Buscar

Apostila Sociologia da Educação

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1. O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA.
Podemos iniciar esta aula indagando: o que é sociologia? Como surgiu? Quais os acontecimentos que possibilitaram sua origem? Quem é o autor dessa palavra?
Sociologia é um termo híbrido formado a partir de duas línguas: do latim sócio com idéia de social, e do grego logos (razão), que exprime a ideia de “palavra” ou “estudo”.
 O termo Sociologia significa, portanto, “estudo do social” ou “estudo da sociedade”. Essa palavra foi criada em 1839 por Auguste Comte, filósofo francês, considerado o pai da Sociologia. 
Comte achava que a sociologia deveria ensinar os homens a aceitar a ordem existente. Mais à frente, entenderemos o porquê dessa ideia comteana.
A sociologia como “ciência da sociedade” não surgiu de repente, nem resultou das ideias de um único autor, mas é, de acordo com Tomazi (2000), fruto de toda uma forma de conhecer e de pensar a natureza e a sociedade, que se desenvolveu a partir do século XIV, quando ocorreram transformações significativas como o fim do Feudalismo e a ascensão do capitalismo: o mundo europeu ocidental começou a sofrer transformações substantivas do ponto de vista econômico, político, cultural, científico, artístico, social e ideológico, a partir do século XIV. 
Do ponto de vista econômico, a expansão do comércio além-mar, para além das fronteiras da Europa ocidental, pelos italianos (séculos XIV e XV), pelos portugueses, espanhóis, ingleses e holandeses (a partir do século XVI), propicia o crescimento das principais cidades europeias, o enriquecimento de um novo grupo de comerciantes, atrai os camponeses e servos dos feudos para as cidades, com o consequente processo de desmoronamento do poder dos senhores feudais, que detinham até então o poder econômico, político e ideológico, juntamente com os poderes religiosos da Igreja Católica. 
Nesse período, conhecido como Renascimento, a valorização do homem como centro das preocupações e das decisões cria condições para o desenvolvimento das ciências teóricas e experimentais, não sem conflitos com a ideologia católica da época, paradigma dogmático e controlador dos saberes produzidos. 
Com Galileu Galilei (1564- 1642), a Terra gira em torno de seu próprio eixo e do sol, não mais é o centro do universo. Na política, o italiano Maquiavel (1469-1527) funda a Ciência Política, com pressupostos que anunciam a separação entre os poderes político e religioso. 
Também no campo religioso, Martinho Lutero introduz a Reforma Protestante, enfrenta a autoridade papal e a estrutura da Igreja. Propicia uma tendência que contribuiu de modo significativo para a valorização do conhecimento racional, em contraposição à revelação, ao defender e permitir a livre leitura das Escrituras Sagradas, em confronto com o monopólio do clero na interpretação baseada na fé e nos dogmas.
 A maior socialização do conhecimento junto a parcelas de segmentos sociais torna-se possível pela invenção da imprensa com caracteres por Gutemberg. Esse processo de transformação, em alguns países da Europa ocidental, traz como consequência a mudança de paradigma econômico, político, cultural, científico, tecnológico, que irá culminar, no final do século XVIII, com as conhecidas revoluções – industrial, na Inglaterra, e política, na França e nos Estados Unidos. 
Um novo modo de produção é gerado das entranhas do modo de produção feudal, o capitalismo, e novas luzes políticas emergem com os ideais democráticos defendidos pelos intelectuais “iluministas” franceses e também pelos líderes dos EUA. 
Instaura-se a era ideológica da primazia do indivíduo sobre o coletivo, o conhecimento leigo desvinculado da religião, a primazia do conhecimento racional para todas as áreas do conhecimento, sendo a ciência a fonte que irá permitir a resolução dos problemas da humanidade. 
Para você compreender o surgimento da sociologia como ciência no século XIX, é importante que você perceba que, nesse contexto histórico-social, as ciências teóricas e experimentais desenvolvidas nos séculos XVII, XVIII e XIX inspiraram os pensadores da área humana a analisar as questões sociais, econômicas, políticas, educacionais, psicológicas, com enfoque científico.
1.1 Augusto Comte (1798-1857): a abordagem positivista – uma primeira forma do pensamento social.
Os fundadores da sociologia assumem a tarefa de estabilizar a nova ordem. Comte, entre os pensadores da época, é também muito claro quanto a essa questão. 
Para ele, a nova teoria da sociedade, denominada por ele de positiva, deveria ensinar os homens a aceitar a ordem existente, deixando de lado a sua negação. 
Se, por um lado, já existiam aqueles que combatiam a revolução e almejavam uma sociedade “organizada”, por outro, a França continuava, no início do século XIX, seu ritmo de “sociedade industrial, com uma introdução progressiva da maquinaria, principalmente no setor têxtil” (MARTINS, 1994, p. 28). 
Esse avanço causaria, também, aos operários franceses, miséria e desemprego. Na concepção de Comte, a sociologia deveria orientar-se no sentido de conhecer e estabelecer as “leis imutáveis da vida social”, isto é, essa ciência deveria abster-se de qualquer consideração crítica e, assim, eliminar discussão sobre a realidade existente, deixando de abordar, por exemplo, a questão da igualdade, da justiça e da liberdade. 
Da forma como Comte idealizou a sociologia – nos moldes positivistas – estaria, sim, expresso o desejo de construí-la, a partir dos modelos das ciências físico-naturais. Uma sociologia de inspiração positivista, separada da economia política, que procura criar um objeto autônomo, “o social”, que postule uma independência dos fenômenos sociais, em face dos econômicos. Costa (2002, p. 50-51) sintetiza algumas posturas da concepção positivista. A sociedade será interpretada, influenciada pelo darwinismo social, destacando-se os seguintes postulados:
 A sociedade evolui de duas formas: buscando a ordem e o progresso; 
O primeiro movimento na sociedade levaria à evolução, transformando as sociedades, segundo a lei universal, da mais simples para a mais complexa, da menos avançada à mais evoluída; 
 O segundo movimento procuraria ajustar os indivíduos às condições estabelecidas, para garantir o melhor funcionamento da sociedade, o bem-comum e os anseios da maioria da população. A ordem social conduz ao progresso; 
 Os conflitos, as contradições, as revoltas deveriam ser contidos se tais movimentos colocassem em risco a ordem estabelecida ou inibissem o progresso.
A concepção de uma evolução linear, de estágios de sociedades das mais simples para as mais complexas, as primeiras menos avançadas e as segundas, mais avançadas, irá, nos séculos XIX e XX, influenciar as pesquisas dos antropólogos que irão considerar as comunidades primitivas ou sociedades diferentes das europeias atrasadas, inferiores, com uma visão denominada etnocentrista. 
Sendo inferiores, deverão sofrer a intervenção das sociedades consideradas mais avançadas, como ocorreu nos séculos XIX e XX, com a política colonialista inicialmente de Portugal, Espanha (do século XVI em diante), na conquista da América, da Inglaterra, França, Holanda, Alemanha, entre outros, em países da Ásia, África, América Latina e Central. 
O pensamento positivista de Comte exerce uma ampla influência junto aos intelectuais nos escalões do poder para manutenção da ordem em função do progresso. Você estudará, nas aulas posteriores, os clássicos da sociologia, e outras teorias que irão ampliar as possibilidades de compreensão das sociedades e das relações entre educação e sociedade.
