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SOCIALISMO NEGRO E O COMUNITARISMO REVOLUCIONÁRIO

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SOCIALISMO NEGRO
O COMUNITARISMO REVOLUCIONÁRIO
 Da “Democracia” 
a COMUNOCRACIA
Marcus Castanhola
Superando a Propriedade Privada dos Meios de Produção e construindo a Nova Democracia.
Reconstruindo uma dialética revolucionária atual na estrutura de sua dinâmica: 
científica, política e econômica.
ÍNDICE
1a Parte 
Da questão histórica 
 Pág.
Prefácio 1 - 4
Prefácio 2 - 5
Prefácio 3 - 6
Opiniões - 7
Manifesto - 8
Do período feudal europeu à transição inglesa ao Capitalismo -14
História do imperialismo econômico eurocêntrico -19
A Conceito de Estado Nação -23
Paradigmas da Ética e da Moralidade -26
2ª Parte 
Da Reconstrução Teórica
Teoria da Descentralização histórica do Poder Político – 30
O conceito eurocêntrico de “democracia” na Filosofia Política – 31
A Questão do Paradigma Científico – 32
A Transcendência do Paradigma Kuhnniano – 36
O paradigma científico e o socialismo revolucionário eurocêntrico - 37
O Socialismo Negro - reavaliação científica do novo sujeito revolucionário – 42
Cheik Anta Diop X racismo eurocentrista de Marx e Engels - 46
A Base Teórica da Democracia Científica (Comunocracia) - 57
A Base Histórico-Científica da nova Economia Socialista – 74
Teoria dos Sistemas de Revolução Paralela – 77
Teoria da Concorrência nos Sistemas Revolucionários - 78
3a Parte 
Da nova práxis revolucionária
Da Representatividade na Comunocracia Constitucional - 84
O Estado Comunocrático - 86
Da Primeira Revolução (Política) - 93
Da Segunda Revolução (A Economia Comunocrática) - 95
Prefácio - 1
Marcus Castanhola é um pensador; um pensador brasileiro preocupado com o futuro do seu país e da humanidade. Imbuído desta preocupação, leu muito, estudou, observou e meditou muito para construir seu pensamento próprio, pensamento filosófico e político sobre os caminhos a percorrer para aperfeiçoar a democracia e superar o confuso tempo crítico que vivemos.
Marcus Castanhola é um socialista; não um socialista ortodoxo e enquadrado, mas renovador e profundamente criativo, que revolve e examina com cuidado as teorias tradicionais para chegar ao caminho verdadeiramente democrático de atingir o socialismo, que é o da participação popular organizada nas decisões do Poder, o da Democracia Participativa.
É importante ler todo o seu trabalho propositivo da “Quarta Via” para avaliar bem seu esforço, sua profundidade e a solidez da argumentação que usa para sustentar suas idéias e o modelo político que defende.
Começa fazendo toda uma condensada recapitulação da história das organizações políticas para levantar os princípios éticos que vão fundamentar a democracia aperfeiçoada pela participação popular.
Ingressa então na sua larga e profunda apresentação teórica, oferecendo as razões que o levam a defender, com bases históricas e científicas, o princípio democrático mais profundo e o seu caminhamento necessário em direção a democracias mais participativas, progressivamente mais participativas, até as revolucionariamente participativas, isto é, no seu destino, verdadeiramente socialista.
Da teoria, o formulador Castanhola passa à práxis, à política propriamente dita, desenvolvida na perspectiva de atingir, e realizar, a Comunocracia Constitucional, como ele denomina criativamente, o Estado Comunocrático, que é essencialmente socialista.
Uma leitura interessante e inspiradora, sobre apreciações e formulações bem fundamentadas, seja sob o ponto de vista histórico-realista, atinentes à viabilidade das propostas, seja sob o ponto de vista ético, essencialmente humanitário, focado no interesse maior da Humanidade, que é o desenvolvimento de todas as suas potencialidades.
Leitura, por tudo isso, bastante recomendável, este trabalho importante e criativo do nosso pensador Marcus Castanhola.
Roberto Saturnino Braga
03 / 07 / 2017
Prefácio – 2
“Panos para mangas”
Marcus Castanhola, autodidata antes de chegar à vida universitária, fundador de associações de bairros, de favelas e de condomínios, com larga militância em Água Santa (RJ), e que também foi representante da FAMERJ (Federação das Associações de Moradores do Estado do Rio de Janeiro), é um homem profundamente preocupado com a sorte e o destino do povo brasileiro. Sua têmpera foi fabricada com o aço de nosso tempo, nas lutas em defesa da democracia, da justiça social e da cidadania. Castanhola escreveu este breve e bem fundamentado ensaio onde propõe e defende um modelo de sociedade que tem por fulcro a ação comunitária, contrapondo-a às forças tradicionais e estandardizadas de poder imposto de cima para baixo.
Neste ensaio, o autor manda às favas tanto as regras de neutralidade, coisa tão ao gosto do mandarinato acadêmico, quanto a submissão a credos e a cartilhas políticas partidárias. Trata-se de um texto redigido com clareza onde a razão e a emoção, o conhecimento teórico e o prático, caminham harmoniosamente, lado a lado. Todas as páginas do ensaio são permeadas pela convicção, adquirida na vivência das associações comunitárias, de que os homens são capazes de articular interesses e, coletivamente, assumirem a postura de sujeitos responsáveis por seu próprio devir.
As páginas do polêmico ensaio de Castanhola têm como fio condutor à convicção de que somente a construção de um pacto social realmente democrático pode ser capaz de criar condições para que a velha e sempre atual bandeira da igualdade, fraternidade e liberdade, desfraldada pioneiramente pela gloriosa Revolução Francesa de 1789, possa ser mais do que um sonoro jogo de palavras. Para tal, a argumentação do autor segue duas direções. A primeira direção, no sentido de demonstrar que os principais modelos apresentados como democráticos no século XX - quer seja a democracia liberal, o centralismo democrático (típico do socialismo real) e a chamada terceira via, de inspiração social democrata - não passam ou passaram de sucessões de mentiras e de malogros, uma vez que as formas de “democracias” citadas sempre mantêm a massa apartada da arena decisória da vida pública. A segunda direção, no sentido de retomar, em bases modernas, a democracia em sua proposta filosófica original, ou seja: a da democracia direta, onde, concretamente, a massa detém o cetro do poder. 
Combinando princípios extraídos da filosofia e da teoria política, com conhecimentos históricos e os adquiridos na prática, Castanhola aposta na capacidade e na criatividade humana. Numa época em que praticamente pouco ou nada de novo tem sido dito, o sintético trabalho de Castanhola tem o grande mérito de, corajosamente, acreditar e propor. São idéias, são hipóteses e teses que merecem ser lidas, discutidas e problematizadas, pois dão panos para mangas.
___________
* Aluizio Alves Filho: Doutor em Sociologia, UNB e Doutor em Ciências Sociais (América Latina), FLACSO. Professor do Mestrado de Ciência Política da UFRJ/IFCS.
Prefácio - 3
O novo e o velho
É fácil escrever ou falar algo de novo sobre o novo: o ineditismo da matéria, por si só, abre caminho para as palavras mais adequadas, ao verbo mais lúcido na construção da frase correta. O que se nos afigura difícil, sob todos os aspectos, é a elaboração de matéria nova com base em matéria antiga como, por exemplo, dizer-se hoje alguma novidade a respeito do cristianismo.
O escritor Marcus Castanhola realizou algo similar: o velho Socialismo, multifacetado e polivalente, recebe, nesta obra, um enfoque doutrinário e histórico de considerável peso. Aqui se fala da soberania popular e suas limitações; dos poderes do Estado e da Sociedade; das Instituições econômicas, culturais e religiosas; das organizações profissionais, artísticas e desportivas. Tudo, na evolução humana, se assenta sobre dois pontos de força conflitantes entre si: o interesse individual e o interesse coletivo. O antagonismo é apenas aparente: os verbos se conjugam simultaneamente nas primeiras pessoas do singular e do plural (“Eu penso”, “nós pensamos”; “Eu quero”, “Nós queremos”; “Eu faço”, “nós fazemos”, etc, etc). Assim deve ser, para preservação do equilíbrio capaz desustentar a Justiça. O grande poeta do Romantismo em Portugal, e expressão maior do verso alexandrino nos séculos XIX/XX (1850-1923), Guerra Junqueiro, já assim consagrava a Justiça nestas rimas imortais:
“Eu sou a Justiça, a grande Musa austera
O ‘quid’ que equilibra, e que harmoniza e gera
Os princípios e as leis das almas e dos sóis,
Eu sou a Virgem-Mãe, a Virgem triunfante,
 E Hércules e Cristo e Prometeu e Dante,
 Beberam no meu peito o sangue dos heróis!” 
