecimento de um novo estilo musical, o rock, tendo ligação direta entre ambos. 
Em meados do século XX, percebemos uma nova construção do conceito de jovem. 
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, novos atores sociais, ainda não 
independentes financeiramente de seus pais, passam a contestar a sociedade 
construída pelas gerações anteriores, sociedade que os jovens viam como 
causadora de guerras como as duas mundiais anteriores e a construção da bomba 
atômica. Estes atores são considerados os novos jovens surgindo naquele meado 
de século. 
Internacionalmente, o rock aparece para os jovens a partir da década de 
50. Depois da Segunda Guerra, ocorre uma grande mudança nas relações entre 
gerações, que podemos perceber até hoje, oportunizando o clima de surgimento de 
rock and roll. Os jovens, antes vistos apenas como um estágio entre a infância e a 
idade adulta, a partir do século passado são percebidos como uma faixa etária com 
necessidades e características próprias. 
Hobsbawm, a esse respeito retrata que: 
os acontecimentos políticos mais dramáticos, sobretudo nas décadas de 
1970 e 1980, foram as mobilizações da faixa etária que, em países menos 
politizados, fazia a fortuna da indústria fonográfica, que tinha de 70% a 80% 
de sua produção sobretudo de rock vendida quase inteiramente a clientes 
entre idades de catorze e 25. A radicalização política dos anos 60, 
antecipada por contingentes menores de dissidentes culturais e 
marginalizados sob vários rótulos, foi dessa gente jovem, que se rejeitava o 
status de crianças e mesmo de adolescentes (ou seja, adultos ainda não 
inteiramente amadurecidos), negando ao mesmo tempo humanidade plena 
a qualquer geração acima dos trinta anos de idade, com exceção do guru 
ocasional. (HOBSBAWM, 2000, p. 317) 
29 
 
 Segundo este historiador, este estilo musical está diretamente 
relacionado aos processos econômicos de sua época, assim como suas mudanças 
no decorrer do século desenvolveram-se inseridos nas mudanças de ordem 
econômica. 
 A identificação do jovem pela música rock transforma-o em integrante 
de um grupo construído sob a ideia de arte e de contravenção aos ideais 
constituídos pela sociedade. As identidades constituídas nos integrantes do Grupo 
Capú não necessariamente teriam ligações com outros músicos acreanos, mas são 
identificações com artistas que podem existir em qualquer parte do mundo, ligados 
pela música. Os jovens, ao assistirem ou escutarem uma determinada música ou 
conjunto, percebem relações com suas próprias experiência ou com o contexto 
vivido. 
O Grupo Capú foi um grupo que, desde sua primeira apresentação, teve 
como principal característica o uso da criatividade para as composições e, 
principalmente, suas apresentações, que sempre causavam grande repercussão nos 
festivais de música de Rio Branco e também de outros municípios acreanos. 
Abraçando um gênero musical que permitisse o diálogo com outras forma de arte, 
como a teatralização, o Grupo Capú manteve-se como pioneiros na composição e 
apresentação musical de forma autoral na cidade. 
A opção do Grupo pelo rock já havia sido delineada já nas atividades 
culturais realizadas na infância, com a criação de um pequeno circo pelos jovens 
irmãos Clenilson e Clevisson e o amigo João Veras. 
É o que Clenilson Batista narra: 
(...) quando eu era pequeno, em casa fazia um circo, chamava um monte de 
menino pra fazer malabarismo, e eu apresentava o circo e fazia paródia 
com as músicas dos compositores acreanos, principalmente Teixeirinha, 
avacalhava com as letras dos caras criando outras letras em cima. Então 
isso a gente ia fazendo.9 
Juntamente com diversas outras crianças, os futuros integrantes do 
Grupo Capú desde muito cedo tiveram forte vínculo com a produção cultural. O circo 
criado pelos garotos já tinha Clenilson Batista a frente apresentando o malabarismo 
e também parodiando cantores acreanos como Teixeirinha, através da inserção de 
outra letra em cima das músicas de compositores acreanos. 
 
