Buscar

APONTAMENTOS CRÍTICOS SOBRE A PRISÃO PROVISÓRIA NO DIREITO PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO

Prévia do material em texto

APONTAMENTOS CRÍTICOS SOBRE A PRISÃO PROVISÓRIA NO DIREITO
PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO
Francis Rafael Beck
Advogado
Mestrando em Direito na Unisinos ­ RS
INTRODUÇÃO
A prisão provisória, sempre verificada quando o indivíduo se encontra encarcerado sem que contra ele
exista uma sentença penal condenatória transitada em julgado, sempre foi um tema latente do direito
processual penal.
Disciplinada pelo Código de Processo Penal e por legislação esparsa, a matéria vem sendo tratada, ao
longo dos anos, de uma forma pouco razoável e finalística. Dessa maneira, os abusos e arbitrariedades,
calcados principalmente na falta de justificação e necessidade da medida, têm se tornado uma
constante.
A sistematização e a atualização do instituto vêm sendo preconizadas pelo projeto de reforma do
Código de Processo Penal, elaborado por juristas de grande respeito e renome nos cenários nacional e
internacional.
O presente trabalho se propõe a realizar uma análise atualizada da prisão provisória no ordenamento
jurídico brasileiro, sempre acompanhada de seus fundamentos e justificativas, bem como das
inovações que são trazidas à tona no projeto de reforma. Ao final, segue­se, de uma forma mais
destacada, a crítica garantista das medidas dessa natureza, o que, em última análise, não deixa de ser
colacionado nas entrelinhas de todo o corpo do texto.
I ­ A PRISÃO PROVISÓRIA E SEUS FUNDAMENTOS CAUTELARES OU MERAMENTE
PROCESSUAIS
Para Ibáñez, a prisão é "la modalidad más radical de intervención del Estado, puesto que incide sobre
lo que hoy aparece como el núcleo mismo del sistema de liberdades, sobre el presupuesto de todos los
demás derechos, condicionando sus posibilidades de realización práctica" 32.
 
javascript:openPopup('ID44SKYMFORIWCBZOSOL4KDTGQ0OLQ0NZNCXTPPEKTIQKIGSOOMNG','Janela-flutuante',324,216);
Revista de Estudos Criminais 4 Doutrina ­ Página 80
Assim, se a prisão decorrente de sentença condenatória já transitada em julgado é cada vez mais
contestada, muito mais árdua é a tarefa de justificar a decretação e manutenção da prisão provisória.
Disto resulta que, não obstante o esforço argumentativo, raros são os exemplos de razoável
convencimento.
Afastadas as acaloradas discussões travadas acerca da existência de uma teoria geral do processo, certo
é que, ao menos em alguns traços fundamentais, os processos de naturezas civil e penal se identificam.
Exemplo oportuno é a temática referente ao processo cautelar, especialmente no que tange à definição
de seus fundamentos: a busca da utilidade do processo, do seu fim útil.
No processo civil, encontramos os pressupostos cautelares denominados fumus boni iuris e periculum
in mora.
Influenciados pela doutrina italiana, estes conceitos se especializaram diante da seara processual penal
e, em relação às prisões cautelares, convergiram para o estabelecimento das figuras do fumus
commissi delicti e periculum libertatis, respectivamente.
A primeira refere­se à materialidade do delito. A segunda, por sua vez, concerne ao perigo concreto
que a liberdade do acusado representa para a instrução do processo ou para a futura aplicação da lei
penal.
Torna­se mister, nesse ponto, seja realizada a distinção entre prisões tipicamente cautelares e prisões
de natureza processual, já outrora preconizada por Tucci  33.
As prisões tipicamente cautelares são aquelas fundadas em fatos e elementos, verificáveis
objetivamente nos autos, que possam ameaçar a instrução do processo ou a aplicação da lei penal. Em
uma primeira análise ­ que será aprofundada no decorrer deste trabalho ­, as prisões que podem ser
tidas como "cautelares" são a prisão em flagrante, a prisão preventiva e a prisão temporária.
Por sua vez, as prisões de natureza processual são aquelas fundadas, simplesmente, em normas
processuais. Em última análise, da forma como são postas, antecipam a culpabilidade do agente,
fazendo com que se force o início do cumprimento da pena antes do trânsito em julgado da sentença
penal condenatória. É o caso da prisão decorrente de pronúncia e da prisão havida de sentença penal
condenatória passível de recurso.
Dentre todas as tentativas de se justificar a prisão sem pena, a posição doutrinária que mais pode ser
aceita é aquela que justifica a prisão provisória diante a sua finalidade de garantir a regular instrução
do processo ou assegurar a eficácia da sentença.
 
javascript:openPopup('ID4ESC1A4TO2ADKKSUT243QWJGLQID3BG3DUTFMD05HXVOEDK2YNO','Janela-flutuante',324,216);
Revista de Estudos Criminais 4 Doutrina ­ Página 81
No primeiro caso, está­se diante de um objetivo especificamente processual, servindo, ao mesmo
passo, para manter o acusado à disposição do juízo e evitar ações no sentido de obstaculizar a
instrução do processo. Todavia, não pode deixar de ser considerado que, se por um lado, a prisão pode
facilitar a produção de provas ­ em regra as de interesse exclusivo da acusação ­ também pode limitar a
possibilidade de o acusado realizar uma defesa adequada e, desde o primeiro instante, uma flexível
relação com o seu defensor.