(1)
Todas as formas de Socialismo e Democracia convergem para esse centro de harmonia, e, quaisquer que sejam os seus nomes, o objetivo real é o mesmo: promover a prosperidade crescente entre os seres humanos em paz e segurança.
Os fatos históricos e os conteúdos ideológicos aí se impõem com seu permanente testemunho.
A demonstração desta verdade, feita de maneira indiscutível, representa uma valiosíssima contribuição do autor para o enriquecimento da Ciência Política, no Brasil.
Rio de Janeiro, abril de 2000
Prof. Clay Hardman de Araújo 
 (1) Guerra Junqueiro, “A Morte de D. João” - Introdução.
 (2) Ex-Professor Titular da cadeira de Filosofia do Direito da Universidade Gama Filho; ocupava a Cadeira de Platão na Academia Brasileira de Ciências Sociais (In Memoriam / 1924 – 2002). 
“O livro 4a VIA de Marcus Castanhola, representa o mais importante objetivo do Movimento Comunitário Nacional, pois delega às comunidades organizadas o poder de administrar suas necessidades mais imediatas, bem como, no seu conjunto, ditar as Políticas Municipais, Estaduais e Nacionais”. (13/09/2000)
Sr.Pedro José de Castro, 
Presidente da Federação das Associações
de Moradores do Estado do Rio de Janeiro – FAMERJ
 ----
 “No livro 4a VIA, Marcus Castanhola mostra a forma democrática e participativa da descentralização do poder, devolvendo o poder ao “verdadeiro dono”, o povo”. (13/10/2000)
Sr.Antônio Tito, 
Presidente da Federação Municipal das Associações
de Favela do Rio de Janeiro – FEMAFARJ/FAF-RIO
 ----
“O benefício que a sociedade do planeta terá com o projeto do seu livro 4a VIA, colocará Marcus Castanhola no futuro como um dos maiores pensadores do 3o Milênio.”
Sr.José Barboza da Hora, 
 Escritor e dirigente da ONG: O Caminho da Liberdade
 ----
“Estou certo de que o seu livro 4a VIA, será no futuro um clássico, servindo às gerações vindouras de pesquisadores sérios, como fonte para teses de mestrado e doutorado. Sua honestidade como escritor garante um futuro promissor ao seu livro, o qual foi para mim uma excelente fonte de informações”.
 Dr.Guilem Rodrigues da Silva, 
 Juiz de Direito, Escritor e Parlamentar (Estocolmo) Suécia.
MANIFESTO
SOCIALISMO NEGRO: 
O COMUNITARISMO REVOLUCIONÁRIO
Abutres do dinheiro público!
O roubo histórico desse patrimônio está chegando ao fim.
Politiqueiros de todo país! Seus dias de “glória” estão contados.
É CHEGADA A HORA DO POVO NEGRO E PERIFERIAS DO PAÍS ASSUMIREM A VANGUARDA DAS DECISÕES E REALIZAÇÕES 
DE SEUS INTERESSES DIRETOS.
Tomando como referência os trabalhos de CHEIK ANTA DIOP, sabemos que a raça negra é a raça matriz da humanidade e a África o berço civilizatório do planeta, nestes termos, vamos reavaliar os conceitos teóricos eurocêntricos de revolução democrática (socialista) e suas raízes eminentemente científicas, bem como, redefinir o sujeito histórico desse novo processo revolucionário rumo a democratização da “democracia”. 
Nestes termos, analisaremos as propostas norte americanas, européias e russas de administração do interesse público que foram apresentadas.
 As mais modernas são: as democracias republicanas nos estados nacionais, que embora tenham cumprido seu papel histórico de superação da perspectiva absolutista das monarquias na Europa e em suas colônias, ao longo do tempo, a partir de Montesquieu, evoluíram para um frágil conceito de representatividade, e mais não foi do que a proteção dos interesses do capital exercida institucionalmente pela estrutura burocrática dos Estados-nação (capitalismo de estado); a proposta nacionalista, que embora defenda o protecionismo nacional do mercado interno e das riquezas nacionais, é desprovida de fundamento teórico (nem propriamente socialista nem capitalista), se transformando em uma colcha de retalhos ideológicos, onde o que prevalece é a idolatria ao personalismo paternalista do Estado branco eurocêntrico, expondo muitas vezes, o espectro das grandes ditaduras registradas na história; e finalmente, a proposta comunista, que prometia a ditadura de um conceito racista de proletariado, sedimentou a utopia da desconstrução civilizatória eurocêntrica mas, ao mesmo tempo, promovendo a garantia de que a população negra na Europa e em suas colônias, onde o negro é maioria em muitos estados-nação, nunca chegasse ao poder.
 Quando se fala em DEMOCRACIA ou dēmokratía, em grego antigo (demos = povo e kratus = poder), aquela em que o povo deveria ter o poder, pressupõe-se que, independente de sua cor de pele, aqueles que hoje são excluídos da produção de riquezas materiais e imateriais no país, deveriam ver resolvidos definitivamente os seus interesses mais primários, como: trabalho, alimentação, saneamento básico, educação, saúde, etc..., tudo que estiver fora desse conceito objetivo e básico de poder, por ignorância ou má fé, será uma exclusão tácita, sistêmica, segregacionista e contraditoriamente real.
 Diante desse choque de realidade, o povo excluído, seja branco negro ou índio, já está secularmente cansado de ser iludido com falsas promessas.
 Vivemos no Brasil em um sistema representativo carente de credibilidade (executivo, legislativo e judiciário), literalmente falido e agonizante.
 No Brasil, mesmo em governos de “direita” ou de “esquerda”, milhões de marginalizados, principalmente OS NEGROS (pretos e pardos segundo o IBGE e 56% da população brasileira), sobrevivem indignamente e (ou) abaixo da linha da pobreza. 
Historicamente, esses NEGROS e os demais excluídos nas favelas e periferias do país, tem esperado que a ética e a moralidade constitucional se sobreponham aos vícios históricos da personalidade humana agravados pela ganância de uma minoria branca.
 Sempre esperamos que “esse ou aquele” (personalismo representativo), aparentemente defensores dessa “ética” e dessa “moralidade”, sejam quando eleitos, os messiânicos “salvadores dessa pátria agonizante”.
 Sempre dependemos de eleger uma minoria branca (presidente, governador ou prefeito), cercado de puxa-sacos brancos bem pagos (ministros e secretários), achando que eles, só porque prometeram, por misericórdia, responsabilidade moral ou por “amor a Deus”, vão amenizar a agonia das vítimas civilizatórias da exclusão social: A RAÇA NEGRA.
 Mas para os moradores das FAVELAS e PERIFERIAS do mundo, até agora, essa famigerada “democracia republicana” ou o “socialismo branco” com Estados genocidas de seus povos e do planeta, tem sido as únicas opções que as elites brancas européias impuseram às nações. 
No campo da economia, sabemos que entre as empresas que assimilam a maior parte da mão-de-obra disponível no país, 80% é formada por micros, médias e pequenas empresas de serviços.
 Atualmente, os institutos de pesquisas (IPEA / DIEESE) indicam um valor algo em torno de R$ 4.000,00 como um salário mínimo constitucionalmente correto para um casal e três filhos, incluindo é claro, aluguel, alimentação, material didático escolar, passagens, vestuário, etc. (CF, art. 7º, IV).
Nestes termos, somos obrigados a concluir, que é um sonho esperar que essas micro, pequenas e médias empresas, que empregam 80% da mão de obra disponível no país, hoje ou no futuro possam, por um decreto ditatorial, pagar um salário constitucionalmente correto, sem falir completamentetodas essas empresas, gerando como conseqüência, um irreversível desemprego em massa, onde os negros, historicamente já estavam excluídos há séculos.
