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FICHAMENTO 12 - A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO

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FICHAMENTO: A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO
WEBER, Max.
Introdução
O objeto principal da obra é o estudo das influências religiosas da Igreja Católica e de várias correntes protestantes na construção do capitalismo ocidental, que tem por base o racionalismo econômico. A obra faz uma análise da cultura capitalista moderna e sua relação com o puritanismo adotado pelas igrejas e seitas protestantes dos séculos XVI e XVII. Weber observou que os protestantes da sua época eram mais bem-sucedidos nos negócios do que os católicos. Isso se devia ao fato de que a ética religiosa estava firmada no trabalho, aproveitando as oportunidades que Deus colocava à disposição dos indivíduos para auferir seus ganhos. Enquanto isso, o desperdício das oportunidades de crescimento material é vista como contrária à vontade de Deus. Surgem, então, o conceito de vocação, de puritanismo, de racionalidade econômica e de ascetismo como aspectos significativos no aparecimento do “espírito capitalista”.
Capítulo 1
Discussão sobre a questão de que os homens de negócios e os trabalhadores mais especializados são predominantemente protestantes, na Alemanha e em outras regiões, com diferentes aspectos culturais entre o oriente e o ocidente (p. 39-42).
Por que os lugares de maior desenvolvimento econômico foram propícios a uma revolução dentro da igreja? A reforma não eliminou o controle da igreja sobre a vida cotidiana, mas trouxe uma nova forma de controle, mais opressiva e severamente imposta (p. 40).
Tenta-se provar o desapego do catolicismo e a suposta alegria materialista do protestantismo. O calvinismo mostrou que existe algo a observar no extraordinário senso capitalista dos negócios e as mais intensas formas religiosas. Busca-se, assim, uma explicação histórica sobre as peculiaridades desse fenômeno. (p. 43-46).
Capítulo 2
Espírito do capitalismo: não só realidade histórica, mas o conjunto genético de relações individuais. Alguns princípios: tempo é dinheiro, dinheiro pode gerar dinheiro e seu produto gerar mais dinheiro.  (p. 47-48)
O homem é dominado pelo dinheiro, pela aquisição como propósito final da vida. Na moderna ordem econômica, o ganho do dinheiro é o resultado e expressão da virtude e da eficiência. (p. 51)
A economia capitalista moderna força o indivíduo a se conformar às regras do comportamento capitalista.  As raízes do novo capitalismo vêm da Inglaterra quando se estabeleceu o cálculo do lucro. Na era pré-capitalista não havia a utilização racional do capital em empresas estáveis e a organização racional capitalista do trabalho como forças dominantes na determinação da atividade econômica. (p. 52-54). A isso denominou-se “tradicionalismo”, em oposição do espírito do capitalismo. Baixos salários são necessários para o desenvolvimento do capitalismo. Entretanto, baixos salários não significam trabalho barato. (p. 55-56).
Quando se deseja produzir bens que exijam maquinário caro e trabalho especializado, busca-se o trabalho como vocação, através de uma ação educativa. (p. 58).
O moderno empreendedor precisa calcular a arriscar, ser sóbrio e confiável, perspicaz, devotado ao negócio. Qualquer relação entre as crenças religiosas e a conduta é, em geral, ausente e tende a ser negativa. As pessoas imbuídas do espírito do capitalismo tendem hoje a ser indiferentes à igreja. A religião apresenta-se como um meio de afastar as pessoas do trabalho neste mundo. O sistema capitalista precisa dessa devoção à vocação para fazer dinheiro. Não é mais necessário o suporte de qualquer força religiosa. A igreja recebia somas em dinheiro como forma de pagamento pelos pecados. (p. 59-67).
