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Responsabilidade tributária Pode-se conceituar responsável tributário como “sujeito passivo da obrigação tributária, vinculado ao fato gerador, que, sem enquadrar-se na condição de contribuinte, tenha sua obrigação decorrente de expressa disposição legal”. Responsável tributário é o sujeito passivo que não se enquadra na condição de contribuinte O Código Tributário Nacional optou pela utilização do critério residual para conceituar responsável tributário. Nesse sentido, o art. 121, parágrafo único, II, do CTN afirma que responsável tributário é o “sujeito passivo da obrigação principal que, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei”. Assim, para o CTN, todo devedor que não seja contribuinte deve ser considerado responsável tributário. Responsável tributário deve ser alguém obrigatoriamente vinculado ao fato gerador Ao disciplinar o regime geral da responsabilidade tributária, o art. 128 do CTN determina que o responsável deve ser uma “terceira pessoa”, ou seja, alguém diverso do contribuinte, mas “vinculado ao fato gerador”. A necessária vinculação ao fato gerador constitui uma importante limitação à liberdade do legislador na definição das hipóteses de responsabilidade tributária. Isso porque a lei só pode eleger como responsável uma pessoa que, embora não realize o fato gerador, participe da relação jurídica no contexto da qual o fato gerador ocorre. Se o legislador escolher como responsável alguém que não participa da relação jurídica ensejadora do dever de pagar tributo, haverá legitimidade na definição do caso de responsabilidade ante o descumprimento da exigência prevista no art. 128 do CTN. Portanto, pode-se concluir afirmando que, enquanto o contribuinte tem relação pessoal e direta com o fato gerador (porque realiza a conduta descrita na hipótese de incidência), o responsável tributário deve ter relação pessoal e INDIRETA com o fato gerador (está vinculado ao fato gerador sem realizá-lo). Responsável tributário tem sua obrigação decorrente de expressa disposição legal O último elemento integrante do conceito de responsável tributário aponta para a lei como a única fonte habilitada pelo ordenamento para definir hipóteses de responsabilidade tributária. A regra deriva do fato de que todos os aspectos da hipótese de incidência tributária dependem de previsão legislativa, e os casos de responsabilidade, em última aná-lise, envolvem a definição do aspecto pessoal (devedor) da hipótese de incidência. QUADRO SINÓTICO COMPARATIVO ENTRE CONTRIBUINTE E RESPONSÁVEL TRIBUTÁRIO Contribuinte Responsável tributário Art. 121, parágrafo único, I, do CTN Art. 121, parágrafo único, II, do CTN Realiza o fato gerador Não realiza, mas é vinculado ao fato gerador Relação pessoal e direta com o fato gerador Sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorre de disposição expressa de lei (relação pessoal e indireta com o fato gerador) Definido em lei Definido em lei O mesmo que sujeito passivo direto O mesmo que sujeito passivo indireto POR QUE A LEGISLAÇÃO ESTABELECE CASOS DE RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA? A responsabilidade tributária promove um deslocamento do dever de recolher o tributo, transferindo-o do contribuinte que realizou o fato gerador para terceira pessoa: o responsável. Em termos gerais, são conveniências arrecadatórias e fiscalizatórias (defesa do interesse público secundário) que justificam a definição legal das hipóteses de responsabilidade tributária. Porém, é possível identificar também finalidades específicas que levam o legislador a estabelecer cada hipótese determinada de responsabilidade tributária, entre as quais podem ser mencionadas: a) maior facilidade para arrecadar o tributo junto ao responsável; b) desaparecimento do contribuinte; c) praticidade na forma de cobrança; d) redução do risco de sonegação; e) inadimplemento do contribuinte. Portanto, todos os casos de responsabilidade tributária são estabelecidos para defesa dos interesses do Fisco, e nunca do sujeito passivo. O RESPONSÁVEL TRIBUTÁRIO COMO UM COLETOR DE IMPOSTOS RESPONSÁVEL OU SUJEITO PASSIVO INDIRETO A doutrina europeia costuma referir-se à figura do responsável tributário como um “coletor de impostos”, na medida em que, muitas vezes, o responsável termina exercendo a tarefa, que caberia ao Fisco, de recolher o tributo junto ao contribuinte. Exemplo: empregador é responsável tributário por fazer a retenção, na fonte, do Imposto de Renda devido pelo empregado. RESPONSÁVEL OU SUJEITO PASSIVO INDIRETO “Sujeito passivo indireto” é outro nome utilizado pela doutrina e jurisprudência para referir-se à figura do responsável tributário. Assim, sujeito passivo indireto é sinônimo de responsável tributário. Por oposição, o contribuinte pode ser denominado “sujeito passivo direto”. Já a