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trabalho discursivo

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Ieda de Almeida Souza CPF: 422.653.168.06 “Embora seja apenas uma possibilidade ainda não usada na república, especialmente em casos de corrupção em favor dos delatores (ou mesmo condenados em face de serviços prestados ao país), discute-se a possibilidade de controle do mérito do ato presidencial por parte do Judiciário. Em potência, então, o presidente da República pode conceder “graça” aos delatores e/ou condenados. Eventual controle jurisdicional é uma incógnita.” LOPES JR., Aury; ROSA, Alexandre Morais da; CONSOLARO, Gabriela. O presidente pode conceder a delatores perdão da pena por meio de "graça"? Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-nov-24/limite-penal-presidenteperdoar-pena-delatores-meio-graca. Acesso em: 02 abr. 2020. Considerando o que foi apresentado, disserte acerca do instituto da Graça, destacando seus principais elementos. Justifique sua resposta. 5º, XLIII, da Constituição Federal, engloba o indulto e a comutação de pena, estando a competência privativa do Presidente da República para a concessão desses benefícios limitada pela vedação estabelecida no referido dispositivo constitucional. A graça, uma das modalidades de perdão de pena previstas no Direito brasileiro, é forma de extinção da punibilidade voltada a aniquilar os efeitos da condenação criminal, mas não se presta a abolir as demais consequências da pena como uma anistia. Em potência, então, o presidente da República pode conceder “graça” aos delatores e/ou condenados. ... Entretanto, a manifestação depende de um ato antecedente do presidente da República Algumas causas de extinção da punibilidade estão previstas no artigo 117 do Código Penal, porém, o objetivo do presente trabalho é dar ênfase aqueles que se referem à Anistia, Indulto ou Graça (artigo 117, II, CP), motivos estes que constituem as formas mais antigas da extinção da punibilidade, as quais se justificavam pela necessidade de atenuar a rigorosidade das sanções penais, muitas vezes desproporcionais ao crime praticado. Até a Constituição de 1988, não havia restrição para estes institutos, e salvo a anistia que era dedicada exclusivamente aos crimes políticos, poderiam alcançar qualquer espécie de crime. Após a previsão do artigo 5º, XLII, a graça e a anistia foram vedadas àqueles que cometessem crimes hediondos, de Tráfico de Entorpecentes, Terrorismo e Tortura. Com a edição da Lei 8.072/90 regulamentou-se o dispositivo constitucional incluindo a vedação da concessão do indulto (BRITO, Alexis Augusto Couto de – Execução Penal, pág. 364). Anistia A anistia é a declaração de abdicação do jus puniendi de certa conduta criminosa por parte do Estado. Essa abdicação se refere a fatos ocorridos em períodos determinados, certos, e não a conduta em abstrato (abolitio criminis). Assim, a anistia caracteriza a extinção da punibilidade, porém o status daquele ato praticado permanece como ilícito, pois os efeitos da condenação, se houver, e as demais responsabilidades, sejam elas civis, administrativas, etc. Permanecem e devem ser cumpridas pelo autor do crime, pois a anistia torna inaplicável a sanção penal, porém o tipo, ou seja, a essência daquele crime permanece intacto. A lei que estabelece a anistia é uma lei penal e possui efeito retroativo, ou seja, esta não pode ser revogada, e, se o for, não elimina a anistia concedida, pois a nova lei seria irretroativa por trazer dispositivo desfavorável ao réu (art. 5.º, XL, da CF). A concessão da anistia é de competência exclusiva da União no sentido em que se trata de um ato político (artigo 21, XVII da Constituição Federal) e entregue ao Congresso Nacional (artigo 48, VIII, CF.), portanto a anistia só poderá ser concedida por meio de Lei, não se exigindo mais, como na Carta anterior, a iniciativa do Presidente da República no que tange aos crimes políticos. Cabe, porém, exclusivamente ao judiciário examinar o alcance da lei que a concede e fazer sua aplicação no caso concreto. A anistia extingue todos os efeitos penais decorrentes da prática do crime, referindo-se, porém a fatos e não a pessoas, embora existam condições subjetivas para ser aplicada. A anistia pode ocorrer antes ou depois do trânsito em julgado da sentença condenatória, extinguindo, conforme o momento, a pretensão punitiva ou a pretensão executória. - Se a lei que conceder a anistia for promulgada antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, caberá ao juiz da causa ou do julgamento do recurso o reconhecimento. É a chamada anistia própria (BRITO, Alexis