9 Entrevista realizada no dia 12 de dezembro de 2013. 
30 
 
A partir daí, compreende-se então a genialidade e a originalidade 
presente no trabalho do grupo. A experiência circense contribuiu significativamente 
para a experiência com o ato de cantar de forma bastante talentosa, além da 
apresentação de um show, de um espetáculo ao vivo para o rio-branquense. O fato 
de o jovem Clenilson Batista apresentador de circo com diversos outros garotos, 
além da experiência em criar letras de músicas em cima de outras músicas, se 
constituíram em elementos significativos que pode ter conduzido o músico a 
liderança do Grupo Capú com toda a sua inovação no campo da música acreana. 
Durante os 1970 e parte da década de 1980 teve na cidade de Rio Branco 
uma casa noturna onde tocava músicas de vários estilos musicais, inclusive o rock, 
onde várias pessoas frequentavam para ouvirem músicas que tocavam em várias 
partes do mundo. O nome da casa noturna chamava-se Rock Safari. Esta, foi um 
local de grande importância para o contato dos rio-branquenses com outros estilos 
musicais e contribuiu significativamente para a influência musical de várias pessoas, 
inclusive Clenilson Batista. O músico nos relata: 
aí aparece uma chamada Rock Safari, isso na década de 70, que aí eu 
começo a ir pra essa Rock Safari, lá tocava de tudo, Deep Purple, Led 
Zeppelin, essas coisa toda da década de 60. Tudo que eu curtia tava lá, 
Pink Floyd e isso é que me empolgava, e achava, dentro de mim que 
aquelas letras eram muito loucas, porque não procurava nem tradução não, 
nem ia atrás da tradução, o que me batiabem no ouvido, é isso aí e 
acabou-se, quero nem saber o que o cara tá dizendo, por isso que tem 
algumas letras da gente que é meia louca, que era essa a impressão que 
dava, sempre que partia pra fazer alguma letra tinha esse contexto meio 
fora da realidade, às vezes a gente criava outra realidade, criava uma 
estrutura, cada música sempre tinha alguma coisa assim. 
Através do contato com o rock internacional, através da casa noturna 
Rock Safari, pode-se compreender boa parte das influências musicais que o músico 
Clenilson Batista teve ao compor algumas canções do Grupo Capú. 
Na fala, o músico fez especificou três bandas inglesas que fizeram 
impactou grande parte do mundo ao elaborarem uma forma diferente de fazer rock. 
Deep Purple, Led Zeppelin e Pink Floyd são consideradas bandas precursoras na 
criação do rock Psicodélico e Progressivo. Estes tipos de rock são caracterizados 
por serem um tipo de música com alto teor intimista, com temas que exploram a 
subjetividade, como a loucura, a obsessão e a alucinações, isto é, por vezes são 
músicas que abordam temas fora da realidade, ou em outras dimensões do real. 
Muitas vezes, estas músicas possuem longa duração, onde, na maioria das vezes, 
passam dos cinco minutos, construídas com harmonias e melodias complexas. 
31 
 
Estas características do rock progressivo e do rock psicodélico podem ser 
observadas na música Seringal Astral10, composta por Clenilson Batista, na qual a 
música possui uma letra relativamente grande, em comparação com outras músicas 
do Grupo Capú e, além disso, a música aborda uma temática fora do contexto da 
realidade, em outra dimensão do real, denotando a influência das bandas britânicas. 
Outro fator que merece ser destacado na formação musical de Clenilson 
Batista é o fato de que o músico não teve aulas de teoria musical ou curso de 
formação técnica na área da música. O aprendizado veio através de livros e revistas, 
que até os dias atuais vendem em bancas de revistas e jornais. Assim, observa-se 
uma formação autodidata, em que o maior recurso utilizado para a composição das 
músicas consistiu no uso da criatividade. 
Em entrevista cedida no dia 13 de dezembro de 2013, o vocalista e 
principal compositor do Grupo Capú Clenilson Batista ao ser questionado sobre 
como houve a sua identificação com a música rock, o músico comenta: 
Eu conheci o rock numa seção matinal no Cine Rio Branco, fui numa seção, 
o nome do filme era “O Menino das Garotas” (...). E assisti um cara 
cantando que aquilo me deixou extasiado, tinha um gosto de chiclete, tinha 
um negócio assim, mas um negócio que mexeu comigo todo. E eu fiquei 
louco pra saber quem era aquele cara depois, e pô, quem é, quem é, e a 
placa foi-se embora não dava pra ver mais o nome, aí quando eu fui 
pesquisando aí chegou um outro filme. Aí eu olhei pro cara do filme era o 
menino das garotas, pô, o menino das garotas, aí eu fui ver o nome: Elvis 
Presley. Aí começo a escutar Beatles, pô aquela coisa uma atrás da outra, 
sempre de sucesso, aí tocava direto nos rádios, e aí era onde eu tava, e 
Led Zepellin, aí aparece uma chamada Rock Safari, isso na década de 70, 
que aí eu começo a ir pra essa Rock Safari, lá tocava de tudo, Deep Purple, 
Led Zeppelin, essas coisa toda da década de 60. Tudo que eu curtia tava lá, 
Pink Floyd e isso é que me empolgava, e achava, dentro de mim que 
aquelas letras eram muito loucas, porque não procurava nem tradução 
não.11 
 Aqui, pode se compreender que o compositor e vocalista do Grupo 
Capú teve sua primeira experiência com a música rock de forma impactante. Dessa 
forma, ao escutar a música, há a o ato de “sentir” a música. A música é recebida de 
forma intuitiva, uma forma que contém uma variedade de conhecimento sem o 
processo de pensamento lógico que acompanha o que nós geralmente chamamos 
de entendimento. 
Além da forma sensitiva de “ouvir”, o músico também teve a instantânea 
identificação pelo sentido da visão. Percebe-se tal identificação quando o músico 
 
