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GESTÃO DE MARKETING 4.0 CASOS, MODELOS E FERRAMENTAS AUTOR EDMIR KUAZAKI GRUPO GEN CAPÍUTLO 1: DO MARKETING TRADICIONAL AO MARKETING 4.0 1.1INTRODUÇÃO Instituições financeiras como bancos procuram oportunidades de negócios e contínua redução de despesas, principalmente pela otimização de processos. Já foi a época em que o correntista tinha de ficar na fila para realizar uma operação ou mesmo efetuar um saque. Atualmente, o mundo digital ocupa posição de destaque no segmento bancário, tanto sob o ponto de vista da empresa, com a informatização, quanto na oferta de serviços aos consumidores, envolvendo caixas eletrônicos, atendimento online, aplicativos para movimentações, até o depósito de cheques por meio de fotografia via celular. A modernidade vem de como os serviços são prestados, em que a tecnologia não é o fim, mas um dos meios de atender o cliente, bem como das estratégias de marketing que visam a consolidação de marca e posicionamento estratégico das empresas. Fundos de investimentos como os da Brainvest, que utilizam inteligência artificial com algoritmos que ajudam a melhor composição da carteira de papéis em ambientes turbulentos, campanhas envolvendo temas como sustentabilidade, banco digital e banco 24 horas, por exemplo, aplicam estratégias veiculadas de forma tradicional (Above the Line – ATL) e em meios mais direcionados (Below the Line – BTL), de forma a ampliar a integração da comunicação empresa-mercado. Um bom exemplo dessa integração é a campanha “Leia para uma criança”, do Banco Itaú, criada em 2012 pela DPZ&T que, além de envolver a própria essência do tema da campanha – ler um livro físico para uma criança –, abrange o empoderamento feminino em filme sobre menina que se torna cientista ou astronauta exibido no Espaço Itaú de Cinema, com as canções Starman de David Bowie e Dream on do Aerosmith, e a distribuição de 1,8 milhão de kits de livros em 2018, com direito à presença de Malala Yousafzai, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz. Este capítulo procurará contextualizar e discutir como as empresas podem utilizar as ferramentas de marketing digital no sentido de fortalecer os vínculos de relacionamento com o seu mercado, monitorando-o e acompanhando as suas tendências e transformações. No decorrer do capítulo, serão citadas várias empresas que praticam o Marketing 4.0 e, ao final, um estudo de caso envolvendo uma empresa brasileira, a Giuliana Flores, exemplo de empreendedorismo e atuação no mundo digital. QUESTÕES INICIAIS 1.De que maneira as instituições financeiras podem se diferenciar umas das outras, considerando somente as ferramentas digitais? 2.Você considera que somente as ferramentas digitais são os diferenciais que as pessoas procuram? 3.Que outras estratégias as instituições financeiras podem utilizar, além das digitais, de forma a contribuir com seus clientes? 1.2EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS DE MARKETING Um dos pontos principais do marketing é que ele deve satisfazer necessidades e desejos de consumidores. Essa afirmação pode ser discutida sob vários pontos de vista, mas nunca contestada, pois o cliente é o início, meio e fim de todo negócio, sendo sua satisfação o propósito de toda organização. Essa essência passou por uma (r)evolução conceitual que foi – e ainda é – o reflexo da sociedade em que vivemos. O conceito inicial era o de Produção, no qual a premissa é a de que consumidores preferem produtos baratos e fáceis de encontrar, e empresas procuram formas de baratear e aumentar o volume de fabricação, eliminar gaps e encontrar formas de otimizar processos. A ideia de chão de fábrica envolve questões relacionadas aos recursos econômicos como instalações, máquinas, equipamentos e processos produtivos. O fenômeno do crescimento econômico inicial chinês parte dessas premissas, pois o objetivo central era oferecer produtos a custos bem menores que a concorrência. Depois, o conceito passou para o Produto, quando houve maior preocupação sobre as características e qualidade do que era fabricado, pois as empresas entenderam que consumidores preferem outros atributos além de preço baixo. Funcionalidade, desempenho, performance, durabilidade e design, entre outros, começaram a fazer a diferença na escolha pelo consumidor. A indústria automobilística passou pelo processo de produção e produto, no sentido de manter a sua posição competitiva. Se antes a indústria fornecia automóveis estilo padrão, com poucas opções de acessórios, hoje procuram se diferenciar pelo design, cor e outros atributos físicos. Após a Segunda Guerra Mundial, a economia norte-americana precisou se recuperar dos impactos do período da guerra. Dessa forma, com o aumento da produção e da oferta de produtos, o conceito de Vendas se tornou o foco das empresas, nas quais a ideia era escoar o mais rapidamente possível o que era produzido a partir da premissa de que os consumidores somente comprarão a quantidade desejada pela empresa por meio de fortes estímulos de curto prazo, como promoção e vendas mais agressivas. Daí a clássica distinção do conceito de que “vendas” é algo que objetiva o curto prazo. Determinadas categorias de varejo utilizam o conceito, de forma a manter suas vendas e se diferenciar da concorrência. Com a evolução de mercados e o crescimento de consumo, algumas empresas começaram a perder controle da qualidade do que prometiam. Daí surgiu o conceito de marketing, voltado para o atendimento das necessidades e desejos dos consumidores, em que a preocupação central é estabelecer compromissos e relacionamentos de longo prazo e as vendas como uma consequência natural de um marketing bem aplicado. Esse conceito é válido até os dias de hoje. Nos anos 1970, a comunidade internacional começou a discutir a finitude dos recursos naturais, como a água, considerada recurso não renovável, derivando daí questões relacionadas ao aquecimento global e a como as políticas públicas internacionais e de cada país poderiam minimizar os impactos ambientais. Surgiu então o Marketing Social, voltado para as carências e necessidades sociais, que foi se incorporando nas empresas como diferencial competitivo. No Brasil, o movimento de Responsabilidade Social ganha força a partir da década de 1990, ampliando-se depois para questões relativas à sustentabilidade. Empresas começam a incorporar em sua comunicação o discurso de que praticam atividades politicamente corretas, no sentido de ganhar visibilidade positiva perante os diferentes públicos de interesse, denominados por Freeman (1984) como stakeholders. SAIBA MAIS Stakeholders são todos aqueles que agregam valor ao consumidor final. Neles estão incluídos os fornecedores de matéria-prima e serviços, público interno, distribuidores, enfim, todos aqueles que geralmente fazem parte do microambiente da empresa. 1.2.1Marketing 3.0 Os conceitos anteriores evoluíram para o Marketing 3.0, de acordo com o qual pessoas não são simplesmente consumidoras, mas seres humanos norteados por crenças, valores e com vontade de transformar a realidade de suas vidas, bem como da sociedade, em um mundo melhor, com moral, justiça, consciência social, econômica e ambiental. Conforme Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010, p. 16), “buscam não apenas satisfação funcional e emocional, mas também satisfação espiritual, nos produtos e serviços que escolhem”. Essas escolhas refletem produtos e serviços politicamente corretos, que não agridem a natureza e que estão dentro de práticas sustentáveis. Empresas de cosméticos, como a Natura, oferecem produtos que não agridem a natureza, e essas práticas são extensivas a seus fornecedores de matéria-prima. Dentro de sua comunicação, podem estar inseridas campanhas de conscientização ambiental e outras causas que visem a melhoria contínua da sociedade. Esse conceito deve ser uma bandeira a ser defendida, mas não utilizada como simples formade se promover no mercado ou obter benefícios fiscais. Além das ferramentas tradicionais, recomenda-se a utilização de Relações Públicas, no sentido de dar melhor credibilidade e visibilidade às ações. 1.2.2Marketing 4.0 As empresas, com a abertura dos mercados internacionais, viram a necessidade de manter sua posição competitiva e seus níveis de crescimento, por isso buscaram novas formas de fazer negócios, aumentar a produtividade e reduzir custos operacionais. Na década de 1980, empresas dos setores industriais e varejistas começaram a realizar transações eletrônicas como o Electronic Data Interchange (EDI) no sentido de otimizar a logística e cadeia de suprimentos. Instituições financeiras também procuraram agilizar seus processos, como aqueles relacionados à comunicação entre agências locais e internacionais. De forma geral, essa movimentação rumo ao mundo digital foi se ampliando, influenciando praticamente todos os segmentos econômicos, desde os serviços públicos, como correios e limpeza pública, até o monitoramento de áreas agrícolas por drones e aplicativos. Nesse caso, sob a ótica corporativa, a Embrapa se destaca como uma das mais atuantes no desenvolvimento e utilização de tecnologias para pesquisas e desenvolvimento de bens agrícolas. Sob a ótica do mercado, empresas como a Netflix têm-se destacado na inovação de modelo de negócios bem como de estratégias digitais. Conforme será evidenciado na seção sobre as variáveis macroambientais, a empresa deve estar preparada para utilizar as ferramentas digitais e as tecnologias envolvidas. Dessa forma, na análise do modelo Canvas, defendida por Osterwalder e Pigneur (2009), a empresa deve estar toda dimensionada de modo a estruturar, utilizar e principalmente fazer o consumidor perceber que a tecnologia não é o fim, mas uma forma e um meio com que a empresa atende de maneira diferenciada as necessidades e desejos do seu consumidor. O modelo Canvas pode ser a base para o planejamento estratégico, que será aprofundado no Capítulo 6. Conforme Cabral e Yoneyama (2001, p. 45), produtos digitais são aqueles que ocupam somente espaço físico virtual, como a informação, o entretenimento e serviços. São sustentados pelos processos digitais, que envolvem desde o pedido e o armazenamento até o download, ou seja, a entrega do produto digital. Além do produto, existe a distribuição, a promoção e o preço (marketing mix), de forma a tornar o produto comercializável. Por serem intangíveis, um dos grandes benefícios para economias desenvolvidas é a exportação de bens intangíveis, que sob a ótica deste livro está relacionada diretamente à Tecnologia, bandeira estratégica defendida pelo governo Obama, beneficiando as empresas de tecnologia em detrimento das empresas de produção (chão de fábrica), como as montadoras de automóveis. 