1.2 As Relações entre Educação e Sociedade na Idade Moderna.
Vamos iniciar esta seção fazendo duas perguntas pertinentes: como podemos imaginar a relação educação e sociedade? Qual a contribuição da sociologia para a área educacional? São questionamentos que estão no nosso imaginário e com os quais nos deparamos sempre.
 Mas, para começar a refletir e responder essas questões, é relevante conhecermos alguns conceitos da sociologia, de fundamental importância para entendermos a relação.
1.2.1Sociedade e Educação.
Socialização é um processo educativo, que procura tornar o individuo um membro da sociedade. A partir desse conceito, vamos rever a origem da sociologia? 
Como vimos anteriormente, a sociologia é o estudo da sociedade, do social. Pois bem, a socialização permite, em junção com a educação, que os homens influenciem o comportamento uns dos outros.
 Esse processo chama-se interação social. De maneira mais genérica, é a capacidade de os homens reagirem, de serem capazes de atuar junto a outros homens, aprendendo e ensinando, que torna possível a educação (KRUPPA, 1994, p. 23).
 Vemos, ainda, que socialização é um processo permanente, e não termina com a inserção da criança na sociedade. Esse processo acompanha o indivíduo em sua vida, em suas relações com outros indivíduos e grupos sociais. Como a socialização é um processo que ocorre entre indivíduos, eles organizam suas vidas em sociedade, formando instituições sociais.
 Segundo Kruppa (1994, p. 24), “as instituições sociais são formas de ação ou de vivência a que os homens recorrem, sistematicamente, visando a satisfazer determinadas necessidades”.
 As instituições se destacam do todo social por terem uma função ou finalidade, um objetivo que satisfaça a determinadas necessidades do homem e uma estrutura, isto é, regras que organizam tanto as relações humanas, como o espaço físico onde acontecem essas relações. São exemplos de instituições sociais: a família, a escola, o Estado, a Igreja, o partido político. As instituições sociais têm papel fundamental no processo de socialização.
As características das instituições sociais são, segundo Lakatos (1990, p. 171):
· Finalidade: satisfação das necessidades sociais;
· Conteúdo relativamente permanente: padrões papeis e relações entre indivíduos da mesma cultura.
· Estruturadas: há coesão entre os componentes em virtude de combinações estruturais de padrões de comportamento;
· Estrutura Unificada: as instituições não podem ser completamente separadas uma das outras, funcionam como uma unidade.
· Possuem valores: código de conduta.
A partir dessas características, podemos observar que, nas instituições sociais, o processo de socialização tem papel fundamental. Isso porque a interação social entre os indivíduos se dá pela necessidade de cada um na sociedade e, com isso, ocorre a socialização.
Sociedade – de maneira geral, é o processo pelo qual são transmitidos aos indivíduos os conhecimentos e atitudes, necessários para que ele tenha condições de integrar-se à sociedade (ENCICLOPÉDIA BARSA). 
Educação – significa a vida em grupo que se caracteriza por apresentar relações sociais complexas (MEKSENAS, 2003, p. 18).
Os homens criaram as instituições sociais. Elas não são naturais, isto é, não existem senão por vontade dos homens. Elas serão modificadas pelos homens em sua ação e interação social e não por simples ação da natureza.
 As instituições sociais são históricas, foram criadas em determinadas condições de vida social e se transformam sempre que necessário. O mesmo ocorre com a instituição social escola, que não existe da mesma forma nas diferentes sociedades, sendo inexistente em algumas, ainda que nessas estejam presentes múltiplas modalidades de educação (KRUPPA, 1994, p. 25-26).
1.2.2 Instituição Social Escola
Vimos, anteriormente, que é no processo de socialização que os homens estabelecem, com os outros homens, suas relações e as desenvolvem. Sendo assim, a educação está ligada diretamente à capacidade que o homem tem de aprender e de ensinar, transmitindo, mas também produzindo e modificando os conhecimentos e a cultura.
 É parte do processo de socialização, que humaniza o homem, isto é, propicia o desenvolvimento de suas capacidades. Mesmo ocorrendo em todas as sociedades, a educação não se apresenta nelas de forma única: o que existe de fato são educações, por que as experiências de vida dos homens, suas necessidades e condições de trabalho são diferentes. 
As escolas surgiram a partir do momento em que o homem criou instituições encarregadas de transmitir certas formas de educação e saber. As instituições, entre elas, a educação escolar, se organizam e se estruturam hierarquicamente e estabelecem relações de poder e a divisão técnica do trabalho. 
Essas relações podem ser construídas de forma democrática ou autoritária, dependendo da gestão e do contexto em que estão inseridas. Sob a ótica da divisão técnica e social do trabalho, as sociedades e suas instituições (quando existem) variam conforme a maior ou menor diversificação das atividades produtivas, comerciais, financeiras, o maior ou menor grau de sofisticação das técnicas e tecnologias desenvolvidas e aplicadas. Nas comunidades primitivas, não existiam instituições formais, a divisão do trabalho era feita segundo a idade e o sexo, e as relações de poder se davam por meio da atuação do cacique e/ou pajé, que também participava coletivamente das atividades da comunidade. 
Na medida em que as sociedades empregam novas formas de produção, diversificam seus produtos e acumulam excedentes da produção, registra-se maior diversificação na divisão técnica e social do trabalho. As desigualdades sociais correspondem à maior ou menor concentração de riqueza e renda, sob controle de uma minoria.
Cultura - Refere-se aos modos de vida dos membros de uma sociedade ou de grupos dessa sociedade. Inclui as formas como se vestem, artes, leis, crenças, moral, costumes, enfim tudo o que o ser humano produz e adquire como membro de sua comunidade.
Nas sociedades organizadas sob o sistema capitalista, em que a divisão do trabalho é bem maior, o “conhecimento e os outros bens materiais que o trabalho produz são distribuídos de maneira desigual” (KRUPPA, 1994, p. 27). 
A escola na sociedade capitalista reproduz as desigualdades sociais conforme a classe. Kruppa (1994) menciona que a escola é uma instituição que está organizada dentro de determinadas normas que acabam dando uma forma específica às ações que ali acontecem. Isso significa dizer que a educação escolar distingue-se, portanto, da educação informal. E o que é essa educação informal? 
Educação informal é a que acontece na vida diária pelo aprendizado das tarefas normais de cada grupo social, pela observação do comportamento dos mais velhos e dos pares; é a aprendizagem nos diferentes grupos pela convivência entre os membros da sociedade, pela contestação e pelas mudanças que indivíduos e grupos propõem tanto em relação a si próprios, como para a sociedade. 
Nas comunidades mais isoladas, onde ainda não há escolas, a educação acontece sem a formalidade institucional destas. Crianças e jovens, nessas sociedades, aprendem participando ativamente da vida familiar e comunitária.
Por sua vez, a educação escolar, a formal, tem horário; estabelece critérios para o agrupamento dos alunos; tem profissionais executando papéis diferenciados, como o professor, o diretor, o servente. Possui também um sistema de avaliação e deve cumprir uma função: transmitir e gerar conhecimentos sistematizados. 
As diferenças existentes entre o conhecimento escolar e aquele produzido no dia-a-dia são as condições em que o conhecimento escolar é produzido e transmitido e a própria função da escola, isto é, a transmissão e criação contínuas de conhecimentos. Como essa função é tratada? A escola é obrigada a fazer uma organização do conhecimento produzido. 
