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Atividade de Estágio - Memoriais

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1º VARA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DA COMARCA DE ARACAJU/SERGIPE.
Processo de nº XXXI
XXXI, já devidamente qualificado nos autos da apresente ação penal em epígrafe, vem a insigne presença de Vossa Excelência, por meio de seus advogados infra-assinados, com supedâneo nos art. 403, do CPP, apresentar suas ALEGAÇÕES FINAIS, pelas razões de fatos e direito a seguir aduzidas:
I- DOS FATOS
Segundo se veicula na Peça inaugural, no dia 20 de junho de 2016, a guarnição da Polícia Militar do Estado de Sergipe fora acionada para atender uma ocorrência no condomínio João Andrade Garcez, no Bairro Luzia, este localizado no Município de Aracaju/SE, e em assim seguindo, chegando ao local, a guarnição teria encontrou o denunciado e um adolescente fazendo pichações num muro do aludido condomínio, e que estava alugado para propagada de uma imobiliária, sendo, por logo, denunciado pelo suposto delito tipificado no art. art. 65, da Lei nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais). 
Dado seguimento, a Denúncia foi devidamente recebida (fls. XXXI), bem como Defesa Prévia (fls. XXXI).
Instrução realizada, foram devidamente ouvidas 03 (três) testemunhas a quais foram arroladas pelo Ministério Público, através do sistema audiovisual (fls. XXXI).
É o que havia a esclarecer.
E, em verdade, as alegações não corroboram com o conjunto probatório anexo aos autos.
II- DO DIREITO
II.I – AUSÊNCIA DO RÉU. AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO. NULIDADE RELATIVA. PREJUÍZO. CERCEAMENTO DE DEFESA. 
Excelência, compulsando os fólios é notório a ausência do acusado em audiência de instrução e julgamento, tendo em vista haver somente vídeos de testemunhas de acusação, acarretando o seu cerceamento de defesa, tendo em vista que não foi colhido seu depoimento.
A ausência do réu em audiência de instrução e julgamento gera uma nulidade relativa, tendo em vista que não foram observados as formalidades legais do ato, conforme art. 564, IV do CCP e 185 do CPP.
Cito julgado:
PENAL E PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO. RECEPTAÇÃO. PRELIMINAR DE NULIDADE. AUSÊNCIA DO RÉU NA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO. INOCORRÊNCIA. MÉRITO. DOLO DEMONSTRADO. BENS OBJETO DE ROUBO APREENDIDO NA POSSE DOS RÉUS. ART. 156 DO CPP. CONDENAÇÃO MANTIDA. 1. A ausência do réu na audiência de instrução e julgamento não acarreta, por si só, nulidade do processo, porquanto se trata de nulidade relativa, devendo, portanto, demonstrar-se o efetivo prejuízo. Precedentes do STJ. (...) 4. Recurso conhecido e não provido. (TJ-DF 20170810055938 DF 0005457-27.2017.8.07.0008, Relator: CRUZ MACEDO, Data de Julgamento: 08/08/2019, 1ª TURMA CRIMINAL, Data de Publicação: Publicado no DJE : 15/08/2019 . Pág.: 402 - 419)
Cumpre ressaltar que, o prejuízo evidencia-se pela a nítida ausência do réu na audiência de instrução e julgamento, momento que o mesmo poderia se fazer presente para prestar o seu depoimento e demonstrar a realidade dos fatos. 
Em verdade, o acusado não é obrigatório comparecer em seu interrogatório, porém caso seja possível, seu comparecimento é crucial para o deslinde do processo, respeitando o contraditório e a ampla defesa, princípios constitucionais. 
Diante do narrado, a defesa requer a nulidade do processo da instrução com fundamento no art. 564, IV do CPP., para o réu ser ouvido em juízo, tendo em vista que pelo princípio da causalidade todos os atos posterior a instrução são nulos, conforme art. 573, §1º do CPP.
II.II – PRINCÍPIO DA INSIGNIFICANCIA. ABSOLVIÇÃO.
