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FISIOPATO 15.05.2020 Aula 38 Cardiopatia Reumática A febre reumática (FR) é uma doença inflamatória aguda, multissistêmica e mediada pelo sistema imunológico, que ocorre algumas semanas após um episódio de faringite por estreptococos do grupo A. A cardite reumática aguda presente durante a fase ativa da FR pode progredir para a cardiopatia reumática (CR) crônica, da qual anomalias valvulares são as manifestações mais importantes. CR é caracterizada principalmente pela doença valvular fibrótica deformante, particularmente a estenose mitral, que parece ser a única causa. A febre reumática raramente surge após infecções por estreptococos que atingem outros locais, como a pele. Morfologia Lesões peculiares ocorrem no interior do coração, chamadas de nódulos de Aschoff, que consistem em focos de linfócitos (basicamente células T), às vezes plasmócitos, e macrófagos grandes ativados, chamados de células de Anitschkow (patognomônicas da FR). Esses macrófagos apresentam citoplasma abundante e núcleos centrais com formato arredondado a ovoide nos quais a cromatina está disposta em uma fita central, ondulada e delgada (daí a designação em células em “forma de lagarta”) e pode tornar- se multinucleada. Durante a FR aguda, a inflamação difusa e os nódulos de Aschoff podem ser encontrados em qualquer uma das três camadas do coração, causando pericardite, miocardite ou endocardite (pancardite). A inflamação do endocárdio e das valvas do lado esquerdo comumente resulta em necrose fibrinoide no interior das cúspides ou ao longo das cordas tendíneas. Observam-se pequenas vegetações (1 a 2 mm), chamadas de verrugas, ao longo das linhas de fechamento das cúspides. Essas vegetações colocam a CR dentro de um pequeno grupo de desordens que estão associadas à doença valvular vegetativa, cada qual com suas características morfológicas próprias. As lesões subendocárdicas, talvez exarcebadas por jatos de regurgitação, podem induzir espessamentos irregulares chamados de placas de MacCallum, geralmente no átrio esquerdo. As alterações anatômicas cardinais da valva mitral na CR crônica são o espessamento dos folhetos, a fusão e o encurtamento das comissuras, e o espessamento e a fusão das cordas tendíneas. Na doença crônica, a valva mitral está quase sempre envolvida. A valva mitral sozinha está acometida em 65% a 70% dos casos, e as valvas mitral e aórtica estão comprometidas em cerca de 25% do restante dos casos. O envolvimento da valva tricúspide não é frequente e a valva pulmonar raramente está afetada. Por causa do aumento da estenose aórtica calcificada (veja anteriormente) e da frequência reduzida de CR, a - Dano às valvas é acumulativo; - É a sequela tardia e não supurativa de infecção com o estreptococo do grupo A. FISIOPATO 15.05.2020 Aula 38 estenose aórtica reumática agora é responsável por menos de 10% dos casos de estenose aórtica adquirida. Pontes fibrosas que se estendem de um lado a outro das comissuras valvulares e calcificações dão origem às estenoses “em boca de peixe” ou “em casa de botão”. Como consequência de uma estenose mitral intensa, o átrio esquerdo dilata-se de modo progressivo e pode abrigar trombos murais no apêndice ou ao longo da parede, que podem formar êmbolos. As alterações congestivas de longa duração que ocorrem no interior dos pulmões podem produzir alterações vasculares e parenquimatosas pulmonares e, como o tempo, levar à hipertrofia do ventrículo direito. O ventrículo esquerdo dificilmente é afetado pela estenose pura da valva mitral. Microscopicamente, nos folhetos mitrais existe uma inflamação aguda e subsequentes fibroses difusa e neovascularização que obliteram a arquitetura do folheto originalmente estratificado e avascular. Os nódulos de Aschoff raramente são observados em amostras cirúrgicas ou tecidos de autópsia de pacientes com CR crônica, como resultado de um longo período entre o ataque inicial e o desenvolvimento da deformidade crônica Patogenia A febre reumática aguda resulta de uma resposta imune aos estreptococos do grupo A, que têm reação cruzada com os tecidos do hospedeiro. Os anticorpos contra as proteínas M dos estreptococos mostraram reação cruzada com autoantígenos do coração. Além disso, as células T CD4 específicas para peptídeos estreptocócicos também reagem com proteínas no coração produzem citocinas que ativam macrófagos (tais como aqueles encontrados nos nódulos de Aschoff). A lesão