10 Esta música será objeto de análise no capítulo II deste trabalho. 
11 Entrevista realizada no dia 12 de dezembro de 2013. 
32 
 
afirma que “aquilo me deixou extasiado (...), mas um negócio que mexeu comigo 
todo”.12 Assim, compreendemos que na música rock, há grande importância tanto na 
forma musical quanto na forma visual. 
Outro elemento de grande importância que podemos observar na fala de 
Clenilson Batista, foi o poder de influência do astro Elvis Presley em todas as partes 
do mundo. O astro norte-americano - que participou de trinta e três filmes -, fez o 
seu primeiro filme no ano de 1956, intitulado “Love me Tender” e, a partir desde 
filme, passou a fazer bastante sucesso também no cinema, influenciando milhares 
de pessoas em várias partes do mundo. 
Elvis Presley ficou mundialmente conhecido pela maneira como atuava 
durante suas apresentações. Apelidado de Elvis The Pelvis, chocou grande parte 
das camadas mais conservadoras da sociedade americana, e, por diversas vezes foi 
perseguido devido a sua inovadora forma de dançar, “requebrando” os quadris e 
usando roupas extravagantes que fugiam os padrões da época que atuava. 
Dessa forma, podemos compreender que a influência que Clenilson 
Batista teve com o astro Elvis Presley. A forma visual e a forma musical acabou por 
ser explicitadas no trabalho do grupo. Ao realizar as apresentações, os músicos 
sempre recorreram ao aspecto visual e musical para se diferenciarem dos outros 
artistas acreanos. O uso de trajes diferenciados como ossos, roupas rasgadas, e 
recursos visuais como pólvora e flashes tornou o Grupo Capú como inovadores na 
forma de fazer música no Acre. 
O flautista do Grupo Capú João Veras, durante a infância teve uma 
formação musical que o fez se aproximar dos instrumentos de sopro. Em entrevista 
cedida via e-mail no dia 29 de março de 2014, ao ser questionado sobre como 
houve a sua formação musical, o flautista do grupo João Veras comenta: 
A minha formação musical se deu na prática e foi muito diversa. Antes do 
Capú eu não tocava flauta. Fui corneteiro, por quatro anos, na Fanfarra do 
Colégio Acreano, cantor tenor no Coral Santa Cecília dirigido por Elais 
Meira e Sandoval dos Anjos e ritmista da Escola de Samba da Cadeia Velha 
e de vários blocos carnavalescos.13 
Desde muito cedo, ainda na infância, o flautista do Grupo Capú teve 
contato com a música e com instrumentos de sopro. O contato do músico com a 
corneta trouxe uma considerável experiência, pois desenvolveu no músico uma 
 
