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Artrite reumatoide Rodrigo Antônio Brandão Neto Ana Cristina de Medeiros Ribeiro Aleksander Snioka Prokopowitsch Hérica Cristiani Barra de Souza Renan de Almeida Augustinelli Renato Akira Nishina Kuwajima Bruna Savioli 1. Introdução A Artrite Reumatoide (AR) é uma doença inflamatória autoimune crônica e progressiva, resultante da interação entre fatores ambientais e genéticos, cuja manifestação principal é a sinovite persistente de grandes e pequenas articulações periféricas, de forma simétrica, nos membros superiores e inferiores, devido ao comprometimento inflamatório da membrana sinovial das articulações. A inflamação provoca danos à cartilagem e erosões ósseas, marcas registradas da doença, comprometendo a integridade articular, gerando, consequentemente, possíveis complicações e deformidades. Apesar de seu potencial destrutivo, o curso da AR pode ser bastante variável. A evolução clínica pode variar de doença oligoarticular moderada com duração curta e lesão articular mínima até poliartrite progressiva irreversível com perda funcional acentuada. 2. Epidemiologia A AR é uma doença mundial que afeta todas as etnias, com prevalência de cerca de 0,5 a 1% da população, com predomínio de acometimento em mulheres (2,5 a 3 vezes maior do que em homens), e aumenta com a idade. A diferença entre sexos diminui na faixa etária mais elevada. Em mulheres, o início acontece durante a 4ª e a 6ª décadas de vida, com 80% de todos os pacientes acometidos com idade entre 35 e 50 anos. Em homens, ocorre mais tardiamente, durante a 6ª e a 8ª décadas de vida. A AR causa aumento da mortalidade e é responsável por grande morbidade. Pelo fato de acometer indivíduos em idade produtiva e potencialmente causar danos articulares irreversíveis, essa patologia gera altos custos para esses pacientes e a sociedade. 3. Etiologia A AR ocorre como resultado da perda do mecanismo de tolerância imune. Esse mecanismo é dependente de fatores ambientais e genéticos. Acomete 4 vezes mais os parentes de 1º grau de outros pacientes com AR do que a população geral. Aproximadamente 10% dos pacientes com AR terão 1 parente de 1º grau acometido. Entretanto, há concordância de apenas 12 a 15% em gêmeos monozigóticos, demonstrando claramente a participação de outros fatores. A maioria dos pacientes não tem história familiar significativa. Os fatores genéticos envolvidos mais importantes estão relacionados aos alelos do complexo principal de histocompatibilidade (MHC ou HLA) classe II, principalmente alelos do HLA-DRB1 e HLA-DR4, fortemente associados ao desenvolvimento de AR. É possível que a AR esteja relacionada à resposta imune a agente infeccioso em indivíduo geneticamente suscetível. Vários possíveis agentes são sugeridos, inclusive micoplasma, vírus Epstein-Barr (EBV), citomegalovírus, parvovírus e vírus da rubéola. Existe o papel definido de citrulinização de proteínas e consequente formação de anticorpos anticitrulina ou antipeptídio C citrulinado, que contribuem para o desenvolvimento de AR e para o surgimento de doença mais agressiva. A citrulinização ocorre na mucosa oral na presença de Porphyromonas gingivalis, encontradas em periodontites. Possivelmente, a mucosa do intestino também está envolvida, na presença de espécies de Prevotella. Dentre os gatilhos ambientais, o tabagismo é capaz de provocar citrulinização de proteínas pulmonares. Dica A citrulinização de proteínas ocorre na mucosa oral na presença de Porphyromonas gingivalis. O tabagismo é o único fator de risco ambiental confirmado para o desenvolvimento da AR. 4. Patologia e patogenia Diartroses ou articulações sinoviais são articulações móveis, formadas por cartilagem hialina, no encontro de 2 ossos com líquido sinovial. São revestidas externamente pela cápsula articular e internamente por uma membrana sinovial. Entre elas, há uma camada de tecido conectivo, com vasos e nervos. A membrana sinovial produz o líquido sinovial, que nutre e lubrifica a cartilagem articular, e contém fibroblastos e macrófagos, que produzem citocinas. Lá, também chegam linfócitos e neutrófilos pelo sangue. Na AR, linfócitos T autorreativos chegam à articulação e produzem interferon- gama (IFN-gama), que estimula fibroblastos e macrófagos a produzirem diversas citocinas pró-inflamatórias, como interleucina 1 (IL-1), fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa), interleucina 6 (IL-6), além de prostaglandina E2 e metaloproteinases. Como resultado desse processo inflamatório, há congestão, edema, exsudação e hiperplasia das células sinoviais. As citocinas pró-inflamatórias, por sua vez, induzem direta e indiretamente respostas em vários tipos celulares (Tabela 1). Há produção de enzimas proteolíticas (colagenase e metaloproteinases), inibição da síntese de novas moléculas da matriz e estimulação de osteoclastos, promovendo desmineralização óssea por reabsorção. Com a progressão da inflamação, a sinóvia se espessa e avança para o espaço articular, invadindo a cartilagem e o osso, formando, dessa forma, o pannus. As citocinas pró-inflamatórias são responsáveis por muitas das manifestações sistêmicas da AR, como mal-estar, febre, emagrecimento e fadiga. A IL-6 é, ainda, responsável pelo aumento das proteínas de fase aguda (velocidade de hemossedimentação – VHS – e Proteína C Reativa – PCR). Há também formação de complexos imunes devido à presença de plasmócitos na membrana sinovial inflamada. Tais complexos entram na circulação e levam a várias manifestações da doença, como a vasculite sistêmica. 