expressão “sujeição passiva indireta” designa o instituto da responsabilidade tributária ou a condição do responsável tributário. Ao passo que “sujeição passiva direta” significa a condição do contribuinte. TIPOS DE RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA A responsabilidade tributária ou sujeição passiva indireta pode ser de dois tipos: a) por substituição; b) por transferência. Já o CTN, sem preocupação científica, divide as hipóteses de responsabilidade em: a) dos sucessores; b) de terceiros; c) por infrações. Sujeição passiva indireta originária ou por substituição. Substituição tributária Ocorre a sujeição passiva indireta originária por substituição quando, por expressa determinação legal, o dever de pagar tributo nasce para o substituto desde a ocorrência do fato gerador, assumindo tanto a obrigação principal quanto a acessória. Substituição tributária progressiva (“para a frente”) e regressiva (diferimento) Se o legislador atribui ao responsável o dever de pagar o tributo quanto a fatos geradores futuros mediante a presunção de que estes irão ocorrer, tem-se substituição tributária progressiva ou “para a frente”, autorizada pelo art. 150, § 7o, da CF, bem como pelo art. 6o da Lei Complementar n. 87/96. É o caso da concessionária de veículos que recolhe o ICMS devido por toda a cadeia circulatória em razão de fatos geradores futuros. Mas, se a lei opta por adotar o caminho contrário, deslocando na cadeia circulatória ou produtiva a um sujeito passivo a responsabilidade pelo pagamento de tributo em relação aos fatos geradores anteriores na cadeia, é o caso de substituição tributária regressiva ou diferimento. Sujeição passiva indireta derivada ou por transferência A sujeição passiva indireta derivada ou por transferência surge na hipótese de o dever de pagar o tributo nasce vinculado à pessoa do contribuinte e deslocar-se para o responsável após a ocorrência de um fato novo. Pode dar-se de três modos: a) por solidariedade: quando por força de lei duas ou mais pessoas são obrigadas a pagar o mes-mo tributo. Ex.: IPTU de condomínio pro indiviso; b) por sucessão: quando o primitivo devedor desaparece deixando quem lhe faça às vezes. Por exemplo: falecimento de contribuinte com dívidas, caso em que os herdeiros, após o evento morte, respondem pelo pagamento do tributo, até o limite da herança; Responsabilidade dos sucessores c) por responsabilidade legal:quando a pessoa que tinha o dever legal de fiscalizar o recolhimento não o fez, o que produz, em determinadas situações, a obrigação de o responsável legal pagar. Ex.: tabelião que não fiscaliza o recolhimento do ITBI no registro da escritura. Responsabilidade dos sucessores O primeiro conjunto de hipóteses de responsabilidade tributária no CTN refere-se aos casos de sucessores (arts. 129 a 133 do CTN), tanto em se tratando de pesso-as físicas quanto de pessoas jurídicas. Sub-rogam-se na pessoa do adquirente os créditos tributários relacionados com o imóvel adquirido, se o respectivo fato gerador consistir na propriedade, no domínio útil ou na posse, assim também quanto a taxas e contribuições de melhoria vinculadas ao imóvel, salvo quando conste do título prova de sua quitação. São pessoalmente responsáveis o adquirente ou remitente, pelos tributos relativos aos bens adquiridos ou remidos. Havendo arrematação em hasta pública, a sub-rogação ocorre sobre o respectivo preço e não sobre a pessoa do arrematante, ao contrário do que ocorre com o adquirente de bens (sub-rogação na pessoa). Em caso de falecimento do contribuinte, respondem por tributos devidos pelo de cujus o sucessor a qualquer título e o cônjuge meeiro, até a data da partilha ou adjudicação, limitada a responsabilidade ao montante do quinhão, do legado ou da meação (art. 131, II). Também responde o espólio pelos tributos devidos pelo contribuinte falecido, até a data da abertura da sucessão (art. 131, III, do CTN). Responsabilidade no trespasse Trespasse é a alienação do estabelecimento comercial ou fundo de comércio. O art. 133 do CTN disciplina a questão dos tributos devidos na hipótese de trespasse, tanto do ponto de vista de quem está adquirindo o estabelecimento quanto em relação ao alienante. O dispositivo deixa claro que no Direito brasileiro quem adquire um estabelecimento comercial assume também todo o passivo tributário da empresa. A responsabilidade pelo recolhimento dos tributos na hipótese de trespasse será: 1) integral do adquirente: se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou atividade empresarial; 2) subsidiária do adquirente e alienante: se o alienante prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis meses, a contar da data da alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão. Trespasse sem assunção do passivo tributário Com o claro objetivo de tornar atrativa a aquisição de