Excelência, no caso em tela, o crime praticado pelo acusado não deteve de uma lesividade relevante ao patrimônio do condomínio, bem como o suposto crime praticado pelo acusado não detém de uma potencialidade lesiva, sendo de ínfimo valor os prejuízos causas. 
Diante do contexto fático, o mesmo conduz pela aplicação do princípio da insignificância, no qual tem como objetivo afastar a tipicidade da conduta do agente. 
Ressalta-se ainda que, no caso sub judice, o crime não foi cometido com grave ameaça ou violência.
De outra banda, o direito penal não deve se preocupar com condutas irrelevantes, como é o caso, o mesmo deve se ater a fatos delituosos graves e de relevante ofensividade.
Outrossim, cumpre ressaltar que, mesmo o réu sendo reincidente, não impede a aplicação do princípio da insignificância no presente caso, vejamos o que preleciona o Decano do Superior Tribunal Federal no julgamento do Habeas Corpus 155.920:
“Importante registrar, finalmente, que a mera circunstância de ser a ora paciente reincidente não basta, por si só, para afastar o reconhecimento, na espécie, do denominado “delito de bagatela”. (Celso de Mello, HC 155.920)
O pretório excelso corrobora com o entendimento de que a reincidência não afasta a aplicação do princípio da insignificância: 
“RECURSO ORDINÁRIO EM ‘HABEAS CORPUS’. DIREITO PENAL. FURTO SIMPLES. REINCIDÊNCIA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INCIDÊNCIA. POSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO. 1. A aplicação do Princípio da Insignificância, na linha do que decidido por esta Corte, pressupõe ofensividade mínima da conduta do agente, reduzido grau de reprovabilidade, inexpressividade da lesão jurídica causada e ausência de periculosidade social. (Precedente). 2. No julgamento conjunto dos HC’s 123.108, 123.533 e 123.734 (Rel. Min. Roberto Barroso, Tribunal Pleno, DJe 01.02.2016) o Plenário desta Corte firmou o entendimento de que, no delito de furto simples, a reincidência não impede, por si só, a possibilidade de atipia material. Também foi acolhida a tese de que, afastada a possibilidade de reconhecimento do princípio da insignificância por furto, ‘eventual sanção privativa de liberdade deverá ser fixada, como regra geral, em regime inicial aberto, paralisando-se a incidência do art. 33, § 2o, c, do CP no caso concreto, com base no princípio da proporcionalidade (...) 4. Recurso provido para restabelecer a sentença de primeiro grau, que reconheceu a aplicação do princípio da insignificância e absolveu o paciente do delito de furto.” (RHC 140.017/SC, Rel. Min. EDSON FACHIN)
Portanto, Excelência, torna-se plenamente cabível o princípio da insignificância, requerendo desde já a absolvição do réu, com supedâneo no art. 386, III do CPC.
II.IV- DA SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE PARA RESTRITIVA DE DIREITO.
Excelência, está inteiramente evidente que o art. 44, II veda a substituição da pena privativa de liberdade para a pena restritiva de direito, levando em consideração a reincidência.
Acontece que o art. 44, §3º traz a possibilidade da substituição mesmo de réu reincidente.
Cito precedente do Pretório Excelso sobre a possibilidade, vejamos:
(...) II - o réu não for reincidente em crime doloso;”). Asseverou-se que, na espécie, tratar-se-ia de reincidência genérica, na qual cabível, em tese, a substituição pretendida, tendo em conta o que disposto no § 3º do mencionado art. 44 do CP (“§ 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.”). Ordem concedida para que o juízo monocrático profira nova decisão, desta feita, fundamentada, no que tange à reincidência genérica do paciente e, consequentemente, à eventual possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos.HC 94990/MG, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 2.12.20008.
Dessa forma, é plausível, em caso de condenação, a substituição da pena privativa de liberdade para a pena restritiva de direito, até como modo de ressocialização do acusado.