Já a prisão cautelar para assecuramento da eficácia da sentença condenatória, consoante o
entendimento dominante, visa a afastar o risco de fuga que poderia decorrer do receio de uma possível
penalização. Embora reconhecendo a base romântica dos argumentos, já em 1935 afirmava Tostes
Malta que alguns autores contestam a legitimidade do fundamento, alegando que os meios rápidos de
comunicação à disposição das autoridades tornariam a fuga extremamente difícil, senão impossível.
Mesmo nos casos de fuga para o exterior, pode ser utilizado o recurso da extradição, que tende a se
tornar cada vez mais comum entre os povos. Por derradeiro, mesmo que o fugitivo não se deixasse
apanhar, "o constante temor de ser descoberto equivaleria a uma pena, impedindo, ainda, a pratica de
novos delictos" 34.
Outros ainda entendem como finalidade dessa prisão, desarrazoadamente, a prevenção especial,
garantindo que o acusado não venha a cometer novos delitos. Tal hipótese representa um típico caso de
presunção de periculosidade do réu. Não satisfeita, vai mais além: presume a culpa em relação ao
delito ­ equiparando o réu ao culpado ­ e a própria reincidência futura. Tal posição finda por atribuir
fins extrapenais à prisão cautelar, razão pela qual, por si só, deve ser de imediato afastada.
Na esteira dos ensinamentos de Tornaghi, a prisão provisória é um mal que só deve existir quando,
sem ela, houver mal maior. Embora má, é necessária; mas se é um mal necessário, somente pode ser
tolerada nos limites da necessidade e deve ser substituída por outras providências menos danosas
sempre que possível 35.
II ­ A PRISÃO PROVISÓRIA NO ORDENAMENTO PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO
São em número de cinco as modalidades de prisão provisória previstas no vigente diploma processual
penal brasileiro: prisão preventiva, prisão em flagrante, prisão temporária, prisão decorrente de
pronúncia e prisão decorrente de sentença condenatória passível de recurso.
A prisão preventiva, nos termos do art. 312 do CPP, poderá ser decretada como garantia da ordem
pública, da ordem econômica, por conveniência da
javascript:openPopup('ID4TMXJEC0ZL1CC2ZER34PN3PPJNCLUI2534HAFVLM43FPQNW0QNK','Janela-flutuante',324,216);
javascript:openPopup('IDDVWWGCHJD51YKCROJGMNQYWSK4TGMQSDP0TT4ISRUUJDCPY0UAG','Janela-flutuante',324,216);
Revista de Estudos Criminais 4 Doutrina ­ Página 82
instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do
crime e indício suficiente de autoria.
Até o advento da Lei nº 5.349/67, existia em nosso ordenamento processual penal a figura da prisão
preventiva obrigatória, reservada para os delitos em que a pena prevista fosse igual ou superior a 10
anos. Bastava a materialidade do crime e os indícios suficientes de autoria, eis que o periculum
libertatis era presumido de forma absoluta.
Passemos a tratar, separadamente, os fundamentos para a decretação da prisão preventiva.
A garantia da ordem pública, em um primeiro momento, se desdobra em dois aspectos:evitar que o
acusado volte a cometer delitos e evitar a perturbação da ordem pública, nos casos em que surge o
grave abalo social, bem como o descrédito do Poder Judiciário.
Ao se falar em evitar que o acusado volte a delinqüir, recai­se na já mencionada presunção de culpa em
relação ao crime que está sendo julgado e presunção da própria reincidência do agente. Medida tão
radical e severa como a prisão sem pena não pode ser amparada em meras presunções. Se o agente
voltar a praticar outro crime, o sistema pode buscar tutela junto ao instituto da prisão em flagrante, ou
então, nesse caso, na própria prisão preventiva, mas agora em vista da evidência da reincidência.
Ao mesmo passo, como aduz Alves Moreira, a interpretação dada à expressão "ordem pública" nem
sempre tem sido pacífica, constituindo ponto de grande controvérsia na análise do caso concreto. Isto
porque, dada a abrangência do termo, muitas vezes acaba ele sendo utilizado como fundamento
indiscriminado para a decretação da prisão, principalmente em vista de que a "ordem pública", se
tomada num sentido amplo, poderá justificar qualquer prisão, por menos necessária que seja, pois tudo
que é contrário à lei pode, de certa forma, atentar contra a "ordem pública" pelo simples exemplo
negativo que passa à sociedade 36.
Como destaca Frederico Marques, "nessa hipótese, a prisão preventiva perde seu caráter de
providência cautelar, constituindo antes, como falava Faustin Hélie, verdadeira 'medida de segurança'"
37.
A privação da liberdade do agente não pode servir de encenação, a fim de prestigiar o Judiciário
mediante uma resposta enérgica e radical ao crime cometido, apaziguando, assim, os ânimos exaltados
em função do abalo social. Tal medida nada mais representa do que um paliativo, em que a sociedade
finge que acredita na Justiça e esta finge que é eficaz.
