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Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp A tuberculose é uma doença da imunidade, ou seja, da capacidade do indivíduo se defender contra um microorganismo. Como o sistema imune é muito importante para o desenvolvimento da tuberculose (TB), doenças que causam imunossupressão, como HIV, são consideradas fatores predisponentes. O agente principal é o Mycobacterium tuberculosis (bacilo de Koch), uma micobactéria que tem como reservatório natural o homem. A transmissão ocorre entre humanos, através de gotículas ao falar, tossir, espirrar. O indivíduo infectado realmente fica doente e transmite, ou seja, indivíduos assintomáticos não transmitem. A infecção leva a uma reação de hipersensibilidade a antígenos do bacilo, a qual pode ser avaliada pelo teste cutâneo à tuberculina. Um pouco de História... A tuberculose era chamada antigamente de tísica. A tísica era de ocorrência frequente no Império Romano e Areteus, que viveu de 81 a 138 dC, nos legou uma das melhores descrições da doença, que contém a seguinte observação: "A tísica, portanto, se deve a uma ulceração do pulmão e costuma apresentar-se depois de uma tosse prolongada ou hemoptise. Acompanha-se de febre contínua, mais acentuada à noite". A palavra tuberculose, que tornou obsoletos os termos tísica e consunção surgiu após a descrição da presença de tubérculos no pulmão e em outros locais afetados. Outros sinônimos de cunho popular atribuídos à tísica são os de "peste branca" e "mal do peito". O nome de "peste branca" se deve à palidez da pele contrastando com a cor rósea dos pômulos durante o acesso febril, e o de "mal do peito" aos sintomas pulmonares. A tísica de evolução rápida e fatal era chamada de "galopante"; pômulos: proeminências do osso, maçãs. O bacilo de Koch O M. tuberculosis é aeróbico, por isso o hábitat preferido é o pulmão. Ele não possui toxinas nem enzimas histolíticas. A destruição tecidual (necrose caseosa) é resultado da liberação de enzimas e produtos tóxicos por macrófagos que tentam destruir os bacilos fagocitados. Assim, não é o bacilo que causa a necrose caseosa, mas o próprio macrófago. Essa bactéria é intracelular e entra no pulmão através das vias aéreas (gotículas). Ao chegar nos alvéolos, é fagocitada por APC’s (macrófagos alveolares, macrófagos pulmonares e DC). Essas células fagocitam o bacilo, coloca-o no fagossomo e tenta destruir. Como muitas ainda estão despreparadas (nunca lidaram com o bacilo), morrem. Algumas conseguem liquidá-lo e apresenta os antígenos na superfície, essas são as DC’s. Elas são as únicas que migram para os linfonodos e apresentam os peptídeos do bacilo aos linfócitos. Os linfócitos são ativados e há expansão clonal. As células T de memória e efetoras (T CD4 e T CD8) migram para o sitio de infecção a fim de controlar o crescimento dos bacilos. Elas secretam citocinas efetoras que contribuem para o recrutamento e ativação de células imunes inatas (monócitos, neutrófilos) e conferem aos macrófagos ativados maior habilidade para matar os parasitas intracelulares. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Com isso, há formação de granulomas compostos por células epitelióides, gigantes e linfócitos. O granuloma é o aspecto histológico da resposta inflamatória contra o micobacterium. As células imunes importantes na resposta imunológica da tuberculose são os Linfócitos T CD4 (Th1 e Th17). Os linfócitos T CD8 também participam, mas tem menor importância. Essas células produzem citocinas (IFN gama, INF alfa, IL-2) que atuam nos macrófagos e os ativam. Através dos grânulos citotóxicos (T CD8), ocorre lise dos macrófagos com os bacilos no interior. Os macrófagos ativados aumentam de volume e passam a produzir mais enzimas lisossômicas e radicais livres. Eles estão no centro do granuloma. As células epitelioides são chamadas assim por estar muito próximas umas das outras e o limite do citoplasma não ser muito bem definido, elas as vezes podem aparecer com núcleo alongado. As células gigantes são multinucleadas. 