Essa organização é feita a partir de critérios, que decorrem das ciências, cujo conhecimento é a base dos conteúdos das disciplinas escolares. Refazer os passos da organização do conhecimento escolar é fundamental para se perceber o que ocorre na escola (KRUPPA, 1994, p. 30). 
Uma terceira diferença acontece, fora da escola, onde o conhecimento é produzido a partir das necessidades imediatas da vida, na sobrevivência nas ruas dos centros urbanos, no campo. Citemos alguns exemplos dessas realidades: o menino na feira aprende a fazer o troco sem nunca ter ido à escola; o pedreiro, da mesma forma, calcula o número de tijolos e a quantidade de cimento e areiaao fazer a parede, etc. 
O saber escolar, por sua vez, embora possa e deva ter relação com a vida dos que frequentam a escola, muitas vezes se apresenta como distante do cotidiano. Quando o conhecimento da escola se distancia das necessidades de vida dos alunos, impedindo que eles o assimilem, o resultado escolar será marcado, consequentemente, pela exclusão daqueles que deveriam dominar esse conhecimento.
 A escola tem sua importância para os indivíduos: ela é um espaço educacional que proporciona condições para esses indivíduos aprenderem. A escola é um direito. De acordo com Kruppa (1994),
homens e mulheres devem ter acesso a um local onde aprofundem sua capacidade de criadores e admiradores de conhecimentos, também pelo acesso àqueles conhecimentos já obtidos pelo desenvolvimento das ciências [...]. A escola deve ser um meio que possibilite ao conjunto da população a discussão e a interferência na direção da sociedade, nos níveis econômico, político e social.
A escola deve, com isso, romper com os limites que restringem a atividade escolar à mera repetição do conteúdo ministrado pelos livros didáticos; procurar a formulação de propostas curriculares que façam a integração dos conteúdos das diferentes disciplinas, explicando a realidade presente interna e externamente à escola. 
Em suma, a afirmação da importância da escola exige uma análise crítica dessa instituição, que não é natural, nem imutável, mas deve servir ao homem e à melhoria de sua vida. A escola deve ser analisada por essa óptica, possibilitando, ainda, verificar até que ponto ela mesma contribui, de fato, para que o saber possa, efetivamente, ser de todos e não apenas de alguns que detêm o poder econômico e político. É nesse âmbito que a sociologia da educação está inserida.
Atividade 1
A Sociologia é uma ciência que surgiu num contexto histórico específico. Isto significa que ela não se constituiu de repente, nem é fruto das ideias de um único autor. Podemos afirmar que: 
a) o surgimento da Sociologia coincide com o fim do Feudalismo e a ascensão do Capitalismo; 
b) a Sociologia, como “ciência da sociedade”, é resultado do pensamento de Maquiavel; 
c) o mundo europeu, na época do surgimento da Sociologia, não passava por transformações históricas significativas ou importantes;
 d) a Sociologia não é uma ciência que se ocupa em conhecer e pensar os fenômenos sociais.
Vimos que o Capitalismo consolidou-se como organização social aliando ciência e técnica que, juntas, geraram grandes descobertas, favorecendo o aumento da produção, o progresso urbano e, consequentemente, a exploração do trabalho humano, de uma forma nunca vista em tempos anteriores. Muitos conflitos e lutas surgem neste novo contexto, criando um ambiente de perturbação, crise e desordem. De acordo com o texto anterior, marque (V) para as alternativas verdadeiras e (F) para as falsas.
 ( ) Os fundadores da Sociologia assumem a tarefa de estabilizar a nova ordem capitalista. 
( ) Auguste Comte, o “pai da Sociologia”, afirmava que a ciência da sociedade deveria ensinar os homens a aceitar a ordem existente, deixando de lado sua negação
( ) Como a sociedade capitalista surgiu de forma organizada, isto é, sem grandes conflitos, os pensadores da época não se preocuparam em analisar as questões sociais.
 ( ) A Sociologia surge com o objetivo inicial de estabelecer as leis imutáveis da vida social, para criar normas e regras de conduta para a vida em sociedade.
 A sequência correta é:
 a) V, V, F, V b) V, F, V, F 
c) F, F, V, V d) V, V, F,F
2. KARL MARX: A EDUCAÇÃO E AS CONTRADIÇÕES DO CAPITALISTA.
Suas obras foram escritas com a colaboração de Friedrich Engels. É autor de célebres obras, como O capital, um tratado crítico ao capitalismo e à sociedade burguesa; o Manifesto Comunista, esboço da teoria revolucionária destinada aos trabalhadores. O marxismo é uma das fontes clássicas do paradigma do conflito.
Paradigma do Conflito: modelo defendido por pensadores que idealizavam alternativas de uma nova sociedade e de novas ideias para a educação.
Em seus estudos, Karl Marx vai analisar conflitos e contradições e propor alternativas para uma nova sociedade, a socialista. Durante o tempo em que viveu na Inglaterra, no século XIX, os trabalhos de Marx foram uma resposta aos sérios problemas sociais, decorrentes da Revolução Industrial. Nesse período, o capitalismo gerou contradições sociais e conflitos pela enorme diferença de renda entre capitalistas e trabalhadores.
2.1 Crítica à Sociedade Capitalista.
Além de ter desempenhado outras funções, como a de jornalista, Marx dedicou-se a analisar alguns aspectos da vida social. Uma de suas contribuições foi discutir a relação entre indivíduo e sociedade. 
Tomazi (2000, p. 21) assinala que Marx considerava que não se pode pensar a relação indivíduo-sociedade separadamente das condições materiais em que essas relações se dão. Ou seja, para viver, os homens têm de, inicialmente, transformar a natureza, isto é, comer, construir abrigos, fabricar utensílios, entre outros.
 Marx ainda ressalta que o estudo de toda sociedade deveria partir justamente das relações sociais que os homens estabelecem entre si, para utilizar os meios de produção e transformar a natureza. Em seus estudos, Marx tem como objetivo maior investigar a sociedade de seu tempo – a sociedade capitalista. 
Nela, as relações sociais de produção definem dois grandes grupos: os capitalistas, de um lado, que são aquelas pessoas que possuem os meios de produção (máquinas, ferramentas e capital) necessários para transformar a natureza e produzir mercadorias; os trabalhadores, do outro, também chamados, no seu conjunto, de proletariado, aqueles que nada possuem, a não ser o seu corpo e a sua disposição para trabalhar (TOMAZI, 2000, p. 21). 
Na sociedade capitalista, a produção só se realiza porque capitalistas e trabalhadores entram em relação. O capitalista paga ao trabalhador um salário e, no final da produção, fica com o lucro. Esse excedente é chamado de mais-valia (excedente de horas de trabalho não pagas). Esse tipo de relação entre capitalistas e trabalhadores leva à exploração do trabalhador pelo capitalista. 
A mais-valia está associada ao conceito de alienação. Costa (1997) assinala que Marx desenvolve esse conceito, mostrando que a industrialização, a propriedade privada e o assalariamento separavam o trabalhador dos meios de produção. Que meios são esses? São as ferramentas, a matéria-prima, a terra e a máquina, que se tornaram propriedade privada do capitalista. Separava, também, ou alienava o trabalhador do fruto de seu trabalho, apropriado pelo capitalista. Essas ideias são a base da alienação econômica do homem, sob o capital.