 
javascript:openPopup('IDRKA5DV4LZQKGBAO5EFLGC3VAFOHVHRU1AQFD1COBPW404YGHYHH','Janela-flutuante',324,216);
javascript:openPopup('IDAIFCSXZEY0IADHQO5D0G4B1T1JFEHRD5WILLIFFTGWUHABPTTY5G','Janela-flutuante',324,216);
Revista de Estudos Criminais 4 Doutrina ­ Página 83
Com efeito, como destaca Flach, "o Estado de Direito Democrático não se deve deixar iludir pela
utilização do direito penal como instrumento de conformação de comportamentos sociais, com forte
caráter simbólico e insinuador de 'respostas' estatais prontas e enérgicas ao fenômeno da
criminalidade" 38.
O que pode ser útil para evitar a revolta e a indignação da sociedade em relação a um determinado
delito não é a ilusão de uma resposta imediata, mas sim a certeza de um julgamento sério e em tempo
razoável, em que o agente, se for considerado culpado, seguramente sofrerá a sanção. Em outras
palavras, não é a prisão preventiva que deve satisfazer a ordem pública, mas sim a própria pena,
quando for necessária.
Melhor sorte não assiste ao requisito da garantia da ordem econômica. Como destaca Delmanto Junior,
"não resta dúvida de que nessas hipóteses a prisão provisória afasta­se, por completo, de sua natureza
instrumental, transformando­se em meio de prevenção especial e geral e, portanto, em punição
antecipada, uma vez que uma medida cautelar jamais pode ter como finalidade a punição e a
ressocialização do acusado para que não mais infrinja a lei penal, bem como a conseqüente
desestimulação de outras pessoas ao cometimento de crimes semelhantes, fins exclusivos da sanção
criminal" 39.
Tais fundamentos para a decretação da prisão preventiva alcançam as raias do absurdo, desvirtuando
totalmente as finalidades instrumental e cautelar da prisão.
A conveniência da instrução criminal e a segurança na aplicação da lei penal seriam os únicos
elementos que, em tese, poderiam servir para a decretação de uma prisão preventiva com natureza
cautelar.
Em relação aos crimes apenados com detenção, cumpre salientar, é necessário ainda que o réu seja
"vadio" ou haja "dúvidas quanto à sua identidade". A valoração do adjetivo "vadio" configura
verdadeira hipótese legal de aplicação do direito penal do autor, ferindo frontalmente o princípio da
secularização. O decreto cautelar poderia ser concedido pelo magistrado para fins de instrução ou de
garantia de aplicação de futura pena, mas isso independentemente das condições pessoais do acusado.
Dúvidas quanto à identidade, como no caso anterior, por si só também não são aptas a proporcionar a
prisão. Ademais, em plena era pós­tecnológica, não é admissível que o Estado penalize o indivíduo por
não dispor de meios hábeis para realizar a identificação de um indivíduo.
 
javascript:openPopup('IDZOQVTLGIF3YXGK1NQ4OPAUO1EBSPNRIPMTTOBCK21IW4CACCAK0D','Janela-flutuante',324,216);
javascript:openPopup('IDKU01CQCGICM4CTDZZLUMG14APPDOBK2CONIRIRFNGIYJHDVHYRLO','Janela-flutuante',324,216);
Revista de Estudos Criminais 4 Doutrina ­ Página 84
A prisão em flagrante consiste na momentânea detenção do acusado, no estado de flagrância, a fim de
que seja possibilitada a imediata colheita de provas fundamentais relativas à materialidade do delito e à
sua autoria.
Assim, torna­se tranqüila a captura do acusado, seja para evitar a consumação do delito, seja para
averiguar as questões iniciais referentes à autoria e materialidade, o que se dá mediante a lavratura do
auto de prisão em flagrante.
A questão que impera se cinge à necessidade de manter a prisão realizada no flagrante. Durante os
primórdios, a prisão em flagrante significava verdadeiro resquício de formas arcaicas de vingança,
tornando restritos os casos de concessão de liberdade provisória. Atualmente, com o acréscimo do
parágrafo único no art. 310 do CPP, as hipóteses de manutenção da prisão em flagrante se resumem à
existência dos mesmos requisitos necessários para a decretação da prisão preventiva, razão pela qual
aqui se aplica a mesma análise alinhavada nos parágrafos anteriores.
Por meio de lei esparsa (Lei 7.960/89), criou o legislador o instituto da prisão temporária, modalidade
de cárcere provisório a ser decretado, nos termos do art. 1º: I ­ quando imprescindível para as
investigações do inquérito policial; II ­ quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer
elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade; III ­ quando houver fundadas razões, de
acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos
crimes de homicídio doloso, seqüestro ou cárcere privado, roubo, extorsão, extorsão mediante
seqüestro, estupro, atentado violento ao pudor, rapto violento, epidemia com resultado de morte,
envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte,
quadrilha ou bando, genocídio, tráfico de drogas, ou crimes contra o sistema financeiro.
Discute­se acerca da cumulatividade ou alternatividade desses incisos. O entendimento mais adequado
é de que se faz necessária, sempre, a presença do inciso III, aliado a qualquer um dos outros. "Deixar­
se a prisão temporária livre para os incisos I e II é deixar a prisão aberta para todo o tipo de crimes,
inclusive contravenção, pois o legislador em nada se manifestou" 40. O inciso I é de difícil justificação:
ninguém pode obrigar o indiciado a colaborar nas investigações do inquérito policial (interrogá­lo,
fazer acareações, reconstituições), haja vista o seu direito ao silêncio, constitucionalmente assegurado.
Caso o acusado estivesse obstaculizando essas provas, poderia ser decretada a sua prisão preventiva,
tornando despicienda a prisão temporária.