1. A TUBERCULOSE Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp A tuberculose pode se apresentar como doença (sintomática, há transmissão de bacilos) ou na forma de infecção latente (maioria dos casos). A doença é considerada uma doença da imunidade, pois todos os fatores de risco para TB estão associados a queda da imunidade. Condições que alteram a defesa do hospedeiro são importantes para o desencadeamento da doença. Fatores de risco: HIV, imunodeficiências, DM, desnutrição, pobreza, ambientes confinados (presídios, etc). O HIV está muito associado com a tuberculose, pois as células de defesa importantes na TB são os linfócitos T CD4 (papel central na resistência do hospedeiro ao M tuberculosis). E são justamente essas células que são alvo do HIV. A doença ocorre em 3% a 10% dos indivíduos imunocompetentes (minoria). A maioria das pessoas desenvolvem infecção latente. A maioria das pessoas desenvolve imunidade protetora (célula T dependente) que impede o desenvolvimento da doença após o primeiro contato com o bacilo. Entretanto, o patógeno não é totalmente eliminado e poucos bacilos persistem dentro de macrófagos por anos. Infecção latente: esta persistência do bacilo permite reativação (surgimento da doença) quando houver diminuição da imunidade célula T dependente. Esse primeiro contato passa despercebido. Cerca de 23% da população mundial tem infecção latente pelo MbT. É muito frequente! As células T CD4+ são essenciais para o controle da infecção primária e da infecção latente. Na primo-infecção temos a primeira reação granulomatosa, formou-se os clones de memória T, os macrófagos foram ativados, tem granuloma e debelaram o bacilo. Foi uma resposta imunológica competente. Isso pode encaminhar para a resolução completa ou para a infecção latente (alguns bacilos restam, mas o granuloma caminha para aspecto de cura). Ele fica fibrótico, mas tem macrófagos com bacilo no interior na forma latente. O granuloma pode ter necrose no interior dele que não é digerida, mas forma uma capsula fibrosa ao redor dele. A queda da imunidade por qualquer motivo tem a reativação dos poucos bacilos que restaram. Esses bacilos proliferam e temos novamente a reação macrofágica e crescimento do granuloma. Como temos memória já, os linfócitos formam mais rapidamente os granulomas. Esses granulomas podem ser suficientes para debelar ou não. Quando não suficiente, eles crescem e ocorre morte de muitos macrófagos que liberam enzimas (necrose caseosa no interior). Nisso os bacilos são liberados no tecido necrótico também. Esse tecido em contato com brônquio é liberado pelas vias aéreas e nisso se dá a transmissão. Aí se forma a caverna, quando temos eliminação de tecido necrótico por via broncogênica. Esses bacilos podem, ainda, contaminar o pulmão adjacente e vai destruindo progressivamente o pulmão por via broncogenica. O material necrótico com bacilos pode ir para a via aérea (transmissão) e pode ser deglutido e infectar o trato gastrointestinal. Também lembremos que ocorre lesão no linfonodo e se houver expansão o tecido necrótico pode alcançar o ducto torácico e ter disseminação hematogênica da tuberculose. A disseminação hematogênica pode ocorrer através de invasão de vasos por continuidade (sem passar necessariamente pelo ducto torácico). Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Então, a infecção latente é caracterizada por granulomas encapsulados. Houve necrose com calcificação no centro e ao redor formou-se uma cápsula de tecido fibroso. A tuberculose pode ter várias formas: Tuberculose primária – complexo primário: maioria assintomática. Tuberculose pós-primária (secundaria): quando teve reativação após latência. Pode progredir mal, o bacilo alcança via sanguínea e causa tuberculose miliar. Tuberculose primária progressiva: quando o complexo primário nãose resolveu e progride para a doença, não entra em latência. É mais raro. Pode causar tuberculose miliar. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp • TUBERCULOSE PRIMÁRIA Ou Complexo primário. É o primeiro contato com o bacilo e geralmente ocorre na infância. O MtB atinge alvéolos da porção média do pulmão e linfonodo satélite no hilo pulmonar. São reconhecidos por linfócitos T, produção de citocinas e formação de granulomas nesses dois pontos iniciais. Devido a características anatômicas da ventilação pulmonar, a maior quantidade de bacilos aloja-se inicialmente na região superior do lobo inferior ou segmento inferior do lobo superior, onde se forma o nódulo subpleural do complexo primário (também chamado de Nódulo de Ghon). Isso ocorre mais frequentemente no pulmão direito e o linfonodo satélite logo abaixo do brônquio principal direito. O complexo primário é composto pela caseificação pulmonar e o linfonodo satélite (lesão em halteres). Na maioria dos indivíduos, a tuberculose primária é assintomática e tem evolução “benigna”. O primeiro contato do bacilo com o indivíduo (primoinfecção) determina diversas reações: exsudativa (nódulo exsudativo), produtiva (granuloma duro), produtivo-caseosa (granuloma com necrose caseosa) ou cicatrizante (nódulo calcificado). Reação Exsudativa Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Os bacilos inalados chegam aos alvéolos, onde macrófagos alveolares e polimorfonucleares neutrófilos atraídos pela fração de carboidrato da bactéria são a primeira linha de defesa do hospedeiro. Nas três primeiras semanas de infecção, a resposta inflamatória pulmonar é inespecífica (pneumonia) e feita por neutrófilos e macrófagos. Em alguns indivíduos, há liberação de substâncias oxidantes e elastases, sobretudo pelos neutrófilos, que originam um foco de alveolite aguda exsudativa caracterizada por necrose de alvéolos, exsudação de fibrina, neutrófilos degenerados e grande número de bacilos viáveis. Reação Produtiva Como a resposta puramente exsudativa não é suficiente para conter o avanço do bacilo, é acionada uma segunda linha de defesa. Macrófagos contendo bacilos liberam IL-12, que estimula linfócitos T (Th1) a liberar citocinas, sobretudo interferon-γ (IFN-γ), que é o principal ativador de macrófagos, tornando-os capazes de matar os microrganismos. Ao mesmo tempo, os macrófagos ativados liberam outras citocinas (p. ex., TNF-α) e quimiocinas que comandam a reação de hipersensibilidade (teste cutâneo à tuberculina) e a formação de granulomas. Por ação do IFN-γ, macrófagos ativados transformam-se em células epitelioides; estas tendem a se aglomerar e a formar sincícios, originando células gigantes multinucleadas. Com a organização dessas células, a inflamação adquire o padrão granulomatoso. Na tuberculose, os granulomas contêm uma ou mais células gigantes no centro, ao redor das quais existem células epitelioides; na periferia, encontram-se linfócitos, macrófagos e poucos plasmócitos. Como regra geral, no centro do granuloma há necrose caseosa de extensão variada Reação Produtivo-Caseosa Macrófagos, células epitelioides e linfócitos T causam a morte dos bacilos existentes no granuloma. Dependendo do número de bacilos presentes e do grau de hipersensibilidade do hospedeiro, surge necrose caseosa no centro do granuloma Reação de Cicatrização Com a morte dos bacilos e o controle da multiplicação bacteriana, o granuloma segue o curso natural de reparação de toda reação inflamatória, que é sua colagenização induzida pelo fator de crescimento de fibroblastos (FGF) secretado por macrófagos. Com isso, a lesão entra em processo de cicatrização, hialinização e calcificação. A reação inflamatória inicial e os granulomas, com ou sem necrose, formam-se preferencialmente na região inferior do lobo superior ou na superior do lobo inferior. O conjunto desses granulomas recebe o nome de nódulo de Ghon. A partir deste, os bacilos alcançam os vasos linfáticos e os linfonodos hilares, onde promovem o mesmo tipo de reação inflamatória, ou seja, linfadenite granulomatosa. Ao conjunto de nódulo de Ghon e linfadenite dá-se o nome de complexo primário ou complexo de Ghon. O complexo primário pode ter dois destinos: (1) cura, que ocorre na grande maioria dos casos. A cura se dá pela destruição do microrganismo e por cicatrização e calcificação das lesões, tanto no parênquima pulmonar quanto nos linfonodos; a infecção deixa apenas uma pequena cicatriz, indicativa de que algum dia o indivíduo entrou em contato com o bacilo, desenvolveu hipersensibilidade, conseguiu controlar o crescimento bacteriano e não desenvolveu a doença. Em certas pessoas, alguns bacilos podem permanecer latentes (viáveis) nesses locais por muito tempo, mas sem provocar lesões (forma latente). Se, por qualquer motivo, o indivíduo sofre queda de suas defesas, os microrganismos voltam a se multiplicar e originam doença (tuberculose secundária – ver adiante); Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp (2) tuberculose-doença. Quando não há cura da infecção, os bacilos persistem nos tecidos, multiplicam-se e podem se disseminar para os próprios pulmões (pelas vias aéreas) ou para outros órgãos (pela via sanguínea). Esse quadro constitui a tuberculose primária progressiva, que acomete a minoria dos indivíduos que têm o primeiro contato com o bacilo (< 5%), geralmente acontece na infância e se apresenta sob as formas de pneumonia caseosa ou de tuberculose miliar, ambas muito graves. • TUBERCULOSE SECUNDÁRIA Ou tuberculose pós-primária. Na vida adulta, por qualquer condição que resulte em queda da imunidade, os bacilos