5. Manifestações clínicas articulares Tema frequente de prova O conhecimento de cada pormenor do quadro clínico da AR pode auxiliar na resolução de questões de concursos médicos. Caracteristicamente, a AR é uma doença crônica e progressiva, classicamente com início insidioso, acompanhada de sintomas constitucionais inespecíficos, como fadiga, anorexia, fraqueza generalizada, perda de peso e febre baixa. Inicialmente, os sintomas musculoesqueléticos são vagos até o aparecimento da sinovite. Esse quadro prodrômico pode persistir durante semanas ou meses e dificultar o diagnóstico. Os sintomas específicos normalmente surgem gradualmente em várias articulações, especialmente mãos, punhos, joelhos e pés, de forma simétrica: artralgia inflamatória, que é pior após longos períodos de repouso, com melhora ao movimento, edema e espessamento articular, além de rigidez matinal prolongada (mais de 1 hora de duração). A rigidez matinal por mais de 1 hora de duração é característica quase invariável de artrite inflamatória e pode ser útil na distinção de outras patologias não inflamatórias. Esse quadro típico ocorre em cerca de 2/3 dos pacientes. Em cerca de 10% dos casos, o quadro clínico inicial é mais agressivo, com o surgimento rápido de poliartrite, comumente acompanhada por sintomas constitucionais. Em cerca de 30% dos pacientes, os sintomas podem ser limitados inicialmente a 1 ou algumas articulações. O padrão simétrico é o mais frequente, embora o padrão de envolvimento articular possa permanecer assimétrico em alguns pacientes. Quadro clínico O quadro clínico da AR abrange acometimento de articulação das mãos (metacarpofalangianas e interfalangianas proximais), metatarsofalangianas, punhos, joelhos, cotovelos, tornozelos, quadris e ombros (nessa ordem). O padrão clássico de acometimento articular na AR é o envolvimento de grandes e pequenas articulações de membros inferiores e superiores, de forma simétrica, atingindo caracteristicamente pequenas articulações das mãos, metatarsofalangianas (MTFs), punhos, joelhos, cotovelos, tornozelos, quadris e ombros, geralmente nessa ordem de aparecimento (pequenas para grandes). O tratamento instituído precocemente pode limitar o número de articulações acometidas. Quadro clínico O quadro clínico da AR envolve dor articular, com piora ao repouso, e melhora ao movimento, rigidez matinal superior a 1 hora, edema e espessamento articular. As mãos são o principal local de acometimento na grande maioria dos pacientes. Esse acometimento é mais habitualnos punhos, nas articulações metacarpofalangianas (MCFs) e nas interfalangianas proximais (IFPs). As interfalangianas distais (IFDs) geralmente são poupadas, o que ajuda a distinguir a AR da osteoartrite e da artrite psoriásica, em que essas podem ser acometidas. A dor e o edema nessas articulações causam limitação funcional, com menor uso das mãos, levando à atrofia de músculos interósseos e ao achado clássico de alargamento de punhos com atrofia de interósseos. O envolvimento das MCFs pode provocar dor e edema difuso nessas articulações, mas quadros iniciais podem ser percebidos apenas pela compressão laterolateral (teste de squeeze) da 2ª à 5ª MCFs, desencadeando dor. Anéis que não passam pelas IFPs são uma queixa frequente, devido ao edema. Importante Na AR, as interfalangianas distais são geralmente poupadas, o que pode ajudar na distinção de doenças como osteoartrite e artrite psoriásica. À medida que a doença evolui, as articulações sofrem desvios característicos, como o desvio ulnar das MCFs, o desvio radial e, posteriormente, volar do punho. Nos quirodáctilos, podem ocorrer ainda deformidades “em pescoço de cisne” (swan neck), com hiperextensão da IFP e flexão da IFD, dedos “em botoeira” (boutonnière – Figura 5) por hiperextensão da MCF e flexão da IFP, e polegar “em Z”, pela subluxação da 1ª MCF e da IF. Inicialmente, a articulação pode estar desviada reversivelmente, apenas pela subluxação articular (articulação de Jaccoud), mas a invasão do pannus costuma provocar limitações e desvios articulares fixos. Quadro clínico Convém lembrar-se dos achados na AR: dedos “em pescoço de cisne”, “em botoeira”, polegar em “Z”, desvio ulnar nas metacarpofalangianas, desvio radial no punho e atrofia de músculos interósseos. O acometimento dos cotovelos, com sinovite dessa articulação, pode ser precoce e levar à contratura em flexão. Nos pés, as articulações mais acometidas são as MTFs. A avaliação de edema nesse local é difícil, mas o teste de squeeze (compressão laterolateral conjunta de todas as MTFs) ajuda muito ao desencadear dor. A progressão do acometimento dessas articulações pode provocar subluxação plantar das cabeças dos metatarsos, alargamento do antepé, hálux valgo, desvio lateral e subluxação dorsal dos dedos do pé. Isso é causa de grande incômodo por provocar úlceras plantares nos pés e dorsais nos dedos encurvados. Artrite de tornozelos e de articulações subtalares também pode ocorrer e produzir dor intensa ao deambular. Outra causa de dor é a formação de ulcerações cutâneas, consequentes da subluxação das MTFs e da diminuição dos coxins gordurosos. A eversão de tornozelos por fraqueza de tibiais posteriores é comum, e as erosões radiográficas são vistas mais precocemente nos pés que nas