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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO GUARULHOS – SP SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 4 2 FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO ............................................. 5 3 AS ORIGENS DA SOCIOLOGIA .............................................................................. 9 3.1 A formação da sociologia e a identificação de seus objetos.................................. 9 3.2 A realidade e a perspectiva sociológica .............................................................. 17 3.3 Ciências naturais e sociologia: o trabalho de Spencer na legitimação do campo sociológico… ............................................................................................................. 22 4 A SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA .......................................................................... 25 4.1 Compreendendo o conceito de sociologia ........................................................... 25 4.2 O percurso histórico do surgimento da sociologia ............................................... 26 4.3 Características da sociologia como ciência ......................................................... 29 5 AS FUNÇÕES DA SOCIOLOGIA ........................................................................... 31 5.1 Os pensadores da Sociologia e suas ideias ........................................................ 33 5.2 Metodologias na pesquisa sociológica ................................................................ 35 6 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ................................................................................... 37 6.1 Divisão de classes ............................................................................................... 37 6.2 As mudanças no mundo do trabalho ................................................................... 38 6.3 O sentido do trabalho .......................................................................................... 39 7 A VISÃO DE SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO EM ÉMILE DURKHEIM .................. 40 7.1 Características apresentadas pelos Fatos Sociais .............................................. 42 7.2 Reconhecimento do Fato Social .......................................................................... 44 7.3 O Processo Educativo e a Socialização do Indivíduo ......................................... 46 7.4 O homem é determinado pela sociedade ou o homem determina a sociedade? 47 8 O PENSAMENTO DE KARL MARX E SUA RELAÇÃO COM A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO .............................................................................................................. 47 8.1 As Formas de Consciência no Mundo da Produção ........................................... 50 9 A NOVA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO E SUA IMPLICAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO .............................................................................................................. 55 9.1 O surgimento da nova sociologia da educação ................................................... 55 9.2 As principais contribuições da nova sociologia da educação .............................. 56 9.3 Michael Young e a nova sociologia da educação no Reino Unido ...................... 57 9.4 Michael Apple e a nova sociologia da educação nos Estados Unidos ................ 57 9.5 Pierre Bourdieu e a nova sociologia da educação na França ............................. 58 10 EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA SOCIAL .............................................................. 61 11 EDUCAÇÃO, CULTURA E CIDADANIA............................................................... 65 12 RELAÇÕES ENTRE DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE PAULO FREIRE ..................................................................................................................... 76 12.1 Democracia, Educação e as Relações na Humanização Humana .................... 76 13 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 87 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO A Sociologia surge do movimento de pensar e questionar a realidade social, no momento em que a vida da sociedade europeia do final do século XVIII está marcada pela desagregação de seus valores e de suas crenças tradicionais, em consequência das transformações produzidas pela constituição da modernidade, baseada no primado da razão como meio de interpretação dessa realidade. A Sociologia é uma ciência que nasce da contradição entre o novo e o velho; entre, de um lado, a ênfase no desenvolvimento do progresso – proporcionado pelo avanço das ciências naturais e a consequente introdução de inovações tecnológicas, fundamentais à consolidação do capitalismo, com o crescimento industrial resultante das mudanças significativas no modo de produção e de consumo, na composição do mercado de trabalho e nas relações de trabalho e de produção – e, de outro lado, a tentativa de restabelecimento da ordem social, subvertida em seus valores fundamentais (PILETTI , N.; PRAXEDES, W., 2010). A Sociologia como ciência surgiu no século XIX, momento de desenvolvimento do método científico em outros setores do conhecimento humano. Ela tinha como preocupação aplicar o ponto de vista científico à observação e à explicação dos fenômenos sociais e buscou compreender as transformações sociais provocadas pelas Revoluções Industrial e Francesa. A Sociologia parte da noção de que a vida humana em sociedade está sujeita a uma ordem social e procura compreender as regularidades e as leis que regem as relações entre os homens. Papel inicial da Sociologia Sob inspiração das ciências da natureza, concebia-se que o conhecimento científico nas ciências sociais deveria dar aos homens o controle de sua sociedade e de sua história assim como a física e a química lhes possibilitaram o controle das forças naturais. Os pioneiros e fundadores da Sociologia aspiravam também fazer do conhecimento sociológico um instrumento de ação e pretendiam modificar a própria sociedade em que viviam. 6 A constituição da Sociologia como ciência Desde a sua criação, a Sociologia preocupa-se com a definição do seu objeto de pesquisa e os métodos de análise para não se confundir com o senso comum. A Sociologia como ciência utiliza-se de pesquisas quantitativas, levantamento de dados empíricos e técnicas de observação da realidade. Análise consistente do material, que possibilite a outros pesquisadores a reprodução e a validação dos mesmos resultados. Os precursores da Sociologia Embora não seja possível um único indivíduo fundar um campo inteiro de estudo, havendo muitos colaboradores no pensamento sociológico, atribui-se especial proeminência a AugustoComte (1798-1857). Para Comte, o papel da Sociologia seria explicar as leis do mundo social, assim como as ciências da natureza explicam o mundo físico. Comte formulou a lei dos três estágios do conhecimento humano: o teológico, o metafísico e o positivo. A lei dos três estágios de Augusto Comte Estágio teológico: o pensamento humano era guiado por ideias religiosas e pela crença de que a sociedade era expressão da vontade divina. Estágio metafísico: se desenvolveu no período da Renascença, em que a sociedade passou a ser vista em termos naturais e não sobrenaturais. Estágio positivo: anunciado pelas descobertas de Galileu e Newton, conduziu ao estímulo da aplicação de técnicas científicas para a compreensão do mundo social. A sociologia é vista como a última ciência a se desenvolver por ser a mais complexa de todas as ciências (PILETTI , N.; PRAXEDES, W., 2010). 7 A institucionalização da Sociologia Émile Durkheim (1858-1917) foi um dos precursores da Sociologia como ciência. Foi influenciado pelo pensamento de Augusto Comte, porém considerava suas ideias especulativas demais. Durkheim procurou dar uma base empírica para o conhecimento sociológico. Para Durkheim, o princípio básico da Sociologia era “estudar os fenômenos como coisas”. Com isso queria dizer que a vida social pode ser analisada de forma tão rigorosa quanto os objetos ou fenômenos da natureza. Para Durkheim, as sociedades têm uma realidade própria – a sociedade é mais do que ações e interesses de seus membros individuais. A Sociologia, como ciência, passou a ocupar um espaço na universidade em 1887, quando Émile Durkheim passou a lecionar na Universidade de Bourdeux e criou a primeira cátedra desta ciência na França. Em 1902, Durkheim transferiu-se para a Universidade Sorbonne, em Paris, onde contribuiu para a formação de inúmeros cientistas sociais reunidos em um grupo que ficou conhecido como Escola Francesa de Sociologia. A constituição da Sociologia como ciência Wright Mills (2009), no texto “A promessa”, afirmou que os seres humanos envolvidos na vida cotidiana tendem a ter uma visão limitada dos horizontes sociais, pois sua visão de mundo social se encontra restrita aos ambientes mais próximos. A sociologia é uma ciência que adota um olhar mais amplo sobre o mundo social e, dessa forma, permite aos seres humanos compreenderem a relação entre suas vidas individuais com os contextos sociais mais amplos. Segundo Giddens (2012), sob a perspectiva prática, a Sociologia permite a compreensão das diferenças culturais entre os grupos sociais. Permite uma análise precisa dos resultados das ações políticas e possibilita que os indivíduos tenham