latentes voltam a se multiplicar e dão origem a novos granulomas e a novas lesões (tuberculose por reativação). Por serem aeróbios, os bacilos multiplicam-se preferencialmente nos ápices pulmonares (porções mais aeradas, com maior tensão de oxigênio e menor fluxo sanguíneo), onde as lesões da tuberculose secundária são mais comuns. A solução para este paradoxo seria que, devido à posição ereta do homem, a força da gravidade torna o fluxo sanguíneo pulmonar maior nas bases que no ápice. Como o fluxo pelo pulmão é basicamente de sangue venoso, que retira oxigênio dos alvéolos, o oxigênio nas regiões apicais é menos extraído que o de outras regiões. Por isso, a tensão de oxigênio é maior no ápice, favorecendo crescimento dos bacilos. Os focos que se reativam na fase pós-primária já teriam sido semeados durante a disseminação hematogênica que ocorre na fase primária (não havendo, na grande maioria dos casos, a evolução grave conhecida como tuberculose primária progressiva). Outras vezes, o indivíduo que teve a primoinfecção curada bacteriologicamente sofre uma nova infecção. Por isso, a tuberculose secundária é também conhecida como tuberculose do adulto ou tuberculose de reinfecção. Essa forma é mais rara. As lesões da tuberculose secundária apresentam-se em quatro formas macroscópicas: apical, cavernosa, ácino-nodosa e miliar. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp ▶ Tuberculose Apical A reativação dos bacilos dá origem a granulomas produtivos, granulomas produtivo-caseosos e nódulos fibrocalcificados, em razão de surtos repetidos de ativação, formação de granulomas e neoformação conjuntiva. Por essa razão, nesses casos são frequentes extensas lesões fibrocaseosas nos ápices pulmonares. Esse nódulo antes quiescente aumenta, prolifera mais bacilos, vem mais macrófagos, já tem resposta T montada. Surgem grandes granulomas, mas que podem não ser suficientes e ela se propaga do ápice para a base pulmonar. Esse nódulo reativado no ápice pulmonar é também chamado de Nódulo de Puhl. Resumindo, ele pode ir para cura, formando granuloma com necrose central encapsulada e calcificada que pode voltar a ser latente novamente. Outra possibilidade é a expansão da lesão, com disseminaçãobroncogenica do ápice para a base, lesões acinares, lobulares, pneumonia caseosa e cavernas. ▶ Tuberculose Ácino-nodosa A partir da lesão apical ou de reativação da lesão primária, pode haver proliferação dos bacilos e sua disseminação pelas vias aéreas (disseminação broncogênica). O transporte dos bacilos através dos brônquios por ação dos movimentos respiratórios leva ao aparecimento de lesões axiais peribrônquicas que acompanham a histoarquitetura pulmonar. Nesses casos, a inflamação granulomatosa compromete caracteristicamente ácinos pulmonares inteiros, podendo ser reconhecida macroscopicamente como condensação parenquimatosa com a forma acinar. Quando ácinos adjacentes são acometidos, formam-se as lesões em trevo. Se os bacilos atingem a pleura, forma-se pleurite tuberculosa, com derrame pleural. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp ▶ Tuberculose Cavernosa Quando ocorre necrose extensa nos locais atingidos, o material necrótico se liquefaz e é drenado por um brônquio, dando origem a grandes cavitações conhecidas como cavernas tuberculosas. Quando há destruição também de vasos sanguíneos, surge hemoptise. O número, o tamanho e a forma das cavernas variam bastante. Com a fibrose que se forma na sua parede e no parênquima adjacente, às vezes podem surgir outras lesões pulmonares (obstrução brônquica, bronquiectasia, enfisema cicatricial etc.). A presença de cavernas nos ápices pulmonares é um sinal clássico dessa fase de tuberculose (pós-primária). A caverna tem grânulos com área de necrose, o pulmão todo fica comprometido com vários focos difusos e não tem fibrose na parede da caverna. A parede é granulosa, não é lisa, fibrótica. Importância e consequências de uma caverna tuberculosa 1) A caverna é uma lesão progressiva, que vai destruindo cada vez mais tecido pulmonar à sua volta. A luz da caverna se comunica diretamente com o meio externo por um brônquio, por isso a tensão de oxigênio na margem da caverna é praticamente a mesma do ar inspirado. Isto favorece a proliferação bacilar, já que os bacilos são estritamente aeróbicos. O processo tuberculoso vai envolvendo alvéolos vizinhos e o material necrótico cai na luz da caverna. 