Augusto Couto de – Execução Penal, pág. 365). Caso a Lei sobrevenha sobre o trânsito em julgado, caberá ao juiz da execução. A anistia neste caso é conhecida como anistia imprópria, na qual o juiz declarará extinta a punibilidade de ofício, a requerimento do interessado ou do Ministério Público, por proposta da autoridade administrativa ou do Conselho Penitenciário (art. 187 da Lei de Execução Penal). A anistia é, em regra, incondicionada. Sendo incondicionada, não pode ser recusada, pois, da mesma forma que o réu de um processo não poderá lutar contra a prescrição, não poderá fazê-lo contra a anistia. Porém, em se tratando da anistia condicionada, ou seja, concedida antes do trânsito em julgado da sentença, é defendido por alguns autores que esse tipo de anistia poderá ser recusada pelo réu, pois, a lei pode impor certa condições que o favorecido não queira cumprir. Assim, a anistia opera ex tunc, isto é, para o passado, apagando o crime e extinguindo todos os efeitos penais do crime e da sentença (pena pecuniária, sursis, pressuposto da reincidência, inscrição do nome do réu no rol dos culpados etc.). Não abrange, entretanto, os efeitos civis (dever de indenizar, perdimento de instrumentos ou produto do crime etc.), visto que não pode o legislador estender seus efeitos em detrimento de direitos estranhos ao Estado (Mirabete, Julio Fabrini – Execução Penal, pág.781). Indulto Individual (Graça) O indulto, diferentemente da anistia, não se refere a um ato politico. O indulto é um ato de clemência do Poder Público em favor de um réu condenado, ou seja, trata-se de um ato administrativo arbitrário emitido pelo Presidente da República (artigo 84, XII, CF) ou emitido por autoridades competentes quando esta responsabilidade lhe for delegada, conforme parágrafo único do mesmo artigo. Conforme as disposições da Lei de Execução Penal e da atual Constituição Federal, o instituto da graça foi absorvido pelo indulto, que pode ser individual ou coletivo. Na doutrina, entretanto, aponta-se como diferença entre o indulto e a graça (em sentido estrito) ser esta solicitada, enquanto aquele é concedido de ofício e de caráter coletivo. A graça tem por objeto crimes comuns e dirige-se a um indivíduo determinado, condenado irrecorrivelmente. A iniciativa do pedido de graça pode ser do próprio condenado, do Ministério Público, do Conselho Penitenciário ou da autoridade administrativa (artigo 188 da LEP). O indulto Individual pode ser total (ou pleno) quanto este alcança todas as sanções impostas ao condenado, ou parcial (ou restrito), com a redução ou substituição da sanção, caso em que toma o nome de comutação. A Constituição Federal, entretanto, refere-se especificamente ao indulto e à comutação (artigo 84, XII) atendendo à distinção formulada na doutrina: no indulto há perdão da pena; na comutação dispensa-se o cumprimento de parte da pena, reduzindo-se a aplicada, ou substituindo-se esta por outra menos severa (Mirabete, Julio Fabrini – Execução Penal, pág.784). O instituto da Graça gera diversas discussões sobre sua aplicação e seus efeitos, Uma das principais questões é sobre a possibilidade da graça atender aos que ainda não foi condenado, em que se alega que ainda haveria a perspectiva de absolvição, fato mais favorável do que a própria concessão da graça. Porém, esta questão trata-se de total discricionariedade do Presidente da República, o qual é responsável na aferição dos benefícios e na avaliação de seus efeitos, podendo alcançar o réu processado, o sentenciado provisório ou definitivo. O procedimentopara concessão do indulto individual pode ser peticionado pelo condenado ou proposto pelo Ministério Público, pelo Conselho Penitenciário ou pela autoridade administrativa. Estes devem juntar aos autos os documentos que confirmem os expostos referentes à condenação e a execução, assim como sobre o seu legado. A petição e os documentos serão entregues ao Conselho Penitenciário para a elaboração de parecer, porém se este órgão tiver sido o provocante, deverá já anexar o parecer para encaminhamento ao Ministério da Justiça. Recebendo a petição acompanhada, eventualmente, de documentos, deve o Conselho examinar o pedido. Fundado em todos os elementos oferecidos pelo peticionário, colhidos nas diligencias efetuadas ou no processo, o Conselho elabora o parecer, que, formalmente deve atender os requisitos do artigo 190 da LEP. Em seguida, os autos que contem a petição, os documentos que instruíram ou acrescidos pelo Conselho, bem como o parecer, são encaminhados ao Ministério da Justiça. Recebidos os autos, serão eles submetidos a despacho do Presidente da Republica ou da