uma maior autocompreensão do seu papel na sociedade. Portanto... A Sociologia é uma ciência que surge no século XIX em um contexto de transformações históricas profundas na sociedade europeia e tem como objeto de 8 estudo o homem e suas interações sociais. Seus precursores foram Augusto Comte e Émile Durkheim. A educação em perspectiva sociológica A educação é um objeto privilegiado da Sociologia. O ato de educar é concebido, ao mesmo tempo, a base da conservação da ordem e o esteio de suas mais radicais transformações. (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 11). Questões sociais como: que tipo de educação deve existir? Quais são os conhecimentos que o sistema educacional deve garantir a todos os cidadãos? A educação das classes dominantes deve ser igual à educação dos segmentos pobres da população? Como garantir essa igualdade? Percebe-se que os temas que permeiam o debate na área educacional são os mesmos presentes no debate político e social contemporâneo, evidenciando a estreita ligação entre os problemas da sociedade e os problemas da educação. Tendências no desenvolvimento da sociologia da educação Ao analisar o desenvolvimento dos estudos sociológicos sobre educação, Antônio Cândido identifica diversos focos sobre os quais a educação pode ser estudada na Sociologia: a) A primeira é sobretudo uma reflexão sobre o caráter social do processo educativo, seu significado como sistema de valores e sua relação com as concepções e as teorias do homem. Nessa perspectiva, a educação é vista como processo de socialização do indivíduo para a vida em sociedade. Esse é o ponto de partida da análise de Émile Durkheim. b) A linha pedagógico-sociológica desenvolveu-se, principalmente, nos Estados Unidos, onde procurou efetuar o estudo dos aspectos sociais da educação a fim de obter o bom funcionamento da escola. Seu foco é o estudo dos grupos sociais, formas de interação, a relação da escola com a comunidade, entre outros. Essa concepção tem como pano de fundo o “culto à eficiência” escolar. A sociologia é 9 concebida como componente da pedagogia e da administração escolar. Essa área tem sido cultivada por educadores como ramo da ciência da educação. c) A terceira linha é devida a sociólogos ou a educadores de orientação sociológica, que veem a sociologia educacional como ramo da sociologia, não da ciência da educação. Preocupa-se com a função social da educação e com a solução dos problemas educacionais. Fonte: www.brasilescola.uol.com.br 3 AS ORIGENS DA SOCIOLOGIA 3.1 A formação da sociologia e a identificação de seus objetos As reflexões sobre o comportamento humano sempre estiveram presentes em sociedades e comunidades ao redor do mundo e ao longo do tempo, em épocas e configurações sociais distintas. As pinturas rupestres feitas em cavernas e elaboradas por hominídeos expressavam as formas de organização dos grupos 10 sociais que surgiam, as caças, os perigos vividos, os espaços visitados, as viagens empreendidas. As representações pictóricas podem datar do período Paleolítico, que se estendeu da origem do homem até 10.000 a.C. Ou seja, o desejo de expressar, gravar e compreender a história humana está presente entre indivíduos desde os primórdios das organizações sociais mais elementares. É possível que a identificação do indivíduo como parte de um grupo seja um fator preponderante para a inclinação à reflexão a respeito dos contextos em que o grupo se insere. A expressão livre dos laços entre humanos deu espaço à reflexão, elaborada pelos filósofos da Antiguidade Clássica, sobre a pureza, a moral e a função de cada comportamento. Esse tipo de pensamento norteou as leituras sobre interações sociais até meados do século XVIII. O Iluminismo, também chamado de Século das Luzes, trouxe novas possibilidades de interpretação da natureza do comportamento humano. Nesse período, passa-se a considerar a complexidade das relações humanas, normalmente baseadas na estrutura de organização política do Estado. Mas são as rápidas transformações decorrentes da Revolução Industrial as responsáveis pelo grande interesse em medir, projetar e identificar formas de relações e comportamentos sociais. Devido à Revolução, se altera o modo de produção, consumo e organização social e política. E isso tem um motivo: o caos e os desequilíbrios sociais, desencadeados por situações nunca antes conhecidas. Por isso, pensadores passaram a observar os comportamentos sociais em busca de uma resposta para as transformações que se sucediam. (MARTINS, J. S; ECKERT, C; NOVAES, S. C; 2005). As dinâmicas sociais passaram a ser foco não apenas de observação, mas de estudo. Por que essas dinâmicas acontecem da forma como acontecem? Quais são os elementos que incidem sobre as organizações sociais? Quais elementos as tornam estáveis, lineares, ou quais incitam o desejo por ruptura, por revoluções? E, para os pensadores cujos trabalhos deram origem à sociologia, a questão preponderante era: como reorganizar ou reestabelecer as sociedades após o caos? Esses são algunsdos questionamentos que nortearam a definição de metodologias para a observação e a análise de dinâmicas sociais e que culminaram na delimitação de um campo científico específico, a sociologia. A ciência das relações 11 sociais nasce com o estigma de pousar o olhar sobre um objeto instável, abstrato, difícil de ser controlado. Por isso, alguns autores que analisaram brilhantemente seus contextos sociais e históricos tiveram seus estudos utilizados como base para a construção da sociologia como campo científico, e seus métodos foram considerados integrantes do aporte que deu origem a essa área de estudo. Entre eles, destacam-se Auguste Comte, Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber. Desses autores, apenas Karl Marx não define claramente etapas ou métodos de análise e interpretação de interações sociais com o objetivo de criar uma abordagem científica a ser retomada por futuros pesquisadores. Mas a forma de organização de sua leitura sobre as estruturas sociais oferece tantos dados para o fortalecimento da sociologia como ciência que sua obra se equipara, nesse sentido, às dos outros três estudiosos. (SILVA, 2005). A seguir, você vai conhecer melhor a contribuição de cada um deles para o estabelecimento e o fortalecimento da sociologia como campo científico. Tenha em mente que, com exceção de Durkheim e Weber, os autores mais importantes para a formação das teorias sociológicas clássicas não faziam parte da mesma geração e analisavam contextos sociais, políticos e históricos distintos. Auguste Comte (1798–1857) O francês Auguste Comte inicia seus estudos na Escola Politécnica ainda adolescente, mas há uma pausa entre o início de seus estudos e a sua conclusão. Tal pausa foi causada pelo fechamento temporário da Escola e depois por sua expulsão. Após concluir os estudos, ele vive uma grave crise psicológico-emocional e se afasta da pesquisa por algum tempo. Sua primeira obra, Plano de Trabalho Científico para Reorganizar a Sociedade, realizada em 1822, demonstra como imaginava recompor a sociedade num período de intensas rupturas, em que a Europa vivia alternâncias de poder entre regimes despóticos e revoluções. Comte foi secretário e amigo do Conde de Saint-Simon, nobre francês teórico do socialismo utópico. Contudo, rompeu com o Conde após alguns anos, por não considerar definitivas as suas teorias sobre as organizações sociais. O positivismo comtiano define os parâmetros empíricos para a observação das dinâmicas sociais. Além disso, é a teoria que define o objeto sociológico como elemento próprio da ciência. 12 Para Comte, se existiam leis que regiam as ciências naturais, também existiam leis que regiam os objetos sociais. Para conhecê-las, as etapas empíricas da observação à comparação deveriam ser respeitadas. Foi Comte o teórico que definiu o termo “sociologia”. (SILVA, 2005). Fonte: www.tomlivre/auguste-comte.br Karl Marx (1818–1883) De origem judaica, o alemão Karl Marx estudou direito, filosofia e história, concluindo o doutorado ainda bem jovem, aos 23 anos. Voltado à filosofia hegeliana, o jovem Marx escrevia artigos jornalísticos que questionavam a organização política alemã e enfatizavam o aporte democrático. Por isso, foi expulso e se mudou para a França, onde conheceu Engels. Seu posicionamento político o levou a ser expulso também da França, então ele foi para a Inglaterra, onde permaneceu até a sua morte. O primeiro trabalho em que aparece sua marca metodológica mais importante para a sociologia, o materialismo histórico, é O Manifesto do Partido Comunista, escrito em parceria com Friedrich Engels, em 1848. O materialismo histórico é uma teoria que entende que as relações entre a produção e o consumo 13 de mercadorias é o que determina as estruturas e organizações sociais. Por isso, as grandes transformações históricas foram pautadas pela alteração na forma de produção, do feudalismo para o mercantilismo e depois para o capitalismo. Para Marx, o capitalismo causaria tensões ininterruptas entre as classes, trabalhadores e burgueses, e essas tensões levariam à tomada de poder pelos trabalhadores, que colapsariam o sistema e estabeleceriam o comunismo. Para o autor, a marcha para o comunismo era inevitável, por isso o materialismo histórico possui um viés determinista. (SILVA, 2005). Fonte: www.jornal.usp.br Émile Durkheim (1858–1917) O francês Émile Durkheim também tinha origem judaica, mas declarava não praticar nenhuma religião. Assim como Marx, estudou filosofia, porém seus trabalhos se voltavam inteiramente