2) Da caverna o material caseoso é disseminado pelos brônquios a outras áreas do mesmo e do outro pulmão. A disseminação broncogênica caracteriza-se pela distribuição irregular das lesões, pois o material pode ir mais para uma região que para outra. Em certas áreas notam-se os tubérculos preenchendo alvéolos ou pequenos grupos deles (forma acinosa); confluindo (lesões ácino-nodosas) até formar extensas consolidações com aspecto de queijo, com pouco ou nenhum tecido preservado. A isto se chama pneumonia caseosa. A disseminação broncogênica é responsável também pela extensão da tuberculose à laringe e ao tubo gastrointestinal, por deglutição do material caseoso. As principais lesões da tuberculose intestinal localizam-se no íleo. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 3) A eliminação dos bacilos para o meio ambiente pela tosse torna o portador de caverna uma fonte de contaminação para outras pessoas (caso aberto). Um caso aberto pode propagar a doença (estatisticamente) a cerca de 20 pessoas/ano. 4) A expansão da caverna pode causar necrose de vasos pulmonares e levar a hemoptises, frequentemente fatais. ▶ Tuberculose Miliar Tal como na tuberculose primária progressiva, a penetração dos bacilos nos vasos sanguíneos leva ao implante do agente em outras áreas do pulmão e em outros órgãos, formando as lesões miliares. Os principais órgãos são fígado, baço, rins, meninges e medula óssea. Forma-se assim grande número de pequenos nódulos inflamatórios nos locais atingidos (nódulos miliares), constituindo a tuberculose miliar (parece milho). Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp A tuberculose secundária (pós-primária) gera uma série de sintomas, que deve ter obrigatoriamente pelo menos 2 desses abaixo para pensarmos em tuberculose: - Tosse persistente (> 2 semanas); início pode ser seca, mas progressivamente fica produtiva; - Hemoptise; - Anorexia; - Suores noturnos; - Dor no tórax, principalmente inspiratória (pleurites); - Fraqueza; - Febre; - Perda de peso. Devemos ter muita atenção para pacientes com queixa de tosse prolongada! Conforme se pode depreender das formas anatomopatológicas da doença, a tuberculose pode simular praticamente qualquer pneumopatia, desde infecções a tumores, devendo, portanto, fazer parte do diagnóstico diferencial de praticamente toda doença pulmonar. Em casos muito graves de tuberculose, a lesão se dissemina para quase o lobo todo e simulam uma pneumonia, é a pneumonia caseosa. Resulta da disseminação dos bacilos para os alvéolos adjacentes através dos poros de Khon, resultando na expansão das lesões exsudativas e dos granulomas. O aspecto macroscópico do pulmão lembra pneumonia, fica condensado. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp A tuberculose pode atingir: - Pleura: causando pleurite com exsudato e paquipleuris (adesão entre as pleuras parietal e visceral, formando uma carapaça fibrosa que enclausura o pulmão e impede a expansão). - Linfonodos do hilo: a partir daí cai na artéria ou veia pulmonar e causar tuberculose miliar no pulmão ou em outros órgãos, como meningite, ossos (mal de Pott), rim, linfonodos cervicais, etc. • TUBERCULOSE PRIMÁRIA PROGRESSIVA Corresponde a um pequeno número de casos onde não houve latência do complexo primário, ele continuou ativo e se disseminou. Falha na resposta imunológica contra esse complexo, por diversos motivos. Denota alta virulência da cepa e/ou imunodeficiência muito grave. A lesão se expande com necrose e disseminação broncogenica. Ela forma mais lesões vizinhas sempre relacionado ao brônquio. Primeiro a lesão subpleural com progressão dessa lesão conforme o trajeto dos brônquios. Nos linfonodos a lesão se expande também e tem acesso as veias pulmonares e disseminação hematogênica para todo o organismo. É uma forma de muito mau prognóstico. VACINA PARA TUBERCULOSE A vacina contra a tuberculose (BCG - Bacilo de Calmette-Guérin) é elaborada a partir de uma bactéria atenuada de origem bovina (Mycobacterium bovis), que é semelhante ao microorganismo causador da doença (Mycobacterium tuberculosis). A BCG não impede a infecção e nem o desenvolvimento da tuberculose pulmonar, mas pode conferir certo grau de proteção para a meningite tuberculosa e para as formas disseminadas da doença. O uso da BCG, que é bastante controverso, basicamente restringe-se aos países de maior prevalência da doença. No Brasil a BCG está no Calendário Básico de Vacinação e sua aplicação é feita por via intradérmica no primeiro mês de vida. A indicação de doses subsequentes de BCG na profilaxia da tuberculose é ainda mais