Capítulo 3
Lutero desenvolveu, ao longo da primeira década do seu trabalho como reformador, o conceito de vocação. Vocação, como a valorização do cumprimento do dever nos afazeres seculares como a mais elevada forma que a atividade ética do indivíduo pudesse assumir. O conceito de vocação foi introduzido como dogmas em todas as denominações protestantes e descartada pela igreja católica. O único modo de vida aceitável por Deus não estava no vida monástica, mas unicamente no cumprimento das obrigações impostas ao indivíduo pela sua posição no mundo. Essa era sua vocação. (p. 69-70).
A vida monástica não era apenas desprovida de valor e de justificativa perante Deus, mas encarava também a renúncia dos deveres desse mundo como um produto do egoísmo. Ao contrário, trabalhar dentro dessa vocação aparece como expressão de amor fraternal. (p. 70).
A autoridade da Bíblia favorecia o conceito de tradicionalismo, em que cada um deve sustentar a própria vida, deixando que os ateus corram atrás do lucro. Na era apostólica, os cristãos viam as atividades mundanas com indiferença. Como esperavam a vinda do Senhor, cada um deveria ficar no seu posto e na mesma ocupação em que foram encontrados. (p. 72).
Para Lutero, o conceito de vocação permaneceu tradicionalista. O homem deve aceitar como uma ordem divina. (p. 73-74).
Os reformadores se interessavam pela salvação da alma. Entretanto, o calvinismo e demais seitas protestantes tiveram um papel importantíssimo no desenvolvimento do capitalismo. Entretanto, o catolicismo vê, até o dias de hoje, o calvinismo como seu real oponente. (p. 74-76).
Não se pode sustentar uma tese de que o espírito do capitalismo possa ter surgido apenas como resultado da reforma, mas existem relação entre as formas de crença religiosa e as práticas éticas. Os movimentos religiosos também influenciaram o desenvolvimento da cultura material. (p. 77).
Capítulo 4
Na história, houve 4 formas de protestantismo ascético: calvinismo, o pietismo, o metodismo e as seitas que se desenvolveram a partir do movimento batista. (p. 81-82).
No calvinismo, a predestinação era seu dogma principal. Os homens existem por causa de Deus e uma pequena parcela dos homens seria escolhida para a Graça. Deus se regozija com o arrependimento do pecador. O homem deveria seguir sozinho à procura do seu caminho, aquilo que já estava determinado para ele e para a eternidade. Ninguém poderia ajudá-lo. (p. 83-94).
A salvação não poderia, como no catolicismo, consistir em um acúmulo de boas ações do indivíduo, mas num autocontrole sistemático que a qualquer momento pudesse definir a condição de culpado ou escolhido. (p. 95-103).
Para o pietismo, os pré-destinados à graça poderiam ocorrer a um erro dogmático, mostrando a experiência que os ignorantes em teologia acadêmica exibiam maiores frutos da fé. (p. 104). Por isso, o pietismo levou seus adeptos a viverem em comunidades, livres das tentações do mundo, voltados para a vontade de Deus. Assim, poderiam ter a certeza do seu renascimento, pelos sinais externos presentes em sua conduta diária. Com isso, criou-se um maior controle da conduta da vocação. (p. 104-110).
O metodista trazia a natureza sistemática e metódica da conduta dos seus seguidores com o propósito de obter a graça. (p. 111). Sua base estava no puro sentimento da certeza do perdão, derivado do testemunho do espírito. (p.112).
Devido à exposição de Wesley às influências luteranas, apenas o conceito da regeneração – a certeza emocional da salvação como resultado imediato da fé – foi mantido como fundamento da graça, além da santificação pela libertação do pecado. (p. 113).
As seitas batistas têm suas bases diferentes da doutrina calvinista. Somente os adultos que tivessem adquirido sua fé poderiam ser batizados. (p. 114-115). Os batistas repudiavam toda idolatria à carne, viviam uma vida moldada na dos apóstolos, pregavam a desvalorização dos sacramentos como meios de salvação, obtendo a racionalização religiosa do mundo em sua forma mais intensa. (p. 116).