1.2.3Variáveis macroambientais As variáveis macroambientais são aquelas sobre as quais a empresa não exerce nenhum tipo de controle, mas que influenciam fortemente os seus negócios. São categorizadas como variáveis demográficas, econômicas, geográficas, tecnológicas, de sustentabilidade e comportamentais, entre outras. Analisaremos aquelas mais relacionadas ao fenômeno da economia 4.0, como a estrutura etária, a tecnologia e o comportamento. 1.2.4Gerações intergeracionais Dentro do contexto demográfico, destaca-se a estrutura etária, tomando-se o especial cuidado de não ser um simples recorte, pois ele deve estar contextualizado com o meio onde estão inseridas as populações, sua cultura, memória, entre outros aspectos qualitativos regionais e internacionais. Inicialmente, a análise está relacionada ao histórico cronológico das gerações passadas, suas características e aspectos, e a como contribuíram para o perfil das atuais. Esse perfil pode ser moldado de acordo com as influências também da localização. Deve-se entender que o processo intergeracional precisa ser analisado sob dois aspectos. Um deles, discutido na evolução dos conceitos com foco em marketing, leva em consideração a evolução da sociedade por meio de fatores econômicos que conduzem o desenvolvimento de negócios das empresas. Outro aspecto está relacionado aos fatores sociais, diretamente relacionados ao ambiente social em que as pessoas estão inseridas, em um contexto humano, político e ideológico que reflete diretamente crenças, valores, atitudes e comportamentos. Esses fatores se complementam, e a partir disso percebe-se que a evolução de conhecimentos tem influenciado as percepções de mercado e as ações das empresas. Se antes a venda no varejo era realizada por meio de um atendente atrás de um balcão, nos dias de hoje existem fatores relacionados à ambientação temática, autoatendimento, estímulos de neuromarketing, atendimento técnico, personalizado e ações digitais que constantemente estão evoluindo no sentido de fazer a diferença frente aos clientes. Esse conceito é dinâmico e de forma alguma podemos considerar que gerações são homogêneas em relação ao ser, pensar e agir. Estabelece-se como referência comportamental de uma geração inserida dentro de um contexto social. Pensando dessa forma, as gerações comportamentais podem ser categorizadas como Baby Boomers, X, Y e Z, de acordo com o período de nascimento, conforme será mais bem explicado no Capítulo 8, que aborda o perfil do profissional de marketing. Preliminarmente, pode-se associar que essas gerações evoluíram de acordo com os conceitos de marketing, segundo os quais as gerações X e Y nasceram praticamente dentro de outra realidade, a do ambiente virtual, tecnológico, influenciador de suas práticas e comportamentos quanto ao mundo em que vivem e no contexto de uma perspectiva e comportamento com visão de curto prazo. Geralmente aderem a causas e nem sempre respeitam a hierarquia. São mais visuais e auditivos, o que obriga as empresas a terem programas de comunicação mais direcionados a esse perfil. 1.2.5Mídias sociais Estão representadas por plataformas, sites e aplicativos que permitem a conexão, o relacionamento e o compartilhamento de conteúdo de usuários. As plataformas originalmente foram desenvolvidas para utilização de troca de informações em universidades por professores e alunos e para depósito de material. Plataformas como o Blackboard facilitam o trabalho das escolas, no sentido de não terem de desenvolver tecnologias específicas para suas necessidades, tampouco a sua manutenção e upgrade. Com a entrada nelas de grupos de comunicação, como jornais e revistas, na década de 1990, houve a popularização do meio, influenciando a entrada de empresas e pessoas por meio de sites, blogs, wikis, sites de compartilhamento etc., favorecendo a ideia da criação de redes sociais. Diferenciam-se dos meios tradicionais de comunicação, como o jornal e a revista, por se tratarem de canais na internet e com inúmeras possibilidades de interação, participação e controle entre os usuários. Dentro desse conceito estão as redes sociais, como Facebook, Google, Instagram, Twitter, WhatsApp e YouTube, por exemplo, que se tornaram na última década os maiores influenciadores de comunidades. Em suma, cada rede social possui características próprias atrativas a perfis distintos de usuários e constroem grupos de relacionamentos que interagem entre si e compartilham os mesmos interesses, desejos e experiências. Em tese, é uma forma diferenciada de segmentação de mercado e cada rede social oferece um rol de serviços que visam facilitar as relações entre os usuários e acumular dados e informações que servem como referenciais para empresas anunciarem seus negócios. Por outro lado, empresas disponibilizam em suas páginas informações importantes que devem ser constantemente monitoradas pelos likes, opiniões ou mesmo a presença de fake news que influenciam na percepção de sua imagem. 1.2.6Agências na era digitalSe antes as agências de publicidade e propaganda tinham o dever de criar campanhas utilizando os meios e veículos tradicionais, hoje as agências digitais devem utilizar também outros meios e veículos, de forma a estabelecer uma relação de melhor contato e fidelidade com o cliente. Empresas como a Johnson & Johnson utilizam as mídias tradicionais como a eletrônica e a impressa, ao mesmo tempo que as redes sociais, como o Facebook, monitorando até a quantidade de curtidas e desenvolvendo ações em tempo real, de acordo com a intensidade da participação do público em face dos posts. O próprio Facebook revolucionou o mercado publicitário, eliminando a necessidade das agências na veiculação de anúncios na rede e, em muitos casos, transferindo a responsabilidade do anúncio para o usuário. 1.2.7Cocriação A economia colaborativa pressupõe que um negócio possa sofrer a contribuição de terceiros para o seu aperfeiçoamento e desenvolvimento, como ocorre com a Wikipédia. Esse processo sofre uma evolução e revolução com a ideia da cocriação. Conforme Ramaswamy e Ozcan (2014, p. 3), todas as empresas “devem ser projetadas como um eixo conector de plataformas de engajamento. Seu papel deve ser organizar a capacidade humana para que todos os stakeholders atuem como cocriadores e se beneficiem da criação conjunta de valores”. É um processo em que todos do Sistema de Valor participam, de forma a desenvolver de forma sustentada um negócio, uma ideia ou mesmo um produto. Conforme os mesmos autores (2014, p. 9), a Nike, ao desenvolver seus calçados, envolve estudos e análises próprias, além do monitoramento dos atletas que utilizam seus calçados dentro de ambientes controlados de uso. O Kickante é uma plataforma de crowdfunding que visa receber contribuições destinados a projetos individuais, geralmente de pessoas físicas. Os interessados podem apresentar as propostas com as orientações dos especialistas da plataforma no sentido de obter o melhor volume de recursos e para que os projetos se concretizem. 1.2.8Storytelling e storyselling National Storytelling Network (NSN) define storytelling como uma forma de arte antiga e importante como expressão humana usada de várias maneiras. Tem como origem os desenhos pré-históricos nas cavernas e as reuniões dos clãs em volta de uma fogueira para contar e perpetuar a história de geração para geração. No contexto deste capítulo, têm-se duas categorias de aplicação do storytelling. Na primeira, pode-se contar uma história com começo, meio e fim dentro de uma comunidade, com um post ou um vídeo. Neste caso, pode-se ter um vídeo simulando uma família tomando o café da manhã e ressaltar a marca de determinado produto, por exemplo. Já a segunda categoria está inserida em um ambiente mais complexo e contextualizado, como em uma situação de consumo de um cosmético em que se ressalte o diferencial de se aplicar práticas politicamente corretas que estejam alinhadas com a missão e a visão da empresa. O storyselling tem o objetivo direto de utilizar uma retórica que vise vender algo. As histórias devem envolver os consumidores de forma a gerar consequências positivas e vínculo de relacionamento. Pode-se utilizar dentro da história o depoimento de alguém que já consumiu o produto, obteve experiências positivas e resolveu realmente o seu problema como consumidor. 