ao tecido cardíaco pode ser provocada pela combinação de anticorpos e reações mediadas por célula T. Cardiopatia reumática (CR) é caracterizada por pequenas vegetações verrucosas ao longo das linhas de fechamento dos folhetos das valvas. A endocardite infecciosa (EI) é caracterizada por grandes massas irregulares nas cúspides valvares que podem se estender até à cordoalha. Cardite – é a segunda maior manifestacao clinica, afetando de 50-60% dos doentes. FISIOPATO 15.05.2020 Aula 38 Cardite reumática são o espessamento dos folhetos, a fusão e o encurtamento das comissuras, e o espessamento e a fusão das cordas tendíneas. Estenose mitral reumática, a calcificação e as pontes fibrosas atraves das comissuras valvares dão origem às estenoses “em boca de peixe” ou “em botoeira”. Aspectos Clínicos. A FR é caracterizada por uma constelação de achados que incluem, como suas principais manifestações: (1) a poliartrite migratória das grandes articulações, (2) a pancardite (que pode envolver pericárdio, epicardio, miocárdio e endocárdio), (3) os nódulos subcutâneos (na IRA são lesões firmes e indolores. Elas são menores e tem vida mais curat do que os nóculos da artrite reumatoide), (4) o eritema marginado da pele (é uma erupção cutânea não pruriginosa evanescente, rosada ou levemente vermelha, envolvendo o tronco e algumas vezes os membros, mas não a face) e (5) a coreia de Sydenham, um distúrbio neurológico caracterizado por movimentos rápidos, despropositados e involuntários. O diagnóstico é estabelecido com a utilização dos critérios de Jones: evidência de infecção prévia por estreptococos do grupo A, com a presença de duas das principais manifestações listadas anterio mente ou de uma manifestação principal e duas secundárias (sinais e sintomas não específicos que incluem febre, artralgia e níveis sanguíneos elevados de reagentes da fase aguda). A FR aguda ocorre habitualmente 10 dias a 6 semanas após um episódio de faringite causada por estreptococos do grupo A em cerca de 3% dos pacientes infectados. Ela ocorre com mais frequência em crianças entre 5 e 15 anos de idade, mas os primeiros ataques podem ocorrer na metade da vida ou mais tarde. Embora as culturas para estreptococos feitas com material da faringe sejam negativas na época em que a doença se inicia, os anticorpos para uma ou mais enzimas estreptocócicas, como a estreptolisina O e DNAse B, estão presentes e podem ser detectados no soro da maioria dos pacientes com FR. As manifestações clínicas predominantes são artrite e cardite, sendo a artrite bem mais comum em adultos do que crianças. As características clínicas relacionadas à cardite aguda incluem atrito pericárdico, sons cardíacos fracos, taquicardia e arritmias. A miocardite pode causar dilatação cardíaca, a qual pode evoluir para insuficiência funcional da valva mitral ou mesmo insuficiência cardíaca. Aproximadamente 1% dos pacientes morrem de FR fulminante. A artrite geralmente inicia-se com poliartrite migratória (acompanhada de febre), que se caracteriza pelo acometimento sucessivo das grandes articulações, as quais se tornam dolorosas e inchadas durante alguns dias e depois regridem espontaneamente, sem deixar nenhuma incapacidade residual. Após o ataque inicial, os pacientes tornam-se mais vulneráveis à reativação da doença após novas infecções faríngeas e é provável que apareçam as mesmas manifestações em cada ataque recorrente. A lesão às valvas é cumulativa. A turbulência induzida por defor- midades valvularesem desenvolvimento gera fibrose adicional. As manifestações clínicas aparecem anos ou mesmo décadas após o episódio inicial de FR e dependem de quais valvas cardíacas estão envolvidas. Além de inúmeros sopros cardíacos, dilatação e hipertrofia cardíacas, e insuficiência cardíaca, os indivíduos com CR crônica podem ter arritmias (particularmente a fibrilação atrial em decorrência da estenose mitral), complicações tromboembolíticas e endocardite infecciosa. O prognóstico a longo prazo é altamente variável. O reparo cirúrgico ou substituição protética das valvas doentes melhorou muito o prognóstico dos pacientes com CR. FISIOPATO 15.05.2020 Aula 38 Cardite Reumática © Cardite ReumáNca é caracterizada principalmente pela doença valvar fibrótica deformante que envolve, em parNcular, a valva mitral © Cardite Reumatica é praticamente a única causa de estenose mitral © Tratamento da faringite por Streptococos
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