mãos. Joelhos, quadris e ombros também podem ser acometidos. O comprometimento costuma ser simétrico e afetar cada articulação como um todo, em toda a superfície articular. Nos joelhos, isso ajuda a diferenciar a AR (em que os compartimentos medial e lateral são igual e gravemente acometidos) da osteoartrite (em que, preferencialmente, um dos compartimentos é atingido). O joelho desenvolve hipertrofia sinovial, derrame articular crônico e frouxidão ligamentar. Herniação posterior da membrana sinovial por meio da cápsula articular forma um cisto poplíteo (cisto de Baker), que pode levar à sensação de plenitude, dor e compressão de estruturas poplíteas. Seu rompimento provoca inflamação, com edema e muita dor na perna, podendo simular tromboflebite ou trombose venosa profunda. O diagnóstico diferencial é feito pela ultrassonografia com Doppler da região, que afasta trombose venosa e mostra o cisto roto com grande edema de partes moles. Dica O comprometimento articular na AR costuma ser simétrico e afetar toda a superfície articular (diferentemente da osteoartrite). Virtualmente, qualquer articulação sinovial pode ser atingida, como as articulações temporomandibulares (ATMs), esternoclaviculares e cricoaritenoides, que podem ser acometidas menos frequentemente, sobretudo em casos de doença de longa duração. O envolvimento das cricoaritenoides pode provocar sensação de plenitude na garganta, disfagia, rouquidão, dor na região cervical anterior e estridor. Dica No cisto de Baker, na região poplítea, há herniação posterior da membrana sinovial por meio da cápsula articular do joelho. Seu rompimento provoca inflamação, com edema e muita dor na perna, podendo simular tromboflebite ou trombose venosa profunda. Na coluna, o acometimento geralmente é cervical alto e, na maioria dos casos, assintomático, diferentemente das espondiloartrites, que podem acometer toda a coluna, com dor espinal inflamatória (sobretudo lombar). O envolvimento da coluna torácica, sacroilíaca e lombar é raro. A AR isolada também não induz sacroileíte, lembrando que pode ocorrer a associação de AR a espondiloartropatias, como a espondilite anquilosante. Em pacientes com doença de longa duração, pode ocorrer subluxação atlantoaxial (desvio entre a 1ª e a 2ª vértebras cervicais). Esse comprometimento ocorre, pois a articulação atlantoaxial é denominada diartrodial, ou seja, composta por sinóvias, portanto suscetível ao processo inflamatório encontrado na AR. A subluxação atlantoaxial pode levar à compressão medular, com dor, parestesias e perda de força nos membros, até tetraplegia. Trata-se de comprometimento grave e de urgência neurocirúrgica. Dor e disfunção também podem ser causadas por compressão de nervos periféricos em áreas de sinovite. O local mais comum é o punho, que desenvolve síndrome do túnel do carpo (compressão do nervo mediano), com parestesias na face palmar das mãos, poupando o lado medial do 4º e 5º quirodáctilos, mas com possível compressão do nervo ulnar (síndrome do canal de Guyon) e do túnel do tarso. Tenossinovites, com inflamação dos tendões e das suas bainhas sinoviais, são comuns também nas mãos, principalmente no dorso, e podem ser um achado inicial. A persistência da inflamação pode levar a roturas de tendões com grande perda funcional. Cistos sinoviais podem ocorrer perto de qualquer articulação acometida, por herniação da membrana sinovial através da cápsula articular sob pressão de líquido sinovial e deformidades que alteram os vetores articulares, como acontece principalmente no dorso dos punhos e das mãos e no joelho, no caso do cisto de Baker. Figura 1 - Sinovite (inflamação) da articulação interfalangiana proximal do 2º quirodáctilo direito (dedo “em fuso”) Figura 2 - Mão reumatoide: atrofia da musculatura interóssea, dedos “em pescoço de cisne” (3º a 5º) e espessamento sinovial de metatarsofalangianas e punho, e polegar “em Z”, pela subluxação da 1ª metacarpofalangiana Figura 3 - Mão reumatoide: atrofia da musculatura interóssea e cisto sinovial no dorso da mão direita “em dorso de camelo” Figura 4 - Deformidade em extensão das interfalangianas proximais e em flexão das interfalangianas distais, caracterizando dedos “em pescoço de cisne” em paciente com artrite reumatoide: notar aumento de volume das metacarpofalangianas Figura 5 - Deformidade “em botoeira”, por hiperextensão da metacarpofalangiana e flexão da interfalangiana proximal 6. Manifestações extra-articulares O acometimento das estruturas extra-articulares ocorre com frequência significativa, principalmente em pacientes com FR positivo, anti-CCP (anticorpo antipeptídio citrulinado cíclico) positivo, HLA classe II DRB1 e/ou nódulos reumatoides. Podem associar-se a manifestações extra-articulares, sintomas constitucionais, como fadiga, perda de peso e febre baixa. Nódulos reumatoides ocorrem em 30% das pessoas com AR e são encontrados em estruturas periarticulares, superfícies extensoras ou outras áreas expostas à pressão mecânica. Locais comuns incluem a bursa do olecrânio, a face extensora proximal do antebraço, o tendão de aquiles e o occipício. Também podem ocorrer em outras regiões, como coração, pulmões, pleura, olhos e meninges. Variam em tamanho e consistência, são raramente sintomáticos,podendo infectar-se após trauma local, e ocorrem quase exclusivamente em pacientes com FR positivo. A avaliação no começo da formação sugere que o processo inicial possa ser uma