12 Idem. 
13 Entrevista realizada no dia 29 de março de 2014. 
33 
 
sensibilidade em lidar com um instrumento que exige domínio em executar as notas 
musicais através da vibração dos lábios. 
Durante muito tempo, houve na cidade de Rio Branco, apresentações de 
Bandas de Fanfarras de escolas da capital, na qual eram exibidas apresentações 
em datas comemorativas, como o feriado de 7 de setembro. As diversas bandas 
ensaiavam por meses afim de aprimorar a execução instrumental e a apresentação 
pública. Assim, a participação do músico João Veras na Banda de Fanfarra do 
Colégio Acreano fez surgir uma dupla experiência: uma pela execução e 
aprimoramento do instrumento de sopro; e a outra pela experiência na apresentação 
para um público mais numeroso. 
Outra grande aspecto que merece ser abordado sobre a formação 
musical de João Veras, reside no fato da participação do músico no Coral Santa 
Cecília como cantor tenor. O tenor é o tipo de voz presente no canto lírico, que 
possui uma faixa de som aguda, cantada por voz masculina. O aprendizado do 
músico com este tipo de canto permitiu que levasse para o Grupo Capú uma 
preocupação com o aspecto da afinação do conjunto. Embora João Veras não tenha 
participado do grupo como vocalista, por vezes atuou como vocal de apoio, dando 
um suporte vocal aovocalista do grupo. 
O contato dos integrantes do Grupo Capú com o principal meio de 
comunicação no período anterior a década de 1970, o rádio, os colocou em contato 
com os grandes sucessos do rock que muito tocaram nas estações de rádio em todo 
o Brasil. Estes jovens ouviram e rapidamente se identificaram com a explosão do 
rock no cenário mundial, como o lendário Elvis Presley nos Estados Unidos, os 
Beatles na Inglaterra e também com cantores brasileiros talentosos como Raul 
Seixas e Rita Lee. 
Perguntado sobre os motivos que levaram os músicos a optarem pela 
música rock, João Veras argumenta que foi 
muito pela influência vinda do rádio especialmente com a audição dos 
Beatles, Elvis e o pessoal da jovem guarda e Raul Seixas. O Rock também 
é, para além da música, uma atitude de vida que pega muito na faixa etária 
da juventude em que nos encontrávamos naquele período.14 
É importante ressaltar que o rock tem uma característica bastante 
peculiar. Ao contrário de outras artes que nos tocam pelo mais racional órgão dos 
 
14 Idem. 
34 
 
sentidos, que é a visão, a música rock nos atinge pelo mais sensível, que é a 
audição. 
Paulo Chacon afirma que 
Ao contrário da música erudita, que exige o silêncio e o bom 
comportamento da plateia (...), o rock pressupõe a troca, ou melhor, a 
integração do conjunto ou do vocalista com o público, procurando estimulá-
lo a sair de sua convencional passividade perante os fatos. (CHACON, 
1985, p.05) 
Portanto, no rock não importa saber ou não falar ou cantar inglês, ou 
mesmo saber o qual a mensagem que uma determinada uma música está tentando 
passar para o ouvinte. 
 
35 
 
CAPÍTULO II: O REGIONAL E O UNIVERSAL: UMA ANÁLISE DAS MUSICAS DO 
GRUPO CAPÚ 
Neste capítulo, buscamos abordar as temáticas que os membros do Grupo 
Capú imprimiram em suas composições musicais. No primeiro momento, analisamos 
as músicas que contam aspectos da cidade de Rio Branco. Em seguida, analisamos 
músicas mais abrangentes do Grupo Capú. Ao realizarmos a análise, buscamos 
mostrar como houve o processo de composição das músicas, resgatando as 
inspirações que levaram os músicos ao fazerem as músicas. 
2.1 Música Acreana 
O Grupo Capú constituiu-se em um conjunto musical acreano que cantava 
músicas em português, utilizando-se do compasso composto por uma batida quatro-
por-quatro e com letras compostas a partir de uma experiência rural e ao mesmo 
tempo urbana através de uma visão do que é ser um jovem acreano dentro de um 
contexto de profundas transformações da sociedade acreana. 
A forma estrutural do Grupo Capú é apresentada com Clenilson Batista 
como principal compositor e também tocando violão e guitarra, João Veras tocando 
flauta doce e Clevisson Batista como compositor e contrabaixista do conjunto. 
A formação do Grupo Capú enquanto conjunto sempre manteve-se com 
esta estrutura de apresentação. Durante a trajetória do grupo, houve passagens de 
diversos músicos que complementava o grupo, principalmente na bateria. Dentre os 
músicos, identifica-se o músico Hermógenes que tem passagem pelo grupo a partir 
do ano de 1983. 
Ao identificar os músicos fizeram parte do Grupo Capú, Clenilson Batista 
comenta: 
Olha, falar integrantes, passa muita gente por lá, principalmente na bateria, 
mas de firme assim, eu o Clevisson é o constante, né, que é a gente que 
compõe, é a gente que faz, e João Veras. Esse era o, eu, João Veras, 
Clevisson e Hermógenes até 1985. (...), e aí depois a gente teve diversos 
caras tocando bateria, assim, de passagem como Jorge Anzol, Ferreti, um 
tal de Paulo, (...) o Alcides também tocou.15 
 