1.2.9Marketing de conteúdo Percebe-se que, ao tratar do marketing digital, não é suficiente o conhecimento em tecnologia da informação, mas sim em todos os formatos e ferramentas disponíveis ou a desenvolver. O marketing de conteúdo é uma dessas ferramentas. Consiste na criação, seleção, desenvolvimento e inserção de conteúdo online que vise chamar a atenção, o interesse e o desejo do consumidor em potencial (lead) e acionar o comando de consumo, transformando-o em cliente. Empresas devem estudar quem são seus consumidores e aproveitar as oportunidades do meio digital com as ferramentas e os recursos apropriados que possibilitem atrair o público no sentido de cativar e engajar, por vezes de forma gratuita e espontânea. O engajamento tem como objetivos informar, educar, entreter e criar empatia, perpetuando o vínculo cognitivo de confiança na marca. Veja a Figura 1.1. Quadro 1.2 Checklist para o desenvolvimento do marketing de conteúdo Palavra-chave: Que texto (conteúdo) deve ser desenvolvido? Definição do tema da campanha (que pode ter um slogan como mote), dos objetivos de comunicação e definição do conteúdo que deverá ser criado e desenvolvido no sentido de atrair a atenção de consumidores e de se tornar fonte de consulta espontânea e contínua. Um laboratório farmacêutico deve utilizar conteúdos relacionados à área de saúde, comportamento, desenvolvimento de novas tecnologias e não somente a divulgação dos benefícios de seus produtos. Palavra-chave: Que argumentos (retórica) utilizar? Que roteirização e argumentação – lógica de texto, discurso e retórica – deverão ser seguidos para compor as fases de intimidade e relacionamento com o consumidor? Esses conteúdos devem estar disponibilizados dentro de uma linha argumentativa (justificativa) lógica para o consumidor. Pode-se elaborar grupos de notícias focadas em temas, para que elas não se percam e façam sentido na cabeça do consumidor, por exemplo, mostrando cenas do cotidiano e a situação de problema de saúde; depois, como as especialidades de determinado laboratório farmacêutico contribuem para atenuar o problema da pessoa. Palavra-chave: Como divulgar (que canais de comunicação utilizar)? Identificação e seleção dos meios (redes sociais, blogs, mídias offline, entre outras) em que os conteúdos serão divulgados. Cada meio e veículo de comunicação possui uma qualificação e alcances específicos, com um histórico de como utilizar e resultados auferidos. Dentro dessa realidade, as redes sociais representam segmentações bem definidas, tendo o poder de concentrar grupos de pessoas dentro de tribos, como o Facebook, uma comunidade de amigos que curtem e compartilham notícias de interesse pessoal e geral; LinkedIn, que tem uma concentração de profissionais para profissionais, espécie de vitrine de oportunidades de trabalho e emprego; Twitter, rede informal que traz opiniões; e finalmente, o Instagram, rede mais estilosa e de vanguarda, preferida hoje pelos jovens em detrimento do Facebook. Palavra-chave: Como (estratégia de comunicação) desenvolver? Uma empresa sem estratégia é como um barco à deriva no meio do oceano. As estratégias devem ser selecionadas com intensidades diferentes, de acordo com os resultados que a empresa entende que cada segmento de mercado pode oferecer. Dessa forma, os mercados online e offline envolvem diferentes grupos de consumidores que são afetados de formas diversas de acordo com cada ferramenta de comunicação. De forma geral, dentro desse cenário, é importante que cada ferramenta seja utilizada pontualmente e que possa gerar a virilidade necessária (por exemplo, os compartilhamentos) e a colaboração (pessoas que podem contribuir para o incremento da estratégia), no sentido de ampliar exponencialmente a abrangência e a intensidade da comunicação. Como forma de aderência aos temas das campanhas, elas devem estar relacionadas a fatores familiares, fãs, seguidores e amigos (ou seja, os 4 Fs em comunicação: family, fans, followers e friends). O YouTube ampliou as possibilidades de relacionamentos entre pessoas e empresas, por meio da exposição e do compartilhamento de vídeos, criados, desenvolvidos e armazenados na plataforma. Palavra-chave: Como (estratégia de convencimento) influenciar? A partir do acesso, consulta e possível interação de conteúdo, deve-se identificar, pela interatividade do consumidor, o convencimento de que o que a empresa oferece trará as devidas contribuições para a solução de seus problemas, considerando o estágio do consumidore seu grau de empatia com os argumentos propostos. Dentro do plano de comunicação, se houver a venda direta, ótimo! Porém, se não houver, que haja o fortalecimento da recomendação de consumo, que trará melhor confiabilidade na comunicação. Palavra-chave: Como (controle e avaliação) avaliar e comparar? Numa visão sistêmica necessária, deve-se estabelecer critérios e indicadores de gestão que possibilitem a análise, o monitoramento e a avaliação das ações e resultados. Reside nessa fase uma das questões mais complexas e polêmicas, pela novidade do assunto, que não possui um histórico pleno: a de que não é possível uma avaliação perfeita considerando-se o ambiente virtual dos aspectos qualitativos envolvidos no processo. Trata-se de uma poderosa ferramenta de extensão de comunicação de marketing que resulta na melhor fidelidade dos clientes de sua empresa. É diferente do e- commerce, pois o consumidor procura o que deseja a partir do apoio de outros meios e veículos de comunicação. O Marketing 4.0 preconiza o aprofundamento nos relacionamentos entre consumidores mais empoderados pela interconectividade tecnológica e digital. 1.2.10Desafios e oportunidades do Marketing 4.0 1.2.10.1Inclusão digital Nem todos possuem acesso à internet, ou hábitos relacionados ao uso de ferramentas e novas tecnologias. De acordo com pesquisa realizada pelo The Economist e Facebook comentada pela Meio & Mensagem (2017), o Brasil está entre os dez países com maior número de desconectados na internet, representando cerca de 70 milhões de pessoas. Entre as razões, estão falta de acesso e disponibilidade, custo referentes a serviços e equipamentos, além “de conteúdos relevantes que favoreçam o desenvolvimento de habilidades digitais”. A inclusão digital não envolve somente pessoas, mas também empresas, que nem sempre têm recursos suficientes para investimentos, ou mesmo percepção para entender a importância da tecnologia da informação em seus negócios. Se, por um lado, o mundo digital vem influenciando as práticas de marketing, empresas têm também utilizado as formas tradicionais de se comunicar com o mercado. Dessa forma, o importante é estabelecer um equilíbrio entre o que é possível dentro dos objetivos e do budget da empresa. 1.2.10.2Cauda Longa Com o avanço das tecnologias, surgiram diferentes novas propostas de produzir, comercializar e vender produtos e serviços. Se antes existiam livrarias de grande porte que comercializavam fisicamente livros e que tinham de superar desafios logísticos e financeiros em manter pelo menos os títulos mais procurados nas prateleiras, em detrimento dos menos procurados, a internet possibilitou que fossem oferecidas profundidades e linhas mais extensas para que os títulos vendidos, em quantidades menores, tenham boa representatividade se comparados aos títulos mais procurados, em número menor de opções. Anderson (2006) discutiu a Cauda Longa como um fenômeno contemporâneo a partir do desenvolvimento digital, ressaltando que esse conteúdo digital é diferente do universo tradicional. 1.2.10.3Oceano Azul Kim e Mauborgne (2005) apresentam a estratégia do Oceano Azul, criando valor fora do Oceano Vermelho. Produtos são comercializados em mercados de grande concorrência e, consequentemente, esforços (Oceano Vermelho) que diminuem a margem de lucro. Empresas, considerando a concorrência, adotam posturas de diferenciação, liderança de custos ou a exploração de nichos de mercado. A solução é identificar outros segmentos de baixa concorrência (Oceano Azul) ainda não explorados, que contribuam para os resultados dos negócios por um posicionamento único. Um exemplo é o Cirque Du Soleil, que, em vez de desenvolver o negócio circense como os outros e com as mesmas atrações, resolve descartá-las e promover espetáculos diferenciados Cada vez mais as empresas terão de entender o consumidor, sob o ponto de vista quantitativo e, principalmente, o perfil qualitativo. Dessa forma, evoluem os métodos e técnicas de pesquisa, como as entrevistas de profundidade, focus group e os respectivos instrumentos de coleta de dados a serem evidenciadas no Capítulo 2, que aborda a pesquisa de mercado. Um dos principais desafios é compreender como o meio digital influencia os consumidores de cada empresa, pois envolve um conjunto de situações que nem sempre são objeto de previsão e identificáveis no negócio em que a empresa atua. É cada vez mais relevante descobrir novas formas de coleta e análise de dados. Com a realidade da tecnologia da informação e o mundo digital, tem-se o Big Data, constituído por macrofluxos de dados em alta velocidade, tendo a necessidade da empresa de transformá-las em informações que possam ser utilizadas no processo decisório e planejamento estratégico. Temos quatro tipos de análise de dados: •Preditiva: na qual é necessária a previsão, a partir da análise de dados ao longo do tempo, identificando padrões e justificativas de determinados comportamentos. A análise possibilita a identificação e a avaliação de tendências e que tipos de ajustes poderiam ser realizados. •Prescritiva: procura analisar as informações de consequências do acontecimento. Se na preditiva temos a previsão, nessa temos que tipos de produtos e serviços serão os mais demandados e modelos de vendas. •Descritiva: procura analisar o presente em vez do futuro, de forma que as decisões sejam tomadas da maneira mais segura e com menores riscos. •Diagnóstica: procura analisar as relações entre causas e efeitos, baseando-se na coleta de dados cruzados que visem entender a situação atual. A evolução digital possibilitou que empresas pudessem ter maior número de dados e informações que sustentem o processo decisório, tomassem as decisões mais assertivas, antecipassem problemas e movimentações de concorrentes. Letouzé (2015) comenta que um dos principais problemas é o domínio das informações pelo setor privado, que não tem interesse em compartilhar com outros stakeholders parte dos dados obtidos, melhorando a qualidade do Big Data. Outro problema é que nem todos utilizam de forma completa os aparelhos de celular, frequentam e participam de redes sociais, entre outros, que servem como base para a extração dos dados. Segundo Rotella (2012), em contraponto a Letouzé, as empresas devem tratar os dados como ativo corporativo, gerenciando dados em suas unidades de negócios, global e localmente. Isso permite o compartilhamento de dados sobre o mercado e produtos, gerando oportunidades para venda, retenção de clientes e venda cruzada, por exemplo. Quanto à questão ética, Srour (2003, p. 50) afirma que “as decisões empresariais não são inócuas, anódinas ou isentas de consequências, carregam um enorme poder de irradiação, pelos efeitos que provocam”. Os conteúdos do Big Data advêm de diferentes formas e origens, nem sempre as pessoas estão cientes de que são fornecedoras autorizadas de dados e informações para terceiros. Além disso, por se tratar de assunto relativamente novo e a partir de discussões de autores como Letouzé e Rotella, ele ainda é passível de dúvidas e considerações. Um dos maiores desafios da empresa é identificar informações necessárias para que se descubram novas oportunidades, gargalos, padrões, não somente atender as necessidades atuais. Por vezes, situações como Copa do Mundo, Olimpíadas, Natal, Ano Novo, por exemplo, são segmentadas e apresentam comportamentos que devem ser identificados e analisados em tempo real. De forma geral, deve-se utilizar uma combinação dos tipos de análises, para que se entenda o presente, o futuro, as razões e reações por parte da empresa. CAPÍTULO 3: SEGMENTAÇÃO DE MERCADO E CONSUMIDORES 4.0 3.1INTRODUÇÃO Após seu retorno com sucesso no início da década de 2000, a fabricante de motocicletas Harley-Davidson tinha um dilema: a empresa deveria expandir a comercializaçãode seus produtos para públicos diferentes? O mercado para motos pesadas estava diminuindo, a clientela principal de “motoqueiros” que havia mantido a empresa em funcionamento nos anos magros não podia ser esquecida, mas um novo tipo de cliente parecia ser a chave do crescimento de mercado. Para descobrir isso, a empresa formou focus groups com proprietários de Harley-Davidson, candidatos a proprietários e proprietários de motos de outras marcas para fazer um trabalho de colagem que expressasse seus sentimentos sobre a motocicleta. O trabalho de todos os grupos envolvidos revelou temas em comum: prazer, estar ao ar livre, liberdade. A seguir, a empresa postou mais de 16 mil questionários com baterias de questões envolvendo aspectos demográficos, psicográficos e comportamentais, com 30% de taxa de resposta. A partir das respostas, foram identificados sete tipos de consumidores: o tradicionalista apaixonado por aventura, o pragmático sensível, o buscador de status e elegância, o campista despreocupado, o capitalista sofisticado, o solitário calmo e o desajustado arrogante. Todos apreciavam os produtos da Harley-Davidson pelas mesmas razões: independência, liberdade e poder eram os apelos universais. A atração à marca Harley--Davidson era muito semelhante entre todos os grupos. Essa atração significava que a empresa poderia produzir e vender mais motocicletas para esses grupos. 3.2SEGMENTAÇÃO DE MERCADO A segmentação de mercado consiste num processo de agrupamento de consumidores e clientes que compartilham de características, necessidades, vontades, desejos, gostos, preferências, valores, crenças, opiniões, hábitos e estilos de vida semelhantes. Parte fundamental do planejamento de uma empresa, juntamente com a definição de público-alvo e de posicionamento estratégico do produto/serviço, a segmentação constitui a base para a criação de estratégias de marketing eficazes. Para consumidores finais, a formação de segmentos de mercado envolve análises de características descritivas (demográficas, geográficas e psicográficas) e comportamentais (ocasiões de uso, hábitos de compra). Para consumidores organizacionais (B2B), os critérios de análise se alteram um pouco: há variáveis geodemográficas (setor, ramo de atividade, tamanho da empresa, localização), operacionais (por exemplo, nível de maturidade tecnológica), de abordagem de compras (políticas e critérios de compra, estruturas hierárquicas de poder e relacionamentos existentes), situacionais (urgência de compra, aplicações específicas de produtos, tamanho dos pedidos) e pessoais (relação entre vendedor e comprador). As variáveis de segmentação são utilizadas de forma combinada e adequadas à natureza da empresa, do produto/serviço e das características que definem os consumidores (finais ou organizacionais). Um estudo de segmentação de mercado se inicia por meio do levantamento de dados secundários (por exemplo, pesquisas anteriores) sobre o perfil do público-alvo, segundo critérios geodemográficos, psicográficos e comportamentais escolhidos pela empresa. Por exemplo, deseja-se investigar o seguinte público-alvo: homens e mulheres, entre 18 e 65 anos, moradores de São Paulo capital, das classes A e B, praticantes de atividades esportivas de alta intensidade, pelo menos três vezes por semana, que fazem uma dieta balanceada e uso de suplementação de vitaminas e nutrientes para o bem-estar físico. Veja que o perfil traçado combina em linhas gerais os critérios de segmentação (características geodemográficas, estilo de vida, comportamento de compra). Com base nesse perfil de público-alvo, realizam-se pesquisas qualitativas exploratórias (por exemplo, com a aplicação da técnica de focus group, a qual permite detalhar likes e dislikes, isto é, aspectos positivos e negativos no relacionamento do consumidor com o produto, bem como sua experiência de compra). O objetivo nessa etapa qualitativa é conhecer em profundidade a relação com a categoria de produto em estudo (por exemplo, suplementos vitamínicos). Os resultados da pesquisa oferecem subsídios que revelam as atitudes, hábitos e comportamentos dos indivíduos, reflexo de seus valores, crenças, gostos e preferências. Os achados da pesquisa qualitativa serão quantificados em sua relevância estatística numa pesquisa quantitativa descritiva, por meio do emprego de questionários com escalas de mensuração de atitudes, amostras representativas da população-alvo (todos que compartilham do perfil do público-alvo) e análise estatística multivariada. A análise fatorial e de clusters são as principais técnicas estatísticas aplicadas, com as quais é possível agrupar os consumidores em clusters (segmentos), em função da homogeneidade das características psicográficas e comportamentais entre eles. Será isso que determinará a composição de grupos formados por pessoas com características comuns, ou seja, internamente homogêneos, embora heterogêneos entre si. Quanto mais heterogêneos entre si forem os segmentos, mais eles realmente dividem os consumidores em grupos distintos. Seguindo o exemplo dos consumidores de suplementos vitamínicos, descobre-se que existem quatro segmentos-alvo, assim nomeados: experientes, imagem é tudo, novatos e inseguros. O segmento experientes é composto predominantemente por homens com mais de 30 anos, que entendem tudo da categoria de suplementos, buscam comprar e decidir sozinhos e se preocupam com o impacto do uso de suplementos para a saúde. O segmento imagem é tudo é composto por homens e mulheres jovens, entre 18 a 30 anos, que consomem suplementos por conta do apelo estético, para ficar com os corpos musculosos e bem definidos. Já o segmento novatos conta com consumidores que recebem a influência de profissionais de nutrição e de educação física para a compra e consumo de suplementos, confiando em suas recomendações, e o segmento inseguros envolve aqueles praticantes de atividades físicas que evitam o uso de suplementos com muitos aditivos químicos sintéticos, consumindo apenas aqueles que trazem ingredientes e fórmulas com matéria-prima vegetal (por exemplo, suplemento com proteína de arroz e ervilha). Tomando como base esses quatro segmentos-alvo, desenvolve-se o screening, um questionário-filtro com as principais características que definem cada segmento e que permite verificar, a qualquer tempo, a pertinência da segmentação para qualquer pessoa que se enquadre dentro do perfil do público-alvo desejado. Após a conclusão do estudo de segmentação, inicia-se a fase de targeting, também chamada de posicionamento estratégico do produto. Aqui a empresa deve então posicionar os produtos de modo a focar no(s) segmento(s)-alvo de seu interesse. Dentro dos segmentos encontrados, há um esforço de implantar o(s) benefício(s)-chave e a diferenciação de cada produto ou marca, de acordo com o portfólio da empresa, nas mentes dos consumidores-alvo. Assim, um bom trabalho de segmentação oferece insights que contam a “história do consumidor de cada segmento”, permitindo que se entenda como cada agrupamento se apresenta a partir da combinação de uma série de variáveis – geográficas, demográficas, psicográficas e comportamentais – que definem o perfil dos consumidores, suas necessidades, vontades e desejos. 