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A Ética Protestante e o Espírito Capitalista Introdução “A ética protestante e o espírito do capitalismo” do original alemão “Die protestantische Ethik und der ‘Geist’ des Kapitalismus”, obra produzida por Max Weber entre os anos de 1904 e 1905 só fora publicada em 1920, justamente no ano de sua morte. No Brasil sua primeira publicação se deu no ano de 1967, sendo naquele período a única obra de Weber, disponível na íntegra, em português. Nesta obra, Max Weber faz uma análise criteriosa sobre o desenvolvimento do capitalismo moderno, as influências sociais, em específico as condições colocadas por uma racionalização da religião, para o avanço capitalista na sociedade moderna e de que maneira a religiosidade ainda não racionalizada gera o seu contrário, no que diz respeito ao avanço do capitalismo, um aprisionamento nas relações da ética religiosa, o livre avanço do indivíduo assim como do capitalismo moderno. A obra é considerada uma matriz com métodos estruturados, considerando que o capitalismo não é a busca por lucros, e sim o modo como a sociedade administra, por exemplo seu tempo ocioso, seu trabalho. Uma boa administração com bons hábitos trariam a prosperidade para toda a sociedade e consequentemente um país. Para o protestante o trabalho enobrece e dignifica o homem perante Deus, pois evita pecados que para eles vem através da preguiça e luxúria. A ética protestante está relacionado à influência religiosa que gera o acúmulo de capital e com o sucesso financeiro era sinal que a pessoa tinha alcançado salvação. A mudança de comportamento social expõem uma grande mudança no cenário econômico de alguns países. Isso acontece porque os católicos trabalham para viver e os protestantes vivem para trabalhar, sua finalidade é ser salvo e se o trabalho dignifica e salva perante Deus, logo, ter funcionários seria como contribuir na salvação do próximo. Portanto, segundo Weber, é uma mudança de comportamento que não tinha a pretensão de estabelecer uma nova ordem econômica, mas sim, gerar novos costumes onde o sucesso econômico era para toda a sociedade. CAPÍTULO I - Filiação religiosa e estratificação social O autor faz uma análise sobre o surgimento do capitalismo, o protestantismo, e principalmente o calvinismo, que foram fundamentais no desenvolvimento desse sistema, e que na Alemanha era o local da mão de obra técnica para as modernas empresas. O autor argumenta que as cidades mais ricas aderiram ao protestantismo para terem o controle que o sistema religioso exercia na sociedade. Max defende que a mentalidade da sociedade quando era educada no ambiente religioso protestante, produziu as escolhas para o mercado, para a profissão, para a ocupação industrial, esvaziando a linha de artesãos. O estado não oferecia serviços, diante disso, todos partiam para a esfera da economia. As perseguições calvinista espalham a semente do espírito do capitalismo no mundo, fazendo com que houvesse o que o autor chama de aristocracia comercial, grupo dos mais fortes que comandavam o comércio. Esses comerciantes mantinham o sistema religioso como regulador da sociedade que cresceram economicamente. Por ser os cristãos protestantes os maiores empreendedores capitalistas, Max Weber, deixa subentendido no capítulo, que a sociedade da época, era apenas uma grupo que utilizou os meios de produção para suprimir e manter uma doutrina de submissão dos mais fracos diante dos senhores detentores das ferramentas econômicas. Todo desenvolvimento do pensamento de Weber neste capítulo é para fundamentar a ideia de que o espírito do capitalismo é puramente religioso e este é destrutivo quanto a visão moderna de uma sociedade submissa à religião. Não é oferecida uma solução para o problema do sistema vigente neste capítulo, nem é formatado um modelo econômico melhor para a sociedade. Qualquer país de composição religiosa mista mostra uma situação que provocou muitas discussões na imprensa, literatura católica e congressos católicos, isso pelo fato de que homens de negócios e trabalhadores especializados e técnicos são na maioria protestantes. Observando a Alemanha Oriental e a Polônia, é um fato que não se verifica apenas onde a diferença de religião coincide com a nacionalidade, e sim com seu desenvolvimento cultural, pois o Capitalismo na época de uma grande expansão alterou a distribuição social. CAPÍTULO II - O Espírito do Capitalismo O segundo capítulo o processo ideológico conta uma política econômica motivada pela religiosidade, enfatizando o juízo ético do protestantismo segundo a teoria calvinista. A ética está ligada a Deus e ao poder do capitalismo. Ou seja, as leis que regem o homem