desprovida de comprovação científica quanto à eficácia. O CVA não recomenda a aplicação desta vacina em adultos. Há consenso na literatura sobre a proteção conferida pela primeira dose da vacina BCG contra formas graves e disseminadas de TB em crianças, principalmente meningite e miliar. Entretanto, o Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp debate continua em relação ao efeito protetor da vacina BCG para a TB pulmonar, forma clínica de importância para o controle da doença. Apesar de a vacina BCG ter sido inicialmente desenvolvida visando o seu efeito protetor contra TB, proteção tem sido também observada para a hanseníase. A vacina da BCG pode, quando administrada antes da infecção pelo Mycobacterium tuberculosis, reduzir os riscos da doença tuberculose em até 75%, mas não eliminará o risco totalmente. Perguntas para Fixação -Composição da resposta imune a tuberculose. Qual célula imune tem papel central na resistênciado hospedeiro ao M tuberculosis? -O que é infecção latente e qual a sua frequência? -Quais os fatores de risco para desenvolver a doença tuberculose? -Explique a evolução da resposta inflamatória na tuberculose? -O que é complexo primário, sua composição e principal evolução? -O que é tuberculose pós-primária, sua principal origem e evolução? -Explique a formação da caverna na tuberculose e suas consequências Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp -O que é tuberculose primária progressiva? → TUBERCULOSE PULMONAR EXSUDATIVA Fragmento de pulmão mostrando a margem de uma caverna e processo inflamatório tuberculoso no parênquima pulmonar vizinho. A margem da caverna é constituída por material necrótico e exsudato fibrinoso. No tecido pulmonar em volta há numerosos tubérculos com necrose caseosa. Neste caso, há forte predomínio da reação exsudativa, e os tubérculos consistem basicamente de áreas de exsudato tuberculoso com necrose caseosa central, com tendência a confluírem. A reação exsudativa indica má evolução da doença. Granulomas (característicos da reação produtiva) são escassos. Na periferia dos tubérculos, à margem da necrose caseosa, há exsudato preenchendo os alvéolos. O exsudato varia de aspecto, podendo ser fibrinoso (com grumos ou filamentos eosinófilos de fibrina) ou macrofágico. Em algumas áreas há formação de granulomas incipientes, com necrose caseosa central. O granuloma é pequeno, com poucas células epitelióides e gigantócitos. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp → TUBERCULOSE LINFONODAL Os linfonodos nesta lâmina têm estrutura profundamente alterada por granulomas constituidos por células epitelióides e gigantes. Os granulomas confluem, e tendem a obliterar o tecido linfóide normal pré-existente. No linfonodo maior a parte central de muitos granulomas sofreu necrose caseosa. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp → PLEURITE CRÔNICA TUBERCULOSA E GRANULOMAS EM PROCESSO DE CURA Nesta lâmina há fragmentos de pulmão ilustrando reparo de lesões tuberculosas através da formação de tecido fibroso jovem. As áreas de necrose caseosa provêm de granulomas em processo de cura. Este se dá por desaparecimento da reação granulomatosa (não são mais visíveis as células epitelióides e gigantes), e formação em volta de uma cápsula fibrosa que 'empareda' a necrose. A necrose não é eliminada e termina por calcificar-se (aqui isto ainda não aconteceu). Na pleura também houve processo inflamatório, tecido de granulação, e evolução deste para tecido fibroso jovem (fase atual). O tecido fibroso jovem se tornará mais denso pela diminuição progressiva dos fibroblastos e deposição de mais fibras colágenas, chegando finalmente a uma cicatriz madura. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Macroscopicamente esta será de cor branca (devida ao colágeno) e causará uma aderência firme entre os folhetos pleurais. O espessamento cicatricial da pleura se chama paquipleuris. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp → NÓDULO PULMONAR TUBERCULOSO CALCIFICADO Evolução final de um granuloma tuberculoso, qual seja, calcificação da necrose caseosa e formação de cápsula fibrosa ao redor. Também chamado de Nódulo de Puhl. Como o processo é antigo, os fibroblastos que sintetizaram o colágeno assumem o aspecto de fibrócitos (núcleos escuros e afilados). É comum a permanência de escassas células inflamatórias crônicas, principalmente linfócitos. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp
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