Na entrevista realizada com João Veras16, este lembra que além dos 
músicos citados, ainda teve uma pequena participação de um músico chamado 
Pitico. Este foi convidado pelo grupo para tocar percussão. João Veras ressalta que 
 
15 Entrevista realizada no dia 12 de dezembro de 2013. 
16 Entrevista cedida via e-mail no dia 29 de março de 2014. 
36 
 
pouco tempo depois Pitico morre, e, em seguida, Hermógenes entra no grupo para 
tocar bateria. 
Durante as apresentações, o Grupo Capú posicionava-se no palco com 
Clenilson Batista no centro do palco, geralmente utilizando uma guitarra ou violão, 
em uma posição um pouco mais à frente em relação aos outros integrantes. Ao lado 
direito de Clenilson posiciona-se João Veras com a flauta-doce, com um microfone 
próximo a altura da boca para captar a melodia do instrumento e também fazendo a 
função de backing vocal.17 No lado esquerdo do palco em relação ao vocalista, 
localizava-se o integrante Clevisson Batista, tocando contrabaixo e também com 
outro microfone fazendo a função de backing vocal e, centralizado, mas localizado 
ao fundo do palco fica posicionado o baterista, que por um certo período de tempo 
ficou sob responsabilidade de Hermógenes. 
No que diz respeito ao público, de um modo geral, durante os festivais de 
músicas que aconteciam em Rio Branco, a maioria da plateia era formada por 
pessoas que, em geral, tinha um gosto musical voltado para a MPB, ou para 
músicas que possuíam letras com uma qualidade poética bem elaborada. Nesse 
contexto, o Grupo Capú, com letras e músicas construídas de forma simples, 
emergem com a explícita intenção de “quebra” da ideia de música certinha. 
O Grupo Capú teve como uma das suas principais propostas musicais a 
apresentação de forma irreverente, o desacato para com os padrões musicais 
produzidos no período da década de 1980. Devido a isso, o grupo, por bastante 
tempo, foi incompreendido pelo público. 
O músico Clenilson Batista comenta que 
(...) a gente gostava de uma coisa, que era nossa, que a gente gostava 
porque dizia que falava da rebeldia, fazia a gente extravasar aquilo que a 
gente normalmente tem na adolescência, mas sofria desse preconceito, os 
caras não olharam a gente com bons olhos. E aí, o quê que a gente fazia: 
normalmente quando todo festival que a gente ia, só pra aprontar. Era 
rebeldia mesmo. (...), isso estarrecia um pouco.18 
 Pode-se perceber que o rompimento com a ideia de música certinha e 
bem elaborada não foi compreendida por grande parte do público que assistia os 
festivais de música que acontecia no Acre. Muitas vezes os admiradores do trabalho 
do grupo se restringia apenas a alguns amigos, parentes e pessoas mais próximas 
 
17 Backing Vocal serve como vocal de apoio, é usado principalmente para aumentar a sonoridade 
vocal, e em muitas situações contribui para criar harmonia. Assim, o backing vocal embeleza de 
forma significativa uma música, desde que seu tom não ultrapasse a voz principal. 
18 Entrevista realizada no dia 12 de dezembro de 2013. 
37 
 