Ademais, o inquérito policial é um instrumento inquisitório administrativo, mero auxiliar da formação
da acusação. Não vinculado aos princípios do devido processo legal, da ampla defesa ou do
contraditório, parece incabível privar a
javascript:openPopup('IDH23IVBOZG4F0NKKUMWWWEBFPJC1KURCUPITG5EVNNAHCUUCPINK','Janela-flutuante',324,216);
Revista de Estudos Criminais 4 Doutrina ­ Página 85
liberdade do indivíduo em vista de uma mera averiguação preliminar dos fatos, que certamente deverá
ser reproduzida ­ com todas as garantias ao réu ­ durante a fase processual. A desproporcionalidadeda
medida parece saltar aos olhos.
De todas as hipóteses previstas na Lei, a única que demonstra elementos de natureza cautelar é a do
inciso II, na medida em que poderia ensejar indícios de frustração de aplicação da lei penal. Mesmo
assim, os argumentos são por demais frágeis, especialmente em um país desigual ­ em que muitos
sequer dispõem de uma residência ­ e extremamente lento, arcaico e burocratizado no que tange aos
serviços públicos de identificação.
As falhas técnicas observadas na elaboração da lei dificultam a sua aplicação, especialmente se
percebido que o sistema de prisões cautelares já previsto no CPP praticamente esgota as possibilidades
em que a prisão temporária poderia se mostrar útil.
Em suma, a prisão temporária foi um instrumento criado pelo legislador com o objetivo de facilitar a
instrução criminal e a futura aplicação da lei penal em crimes considerados de maior gravidade,
mediante a fixação de requisitos mais "maleáveis" para o encarceramento do acusado. A partir desta
conclusão, tem­se que a barreira existente entre esta modalidade de prisão e o cometimento de
arbitrariedades e encarceramentos sem real necessidade é extremamente tênue.
Em vista do disposto na legislação processual penal, regra geral, caso o réu ainda não se encontre
preso, será encarcerado por ocasião da pronúncia sempre que não for primário e de bons antecedentes.
É a prisão decorrente de pronúncia.
Antes da chamada "Lei Fleury" (Lei nº 5.941/73) o texto legal era ainda mais arbitrário. A prisão era
obrigatória, independentemente das condições suso mencionadas.
Os maus antecedentes e a reincidência não traduzem qualquer caráter de cautelaridade da prisão. A
necessidade da medida, nesses casos, é presumida pela lei. E o que deixa de ser considerado presunção
é a inocência do réu.
Se, mesmo que verificados os maus antecedentes e a reincidência do acusado, entendeu o magistrado
não ser necessária a sua prisão durante todo o processo, por que motivo haveria de sê­la pelo simples
fato de ser o acusado pronuciado? Se o medo é de que o réu se evada diante da possível iminência de
uma condenação, bastaria que fosse decretada a sua prisão preventiva, desde que verificados pelo juízo
motivos sérios e fundamentados para o decreto.
Tem­se, novamente, grave ofensa ao princípio da secularização, na medida em que a privação da
liberdade é estabelecida com base em aspectos pessoais do réu (o que ele foi e fez no passado), e não
com amparo em fatos e elementos atuais e objetivos.
 
Revista de Estudos Criminais 4 Doutrina ­ Página 86
Ademais, o instituto da reincidência e dos antecedentes significam uma das maiores máculas no
sistema garantista  41, haja vista proporcionarem uma verdadeira estigmatização do réu, rotulando­o
eternamente como um ser criminoso e que oferece perigo à sociedade.
Não muito diferente é a prisão decorrente de sentença condenatória passível de recurso, que, ao rigor
da lei, impede que o réu apele sem recolher­se à prisão, salvo se primário e de bons antecedentes,
circunstância que deve vir reconhecida na própria sentença.
Nesse caso, existe uma verdadeira execução provisória da pena. Assim como demonstrado na
modalidade anterior de prisão, se o réu se encontrar em liberdade quando da prolação da sentença
condenatória, deverá permanecer solto até o trânsito em julgado, quanto então poderá se falar em
verdadeira execução penal. Salvo se o magistrado, em sentença, demonstrar a necessidade da prisão
preventiva.
Diante deste prisma, a interpretação adequada a ser aplicada à Súmula nº 9 do STJ é a de que a
exigência da prisão provisória para apelar somente não ofenderá a garantia constitucional da presunção
de inocência se forem verificados, no caso concreto, motivos que autorizem a prisão preventiva.
Em relação à possibilidade de o magistrado não permitir que o réu recorra sem recolher­se à prisão,
ousamos discordar frontalmente da posição de Afranio Silva Jardim, para quem "tal entendimento em
nada prejudica o réu, muito pelo contrário. Ao concebermos que a sua prisão, na hipótese estudada,
não tem a natureza cautelar, mas sim de execução provisória da pena, permitimos que todos os
benefícios da nova Lei de Execução Penal lhe sejam aplicados, inclusive a incidência imediata do
regime aberto de cumprimento da pena, se assim estiver previsto na sentença, que já estará sendo
executada". Qualquer que seja o "benefício" que a LEP possa trazer, certamente não compensará a
privação prematura da liberdade do acusado, quando ainda inexistente qualquer título executivo penal
em seu desfavor.