à definição das metodologias de pesquisas e aportes técnicos da sociologia. Sua carreira acadêmica se inicia com estudos voltados para a ciência da educação. Criador da chamada “escola de sociologia francesa”, Durkheim foi o primeiro acadêmico a ocupar a cátedra de ciências sociais na Universidade de Sorbonne. Durkheim dialoga em seus trabalhos com Comte e Marx, mas tem um alinhamento maior com as teorias positivistas. Ele compreende que a 14 sociologia tem objetos próprios e diferentes daqueles do direito, da filosofia e da economia. Mas, diferente de Comte, Durkheim não acreditava em leis sociais, e sim na determinação de métodos e etapas para a observação, a classificação e a comparação dos fenômenos sociais, o que constituiria a verdadeira ciência sociológica. A tipificação de comportamentos é um dos elementos usados pelo pensador para chegar à observação científica dos fenômenos sociais. (SILVA, 2005). Fonte: www. historiaonline.com.br Max Weber (1864–1920) O alemão Max Weber estudou história, economia e direito. Sua origem foi intelectualmente privilegiada, já que, como filho de um político do Partido Nacional Democrata alemão, pôde ter contato com estudiosos e intelectuais de seu tempo. Weber foi para os Estados Unidos durante a Primeira Guerra Mundial. Lá, passou a analisar aspectos de uma sociedade capitalista, comparando-os às estruturas tradicionais morais e culturais da Alemanha, cuja corrupção ou enfraquecimento 15 durante a República de Weimar o preocupava. Weber transcende o positivismo de Comte, o materialismo de Marx e o funcionalismo de Durkheim, mas admite as contribuições de cada um desses aportes, dialogando com seus teóricos em alguns trabalhos. O pensador alemão criou a chamada sociologia compreensiva, um método de análise que compreende as construções simbólicas de maneira subjetiva. Ou seja, é um método que admite que o aparato sistêmico de significação de fenômenos sociais é o que dá sentido à ação, e ele pode ser diferente em contextos sociais, políticos e históricos distintos. Por isso, Weber contraria o determinismo do materialismo histórico de Marx e a impossibilidade de transcendência das estruturas sociais de Durkheim. Para ele, o espaço que Marx deu aos conflitos entre classes como motor da história foi dado aos processos de racionalização dos fenômenos sociais, em associação às dinâmicas de dominação social. Comte viveu todo o processo de erosão do poder da nobreza e da monarquia francesa, bem como os impactos resultantes dos movimentos que culminaram na Revolução Francesa, na ruptura da monarquia e na constituição da república no país. Revoluções não são transições, não são alterações que ocorrem aos poucos; não há espaço ou tempo para acomodações de mudanças. Para que eclodam, é preciso que haja um momento anterior de caos. E os momentos subsequentes à ruptura e à instalação de um novo modelo de organização política e social costumam também ser pautados por desorganização e incerteza. (SILVA, 2005). Para Comte, porém, independentemente dos objetivos de um movimento político e das alterações que ele poderia trazer às organizaçõessociais, deveria haver espaço para se pensar em planejamento social e organização, pilares que construiriam o bem-estar social. A racionalidade deveria nortear as ações e, assim, estabeleceriam-se planos e etapas que ordenariam e manteriam seguras e controladas quaisquer alterações na organização social. Como você viu, Marx, Weber e Durkheim buscavam compreender as causas e consequências das interações sociais. Eles verificavam o modo como tais interações se conectavam com um contexto histórico comum e avassalador para as estruturas tradicionais de organização social: a modernidade. Por isso, alguns elementos estão presentes nas abordagens desses autores. Entre eles, você pode considerar: as características estruturais e a expansão do capitalismo, o processo de urbanização, a expansão da produção, a saturação do consumo doméstico e as 16 expansões territoriais. Essas transformações deram novas formas e sentidos às interações sociais. Os mesmos elementos também tiveram impacto na organização, na estrutura e na função do Estado, de modo que a democracia e o liberalismo são pautas para as análises sociológicas. (SILVA, 2005). Fonte: www.todamateria.com.br Como você pode perceber, a sociologia percorreu um longo caminho para se estabelecer. Ela se fortaleceu a partir de teóricos com formação em áreas diversas, que procuraram explicar ou dar sentido ao caos social que acreditavam existir, ou às transformações que vivenciaram. Sua origem, portanto, é resultado de um processo de construção de leituras sociais de aproximadamente um século. Seu objeto de estudo, porém, é algo mais claro de se observar nesse processo. A sociologia deixa de lado os impactos das organizações do Estado ou de elementos sobrenaturais para se concentrar nas práticas sociais que permitem a manutenção, a organização ou a ruptura de sistemas de organização social, política e econômica. 17 3.2 A realidade e a perspectiva sociológica A definição da realidade e as interações estabelecidas dependem, para a sociologia, das leituras possíveis para cada indivíduo. Essas possibilidades seriam delimitadas pelas técnicas e comportamentos definidos e adquiridos pelo convívio com o grupo social de origem. Veja, por exemplo, a pesquisa sociológica sobre a memória realizada por Silva (2005). Ao se inserirem numa sociedade que preza mais os valores de troca do que os valores de uso dos objetos, os sujeitos da pesquisa perderam o objetivo principal da feitura de cerâmica e, com ele, a matéria-prima das lembranças. Não estavam mais no lugar onde nasceram e, se a sociabilidade se ancorava nas relações de reconhecimento e pertencimento, desejar os mesmos utensílios utilizados pela comunidade local era uma forma de não ficar à margem. Além disso, o espaço do assentamento já não era o mesmo do passado; não havia homogeneidade na origem dos moradores. Eles vinham do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, do interior de estados do Nordeste, especialmente Bahia, Pernambuco e Alagoas, e de estados do Centro-Oeste e do Sul do País, como Mato Grosso do Sul e Paraná. Essa gama de origens diferentes fomentava conflitos e grupos rivais se punham em atrito devido ao “desconhecimento prévio”. Assim, Silva (2005) observou dois desafios metodológicos. O primeiro desafio era fazer com que os depoentes compartilhassem o mesmo objetivo da pesquisa: o resgate da memória. Aqui está o ponto-chave que torna essa pesquisa tão interessante. A socióloga despiu-se dos conceitos amplamente difundidos sobre o distanciamento demandado do pesquisador e adotou uma metodologia que aproximava pesquisador e pesquisado por meio do diálogo. A situação que inicialmente causou estranhamento e desconfiança por parte dos sujeitos da pesquisa, especialmente dos líderes políticos (que tendiam a generalizar as falas e, com isso, elevavam o risco de enviesar a pesquisa), mostrou-se eficiente quando a autora seguiu um conceito de W. Mills que ela mesma cita em seu texto: a imaginação sociológica tornou-se sua guia. Tomando o diálogo como fonte de troca e saberes, Silva (2005) ministrou uma palestra aos alunos do curso noturno do assentamento. Ela falou sobre a memória e a sua importância para o processo de reconstrução da identidade e mesmo para a constituição dos alunos como sujeitos históricos de uma nova história. Já o segundo 18 desafio girava em torno do caráter teórico-metodológico da pesquisa. Como interpretar narrativas orais, interpretar silêncios, identificar esquecimentos ou resistências? Como transformar falas em dados a serem analisados, constituintes de uma trajetória? Como afirma Benjamin (1994): A alma, o olho e a mão estão assim inscritos no mesmo campo. Interagindo, eles definem uma prática. Essa prática deixou de nos ser familiar. O papel da mão no trabalho produtivo tornou-se mais modesto e o lugar que ela ocupava durante a narração está agora vazio. (Pois a narração, em seu aspecto sensível, não é de modo algum o produto exclusivo da voz. Na verdadeira narração, a mão intervém decisivamente com seus gestos apreendidos na experiência do trabalho, que sustentam de cem maneiras o fluxo do que é dito.) A interpretação é de que a relação entre pesquisado e pesquisador é artesanal, é feita pelo trabalho das mãos. Inseridos num meio em que o objetivo era a produção dos objetos, os depoentes talvez se expressassem mais espontaneamente. Se a ideia inicial da oficina de cerâmicas em argila se mostrou infrutífera, o mesmo não aconteceu com a oficina de fuxicos (pequenos círculos de tecido franzido nas bordas por meio de um alinhavado simples que se assemelham a pequenas flores e são matéria-prima para colchas, tapetes, toalhas e almofadas artesanais, entre outros produtos). Nessa oficina, aprendendo uma arte nova, ou relembrando os ensinamentos das mães e avós, as mulheres do assentamento viram-se num ambiente em que as memórias puderam emergir por meio das canções entoadas na execução do trabalho, que as lembravam de sua terra de origem, suas famílias, suas tradições. O estudo da história de uma vida não é a finalidade da sociologia. Ele leva à construção da noção de trajetória como uma série de posições sucessivamente ocupadas por um mesmo agente (ou um mesmo grupo) em um espaço de devir e submetido a transformações incessantes. Os acontecimentos biográficos definem-se antes como “alocações” e como “deslocamentos” no espaço social, isto é, nos diferentes estados sucessivos da estrutura da distribuição dos diferentes tipos de capital que estão em jogo no campo considerado. Assim, diferente das biografias comuns, a trajetória descreve a série de posições sucessivamente ocupadas pelo mesmo indivíduo em estados sucessivos do campo social. 