 Depois desses quase 300 anos de capitalismo no planeta, é uma grande ilusão achar que o Estado capitalista branco (principal beneficiado pela escravidão negra no processo colonizatório), os políticos, os sindicatos ou os próprios trabalhadores brancos, vão um dia conseguir por bem ou por mal, aumentar o salário mínimo ao nível constitucional da dignidade humana, sem destruir a própria estrutura econômica que hoje os emprega, e que ainda hoje mantém a raça negra distante do resgate civilizatório de sua histórica exclusão. Qual a solução?
 A história demonstra que a atividade reivindicatória e a greve, foram, e ainda são muito importantes como contrapesos sociais, nesse complexo, vergonhoso processo de construção racista do sistema capitalista na história européia e “colonizatória” do planeta. E que durante todos esses 300 anos de escravidão física e moral da classe proletária negra e mestiça, o capitalismo de Estado e um conceito deformado de “DEMOCRACIA”, tem sido a única opção institucional que as antigas e novas gerações de trabalhadores tiveram, para construir no salário mínimo vergonhoso de hoje, espelho de sua histórica e inexorável miserabilidade.
 Este manifesto não se limita apenas à crítica dessa violenta realidade.
 Este manifesto, vai mais longe, ousa indicar um novo rumo para a administração do interesse da classe proletária como um todo (proletariado - termo romano em que a única riqueza para o estado, produzida pelos despossuídos era a sua prole-filhos). Mas tendo A RAÇA NEGRA COMO PROTAGONOISTA E NÚCLEO DURO DESSE PROCESSO DE LIBERTAÇÃO.
 Este novo rumo proposto pelo SOCIALISMO NEGRO: O COMUNITARISMO REVOLUCIONÁRIO, utilizará inicialmente o meio institucional (o voto), não como instrumento demagógico de manipulação popular, mas que, com o devido suporte teórico, funcionará historicamente como a mais poderosa e revolucionária arma na história da civilização humana. Principalmente, nas mão de um partido voltado exclusivamente para um imprescindível e radical protagonismo negro desse processo de libertação.
 Não para prometer que, uma vez no poder, uma legião de novos mercenários "tudo fará para melhorar a vida de todos", mas para que, através da descentralização constitucional dos impostos e do poder legislativo, executivo e judiciário ao nível das comunidades organizadas, realizar a transferência definitiva às Comunidades Organizadas e ao protagonismo negro, do poder da administração direta do volume financeiro que representa o bolo fiscal e tributário, para que esse imenso volume financeiro que representa o dinheiro público (nacional, estadual e municipal), seja administrativamente descentralizado, ao nível dessas comunidades de bairro devidamente organizadas e protagonizadas pela raça negra revolucionária e todos os demais membros das favelas e periferias do país.
 Transformando o dinheiro público, que será então administrado diretamente pelos Conselhos de Bairro, na mola mestra para a construção de uma nova força produtiva dignamente remunerada (cooperativas populares), que em curto prazo, irá revolucionar o conceito de Estado, cidadania e representatividade, mas, à médio e em longo prazo, em função de poder remunerar dignamente sua mão-de-obra, essa nova força produtiva irá progressivamente transferir voluntariamente do sistema capitalista para si esta mão-de-obra, que por séculos, tem sido à base explorada do velho sistema capitalista, mas que agora, por sua capacidade superior de competitividade e remuneração dessa mesma força de trabalho, a COMUNOCRACIA (KRATUS = poder / COMMUNITAS = da comunidade) superará o conceito eurocêntrico e desgastado de poder popular (“DEMOCRACIA”), e de forma progressiva, irá superá-lo quantitativa e qualitativamente.
 Este manifesto entra em confronto direto com os interesses de poder de grande maioria da classe branca que controla o poder nos estados nacionais e internacionais das “democracias” republicanas, e também com os aqueles que ainda tem esperanças de conquistar a mina de ouro que representa um cargo público, em qualquer instância administrativa de qualquer país, nesse sistema pseudo-representativo e falido. 
O SOCIALISMO NEGRO é uma antítese qualitativa ao “socialismo branco”, e entra em confronto direto com todo o sistema eurocêntrico da separação elitista montesquiana de poderes, porque expropria nacionalmente o gerenciamento centralizado do dinheiro público nas “tetas” históricas que as estruturas administrativas brancas codificaram no capitalismo de Estado (constituições republicanas) que financeiramente representaram e representam (executivo e legislativo e judiciário). 
 Este capitalismo branco de estado, estrategicamente se comporta como caixa-dois do próprio sistema capitalista racista, e paralelamente, sempre representou generosa fonte de recursos para um perdulário poder executivo, legislativo e judiciário branco, com raríssimas e inexpressivas exceções personalistas é claro.
 Para aqueles que decidirem caminhar no partido revolucionário negro, um aviso ​​- não tenham esperança de utilizar o poder em benefício próprio. De adquirir cargo eletivo para decidir os rumos do dinheiro público. Pois vocês irão lutar para não tê-lo. Irão lutar para descentralizá-lo em todos os níveis (nacional, estadual e municipal) horizontalizando a administração do dinheiro público, transferindo realmente esse poder às comunidades organizadas, através da formação dos Conselhos Comunitários de Bairro.
 Serão as assembléias dos cidadãos deliberantes, com a estrutura técnica e econômica necessária, para viabilizar o poder executivo de suas decisões.
 Este manifesto expõe uma síntese de uma proposta ampla e cientificamente estruturada, que expõe o paradigma racista na construção do capitalismo, do comunismo clássico e do conceito de Estado, revelando sistemicamente, as razões imprescindíveis do protagonismo histórico negro e periférico na inversão dessas relações de poder. 
 Durante mais de 30 anos, toda a problemática social, política e econômica foi arduamente estudada e confrontada, para que ao final, significasse uma concepção nova de administração do interesse público, que não revolucione apenas este conceito deformado de “democracia” e “cidadania”, como também, inviabilize qualquer tipo de macro-hegemonia pessoal ou de grupos negros e não negros nessa nova estrutura centralizada mas provisória de poder.
 Para quem já conhece a capacidade de uma comunidade em gerir seus próprios interesses, o proletariado (em destaque os negros) não é uma massa informe de idiotas, incapazes de se auto-administrar, e por isso, condenados a tutela eterna de organismos representativos e administrativos centralizadores do poder e do bolo fiscal e tributário, que com o tempo, se corromperam, se desgastaram, e hoje, integram a frágil estrutura política, jurídica e econômica branca dos estados nacionais das chamadas “repúblicas democráticas”.
 Todo argumento contra a administração direta do dinheiro público é: por ignorância ou má fé, uma defesa da prática branca da histórica farsa e desrespeito à dignidade humana das etnias do planeta, que através dos séculos, excluiu do poder daqueles que fundamentalmente possuem competência civilizatória para exercê-lo, em especial negros e nativos.
 A frágil “democracia representativa” republicana branca capitalista (personalismo democrático), já cumpriu seu papel histórico na superação da estrutura política monarquista (personalismo hereditário), mas que agora, desgastada pela omissão na realização dos anseios populares básicos, esse conceito personalista de democracia precisa ser qualitativamente superado pela verdadeira classe proletária: A RAÇA NEGRA.
 O SOCIALISMO NEGRO – O COMUNITARISMO REVOLUCIONÁRIO, defende um discurso (teoria e prática) que viabilizará o caráter revolucionário da UNIDADE NEGRA a um projeto concreto e qualitativode revolução social, eliminando a possibilidade de que, à curto e médio prazo, a radicalidade dessa transição, ponha em risco a fragilidade estrutural da economia de mercado e das liberdades democráticas fundamentais já conquistadas.
 Através de um conceito pleno de cidadania, institucionalizamos a dignidade humana, em um exercício superior de democracia, cidadania, economia e Estado: A COMUNOCRACIA (poder das comunidades).