3.2.1Segmentação geográfica A segmentação geográfica divide os mercados em países, estados, regiões, cidades ou bairros. Os negócios varejistas em particular priorizam esse tipo de segmentação para decidir sobre o melhor ponto de venda para abertura de uma loja, sortimentos de produtos adequados ao perfil de público de determinada região e abrangência dos esforços de promoção e comunicação para atrair o consumidor. Na cidade de São Paulo, por exemplo, há mais de 50 ruas de comércio especializado, onde se encontram opções de compra desde vestidos de noiva (Rua São Caetano, no bairrodo Bom Retiro, conhecida como “rua das noivas”) até instrumentos musicais ou lojas de móveis (Rua Teodoro Sampaio, na Zona Oeste da cidade). Com a evolução dos dispositivos móveis (smartphones) surge a capacidade de identificar a localização atual de um dispositivo e fazer uso dessa informação para fins mercadológicos (o chamado geotargeting). A popularização do Global Positioning System (GPS) permite hoje a proliferação de estratégias e ações de mobile marketing, promovendo segmentações por localização – por exemplo, via aplicativos como o Waze, anúncios levam em consideração o local onde o indivíduo se encontra. Além disso, ferramentas como o Google Adwords ajudam a definir com maior precisão onde anúncios de empresas devem ser direcionados por região, rua, bairro, cidade, estado ou país, elevando a qualidade dos resultados em campanhas de links patrocinados. Celulares conectados à internet permitem o rastreamento de deslocamentos, com a identificação de preferências de compra e consumo. Aplicando-se técnicas de data analytics, as informações geradas servem de subsídios para a concepção de estratégias, o desenvolvimento de táticas de marketing e a criação de novos modelos de negócios, novos conceitos de produtos e serviços. Assim, a segmentação geográfica: •Impacta positivamente na definição de mix de produtos, já que diferentes regiões trazem necessidades, hábitos, costumes e estilos de vida específicos de cada população local. •Permite o estabelecimento de pontos de venda em locais com melhor potencial de atratividade do público-alvo. •Direciona os esforços das equipes de vendas das empresas. •Otimiza o planejamento de mídia e comunicação e possibilita uma análise de competitividade da região-alvo. 3.2.2Segmentação demográfica Na segmentação demográfica, os agrupamentos de clientes ou consumidores potenciais são definidos por variáveis como idade, sexo, renda, tamanho da família, grau de escolaridade, estado civil, religião, geração, nacionalidade e classe social. Amplamente utilizadas em marketing pela sua facilidade de mensuração, as segmentações de caráter demográfico são o passo inicial de toda e qualquer estratégia de segmentação de mercado. Seguem algumas considerações sobre as variáveis demográficas mais utilizadas: •Idade e estágio de vida familiar: ao longo da vida, as pessoas mudam seus hábitos de compra de produtos e serviços, suas preferências por comida, roupas, móveis e entretenimento em decorrência da idade e do estágio de vida (uma família de pais jovens, com filhos bebês, tem um padrão de compra e consumo diferente de uma família formada apenas por um casal maduro, sem filhos e morando na mesma casa). Além disso, as famílias contemporâneas ganham novas configurações – por exemplo, lares monoparentais ou com casais do mesmo sexo – e transformam a análise do papel das famílias no comportamento de compra. •Renda: o poder aquisitivo do indivíduo e das famílias é parâmetro de segmentação básico para centenas de categorias de produtos e serviços. O critério de classificação econômica Brasil (CCEB ou simplesmente Critério Brasil) estima a capacidade de consumo das famílias urbanas, fazendo uma discriminação dos diferentes níveis de renda a partir da análise da posse de determinados bens materiais, o grau de escolaridade do chefe de família (que é a pessoa de referência dentro do domicílio com o maior nível de renda) e acesso a serviços públicos como água encanada e rua pavimentada. Na versão mais recente do CCEB, que se baseia nos valores estimados na Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2017, há no Brasil aproximadamente 3% de classe A, 21% de classe B, 48% de classe C e 28% de classe D. •Geração: não há consenso sobre a periodicidade que determina uma geração, mas entende-se gerações como intervalos de tempo fixos não atrelados aos fatos contextuais vivenciados pelas pessoas. Ikeda, Campomar e Pereira (2008) fazem uso do termo coortes para se referir a conjuntos de pessoas que têm em comum um evento que se deu no mesmo período (por exemplo, coorte de pessoas que nasceram no pós-guerra, os chamados Baby Boomers). A pesquisa global da Nielsen – Estilo de vida das gerações (2016) – entrevistou 30.000 pessoas online em 60 países com o objetivo de compreender os sentimentos dos consumidores globais de acordo com suas diferentes fases de vida. Para fins do estudo, segmentou-se a amostra em cinco classificações: Geração Z (idade 15- 20 anos), Geração Y (21-34 anos), Geração X (35-49 anos), os Baby Boomers (50-64 anos) e a Geração Silenciosa (65 anos ou mais). Entre os resultados encontrados, constatou-se que a utilização das fontes tradicionais de notícias é mais alta entre os entrevistados mais velhos, enquanto as gerações mais novas são mais dependentes de fontes digitais. O resultado parece óbvio, no entanto, não há diferenças significativas entre as preferências pelo tradicional e o digital e as gerações O estudo Nielsen ainda traz como conclusões e insights: •Valores tradicionais como se casar, ter filhos e comprar uma casa ainda são relevantes para muitos entrevistados das Gerações Z e Y, mesmo não sendo as principais prioridades (um quinto dos entrevistados da Geração Z e Y considera comprar uma casa – 21% e 22%, respectivamente –, ou se casar – 19% e 17%, respectivamente –, e aproximadamente 10 a 11% e 13%, respectivamente – consideram ter filhos como um dos três principais desejos para o futuro). •A TV permanece como principal forma de lazer entre todas as idades, mas idosos permanecem utilizando canais mais tradicionais como jornal impresso ou rádio. •Os jovens são altamente conectados, mas não são os únicos atraídos pela tecnologia. •A Geração Y é cerca de duas vezes mais disposta a deixar o trabalho atual após dois anos, quando comparada à Geração X. •Mais da metade dos entrevistados das Gerações Z e Y (52% e 54%, respectivamente) desejam viver em cidades grandes ou ambientes urbanos. •Os mais jovens de classes mais altas economizam dinheiro mensalmente, pois não estão confiantes sobre seu futuro financeiro. Consumidores mais velhos são mais atentos aos gastos e limitam suas compras. •Consumidores de todas as idades esforçam-se para ter uma vida mais saudável, por meio da escolha de alimentos com benefícios saudáveis (por exemplo, baixo nível de sódio, gordura saturada e açúcar, sem glúten, rico em proteínas). Mais da metade dos entrevistados globais de cada geração disse que está disposta a pagar mais por alimentos que ofereçam tais benefícios. •Entre as atividades realizadas no tempo livre, entrevistados mais jovens costumam ouvir mais música e jogar online, enquanto entrevistados mais velhos preferem viajar e cuidar do jardim Classe social: é a divisão em grupos de indivíduos que compartilham características sociais comuns. Esses grupos tornam-se relativamente homogêneos entre si e distintos dos demais grupos sociais. Diferentemente do conceito de classe econômica, pautado basicamente pela variável renda, classe social é resultado de uma combinação de variáveis sociais (por exemplo, características da família, acesso a grupos de referência, traços de personalidade, linguagem e pensamento, valores e crenças, papel social, ocupação, hábitos e costumes) que impactam no comportamento dos indivíduos e provocam distinção social. 3.2.3Segmentação psicográfica Na segmentação psicográfica os consumidores são agrupados com base em traços psicológicos, de personalidade, estilos de vida ou valores e crenças. Esse tipo de segmentação se mostra cada vez mais relevante nos dias atuais, pois diferentes perfis psicográficos podem ser constatados num mesmo grupo demográfico. Por exemplo, um estudo do Ibope (2003) sobre mulheres da classe C (renda média domiciliar de até R$ 2.900,00)constatou diferenças atitudinais marcantes baseadas em estilo de vida, valores e crenças. Além do critério comum de classificação de nível de renda, a pesquisa encontrou aspectos comuns compartilhados: valorização da família e do papel de mãe, filhos como fonte de manifestação de sonhos, desejos e motivações, satisfação com a estrutura familiar, insatisfação com o lado profissional. Contudo, as mulheres de classe C não são um grupo totalmente homogêneo. Foram encontrados cinco segmentos psicográficos distintos: “Eu me amo” (26%), “Eu acredito” (23%), “Eu sobrevivo” (21%), “Eu vou conseguir” (14%) e “Eu não aceito” (10%). Apenas 6% não fazem parte de nenhum grupo (os chamados outliers). Cada um deles destaca traços psicológicos e de personalidade, valores e crenças que permitiram uma distinção clara entre as mulheres pertencentes à mesma classe econômica. Por exemplo, no segmento “Eu me amo”, as mulheres valorizam o papel de mãe, os filhos são fontes de realização de desejos, assumem sem medo o desejo de experimentar, de buscar o novo e satisfazer sua vaidade, revelando claramente sentimentos de autoestima, prazer e aceitação social. Em contraste, no segmento “Eu não aceito”, as mulheres não veem tanto valor na família e no exercício do papel de mãe, não se valorizam como mulheres, não gostam do bairro e casa onde moram, sentem-se menos satisfeitas com a profissão, o trabalho, o casamento, a vida familiar e consigo mesmas. Fica evidente na comparação entre esses dois segmentos que seria um equívoco tratar as mulheres de classe C como uma massa homogênea e indiferenciada. Essas mulheres apresentam perfis diferentes e deixar isso de lado é incorrer em uma miopia de entendimento desse público, o que pode significar, do ponto de vista mercadológico, a perda de oportunidades de negócio. Nos Estados Unidos, a popular segmentação psicográfica VALs (Values and Life Styles, no original em inglês), da Strategic Business Insights (SBL), classifica os indivíduos em oito grupos, com base na análise das respostas de um questionário que faz o cruzamento entre aspectos demográficos e atitudinais. O sistema de classificação VALs é atualizado periodicamente, e no próprio site da SBL é possível descobrir seu tipo de VALs. Com o VALs, os consumidores são categorizados em diferentes estilos de vida, de acordo com a forma como gastam seu tempo e dinheiro disponíveis. Segundo Solomon (2002), o estilo de vida diz respeito às formas como os consumidores escolhem gastar seus recursos disponíveis (tempo e dinheiro), assim como os seus valores, gostos e preferências, refletidas em suas escolhas de consumo. Assim, os valores e estilos de vida são elementos importantes atuais nos esforços de segmentação de mercados consumidores, e o uso do critério AIO (Atividades, Interesses e Opiniões) pode facilitar a compreensão dessas variáveis Os oito grupos definidos pelo sistema VALs são os seguintes: 1.Inovadores: consumidores que estão sempre em busca de informações; são confiantes para novas experimentações; são aqueles que realizam o maior número de transações financeiras; céticos sobre a propaganda; têm exposição internacional; são orientados para o futuro; acreditam na ciência (P&D); são mais receptivos a novas ideias e tecnologias; gostam do desafio de resolver problemas; apresentam uma maior variedade de interesses e atividades. 