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MITOS E VERDADES EXISTENTES NA LIBRAS

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ATIVIDADES DA SEMANA 2 LIBRAS
6 mitos e verdades sobre bilinguismo pela ótica da neurociência
 Profa. Dra. Ingrid Finger
Coordenadora do Laboratório de Bilinguismo e Cognição da UFRGS
Falar duas ou mais línguas tem sido considerado cada vez mais importante em um mundo que se torna mais globalizado e multilíngue, principalmente tratando-se de idiomas de prestígio, como inglês, francês ou alemão. Muitos pais consideram que dar a seus filhos a oportunidade de aprender outras línguas, desde cedo, é fundamental para assegurar êxito profissional e pessoal. A expectativa é de que esse investimento no potencial das crianças funcione como uma “fórmula de sucesso”, capaz de garantir excelentes oportunidades de emprego e lazer no futuro.
Entretanto, se por um lado é grande o número de pais que se preocupam em garantir que seus filhos comecem a aprender outras línguas desde cedo, para evitar que as crianças passem pelas dificuldades que eles mesmos tiveram, por outro, o bilinguismo ainda é um tema que gera dúvidas e apreensão, muitas delas resultantes de décadas de desinformação e preconceito. Seis mitos sobre os efeitos do bilinguismo, à luz do que diz pesquisas em Neurociência, mostrarei o efeito disto na prática.
MITO 1: O uso de duas línguas demanda esforço demasiado do cérebro, portanto as crianças terão dificuldade para aprender sua própria língua materna.
FATO: A verdade é que, em condições normais, as crianças aprendem a falar qualquer língua sem esforço, da mesma forma como aprendem a caminhar. O bilinguismo infantil funciona de modo distinto do que ocorre no aprendizado de uma língua adicional na idade adulta: é um processo espontâneo que acontece naturalmente, desde que a criança possua oportunidades amplas de ouvir as duas línguas e tenha motivação suficiente para usá-las. As pesquisas comprovam ainda, que os estágios de desenvolvimento da linguagem são os mesmos no caso das crianças monolíngues e bilíngues, independentemente da condição social das famílias e da quantidade de exposição que elas possuam de suas línguas.
MITO 2: Expor a criança a uma língua adicional muito cedo pode causar confusão e comprometer o aprendizado da leitura e da escrita na escola.
FATO: Crescer com mais de uma língua pode trazer uma série de vantagens linguísticas e cognitivas. Uma dessas é justamente o maior conhecimento da estrutura e funcionamento da linguagem e uma maior habilidade de precocemente distinguir entre forma e significado das palavras, uma capacidade denominada consciência metalinguística, que é considerada essencial para o desenvolvimento bem-sucedido da leitura e da escrita.
Isso se deve, em parte, ao fato de os bilíngues fazem uso de palavras distintas para um mesmo objeto, uma em cada língua, sendo capazes de expressar um mesmo conceito de maneiras distintas. Além disso, as crianças bilíngues parecem possuir uma maior capacidade de reconhecer que as pessoas podem perceber o mundo a partir de perspectivas diferentes, devido à prática constante que possuem de escolher a língua, de acordo com o contexto em que estão inseridas. Além disso, as crianças bilíngues demonstram ser capazes de gerenciar o controle de atenção precocemente em relação às crianças monolíngues, focando a atenção e ignorando detalhes irrelevantes com mais facilidade, mostrando ter também mais sucesso ao executar tarefas simultaneamente ou ao mudar de tarefa rapidamente, uma habilidade conhecida como flexibilidade cognitiva.
MITO 3: As crianças bilíngues confundem e misturam suas línguas e por isso acabam não adquirindo completamente nenhuma delas.
FATO: Essa “mistura” de línguas é chamada de code-switching, um fenômeno que caracteriza a fala bilíngue em todas as idades, e de forma alguma revela aquisição incompleta das línguas. Pelo contrário, o que as pesquisas atuais comprovam é que os bilíngues fazem uso otimizado de suas línguas, sempre considerando o contexto no qual estão inseridos, usando somente uma língua sempre que necessário ou usando duas quando a interação permitir essa alternância. Ou seja, em qualquer idade, o code-switching só é empregado quando o falante tiver certeza de que usar palavras ou frases de uma língua não trará efeitos negativos para a compreensão da sua mensagem. Isso revela que code-switching só é usado quando o bilíngue possui um enorme controle no uso de suas línguas e um alto nível de competência linguística.
MITO 4: As crianças que são capazes de falar mais de uma língua com fluência são consideradas pequenos gênios superdotados.
FATO: O domínio de duas ou mais línguas não resulta em maior inteligência. Entretanto, sabe-se que o desenvolvimento das capacidades cognitivas decorrente da aprendizagem de línguas adicionais em qualquer idade traz vantagens aos bilíngues em muitas situações da vida cotidiana.
MITO 5: O bilinguismo é útil se for para aprender línguas de prestígio como, por exemplo, o inglês, mas inútil no caso de línguas indígenas ou de imigração.
FATO: As vantagens bilíngues demonstradas por meio dos estudos de neurociência derivam do fato de que o cérebro bilíngue deve constantemente gerenciar duas línguas que estão ativas ao mesmo tempo. O cérebro de uma criança não conhece a diferença entre línguas de prestígio e línguas minoritárias ou dialetos. Como é a coexistência de mais de uma língua no cérebro que traz vantagens, o aprendizado de qualquer língua propicia o desenvolvimento das crianças, uma vez que todas as línguas são recursos linguísticos e cognitivos, além de sociais e culturais.
MITO 6: As vantagens do bilinguismo são automáticas em todas as famílias e em todos os contextos. Basta que os pais falem línguas diferentes em casa para que os filhos tenham os mesmos benefícios.
FATO: Ainda que não existam relatos de que a experiência bilíngue possa trazer alguma desvantagem importante, os efeitos positivos do bilinguismo não são encontrados em todas as situações e contextos. Alguns fatores possuem um papel importante como, por exemplo, a quantidade de exposição à língua adicional e de possibilidades de interação real; a inserção em uma comunidade, mesmo que restrita, de falantes; a motivação de usar ambas as línguas em uma variedade de contextos; e a atitude da sociedade em relação à língua que está sendo aprendida. Por exemplo, se uma criança não é motivada ao uso frequente da língua ou associa o uso dessa língua à marginalização, discriminação e juízo negativo, é muito menos provável que esse aprendizado traga quaisquer vantagens linguísticas e cognitivas a essa criança.

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