As comunidades batistas procuravam ser igrejas puras, pela conduta inocente dos seus membros, numa incondicional submissão a Deus, com uma vida cheia de boas obras (p. 117).
Entretanto, o interesse pelas ocupações econômicas foi aumentada por vários fatores atuantes nas seitas batistas: recusa de aceitação de cargos públicos, como dever religioso de repúdio às coisas mundanas; contráriosà forma aristocrática de vida, pela proibição de toda idolatria pela materialidade. (p. 118-119).
Capítulo 5
A disciplina da Igreja e a pregação exerciam grande influência sobre as pessoas. As forças religiosas eram as influências decisivas na formação do caráter nacional. (p. 122).
O puritanismo inglês, derivado do calvinismo, confere uma base religiosa mais consistente da idéia de vocação. Richard Baxter tem uma posição de destaque entre os autores da ética puritana, sendo desfavorável às seitas e ao entusiasmo fanático dos santos. (p. 122).
Baxter dá ênfase na discussão sobre a riqueza que constitui em grande perigo, suas tentações não têm fim. Sua busca não é apenas sem sentido, mas moralmente suspeita. Aqui o ascetismo vai mais contra a aquisição de bens terrenos do que em Calvino. Calvino não via na riqueza do clero nenhum empecilho à sua eficiência, via nisso uma expansão desejável de seu prestígio. (p. 123).
A perda de tempo é o pior pecado. A perda de tempo em conversas ociosas, em luxos e mesmo em dormir mais que o necessário para a saúde é merecedora de condenação moral. Cada hora perdida é perdida para o trabalho de glorificação a Deus. (p. 124).
Baxter tem uma pregação apaixonada sobre o trabalho físico ou mental duro e constante. Isso se deve a dois fatores: 1) ao fato do trabalho ser uma técnica ascética contra as tentações que o puritanismo chamou de vida impura; 2) o trabalho foi considerado a própria finalidade da vida. A falta da vontade de trabalhar é sintoma da falta de graça. (p. 124-125).
Para Santo Tomás de Aquino, o trabalho era necessário para a manutenção do indivíduo e da comunidade. Entretanto, Baxter reafirma que mesmo o rico deve trabalhar, tendo em vista o mandamento de Deus que deve obedecer. Para todos, a Providência divina reservou uma vocação que deve ser reconhecida e exercida. Essa vocação não é, como para os luteranos, um destino ao qual se deve submeter, mas, um mandamento de Deus ao indivíduo. Essa diferença sutil teve conseqüências psicológicas profundas com o maior desenvolvimento da ordem econômica que começara com a Escolástica. (p. 125).
Santo Tomás de Aquino abordou a questão da divisão do trabalho e das ocupações na sociedade. A diferenciação dos homens em classes e ocupações tornou-se, para Lutero, o resultado direto da vontade divina. A permanência do indivíduo no lugar e nos limites demarcados por Deus era um dever religioso, segundo Lutero. (p. 125).
Na visão puritana, o propósito da divisão do trabalho deve ser reconhecido pelos seus frutos. Baxter diz que o trabalhador especializado levará a termo o seu trabalho de maneira ordenada, enquanto outros ficarão em constante confusão. Por isso, ter a vocação certa é o melhor para todos. (p. 126).
O que Deus quer não é o trabalho em si, mas um trabalho racional na vocação. No conceito puritano de vocação, a ênfase está nesse caráter metódico do ascetismo laico. Para Lutero, está na aceitação do destino designado por Deus. (p. 126-127).
A utilidade da vocação é medida primeiramente em termos morais, depois pela importância dos bens que ela gera para a comunidade. Assim, se Deus mostra um caminho para obter mais lucro e se o recusares estarás em conflito com uma das finalidades de tua vocação, está recusando ser servo de Deus e aceitar Suas dádivas. A riqueza seria eticamente más quando representa uma tentação para o gozo da vida no ócio e no pecado. Mas, como propósito de atender à sua vocação, ela é permissível moralmente e recomendada.  (p. 127).