O trabalho de Marx, conforme Gomes (1994, p. 46), pode ser caracterizado a partir de três pontos: 
Os fatores econômicos determinam a estrutura social e a mudança social, ou seja, a organização social se sustenta sobre três aspectos: as forças materiais de produção, base na qual o homem assegura sua subsistência; as relações de produção (relações e direitos de propriedade); as superestruturas legais e políticas, além das idéias e formas de consciência social; 
A história é a história da luta de classes sociais, com base em sua posição econômica e interesses divergentes. “A história segue, pois, um movimento dialético, de oposição de classes”; 
 A cultura das sociedades de classe se caracteriza pela ideologia: as ideias estão intimamente condicionadas pelo modo de produção. Assim, a classe que dispõe dos meios de produção controla também a difusão intelectual, inclusive a educação.
 O marxismo, conjunto de ideias político-filosóficas de Karl Marx, propõe a deposição da classe dominante (a burguesia) por uma revolução do proletariado. O capitalismo, como modo de produção, era criticado por Marx, pelo fato de possuir o sistema de livre empresa que, segundo ele, pelas contradições econômicas internas, levaria a classe operária à máxima exploração do seu trabalho, em função dos lucros dos capitalistas. Propunha,assim, uma sociedade onde os meios de produção fossem de toda a coletividade, com a distribuição igualitária de riqueza produzida.
2.2 Marx e a Educação
Existem, na literatura sociológica, alguns teóricos, como Roger Establet e Christian Baudelot, sociólogos franceses, que tentam seguir e aprofundar o pensamento de Karl Marx no tocante à educação. Mas é por meio do pensamento de Antônio Gramsci, italiano marxista, que a obra de Marx ganha destaque na educação brasileira. Isso ocorre com os escritos de dois intelectuais: Mário Manacorda e Dermeval Saviani. 
Esses reinterpretam Marx, aplicando-o à educação. Establet e Baudelot, conforme Meksenas (2003, p. 70), seguindo as ideias de Karl Marx, tentam reforçar a ideia de que,
Sendo a sociedade capitalista desigual devido à exploração de uma classe social por outra, o processo educativo que se dá dentro da escola também é desigual, pois a escola é instituição sob controle da classe dominante, reprodutora das desigualdades sociais.
Outros autores, como Manacorda e Saviani, também comentam que a concepção de Karl Marx quanto à educação está, da mesma forma, ligada ao horizonte das relações socioeconômicas de sua época. Santos (2005) assinala que, segundo Marx e Engels, a educação, na sociedade capitalista, é um elemento de manutenção de hierarquia social.
Meksenas (2003) assinala as visões diferentes entre Durkheim, que considerava a educação una e múltipla, sem analisar as relações de classe, e Marx, que vai enfocar a educação segundo a diferença de classes. A educação da classe empresarial é diferente, em virtude de ela ser educada para dirigir a sociedade, de acordo com seus interesses, enquanto os membros da classe trabalhadora são disciplinados e adestrados para o trabalho e para aceitar com submissão a sociedade capitalista como ela se apresenta. Isso é caracterizado na forma de gestão do tempo. Marx (1974, p. 98-99) assinala:
O tempo é o campo do desenvolvimento humano. O homem que não dispõe de nenhum tempo livre, cuja vida, afora as interrupções puramente físicas do sono, das refeições, etc., está toda ela absorvida pelo seu trabalho para o capitalista, é menos que uma besta de carga. É uma simples máquina, fisicamente destroçada e espiritualmente animalizada, para produzir riqueza alheia.
Marx critica a educação de classe, que coloca uma classe, a operária, como sendo meramente uma “besta de carga”, e aponta para a escolarização da classe trabalhadora dois objetivos: 
 Preparar a consciência do indivíduo para perceber apenas a visão de mundo da classe empresarial como correta, isto é, transmitir sua ideologia; 
Preparar o indivíduo para o trabalho, fazendo-o aprender o necessário e suficiente para lidar com seus instrumentos de trabalho, além de disciplinar e treinar o corpo/mente dessa classe, para que possa desempenhar adequadamente suas tarefas no trabalho. 
Essa análise está relacionada às características da sociedade capitalista, ou seja, à existência de conflitos, contradições, desigualdades sociais. Porém, diante de tantas adversidades, parece existir alguma aresta, e ela pode ser a educação escolar. Ou seja, o ensino aparece como instrumento para o conhecimento e também para a transformação da sociedade e do mundo. 
Este é o potencial e o caráter revolucionário da educação: 
O conhecimento é fonte de poder – a partir dele, é possível dominar com mais facilidade outra pessoa;
A realidade escolar, vista por meio da educação de classe, é semelhante à grande disparidade entre a classe empresarial e a classe trabalhadora.
Analisando a crítica de Marx à educação, é notória a semelhança da escola de então com a escola contemporânea. Essa realidade faz parte do cotidiano, porque vivemos em um sistema capitalista, no qual quem tem o conhecimento tem o poder.
 Em contrapartida, a classe trabalhadora, segundo Marx, deve buscar o direito à educação e, assim, deve atuar dentro e fora da escola, para que se transforme numa instituição que possa representar também os seus interesses. Diante disso, podemos analisar algumas questões. 
As escolas discutem, analisam e trabalham as diferenciações sociais?
Que comparações podem ser feitas, a partir das ideias de Marx e da realidade escolar? 
Como se comportam as escolas privadas, frente a algumas situações de classe (social)?
O espaço da aprendizagem é, também, um espaço de desigualdades, pois a escola, como instituição, é reprodutora das desigualdades sociais. A realidade que é vivida pelas escolas, como evasão escolar, repetência, ausência de vagas, deve ser refletida, tendo como referência a divisão de classes (dominante e dominada), característica do sistema capitalista, no qual ela está inserida. Marx assinala que a educação é peculiar no sentido de que:
[...] de um lado, é preciso que as circunstâncias sociais mudem para que se estabeleça um sistema adequado de educação, mas, de outro lado, é necessário um sistema educacional adequado para produzir-se a mudança das circunstâncias sociais (MARX citado por GOMES, 1994, p. 47).
Em outro momento, Marx afirma que a educação não possui suficiente força revolucionária. Em decorrência dessa concepção, ele considerou que a combinação de trabalho produtivo, educação mental, exercício físico e treinamento politécnico seriam muito importantes para a educação socialista. A abolição da divisão do trabalho, segundo Marx, requer a associação do trabalho manual e intelectual, de tal forma que a educação seria encarregada da preparação das pessoas para os novos papéis a elas destinados na sociedade socialista (GOMES, 1994, p. 48).
Atividade 2.
O pensador Karl Marx é considerado representante do paradigma do conflito por defender ideias de mudanças e transformações na sociedade. Em se tratando de suas teorias para o campo educacional, assinale as sentenças verdadeiras.
I. Durante o tempo em que viveu na Inglaterra (século XIX), seus trabalhos foram uma resposta aos sérios problemas da Revolução Industrial. 
II. II. Sua ótica sobre educação diz respeito a processos que contribuem para a formação e continuidade estável. 
III. III. Toda educação é de classe diferenciada: classe empresarial e trabalhadora.
IV. IV. Propunha uma sociedade em que os meios de produção fossem de toda a coletividade, com a distribuição igualitária de riqueza produzida.
 A alternativa que corresponde às assertivas verdadeiras é:
 a) II, III, IV b) I, II, IV 
 
 c) I, III, IV d) I, II, III
 Em uma sociedade globalizada em que grande parcela da população se encontra fora do mercado de consumo, consequentemente, vive à margem, no chamado mercado informal, por sua vez, temos a escola cada vez mais ilhada das necessidades objetivas da comunidade. Assim “milhões de crianças caminham pela vida em situação de pobreza, abandono, sem acesso à educação, desnutridas, discriminadas, negligenciadas e vulneráveis. Para elas, a vida é uma luta diária pela sobrevivência” (UNICEF, 2003). 