aos integrantes do grupo. Tocar a música rock no Acre nos anos 80 ainda consistia 
algo que a população acreana ainda não estava habituada a ouvir. 
 Clenilson Batista acentua que quando começou a fazer composições 
musicais em Rio Branco percebeu como estava configurado o contexto musical da 
cidade rio-branquense: 
A gente fez isso aí, claro, você faz isso, aí vai de encontro a um monte de 
coisas que já tão estruturadas, que é a música popular, forró, e aqui tem 
uma carga muito forte nordestina. Então, é forró, é brega, e aí a gente entra 
com aquela coisa e todo mundo fica meio de cara torcida pra gente.19 
 Nesta fala de Clenilson Batista, pode-se compreender que, por optar 
por um estilo musical ainda pouco conhecido, o conjunto passou por algumas 
dificuldades que muito atrapalhou o surgimento de uma empatia para com o público. 
 Demonstrando uma postura de bastante clareza na sua proposta 
musical, Clenilson Batista argumenta 
Parceiro, a gente tem que tocar aquilo que a gente gosta, o que dá vontade, 
não importa se é brasileira, se é dos Estados Unidos, seja lá da onde for, é 
música pô e se tá no planeta,é do mesmo planeta, então é da onde a gente 
vive. Então isso não faz diferença se ´se de lá ou de cá. Gostei e gostei. 
Agora eu vou ter preconceito porque ela não é uma música brasileira (...), 
acho que isso é meio louco, (...), não fica bem resolvido dentro da cabeça.20 
 O rock enquanto manifestação de pensamento teve, durante muito 
tempo, associado a transgressão, isto é, um estilo musical que preconiza romper 
com as ideias vigentes. Devido ao seu caráter contestador, foi amplamente 
abraçado pela juventude. O do ponto de vista social, o jovem é um ser em 
desenvolvimento. Por estar em um contínuo conflito interno, muitas vezes acaba por 
criar um pensamento divergente do mundo adulto. Antonio Carlos Brandão e Milton 
Fernandes comentam que 
Os inúmeros movimentos de transformação social, sejam eles radicais ou 
utópicos, que as últimas décadas viram surgir, tiveram, como seus principais 
articuladores, os jovens. Isso se deve não apenas ao seu poder de 
mobilização – que não foi nada pequeno -, mas, principalmente, pela 
natureza das ideias que colocaram em circulação, pelo modo como as 
veicularam e pelo espaço de intervenção crítica que abriram. (BRANDÃO e 
DUARTE, 2004, p.06) 
 Nesse sentido, o Grupo Capú emerge no cenário musical acreano com 
um discurso que possibilitou uma sistematização mais complexa e bem elaborada e 
que, por isso, não foi bem compreendido na sua época. 
 
19 Idem. 
20 Idem. 
38 
 
 O Grupo Capú representa um tesouro perdido da cultura musical 
acreana, principalmente pela sua riqueza poética e pela sua abrangência temática. 
Nesse sentido, suas letras vão abranger temas que vão desde a regionalidade 
acreana, até temas transcendentais, de outras dimensões. 
Meu Rio 
Andando no rio Acre vi 
Vi plantação de milho 
Vi plantação de cana caiana 
Vi melancia, banana comprida e peroá. 
Vi um ribeirinho ensinando o seu filho nadar... 
 
Meu rio belo branco 
Que tem beleza 
Magia e encanto 
Quando vem cavaleiro ogum 
Vem montado em seu cavalo 
Vem lua cheia 
Na lua cheia que clareia o rio 
De águas barrenta 
De belezas mil 
 
Meu rio que não é do Janeiro 
Mas que tem futebol o ano inteiro 
E a moçada cai no samba quando cheguei 
Minha cidade que não é a maravilhosa 
Mas que tem lindas garotas e a fonte luminosa 
Mas que sofre quando aqui chega o inverno 
Pois a 364 de estrada vira inferno 
 
Meu Acre de tantas seringueiras 
Terra fértil brasileira 
Que me dá todo direito 
De canta e bater no peito 
Sou latino americano 
Meu irmão sou acreano 
Pro que der e vier ( 3x) 
Se vier... 
 A música Meu Rio, de autoria de Clenilson Batista e Clevisson Batista 
foi composta no ano de 1981 e defendida no Festival Acreano de Música Popular do 
mesmo ano. Embora a música não tenha saído vencedora ou tenha ganhado 
destaque, já apresenta neste período, uma riqueza poética considerável. 
 Nesta música, percebemos que o autor faz um relato através de uma 
viagem de barco no leito do rio Acre, descrevendo as diversas atividades agrícolas 
próximas às margens do rio Acre. 
 Analisando a música Meu Rio, podemos compreender de forma 
significativa o cotidiano urbano da cidade rio-branquense. Os primeiros versos da 
música demonstra um certo encantamento do autor para com a riqueza de produção 
39 
 