2.Pensadores: consumidores que planejam, pesquisam e consideram várias alternativas antes de agir; são bem instruídos e financeiramente estabelecidos; conversadores na conduta social e nos modismos; usam a tecnologia como ferramenta de trabalho; compram produtos de credibilidade comprovada; preferem atividades intelectuais tradicionais. 3.Empreendedores: são pessoas que acreditam que o dinheiro é fonte de autoridade; têm uma atitude de “eu primeiro, minha família primeiro”, sendo comprometidos com a família e o trabalho; têm a agenda totalmente ocupada, orientada para metas e resultados; são trabalhadores e politicamente moderados, valorizando o status quo; são reservados, profissionais e valorizam tecnologias que permitem ganho de produtividade. 4.Experimentadores: são consumidores impulsivos e espontâneos, seguidores de tendências e das últimas modas, vão contra o mainstream atual; apreciam atividades sociais e exercícios físicos; os grupos de amigos são extremamente importantes; abertos a experiências estéticas. 5.Crédulos: consumidores mais conservadores e previsíveis; confiam na espiritualidade e na fé para fornecer inspiração para suas vidas; não toleram ambiguidades e incertezas; encontram na propaganda uma fonte legítima de informações; têm atitudes de moda muito fortes; desejam constância e estabilidade de valores; prezam comunidades. 6.Esforçados: consumidores com menos recursos; imitam padrões de consumo de outros grupos; têm empregos rotativos ou alto desemprego temporário; desejam melhorar suas vidas, mas têm dificuldade em realizar seus desejos. 7.Fazedores: consumidores orientados para a ação; desconfiados do governo; valorizam a autossuficiência; concentram-se em atividades ao ar livre; são orientados por preservar o que eles percebem como deles; são “anti- intelectuais”; acreditam em papéis de gênero bem definidos. 8.Lutadores: são pessoas cautelosas, frugais e com aversão ao risco; não estão preocupados em parecerem tradicionais ou na moda; acreditam que uma vida de conforto está associada a rotinas e lugares familiares; são leais a marcas e produtos; usam menos a internet; são em sua maioria mais velhos. Em 2012, a agência de publicidade DM9DDB realizou um estudo pioneiro de segmentação psicográfica com foco no consumidor digital. Chamado de Perfis digigráficos, identificaram-se cinco segmentos que revelam o perfil psicográfico do consumidor em ambiente digital. São eles: •Imersos: consumidores que têm sua identidade social, profissional e afetiva definida a partir da tecnologia, conseguindo se encontrar, definir seus interesses e estabelecer melhores vínculos com a realidade. São várias personalidades e identidades definidas pelo mundo digital, mostrando-se fundamentais para explicar seu desenvolvimento pessoal. •Ferramentados: consumidores que recorrem à tecnologia para agilizar e facilitar as tarefas cotidianas. Esse grupo não se define pelo uso da tecnologia, mas acredita que o ambiente digital colabora na redefinição de como se relacionar com família, escola, empresas/marcas e governo. •Fascinados: consumidores que buscam transparecer modernos, tecnológicos e descolados, acreditam que os hábitos adquiridos na era digital são as novas representações do mundo moderno. Esse grupo acredita que estar presente nas redes sociais o auxilia a comprovar que é antenado. •Emparelhados: para esse segmento, a tecnologia é fundamental para pôr em prática os projetos de vida. A tecnologia é colaborativa para fazer o dia a dia acontecer. As máquinas são como uma extensão do seu corpo, potencializando suas capacidades humanas. Há uma relação simbiótica com as máquinas e suas funcionalidades. •Evoluídos: são as crianças e adolescentes que já nasceram adaptados, crescendo no mundo digital. Não há para eles um mundo pré-digital, ou seja, computadores, tablets e smartphones são parte integrante e natural do cotidiano. O sistema VALs é uma metodologia de segmentação global. Apesar de não haver uma adaptação específica para o Brasil, os critérios atitudinais utilizados como parâmetros de classificação dos grupos podem acomodar diferenças culturais na relação entre atitudes e comportamentos existentes. Logo, as descrições de segmento por país podem sofrer alterações, mas em linhas gerais é possível trabalhar esses perfis psicográficos como balizadores para os processos de planejamento estratégicos, consumer insights e comunicação. O mesmo serve para a proposta de perfis digigráficos do estudorealizado pela DM9DDB. 3.2.4Segmentação comportamental Na segmentação comportamental, os grupos de consumidores potenciais são divididos segundo hábitos e atitudes, ocasiões de compra, papéis de compra, taxas de uso de produtos e status dos usuários. Os hábitos de compra envolvem identificar o que se compra, quanto se compra, onde se compra, quando se compra, com quem se compra, para quem se compra e com que frequência se compra. As atitudes são predisposições de se comportar de uma maneira sistematicamente favorável ou desfavorável em relação a determinado objeto, funcionando como forma de julgamento ou intenções. As atitudes têm o poder de orientar e guiar o comportamento dos consumidores. Nos dias de hoje a população residente em grandes centros urbanos desenvolveu uma preocupação com o consumo de alimentos mais saudáveis – por exemplo, com menos calorias, sem gordura trans, livre de agrotóxicos. Essa preocupação molda as atitudes dos indivíduos em buscar opções de compra que proporcionem uma alimentação mais natural e fresca que contribua para a manutenção da saúde do corpo. Segundo pesquisa do Conselho Brasileiro de Produção Orgânica e Sustentável (Organis), cerca de 15% da população urbana brasileira consomem algum produto orgânico. Entre os mais consumidos, 63% são verduras, 25% legumes, 25% frutas e 12% cereais. As ocasiões de compra podem ser classificadas em termos de hora do dia, semana, mês, ano ou outros aspectos temporais do consumidor. De acordo com Kotler e Keller (2013), “os consumidores podem ser classificados de acordo com a ocasião que sentem uma necessidade, fazem uma aquisição ou utilizam um produto”. Por exemplo, a compra de passagens aéreas está diretamente associada a viagens de negócios, férias ou assuntos familiares/pessoais. A família ainda permanece como o núcleo de comportamento de consumo mais importante na sociedade. Muitas atitudes são moldadas pela influência da família, sendo ela a base do processo de socialização de consumo. É primeiramente na família que se aprende a consumir. A observação dos papéis de compra exercidos pelos membros de uma família é de fundamental importância para compreender algumas dinâmicas de consumo, já que a tomada de decisão acaba se tornando um processo coletivo, fruto da combinação de diferentes interesses entre os membros envolvidos. Sabe-se que as crianças são grandes influenciadores na decisão de compra de diversos produtos, entre eles sorvetes, bolachas, refrigerantes e brinquedos. Os papéis de compra assumidos dentro do núcleo familiar não são excludentes, ou seja, diferentes membros da família assumem papéis diferentes, dependendo do tipo de compra, e também acumulam diferentes papéis se for o caso. Os papéis de compra são os seguintes: •Iniciador: lança a ideia da compra, ao reconhecer uma necessidade, vontade ou desejo não atendido. •Influenciador: emite opiniões que influenciam na decisão de compra e traz informações relevantes para o processo decisório. •Decisor: toma a decisão sobre as alternativas apresentadas. •Comprador: efetua a compra, interagindo com o vendedor na aquisição do produto/serviço escolhido. •Consumidor: é o usuário final do produto/serviço. •Avaliador: expressa preocupação (positiva ou negativa) sobre a compra. Os consumidores-alvo podem ser classificados em usuários frequentes, não usuários, clientes potenciais, heavy users, usuários novos de um produto, fiéis, satisfeitos ou promoters (recomendam a marca/empresa/produto/serviço a outros). De acordo com a intensidade de utilização de um produto/serviço, os mercados podem ser segmentados em light users, medium users e heavy users. Geralmente, os heavy users são uma parcela pequena do mercado potencial, mas proporcionam alta rentabilidade às empresas. Heavy users de produtos Apple são ávidos por novidades e sempre estão dispostos a adquirir os últimos lançamentos da marca. É possível também classificar os usuários pelo grau de fidelidade a uma marca. Os clientes fiéis compram sempre a mesma marca; os fiéis divididos compram duas a três marcas dentro da mesma categoria; os fiéis inconstantes mudam constantemente de uma marca para outra, mas são fiéis na compra da categoria de produto; e os infiéis estão abertos a diferentes experimentações, não se detendo em nenhuma marca em particular. No mercado-alvo potencial, pode-se classificar os consumidores entre aqueles que conhecem e não conhecem a marca. Entre os que conhecem a marca, há aqueles que já experimentaram e aqueles que não experimentaram. Dos que experimentaram, por exemplo, é possível identificar aqueles que rejeitaram a marca, aqueles que não repetiram a compra e aqueles que repetiram a compra. Dos que repetiram a compra, abre-se a possibilidade de classificar os consumidores como fiéis ou infiéis, light users, medium users ou heavy users. 