O texto acima nos apresenta uma realidade que, de acordo com o pensamento marxista, evidencia uma sociedade: 
a) em que cada um de seus membros tem uma função social;
 b) dividida em classes sociais em que ocorre o processo de equilíbrio; 
c) dividida em classes, em que ocorre a exploração do homem pelo homem; 
d) composta por classes sociais, em que cada um desempenha seu papel.
3. O PENSAMENTO SOCIOLÓGICO DE BOURDIEU E FOUCAULT.
Pierre Bourdieu (1930) formado em Filosofia, apoiou-se nas fontes dos clássicos Durkheim, Weber e Karl Marx e teve a preocupação de trabalhar uma Sociologia voltada para a compreensão das complexidades das relações sociais e suas contradições.
3.1 Habitus e Campo 
Os conceitos de Habitus e de campos são básicos para compreender o pensamento de Bourdieu. A ação dos indivíduos é analisada em suas diversas situações. Habitus se refere a um sistema de disposições duradouras adquirido pelo indivíduo durante um processo de socialização, conforme destaca Bonnewitz (2003, p. 77).
 Segundo Corcuff (2001, p. 50), o Habitus se refere à “história feita corpo”, enquanto que campo se refere a“história feito coisa”. É importante refletir sobre esses conceitos, para perceber que nenhuma ação humana ocorre simplesmente por acaso, mas, sim, pelas várias situações desencadeadas tanto pela interiorização do exterior quanto da exteriorização do interior. 
A interiorização do exterior relaciona-se à forma como as pessoas assimilam a realidade em que estão inseridas. Se você tomar como exemplo o ambiente de trabalho com todas as relações sociais, organizações, processos e problemas que possam existir, talvez não compreenda exatamente, a principio, essa realidade.
Ao fazer parte de uma rotina de trabalho, mesmo sem se dar conta, você interioriza várias coisas que fazem parte dele. Por exemplo, você já conhece bem os colegas de trabalho, seus gostos (de certa forma), sua forma de se comportar, até mesmo no que diz respeito às disposições materiais ou físicas, onde passa a maior parte do tempo (no escritório, por exemplo). Se você refletir mais um pouquinho, sabe até mesmo o tom de voz de cada pessoa do setor em que você atua, inclusive quando está de mau humor ou quando está feliz. Você é capaz de identificar até mesmo quantas vezes o telefone toca e quem mais atende.
Em uma percepção mais ampla, conhece a cultura, a política da empresa, a ideologia, os problemas mais comuns e as formas mais utilizadas por seus colegas e superiores para solucionar os problemas e conflitos. Portanto, a interiorização do exterior significa incorporar o que você percebe cotidianamente, tais imprevistos repetidos passam a constituir o habitus.
Se as pessoas são capazes de interiorizar uma dada realidade, significa que existe algo, de certa forma, permanente e que permite orientar a ação. Assim, você tem uma estrutura já construída mentalmente, devido à capacidade de percepção das experiências vividas e repetidas.
No caso da exteriorização da interioridade da pessoa, você pode imaginar o oposto do que foi apresentado no exemplo anterior. A exteriorização parte do indivíduo, considerando o que ele pensa sobre o mundo, as coisas e as pessoas nas diversas realidades sociais. Se você pensa de uma determinada forma sobre como deve ser um ambiente de trabalho, vai procurar colocar em prática aquilo que pensa, isto é, vai exteriorizar aquilo que corresponde ao seu interior. 
Nas palavras de Corcuff,
O habitus, de certa forma, são as estruturas sociais de nossa subjetividade que se constituem inicialmente por meio de nossas experiências (habitus primário), e depois, de nossa vida adulta (habitus secundário). É a maneira como as estruturas sociais se imprimem em nossas cabeças e em nossos corpos, pela interiorização da exterioridade (CORCUFF, 2001, p. 51).
Para Bourdieu, o termo “estruturas sociais” significa exatamente a idéia de que tudo o que envolve as pessoas nas suas relações sociais pode ser percebido e estudado, porque forma uma base ou estrutura. Como vimos no exemplo anterior, em um ambiente de trabalho, tudo ocorre de maneira a se repetir. 
As coisas se formam ou acontecem quase sempre do mesmo jeito, devido à necessidade de padronização para permitir segurança. É que as pessoas exteriorizam aquilo que pensam e procuram tornar comum para terem o controle das situações. Há uma interiorização do exterior – quando você já sabe como funciona o dia-a-dia da empresa em que trabalha – e, por outro lado, há uma exteriorização do interior – quando você coloca em prática aquilo que pensa e tenta ser compreendido e aceito. 
A noção de campos, segundo Bourdieu, refere-se exatamente à forma como se constituem a exteriorização da interioridade. 
Conforme acentua Corcuff (2001, p. 5), “O campo é uma esfera da vida social que se autonomizou progressivamente por meio da história, em torno de relações sociais, de conteúdo e de recursos próprios, diferentes dos de outros campos”. 
Quando você ouve falar em campo político, campo econômico, campo artístico, entre outros, pode perceber o que Bourdieu quer dizer com a noção de campos e de Habitus. Cada campo, na perspectiva bourdieusiana, é marcado por uma distribuição desigual de forças - os dominantes e os dominados. 
Nessa concepção, percebe-se a influência marxista na abordagem de Bourdieu. Esse teórico vai além de Marx, ao conceber a existência de diferentes mecanismos específicos de capitalização. Assim temos: o capital cultural, político, econômico, educacional, entre outros. 
Nesse sentido, o capitalismo, para Bourdieu, não se refere apenas ao campo econômico, mas abrange todos os aspectos da vida em sociedade. Quando se fala em ideias ou ideologia capitalista, está se referindo à maneira de o capitalismo se apresentar e obter sua hegemonia, o que se dá, inclusive, a partir de elementos simbólicos.
3.2 A Violência Simbólica
Os estudos de Bourdieu, além da ideia de habitus e de campos, têm, no conceito de violência simbólica, uma importante referência para se compreender também a sociedade capitalista e suas formas de reprodução. A partir da compreensão marxista de que a sociedade é dividida em classes e, portanto, um ambiente de constantes lutas e de conflitos, Bourdieu percebe a sociedade capitalista marcada por profundas desigualdades. Por outro lado, esse autor não deixa de beber na fonte weberiana, “compreendendo que a realidade social é também um conjunto de relações de sentido, que ela tem, então, uma dimensão simbólica” (CORCUFF, 2001, p. 53). 
Para compreensão do significado de violência simbólica, Bourdieu distingue dois tipos de violência: a física e a simbólica. A primeira é exercida pela força física – bater em uma criança ataque de policiais com cacetetes, entre outros. 
A segunda, a simbólica, significa repassar para as pessoas e grupos sociais valores que devem ser seguidos, caso contrário, serão punidos. A violência simbólica também é repassada ideologicamente quando são incutidas nas pessoas ou na sociedade normas, valores que devem ser seguidos por serem “os melhores”, quando na maioria das vezes não correspondem ao que expressam. Ex.: Ouvimos ou lemos constantemente, por meio da mídia e outros meios de comunicação, que a “escola é igual para todos”. Na realidade, é diferenciada conforme a classe social. 