A interpretação da obtenção de lucro justificou as atividades dos homens de negócios. O significado ascético da vocação justificou a moderna divisão do trabalho em especialidades. (p. 127-128).
A idéia puritana de vocação estava limitada pela influência do desenvolvimento do modo de vida capitalista. Os puritanos sustentavam sua característica mais marcante – o princípio da conduta ascética. A sua aversão aos esportes era explicada pelo fato de não servir a um propósito racional, o da recuperação necessária à eficiência física. Era condenado pelo fato de servirem a impulsos indisciplinados, um meio de diversão, de estímulo ao orgulho. (p. 130).
Por outro lado, os ideais puritanos não levavam ao desprezo pela cultura. Nota-se que os grandes nomes do movimento puritano estavam profundamente arraigados à cultura renascentista. (p. 130-131). Os puritanos não suportavam as artes plásticas, a superstição, salvação mágica ou sacramental, festividades natalinas, teatro. (p. 131).
O Ascetismo condenava a avareza compulsiva. A influência dessa vida puritana favoreceu o desenvolvimento da vida econômica racional da burguesia – o berço do homem econômico moderno. (p. 135). Pequenos burgueses e fazendeiros, com sua vida regrada e consumo limitado foi assumida pelas cidades, a riqueza foi-se acumulando. Para o metodismo, aumentando os ricos, aumenta também o orgulho, a cólera e o amor ao mundo em todos os seus aspectos. A exortação de Wesley era para que aqueles que ganhassem tudo, deveriam dar tudo o que puderem, para crescerem na graça e ajuntar um tesouro no céu. (p. 135-136).
A distribuição desigual da riqueza no mundo era uma disposição especial de Deus. Calvino já dizia que somente quando a massa de trabalhadores e artesãos fosse pobre é que se conservariam obedientes a Deus. Na Holanda essa idéia foi secularizada, afirmando-se que a massa só trabalharia quando fosse forçados pela necessidade. (p. 137).
Um dos elementos fundamentais do espírito do capitalismo moderno e de toda cultura moderna é a conduta racional baseada na idéia de vocação. A idéia de que o trabalho moderno teria um caráter ascético não é nova. O trabalho especializado é uma característica do mundo moderno. Quando o ascetismo foi levado para fora das celas monásticas, acabou por ser introduzido na vida cotidiana e começou a dominar a moralidade laica, o que contribuiu para a formação da moderna ordem econômica. Os bens materiais adquiriram um poder crescente. (138-141).
RESUMO
O cerne da reflexão weberiana é apreender o fenômeno observado na transição do século XVI para o XVII, qual seja, o protestantismo relacionado diretamente ao desenvolvimento do sistema econômico capitalista. O conceito de vocação – entendido como chamado de Deus para o exercício profissional - é apresentado como base motivacional do moderno sistema econômico capitalista.
Dessa forma, é apresentado uma valorização do trabalho e da riqueza produzida por ele, como um dever moral. A principal questão a ser enfrentada no livro é se as ideias religiosas têm influência sobre o desenvolvimento econômico, isto é, até que ponto a moral protestante, como um modo de pensar, contribui para o espírito do capitalismo.
1 O PROBLEMA
1.1 FILIAÇÃO RELIGIOSA E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
Nesse primeiro capítulo, Weber aduz que ao analisar as estatísticas ocupacionais de qualquer país com uma composição religiosa mista, nota-se que os líderes empresariais e os profissionais mais bem qualificados, eram na em sua maioria protestantes. Isso era objeto de discussão na imprensa, na literatura e em congressos católicos.
Portanto os protestantes eram os detentores do capital e ocupavam os mais altos postos de trabalho dos maiores empreendimentos industriais e comerciais. Nas escolas o percentual de graduandos católicos, em cursos preparatórios para ocupações industriais e comerciais, estava muito aquém do percentual de protestantes. Razão pela qual o número de católicos qualificados para a indústria era menor. Os católicos preferiam uma formação de caráter humanístico.