Logo, em caso de condenação, requer a substituição da pena privativa de liberdade em restritiva de direito.
II.III – DO REGIME INICIAL.
Na eventualidade, caso não seja acolhida a tese supracitada, no que atine a sanção do delito sub oculis levando em consideração que trata-se de menor potencial ofensivo e inferior a um ano, e que o acusado em nenhum momento se mostrou agressivo ou violento para com a testemunha como evidenciado no depoimento da mesma,e/ou com as autoridades policiais no ato do flagrante demonstrando na ocasião personalidade mansa.
Culto julgador, o suposto crime cometido pelo acusado tem pena de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa, ou seja, uma pena de curta duração, mesmo o agente sendo reincidente.
Outrossim, é claro a possibilidade de que o acusado possa iniciar seu cumprimento de pena no regime aberto, tornando exagero impedir que o defendente mesmo reincidente cumpra seu regime de pena em outra modalidade a não ser o regime inicial aberto, levando em consideração a pena do crime 65 da Lei 9.605/98. 
Para corrobora com o entendimento, cito julgado do Superior Tribunal Federal:
HABEAS CORPUS. FURTO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. REITERÂNCIA DELITIVA. ABRANDAMENTO DE REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DA PENA. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. (...). 5. Quanto ao modo de cumprimento da reprimenda penal, há quadro de constrangimento ilegal a ser corrigido. A imposição do regime inicial semiaberto, com arrimo na reincidência e nos maus antecedentes, parece colidir com a proporcionalidade na escolha do regime que melhor se coadune com as circunstâncias da conduta de furto de bem pertencente a estabelecimento comercial, avaliado em R$ 130,00 (cento e trinta reais). Ainda, à exceção dos antecedentes, as demais circunstâncias judiciais são favoráveis, razão por que a pena-base fora estabelecida pouco acima do mínimo legal (cf. HC 123.533, Tribunal Pleno, Rel. Min. ROBERTO BARROSO), de modo que o regime aberto melhor se amolda à espécie. 6. Ordem de Habeas Corpus concedida, de ofício, para fixação do regime inicial aberto para cumprimento da reprimenda. (STF - HC: 135164 MT - MATO GROSSO 4001750-21.2016.1.00.0000, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 23/04/2019, Primeira Turma, Data de Publicação: DJe-170 06-08-2019)
Excelência, permissa vênia, é totalmente demasiado do ponto de vista constitucional, principio da dignidade da pessoa humana, que um individuo mesmo sendo reincidente cumpra sua pena de curta duração em um regime inicial que não seja proporcional a duração de sua pena, nos casos de crimes com penas igual ou superior a quatro anos. Devendo ser levado em consideração o principio da proporcionalidade para o inicial do regime ser o menos gravoso possível para o individuo, com a finalidade de proporcionar ao apenado a ressocialização, devendo afastar o réu do contato desnecessário do nefasto sistema carcerário brasileiro.
Diante do relato, requer a defesa que, em caso de condenação, Vossa Excelência fixe o regime inicial aberto para o cumprimento da pena.
III – DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer a Vossa Excelência:
a) Preliminarmente, requer a nulidade de toda fase da instrução, com fundamento no art. 564, ICV do CPP, dando oportunidade ao réu de ser ouvido;
b) Na eventualidade, caso não seja acolhida a preliminar suscitada, requer a absolvição do defendente, nos termos do art. 386, III do CPP, tendo em vista o princípio da insignificância;
c) Caso entenda pela condenação, requer que seja substituída a pena privativa de liberdade por restritiva de direito;
d) Caso não seja acolhido o pedido supramencionado, o que não se espera, por amor ao debate, requer que o regime inicial seja o aberto;
e) Sendo a prisão à última ratio, requer que o réu possa recorrer em liberdade, em prestigio ao princípio da presunção de inocência.
Nestes termos,
Pede e espera deferimento.
Aracaju/Sergipe, 28 de Maio de 2020
Advogado OAB/ XXXI

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