19 É apenas nas estruturas de um campo que se define o sentido dessas posições sucessivas: as atitudes, o trabalho e tudo aquilo que torna o campo interessante o suficiente para ser objeto de uma pesquisa. A coerência teórica dessa metodologia se dá pelo fato de que o tempo do devir social dos indivíduos e dos grupos já está estruturado por normas, definições sociais, representações ou oportunidades típicas socialmente condicionadas de desenvolvimento ou de orientação biográfica. Apesar de muito elucidativas, é preciso estar atento ao fato de que as biografias, autobiografias e histórias de vida não revelam toda a vida de um indivíduo, mas apenas uma versão selecionada de como ele deseja se apresentar. Naturalmente, esse não é um processo descartável, já que também é importante conhecer e verificar as interpretações que as pessoas fazem de sua própria experiência para explicar parte do comportamento social. (CANDIDO, 2006). Uma das maiores dificuldades das ciências humanas ao se estabelecerem como disciplinas foi a criação e a adequação de ferramentas metodológicaspara tratar de seus objetos de pesquisa. A ideia era que, ao mesmo tempo em que normatizassem a produção científica e acadêmica, as ferramentas também legitimassem tais disciplinas, mostrando normatização e controle da pesquisa. Havia grande dificuldade em mostrar que, embora afastadas das ciências naturais, necessitando de abordagens diferentes, as ciências cujos objetos eram os homens e seus pensamentos, suas construções e interações sociais, podiam ser confiáveis; a volatilidade do objeto consistia mais em uma oportunidade do que em um problema. Foi preciso construir modelos de certa forma rígidos, que conferissem legitimidade às pesquisas das novas disciplinas que se formavam — por muitas vezes, a quebra desses modelos mostrava certos vieses nas pesquisas. Depois da criação da sociologia como disciplina, ocorreu o processo de distinção entre ela e as demais ciências, a partir da formulação de metodologias próprias ainda no século XIX. A interdisciplinaridade é retomada a partir de fins do século XX, tornando as análises mais ricas e aprofundadas. Mas qual é a trajetória da sociologia como disciplina? De acordo com Candido (2006), pode-se dividir o processo de constituição da sociologia brasileira como ciência em dois períodos. No primeiro, entre 1880 e 1930, a sociologia seria “[...] praticada por intelectuais não especializados, interessados principalmente em formular princípios teóricos ou interpretar de modo global a sociedade brasileira” 20 (CANDIDO, 2006, documento online). Nesse período, não haveria ensino nem pesquisa empírica acerca de aspectos delimitados da realidade contemporânea. O segundo período se construiria após a década de 1940, e nesses 10 anos entre uma fase e outra é que a sociologia se incorpora ao ensino superior e passa a ser tratada como instrumento de análise social. Nessa fase, surgem os primeiros sociólogos de formação brasileira, que fomentam o segundo período da sociologia no País. Ainda segundo Candido (2006), a sociologia como campo científico sofre duas influências tão decisivas que a marcam permanentemente: a do direito e a do evolucionismo. No século XIX, o esforço de compreender o Estado, o universo econômico e as estruturas políticas do País foi, essencialmente, do jurista, que o autor determina como “[...] o intérprete por excelência da sociedade, que o requeria a cada passo e sobre a qual estendeu o seu prestígio e maneira de ver as coisas” (CANDIDO, 2006, p. 273). Contudo, [...] como as teorias dominantes na segunda metade do século se achavam marcadas pelo surto científico de então, notadamente a Biologia, que saiu dos laboratórios para se divulgar de maneira triunfante, os juristas mergulharam na fraseologia científica e se aproximaram, neste terreno, dos seus pares menos aquinhoados, médicos e engenheiros, que com eles formavam a tríade dominante da inteligência brasileira. Vemos então, na Sociologia, os juristas inaugurarem uma orientação cientificista, como se dizia, que contou desde logo com a cooperação de engenheiros e sobretudo médicos. A sociologia brasileira formou-se, portanto, sob a égide do evolucionismo e recebeu dele as preocupações e orientações fundamentais, que ainda hoje marcam vários dos seus aspectos (CANDIDO, 2006, p. 273). De fato, os pensadores mais influentes do período, como Sílvio Romero e Fernando de Azevedo, tiveram e assumiram influência darwinista e jurista. Azevedo, um dos fundadores da disciplina no Brasil, foi influenciado por um caldo de cultura científica — que ia dos juristas aos filósofos, passando pelos defensores da biologia. No texto A Ciência da Humanidade: Sociologia... Seu lugar entre a ciência, seu método, pode-se perceber em Sílvio Romero a influência evolucionista, a partir da óptica jurista de análise social. O direito constitui-se de fatos observáveis: as leis. Mas as leis existem para regimentar uma sociedade, um corpo social que age, vive e discute; que, portanto, está em constante movimento. Num Estado, cidadãos estão sob suas leis, mas as leis não são as mesmas em países diferentes, nem se apresentam a todos os cidadãos da mesma maneira. A ciência jurídica, portanto, pode ser subdividida em vários ramos, que entram numa 21 mesma variável geral: a sociologia. Mas a sociologia é uma ciência? Esse questionamento sobre a legitimidade da sociologia como ciência é para onde o olhar de Romero (2001) se direciona, criticando os opositores da “ciência da sociedade”. O maior crítico da sociologia brasileira é o poeta e jurista Tobias Barreto. A crítica do jurista sergipano estaria especialmente desenvolvida em “estudos alemães” e é apresentada no ensaio Variações antissociológicas. Seus argumentos contrários à “ciência da sociedade” eram os seguintes: estudo dos fenômenos sociais culminaria numa “pantosofia” (uma ciência do “tudo”), que não é compatível com o espírito humano; culminaria também em sociolatria, ou seja, a exaltação da grandeza humana, algo que para Barreto era inconciliável com uma ciência social; a liberdade invalidaria a sociologia: “Enquanto não se provar que a vontade humana é uma força natural [...] como o calor e a eletricidade, a sociologia nada vale” (BARRETO, 1962, p. 42); se a sociologia trata da sociedade, então seu objeto seria uma abstração sem objetivo e haveria tantas sociologias quanto existem grupos sociais; homem, família e Estado não poderiam ter explicações e mecanismos, como existem nos objetos das ciências naturais; a sociologia derivaria da ideia errada de que a sociedade é um indivíduo diferente do Estado, assim sociologia e ciência política seriam ciências diferentes; para Barreto (1962), a mania da “lei”, que regularia normas e épocas, exposta com a estatística como prova para o fenômeno social, não provaria nada; emparelhamento da sociologia com as ciências naturais não funcionaria, pois não há uma ciência da natureza parecida com o que a sociologia procurava ser em relação à sociedade. Segundo Romero (2001, p. 54), 22 “[...] não há dúvida de que o jurista de Estudos de Direito tem em grande parte razão. Mas não se deve concluir do abuso para a condenação geral da coisa. Porque alguns fantasistas andam por aí a inventar engraçadas e insustentáveis leis sociológicas”. O trabalho do pesquisador está em constante construção e transformação. O objeto demanda sempre uma forma de olhar única, particular. Assim, transportar métodos de análises conhecidos, eficazes anteriormente, nem sempre mostra-se eficiente. Mas o trabalho dos sociólogos que se seguiram à delimitação do campo científico mostra que, muito mais do que encaixar um objeto num tipo de abordagem ou análise preexistente, é ofício do pesquisador procurar, desbravar, produzir novos meios de se chegar ao seu tema, ao seu objeto. 3.3 Ciências naturais e sociologia: o trabalho de Spencer na legitimação do campo sociológico É interessante você observar que os pensadores da sociologia empreenderam uma luta árdua para desenvolver metodologias próprias, e a ciência política trava hoje a mesma batalha. Definida por alguns autores apenas como um desdobramento ou uma ramificação da sociologia, já que seu foco é uma parte importante da estrutura de qualquer sociedade (o Estado e as relações sociais que advêm dele), a ciência política busca ainda hoje estabelecer metodologias particulares, que a legitimem como ciência diversa da sociologia. Nesse caminho, muitos criticam seus pensadores por utilizarem métodos quantitativos e estatísticos em demasia, como numa clara oposição às experiências qualitativas mais utilizadas pela sociologia contemporânea, transformando-a, talvez, numa ciência “dura”. Mas, se para se opor à sociologia é preciso adotar metodologias quantitativas, isso não poderia classificar a ciência política quase como uma ciência matemática? Épossível relacionar o modo como a ciência política trabalha hoje para se diferenciar da sociologia com o modo como a sociologia trabalhou para se diferenciar das ciências naturais no século XIX. Naquele período, a classificação das ciências se dava em função de uma suposta complexidade, como no modelo a seguir: 1. Matemática 2. Astronomia 23 3. Física 4. Biologia 5. Sociologia Aqui, a sociologia já se encaixava no plano das