A explicação para isso é que os protestantes, a época minoria religiosa, eram inclinadas à atividade econômica uma vez que não encontravam possibilidade de ocupar postos no funcionalismo público.
Weber ainda cita o provérbio “coma bem ou durma bem”. Aduz que o católico é mais inclinado a dormir bem, o que denota uma vida mais segura, ainda que seja com uma renda menor. Por outro lado, o protestante é mais instigado a comer bem e, para isso, é mais audacioso, mais empreendedor. No capitalismoquanto mais fome melhor.
Neste primeiro momento fica inequívoca a correlação entre desenvolvimento econômico e religião, considerando os direcionamentos tomados pelo protestantismo.
1.2 O ESPÍRITO DO CAPITALISMO
Nesse capítulo do livro o autor busca demonstrar a essência do capitalismo, qual seja seu espírito, dizendo já no início do capítulo, que é complicado dar um conceito, pela própria natureza da investigação e que desta forma se faz necessário encontrar algo ao qual o termo pode ser aplicado com algum significado compreensível.
Dessa forma, a busca de tal conceito, teria que se basear na individualidade dentro de uma lógica de evolução histórica e assim tentar o estabelecimento de um conceito que não aparece no início de sua obra, mas sim no fim.
Para dar início a essa investigação apresenta as ideias ou princípios atribuídos a Benjamin Franklin, qual seja, que tempo é dinheiro, desta forma, se uma pessoa ganha 100 reais por dia e resolve tirar uma tarde de folga e nesse momento de lazer gasta uns 20 reais, ao contabilizar sua despesa deve levar em conta não apenas o gasto, mas também o que deixou de ganhar; logo tem um gasto de 70 reais, sendo portanto, 20 reais gasto em uma atividade de lazer qualquer, somado a  50 reais que deixou de ganhar por ter deixado de trabalhar.
Outro ponto interessante é quando ele diz que crédito é dinheiro, isto é, se o indivíduo deixa o próprio dinheiro permanecer nas mãos de outrem depois de sua data de vencimento, dará juros a essa pessoa, pois deixou de aplicar esse valor durante esse período que ficou emprestado. Isso ocorre uma vez que o dinheiro é capaz de gerar dinheiro e sua prole gera ainda mais, e assim sucessivamente.
Cita também o ditado de que “o bom pagador é o senhor da bolsa de outro homem”. Faz isso para mostrar que o bom pagador, que honra seus compromissos na data certa, sempre terá crédito na praça. E que deve-se trabalhar muito, acordando cedo e seguindo no trabalho até altas horas, dessa forma, o credor fica tranquilo e consegue até negociar um prazo mais elástico para pagamento. Por outro lado, aquele que está sempre na boemia, à mesa de bilhar dificilmente terá crédito na praça, uma vez que o credor, ao se deparar com tais situações, tende a pedir o pagamento antecipado do valor total da dívida, por medo de não receber. Por isso, ser honesto e cumprir com suas obrigações faz toda a diferença para se ter uma boa reputação no mundo capitalista.
Todas essas palavras, que denotam a cultura americana, são sintetizadas por Ferdinand Kurnberger (escritor austríaco), na sentença “tiram sebo do gado e dinheiro dos homens”, ou seja, assim como os bovinos produzem sebo, os americanos produzem capital. No entanto, não basta produzir para a mera sobrevivência, deve-se de qualquer modo aumentar o capital.
Dessa forma não se trata tão somente de perspicácia para os negócios, mas sim de um conjunto de modos de comportamento, que configuram a identidade de um povo, portanto um ethos, que rompe com a ideia de tradicionalismo.
Deixa claro que o capitalismo existiu na China, na Índia, na Babilônia, no mundo antigo e na Idade Média, mas não com esse ethos particular dos americanos e da Europa ocidental.