estabelecimentos em crise por grupos econômicos mais saudáveis, o art. 133, § 1º, do CTN determina que a aquisição da empresa não inclui as dívidas tributárias quando ocorrer: I – em processo de falência; II – no caso de filial ou unidade produtiva isolada em processo de recuperação judicial. Porém, essas duas hipóteses excepcionalíssimas de trespasse sem assunção do passivo tributário deixam de ser admitidas pela legislação quando o adquirente for (art. 133, § 2o): I – sócio da sociedade falida ou em recuperação judicial, ou sociedade controlada pelo devedor falido ou em recuperação judicial; II – parente, em linha reta ou na colateral até o 4º (quarto) grau, consanguíneo ou afim, do devedor falido ou em recuperação judicial ou de qualquer de seus sócios; III – identificado como agente do falido ou do devedor em recuperação judicial com o objetivo de fraudar a sucessão tributária. RESPONSABILIDADE DE TERCEIROS Nos termos do art. 134 do CTN, na impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte, são solidariamente responsáveis: a) os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores; b) os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados ou curatelados; c) os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes; d) o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio; e) o síndico e o comissário, pelos tributos devidos pela massa falida ou pelo concordatário; f) os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos tributos devidos sobre os atos praticados por eles, ou perante eles, em razão do seu ofício; g) os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas. Observe-se, porém, que a responsabilidade tributária nas hipóteses referidas acima somente ocorre se o terceiro tiver participado diretamente da situação concreta que configura o fato gerador do tributo, assistindo o contribuinte ou em seu nome atuando. Ou, então, se tinha o dever jurídico de assistir o contribuinte, mas deixou de fazê-lo, caso em que a responsabilidade tributária surge como decorrência de sua omissão. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DO CTN O art. 135 do CTN consagra o caráter excepcional da responsabilidade de diretores, sócios, gerentes ou representantes por dívidas da empresa. Isso porque vigora o princípio da autonomia patrimonial, isolando os bens da pessoa jurídica em relação ao patrimônio de seus dirigentes. Nessa esteira, o Código Tributário Nacional afirma que somente os atos praticados com excesso de poder ou infração de lei, contrato social ou estatuto têm o poder de afastar a autonomia patrimonial, autorizando o Fisco a redirecionar a cobrança contra os dirigentes da empresa. Excesso de poder ou infração constituem sempre comportamentos dolosos, que exigem má-fé para sua caracterização, sendo inadmissível sua configuração na modalidade meramente culposa. Trata-se das regras para desconsideração da personalidade jurídica em Direito Tributário. Segundo o STJ, o simples inadimplemento da obrigação tributária não autoriza o redirecionamento da Execução Fiscal. RESPONSABILIDADE POR INFRAÇÕES Em Direito Tributário, a responsabilidade por infrações da legislação tributária, salvo disposição de lei em contrário, independe da intenção do agente, não importando tampouco se o ato infracional chegou a produzir todos os efeitos. Assim, são irrelevantes, nos casos de infração: a) a intenção do agente; e b) o resultado da conduta por ele praticada. Desse modo, analogicamente ao Direito Penal, a responsabilidade por infrações tributárias classifica-se como “culposa” e “de mera conduta”. DENÚNCIA ESPONTÂNEA Denúncia espontânea é a autodelação premiada no Direito Tributário. O próprio infrator confessa ao Fisco a prática de um comportamento irregular antes do início de qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização relacionada com a infração, acompanhado do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, ou do pedido para que o Fisco arbitrar o valor devido. Como prêmio, o art. 138 do CTN determina a exclusão da responsabilidade, afastando a aplicação de qualquer penalidade, sejam multas punitivas ou moratórias Entretanto, de acordo com a jurisprudência consolidada do STJ, o benefício da denúncia espontânea não se aplica: a) no caso de inadimplemento de obrigações tributárias acessórias autônomas sem qualquer vínculo direto com a existência do fato gerador do tributo. Ex.: atraso na entrega da declaração de rendimentos do Imposto de Renda (REsp 1129202); b) quanto aos tributos sujeitos a lançamento por homologação, declarados pelo contribuinte,mas recolhidos fora do prazo de vencimento (Súmula n. 360 do STJ); c) se houver confissão do débito acompanhada de pedido de parcelamento, na medida em que parcelamento não pode ser confundido com pagamento (REsp 378795).
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