Existe ainda a possibilidade ­ muito grande ­ de essa modalidade de prisão não ser assumida como
execução provisória da pena. Nesses casos, ao não incidirem os dispositivos da LEP, poderá ainda
restar violado o princípio da proporcionalidade, sempre que o réu for preso em virtude do cometimento
de delitos que, pela graduação da pena, permitiriam o início do cumprimento da pena em regime
aberto ou semi­aberto, ou, ainda, ensejassem a possibilidade de sursis ou substituição da pena privativa
de liberdade.
Devemos lembrar que nem um pouco incomum é a reforma das decisões em grau recursal. Nas quase
fadistas palavras de Tornaghi, que se aplicam a todas as espécies de prisão provisória, "ainda quando
alguém consiga passar
javascript:openPopup('IDK105SM43KZWYJQ2S3OGULX3HBLISC4Q4YBLFKMKBEQXG231C2T0J','Janela-flutuante',324,216);
Revista de Estudos Criminais 4 Doutrina ­ Página 87
incólume, ou mesmo vacinado contra o vício, pelo horror do que viu (o que também acontece com
alguns), a prisão provisória não o deixa sem mácula: a mancha da infâmia o acompanha. Digam o que
quiserem: a prisão provisória nada deveria significar contra o preso, especialmente contra o que tem a
sua inocência reconhecida. Mas a verdade verdadeira e insofismável é que o povo liga à prisão um
caráter ultrajante. E o preso sai dela difamado" 42.
Ademais, a repetida utilização das figuras dos maus antecedentes e da reincidência caracterizam uma
verdadeira espécie de bis in idem, na medida em que, além de servirem de justificativa para a prisão
provisória do acusado, ainda serão utilizadas para o exasperamento de eventual pena definitiva.
Tanto a pronúncia quanto a condenação passível de recurso podem ensejar, em diferentes graus, o
fumus commissi delicti, mas jamais o periculum libertatis.
III ­ INOVAÇÕES DO REGRAMENTO DA PRISÃO PROVISÓRIA NO PROJETO DE
REFORMA DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
Da autoria de vários dos mais renomados processualistas penais pátrios, o projeto de lei que altera
dispositivos do Código de Processo Penal relativos à prisão, medidas cautelares e liberdade, dentre
outras propostas, sistematiza e atualiza o tratamento das prisões cautelares.
Como grande inovação, o projeto aumenta o rol das medidas cautelares diversas da prisão cautelar,
possibilitando ao juiz, dentro dos critérios da legalidade e da proporcionalidade, escolher a medida
mais adequada a ser tomada no caso concreto. São elas: comparecimento periódico em juízo; proibição
de acesso ou de freqüência a determinados lugares; proibição de manter contato com pessoa
determinada; proibição de ausentar­se do país, recolhimento domiciliar nos períodos noturnos e nos
dias de folga; suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou
financeira; internação provisória e fiança. Tais providências poderão ser adotadas isolada ou
cumulativamente. Em caso de descumprimento, poderá o magistrado substituir a medida por outra,
impor outra em cumulação e, em último caso, decretar a prisão preventiva.
São revogados os arts. 393, 594, 595 e os parágrafos do art. 408 do CPP. Com isso, afasta­se do
ordenamento a prisão decorrente de pronúncia e a prisão decorrente de sentença condenatória passível
de recurso.
As disposições da prisão em flagrante são aperfeiçoadas. Ao receber o auto de prisão, o juiz é obrigado
a relaxar o flagrante, se ilegal; converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os
requisitos do art. 312; ou conceder liberdade provisória,com ou sem fiança.
 
javascript:openPopup('ID1ITKAUE3I1AMFCXDTYJNWF1VNPVQHKPFEDMGCFPJPUYVI1S3VOWG','Janela-flutuante',324,216);
Revista de Estudos Criminais 4 Doutrina ­ Página 88
Nova redação é dada ao art. 312, estabelecendo que "a prisão preventiva poderá ser decretada quando
verificados a existência de crime e indícios suficientes de autoria e ocorrerem fundadas razões de que
o indiciado ou acusado venha a criar obstáculos à instrução do processo ou à execução da sentença ou
venha a praticar infrações penais relativas a crime organizado, à probidade administrativa ou à ordem
econômica ou financeira consideradas graves, ou mediante violência ou grave ameaça à pessoa".
Acrescentou­se ao dispositivo um parágrafo único, prevendo a decretação da prisão preventiva em
caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares.
Os avanços trazidos pelo projeto são inquestionáveis. As prisões cautelares passam a ser tratadas de
uma forma sistematizada e coerente. Mais do que isso, com a previsão do novo leque de medidas
cautelares, a prisão passa a ser aplicada somente naqueles casos estritamente necessários, em que as
outras providências não se mostram ­ ou não se mostraram ­ suficientes para garantir a
instrumentalidade do processo.
Todavia, embora tenha objetivado um sistema em que toda a prisão antes do trânsito em julgado final
somente pudesse ser justificado pela sua natureza cautelar, a redação do art. 312 deixou muito a
desejar.
Logo de início, percebe­se que o texto peca pela falta de clareza.
A primeira parte do dispositivo é irretocável. O erro da Comissão consistiu em acrescentar a segunda
parte do artigo, admitindo o decreto sempre que ocorrerem fundadas razões de que o indiciado ou
acusado "venha a praticar infrações penais relativas ao crime organizado, à probidade administrativa
ou à ordem econômica ou financeira consideradas graves, ou mediante violência ou grave ameaça".