O summum bonum (bem maior) desse ethos, é a aquisição de mais e mais dinheiro, combinada a uma aversão total desfrute espontâneo da vida, nesse sentido o acumulo de capital é o caminho para a realização e felicidade.
Esse é o espírito do capitalismo em que o homem é dominado pelo ganho de dinheiro e pelo consumo como propósito de vida. Sendo que o ganho de dinheiro, obtido legalmente, é resultado e expressão da virtude e de uma vocação – importante para conquistar alta produtividade em contraste com baixos salários.
A economia capitalista força o indivíduo, conforme seu envolvimento no sistema de relações mercantis, a adequar-se ao estilo capitalista, o que denota totalmente a ideia de Charles Darwin de seleção natural das espécies, qual seja, sobrevivem os que se adaptam. Isso vale para indivíduos e empresas.
Na parte final do capítulo traz uma análise histórica, filosófica e religiosa da evolução do capitalismo. A Igreja Católica estabeleceu o dogma Deo Placere vix potest (O comerciante dificilmente, ou nunca, poderá agradar a Deus) inclusive incorporado ao direito canônico, os indiferentes à Igreja costumavam reconciliar-se com ela por meio de presentes. Havia situações em que com a morte de um rico sua fortuna era passada para a Igreja na tentativa de se obter o perdão por sua usura em vida. Desta forma, a prática capitalista era tolerada pela religião católica, mas muito temerária para a salvação.
Por fim, vê-se que o desenvolvimento do espírito do capitalismo é possível por ser uma parte da evolução do racionalismo – oposto do tradicionalismo, grande inimigo do espírito do capitalismo -, que se concretizou sobretudo após a Reforma Protestante.
1.3 A CONCEPÇÃO DA VOCAÇÃO DE LUTERO.OBJETO DA INVESTIGAÇÃO
Esse capítulo é iniciado com a afirmação da existência de uma conotação religiosa, na palavra vocação (em alemão “beruf” e em inglês “calling”). Dessa feita, expressa um desígnio de Deus para o exercício de uma profissão.
Afirma que não existiu, nem para povos católicos, nem para a Antiguidade clássica, termo equivalente à vocação (no sentido de um objetivo de vida, de um campo de trabalho) como o que tem existido em todos os povos protestantes. Esse sentido contemporâneo de vocação se origina nas traduções da bíblia, aparecendo pela primeira vez na tradução de Lutero (em Eclesiastes 11, 20 e 21), da mentalidade do tradutor e não do texto original. Trata-se portanto um produto da Reforma Protestante.
Esse conceito de vocação tendo como cerne o trabalho, foi incorporado a ética protestante, passando a ser o dogma central de todas as suas denominações. Enquanto que para os católicos o único modo de vida aceitável por Deus não estava na superação da moralidade mundana pelo asceticismo monástico (abandono os prazeres mundanos), mas unicamente no cumprimento das obrigações impostas ao individuo pela sua posição no mundo. Sendo essa sua verdadeira vocação. A ideia religiosa era que cada um deve sustentar a própria vida e deixar que os ateus corressem atrás do lucro. Nesse sentido, trabalho é virtude e o êxito na vida material uma benção.
No entanto, não se pode atribuir a Lutero o Espírito do Capitalismo, no sentido auferido pelas palavras de Franklin. Em contraste, para ele, o trabalho dentro da vocação mundana (secular) era expressão de amor fraternal, na medida que, a divisão do trabalho força o indivíduo a trabalhar mais para os outros. A interpretação dada por Lutero à sua concepção de vocação, inspirada na Bíblia, era uma interpretação tradicionalista, exclusivamente no sentido religioso. Desta feita, embora a Reforma seja impensável sem o desenvolvimento religioso pessoal de Lutero, sem o calvinismo seu trabalho não teria sido um sucesso permanente e concreto.
Por fim, se pergunta, até que ponto a Reforma Protestante influenciou o espírito do capitalismo moderno.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 4 ed. São Paulo: Ed. Martin Claret, 2001.

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