Esse desafio se propõe a reconstruir e ser a antítese científica e teoricamente da proposta revolucionária socialista marxiana, atualizando a sua estrutura científica e dinâmica, restaurando a credibilidade teórica do socialismo, pela reavaliação de sua base científica (política e econômica), na redefinição histórico-científica de seu NOVO sujeito revolucionário: A RAÇA NEGRA
 Para aqueles que costumam julgar sumariamente, adianto que essa proposta de trabalho não pretende extinguir o conceito geográfico e político de nação, e demonstrará ser bem diferente do que significa essa estrutura degenerada e branca que chamam de Estado. 
 A COMUNOCRACIA CONSTITUCIONAL pretende impedir que essa forma caricata de administração pública branca continue sendo a opção mais próxima de um conceito sério de poder popular, dignidade e cidadania. 
 Pois nesse atual sistema representativo, sempre damos um cheque assinado a uma minoria branca distante do clamor popular, privilegiada por um poder que na verdade não lhe pertence, e com raríssimas exceções, históricos parasitas brancos do dinheiro público e privado.
"O nosso fim não é levantar o homem negro contra o branco, mas restituir ao homem negro o direito que lhe foi roubado de intervir nos negócios públicos" 
(Clarindo de Almeida, chefe-geral da GUARDA NEGRA, em nota divulgada pelo jornal Cidade do Rio em 3 de janeiro de 1889).
1a parte:
O Período Feudal e a Transição
ao Capitalismo
 Durante o período feudal na Europa, principalmente na Inglaterra, imperava uma economia estagnada (artesanal), controlada pela nobreza e ratificada pela moral paternalista cristã branca que, mesmo generosamente beneficiada, criticava a obtenção de lucros e a acumulação de riquezas, institucionalizando a pobreza como sinônimo de virtude.
A moral cristã branca feudal obrigava os mercadores e comerciantes a venderem seus produtos de modo que não caracterizasse acumulação de riquezas, o que, em última instância, servia aos interesses monopolistas da Igreja e dos monarcas. 
A ética cristã e as Corporações de Ofício, entravam em conflito constante com os interesses dos comerciantes medievais, no entanto, o mercantilismo por via terrestre (fase inicial do capitalismo) continuou prosperando, moldando uma burguesia em crescente fortalecimento financeiro e político. No século XV, as novas técnicas de navegação e pilhagem internacional (mercantilismo naval) produziram conseqüências enormes para um grande desenvolvimento econômico na Europa, que em sua fase inicial imperialista, reutilizou o escravismo pré-feudal, então abolido no continente europeu à custa de várias revoltas camponesas (John Ball e Wat Tyler. 1381). Prática que utilizou com veemência nos novos territórios conquistados.
O crescente fortalecimento financeiro da burguesia através da escravidão negra e descoberta de novas terras, resultou na transformação das principais metrópoles da Inglaterra, França, Espanha e Países Baixos (Bélgica e Holanda) em bem sucedidos centros econômicos, dominados agora pelos capitalistas e suas indústrias que, já então, revolucionavam as relações de trabalho pré-existente nas corporações de ofício, transformando a mão de obra artesanal nos novos assalariados industriais.
No entanto, a monarquia obrigava a emergente burguesia à contribuir financeiramente visando o fortalecimento dos cofres reais. E a Igreja, além das “doações recebidas”, pressionava a emergente burguesia para combater o desemprego e a mendicância, que haviam adquirido proporções alarmantes na Inglaterra do século XIV.
Esta ingerência do Estado (Nobreza) e da Igreja Católica nos interesses da burguesia, incomodava bastante esta classe que crescia em poder, em razão de uma franca ascensão econômica e política.
Na proporção em que uma nova realidade econômica se impunha, as velhas tradições de uma agonizante teocracia, se viram impotentes para refrear esse movimento histórico irreversível. Enquanto a Igreja, com o poder de absolvição exercida pela confissão compulsória e punida com extensas penitências, dizia que nenhum homem alcançaria a salvação senão através dela, na Alemanha, o protestantismo de Lutero, rompendo com boa parte da liturgia católica tradicional e não reconhecendo o purgatório católico, recusa o culto aos santos, aos anjos, a Virgem e a confissão aos padres. A mesma trindade católica (Pai, Filho e Espírito Santo) ocupa no protestantismo uma posição de monopólio absoluto. Já em 1542, Lutero afirma que os cristãos justificam-se não pelas contribuições financeiras à Igreja ou a quem quer que seja, mas pela fé, ou seja, individualmente e não através da Igreja. Tornavam-se simultaneamente supérfluos: a igreja católica e o Papado Romano. E na sua relação com Deus, o indivíduo protestante, agora sem a necessidade da intermediação da Igreja, passava a ser então o juiz sobre seu próprio comportamento, caindo como uma luva para os interesses da nobreza Inglesa e do capitalismo em ascensão, que até então, era considerado pela igreja romana como usura, mas, através de interesses particulares de Henrique VIII, em pouco tempo foi implantado um oportuno Estado Protestante na Inglaterra. Na verdade, o próprio Lutero e Calvino se arvoraram como os mais importantes juizes dentre os homens, lamentavelmente inaugurando a versão protestante da inquisição católica, manchando de sangue os primórdios do protestantismo. Como exemplo, cito as palavras de Lutero dirigidas a revolta dos Anabatistas (também protestantes), dirigida por Thomas Munzer juntamente com os camponeses que lutavam contra a exploração realizada ao mesmo tempo pela Igreja, pela monarquia e pelos primeiros capitalistas: “"Contras as hordas de camponeses (...), quem puder que bata, mate ou fira, secreta ou abertamente, relembrando que não há nada mais peçonhento, prejudicial e demoníaco que um rebelde".
Tal individualismo contribui para o desmoronamento da desgastada ética paternalista cristã que, precedida por reformas fundamentais nos dogmas da Igreja Católica, disseminados pelo protestantismo de Lutero e Calvino, veste como uma luva a crítica da burguesia sobre a interferência da Igreja e do Estado cristão feudal nos seus lucros, facilitando o ques​tionamento da credibilidade doutrinária e secular da Igreja de Roma. 
Em 1651, Thomas Hobbes publicou “O Leviatã”, que, entre outras coisas dizia: “todas as motivações humanas, inclusive a compaixão, não passavam de manifestações dissimuladas de egoísmo “(...) e o sentimento de piedade só existe pela suposição da possibilidade de que calamidade semelhante possa se abater sobre ele próprio”, o que antes soaria como heresia criminosa e punível com a fogueira, numa Inglaterra antes atrelada ao catolicismo romano, ratifica o predomínio do interesse individual sobre o coletivo, início do rompimento teórico (político) e prático (econômico) do estado feudal com o clero romano e a sintonia fina com o insurgente capitalismo.
Diante de uma economia feudal (artesanal e manufatureira) fragilizada, e frente ao seu crescente poder econômico e conseqüentemente político, a irresistível força histórica de um revolucionário capitalismo burguês (industrialização) impulsiona uma guerra civil deflagrada na Inglaterra entre 1648 e 1660, onde o controle do Estado passa agora para uma ascendente burguesia. O rei reinava, mas, não governava, o parlamento burguês chega ao poder. Na Inglaterra, a instituição do parlamento, por força de uma guerra civil, iniciou-se no século XIII (Parlamento do Conselho Feudal em 1215) com a Carta Magna das Liberdades, e sua representação ampliou-se posteriormente, também pela força,no ano de 1265. No século XIV, divide-se em Câmara Alta (dos Lordes) e Câmara Baixa (dos Comuns).
Na Itália do século XIV, o poder econômico e político do ascendente capitalismo iniciam a construção do seu império, e sob a égide de um conceito oportunista de democracia, as Repúblicas Democráticas, a burguesia impulsiona a criação de novas regras legais de proteção aos seus interesses, e através dos seus economistas e advogados desenvolvem-se os fundamentos jurídicos da emergente economia, e os parlamentos institucionalizam os fundamentos de sua nova superestrutura político-administrativa. 