O que pretendeu, em verdade, a Comissão? Pelo rigor gramatical, a prevenção especial quanto à
prática futura das infrações penais descritas no texto. Mas como poderá o magistrado levantar essas
fundadas razões? Qual é a cautelaridade processual que pode ser deduzida dessa providência?
Pelo que se presume, entenderam os criadores do projeto que o encarceramento se tornaria necessário
sempre que se verificassem por parte do acusado condutas que poderiam configurá­lo como potencial
agente de um futuro cometimento dos referidos crimes.
São critérios extremamente vagos e subjetivos que, pela dificuldade de configuração fundamentada em
elementos constantes dos autos, abrem margem ao cometimento de sérias arbitrariedades. Ademais, os
indícios e presunções pessoais do julgador, abstratos e hipotéticos que são, ferem o princípio da
refutabilidade das provas.
Como lembra Tourinho Filho, "o juiz não pode fazer conjecturas, suposições. Tem de ater­se aos
elementos constantes dos autos, que lhe
Revista de Estudos Criminais 4 Doutrina ­ Página 89
possibilitam determinar a prisão. (...) Quando a prisão preventiva é difícil de ser decretada, quando o
juiz não determina o motivo real da prisão, é porque ela não se faz necessária. Se se fizesse preciso, os
elementos aflorariam limpidamente" 43.
A necessidade da justificação da cautela com amparo na instrumentalidade do processo é
simplesmente esquecida. Utiliza­se a prisão, assim, com o fito de alcançar objetivos que somente
poderiam ser alcançados com a sentença condenatória ­ prevenção especial.
Assim, mesmo não repetindo em seu texto a malfadada hipótese de decretação da prisão em vista da
garantia da ordem pública, a nova redação estabelece figuras que ensejam ainda maior arbitrariedade e
total ausência de fundamento. Neste ponto, urge seja reavaliada e reformada.
IV ­ CRÍTICA GARANTISTA ÀS PRISÕES SEM CONDENAÇÃO
Como evidencia Frederico Marques, "indiscutível é que esses argumentos e críticas não deixam de ter
sua procedência. Sem embargo disso, seria temeroso o Estado abrir mão da prisão cautelar. O risco que
corre a Justiça penal, na prisão preventiva, é iniludível, mas necessário, visto que a tutela jurídico­
penal não pode privar­se da providência cautelar, sob pena de enfraquecimento substancial da
atividade repressora dos órgão estatais na luta contra o crime" 44.
Entretanto, para Ferrajoli, a captura do suspeito representa, sem dúvida, a medida de defesa social mais
eficaz: primeiro se castiga e depois se processa, ou melhor, se castiga processando 45.
Dessa forma, impõe­se que sejam estabelecidos limites para a utilização desse instrumento pelo
Estado.
Neste ponto, o garantismo exsurge como um instrumental prático­teórico idôneo para a tutela dos
direitos fundamentais ­ que adquirem uma posição de intangibilidade ­ contra as arbitrariedades da
justiça penal. Como ensina Salo de Carvalho, "a teoria do garantismo penal, antes de mais nada, se
propõe a estabelecer critérios de racionalidade e civilidade à intervenção penal, deslegitimando
qualquer modelo de controle social maquineísta que coloca a 'defesa social' acima dos direitos e
garantias individuais" 46.
Diante desse enfoque, a detenção ante iudicium representa um paradoxo no sistema de garantias.
Tanto a gravidade dos indícios de culpabilidade quanto, muito menos, as suposições do "perigo" de
fuga, de destruição das provas ou cometimento de
javascript:openPopup('IDNOVS0OFNQR2WEWRP5JH4ZI4BUBMEHYZNL4ZUQ2E53DSWSETGYDYD','Janela-flutuante',324,216);
javascript:openPopup('IDUB0HZCPQJ3EQDKQDFWTHNQRIAFATY2ZZPGEVMBKT4HPBDXD01PFP','Janela-flutuante',324,216);
javascript:openPopup('ID10ENZWWZJUQVLEVSIXPFMUE1AD0EBU0G04OQKCPJZOIULCO2COED','Janela-flutuante',324,216);
javascript:openPopup('IDMX0WRPPHGRF1IUQR1W53M3QZIIYXBDRB4VP1GPOZPYKHJZF4TAOL','Janela-flutuante',324,216);
Revista de Estudos Criminais 4 Doutrina ­ Página 90
futuros delitos por parte do imputado ­ fundamentos ordinariamente atribuídos ao decreto prisional ­
não são, por natureza, suscetíveis de prova ou de refutação 47.
Resta violado, portanto, o sistema de Ferrajoli, por ofensa às máximas latinas nulla accusatio sine
probatione e nulla probatio sine defensione.
Mesmo diante da dificuldade de se realizar a contraprova, ainda assim seria fundamental a implantação
do contraditório, preferencialmente antes da decretação da medida, "ou, ao menos, imediatamente após
a sua adoção, oferecendo­se ao indiciado/acusado, assistido por advogado, oportunidade para que
produza argumentos a favor da manutenção ou devolução da liberdade" 48. O "contraditório diferido",
nesses casos, seria observado e justificável sempre que se fizesse imprescindível a utilização do
elemento surpresa para a eficácia da medida cautelar.
