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DIREITO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA MS. GLAUCIA MARTINS BATALHA - EXISTE UM ESTATUTO QUE TRATE ESPECIFICAMENTE SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA? Sim, existe. Em 06 de julho de 2015 a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que cria a Lei Brasileira de Inclusão, também nomeada de Estatuto da Pessoa com Deficiência. Em 07 de julho de 2015 a Lei 13.146/2015, com vacatio legis de 180 dias. A LBI entra em vigor em janeiro de 2016 e atende ao segmento formado por 45,6 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência. OBS: A LBI nasceu em 2003 (depois de 12 anos foi aprovada), por autoria do então deputado Paulo Paim. Após passar por várias revisões, estudos e modificações, capitaneadas pela deputada federal Mara Gabrilli, chegou-se a uma versão que caminha na linha da Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, cujo teor é voltado ao protagonismo, cidadania e inclusão social da pessoa com deficiência. OBS2: Conforme o parágrafo único do art. 1º da LBI, esta tem como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. 3 - De que trata a LBI? A LBIb trata-se de um sistema normativo inclusivo, que com base no princípio da dignidade da pessoa humana objetiva garantir a “Inclusão da pessoa com Deficiência”. É o que enuncia o art.4º da LBI: Artigo 4º - Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação. - QUAL A IMPORTÂNCIA DA LBI? De acordo com dados da Organização-Mundial de Saúde, cerca de 10% da população possui algum tipo de deficiência. É importante destacar que os integrantes desse grupo, apesar de alguns avanços, até pouco tempo eram marginalizados pelo poder público e viu a ascensão de seus direitos e seu reconhecimento como cidadão acontecer nas últimas três décadas. Ensina Pablo Stolze que: “Em verdade, este importante Estatuto, pela amplitude do alcance de suas normas, traduz uma verdadeira conquista social. Trata-se, indiscutivelmente, de um sistema normativo inclusivo, que homenageia o princípio da dignidade da pessoa humana em diversos níveis. (...) Em verdade, o que o Estatuto pretendeu foi, homenageando o princípio da dignidade da pessoa humana, fazer com que a pessoa com deficiência deixasse de ser “rotulada" como incapaz, para ser considerada - em uma perspectiva constitucional isonômica - dotada de plena capacidade legal, ainda que haja a necessidade de adoção de institutos assistenciais específicos, como a tomada de decisão apoiada e, extraordinariamente, a curatela, para a prática de atos na vida civil”. - IMPLICAÇÕES JURÍDICAS Para os fins da lei, “considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas” (artigo 2º). Na esfera civil, estabeleceu em seu art. 6º que “a deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para: I - casar-se e constituir união estável; II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas”. Significando que... A priori, a deficiência não é causadora de limitações à capacidade civil... OU SEJA A LBI revogou expressamente os incisos II e III do artigo 3º do Código Civil. Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: (Vide Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; (REVOGADO) III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.( REVOGADO) ASSIM, há apenas uma causa de incapacidade absoluta, qual seja, ser a pessoa menor de 16 anos. NÃO são mais considerados absolutamente incapazes “os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos” e “os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade”. A incapacidade relativa abrange as seguintes hipóteses: a) maiores de 16 e menores de 18 anos; b) ébrios habituais e os viciados em tóxico (a lei deixa de fazer menção aos que, por deficiência mental, tenham discernimento reduzido); d) aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade (foi excluída a menção aos os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo); e) os pródigos; Como fica a Curatela? A Curatela continua existindo, mas junto com ela passará a existir o processo de “tomada de decisão apoiada”. De acordo com artigo 1.783A do Código Civil, introduzido pelo LIB o processo de “tomada de decisão apoiada” trata-se do “processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos duas pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para que possa exercer sua capacidade” Ou seja... A pessoa com deficiência que tenha qualquer dificuldade prática na condução de sua vida civil, poderá optar ou pela curatela ou pela tomada de decisão apoiada. Curatela e Procedimento de tomada de decisão apoiada e = diante de incapacidade relativa; OBS: pessoas com deficiência mental severa continuam sujeitas à interdição quando relativamente incapazes ATENÇÃO Como dito, a LIB que excluiu a expressão "deficiência mental" do texto do artigo 4º, CC. MAS a LIB NÃO veda a interdição quando o deficiente não possa, por causa transitória ou permanente, manifestar sua vontade. PELO CONTRÁRIO, o artigo 84, §1º da LIB dispõe que, “quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida a curatela”, “proporcional às necessidades às circunstâncias de cada caso”, durando o menor tempo possível (§3º). ATENÇÃO 2... Dispõe o artigo 85 da LIB que “a curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial”, não alcançando o “direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto”.
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