ciências, mas no menor grau de complexidade. Para Spencer, o quadro não se definia em ordem de importância, mas da seguinte maneira: 1. ciências abstratas 2. ciências abstrato-concretas 3. ciências concretas Ou seja, para Spencer, haveria particularidades em cada ciência provenientes da natureza de seus objetos, mas o rigor metodológico asseguraria a sua classificação como ciência. Por isso, não poderia haver ciência mais ou menos complexa, mais ou menos importante, ainda que houvesse diferenças ocasionadas pelos objetos de estudo. (AUGUSTINHO, 2018) O evolucionismo moderno quebrou essas barreiras, como mostra Spencer na sua delimitação dos processos do método de pesquisa: 1. observação 2. observação artificial 3. experimentação 4. comparação 5. classificação 6. indução 7. dedução O autor definiu e categorizou passos e assegurou que não haveria outros, nem ciência que não precisasse deles. E a sociologia não fugiria à regra. Spencer relata que, como cientista e sociólogo, seu objeto foi o próprio ato de observar e desenvolver o método da sociologia. A partir de comparações com temas e objetos da física, da biologia, da astronomia, da anatomia e da química, ele chegou à 24 conclusão que buscava: o método da sociologia é o mesmo de todas as outras ciências. Como você viu, a sociologia surgiu como uma “resposta científica” às questões sociais que emergiram no século XIX, especialmente com o desenrolar da Revolução Industrial. (ROMERO, 2001). A sociedade em crise, desorganizada e em situação de caos, levou pensadores a trabalharem numa resposta, numa saída para os problemas sociais como a fome, a violência e o desemprego. Comte e Durkheim trabalharam para que a ciência pudesse dar respostas e direções para o restabelecimento da ordem. Já Marx viu no caos a expressão de que as sociedades estavam inevitavelmente se transformando, e o despertar das classes trabalhadoras levaria o processo em direção ao comunismo mais objetivo. Mas todos os teóricos se fundamentaram nos diálogos com os parâmetros empíricos das ciências naturais para a definição das práticas de análise dos fenômenos sociais, pavimentando o caminho para os chamados “sociólogos profissionais” do século XX. Fonte: www.mundociencia.com.br 25 4 A SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA 4.1 Compreendendo o conceito de sociologia O primeiro ponto a destacar quando falamos no ser humano é sua capacidade e necessidade de viver como um ser social, de maneira organizada e interdependente, em que suas características culturais podem ser ensinadas e aprendidas. Neste processo de convivência social, as estruturas que constituem tais associações vão sendo modifi cadas, incorporando novas maneiras de viver e de agir. A vida do homem em sociedade passa por inúmeros movimentos e reconfigurações associadas a diversos fatores, como o próprio desenvolvimento da noção de comunidade, dos avanços nas áreas que envolvem as questões econômicas e de governo, as mudanças de paradigmas nas buscas por explicações para os fenômenos, entre outros. O ser humano apresentou, no percurso de seu desenvolvimento histórico, inúmeras mudanças nas suas maneiras de viver e relacionar-se em sociedade, desde as estruturas comunitárias mais simples, como a família, até a complexidade das grandes corporações empresariais e das relações de governo estabelecidas. A busca pela conceituação do que vem a ser a sociologia enquanto ciência passa pela percepção e pelo entendimento do que vem a ser o conceito de sociedade em si e de como se organizam e se movimentam os mais diversos grupos humanos e seus fenômenos sociais. Temos que destacar que as reflexões em torno de como os seres humanos vivendo em sociedade se organizavam remontam à Antiguidade Clássica, muito antes da elaboração do conceito de sociologia por Auguste Comte, na Modernidade, mais especificamente no século XIX. Sobre este fato, Vila Nova (2013, p. 29) comenta: 26 É óbvio que a reflexão sobre os fenômenos sociais não começou com a sociologia, no século XIX. Antes que Auguste Comte inventasse, na primeira metade daquele século, a palavra sociologia para denominar a nova ciência e proclamasse a necessidade, a conveniência e a possibilidade de aplicação dos princípios da ciência – até então aplicados apenas ao estudo dos fenômenos da natureza – ao conhecimento da sociedade, os filósofos se ocuparam da explicação dos fenômenos sociais. As reflexões de Platão, de Aristóteles, por exemplo, na Antiguidade, ou mesmo de Maquiavel, já no século XVI, apesar de toda a revisão, no Renascimento, das ideias tradicionais até então predominantes, são muito diversas das teorias sociológicas. A reflexão filosófica a respeito da sociedade difere da sociologia tanto nos resultados quanto, principalmente, na maneira de alcançá-los. A citação do autor nos aponta algumas questões muito interessantes, como a busca do homem em fornecer explicações para os fenômenos sociais que nos acompanham há muito tempo e a distinção entre a sociologia e a Filosofia enquanto ciências. Dentre os inúmeros conceitos apontados em busca de uma definição do que seria a sociologia, veja o que nos dizem Lakatos e Marconi (1990, p. 22): Estudo científico das relações sociais, das formas de associação, destacando-se os caracteres gerais comuns a todas as classes de fenômenos sociais, fenômenos que se produzem nas relações de grupos entre seres humanos. Estuda o homem e o meio humano em suas interações reciprocas. A sociologia não é normativa, nem emite juízos de valor sabre os tipos de associação e relações estudados, pois se baseia em estudos objetivos que melhor podem revelar a verdadeira natureza dos fenômenos sociais. A sociologia, desta forma, é o estudo e o conhecimento objetivo da realidade social. Como podemos perceber na conceituação das autoras, para a sociologia interessam como principais focos de análise as relações entre os homens no meio em que vivem. 4.2 O percurso histórico do surgimento da sociologia Para que possamos entender de forma mais consistente o surgimento da sociologia, precisamos pontuar alguns aspectos históricos que colaboram para que isto ocorra. Para essa tarefa iremos nos remeter ao século XVIII e às transformações 27 que ocorrem na sociedade nos aspectos políticos e econômicos. Claro que, antes disso, devemos apontar grandes acontecimentos históricos que antecedem o surgimento da ciência como um todo e que modificam a forma como a sociedade irá pensar e agir. Entre eles, temos, no século XV, os esforços em busca de expansão territorial das nações europeias, conhecido como o período das Grandes Navegações, e o estabelecimento de colônias nas Américas, na Ásia e na África, o que acelera o desenvolvimento da economia monetária e fortalece a burguesia destes países. No século XVI, temos a Reforma Protestante, que marca um rompimento entre o pensamento ou conhecimento teológico (explicações divinas) e o conhecimento racional (explicações pela razão do homem). A Reforma Protestante vai muito além da simples ruptura do modo de pensar da Igreja da época e da contestação dos poderes papais, pois representa a busca do próprio homem para as explicações dos fenômenos que ocorrem ao seu redor. Segundo Tomazi (2000), essa nova forma de conhecimento da natureza e da sociedade,na qual a experimentação e a observação são fundamentais, aparece neste momento, representada pelas ideias e pelas obras de diversos pensadores, entre os quais Nicolau Maquiavel (1469-1527), Galileu Galilei (1564-1642), Thomas Hobbes (1588-1679), Francis Bacon (1561-1626), René Descartes (1596-1650). Junto com esses, há outros dois pensadores que farão a ponte entre esses novos conhecimentos e os que se desenvolverão no século seguinte: John Locke (1632- 1704) e Isaac Newton (1642-1727). Já no século XVII, percebemos a ascensão da burguesia comercial nos países europeus, que se estendia a todo o restante do mundo. Nesta época, irão surgir novos formatos de organização da produção das manufaturas, criando novos inventos que pudessem aprimorar os processos e diminuíssem o número de pessoas envolvidas neles. É quando surgem as primeiras máquinas de tecer, descascar algodão, as máquinas a vapor, etc. O trabalho mecânico começa a ser utilizado paralelamente ao trabalho artesanal. O século XVIII começa em meio a toda essa ebulição de novas descobertas focadas na produção e numa sociedade em modificação, proposta pelos eventos anteriores. Da mesma forma, a Revolução Inglesa ocorrida no século anterior irá inspirar as Revoluções Americanas e Francesas e irá trazer novos formatos de organização política para as nações. 