Em 1700, na Inglaterra, dividindo o monopólio italiano, a indústria têxtil alavancou a primeira revolução industrial. Em muitos outros setores da indústria, esses novos empresários perceberam que: aumentando a produtividade e reduzindo os custos de produção poderiam aumentar a margem de lucro, o que por outro lado, agravaria ainda mais a desvalorização da mão de obra assalariada e consequentemente a redução do salário da classe proletária. Período este, caracterizado por uma enorme expansão das atividades inventivas, onde as inovações técnicas da produção adquiriram proporções gigantescas. Em 1780, uma média de 477 patentes já haviam sido registradas. Temos agora então, a ciência e a tecnologia fornecendo à burguesia a instrumentalização estratégica para alavancar e, através da escravidão negra, globalizar sua vertiginosa revolução econômica. 
Em 1776 (Inglaterra), Adam Smith publica “A riqueza das Nações”, consolidando a filosofia individualista como base fundamental da doutrina econômica do liberalismo clássico, onde a idéia da supressão de todas as regras, orientações e restrições econômicas de cunho paternalista do Estado, então monarquista. Libelo teórico que fundamentava a “salvadora ascensão do capitalismo rumo ao bem-estar de toda sociedade”.
Por outro lado, John Maynard Keynes (1883 /1946 – Inglaterra) - pleno emprego, crescimento com inflação) defendia entre outras coisas, a intervenção do Estado na condução da economia (caixa-dois do sistema econômico, pensamento que teve grande influência na discutível recuperação econômica norte-americana que se mantém até hoje, no entanto, complementando-se com as idéias da escola de Chicago (Milton Friedman – “livre mercado”, estado mínimo (privatizações de bens sociais e imóveis públicos) e crescimento por exclusividade na produção da moeda padrão de comércio internacional com aumentos constantes na sua capacidade de endividamento interno. 
Após haver superado a interferência do paternalismo da Igreja Romana e da nobreza feudal, o maior desafio do capitalismo foi também suprimir ao máximo as interferências dos governos nos países onde se implantou. Na proporção em que esse objetivo foi sendo atingido, a exportação dos produtos produzidos pelo capitalismo industrial, foi simultaneamente acompanhada pela exportação do próprio capital acumulado nos países de origem, iniciando então uma especulação financeira que hoje não se vincula fisicamente a atividade industrial, mas apenas ao desempenho lucrativo do capital pelo capital (ações na bolsa, empréstimos internacionais, etc.). Teoricamente, a intervenção estatal na economia representa uma ingerência histórica combatida pelo liberalismo clássico, mas, por uma questão de proteção de seu mercado interno (hipocrisia econômica), todo intervencionismo de Estado na economia norte-americana (princípio Keyneziano) fora dos limites dos Estados Unidos, “deverá” ser neutralizado. 
A internacionalização da especulação financeira, devido ao seu gigantismo global, perdeu inclusive o vínculo direto com a força produtiva, confirmado por Karl Kautsky (contemporâneo de Lênin) que, já naquela época, expunha a tese do “ultra-imperialismo”, onde descrevia a criação dos grandes monopólios nacionais, os quais, através de interesses comuns, se associariam a outros monopólios internacionais, formando superestruturas econômicas de âmbito mundial.
Atualmente, a fase mais evoluída de acumulação do capital independe da propriedade industrial, e em se tratando de lucratividade, a tecnologia moderna de comunicação (através da informática) possibilitou um distanciamento até mesmo dos países em que o capital eventualmente fosse aplicado. 
Como membro da esquerda hegeliana (corrente que discordava da teleologia meta-física do famoso Filósofo alemão G.W.F. Hegel), o jovem Max já criticava a emergente estrutura capitalista de um Estado monopolizado por uma hereditária elite monarquista. Mais tarde, teorizou sobre a “inevitável autodestruição do capitalismo” (determinismo científico), em razão de uma futura estagnação das forças produtivas capitalistas. Lênin, numa leitura realista do momento histórico russo, incluiu o camponês num processo revolucionário onde a classe operária ainda era pouco numerosa, ampliando a definição do sujeito revolucionário e evoluindo para um posicionamento definido sobre a necessidade de um processo revolucionário que resolvesse a questão do indeterminismo temporal, através de uma ação mais imediata e traumática de transformação política do Estado russo ainda em transição (feudalismo/capitalismo), e que se materializou no chamado socialismo real liderado por ele, Mao Tsé Tung (China), etc...etc...
No entanto, todos os processos revolucionários, tanto burgueses quanto socialistas, encontraram um limite praxiológico até agora intransponível: o emblemático fundamento Demo​crático e Econômico.
Enquanto se aguarda a “revolução inevitável proveniente da fase agonizante do capitalismo burguês” (princípio marxiano do momento histórico para a revolução Socialista), a questão de uma prática plena de economia e democracia, se posicionaram de forma imprescindível na história da Filosofia Política, por seu caráter de elementos insubstituíveis rumo a um projeto de sociedade que se digne sério, no objetivo de dar às suas populações um conceito superior de cidadania que historicamente, lhes foi e continua sendo negado.
A consciência da imprescindibilidade do fator democrático como caminho seguro para a consolidação e aprofundamento político de uma sociedade, confirmou-se em 1935 no VIII Congresso do Partido Comunista Italiano.
Em 1951, na Alemanha, a Internacional Socialista agrupava 40 partidos no Congresso de Frankfurt, onde o socialismo utópico alemão também reivindicou e internacionalizou o fundamento democrático como elemento primordial no projeto do socialismo moderno.
Na verdade, esse posicionamento se coloca um tanto tardio, já que em 1918, Rosa Luxemburgo, escrevendo sobre a revolução russa já afirmava: “sem democracia não pode haver participação popular (...) Liberdade somente para os partidários do governo, para os membros de um partido, por numerosos que sejam, não é liberdade. Liberdade é sempre a liberdade de quem pensa de modo diferente”. É claro que Rosa Luxemburgo não se referia à democracia burguesa, mas à uma Democracia que, na prática, nunca pôde existir.
E por mais curioso que pareça, em seus escritos sobre “A Luta de Classes na França”, o próprio Marx, em 1850, já observava: “Nada podia ser mais alheio ao espírito da comuna do que substituir o sufrágio universal por uma investidura hierárquica”. Mesmo Lênin, em sua obra “A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky ”, afirma: “o socialismo vitorioso deve necessariamente instaurar uma democracia integral...”, e ainda: “O socialismo não é o resultado de decretos vindos de cima. O automatismo administrativo e burocrático é estranho ao seu espírito: o socialismo vivo, criador, é obra das próprias massas populares” (o destaque é nosso).
No entanto, sabemos que a “Ditadura do Proletariado foi uma utopia teórica e prática. E como conseqüência se traduziu na ditadura da cúpula dos partidos comunistas, implodindo o socialismo real na Rússia, Polônia, Tchecoslováquia, etc. Desacreditando inclusive internacionalmente, os fundamentos do pensamento marxiano sobre um socialismo científico, onde “um capitalismo em sua fase agonizante e terminal, naturalmente se extinguiria”."Determinismo histórico" que foi equivocadamente precipitado pelo socialismo real. E a implantação abrupta do socialismo em países que viviam ainda dentro do sistema feudal, atropelou as bases realmente “científicas” do socialismo, atrelando na prática, a imagem desse proto-socialismo (conceito emergente de materialismo histórico), a idéia de uma proposta supressora das liberdades e direitos fundamentais, e por essa razão, não merecedora de acolhimento popular como proposta política que pudesse conciliar satisfatoriamente: o desenvolvimento individual e coletivo a um conceito paralelo de plenitude democrática e econômica. 
Por outro lado, a centralização do poder, à luz das camadas populares mais pobres, também se mostrou ineficaz como práxis administrativa nas “democracias” burguesas através da história, independente do sistema político (presidencialista ou parlamentarista) dominante. Na verdade, diga-se de passagem, que, mesmo nos países não socialistas, a luta por esse conceito de “democracia”, agora ameaçado pelo discurso capitalista de uma “bem vinda globalização”, não passa de uma ficção burguesa para resguardar os interesses do próprio imperialismo econômico que, desde a revolução industrial inglesa, luta pela desestatização da economia alheia, rumo a liberdade ilimitada para a transnacionalização irrestrita dos bens de consumo e de capital. Isto significa que: democracia para a população é uma questão de dignidade humana, e para o capitalismo predatório é um objetivo único de domínio econômico. Conciliar as liberdades individuais e coletivas com o desenvolvimento da economia, é o maior paradoxo e desafio enfrentado pelo socialismo utópico, e pela democracia capitalista. Esse dilema é aparentemente insolúvel quando o atual socialismo utópico e as democracias modernas, pretendem através do sistema do sufrágio universal e de um sistema representativo falido, conciliar os interesses da sociedade, os interesses do capital, e as distorções provenientes da aplicação dúbia da moralidade e da ética na condução da administração dos interesses públicos. As propostas “utópicas” criticadas pela social democracia e pelo sistema capitalista no socialismo real, não estão muito distantes das utopias dessa mesma social democracia burguesa, pois se mostram incapazes de produzir uma “práxis”, que restaure a dignidade humana de uma forma concreta, de maneira que não se confunda com essa mesma utopia socialista que critica. 