Na lição de Ferrajoli, essa "pena informal", em última análise, se torna mais grave do que a própria
pena. Em primeiro lugar, a prisão cautelar tem um caráter de prevenção geral que, ao contrário da
pena, não se fundamenta em uma ameaça legal, mas sim diretamente no caráter exemplar da sua
irrogação judicial. Ao mesmo tempo, não se embasa em provas, mas sim na mera suspeita ou, o que é
pior, na presunção de periculosidade do réu. Em um segundo momento, supõe um retrocesso a uma
pena pública imposta em um processo que se mantém secreto, como no antigo regime: em uma
sociedade com meios de comunicação em massa, a captura e acusação em que se ampara a prisão são
tão públicas, espetaculares e estigmatizantes como secretos são os procedimentos, as provas e as
alegações da instrução. Finalmente, é mais aflitiva do que a pena em sentido próprio, já que o acusado
não pode recorrer a qualquer medida alternativa, bem como a outros benefícios previstos nas normas
de execução da pena 49.
O sistema garantista formula como critérios de garantias processuais a presunção de inocência, a prova
e a ampla defesa. São as normas de processo que devem ser sempre observadas para a
instrumentalização da busca da aplicação da pena ­ desde que também observadas as garantias
substanciais (lesividade, materialidade e culpabilidade).
Atento aosnovos rumos dos ideários iluministas, Ibáñez assevera que "tal como se le concibe
actualmente, el principio de presunción de inocencia tiene uma doble dimensión. De un lado, es regla
probatoria o regla de juicio y, de otro, regla de tratamiento del imputado" (...) "no es posible
concebirlas separando a una de la otra." (...) "Es por lo que Ferrajoli ha conceptuado a la presunción de
inocencia como garantía, al mismo tempo, de libertad y de verdad" 50.
 
javascript:openPopup('ID3IORIGEODPY5LDDV0KFXOWHVIOZ4AF3O15NTSFDNFOZMRZTHV5FH','Janela-flutuante',324,216);
javascript:openPopup('IDGPX1S0TCX5C5BBLBVXIXHRZPVIKLMZBRDXTWJAFOZGZTSXZPK0EL','Janela-flutuante',324,216);
javascript:openPopup('IDBCA02FXY3FERNVPT2K3LMOD0GMJWDEOJHWK0KEOA0TTK4GZ5R0JC','Janela-flutuante',324,216);
javascript:openPopup('IDJPJXSAQXSXNGEEGLDYKNTSXQ3KZ5QIAWJWQIREFWD14AZFID15YJ','Janela-flutuante',324,216);
Revista de Estudos Criminais 4 Doutrina ­ Página 91
Assim, no que tange às provas, o princípio da presunção de inocência faz com que impere a regra do in
dubio pro reo. Como regra de tratamento durante o processo, não pode o acusado ser tratado como
culpado antes do trânsito em julgado da condenação: em relação à prisão provisória, deve ser
observado o postulado in dubio pro libertatis.
Daí a fundamental necessidade de motivação objetiva e contundente acerca dos motivos a ensejar o
decreto prisional, em vista de elementos presentes e comprovados nos autos (garantia processual da
prova).
A garantia da ampla defesa completa a instrumentalidade processual, assegurando ao acusado a
produção, em seu favor, de todos os meios de prova admitidos pelo direito. Em uma análise mais
específica, essa garantia inclui a garantia ao contraditório, princípio já trabalhado em parágrafos
anteriores.
O desenvolvimento da recente legislação penal e processual referente às alternativas à pena e ao
processo fazem ainda mais intolerável a figura da prisão provisória. E permitem que se busque a sua
abolição ou, a curto prazo, a sua gradual restrição, não somente pela sua ilegitimidade intrínseca como
também pelos maiores prejuízos e paradoxos que pode provocar 51.
Aliás, deveriam ser limitados ao máximo os pressupostos e fundamentos da medida, reduzindo o
número dos delitos para os quais é permitida, restringindo e precisando mais adequadamente as suas
razões ­ que deveriam ser unicamente processuais e não de prevenção de delitos futuros ­ bem como
estarem submetidas, inclusive durante a detenção, a controles e motivação periódica da sua
persistência. Finalmente, a aflitividade da detenção deveria reduzir­se ao mínimo. Se é verdade que
não exprime natureza punitiva, mas sim cautelar, e que a sua aflitividade é, em todos os casos, uma
injustiça, o cidadão que a ela é submetido deveria ter direito a cumpri­la em instituições dotadas de
todas as comodidades de uma boa residência 52.
De fato, um dos principais problemas dos presos provisoriamente é a vida promíscua com os
condenados, às vezes criminosos perigosos. No direito brasileiro, embora o legislador tenha previsto
no art. 300 do CPP e no art. 84 da LEP que o preso provisório deverá ficar separado dos demais
detentos já condenados, na prática, em razão das dificuldades materiais, não é isso que acontece .