28 As transformações nas esferas da produção, a emergência de novas formas de organização política e a exigência de representação popular dão características muito específicas a esse século, em que pensadores como Montesquieu (1689- 1755), David Hume (1711-1776), Jean-Jaques Rousseau (1712-1778), Adam Smith (1723-1790) e Immanuel Kant (1724-1804), entre outros, procurarão, por caminhos às vezes divergentes, refletir sobre a realidade, na tentativa de explicá-la (TOMAZI, 2000). Estas tentativas de busca por explicações das novas realidades no século XVIII citadas pelo autor irão servir de base para o surgimento da sociologia como uma ciência; ciência esta que nasce em meio à consolidação do sistema capitalista. No início do século XIX, pensadores como Saint-Simon, Hegel e David Ricardo irão fazer com que Auguste Comte (1798-1857) e Karl Marx (1818-1883) venham a refletir sobre a sociedade, porém de maneiras muito divergentes. Comte irá focar seus pensamentos em busca de uma filosofia positiva, que busca a explicação dos fenômenos e a modificação da maneira de pensar do homem utilizando as ciências existentes na época e propondo uma reforma prática das instituições. Outro expoente da sociologia que irá se inspirar nas ideias propostas por Comte nesta época é Emile Durkheim. Karl Marx e Friederich Engels, por sua vez, irão analisar os aspectos sociais, econômicos, políticos, ideológicos, religiosos, entre outros, sem a preocupação de definição de uma ciência específica para tal, como a sociologia representava para Auguste Comte. Suas análises procuraram focar as mudanças nos processos produtivos, o surgimento da sociedade capitalista, visando fornecer aos trabalhadores condições de melhor analisar o contexto em que se encontram vivendo e as relações entre as classes trabalhadoras e capitalistas. Podemos dizer que a sociologia como ciência, acadêmica, irá afirmar-se nas obras de Émile Durkheim, na França, e de Max Weber, na Alemanha; ambos preocupados em integrar a sociologia aos aspectos científicos necessários para garantir os métodos e teorias necessárias para tal afirmação. 29 4.3 Características da sociologia como ciência A sociologia apresenta alguns aspectos bem particulares que a distinguem de outras Ciências Sociais, como a Antropologia, a Economia ou a Filosofi a Social. Vamos conhecer, agora, alguns destes aspectos que caracterizam a sociologia enquanto ciência. Indução como método predominante — através da observação sistemática e planejada dos fatos, de casos bem particulares e específicos, a sociologia vai formulando, construindo suas teorias e explicações acerca da vida em sociedade. Lembramos que a observação sistemática faz parte da própria característica de toda a ciência que se vale do método científico para o estabelecimento de suas regras e verdades sobre o objeto estudado; com a sociologia não é diferente! Neutralidade valorativa — não cabe à sociologia realizar juízos de valor sobre os objetos e fatos pesquisados, ou afirmar e estabelecer o certo e o errado, o justo e o injusto, como faria a Ética. Tampouco apontar o que deveria ser feito, o que seria legítimo, como faz o Direito. A sociologia estuda as relações que ocorrem na sociedade, tentando classificar e identificar seus componentes, porém isentando-se de julgá-los, deixando de exercer os juízos binários que comentamos anteriormente entre o que é bom e mau para a sociedade. Moralmente neutra — este aspecto refere-se ao não estabelecimento de juízos de valores que falamos antes; porém, o sociólogo possui compromisso moral com a verdade que foi buscada através da observação realizada sobre os fenômenos sociais. É preocupação dos sociólogos, também, não permitir que suas questões morais pessoais interfiram nos resultados de suas análises, nas suas percepções e leituras sobre as mais diversas realidades sociais que estejam sendo observadas/ pesquisadas. A transitoriedade — a sociologia estabelece o estudo de fatos que venham a acontecer na sociedade com uma certa regularidade. Esta 30 observação, porém, pode ser modificada com o próprio desenvolvimento ou reconfiguração destes aspectos observados pelo pesquisador com o passar do tempo. Ou seja, as teorias e análises sociológicas efetuadas anteriormente sobre algum fato social poderão vir a ser reformuladas em observações posteriores sobre este mesmo objeto pesquisado, o que caracteriza este aspecto da transitoriedade. A busca pela classificação — as atividades do cientista sociólogo vão além dos pressupostos estabelecidos pelo método científico, como a elaboração de hipóteses, a observação em si, as generalizações típicas e a criação de teorias. O sociólogo também se encarrega da busca pela classificação dos fenômenos que ocorrem no tecido social. Essas classificações são observadas nos esforços em dividir a sociedade em partes, como: grupos, culturas, categorias, castas, classes, entre outros. Entender estes princípios é muito importante neste momento, pois são marcadores que serão utilizados pelo sociólogo em suas análises e são estes que reforçam o caráter científico da sociologia, ciência, conforme vimos anteriormente, que nasce dentro do contexto do surgimento e afirmação da própria racionalidade científica proposta no século XIX, através dos estudos de Francis Bacon e Renée Descartes, principalmente com a criação do Método Científico. Fonte: www. casaruibarbosa.gov.br 31 5 AS FUNÇÕES DA SOCIOLOGIA A Sociologia surge como ciência no século XIX, com o intuito de realizar análises sobre a sociedade em suas inúmeras relações, procurando mapear as causas e aspectos que contribuíam para a organização social, classificando os fenômenos e inspirando hipóteses explicativas sobre os objetos pesquisados que, por sua vez, originam-se na própria sociedade, atendendo ao conceito de fato social cunhado por Durkheim (1996, p. 12), que afirma: É fato social toda maneira de agir, fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter. Partindo da conceituação dos fatos sociais feita pelo autor, percebemos que o mesmo pensa a organização da sociedade realizada pelos efeitos de normalização e padronização sociais estabelecidos nas regras de conduta, nas ideias e pensamentos que compõem tais fatos. Estes fatosserão sempre exteriores ao indivíduo, ou seja, não dependem dos aspectos internos destes, e sim do esforço coletivo e social no estabelecimento destas normas de convivência criadas e impostas desde o nosso nascimento. Os fatos sociais irão apresentar três características: exterioridade, generalidade e coercitividade. A generalidade diz respeito ao que comentamos anteriormente, o caráter coletivo que se faz presente e determina, para todos, como agir neste grupo social. A exterioridade traduz a condição desse ser exercido sendo o mesmo estabelecido fora da consciência individual, externo às questões pessoais intrínsecas ao sujeito. A coercitividade, por fim, remete ao dever, à obrigação em acatar e seguir as determinações que foram estabelecidas na sociedade em que vivemos. Lakatos e Marconi (1990, p. 65) comentam que: A coerção não necessita ser drástica; igualmente são eficazes o riso, a zombaria, o afastamento dos amigos, quando nosso comportamento não constitui transgressões às leis, mas às convenções da sociedade. Exemplo: não se portar corretamente à mesa, vestir-se inadequadamente, falar de modo impróprio. Partindo da definição do fato social, tido como o objeto de estudo da Sociologia, cabe ao sociólogo a problematização do mesmo, procurando percebê-lo 32 por diversas maneiras e buscando a sua contextualização mais exata, suas origens, as causas de seu estabelecimento como regras de conduta, os fatores que contribuíram para que estes fossem instituídos. Barros (2008, p. 152) traz o seguinte comentário sobre o que seria a problematização: Problematizar é lançar indagações, propor articulações diversas, conectar, construir, desconstruir, tentar enxergar de uma nova maneira, e uma série de operações que se fazem incidir sobre o material coletado e os dados apurados. Problematizar, nas suas formulações mais irredutíveis, é levantar uma questão sobre algo que se constatou empiricamente ou sobre uma realidade que se impôs ao pesquisador. Nossa vida em sociedade apresenta muitas facetas e dimensões diversas que nem sempre são facilmente observáveis, pois o convívio humano acaba disfarçando- as através das inúmeras práticas culturais (com seus símbolos, valores e normas) dos grupos envolvidos em suas interações. Baseado nestas questões, Vila Nova (2013, p. 218) comenta que “[...] à Sociologia cumpre precisamente ir além das aparências físicas da vida social e penetrar nas camadas mais profundas da sociedade para compreender a “lógica” oculta da sua organização [...]”. Esta lógica oculta citada pelo autor muitas vezes poderá ser percebida pelo sociólogo através das problematizações, dos levantamentos e das inserções no campo social, no qual serão mapeados os detalhes que envolvem as relações e interações entre as pessoas. Outra função interessante que pode ser atribuída à Sociologia relaciona-se com a sua possibilidade de vir a transformar-se em instrumento de intervenção social, utilizando-se, para isso, do chamado planejamento social. Porém, convém observar que: [...] o planejamento social não é, entretanto, a aplicação apenas da Sociologia à intervenção na sociedade, mas, de modo conjugado, das demais ciências sociais, embora se verifique, sobretudo no Brasil, uma tendência à supervalorização da Economia na condução dessa atividade (VILA NOVA, 2013, p. 30). Dentro da lógica das atribuições do sociólogo que contribuem diretamente para o planejamento social estão as atividades de avaliação e monitoramento sobre os projetos públicos que estão sendo colocados em prática pelas esferas governamentais, por exemplo. 