vasculite focal. O uso de metotrexato pode aumentar ou acelerar o desenvolvimento, provocando a síndrome de hipernodulose, que pode ocorrer independentemente do bom controle articular. Dica Os locais comuns dos nódulos reumatoides são bursa do olecrânio, face extensora proximal do antebraço, tendão de aquiles e occipício, quase exclusivamente em pacientes com fator reumatoide positivo. Podem ser encontrados, ainda, no coração, pulmões, pleura, olhos e meninges. Figura 6 - Nódulos reumatoides e seus sítios comuns A vasculite reumatoide pode afetar qualquer órgão, sendo comumente vista em pacientes com AR grave e títulos elevados de FR. Pode ser de pequenos vasos, com biópsia que evidencia leucocitoclasia, ou de médio calibre. As formas mais agressivas se manifestam como polineuropatia, mononeurite múltipla, úlceras cutâneas (Figura 7), necrose dérmica, gangrena digital (Figura 8) e infarto visceral (isquemias miocárdica, pulmonar, intestinal, hepática, esplênica, pancreática e testicular, que são raras). As formas mais frequentes de apresentação são pequenas manchas acastanhadas ungueais e periungueais e nas polpas digitais das mãos, além de grandes úlceras isquêmicas, principalmente nos membros inferiores (Figura 9). As manifestações pleuropulmonares são mais comuns em homens e acontecem na forma de pleurite, fibrose intersticial, nódulos pleuropulmonares (Figura 10) e pneumonite. O derrame pleural apresenta níveis de glicose e pH muito baixos, na ausência de infecção, sendo muitas vezes confundido com empiema. É um exsudato (aumento do DHL e proteínas), com dosagem do complemento baixa em relação à do plasma, geralmente com leucócitos <5.000 e o FR pode ser positivo. Na maioria dos casos, entretanto, são derrames muito pequenos e assintomáticos. A fibrose pulmonar, na maioria dos casos, provoca alterações pulmonares discretas e é assintomática. Entretanto, pode determinar redução da difusão pulmonar e causar dispneia, progredindo na tomografia de um padrão “de vidro fosco” para faveolamento. Os nódulos pulmonares podem aparecer isoladamente ou em grupos e evoluir com cavitação, que podem infectar, calcificar ou produzir pneumotórax ou fístula broncopleural. O encontro isolado de nódulo pulmonar requer investigação adicional para neoplasia de pulmão. Também pode ocorrer a obstrução de via aérea superior cricoaritenoide ou da laringe pelo surgimento de nódulos reumatoides, ou pela própria artrite dessa articulação, podendo manifestar-se como dor para deglutir, disfonia e, raramente, obstrução. A síndrome de Caplan ocorre em pacientes com AR e pneumoconiose relacionada à exposição a poeiras minerais (carvão, asbestos e sílica) e se caracteriza pelo rápido desenvolvimento de múltiplos nódulos basais periféricos em associação a leve obstrução do fluxo aéreo. Essa síndrome pode complicar-se com o desenvolvimento de fibrose progressiva. Figura 7 - Vasculite digital com úlceras cutâneas Figura 8 - Vasculite de polpa digital evoluindo para gangrena Figura 9 - Vasculite evoluindo com úlcera no membro inferior (pré-debridamento e pós-debridamento) Figura 10 - Nódulos pulmonares As manifestações cardíacas são comumente assintomáticas. A pericardite pode acometer mais de 50% dos pacientes, geralmente sem clínica. No derrame pericárdico, o líquido apresenta baixa concentração de glicose e baixo pH, sendo habitualmente associado a derrame pleural. Muito raramente, ocorrem tamponamento cardíaco e pericardite constritiva. Nódulos reumatoides podem acometer o miocárdio, o sistema de condução (com bloqueios) e as valvas cardíacas. Aortite envolvendo segmentos da aorta tem sido descrita associada à insuficiência aórtica, dilatação e ruptura de aneurisma. Apesar de manifestações diretamente relacionadas à AR não serem clinicamente comuns, a doença vascular, principalmente coronariana, é responsável por grande morbimortalidade nesse grupo, devendo ser diagnosticada e tratada precoce e adequadamente. As manifestações renais e a doença glomerular são extremamente raras na AR. Proteinúria pode se desenvolver secundária ao uso de medicamentos ou por amiloidose. Quanto às manifestações neurológicas, a AR tende a poupar o Sistema Nervoso Central (SNC). No entanto, pode haver mononeurite múltipla por vasculite, compressão de nervos periféricos como o nervo mediano (síndrome do túnel do carpo) por sinovite ou deformidades e acometimento de raízes ou compressão medular devido à instabilidade da coluna cervical. O acometimento ocular é comum. A manifestação mais frequente é a ceratoconjuntivite seca (síndrome de Sjögren secundária), observada em cerca de 15%. Ocasionalmente, ocorrem uveíte e mesmo episclerite, que eventualmente perfura a esclera (escleromalácia perfurante – Figura 11). Figura 11 - Escleromalácia perfurante A manifestação hematológica mais comum é a anemia de doença crônica, associada à atividade de doença. A síndrome de Felty, uma rara manifestação, é descrita como a associação de AR, esplenomegalia e neutropenia. Hepatomegalia, plaquetopenia, linfadenomegalia, calafrios, úlceras de pernas de difícil cicatrização e infecções bacterianas de repetição comumente estão associados. É mais comum em indivíduos com doença de longa evolução e que apresentam títulos elevados de FR, nódulos subcutâneos e outras manifestações sistêmicas da AR. Pacientes com sinais persistentes de atividade de doença e/ou com síndrome de Felty têm risco aumentado