3.2.5Segmentação organizacional O consumidor organizacional envolve organizações de todos os tipos, com e sem fins lucrativos, privadas e públicas, órgãos governamentais e não governamentais, que necessitam comprar produtos, equipamentos e serviços, como insumos para suas operações. A compra organizacional apresenta características bastante distintas em comparação com o processo de compra do consumidor final. As compras organizacionais são geralmente de maior valor, apesar da quantidade menor de clientes, e são baseadas em protocolos técnicos e racionais, numa análise criteriosa de custo/benefício. Siqueira (2005) afirma que a compra organizacional considera sempre o trinômio qualidade – preço – prazo. Para consumidores organizacionais (B2B), os critérios de segmentação se alteram um pouco em relação ao consumidor final. As variáveis geodemográficas ainda estão presentes e são as mais importantes (setor, ramo de atividade, tamanho da empresa, localização), mas as operacionais merecem atenção, bem como a abordagem de compras da empresa e fatores situacionais e pessoais específicos. O Quadro 3.2 apresenta esse conjunto de variáveis de segmentação e relaciona a cada uma delas perguntas que se deve fazer para determinar qual segmento e cliente atender. Quadro 3.2 Variáveis de segmentação para consumidores organizacionais Variáveis Características Demográficas Setor: a que setores devemos atender? Porte da empresa: devemos atender a empresas de que porte? Localização: a que áreas geográficas devemos atender? Operacionais Tecnologia: quais as tecnologias de clientes devemos focalizar? Status de usuários e não usuários: devemos servir os heavy users, medium users, os light users ou não usuários? Recursos dos clientes: devemos atender a clientes que necessitam de muitos ou de poucos serviços? Abordagem de compras Organização em relação a compras: devemos atender a empresas com organizações de compras altamente centralizadas ou descentralizadas? Estrutura de poder: devemos atender a empresas em que predomina a engenharia, a área financeira e assim por diante? Natureza dos relacionamentos existentes: devemos atender às empresas com as quais temos um relacionamento forte ou ir atrás das que mais nos interessam? Políticas gerais de compras: devemos atender a empresas que preferem o leasing? Contratos de serviços? Compras de sistemas? Propostas lacradas? Critérios de compras: devemos atender a empresas que buscam qualidade? Serviço? Preço? Fatores situacionais Urgência: devemos atender a empresas que necessitam de entregas ou serviços rápidos e repentinos? Aplicação específica: devemos focalizar determinadas aplicações de nosso produto em vez de todas as aplicações? Tamanho do pedido: devemos focalizar pedidos grandes ou pequenos? Características pessoais Similaridade comprador/vendedor: devemos atender a empresas em que os funcionários e os valores sejam similares aos nossos? Atitudes em relação ao risco: devemos atenderaos clientes que assumem riscos ou aos que os evitam? Fidelidade: devemos atender a empresas que demonstram alto grau de fidelidade a seus fornecedores? Fonte: Kotler e Keller (2013, p. 245). 3.3CRITÉRIOS PARA UMA SEGMENTAÇÃO EFETIVA A segmentação de mercado útil é aquela que contribui efetivamente para se pensar nas estratégias e ações de marketing. Para serem classificadas como úteis, Kotler e Keller (2013) propõem os cinco critérios a seguir. •Mensuráveis: tamanho do mercado, poder de compra do público-alvo, características que definem o perfil dos segmentos-alvo devem ser passíveis de mensuração. •Substanciais: os segmentos identificados devem se mostrar substanciais em seu potencial de gerar receitas e rentabilidades atrativas para a empresa. •Acessíveis: os segmentos-alvo devem ser acessíveis pela empresa, a fim de atender adequadamente suas necessidades e desejos. •Diferenciáveis: os segmentos identificados devem ser homogêneos dentro de cada grupo identificado, mas claramente distintos uns dos outros. Isso é necessário, pois cada segmento demandará da empresa um programa de mix de marketing próprio. •Acionáveis: deve ser possível desenvolver programas de marketing voltados a atrair e atender às necessidades dos segmentos. De maneira geral, ao avaliar diferentes segmentos de mercado, a empresa deve examinar a atratividade do segmento (tamanho, taxas de crescimento, lucratividade, possibilidade de ganhos de escala, necessidade de investimento versus retorno estimado/esperado, competências e recursos disponíveis para explorar o segmento). Segmentar não significa necessariamente dividir o mercado-alvo a fim de atendê-lo como um todo. Segmentar é agrupar consumidores em grupos com características semelhantes que se mostram mais atraentes para a empresa, fazendo com que ela priorize tais segmentos em suas estratégias e ações de marketing. 3.4ESTRATÉGIAS DE SEGMENTAÇÃO DE MERCADO Além de segmentar com as variáveis propostas, é chave de sucesso para a empresa visualizar o mercado de formas diferentes, disruptiva e exponencialmente, observando o consumidor e influenciando a sua tomada de decisão. Considerando os meios tradicionais, já existem estudos e métricas que proporcionam um padrão de comportamento, utilização e resultados. Já no meio digital, existe uma gama de ferramentas e situações que nem sempre possuem estudos de análise e utilização, o que torna o processo bastante complexo e desafiador. O marketing digital possibilita um grande poder de segmentação, ajudando a selecionar quem realmente importa na sua estratégia. Compreender o mercado e vê-lo de forma diferente significa que a empresa pode atuar de diferentes formas e maneiras em face das características de cada segmento. A empresa pode ajustar sua estrutura organizacional e o marketing, adequando sua relação com cada segmento, posicionando ou reposicionando empresa, negócios, produtos, serviços e marcas. 3.4.1Estratégias de marketing indiferenciado É o oposto do que prega a teoria da segmentação, pois a empresa considera que o mercado é homogêneo em relação às suas características ou, não havendo a segmentação de fato, não influencia sobremaneira o consumo do segmento. Pode ser considerado um grande sonho do empresário, em que permite produzir algo em escala que exigirá poucos esforços por parte da empresa, havendo ganhos em produtividade e economia de escala. Geralmente estão associados a produtos sem necessidade de diferenciais competitivos, com larga distribuição e preço acessível. A distribuição intensiva, ou seja, o produto estar disponível no maior número de pontos de vendas já possibilita a visibilidade, atenuando os investimentos em meios de massa e melhor utilização das ferramentas locais de marketing. A Figura 3.3 ilustra esse tipo de estratégia para o marketing indiferenciado. No ambiente digital, o fator preponderante é o acesso ao meio digital. Dentro desse meio, existem diferentes ações, como site, redes sociais, mobile, blogs, e-mail marketing, SMS, anúncios com displays, anúncio em vídeo (a propaganda quando se está assistindo a um vídeo), publicidade em páginas da internet outras ferramentas e meios digitais que possibilitam o contato com o consumidor de forma indiferenciada, desde que utilizadas com bom senso, respeito e ética em negócios. 3.4.2Estratégias de marketing diferenciado É o tipo de estratégia de segmentação que mais se aproxima do marketing. A empresa identifica que o mercado pode ser segmentado pelas formas tradicionais ou mesmo de formas diferentes, e essa segmentação possibilita um aprofundamento de negócios e relacionamentos com cada segmento de consumidores (veja a Figura 3.4). Nesse caso, as estratégias são multivariadas, dependendo do perfil de cada segmento. A fidelização é um dos pontos essenciais dessa estratégia, de forma a angariar melhores ganhos, mesmo tendo de adaptar cada mix de marketing. Meios de hospedagem como grandes redes hoteleiras possuem diferentes bandeiras de hotéis com propostas e serviços diferenciados, no sentido de atender a diversos segmentos de hóspedes. Nesse sentido, algumas matérias-primas como alimentos e bebidas, por exemplo, e serviços, podem ser adquiridos em escala, otimizando parte das despesas e custos dos negócios. Dentro da realidade virtual, ferramentas como o Facebook Ads e o Google Adwords se destacam, uma por se tratar, na essência, de uma rede social de grande amplitude mundialmente, com uma base de dados significativa, e a outra, por se tratar de um site de busca, que pode proporcionar uma preferência por parte de consultas dos consumidores e a partir de palavras-chave. O remarketing possibilita que anúncios sejam direcionados para pessoas que estão em busca de produtos e serviços no ambiente virtual, ou que tragam características e comportamentos específicos de consumo e hábitos de mídia. No remarketing dinâmico, empresas cadastram previamente seu catálogo de produtos e serviços. 