Tanto Lênin, quanto Mao Tsé Tung, Fidel Castro, os revisionistas italianos, os reformistas frankfurtianos e o socialismo utópico atual, equivocaram-se e equivocam-se no mesmo ponto. Pois, embora a economia política, fundamento revolucionário inquestionável no socialismo científico, seja um elemento imprescindível na dialética socialista rumo a justiça social, nenhuma conclusão a respeito estará livre da possibilidade de exclusão de outro fundamento também inquestionável, e elemento igualmente imprescindível em uma proposta séria de reestruturação social, o fundamento perdido de uma democracia participativa. Historicamente, por qualquer que seja a justificativa, a preponderância da revolução na economia política, em detrimento de uma democracia participativa na prática do socialismo real, fragilizou os resultados políticos de longo prazo dessa experiência, que se baseia na aplicação específica do seu conceito revolucionário de economia política, evidenciando que, embora a economia política seja o elemento fundamental de compreensão da formação das infra e superestruturas sociais, se torna indiscutível a necessidade de uma inversão na ordem de prioridade dialética, onde para preparar um terreno propício para a transformação revolucionária do sistema econômico capitalista, o primeiro ponto a ser abordado passa a ser o questionamento da axiologia democrática, elemento que não foi aplicado no socialismo real e exercido também de forma distorcida nas “democracias” capitalistas. Por outro lado, é importante identificar que: a ausência histórica de uma efetiva democracia participativa vem sendo o terreno fértil onde as mazelas sociais se desenvolveram. Tornando-se fundamental, então, estudarmos mais profundamente esse conceito polêmico e obscuro de “democracia”.
O que significa democracia: liberdade de expressão? Sufrágio Universal? 
É o conjunto dos sujeitos individuais e (ou) coletivos, que através desse conceito de “democracia” e de representações partidárias, que algum dia chegarão ao poder e serão os salvadores da pátria?
É um processo educacional e moral garantindo que “num tempo indeterminado” a sociedade como um todo alcance o poder econômico e político?
Não podemos esquecer que a referência histórica representada pela democracia grega exemplifica um conceito parcial de democracia, pois institucionalizava a escravidão, excluía as mulheres, os que não possuíam terras e os que tinham menos de 20 anos.
Conhecer as causas da exclusão social, do terrorismo expansionista do Estado inglês e norte-americano através da história, da cultura de dominação internacional dos Estados Nação em sua política de expansão econômica, do inevitável cientificismo industrial que penaliza o próprio trabalhador através do desemprego tecnológico, a exclusão da maioria da população ao acesso às “maravilhas tecnológicas”, conhecer essas realidades é muito importante, no entanto, acreditar que o poder constituído vai abrir mão desse poder, permitindo que a dominação econômica nacional e internacional seja obstruída abruptamente de alguma forma, é oscilar entre a ignorância e a traição ao próprio objetivo socialista como um todo. É comportar-se como a classe dominante nacional e internacional (Estados Nacionais), que utilizam seu conceito utópico de democracia (o poder da maioria) como forma de dominação, como demagogia populista e manipuladora da economia e da cidadania plena.
Todos concordam que a democracia é fundamental, porém construiremos, no decorrer deste trabalho expositivo, um novo conceito de Democracia, de Estado e de sua “práxis” política e econômica.
“Globalização não é um conceito sério. Nós, americanos, o inventamos para dissimular nossa política de entrada nos outros países.”
John Kennetth Galbraith (Folha de SP. 02/11/97). 
A História do Imperialismo Econômico
 É interessante observar, que quando se critica o viés revolucionário defendido pelo comunismo internacional, o terrorismo e a revolução também foram e são utilizados pelo imperialismo econômico em seu processo de expansão e dominação.
A Índia foi um dos primeiros países a sofrer as conseqüências dramáticas da expansão imperialista européia. Durante 150 anos, até a conquista de Bengala em 1757, a Companhia das Índias Orientais manteve intensas relações comerciais com a região. A Índia era nessa época, um país economicamente avançado, seus métodos de produção, bem como a sua organização industrial e comercial, eram comparadas as que prevaleciam na Europa ocidental.
Na verdade, a Índia já fabricava e exportava mousselines e outros tecidos de luxo de excelente qualidade, revelando-se desta forma, uma concorrente perigosa para a recente revolução industrial têxtil inglesa.
Após a conquista de Bengala, a Companhia das Índias Orientais impôs sua autoridade sobre grande parte do território indiano, e as relações comerciais mantidas durante 150 anos converteram-se em relações brutais de exploração.
Paul A. Baram (1962, pg. 145-149, The Political Economy of Growth, Month Review Press.), descreveu um quadro que caracteriza essa ânsia impiedosa de riqueza: “Nenhum Maharatta conseguiu saquear uma região com a mesma eficácia que a Companhia das Índias Orientais e, sobretudo seus funcionários agindo em proveito próprio (...) Em sua busca cega de enriquecer, tomavam dos camponeses de Bengalis o que estes podiam dar e o pouco que lhes restava para viver. E os camponeses estupidamente morriam”.
E prossegue: “A administração britânica na Índia empreendeu a destruição sistemática de todas as fibras e alicerces da economia indiana,para que em seu lugar se instalassem, parasitariamente, os proprietários de terra e os prestamistas. Sua política comercial resultou na destruição do artesanato indiano e deu origem às infames favelas das cidades indianas, nas quais se aglomeravam milhões de indigentes famintos e doentes. Sua política econômica cortou pela raiz os rebentos de um desenvolvimento industrial autóctone, favorecendo a proliferação de especuladores, pequenos comerciantes e espertalhões de toda espécie, que levavam uma vida miserável e improdutiva nas malhas de uma sociedade em decadência”. 
Os Ingleses só vieram a ocupar definitivamente o interior do território indiano após o surto ferroviário que teve início em 1857, onde o governo inglês havia prometido um lucro de 5%, porém, se fracassassem, o povo indiano pagaria de forma compulsória a diferença através de impostos.
Em 1900, a Grã-Bretanha havia incorporado ao seu império 4.500.000 milhas quadradas; a Alemanha 1.000.000 de milhas quadradas; a França devorava 3.500.000 de milhas quadradas; a Bélgica 900.000; a Rússia 500.000; a Itália 185.000 e os Estados Unidos 125.000 milhas quadradas.
Um quarto da população mundial foi subjugado e submetido ao domínio europeu e norte-americano. 
Em 1800, os europeus praticamente não haviam ultrapassado as terras mais próximas do litoral africano. No princípio do século XX, após um século orgíaco de ocupação de terras e delimitação de impérios, controlavam cerca de 10 milhões de milhas quadradas, ou seja, aproximadamente 93% desse continente. Um estupro geo-político e econômico de proporções gigantescas foi cometido para satisfazer a cobiça das potências européias e norte-americana que disputavam os abundantes recursos minerais e agrícolas do continente negro.
Em 1879, Leopoldo II, rei da Bélgica, enviou H. M. Stanley em missão na África Central, confiscando todas as terras que não eram diretamente cultivadas pelas comunidades locais, transformando-as em propriedade governamental. Os nativos foram obrigados a se submeter a um opressivo sistema fiscal, que incluía impostos pagáveis em borracha e marfim ou sob a forma de prestações de trabalho.
No século XX, o Congo passou a fornecer outros recursos naturais: diamantes, urânio, cobre, algodão, azeite, etc. Pode-se dizer que o Congo foi uma das mais lucrativas possessões imperialistas européias e, também, uma das mais escandalosas.