33 5.1 Os pensadores da Sociologia e suas ideias Quando estudamos a Sociologia a partir de seu contexto histórico, como viemos fazendo, três grandes autores se destacam, formando uma tríade de ideias de base para as análises sociológicas posteriores a seu tempo; são eles: Durkheim, Weber e Marx. Vamos conhecer um pouco as ideias destes três autores e o modo como entendiam a educação na sociedade. Émile Durkheim, sociólogo francês nascido em 1858 e que viveu até 1917, entendia a sociedade como algo que iria sempre prevalecer ao indivíduo. Ou seja, a sociedade é o conjunto das normas, regras e procedimentos, sentimentos, ideias e pensamentos que conduzem os indivíduos e que foram construídos coletivamente, o que vinha a ser a definição de fato social segundo Durkheim. Podemos entender mais facilmente esta ideia ao percebermos que a criança, quando nasce, já se encontra num grupo social, de modo que a sua infância e a forma como irá crescer e se desenvolver já foram previamente estabelecidas pelos demais membros adultos desta sociedade. Podemos visualizar muito bem o conceito de fato social proposto por Durkheim na educação, uma vez que ela irá se encarregar de ensinar as regras e condutas e educar os membros para viver em sociedade. Podemos nos questionar, seguindo este viés, sobre o que se aprende na escola. Qual a função desta instituição em nossas vidas? Durkheim diria que sua principal função é preparar o indivíduo para a vida em sociedade. Segundo Tomazi (2000, p. 18), o próprio conceito de instituição, para Durkheim, leva a esta resposta, uma vez que “para ele, uma instituição é um conjunto de normas e regras de vida que se consolidam fora dos indivíduos e que as gerações transmitem umas às outras. Há ainda muitos outros exemplos de instituições: a Igreja, o Exército, a família, etc.”. Max Weber, sociólogo alemão nascido em 1864 e falecido em 1920, entendia que as análises da Sociologia deveriam recair sobre os atores sociais e suas ações. O principal de suas ideias, em contraposição a Durkheim, é que Weber não via a sociedade como algo superior e exterior aos indivíduos, e sim como o resultado de um conjunto de ações recíprocas destes indivíduos. Baseado nesta ideia, estabeleceu o conceito de ação social. Nas palavras de Weber (1991, p. 3), a ação 34 social “[...] significa uma ação que, quanto ao sentido visado pelo agente ou os agentes, se refere ao comportamento de outros, orientando-se por este em seu curso [...]”. Um exemplo bem simples e frequentemente adotado na escola que ilustra uma ação social, segundo as ideias de Weber, seria a fila. Os alunos vão posicionando-se em coluna, um após o outro, seguindo uma ordem naturalizada de agir socialmente que já faz parte do sujeito, ou seja, sua subjetividade já internalizou a fila como algo a ser feito. Esta é a principal diferença entre Weber e Durkheim, pois Weber entendia que internamente o indivíduo ia significando, dando sentido às coisas e, assim, ia mudando e condicionando seu comportamento. Outro conceito muito utilizado por Weber diz respeito à noção de poder, porém um poder não localizado num lugar específico, como o Estado, por exemplo, mas que perpassa todos os aspectos sociais e que não se relaciona somente com a questão econômica. Entendia a sociedade como um sistema de poder que se manifesta em todas as esferas: [...] não apenas nas relações entre classes, ou entre governantes e governados, mas igualmente nas relações da família, na empresa, por exemplo, os indivíduos se deparam a todo momento com o fato de que indivíduos ou conjunto de indivíduos têm maior ou menor possibilidade de impor a sua vontade a outros. (VILA NOVA, 2013, p. 86). Podemos depreender do conceito do autor que este sistema de poder também poderá ser percebido no interior da escola. Poder representado na figura do professor, dos gestores escolares, dos grupos sociais com suas culturas específicas representados por pais e alunos, etc. Assim, o espaço da escola está sempre em negociação destas relações de poder dos grupos que ali convivem. Karl Marx, pensador alemão que nasceu em 1818 e viveu até 1883, também apresentou sua contribuição para os entendimentos das relações entre os indivíduos e a sociedade empreendidos pelaSociologia. O que difere radicalmente as ideias de Marx em relação a Durkheim e Weber é que, para ele, as relações em sociedade não poderiam ser pensadas separadamente das condições materiais em que essas relações se apoiam. Ou seja, para viver em sociedade, o homem precisa, num primeiro momento, valer-se da natureza, transformá-la, erguer suas moradias, fabricar os itens que farão parte de sua vida cotidiana e que irão garantir sua sobrevivência. Isto era o que o autor chamava de produção social da própria vida e que irá embasar seus escritos, 35 procurando explicar a sociedade dividida em classes, e, posteriormente, sua discussão contrária às ideias do capitalismo. Segundo as palavras de Marx (1978, p. 129): O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu-me de fio condutor aos meus estudos pode ser formulado em poucas palavras: na produção social da própria vida, os homens contraem relações determinadas, necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção estas que correspondem a uma etapa determinada de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. [...] não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência. Por ter este entendimento de como as questões materiais interferem e condicionam os indivíduos é que Marx irá desenvolver suas análises sobre as classes sociais existentes, entendendo que os indivíduos agem de acordo com o que é regulado no interior da classe a que pertencem. Fica nítido em suas obras o estudo dos embates, sobretudo, entre a classe capitalista e a trabalhadora. Destas ideias resumidas aqui, irá despontar o materialismo histórico proposto por Marx e Engels, no qual emerge o caráter revolucionário na figura do cientista social como aquele que deveria propor mudanças radicais na organização social. 5.2 Metodologias na pesquisa sociológica As primeiras pesquisas em Sociologia remontam ao início do século XX, na chamada Escola de Chicago (Departamento de Antropologia e Sociologia da Universidade de Chicago). É neste período que irão surgir marcadores importantes para a pesquisa científica sociológica, estabelecendo os aspectos também qualitativos como importantes de serem analisados, e não somente os quantitativos que vinham sempre sendo enfatizados e reforçados pelas Ciências Exatas como mais confiáveis e como os que levariam com maior exatidão ao conhecimento da verdade e ao estabelecimento do senso crítico científico. Este é um aspecto importante a ser destacado: as questões qualitativas que compõem os indivíduos, que constituem suas subjetividades, que fazem com que a sociedade também se organize, normalize e estabeleça condutas de vida devem fazer parte das pesquisas sociológicas para que estas consigam realizar suas análises com maior eficácia. Segundo Minayo (1996), as pesquisas qualitativas na 36 Sociologia trabalham com significados, motivações, valores e crenças e estes não podem ser simplesmente reduzidos às questões quantitativas, já que respondem a noções muito particulares. Entretanto, os dados quantitativos e os qualitativos acabam se complementando dentro de uma pesquisa. A escolha do objeto a ser pesquisado pelo sociólogo estará relacionada ao rol de questões possíveis dentro do grande universo das interações humanas que ocorrem na sociedade. Sobre este objeto a ser analisado, será aplicada, num primeiro momento, uma pesquisa bibliográfica minuciosa, seguida, então, da aplicação dos instrumentos de coleta de dados e das metodologias típicas da ciência, como os questionários, as entrevistas, observações e pesquisas de campo. Segundo Becker (1994), por mais ingênuo ou simples nas suas pretensões, qualquer estudo objetivo da realidade social, além de ser norteado por um arcabouço teórico, conforme mencionamos, deverá informar a escolha do objeto pelo pesquisador e também todos os passos e resultados teóricos e práticos obtidos com a pesquisa. Acompanhe o esquema na Figura 1 com os passos mais utilizados numa pesquisa sociológica: As quatro etapas sugeridas pelo esquema anterior são importantes na condução de um processo sério de pesquisa sociológica e garantem o respaldo científico dos resultados conquistados com a mesma. Segundo Boni e Quaresma (2005, p. 72), “[...] as formas de entrevistas mais utilizadas em Ciências Sociais são: a entrevista estruturada, semi-estruturada, aberta, entrevistas com grupos focais, 37 história de vida e também a entrevista projetiva [...]”. Dependendo do tipo de objeto a ser investigado, do acesso ao público que se requer e da disponibilidade do pesquisador, um destes tipos específicos poderá ser escolhido. Fonte: www.jornaldosudoeste.com.br 6 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A Revolução Industrial ocorrida na Europa (principalmente na Inglaterra) no século XVIII, mudou radicalmente a estrutura da sociedade. Homens passaram a ser substituídos por máquinas, que produziam mais e custavam muito menos. Isto fez com que os problemas sociais aumentassem, pois muitas pessoas que antes trabalhavam de forma artesanal, ficaram sem emprego. Eram acostumadas a uma forma mais lenta de vida, no meio rural, trabalhando apenas para sobreviver da terra. Agora passariam a trabalhar muito mais para os empresários, ganhando às vezes menos do que estavam ganhando antes. (SILVA, 2005). 6.1 Divisão de classes A sociedade se dividiu em Burgueses, os que detinham as fábricas e controlavam a economia, e os Proletariados, que tinham a força de trabalho. 