de linfoma difuso de grandes células B. Complexos imunes circulantes estão habitualmente presentes, e pode ser encontrado consumo de complemento. Aumento na incidência de linfoma não Hodgkin tem sido descrito nesse grupo de indivíduos. Um grupo de pacientes pode apresentar síndrome dos grandes linfócitos granulares (large granular lymphocyte), em que a neutropenia se associa à presença de grandes linfócitos granulares, que podem ser confundidos ao hemograma com monocitose. Acredita-se que essa síndrome seja uma leucemia de células T, mas com bom prognóstico no contexto da AR. Pacientes com sinais persistentes de atividade de doença e/ou com síndrome de Felty têm risco aumentado de linfoma difuso de grandes células B. Importante A síndrome de Felty é caracterizada pela tríade composta por AR, esplenomegalia e neutropenia. É mais comum em indivíduos com doença de longa evolução e que apresentam títulos elevados de FR, nódulos subcutâneos e outras manifestações sistêmicas da AR. Quadro clínico Manifestações extra-articulares da AR incluem nódulos reumatoides, vasculite de pequeno/médio calibre, bem como manifestações pleuropulmonares, cardíacas, hematológicas e oculares. 7. Achados laboratoriais Não existe marcador diagnóstico específico para AR. O FR (imunoglobulina M contra a fração Fc da imunoglobulina G) é encontrado em mais de 85% dos pacientes com a doença, na forma estabelecida. A presença de FR não é específica para AR e é encontrada em 5% das pessoas saudáveis, aumentando a sua frequência com o avançar da idade (10 a 20% de indivíduos acima de 65 anos). Além disso, outras doenças crônicas com estimulação persistente do sistema imunológico são associadas à presença do FR: lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjögren (maiores títulos encontrados), hepatopatia crônica, sarcoidose, fibrose pulmonar intersticial, mononucleose infecciosa, hepatite B, tuberculose, hanseníase, sífilis, endocardite bacteriana subaguda, leishmaniose visceral, esquistossomose, malária e crioglobulinemia. O FR pode surgir transitoriamente em indivíduos normais depois de vacinação ou transfusão e ser encontrado em parentes de indivíduos com AR. Sua presença não estabelece o diagnóstico e tem baixo valor preditivo. Menos de 1/3 de pacientes com FR positivo terá o diagnóstico de AR. A presença de FR pode ter significado prognóstico, pois pacientes com títulos elevados tendema ter doença articular mais grave e progressiva, associada a manifestações extra-articulares, principalmente nódulos ou vasculite. Dica São doenças que podem apresentar fator reumatoide positivo: lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjögren, hepatopatia crônica, sarcoidose, mononucleose infecciosa, hepatite B, tuberculose, hanseníase, sífilis, leishmaniose visceral, esquistossomose, malária e crioglobulinemia. Em pacientes com artrite inicial (menos de 6 a 12 meses de sintomas), a positividade do FR é mais baixa (40 a 50%), com valor diagnóstico ainda mais limitado. Os anti-CCPs apresentam sensibilidade de 70 a 75% e especificidade de 95%. Seu custo é alto, e a indicação é esclarecer quadros sugestivos de AR inicial, ainda sem erosão ou doença estabelecida, ou para diagnóstico de pacientes com FR negativo. Nenhum exame laboratorial é patognomônico de AR. Pacientes com AR podem ter FR e anti-CCP negativos. Dica Tanto os títulos de fator reumatoide quanto de anti-CCP apresentam valor prognóstico no paciente com AR. Outros anticorpos inespecíficos podem estar presentes em até 30% dos casos, como o FAN (fator antinúcleo) e o ANCA (anticorpo anticitoplasma de neutrófilo, particularmente com padrão perinuclear – p-ANCA). A anemia normocrômica normocítica é frequente na doença ativa, refletindo eritropoese inefetiva. Em geral, a anemia e a plaquetose se correlacionam com atividade. A linhagem branca geralmente não se altera, mas pode ocorrer discreta leucocitose. Na presença de neutropenia, considerar o diagnóstico da síndrome de Felty. Eosinofilia pode refletir doença sistêmica grave. A VHS é aumentada em quase todos os pacientes com AR ativa. A proteína de fase aguda PCR também fica acentuadamente elevada, geralmente correlacionada com atividade da doença e a probabilidade de lesão articular progressiva. O complemento (CH100, C3 e C4) costuma estar elevado. Contudo, na presença de vasculite de pequenos ou médios vasos, há consumo de complemento. A análise do líquido sinovial confirma a presença de artrite inflamatória, porém não é resultado específico, não sendo fundamental para o diagnóstico da doença. O líquido é normalmente turvo, com viscosidade reduzida, proteínas aumentadas e redução discreta da glicose em relação à glicemia sérica. A contagem de leucócitos varia entre 5 e 50.000 células/mL, com predomínio de polimorfonucleares. Uma contagem acima de 2.000 células/mL com mais de 75% de polimorfonucleares é altamente característica de artrite inflamatória, embora não seja diagnóstica de AR. Dica O líquido sinovial do paciente com AR apresenta-se turvo, com viscosidade reduzida, proteínas aumentadas e redução discreta da glicose, além de leucócitos entre 5 e 50.000 células/mL, com predomínio de polimorfonucleares. Faz-se necessária a solicitação de outros exames, como sorologias virais (parvovírus B19, hepatite B e hepatite C) em pacientes com poliartrite inflamatória de início recente, especialmente com menos de 6 semanas, e com FR e anti-CCP negativos. Em casos duvidosos, a análise do líquido sinovial contribui para a exclusão do diagnóstico de gota, pseudogota ou artrite infecciosa. 