dos ribeirinhos. A descrição de plantações de milho, de cana caiana, de melancia, 
de banana comprida e peroá nos dá uma impressão de um Acre rico em belezas 
naturais, de terras férteis que demonstra um certo orgulho ao compositor. 
 Nos versos seguintes da música, o sentimento do compositor para com 
as belezas da cidade chega a passar de orgulho para um encantamento, 
principalmente nos versos “vi um ribeirinho ensinando o seu filho nadar/meu rio belo 
branco que tem beleza magia e encanto”. 
 Em seguida, o autor nos dá uma descrição de uma cidade que já tem 
características urbanas, com suas vidas já influenciadas principalmente pelo rádio 
que transmitia principalmente parte da cultura carioca, e a televisão, que chegara no 
Acre em 1974. Nos versos “meu rio que não é do Janeiro/mas que tem futebol o ano 
inteiro/e a moçada cai no samba quando cheguei”, podemos notar que a partir do 
ano de 1970, ano em que a seleção brasileira de futebol ganhava o seu terceiro 
título da Copa do Mundo, a mídia brasileira passa a dar um maior destaque no que 
diz respeito a cobertura do futebol no Brasil. Fato esse que já estava influenciando o 
cotidiano da vida do cidadão rio-branquense. 
 Outro fator importante a destacar na música, consiste da associação do 
futebol com samba, que principalmente a partir da década de 1970 passa a ser 
difundido do Rio de Janeiro para todo o Brasil, principalmente através do rádio e a 
televisão. A influência do futebol da sociedade rio-branquense se tornou um 
acontecimento importante, pois em pouco tempo se tornaria na principal diversão 
das crianças nas periferias da cidade. 
 Mas, embora o autor tenha abordado elementos que o torne em um 
sujeito satisfeito e orgulhoso, em um determinado momento da música, o compositor 
demonstra uma cidade que tem grandes problemas, principalmente no que diz 
respeito ao isolamento. 
 No início da letra da música, o autor descreve suas impressões acerca 
de sua visão através de uma viagem de barco. Assim, podemos compreender uma 
cidade que tinha como principal meio de locomoção o transporte fluvial. A cidade 
ainda sofria com problemas de transporte terrestre. 
 Na parte final da música, nos versos “mas que sofre quando aqui 
chega o inverno/pois a 364 de estrada vira inferno”, o isolamento do de Rio Branco 
com os outros municípios e também com outros estados é ressaltado pelo 
compositor, principalmente no inverno, período em que as chuvas na região 
40 
 
amazônica se torna mais intensas. A BR 364 que liga o estado do Acre aos outros 
estados brasileiros, por muito tempo trazia para os acreanos graves dificuldades. A 
falta de asfaltamento na estrada, por vezes, deixava o estado do Acre bastante 
limitado no que diz respeito ao transporte terrestre. Dessa forma, por vezes o rio 
Acre se tornava o único acesso as demais localidades longe de Rio Branco. 
 A canção Meu Rio, emerge no cenário musical acreano trazendo uma 
exaltação do principal rio do estado acreano, berço de onde a cidade de Rio Branco 
nasceu. A música também traz consigo a valorização do estado acreano, que, 
embora tivesse passando por sérias dificuldades, dava orgulho e “direito de cantar e 
bater no peito”.21 
O Retirante 
Terra bendita esquecida por Deus 
Onde a fome e a seca é o terror dos filhos seus 
Onde o sol é bravo e torna um inferno esse chão 
Onde os verdes campos é um deserto, é só sertão 
 
Sertão do cabra da peste 
Virgulino, o lampião 
E de Maria bonita 
Que ganhou seu coração 
ô ô ô... 
(refrão) 
 
Levados pela fome 
Come folhas de macambira 
Pra proteger seus pés 
Usam sandálias de embira 
 
Cantando muitas léguas 
Atrás de uma nova vida 
Seguiu o retirante acompanhando a arribação 
Deixando para trás 
O seu pedaço de chão 
E segue sonhando com a civilização 
(repete refrão) 
 
 A música “O Retirante” foi composta pelos irmãos Clenilson Batista e 
Clevisson Batista no ano de 1981 para concorrer na segunda edição do Festival 
Acreano de Música Popular – o FAMP. 
 Consideramos que esta é uma música intimista, onde o artista canta 
para o mundo sua história, suas origens e suas experiências. “O Retirante” é uma 
música que está estritamente ligada a vida dos compositores, pois trata-se de uma 
 
21 Verso que compõe o encerramento da música “Meu Rio”. 
41 
 
homenagem ao pai, que nasceu na cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte. O 
pai veio para o Acre no período referente ao segundo surto da borracha. 
 A construção da música foi baseada no livro Vidas Secas, de 
Graciliano Ramos. No livro, o romancista alagoano narra a fuga de uma família que,

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