Assim, a prudência na decretação da medida bem como a observância máxima do critério da
necessidade se tornam fundamentais. Como já há décadas anotou Costa Júnior, "reconduzido o
prisioneiro à liberdade, as marcas da culpabilidade permanecem indeléveis, ainda que absolvido. Não
raro se pergunta: será ele realmente inocente? E o cidadão honrado, no instante em que é levado à
prisão preventivamente, fica marcado para sempre com a mácula da desonra, com
javascript:openPopup('IDAF3DIJDRRNTYD0OAZOZRIMCELMTSU4TC1RY4GQGQ5L5N0DCBTFBF','Janela-flutuante',324,216);
javascript:openPopup('IDFMYSFBY0ZQ1XI2HJYB1MWNEIRJLJFEQZXIPJFEG20D4T4GB3YU5I','Janela-flutuante',324,216);
Revista de Estudos Criminais 4 Doutrina ­ Página 92
o ferro escaldante da improbidade, que permanece latente em sua reputação. Murmura­se, a boca
pequena: 'É, se foi para as grades, é porque algo havia'" 53.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como demonstrado ao longo do presente estudo, a disciplina da prisão provisória se encontra
inflacionada, prevendo fundamentos das mais diversas naturezas que findam por estender a
possibilidade da sua decretação para hipóteses veementemente desarrazoadas.
O projeto de reforma do Código de Processo Penal, no tocante às prisões "cautelares", realiza
importantes alterações, tanto com a criação de um rol de medidas cautelares distintas da prisão ­ que
fica envolta no princípio da necessidade ­ quanto com a revogação dos dispositivos que se referem à
prisão decorrente de pronúncia e de sentença condenatória passível de recurso.
O desafio consiste em buscar a compatibilidade entre a prisão cautelar e os critérios processuais
garantistas da presunção de inocência, da prova e da ampla defesa. Embora todas as respostas possam
parecer insatisfatórias diante de uma interpretação rigorosa desses três requisitos, especialmente o da
presunção de inocência, o ponto de equilíbrio parece residir na necessidade ­ excepcionalíssima ­ da
prisão para a instrumentalidade do processo. Tal interpretação afastaria, de pronto, toda e qualquer
fundamentação amparada em presunções e em finalidades penais ou processuais não­cautelares.
Se a atual política criminal se embasa no objetivo cada vez maior de se evitarem as penas privativas de
liberdade, nos casos em que existe sentença penal condenatória transitada em julgado ­ reconhecendo,
dessa forma, o fracasso e a inutilidade da pena de prisão ­, muito mais razão existe para se expurgar o
decreto em um momento anterior ao próprio julgamento.
BIBLIOGRAFIA
Batista, Weber Martins. Liberdade provisória, 2. ed., Rio de Janeiro : Forense, 1985.
Delmanto Junior, Roberto. As modalidades de prisão provisória e seu prazo de duração, Rio de Janeiro
: Renovar, 1998.
Câmara, Luiz Antonio. Prisão e liberdade provisória, Curitiba : Juruá, 1997.
Carvalho, Salo de. Pena e garantias: uma leitura do garantismo de Luigi Ferrajoli no Brasil, Rio de
Janeiro : Lumen Juris, 2001.
_______________; Carvalho, Amilton Bueno de. Aplicação da pena e garantismo, Rio de Janeiro :
Lumen Juris, 2001.
Cintra, Antonio Carlos de Araújo; Grinover, Ada Pellegrini; Dinamarco, Cândido Rangel. Teoria geral
do processo, 9.ed., São Paulo : Malheiros, 1992.
Espínola Filho, Eduardo. Código de processo penal brasileiro anotado, v.III, 1. ed., Campinas :
Bookseller, 2000.
Ferrajoli, Luigi. Derecho y razón, Madrid : Trotta, 1989.
Flach, Norberto. Prisão processual penal: Discussão à luz dos princípios constitucionais da
proporcionalidade e da segurança jurídica, Rio de Janeiro : Forense, 2000.
 
javascript:openPopup('IDW5MPABX3Y1Q5P0DTBRXZ2IIJZEAMIQN4EWXJMWN4MLF2LSVPHSXL','Janela-flutuante',324,216);
Revista de Estudos Criminais 4 Doutrina ­ Página 93
Grinover, Ada Pellegrini; Fernandes, Antonio Scarance; Gomes Filho, Antonio Magalhães. As
nulidades no processo penal, 6.ed., São Paulo : RT, 2000.
Ibáñez, Perfecto Andrés. Presuncion de inocencia y prision sin condena, in Revista de la Asociación de
Ciencias Penales, Costa Rica, agosto de 1997, año 9, n.13.
Jardim, Afranio Silva. Direito processual penal, 6.ed., Rio de Janeiro : Forense, 1997.
Malta, Christovão Pirabibe Tostes. Da prisão preventiva, São Paulo : Saraiva, 1935.
Marques, José Frederico. Elementos de direito processual penal, v.IV, 1. ed., 2. tir., Campinas :
Bookseller, 1998.
Moreira, David Alves. Prisão provisória, 1. ed., Brasília : Brasília Jurídica, 1996.
Prado, Geraldo. (1999). Prisão e liberdade: palestra proferida na OAB de Magé, em 19.08.99, (on­
line). Available: http://www.estacio.br/direito/revista/artigo12.htm.(2001,mai.15).
Sznick, Valdir. Liberdade, prisão cautelar e temporária, 2. ed., São Paulo : Leud, 1995.
Tornaghi, Hélio. Curso de processo penal, v.II, 6.ed., São Paulo : Saraiva, 1989.
Tourinho Neto, Fernando da Costa. (1998). Prisão provisória, /on­line/.Available:
http://www.tj.ro.gov.br/emeron/revistas/07.htm(2001,mai.15).
Tucci, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro, São Paulo :
Saraiva, 1993.

Continue navegando