na força do seu trabalho para maior produtividade em função da aquisição de riquezas, estão relacionadas às leis que rege o mesmo homem para ganhar o reino dos céus. Nessa obra o autor aborda a história da economia relacionada a culturas humanas, interpretando o êxito material do capitalismo no comportamento humano como um bem meritório da fé impregnada pela mistificação que constitui a ética protestante. Portanto, o homem dotado de características voltadas para o trabalho aquisição de bens materiais e favorece de forma quantitativa para o desenvolvimento econômico é um indivíduo considerado eticamente correto e predestinado ao reino dos céus. O que nos leva a refletir que não podemos conceber a ética religiosa sem uma função social, devido a crença interferir no processo evolutivo do homem não apenas como vida espiritual, e a sua conduta social, depende do que ele produz e representa, estão na verdade ligados. CAPÍTULO III - A concepção de vocação de Lutero; Tarefa da Investigação Com a valorização do trabalho, a palavra vocação (no sentido de ter que cumprir uma tarefa por dever) passou a ter um significado religioso. É esse conceito o ponto central do Protestantismo, pois abandonava a visão católica que defendia o afastamento do mundo material e aceitava a vida dentro dos mosteiros como o caminho para o céu. Para os protestantes, era necessário cumprir suas tarefas no quotidiano com a vocação de viver nesse mundo trabalhando como se fosse um santo. O trabalho é o único caminho até Deus. Essa foi uma das atitudes protestantes que valorizou a moral e o trabalho. Essa visão do trabalho, como vocação, aparece no pensamento de Lutero, após a primeira década de sua atividade reformadora, antes desse período, o trabalho era visto como eticamente neutro. Lutero passou a ver a vida isolada dos monges como uma atitude egoísta. Assim, o trabalho passa a ser visto como uma expressão de amor ao próximo. O que quer Max Weber é verificar como a Reforma influenciou qualitativa e quantitativamente a construção desse “espírito” pelo mundo. Além de verificar quais os aspectos do capitalismo se liga à Reforma. CAPÍTULO IV - Fundamentos Religiosos da Ascetismo Laico Weber, aponta os elementos essenciais das diferentes correntes protestantes, as semelhanças entre elas, o autor analisa: a) Calvinismo; b) O Pietismo; c) O Metodismo; e d)As Seitas Batistas. Esses elementos possuem em seus fundamentos características essenciais ao “espírito”. O mais importante seria a avaliação religiosa, como o mais alto instrumento de ascese (1*), e, ao mesmo tempo, como o mais seguro meio de preservação da redenção da fé e do homem, deve ter sido presumivelmente a mais poderosa alavanca da expressão “espírito” do capitalismo. Com o fim do sensualismo o indivíduo não tem poderes de influenciar o sagrado, perde-se portanto o sentido de qualquer ação em busca da salvação, sendo assim o que resta é a conduta ascética e o trabalho vocacionado ou predestinado. A) Calvinismo “O Calvinismo foi a fé em torno da qual giravam os países capitalisticamente desenvolvidos”, (página 67). Sendo a doutrina da eliminação da magia como maneira para alcançar a salvação a ação coerente era de peso para os calvinistas exatamente por não existir a salvação o perdão como para os católicos, tornou-se na coerência, por meio de alcançar a glória à Deus. Sendo o Calvinismo o orientador moral da conduta de empresários, empreendedores e funcionários de alto grau do capital, tornou-se assim um inimigo dos detentores do poder naquele período, em que o domínio do estado ainda estava nas mãos da Coroa e da Igreja católica. Segundo Weber, o intercâmbio com Deus são fundamentais para a doutrina da predestinação, pois, tendo confiança em si mesmo saberá que é o escolhido e caminhará em direção a glória do senhor e não terá problemas com a vida no outro mundo. O amor ao próximo está para os Calvinistas como elemento primário em serviço da organização objetiva do ambiente social, sendo assim, o trabalho como uma atividade social a serviço da humanidade é promotora da glória de Deus. B) O Pietismo Para o autor, Deus abençoava aqueles por Ele escolhidos pelo sucesso alcançado no trabalho, assim em busca desta graça divina o indivíduo trabalhava incansavelmente. O pietismo devido a carga emocional, ainda valorizada pelos seus fiéis, carrega elementos que são um entrave ao desenvolvimento racional do indivíduo, assim como a glorificação da pobreza apostólica dos discípulos predestinados e escolhidos por Deus. Outro elemento de diferenciação dos pietistas e os calvinistas é de que não há tamanha rigorosidade moral, pois não exigia do indivíduo tamanha seriedade e coerência além de estabelecer