A Inglaterra apoderou-se das regiões mais populosas e ricas da África. Em 1870, e nos anos subsequentes, a Companhia Britânica da África do Sul dirigida por Cecil Rhodes, embora fosse uma empresa privada e com finalidades lucrativas, estava investida de poderes comparáveis aos de um governo. Tinha, por exemplo, autoridade concedida por carta patente em 1889 para firmar tratados, promulgar leis, preservar a paz, manter uma força policial e adquirir novas concessões.
A política expansionista da companhia britânica da África do Sul culminou com uma Guerra contra a Holanda (Guerra de Bôers - 1899/1902). As repúblicas holandesas foram esmagadas e a Inglaterra adquiriu o controle total sobre a África do Sul.
Às vésperas da primeira guerra mundial, a França detinha cerca de 40% da África, a Inglaterra controlava 30% e a Alemanha, Bélgica, Portugal e Espanha repartiam entre si aproximadamente 23% do território africano.
A degeneração política e econômica a que a Índia e a África do Sul tiveram que se submeter foi desastrosa, mas no futuro, Mahattma Gandhi e Nelson Mandela seriam mártires da independência em seus países.
Quanto à Ásia, em 1957, a França havia submetido ao seu domínio todo o território da Indochina, e em 1858 invadiu Anãm (Estado tributário da China), criando pouco tempo depois uma colônia no território que corresponde atualmente ao Vietnã. E em1878, numa rápida incursão militar, os ingleses submeteram o Afeganistão e o anexaram ao já conquistado governo indiano. Em 1907, a Pérsia foi repartida entre a Rússia e a Inglaterra.
A Inglaterra também se apossou de Singapura, dos Estados malaios, ocupou o norte de Bornéu e o sul da Nova Guiné. A Alemanha abocanhou a outra parte da Nova Guiné. A maior parte das ilhas remanescentes coube aos holandeses.
A primeira aquisição imperialista ultramarina dos Estados Unidos foram às ilhas Samoa. Em 1878, os nativos de Pago-Pago concederam aos norte-americanos o direito de usarem seu porto; 11 meses depois, as ilhas haviam sido conquistadas e divididas entre os Estados Unidos e a Alemanha.
Em 1887, Pearl Harbor tornou-se base naval dos Estados Unidos. Em pouco tempo, os capitalistas americanos assumiram o controle sobre a maior parte da produção açucareira do Havaí. Logo depois, os brancos que constituíam uma pequena minoria da população, e eram todos de origem norte-americana, revoltaram-se contra a rainha Liliokalani e, com o auxílio dos fuzileiros navais do Estados Unidos, subjugaram a população nativa e, em 1898, o Havaí foi oficialmente anexado aos Estados Unidos.
No mesmo ano de 1898, os Estados Unidos declararam guerra à Espanha com o objetivo de “libertar os Cubanos do jugo Espanhol”. A vitória norte-americana implicou na anexação imediata de Porto Rico e das ilhas Filipinas. Os cubanos, “agora independentes”, assistiam aos capitalistas norte-americanos apoderarem-se num curto espaço de tempo de sua agricultura e de seu comércio. A “independência de Cuba” foi condicionada a uma cláusula que assegurava aos Estados Unidos o direito de intervirem nos assuntos internos do país sempre que julgassem necessário, a pretexto de proteger a vida, a propriedade e a liberdade individual, fórmula que tem sido usada com freqüência para justificar o expansionismo imperialista. As tropas norte-americanas invadiram Cuba em 1906, 1911 e em 1917, até que o seu domínio fosse definitivamente consolidado. Mais tarde, Fidel Castro reverteria essa situação.
Em 1901, a república da Colômbia recusou-se a vender uma faixa de terra aos Estados Unidos na qual seria construído o canal do Panamá. O presidente Roosevelt acionou os mecanismos intervencionistas de forma indireta. Uma insurreição para a autonomia do Panamá foi organizada com a colaboração e o apoio norte-americano. Os navios de guerra dos Estados Unidos foram dispostos em pontos estratégicos para impedir que as forças colombianas interviessem e sufocassem a rebelião. A revolta foi desencadeada em 3 de novembro de 1903, e no dia 6, os Estados Unidos reconheceram diplomaticamente a “nova nação”. No dia 18, obtiveram a zona do canal sob condições muito mais favoráveis do que as que haviam proposto inicialmente.
Em 1904, o mesmo presidente Roosevelt declarou: “os Estados Unidos respeitavam o direito de autodeterminação dos países que agissem com o mínimo de eficiência e decência nas questões políticas e sociais”. Advertiu, no entanto: “erros cometidos sistematicamente ou a demonstração de incapacidade que resulte no afrouxamento dos vínculos que mantêm a coesão de uma sociedade civilizada, podem em último caso, tanto na América quanto em qualquer outra parte do mundo, justificar a intervenção de uma nação civilizada”.
Em 1909, os fuzileiros navais dos Estados Unidos invadiram a Nicarágua e depuseram o presidente José Zelaya, que ameaçava suspender as concessões econômicas feitas aos norte-americanos. Em 1912, foi novamente ocupada. Em 1915, os fuzileiros navais intervieram no Haiti e, em 1916, ocupavam a República Dominicana impondo um governo militar.
Ao eclodir a primeira guerra mundial, os Estados Unidos haviam se apoderado ou exerciam controle sobre Samoa, Midway Island, Havaí, Porto Rico, Filipinas, Cuba, São Domingos, Haiti, Nicarágua e a zona do canal do atual e “oportuno” Panamá.
Não é difícil identificar que o principal objetivo de todas as intervenções inglesas, norte-americanas ou de qualquer outro país, não se restringiam a simples exercícios militares. Os objetivos econômicos foram e continuam sendo a causa principal.
Na verdade, paralelamente, o imperialismo econômico foi filosoficamente muito bem fundamentado.
A teoria do liberalismo econômicoproporcionou uma base filosófica exclusiva de um sistema capitalista com bases puramente econômicas. Em “A História das Riquezas das Nações” (1776), Adam Smith elaborou a base do liberalismo clássico de forma profunda e técnica, proclamava o livre jogo da força da oferta e da procura, longe do controle dos Estados. Diferentemente de Thomas Hobbes, que defende um Estado totalitário e intervencionista, e de Keynes, que defende a intervenção esporádica e saneadora do Estado, porém, ambos incluem a supervisão política do Estado na economia).
Segundo Adam Smith, o mercado agiria como uma “mão invisível”, canalizando as motivações egoístas e interesseiras dos homens para atividades mutuamente complementares que promoveriam de forma harmoniosa o bem-estar de toda a sociedade. O funcionamento desses mecanismos implicava na supressão de toda as regras, orientações e restrições de cunho paternalista (Estatal), e nisso reside o seu maior encanto. Definitivamente, segundo a proposta liberalizante, não haveria lugar para a intromissão paternalista dos governos em assuntos econômicos.
O discurso do livre mercado foi habilmente substituído por privilégios intervencionista do mercado concedido pelos emergentes Estados -Nação aos poderosos setores das economias internacionais.
Já a teoria do darwinismo social de Herbert Spencer (1820- 1903), baseou seu pensamento no que chamou: Lei da conduta e da conseqüência. Segundo Spencer: “a pobreza do incapaz, as desgraças que se abatem sobre o imprudente, a fome que sente o desocupado e a supressão dos mais fracos pelos mais fortes (...), são os desígnios de uma força poderosa, clarividente e benevolente”. Assim como Adam Smith se opunha categoricamente a qualquer ação governamental que interferisse no livre comércio, na produção ou na distribuição das riquezas e rendas, Spencer considerava prejudiciais para o progresso humano os gastos com a previdência social, as iniciativas destinadas a reduzir a insegurança econômica dos trabalhadores e as obras governamentais de utilidade pública. Ambos justificavam teoricamente o que já acontecia na prática.
Muitos homens de negócios que se servem da proteção de seus governos para promover seus próprios interesses (tarifas especiais, isenções fiscais, etc.), sentiam-se ameaçados por esses mesmos governos, quando tinham que se submeter a reformas sociais que beneficiassem a classe trabalhadora, colocando em risco suas riquezas e rendas. Por isso, se utilizam dos argumentos de Herbert Spencer e do darwinismo social, que considera a acumulação de riquezas uma prova concreta de superioridade e a pobreza uma evidência de inferioridade evolutiva.