8. Avaliação radiológica Nenhum exame radiográfico é patognomônico de AR. Os raios X convencionais são o método mais utilizado na avaliação por imagem do dano estrutural articular na AR. Os sinais radiográficos mais precoces são edema de partes moles, osteopenia justa-articular (critério radiográfico da doença) e cistos subcondrais em articulações classicamente envolvidas na AR. A perda de cartilagem articular (redução do espaço articular) e as erosões ósseas (outro critério radiográfico da doença) se desenvolvem depois de meses de atividade contínua. A avaliação radiológica permite determinar a extensão da destruição das cartilagens e da erosão óssea produzida pela doença (particularmente quando se tenta estimar a agressividade desta) e definir o momento da intervenção cirúrgica. As erosões acontecem como soluções de continuidade na superfície articular e devem ser pesquisadas nas articulações tradicionalmente acometidas de mãos e dos pés. As alterações radiológicas nos pés costumam ser mais precoces que as das mãos. Com a evolução da doença, ocorre artrose secundária, com perda acentuada e simétrica do espaço articular, e intensa esclerose subcondral. Os desvios ósseos e as subluxações ficam aparentes, e pode haver grande destruição óssea subcondral. Importante Nos raios X, sinais precoces de AR são edema de partes moles, osteopenia justa-articular e cistos subcondrais em articulações clássicas. Perda de cartilagem articular (redução do espaço articular) e erosões ósseas se desenvolvem após meses de doença ativa. Figura 12 - Joelho na artrite reumatoide: redução acentuada do espaço articular, de forma simétrica (envolvendo os 2 compartimentos), com muita esclerose subcondral e irregularidades na superfície da articulação A ultrassonografia e a ressonância magnética são capazes de detectar alterações mais precocemente por apresentarem maior sensibilidade para detecção de dano estrutural articular que a radiografia. Devido ao maior custo, reservamos seu uso para casos iniciais da AR, em que há dúvida diagnóstica sobre a agressividade da doença e a necessidade de progressão terapêutica, ou sobre a atividade residual de doença em paciente em remissão clínica em que se planeja reduzir o esquema terapêutico. Figura 13 - Mão reumatoide: desvio ulnar das metacarpofalangianas direitas, redução dos espaços articulares em punhos, metacarpofalangianas e interfalangianas proximais e subluxação de interfalangianas proximais (polegar “em Z”); as interfalangianas distais são poupadas Figura 14 - Radiografia da mão direita que mostra osteopenia justa-articular em metacarpofalangianas com erosão no dedo indicador (seta) 9. Diagnóstico Não existe achado patognomônico de AR. O diagnóstico baseia-se nos achados clínicos, laboratoriais e radiográficos e na exclusão de outras doenças. Na maioria dos pacientes, a doença apresenta as características típicas em 1 a 2 anos após seu início. O quadro típico de poliartrite inflamatória simétrica que envolve pequenas e grandes articulações em extremidades superiores e inferiores é sugestivo do diagnóstico. Características constitucionais indicativas da natureza inflamatória da doença, como rigidez matinal, reafirmam a suspeita. Nódulos subcutâneos são achados diagnósticos importantes. Associados a esses fatores, a presença do FR e os achados radiológicos de desmineralização justa-articular e erosões ósseas sugerem fortemente o diagnóstico. O diagnóstico precoce é mais difícil quando estão presentes somente sintomas constitucionais, artralgias intermitentes ou artrite com distribuição assimétrica e oligoarticular. Em casos iniciais, com erosão e dúvida diagnóstica, a dosagem do anti-CCP tem valor diagnóstico. O achado isolado de FR positivo ou VHS elevada, especialmente em idosos com artralgia, não deve ser usado como evidência de AR. Atualmente, utilizamos os critérios classificatórios de AR publicados em 2010 pela EULAR (European League Against Rheumatism – Tabela 6), entretanto, eles não são cobrados em provas. Esses novos critérios não são diagnósticos, mas classificatórios, e permitem identificar os pacientes com sinovite inflamatória recém-diagnosticada, com risco de desenvolver sintomas persistentes ou danos articulares e que podem se beneficiar do uso de Drogas Modificadoras do Curso da Doença (DMCDs). Diagnóstico Podem-se utilizar os critérios ACR/EULAR (2010) para o diagnóstico de AR, em que é obrigatória a presença de sinovite clínica definida, em pelo menos 1 articulação, associada à soma de fatores como acometimento articular, sorologia, duração e provas inflamatórias. 10. Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial da AR inclui osteoartrite (sem componente inflamatório intenso, acomete IFDs e poupa MCF e punhos), artrite reativa (oligoartrite predominante de membros inferiores, com entesites, dactilites e envolvimento inflamatórioaxial), artrite psoriásica (pode assemelhar-se bastante à AR, principalmente se tiver o mesmo padrão de distribuição – pode acometer esqueleto axial e IFDs e, na maioria dos casos, tem FR negativo, na presença de lesão cutânea típica de psoríase), gota tofácea, lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjögren, pseudogota, polimialgia reumática etc. Síndromes virais podem causar artrite com 2 a 4 semanas de duração, como os vírus da hepatite C, B, HIV, EBV, citomegalovírus, parvovírus e rubéola. Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial da AR inclui osteoartrite, artrite reativa, artrite psoriásica, gota tofácea, lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjögren, pseudogota etc. O acompanhamento do paciente é feito em cada consulta por meio de índices compostos de atividade clínica, sendo o DAS ou DAS28 (Disease Activity Score) o mais utilizado. Esse escore conta articulações edemaciadas e dolorosas, além de ter uma pontuação para a doença e valores de PCR ou VHS. Os exames radiográficos de mãos, punhos e pés devem ser repetidos anualmente a fim de avaliar a progressão ou não da doença. 11. Evolução e prognóstico O curso da AR é variável e difícil de ser predito individualmente. A maior parte dos pacientes apresenta atividade flutuante, acompanhada por grau variável de anormalidades articulares e prejuízo funcional. Várias características são relacionadas a pior prognóstico (Tabela 7). Atualmente, a principal causa de óbito em pacientes com AR são as doenças cardiovasculares, principalmente a doença arterial coronariana e a insuficiência cardíaca. Existem dados na literatura que sugerem que o paciente com AR deva ter níveis de LDL inferiores a 100mg/dL, porém isso ainda é controverso e, de acordo com o UpToDate, recomenda-se ainda o uso do escore de risco de Framingham para estimar o risco cardiovascular desses pacientes, mesmo sabendo da chance de subestimar os eventos. 12. Tratamento Tema frequente de prova O tratamento da AR é um tema sempre presente nas provas de concursos médicos. As metas do tratamento da AR são o alívio da dor, a redução da inflamação, a proteção das estruturas articulares, a preservação articular e o controle de envolvimento sistêmico. Nenhuma das intervenções terapêuticas é curativa. O diagnóstico precoce e o início imediato do tratamento são fundamentais para o controle da atividade da doença, assim como também previne a incapacidade funcional e lesões articulares irreversíveis, prejudicando a qualidade de vida. Os pacientes devem ser avaliados antes do início do tratamento, com hemograma, creatinina, AST/ALT, VHS e PCR. Antes do início do metotrexato, leflunomida ou dos biológicos, devem ser solicitadas as sorologias para hepatites virais. Indivíduos que farão uso dos biológicos devem ser investigados para tuberculose com a realização de raios X de tórax e PPD (derivado de proteína purificada). Atualmente, por escassez de PPD, faz-se investigação de contato prévio de tuberculose com QuantiFERON®. Se o paciente sem tuberculose ativa ou epidemiologia positiva apresentar sinais sugestivos aos raios X, PPD >5mm ou QuantiFERON® positivo, deverá receber quimioprofilaxia com isoniazida 300mg/d por 6 meses, e o uso do biológico será possível após o 1º mês do tratamento. A - Tratamento medicamentoso a) Anti-Inflamatórios Não Hormonais (AINHs) Têm ação analgésica e anti-inflamatória, mas não alteram o curso da doença e não previnem a destruição articular. Não devem ser usados isoladamente no tratamento da AR. O uso contínuo e em dose máxima é indicado quando a AR está em franca atividade. Não há diferença de eficácia entre os diversos AINHs. Tratamento Os AINHs têm ação analgésica e anti-inflamatória, mas não alteram o curso da AR nem previnem destruição articular. b) Corticoides São utilizados em baixas doses no controle da dor e do processo inflamatório enquanto se aguarda a ação das DMCDs. Existem evidências de que os corticoides poderiam ser participantes na modificação do curso da doença, porém seu uso crônico pode causar diversos efeitos adversos, como osteoporose, sangramento no trato gastrintestinal, diabetes, infecções e catarata. Em pacientes que farão uso de corticoides por mais de 3 meses, indica-se a suplementação de cálcio e vitamina D, além da avaliação do diagnóstico ou risco de osteoporose. O uso de corticoide intra-articular pode promover alívio sintomático transitório em casos de mono ou oligoartrites persistentes e a pulsoterapia pode ser necessária em casos de manifestações sistêmicas graves, como vasculite. Tratamento Corticosteroides são usados no controle da dor e inflamação causados pela AR, enquanto se aguarda o efeito dos DMCDs (usados conjuntamente), sempre em baixas doses (até 15mg/d de prednisona, ou equivalente) e pelo menor tempo possível. c) Drogas modificadoras do curso da doença Todos os pacientes com AR são candidatos ao uso de DMCDs, pois estas têm a capacidade de reduzir e prevenir o dano articular, preservando a integridade e a função articulares. O início das drogas modificadoras não deve ultrapassar 3 meses após o diagnóstico de AR. As mais comumente utilizadas no tratamento incluem antimaláricos (difosfato de cloroquina, hidroxicloroquina), sulfassalazina, metotrexato, leflunomida e os novos agentes biológicos. O benefício do tratamento com DMCD ocorre de semanas a meses após o seu uso. Mais de 60% dos pacientes apresentam melhora significativa como resultado da terapia com qualquer um desses agentes. Há também melhora dos exames de atividade inflamatória (PCR/VHS). O metotrexato é a DMCD de escolha como droga inicial por causa do seu início relativamente rápido de ação, da sua capacidade de melhorar clinicamente o paciente e de maior adesão ao tratamento. Apesar de incomum, o metotrexato está associado a pneumopatia, desse