uma certa hierarquia entre os eleitos gerando assim diferentes níveis de exigência pessoal mas todos respeitando a sua predestinação e vocação laboral. C) O Metodismo Esta, uma vertente protestante anglo-americana, metódicos na conduta pela glorificação divina, carregavam aspectos pietistas no sentido de focarem a missão doutrinária entre a massa, assim o caráter emocional era essencial a fim de gerar a mudança para a vida religiosa, ainda neste sentido de valorização emocional o estado de graça não se dava somente pela conduta mas também pelo estado da graça estando nas boas ações o meio de se conhecer o tamanho do estado da graça do indivíduo. “Apesar da importância da auto-evidência do sentimento, a conduta correta, segundo a lei natural, era, assim, adotada também. Sempre que Wesley atacava a ênfase de seu tempo sobre as obras, era somente para reavivar a velha doutrina puritana de que as obras não são a causa, mas apenas o meio de se conhecer o estado de graça de alguém”, (página 99). D) As Seitas Batistas Através das Seitas Batistas chegamos a grupos religiosos que segue apenas o que é importante para eles, dando a falsa impressão de diversidade neste movimento. A predestinação para as Seitas Batistas fora rejeitada e em seu lugar a ideia da espera “Meeting (2)” dos Quakers (3), ou seja, a ação do “espírito divino” por meio de revelação individual para mostrar para o crente a sua vocação, sendo esta de caráter econômico, sem envolvimentos políticos ou qualquer outro, diferenciando-se também neste ponto dos calvinistas que eram militantes políticos. Os Batistas viam-se como os que viriam trazer a salvação por meio da crença e de pessoas redimidas a Deus, sendo, portanto, está a caracterização de seitas. “Mas todas as comunidades batistas desejavam ser “puras” igrejas, no sentido da inocente conduta de seus membros. Um repúdio sincero do mundo e de seus interesses e uma submissão incondicional a Deus, que nos fala através da consciência, eram os únicos sinais infalíveis da verdadeira redenção, e um tipo de conduta correspondente a salvação”, (página 105). Capítulo V - A Ascece e o Espírito do Capitalismo O texto de Max Weber é uma análise histórica das sociedades com seu processo ideológico de uma política econômica motivada pela religiosidade, sendo assim, as leis que regem o homem na força do seu trabalho para maior produtividade no objetivo de adquirir riquezas, estão relacionadas às leis que rege o mesmo homem para ganhar o reino dos céus. Nessa obra o autor se prevalece de outras ciências para paralelamente fazer uma abordagem sintética da história da economia à história das culturas humanas, interpretando o êxito material do capitalismo no comportamento humano como um bem meritório da fé impregnada pela mistificação que constitui a ética protestante. “Na terra o homem deve, para estar seguro de seu estado de graça, trabalhar o dia todo em favor do que lhe foi destinado. Não é o ócio e o prazer, mas apenas a atividade que serve para aumentar a glória de Deus, de acordo com a inequívoca manifestação de sua vontade”, (página 112). Ao mesmo tempo este “espírito” ascético do protestantismo forneceu ao capitalismo justificativas morais para o empenho incessante ao trabalho, a acumulação legalizada e honesta assim como a fixação profissional, “A perda de tempo, portanto é o primeiro e o principal de todos os pecado”, (página 112). 1 - Ascese (Substantivo feminino) 1. Filosofia Na filosofia grega, conjunto de práticas e disciplinas caracterizadas pela austeridade e autocontrole do corpo e do espírito, que acompanham e fortalecem a especulação teórica em busca da verdade. 2. Religião No cristianismo e em todas as grandes religiões, conjunto de práticas austeras, comportamentos disciplinados e evitações morais prescritos aos fiéis, tendo em vista a realização de desígnios divinos e leis sagradas. 3 - Meeting (Substantivo masculino) 1. Reunião pública convocada para discutir questões de ordem política ou social; comício. 2 - Por extensão Qualquer reunião importante, que atraia um número relativamente grande de pessoas. 4 - Quakers 1. Quaker é o nome dado a vários grupos religiosos, com origem comum num movimento protestante britânico do século XVII. A denominação quaker é chamada de quakerismo, Sociedade Religiosa dos Amigos, ou simplesmente Sociedade dos Amigos ou Amigos. 2. A Sociedade dos Amigos reagiu contra o que considerava abusos da Igreja Anglicana, colocando-se como "sob a inspiração direta do Espírito Santo". Os membros desta sociedade, ridicularizados no século XVII com o nome de quakers (inglês para "tremedores"), que a maioria adota até hoje.
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