autoridade a que foi delegada tal competência para conceder o indulto. Concedido o indulto e anexada aos autos cópia do decreto, o juiz declarará extinta a pena ou ajustará a execução aos termos do decreto, no caso da comutação. A competência para decidir sobre o indulto é do juiz da execução quando a decisão transitou em julgado, porém, se a concessão do indulto ocorreu quando o recorreu o réu, a competência para decidir é do juiz da sentença. Indulto Coletivo O indulto é um ato de clemencia coletiva, sem individualização, que pelas condições dos condenados, a natureza da infração, a quantidade ou qualidade da pena encontram-se na situação prevista no decreto. Exatamente pela não individualização não há possibilidade de ser provocado por um dos interessados, sendo ato espontâneo do Presidente da República (BRITO, Alexis Augusto Couto de – Execução Penal, pág. 367). O indulto coletivo também pode ser total, com a extinção das penas, ou parcial, caso em que são diminuídas ou substituídas as sanções impostas. Na comutação não há extinção da pena, há somente um abrandamento da punibilidade. O indulto, em tese, só devera atingir os condenados com processos transitados em julgado, pois, há dificuldades para a sua aplicação em processos em andamento devido às causas de aumento e diminuição, e principalmente das agravantes e atenuantes. Assim, estas circunstâncias não permitiriam a inclusão do pretendente, pois, em regra, o decreto de indulto classifica os beneficiários de acordo com as penas recebidas. Porém, na prática tem abrangido os processos ainda em andamento ou em fase recursal, nos quais nada impede que atinja o condenado em sursis, livramento condicional, penas restritivas de direito, pecuniárias, ou crimes de Ação Penal Privada. Permite-se também a soma das penas de duas condenações para verificar-se se estão elas nos limites previstos no decreto de indulto. O indulto extingue somente as sanções mencionadas no respectivo decreto, permanecendo os demais efeitos da sentença condenatória, sejam penais ou civis, e pode ser concedido mais de uma vez ao mesmo sentenciado, inclusive na forma de comutação da mesma pena, desde que não seja vedada expressamente a sua aplicação. O indulto, em regra, não pode ser recusado. Admitem-se, porém, a recusa quando se trata de indulto condicionado ou simplesmente comutação. A concessão de indulto se dá por meio do decreto presidencial, o qual constitui mera expectativa de direito, ou seja, este não é auto executável, deve ser feita análise pelo juiz encarregado da execução, do comportamento carcerário e da presença de todos os pressupostos legais. Beneficiado o condenado com o indulto, é efetuado novo cálculo de liquidação e retificada a guia de recolhimento (Mirabete, Julio Fabrini – Execução Penal, pág.805). O órgão competente para a concessão do indulto é o Presidente da República, mas pode ele delegar a atribuição a Ministro do Estado ou outra autoridade (artido 84, inciso XII, e parágrafo único, da CF). Nos casos de indulto coletivo, a lei dispensa formalidades para o processamento do pedido, como nos casos de indulto individual (artigos 189 a 191 da LEP). Entretanto, o indulto coletivo exige, para sua concessão, requisitos subjetivos que somente podem ser apurados e comprovados pelos órgãos administrativos da execução. É obrigatório o parecer do Conselho Penitenciário para que se apure se o sentenciado faz jus ao beneficio do indulto. Pode a lei estadual dispor expressamente a respeito da obrigatoriedade do parecer, ou o juiz, em sua competência para determinar diligência, exigir a manifestação prévia do Conselho Penitenciário. Apresentado o requerimento pelo interessado ou pelo Ministério Público ou a proposição da autoridade administrativa, somente após o parecer do Conselho Penitenciário terá o juiz da execução condições de decidir sobre o pedido. Quando o requerente não for o Ministério Público, exige-se também a prévia manifestação do fiscal da lei. Assim, decidindo a respeito da aplicação do decreto concessivo, o juiz deverá declarar extinta a pena ou ajusta a execução penal aos termos da comutação concedida. A decisão do juiz, quer conceda, quer denegue o indulto deve ser fundamentada. Da decisão da aplicação do decreto que concede o indulto, cabe recurso de agravo em execução, no caso de pedido denegado e formalmente transitado em julgado à decisão, cabe ao interessado o direito, de, em outra oportunidade, renovar o pedido desde que acompanhado de novas provas. https://anacarolinatargueta.jusbrasil.com.br/artigos/307662669/anistia-graca-ou-indulto

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