A dimensão simbólica para Bourdieu tem a ver com as maneiras de pensar formas de dominação social. É importante perceber que Bourdieu tem a compreensão de que a sociedade é dividida em classes, isto é, em dominantes e dominados. 
Nesse caso, na sociedade apresentam-se diferentes campos, o campo do poder, formado pela luta entre os detentores de poder e os não detentores de poder. Bourdieu trabalha com a noção de violência simbólica, o que implica, conforme vimos, formas de dominação legitimadas pela maioria da sociedade. 
As ideias repassadas, mesmo podendo ser negativas, não são vistas dessa forma pelas pessoas, pois o principio da violência simbólica se dá pelo reconhecimento e desconhecimento da realidade. Para Bourdieu, citado por Bonnewitz (2003, p. 99),
a violência simbólica é uma forma de violência que se exerce sobre um agente social com a sua cumplicidade... Para dizer isso mais rigorosamente, os agentes sociais são agentes cognoscentes que, mesmo quando submetidos a determinismos, contribuem para produzir a eficácia daquilo que os determina, na medida em que eles estruturam aquilo que os determina. E é quase sempre nos ajustes entre os determinantes e as categorias de percepção que os constituem como tais que o efeito de dominação surge.
Existem diversos tipos de situações na sociedade que são exemplos da violência simbólica. Se você tomar como exemplo uma empregada doméstica que trabalha em precárias condições e com salário muito baixo e aceita essa situação como normal, significa que introjetou uma forma de violência simbólica, por não se sentir sujeito de direitos garantidos por lei e, consequentemente, lutar por esses direitos.
 É comum na sociedade capitalista, na qual existe uma desigualdade social imensa e um processo de exclusão cada vez mais frequente, as pessoas se submeterem inclusive a situações de trabalho escravo, como acontece aindaem determinadas regiões do Brasil e, por incrível que possa parecer, quando alguns trabalhadores são procurados para falar sobre o caso, geralmente, não se veem como explorados. 
Ao estudar sobre os currículos escolares na sociedade capitalista, juntamente com Passeron, Bourdieu demonstra como a violência simbólica se faz presente no universo escolar. A partir da premissa de que a escola produz e reproduzem as desigualdades sociais, todo o sistema curricular no capitalismo é formado para atender a ideologia dominante.
 Poucos são os que acompanham as necessidades do capitalismo, pois o capital cultural, econômico e político falam mais alto. Se a maioria dos alunos não se inclui nas novas necessidades do mercado, logo são excluídos do processo, ficando poucos que detêm o saber ocupando os melhores cargos, sem contar com os apadrinhamentos e os sistemas de corrupção. 
As realidades sociais que demonstram situações como desemprego, discriminação, humilhação, pobreza, entre outras, são vistas como algo natural, como se não fossem fruto de todo um processo histórico, político, ideológico, desencadeados a partir da luta desigual e injusta e de diferentes interesses. 
Se você analisar as histórias das diferentes sociedades, especialmente aquelas fruto de um processo de colonização, com pilhagem, escravismo, desrespeitos às culturas nativas, entre outras, perceberá como a violência simbólica se faz presente, além da violência física. 
As sociedades simples, consideradas atrasadas pelos colonizadores, como aquelas afastadas da sociedade industrializada, no caso os aborígines, os indígenas, foram saqueadas. Muitos foram extintos em nome da civilização e até da religião. Os astecas, os maias, no México e no Peru, foram massacrados e reduzidos numericamente, assim como várias nações indígenas brasileiras foram exterminadas.
3.3 Michel Foucault – aspectos centrais do seu pensamento.
O pensamento de Michel Foucault se faz influente pela sua característica particular em perceber o conhecimento, o saber e o poder. As contribuições desse teórico se mostram contrárias à interpretação da sociedade feita pelas concepções positivistas e marxistas. 
Na concepção de Foucault, os modelos ou paradigmas que se pautam em padronização e determinismo ignoram as diversas realidades que se apresentam, bem como impedem a compreensão maior dos diversos fenômenos sociais. 
Para Foucault, a sociedade moderna não é algo tão simples de se estudar, de modo que ideias e conceitos positivistas não são suficientes para se compreender a complexidade das relações sociais. Você viu que o Positivismo e o Funcionalismo têm como referência os modelos orgânicos na análise social, comparando a sociedade a um grande organismo vivo com suas partes interdependentes. 
A preocupação dos teóricos do Positivismo, por exemplo, é realizar uma análise objetiva da sociedade, de forma neutra e sem subjetividades. Por meio de um estudo denominado arqueológico, e partindo da problemática da constituição histórica dos saberes sobre os homens, Foucault tenta mostrar que, para se chegar ao conhecimento, não há um método universal. Produziu uma série de estudos que apontam para uma espécie de genealogia do sujeito moderno. 
3.4 As Relações de Poder
 Você já pensou sobre o que significa poder? Como se apresenta ou quais as formas de poder existentes? O que é preciso para se ter poder? Qual a relação entre poder e saber? 
Na concepção de Foucault, o poder está presente em toda parte, em todas as relações sociais. Para muitas pessoas, quando se refere ao poder, elas logo pensam nas instâncias políticas: representante político (presidente, governador, prefeito, legislativo). Para Foucault, o poder se faz presente nas mínimas relações sociais. 
Até mesmo entre duas pessoas. Essa concepção sobre as relações de poder tornou-se paradigma para análise contemporânea voltada para as nuances, as mínimas relações do dia-a-dia, contrariamente às análises totalitárias da sociedade, até então vigentes. 
A noção de poder, a partir de Foucault, tem uma forte ligação também com o saber ou os saberes, como ele costumava se referir. Da mesma forma que o poder, o saber também está em toda parte e não somente nas academias ou universidades em geral. Há, na verdade, na sua percepção, uma íntima relação entre saber e poder, uma vez que os que detêm certo tipo de saber, detêm também o poder. Isso é perceptível nas diversas situações sociais. 
Na análise de Foucault, o controle do saber e do poder apresenta-se, por exemplo: no jurídico, no Estado, nas organizações, nos hospitais, nas prisões, no corpo, na disciplina, entre outros. Os diferentes saberes se confrontam, afirmam-se, controlam, reagem. 
Na sociedade moderna, onde predomina a força do capital, o saber constitui-se uma forma de capitalização. Para Foucault (1986), a formação de saberes e o sistema de poder regulam as práticas sociais. O poder não é um objeto natural, uma coisa: é uma prática social. Todo saber é político, tem sua gênese nas relações de poder. 
O poder, por sua vez, deve ser analisado não nas formas legítimas, mas captado em suas extremidades, nas ramificações, em suas formas e instituições mais regionais e locais; não é tomado como um fenômeno de dominação maciço e homogêneo de um indivíduo sobre os outros. 
O poder deve ser analisado como algo que circula, funciona em cadeia, veiculado por cada um de nós, não é exclusivo das classes dominantes, nem tem origem no capitalismo, pois se faz presente historicamente em outros sistemas sociais.
 De acordo com Stuart Hall (1999, p. 42), Foucault destaca um novo tipo de poder, o “poder disciplinar”, que se desdobra ao longo do século XIX, chegando ao seu desenvolvimento máximo no início do presente século.