3.4.3Estratégias de marketing concentrado A empresa concentra todos os seus esforços e estratégias em poucos, mas selecionados segmentos de mercado, no sentido de obter grande penetração e retorno, com o risco também de grandes perdas (ver Figura 3.5). A empresa deve monitorar constantemente as flutuações do mercado, de forma a antecipar possíveis mudanças que tragam prejuízos para o negócio, como a entrada de um grande concorrente, mudança de tecnologia ou mesmo perda de poder de consumo pelos segmentos selecionados. Casas de shows com público seleto devem tomar muito cuidado e se reposicionarem constantemente, bem como empresas reféns de poucos itens de linhas específicos para a indústria, por exemplo. A segmentação de mercado, portanto, se constitui como uma das mais sofisticadas ações de marketing de uma empresa. É essencial que a campanha de marketing esteja alinhada com o público-alvo. E com a tecnologia isso é possível, bem como ir modulando as necessidades de adequação em relação ao perfil desejado. A partir da segmentação de mercado, a empresa pode se posicionar e reposicionar seus produtos, serviços e marcas, auferindo retorno e satisfação maiores em relação aos seus esforços. A segmentação, mais do que uma ação, é uma verdadeira necessidade para aquelas empresas que desejam competir com sucesso e obter a fidelização nos relacionamentos da empresa. CAPÍTULO 4: COMPOSTO DE MARKETING 4.0 4.1INTRODUÇÃO A ideia de trabalhar um marketing mix (composto de marketing) vem desde o começo desse campo de estudos lá nos anos 1920. Contudo, apenas em 1948 o termo é realmente apresentado por Neil Borden em um artigo para a Harvard Business Review sobre gestão de custos em marketing. Borden (1964) cita a ideia de um mix de ingredientes que seguem uma receita própria, outros, uma receita preparada por alguém, algumas vezes, uma receita feitaao longo do percurso e em outras, uma receita adaptada conforme as mudanças nos ingredientes. A partir dessa metáfora gastronômica, podemos entender a ideia de que o marketing mix deve ser entendido como algo misturado, como um conjunto de atividades e elementos (ingredientes) que a empresa trabalha de forma orgânica. Um mix sempre está em evolução e desenvolvimento. A partir dessa visão, em 1960, Jerome McCarthy, em seu livro intitulado Basic marketing, lança o conceito do marketing mix composto por quatro elementos-chave. Os famosos 4 Ps, que até os dias atuais ainda são amplamente utilizados por empresas ao redor do mundo. Entendemos que o conceito original dos 4 Ps evoluiu ao longo dos anos. Teorias, frameworks (modelos) e novas abordagens foram constantemente implementadas. Muito dessa longevidade de uma teoria aplicada vem da simplicidade e liberdade oferecida pelos 4 Ps. Segundo Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017), os tradicionais 4 Ps são uma ferramenta clássica que ajuda no planejamento do que oferecer e como oferecer algo para os consumidores. Nos anos 1980, Christopher Lovelock e Jochen Wirtz, em seu livro Marketing de serviços, apresentam a ideia de 8 e não apenas 4 Ps. São introduzidos novos elementos ao mix para que esse pudesse ser mais bem aplicado aos serviços, uma vez que os originais 4 Ps estavam mais voltados para uma ideia de produto físico, fosse ele durável ou não. Consideramos importante uma primeira ressalva: as empresas de serviço usaram durante muito tempo os 4 Ps na formatação de seu mix de marketing, claro que com adaptações perante os conceitos originais. O novo mix de marketing com 8 Ps vem para ajudar em uma proposição mais fácil de entender e adaptada para os serviços. No mundo conectado em que vivemos, com acesso à rede mundial de computadores World Wide Web, interligados não somente a partir de computadores – IoT ou Internet das Coisas (Internet of Things) – 24 horas por dia e sete dias por semana, ainda poderíamos trabalhar em praticamente qualquer negócio apenas com os 4 Ps, mas entendemos que existe a necessidade de uma visão complementar, visão essa que ofereça melhores condições para empresas aplicarem, analisarem e planejarem seus compostos de marketing a partir de uma perspectiva mais atual. Neste capítulo, iremos apresentar e discutir não somente uma visão deste novo mix de marketing. Entendemos que existe ainda muita discussão antes de chegarmos a um conceito único de fácil aceitação como foi o dos 4 Ps, se é que a complexidade do mundo contemporâneo possibilita tal questão. OS 4 CS Nossa discussão sobre o novo marketing mix começa com os 4 Cs de Kotler, Kartajaya e Setiawan, apresentados no livro Marketing 4.0: moving from traditional to digital (2017). Dos 4 Cs, em uma tradução livre, temos: Cocriação (co-creation), Capital Monetário (currency), Ativação Comunitária (communal activation) e Conversação (conversation), todos exemplificados na Figura 4.1. A cocriação representa a ideia de que os consumidores podem/devem estar engajados com o desenvolvimento do novo produto/serviço desde seu estágio inicial. A partir de novas formas de interação digital e ao custo relativamente baixo dessa interação, as empresas podem apresentar ideias e até mesmo testar seus produtos com uma base enorme de consumidores antes do lançamento oficial. No passado, o produto ia para o mercado, mesmo que fossem realizadas diversas pesquisas e testes de aceitação, como uma grande incógnita para seus produtores. Um bom exemplo dessa mudança está no lançamento de jogos digitais, de console. Quando o Atari imperava nos lares, lá pelos anos 1980, um jogo era desenvolvido, passava por pesquisas com alguns poucos consumidores-teste e era lançado no mercado de forma definitiva, ou seja, sem a possibilidade de nenhuma revisão posterior. Hoje o desenvolvimento e lançamento de um jogo digital conta, desde o seu começo, com a participação dos consumidores. Desde as primeiras imagens conceituais do jogo distribuídas em blogs e fóruns de comunidades, até os beta tests oferecidos gratuitamente, vemos que as empresas têm condições de engajarem os consumidores e obterem possíveis melhores resultados de marketing. A ideia de capital monetário (currency) trabalha principalmente com o conceito de precificação dinâmica (Figura 4.2) e oferece uma dinâmica muito mais ágil e personalizada para o tradicional P de preço. A precificação dinâmica não é apenas uma questão do marketing digital. Ela vem sendo empregada há bastante tempo por setores como hotelaria e transportes aéreos. Sua principal questão é a mudança de preços de forma ágil para melhor entender os momentos de compra e necessidades dos consumidores. Com a evolução do marketing digital, podemos ver a aplicação de precificação dinâmica em diversos setores, uma vez que a tecnologia nos permite uma visão mais completa dos motivadores de consumo e praticamente em tempo real. Hoje, o preço de um produto ou serviço vendido por meio da internet varia diretamente em relação a um consumidor individual. Quando pesquisamos produtos ou serviços em uma plataforma de busca como o Google, somos registrados como potenciais consumidores por empresas que usam Big Data como ferramenta de vendas. Nosso comportamento de navegação identificará quais produtos pesquisamos, se compramos ou não tais produtos, quais nossas características (faixa etária, classe social, localização etc.). Assim, as empresas podem buscar oferecer preços que nos incentivem a comprar. Por exemplo, a gigante do e-commerce Amazon altera constantemente seus preços com base nas buscas feitas em sua plataforma, levando em conta questões como oferta e demanda, ou seja, quanto mais um produto é procurado e a oferta é limitada, o uso da precificação dinâmica pode fazer com que seu preço suba em questão de minutos. A estratégia de precificação dinâmica também deve trabalhar a concorrência, ou seja, a oferta dos concorrentes para o mesmo produto/serviço em seus sites, assim como produtos “abandonados” em carrinhos virtuais de compra são promocionados por ferramentas digitais, tal como e-mail marketing, na tentativa de nos convencer da compra. A ativação comunitária trabalha com a ideia de que não há mais a necessidade de sermos donos de todos os produtos de que desejamos usufruir. A tecnologia nos permite hoje uma economia compartilhada, ou seja, podemos usar produtos como serviços, aumentando assim a possibilidade de consumirmos, uma vez que não há mais a necessidade de comprarmos um determinado bem para ter acesso a ele. O produto, de certa forma, se transforma em um serviço. Por exemplo, não temos a necessidade de comprar uma bicicleta para poder usá-la apenas por poucas horas por semana. Basta ter acesso a um smartphone e um meio de pagamento digital (como cartão de crédito) e podemos alugar uma Yellow Bike (www.yellow.app) na cidade de São Paulo. As bicicletas estão espalhadas pela cidade de São Paulo. Seu desbloqueio é feito pelo escaneamento de um QR Code que fica disponível no cadeado da bike. O consumidor paga pelo uso sem se preocupar com o desembolso maior pela compra e até mesmo pela manutenção do bem. Já a conversação busca envolver o consumidor não mais como apenas uma audiência passiva da comunicação do passado. O consumidor hoje é “convocado” a participar das comunidades da marca. Seguir e se engajar com uma marca é mais importante para as empresas e para o marketing do que o conhecimento simples de tal marca. É uma forma de boca a boca digital. A comunicação, quando retransmitida por um consumidor, oferece uma pertinência muito maior para outros consumidores da mesma marca. Os consumidores engajados querem demonstrar que estão envolvidos com os produtos/serviços. A legião de fãs da Apple, por exemplo, ajuda a empresa a vender seus produtos/ serviços muito melhor que a propaganda da
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