38 O capitalismo se fortaleceu, quem produzisse mais, estava acima dos outros. Fonte: www.cinevest.com.br 6.2 As mudanças no mundo do trabalho Fonte: kdfrases.com A revolução industrial mudou a forma e a estrutura do trabalho e das relações de produção. Da manufatura ao trabalho nas fábricas e nas indústrias. Este ponto é de fundamental importância para o seu entendimento das consequências que esta revolução trouxe para a humanidade de forma geral, mesmo que ainda no seus primórdios é possível visualizar em longo prazo fortes transformações sentidas até hoje na estrutura de produção e reprodução social. http://www.infoescola.com/historia/capitalismo/ http://www.cinevest.com.br/materias/Tempos-Modernos-trabalho-alienado-na-Revolucao-Industrial-Entenda-melhor-o-filme%2C2%2C28 http://kdfrases.com/frase/97315 39 6.3 O sentido do trabalho Fonte: pt.slideshare.net A origem da palavra trabalho tem sido comumente atribuída ao latim tripalium, instrumento de tortura utilizado para empalar prisioneiros de guerra e escravos fugidios. O sentido da palavra trabalho atribuído há séculos passados é responsável por inúmeros preconceitos e padrão relacionados à atividade que tem atribuído uma separação hierárquica de funções, que irá se refletir posteriormente em desigualdades sociais. (SILVA, 2005). Assim, em sua própria terminologia, o trabalho carrega uma carga de esforço e desprazer, o que é extremamente compreensível em sociedades onde predominavam o trabalho forçado e que atividades produtivas eram desprezadas e executadas tão somente por escravos como na Grécia e Roma antigas, cabendo aos homens livres a execução de atividades intelectuais ligadas às ciências e às artes. Pode-se afirmar que o trabalho é o ato que o homem executa visando transformar conscientemente a natureza, é uma ação em que o homem media, regula e controla seu metabolismo com a natureza. http://pt.slideshare.net/leticiajahn/sociologia-o-que-trabalho 40 Fonte: kdfrases.com A origem do trabalho encontra-se na necessidade de a humanidade satisfazer suas necessidades básicas, evoluindo para outros tipos de necessidades, mesmo supérfluas. Assim, trabalhar é produzir riqueza, o que é necessário em todosos modos de produção, seja no comunal primitivo, no escravista, no feudal, no capitalista, e mesmo nas experiências socialistas. O que muda é a forma de produzir, a tecnologia utilizada, e a relação entre o sujeito que produziu e o que se apropria do que foi produzido, que varia de acordo com a forma de organização da sociedade. Uma sociedade não vive sem o trabalho, na verdade, pode-se dizer que o homem evoluiu de sua condição animal até sua condição atual devido ao seu trabalho. Engels (s/d, p. 270) afirma que o homem modifica sua relação com a natureza devido ao trabalho. Se na condição animal ele tinha de submeter-se às leis da natureza, através do trabalho ele busca dominar a natureza, transforma-a em proveito próprio. Passa de ser dominado a ser dominante devido ao desenvolvimento do trabalho. 7 A VISÃO DE SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO EM ÉMILE DURKHEIM Émile Durkheim nasceu na cidade de Épinal, na França. Iniciou seus estudos em sua cidade natal e continuou os mesmos em Paris, formando-se em Filosofia. Foi professor de pedagogia em Bordeaux e Sorbonne e depois passou a lecionar Sociologia. Foi o responsável pela introdução do ensino da Sociologia no ensino http://kdfrases.com/frase/105389 41 superior. Interessado pelo socialismo e influenciado por Comte, relacionou sua busca de um método rigoroso aos problemas sociais de seu tempo. Durkheim observa que cabe a Sociologia descobrir as leis da vida social, apresenta a Sociologia como uma ciência positiva, como um estudo metódico. (BONI e QUARESMA, 2005). Deve-se a ele, o reconhecimento da Sociologia enquanto ciência, com objeto e método de estudos próprios. Deu fundamento a uma forma determinada de análise da sociedade – a análise funcionalista. Tal análise baseia-se na visão da sociedade como um organismo, à semelhança de um organismo vivo, um todo integrado, onde cada parte desempenha uma função necessária ao equilíbrio do todo. A preocupação de Durkheim foi com a ordem social e afirmava que a raiz de todos os males estava na fragilidade da moral contemporânea. Julgava poder apontar caminhos para a sociedade com a ajuda da ciência. Segundo ele, os valores morais constituem elementos eficazes para neutralizar as crises econômicas e políticas. A principal tarefa da Sociologia é o estudo dos fatos sociais e não dos individuais. A concepção de Sociologia se baseia na teoria do fato social. O objetivo de Durkheim era demonstrar que pode e deve existir uma Sociologia objetiva e científica, conforme as outras ciências tendo por objeto o fato social. Segundo ele, é fundamental ver a tendência coletiva. A tarefa da Sociologia é estudar a sociedade como um todo, condicionando suas partes. Para Durkheim, o fator social é sempre o determinante. O meio moral que serve de entorno aos indivíduos deve ser tomado como um dado bruto a observação do investigador que não deve assumir em momento algum os valores nele contidos. A Sociologia é o estudo dos fatos sociais. (BONI e QUARESMA, 2005). E fatos sociais são modos de agir que exercem sobre o indivíduo uma coerção exterior, com existência própria, independente das manifestações individuais. O fato social apresenta uma existência objetiva e não significa o resultado de uma acumulação de fatos individuais. O social precede o individual e nunca é redutível a ele; a Sociologia não é uma psicologia, a causa determinante de um fato social deve ser buscada entre os fatos sociais antecedentes, e não entre os estados da consciência individual. O método para a pesquisa social deveria ser realizado diante do rompimento com o espiritualismo e com o subjetivismo. O sociólogo deve proceder como cientista, onde a Sociologia deve utilizar informações 42 controláveis e provenientes de um tratamento objetivo; ela deverá ordenar os dados coletados para construir tipos sociais que permitam a comparação. O seu método deve “considerar os fatos sociais como coisas”. 7.1 Características apresentadas pelos Fatos Sociais Objetividade: os fatos sociais são objetivos e são exteriores à consciência individual, provêm da sociedade e não do indivíduo, são próprios do grupo. O indivíduo os adquire para viver em sociedade, são anteriores e superiores ao indivíduo. Ex.: modo de vestir, língua, religião. Coerção: os fatos sociais se impõem ao indivíduo, exercem pressão social. Se o indivíduo tentar desviar-se do grupo social, sofre sanções aprovativas ou reprovativas. Generalidade e Diversidade: os fatos sociais são gerais, pois existem em todas as sociedades. Mas ao mesmo tempo, não são uniformes. Todo o fato social depende do grupo, da época, do local. Solidariedade Mecânica e Orgânica: nas sociedades onde predominam a solidariedade mecânica, os indivíduos participam de uma consciência coletiva comum. A solidariedade mecânica tem sua origem na semelhança dos membros individuais e o estado é de consciência coletiva. Nas sociedades de solidariedade mecânica existe um total predomínio da sociedade sobre o indivíduo. (SILVA, 2005). A semelhança é muito forte entre os indivíduos e o espaço individual é menor. Na sociedade de solidariedade orgânica, os indivíduos estão integrados na sociedade e cada um depende do outro. Isto deve-se à especialização de funções e ao crescimento da divisão social do trabalho e a heterogeneidade entre os indivíduos, diminuindo a consciência coletiva. Nas sociedades arcaicas, a diferenciação dos indivíduos se traduz por uma solidariedade de tipo mecânico, “por similitude”; todos os indivíduos são semelhantes, fazem as mesmas coisas. Em nossas sociedades complexas, em que a divisão do trabalho é mais acentuada, a diferenciação se faz por solidariedade orgânica: o vínculo social repousa na separação das atividades, repartidas de maneira complementar e mais ou menos parcelar. Assim, a sociedade cria o “indivíduo”, a pessoa. Anomia e Patologia: significa ausência de normas. (BONI e QUARESMA, 2005). Segundo Durkheim, os problemas sociais tinham sua origem na ausência de normas. O mundo moderno, que trouxe liberdade aos indivíduos, trouxe também 43 excesso de egoísmo e individualismo. Os códigos morais entraram em declínio, e a falta de orientações morais gerou a falta de regras. A anomia moderna tem por origem uma nova forma de divisão do trabalho social – separação das atividades de concepção e de execução, e especialização das tarefas – que favorece o individualismo. As partes da sociedade que não estavam integradas e não contribuíam para o bom funcionamento do todo eram, para Durkheim, chamadas de fatos sociais patológicos. Os comportamentos patológicos (regras sociais falhas) representam “doenças”. Tais comportamentos representam a falta de cumprimento de função de cada um e atrapalham o bom andamento do todo. Funcionalismo: a ideia funcionalista não tem origem com Durkheim, mas ele a tomou de Darwin e Spencer. O funcionalismo compara a sociedade com um organismo vivo em que cada parte desempenha sua função. Se cada parte desempenha bem sua função, o todo vai bem. Se uma parte do organismo falha, todo o organismo se ressente. No modo de ver funcionalista, a sociedade é como um organismo integrado em que cada parte deve cumprir sua função. E, se existem problemas na sociedade, é porque as partes não estão suficientemente integradas. (BONI e QUARESMA, 2005). Cabe à Sociologia localizar as partes que não estão bem integradas e restaurar o funcionamento normal. Sociedade e Indivíduo: para Durkheim, a sociedade é superior e tem precedência sobre o indivíduo. A vida social se explica pela sociedade e não pelo indivíduo. As estruturas sociais funcionam independentemente dos indivíduos e condicionam suas ações. A sociedade age sobre os indivíduos e modela suas formas de agir, pensar e sentir. Metodologia: tendo como pressuposto que a sociedade é superior ao indivíduo e que as ciências sociais
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