Esse poder disciplinar está preocupado, em primeiro lugar, com a regulação, a vigilância. Vai desde o governo da espécie humana ou de populações inteiras até o indivíduo e ao seu corpo. Seus locais são aquelas instituições que se desenvolveram ao longo do século XIX e que “policiam” e disciplinam as populações modernas - oficinas, quartéis, escolas, prisões, hospitais, clínicas e assim por diante. 
Seu objetivo básico consiste em produzir um ser humano que possa ser tratado como um corpo dócil, facilitando, assim, as relações de dominação que atingem toda a realidade social, penetrando com sutileza na vida cotidiana. Foucault desconstrói a concepção de poder apenas como algo negativo, repressivo e destrutivo. 
É uma relação de poder que não atua do exterior, mas trabalha o corpo dos homens, manipulando seus elementos, produz seu comportamento, enfim, fabrica o tipo de homem necessário ao funcionamento e manutenção da sociedade industrial capitalista. 
3.5 O Poder Disciplinar 
Os estudos realizados por Foucault abrangem uma variedade de assuntos e situações. Esse autor realizou pesquisas sobre a medicina, o nascimento da clínica, em presídios, além de fazer um apanhado histórico de como os saberes foram se constituindo ao longo do tempo. 
De forma geral, sua obra demonstra o poder nos variados aspectos. Uma das formas de poder para a qual Foucault chama a atenção na sociedade moderna é o que ele denomina de poder disciplinar.
 Essa forma de poder é muito presente até mesmo nas fábricas, nas escolas, nas igrejas, nos presídios, nos hospitais, etc. Em uma de suas obras significativas sobre o tema, Vigiar e punir, o autor analisa as relações de poder na sociedade. 
Outro estudo importante realizado por Foucault foi sobre a loucura, mais precisamente sobre a concepção de loucura desenvolvida na sociedade moderna. A loucura está associada à maneira como o saber e o poder se fizeram presentes para disciplinar os indivíduos. 
O pensamento de Bourdieu e de Michel Foucault tem sua relevância para analisar a sociedade atual, especialmente por não se prender a modelos rígidos e determinantes. As concepções de Poder e de Poder disciplinar são importantes, para que se perceba a política por vários ângulos. Por outro lado, os conceitos de Habitus, de campo e de violênciasimbólica, em Bourdieu, trouxeram novas perspectivas de análises sociológicas para que possamos compreender as diferentes formas de dominação presentes nos dias atuais, principalmente por meio da educação, da mídia e das instituições e organizações sociais modernas. 
Atividade 3 
O que significam Habitus e Campo para Bourdieu? Dê exemplos com base na realidade e justifique sua resposta. 
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Para Bourdieu, o que é violência simbólica e como se apresenta na sociedade? Argumente com exemplos.
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
 Conforme o pensamento de Foucault, o poder está presente:
 a) somente na esfera do Estado 
b) somente na sociedade civil 
c) em todas as relações sociais
 d) somente na sociedade industrial 
4. Um dos conceitos fundamentais utilizados por Foucault trata do poder disciplinar. Esse tipo de poder está preocupado, em primeiro lugar, com: 
a) vigilância e a regulação
 b) o indivíduo e a vigilância
 c) o cidadão e a regulação
 d) o grupo e a vigilância
4. NEOLIBERALISMO E EDUCAÇÃO
O Neoliberalismo tem como objetivo principal a conquista do mercado. A burguesia, no controle das grandes empresas, utiliza o avanço científico e tecnológico para modernizar as formas de produção, gerando, como efeito secundário, desemprego. 
Por outro lado, os trabalhadores organizados, no período de 1946 a 1970, souberam exigir do Estado um conjunto de leis para inibir a exploração do trabalho, alcançando toda uma série de direitos sociais. 
Em decorrência disso e para suprir as reivindicações da classe trabalhadora, prosperou o Estado do Bem-Estar Social.
 Nas duas últimas décadas do século XX, as novas crises econômicas fizeram com que os teóricos da globalização conservadora ressuscitassem as velhas ideias do século XIX, que pregavam não ser papel do Estado redistribuir a riqueza para garantir a seguridade social. 
O Neoliberalismo busca se fortalecer como uma doutrina econômica e política que defende o mercado acima do Estado, com as funções sociais do Estado reduzidas, com políticas de privatização das empresas estatais e das instituições sociais, como previdência social, escolarização e saúde (MEKSENAS, 2003).
 A economia se torna uma ciência que legitima o comportamento humano; a crise do Estado benfeitor e a queda do socialismo são sinais evidentes de que qualquer intervenção estatal no mercado, ainda que motivada pela vontade política, é inútil. 
Isso tudo acarreta consequências: redução da intervenção do Estado, privatização das empresas estatais, abertura para o mercado internacional. O Neoliberalismo justifica seus efeitos negativos (maior empobrecimento, desigualdade social e exclusão social) como efeitos “não desejados”, porém inevitáveis na conquista do crescimento econômico da sociedade.
A Influência Neoliberal na Educação
 Conforme Marrach (1996), o fenômeno neoliberal concebe a educação da seguinte maneira: qualidade total, modernização da escola, adequação do ensino à competitividade do mercado internacional, nova vocacionalização, incorporação das técnicas e linguagens da informática e da comunicação, abertura da universidade aos financiamentos empresariais, pesquisas práticas, utilitárias, produtividade. Essas são as palavras de ordem do discurso neoliberal para a educação.
 O Neoliberalismo atribui um papel estratégico à educação, determinando basicamente três objetivos:
 • atrelar a educação escolar à preparação para o trabalho e a pesquisa acadêmica ao imperativo do mercado ou às necessidades da livre iniciativa. Assegurar que o mundo empresarial tenha interesse na educação que lhe garante uma força de trabalho qualificada, apta para a competição no mercado nacional e internacional; 
• tornar a escola um meio de transmissão ideológica com a construção de uma visão de mundo e de uma realidade simbólica. Na sociedade em que vivemos hoje, a função de construir essa realidade é, em grande parte, preenchida pelos meios de comunicação de massa, e a escola desempenha o papel de reprodutora da ideologia dominante;
 • fazer da escola um mercado para os produtos da indústria cultural e da informática. Dessa forma, o Neoliberalismo objetiva não só a privatização, mas a adequação da escola aos mecanismos de mercado, de modo que a escola funcione à semelhança do mercado. Para os neoliberais, a educação deve obedecer somente às regras de mercado. Sua defesa é o fim das escolas públicas, gratuitas e mantidas pelo Estado, entendendo que cada indivíduo é responsável pelas suas conquistas. 
Por isso, o objetivo neoliberal é a existência de uma sociedade com ensino privado e pago em todos os níveis: desde a pré-escola até a universidade. E qual seria a tarefa do Estado para os neoliberais? Ao Estado caberia subsidiar a educação dos mais pobres, por meio de bolsas em escolas particulares ou empréstimos aos estudantes. 
Para tais fins, existem instituições internacionais que defendem essa política neoliberal, como o Banco Mundial (BIRD) impondo suas regras. Como a escola é concebida no cenário da educação liberal? 
A escola torna-se uma espécie de microempresa, ou seja, deve funcionar estimulando a competitividade entre alunos e professores; não deve depender de recursos do Estado; além disso, deve contar com o funcionamento privado, com a ajuda da comunidade ou de voluntários. 
Veja como é a escola para o Neoliberalismo: os alunos devem ser bons consumidores e negociantes, bem como ter um estímulo à iniciativa individual. Já os professores assumem a tarefa de gerentes de área, e os diretores, meros administradores de empresas. Daí percebe-se que essas tarefas obedecem tão somente às regras de mercado determinadas pelo projeto neoliberal.