modo, seu uso é evitado em pacientes com AR e manifestações pulmonares. Seu uso é feito de forma semanal e, obrigatoriamente, em associação ao ácido fólico. A falta de resposta a um agente não exclui a troca por outro. Muitas vezes, é usada terapia combinada com mais de 1 DMCD para controle adequado da doença. São comuns as associações de antimaláricos, sulfassalazina e metotrexato (tripla terapia), antimaláricos, leflunomida e metotrexato ou, ainda, agentes biológicos com metotrexato. As principais drogas e suas dosagens estão descritas na Tabela 8. Tratamento As DMCDs reduzem e previnem dano articular. Metotrexato é a droga de escolha no início do tratamento, pela ação rápida, em relação aos demais da classe. d) Agentes biológicos Atualmente, há várias classes de drogas biológicas usadas, conforme Tabelas a seguir. Recomenda-se, na AR, a associação de agentes anti-TNF a DMCDs sintéticas. É contraindicado o uso concomitante de agentes biológicos, pelo alto risco de infecções graves. Em caso de remissão sustentada (6 a 12 meses), pode-se tentar a retirada gradual: inicialmente AINH, depois corticoide, e então DMCD sintética. Excepcionalmente, se a remissão se mantiver, poderá ser considerada a retirada do biológico. e) Inibidor da janusquinase-1 O inibidor da janusquinase-1 (JAK-1) disponível atualmente para tratamento de AR é o tofacitinibe. Tal medicação atua na JAK-1 e JAK-3 e deve ser usado em pacientes com fatores de mau prognóstico ou na falha terapêutica às DMCD convencionais. A medicação é usada isoladamente ou em associação ao metotrexato. A dose recomendada é de 5mg, 2x/d. Seus principais efeitos colaterais incluem maior incidência de tuberculose e herpes-zóster, sendo esta última superior aos imunomoduladores biológicos, aumento de LDL, elevação de transaminases e de creatinina, neutropenia e linfopenia. Importante Em 2017, a Sociedade Brasileira de Reumatologia divulgou novo consenso sobre o tratamento de AR, ainda não disponível publicamente. De forma geral, as recomendações são semelhantes às da EULAR 2016. B - Fisioterapia Essa forma de tratamento tem importante papel em todas as fases da doença. Exercícios passivos ajudam a prevenir ou minimizara perda de função, e exercícios isométricos aumentam a força muscular e contribuem para a manutenção da estabilidade articular. Atividades aeróbicas são importantes para melhor condicionamento cardiovascular. C - Tratamento cirúrgico Os procedimentos com melhor resultado são aqueles realizados nos quadris, joelhos e ombros. Os objetivos desses procedimentos são o alívio da dor e a redução da perda funcional. Reparação cirúrgica das mãos pode proporcionar melhora cosmética e funcional. Sinovectomia aberta ou por artroscopia pode ser útil a alguns pacientes com monoartrite persistente, especialmente dos joelhos ou dos cotovelos. D - Vacinação Vacinas de organismos não vivos podem e devem ser administradas 14 dias antes do início das DMCDs sintéticas ou biológicas. Durante o tratamento com DMCD ou biológicos, há contraindicação relativa ao uso de vacinas de vírus atenuados, devendo-se pesar risco-benefício. 13. Síndrome de Felty A síndrome de Felty compreende a tríade de AR, neutropenia e esplenomegalia e ocorre em menos de 1% dos pacientes com AR. É mais prevalente entre mulheres e na faixa etária da 5ª a 7ª décadas, em portadoras de AR de longa duração, com importante destruição articular, com manifestações extra- articulares exuberantes (nódulos subcutâneos, úlceras de membros inferiores, linfadenopatia, vasculites, hepatomegalia, pleuropericardite, mononeurite múltipla, episclerite, trombocitopenia, linfadenopatia e febre). Em geral, nesses pacientes, encontra-se FR em altos títulos (95%). Dica A tríade da síndrome de Felty envolve AR, neutropenia e esplenomegalia. Nesse grupo de pacientes, ocorre aumento de infecções bacterianas, em especial quando a contagem de leucócitos está abaixo de 500 células/mm3, levando à piora do prognóstico da doença. Apresenta mortalidade acima de 36% em 5 anos devido às infecções recorrentes. Tais infecções usualmente acometem o trato respiratório e a pele. O metotrexato é uma droga efetiva à maioria dos pacientes, com melhora geralmente nos primeiros 2 meses de tratamento. Os corticoides, no caso, prednisona, na dose de, pelo menos, 30mg/d, geralmente normalizam o número de granulócitos, embora seu efeito não seja sustentado. Pulsoterapia com metilprednisolona tem sido utilizada para agranulocitose, sendo as infecções o principal obstáculo para sua utilização. Fatores estimuladores de crescimento são utilizados com frequência, sendo efetivos no tratamento da neutropenia no intuito de reduzir as complicações infecciosas. Diversos casos já relataram melhora da sinovite e neutropenia com a administração de rituximabe intravenoso. A esplenectomia só está indicada, atualmente, para os casos refratários ao tratamento clínico. Dica Há risco infeccioso aumentado em pacientes com síndrome de Felty e leucócitos <500 células/mm3. Metotrexato tem sido utilizado com bons resultados. Resumo 1. Introdução 2. Epidemiologia 3. Etiologia 4. Patologia e patogenia 5. Manifestações clínicas articulares 6. Manifestações extra-articulares 7. Achados laboratoriais 8. Avaliação radiológica 9. Diagnóstico 10. Diagnóstico diferencial 11. Evolução e prognóstico 12. Tratamento 13. Síndrome de Felty Resumo
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