ATIVIDADE 4.
Atente para o texto a seguir e assinale a alternativa CORRETA. “Para os neoliberais, a educação como qualquer atividade da vida social deve obedecer somente às regras de mercado. Isto é, defendem o fim das escolas públicas, gratuitas e mantidas pelo Estado, pois entendem que cada indivíduo deveser responsável pelas suas conquistas” (MEKSENAS, 2003).
Assim, teríamos uma sociedade:
 a) com ensino privado e pago em todos os níveis: da pré-escola à universidade. 
b) que tenha apenas subsídios educacionais equivalentes. 
c) com ações beneficentes capazes de gerar empréstimos. 
d) em que as grandes corporações bancárias proporcionariam uma educação gratuita para todos.
Reflita e apresente um texto, em que você aponte quais os efeitos do Neoliberalismo na educação. 
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
5. MAX WEBER: AÇÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E BUROCRACIA.
Max Weber acreditava firmemente nos ideais democráticos e buscava caminhos que libertassem o homem da cristalização da democracia. Para Max Weber, o objeto da Sociologia é a ação social, isto é, toda ação que o indivíduo pratica orientando-se pela ação de outros. Para entendermos melhor, vamos a um exemplo próximo de nós, citado por Tomazi (2000, p.19). 
O eleitor define seu voto orientado pela ação dos demais eleitores. Ou seja, temos a ação de um indivíduo, mas essa ação só é compreensível se percebermos que a escolha feita por ele tem como referência o conjunto dos demais eleitores.
Assim, segundo Weber, só vão ocorrer relações sociais no momento que se estabelecer uma relação significativa, isto é, algum tipo de sentido entre várias ações sociais.
 A ação social só vai existir quando o indivíduo tentar estabelecer algum tipo de comunicação, a partir de suas ações, com os demais. Mas podemos perguntar: qual o momento em que não ocorre a ação social? Esse momento se dá quando, por exemplo, dois ciclistas andam na mesma rodovia em sentidos opostos. 
O simples choque entre eles não é uma ação social. Porém a tentativa de se desviarem um do outro já pode ser considerada uma ação social, uma vez que o ato de desviar-se para um lado já indica para o outro a intenção de evitar o choque, esperando uma ação semelhante como resposta (TOMAZI, 2000, p.19). 
Weber estabelece diferentes tipos de ação social, agrupando-os de acordo com o modo pelo qual os indivíduos orientam suas ações: • ação social tradicional – ação determinada por um costume ou um hábito arraigado. Exemplo: um estudante de um determinado curso, como o de Medicina, segue a tradição da família de exercer a medicina e, para não fugir à regra, resolve fazer esse curso; 
• ação social afetiva – ação determinada por afetos ou estados emocionais. Exemplo: o ato de uma pessoa presentear outra, movida por um sentimento de amizade;
 • ação social racional com relação a valores – ação determinada pela crença consciente em um valor considerado importante, independentemente do êxito desse valor na realidade. Exemplo: fazer um curso, pois o que interessa é o fato de a pessoa considerar importante algo para a sua vida; 
• ação social racional com relação a fins – ação determinada pelo cálculo racional que estabelece fins e organiza os meios necessários. Exemplo: fazer um determinado curso, colocando em primeiro plano essa finalidade, tudo o que a pessoa fizer está voltada para tal.
 Max Weber encara a Sociologia como ciência interpretativa, que investiga valores, embora nem por isso deva estabelecer normas e ideais. Assim, diferencia-se de Durkheim por não enfatizar normas sociais, e de Karl Marx por não propor a formação de uma sociedade ideal. Destacamos em sua obra conceitos relevantes como burocracia, autoridade, estratificação social, que podem ser utilizados na análise de questões educacionais. 
Max Weber não analisa especificamente a educação. Outros teóricos contemporâneos se detêm em estudar a escola, inspirados nas teorias de Weber, observando que existem temas que podem ser explorados, tais como a organização.
 Desses trabalhos destacamos – A Escola e sua organização, de Ivor Morrish. Nessa pesquisa, o autor indica o trabalho de Weber que trata de autoridade e burocracia. Para Weber, a autoridade é uma forma particular de poder. 
Ela é definida e sustentada pelas normas do sistema social e, de modo geral, aceita como legítima pelos que dela participam. Como tal, a maioria das formas de autoridade está ligada não a indivíduos, mas às posições – status – que eles ocupam em sistemas sociais. Os tipos de autoridade podem ser:
• legal-racional – hierarquia organizada; 
• tradicional – autoridade herdada (parentesco);
 • carismática – qualidades individuais e pessoais. A burocracia, por sua vez, é um tipo de organização baseada na autoridade legal, isto é, uma forma de autoridade legitimada pela crença na supremaciada lei. 
Atualmente, esse termo designa o governo de uma casta (tipo de classe social, comum na Índia) de altos funcionários ou burocratas. Nas sociedades contemporâneas, inúmeras organizações têm caráter burocrático, como os sistemas escolares, hospitais, empresas, órgãos governamentais. 
A escola, como instituição, possui estruturas hierárquicas. A escola, como organização, pode ser tão variada quanto as personalidades que a compõem. Contudo é uma forma de burocracia com autoridade, baseada em uma hierarquia que pode controlar por meio da força, da recompensa, da punição, da persuasão, da coesão ou da autodisciplina.
 A partir da concepção de Max Weber, podemos fazer alguns questionamentos relativos à escola de nosso tempo: como se dá a autoridade na unidade escolar? Que critérios são utilizados na escola quando se trata da burocracia? De que maneira os educadores lidam com a questão da hierarquia na escola?
ATIVIDADE 5
Que importância e significado tem a teoria da burocracia weberiana para a educação atual?
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Verifique nas práticas escolares se a burocracia (conforme Weber) está a serviço da eficiência e eficácia das finalidades da educação ou se está servindo para dificultar as atividades educacionais.
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Quando nos deparamos com o estudo da Sociologia, encontramos as várias correntes de pensamento que servem de referência para o entendimento dessa ciência. Nesse sentido, no pensamento de Max Weber, um de seus conceitos é: 
a) A solidariedade social de tipologia mecânica
 b) A burocracia 
c) A alienação 
d) A anomia
Referências
BONNEWITZ, P. Primeiras lições sobre a sociologia de P. Bourdieu. Petrópolis: Vozes, 2003.
CORCUFF, P. As novas sociologias: construções da realidade social. Bauru, SP: Edusc, 2001
CHÂTELET, F. História das idéias políticas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. COSTA, C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2002.
. FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 6. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1986. HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 3. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.
 FERREIRA, D. Manual de Sociologia. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003. HUBERMAN, L. História da riqueza do homem. 21. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. 
GOMES, Cândido Alberto. A Educação em perspectiva sociológica. 3.ed. rev. e ampl. São Paulo: EPU, 1994. 
LAKATOS, E. M. Sociologia geral. São Paulo: Atlas, 2000. OLIVEIRA, P. S. de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática, 2001. TOMAZI, N. D. Iniciação à Sociologia. São Paulo: Atual, 2000. 
TOMAZI, Nelson Dacio. Iniciação à Sociologia. 2.ed. ver. e ampliada. São Paulo: Atual, 2000. MORRISH, Ivor. Sociologia da educação. São Paulo: Zahar, 1973.
VICENTINO, C.; DORIGO, G. História geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2001.

Outros materiais