Confirmando esse pensamento, Thomas Robert Malthus defende um posicionamento de defesa do desenvolvimentismo genocida de controle demográfico. Defende Malthus, sobre a questão fundamental no “combate à pobreza e à miséria”, a seguinte solução: “existem duas maneiras de conter o crescimento populacional, os controles preventivos e os controles positivos. Os controles preventivos agiam no sentido de reduzir a taxa de natalidade e os controles positivos, no sentido de incrementar a taxa de mortalidade”.
Malthus foi ainda mais objetivo em suas conclusões: “Deste momento em diante todas as crianças recém-nascidas que ultrapassarem o limite previsto (divisão mínima de alimento), terão necessariamente que morrer, a menos que a morte de adultos lhes ceda lugar. Portanto, se quisermos agir corretamente, devemos facilitar a ação da natureza que produz a mortalidade, ao invés de esforçarmo-nos inútil e totalmente por impedi-la. E se encararmos com horror a visita por demais freqüente desse terrível espectro da fome, mais uma razão para encorajarmo-nos com diligência as outras formas de destruição, compelindo a natureza a fazer uso delas. Ao invés de recomendarmos o asseio aos pobres, conviria estimular os hábitos contrários. Em nossas cidades, deveríamos construir as ruas mais estreitas, apinhar mais gente no interior das casas e provocar o retorno das pragas. No campo, deveríamos construir as aldeias perto de poços de água estagnada e, sobretudo, encorajar o estabelecimento de colonos em terrenos pantanosos e insalubres. Acima de tudo, deveríamos condenar o uso de medicamentos específicos que anulam os efeitos devastadores das moléstias, e condenar também os homens benevolentes, mas profundamente equivocados, que julgam prestar grandes serviços à humanidade quando elaboram planos para extirpar determinadas enfermidades. Se, por esses e outros meios semelhantes, conseguíssemos dilatar a taxa de mortalidade anual, provavelmente qualquer um de nós poderia casar ainda na puberdade, e mesmo assim poucos morreriam de fome”.
O pensamento elitista de alguns, está bem explicitado no pensamento de S.C.T. Dodd, procurador da Standard Oil, onde a pobreza existia: “porque a natureza, ou talvez o diabo, gerou alguns homens fracos e imbecis, outros preguiçosos e imprestáveis, e nem o homem nem Deus podem fazer muito por aqueles que nada fazem por si mesmos”.
 A defesa do imperialismo foi curiosamente bem exposta por George Bernard Shaw: “nenhum grupo ou país tinha o direito de se opor ao pleno desenvolvimento de seus recursos produtivos, no interesse de todo o mundo. As civilizações superiores tinham, portanto, todo o direito de impor sua vontade sobre os povos atrasados e de ignorar as reivindicações nacionais e setoriais, desde que isso resultasse no incremento da riqueza total a ser desfrutada pela raça humana”.
Esta afirmação expressa um libelo ao imperialismo, a dominação internacional com objetivos puramente econômicos. A ideologia do capitalismo de Estado no final do século XlX, já refletia claramente o objetivo de seu fortalecimento financeiro através da internacionalização compulsória desse promissor, conveniente e orgíaco imperialismo econômico.
Refletia ou reflete?
O CONCEITO DE ESTADO NAÇÃO
Respondendo a essa pergunta, recorri aos ensinamentos contidos no livro “Curso de Direito Internacional Público”, do eminente jurista, escritor, professor e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Dr. Celso D. de Albuquerque Mello, que diz: “O Direito Internacional Público que é ensinado nas faculdades e nos livros é ainda, via de regra, o mesmo Direito Internacional formulado no século XlX pelas grandes potências ocidentais. É assim um Direito que atende aos desenvolvidos e não aos países em via de desenvolvimento(...) O Direito precisa passar a ser o agente transformador da sociedade e não o consagrador de um ‘status quo’ existente há cinqüenta anos”.
E continua na sua importante denúncia: “o que ocorre atualmente é que os Estados mais poderosos, apesar de em minoria, elaboraram e elaboram as normas internacionais ainda em vigor e lutam pela sua manutenção. Na verdade, o processo de formação das normas internacionais não é, via de regra, democrático; vez que ele leva em consideração o poderio dos Estados”.
E sobre o imperialismo econômico, confirma: “A intervenção para a defesa do seu nacional, encontrou acolhida em inúmeros internacionalistas (Hershey, Oppenheim). Este motivo fundamentou uma série de intervenções dos EUA no continente americano (Nicarágua, 1909). Ele servia para encobrir, muitas vezes, interesses meramente econômicos”.
Ainda sobre este assunto, incluímos as observações de Francisco Cavalcante Pontes de Miranda, um dos mais respeitáveis juristas de nosso país, não somente pela sua vasta obra literária no assunto, como também pelo fato de que, até hoje é citado como referência em petições e decisões judiciais, em todas as instâncias jurídicas pelo Brasil. Segundo Pontes de Miranda: “O regime da livre concorrência não significa outra coisa: inspirações e apetites particulares, produção que marcha para o trust, e, quando muito, para o cartel. O parasitismo faz-se apologista de tal anarquia, que lhe serve; e, no momento, alguns políticos, a soldo do capitalismo estrangeiro, querem implantar nos Estados sul-americanos regime despótico, que lhes permita, como agentes parasitários, submeteros trabalhadores e os elementos técnicos ao tipo colonial do trabalho forçado. (...) O capitalismo apoderou-se da técnica e reduziu o Estado a entidade parasitária (...) Sem a tecnicidade, com um direito que, em vez de servir à sociedade, serve a grupo cada vez mais restrito, o Estado impopulariza-se, paralisa-se e desmoraliza-se. (...) Durante o século, o capitalismo apossou-se do Estado. Tem-no ao alcance da mão. Forja guerras civis e derrubadas de governos, nos povos de escassa cultura política; nos outros, usa de fios sutis que fazem milagres. Como quer que seja, o Estado verga, impotente, diante da força financeira. Os dirigentes têm a ilusão de dirigir, ou percebem a sua função de fantoches ao mover de dedos do capitalismo. (...) Nos nossos dias, com a ciência, com o espírito de invenção e de organização científica, o Estado despótico, firmado na força, a serviço das classes parasitárias, constitui reminiscência excrecente” (“A sabedoria da Inteligência”, O.L., p. 195).
Na verdade, a figura política e territorial do Estado-nação é produto final do século XVII e XIX. Na antiguidade clássica não havia o conceito de nação. Em Roma, por exemplo, a idéia de Itália não existia, mas sim a cidade de Roma. Quem não fosse de Roma era estrangeiro. 
Na idade média, havia feudos e não Estados nacionais. Cada feudo tinha sua própria moeda, seu exército, suas leis e seus tribunais. Para a burguesia, essas diferenças atravancavam as transações comerciais: estradas ruins, impostos a pagar em cada feudo por onde se passasse, as moedas variavam de um feudo para o outro, assim como a legislação.
O rei e a nobreza ao seu redor falavam o latim, o idioma considerado nobre. O povo em geral é que falava o francês, o bretão, o inglês, etc..., que eram línguas consideradas plebéias.
Com a formação dos Estados-nações, a unificação política e territorial favorecia os mercados internos, pois com apenas um exército, uma moeda, uma legislação, e um dialeto oficial, o emergente sistema capitalista poderia se proteger e desenvolver esses mercados internos sem concorrência externa. Por isso, a origem dos Estados-nações deu-se na Europa ocidental, onde começou a revolução industrial, propagando-se depois para o restante do mundo.
Portanto, o nacionalismo foi uma bandeira apoiada: ora pelos senhores feudais, ora pela realeza e pela burguesia, apenas para proteção de seus interesses de mercado interno e externo, eliminando desta forma, a ingerência de centros de poder geograficamente fora de seus territórios.
As bases teóricas e práticas da 3a Via (Um dos principais defensores e difusores do pensamento da Terceira Via é o sociólogo britânico Anthony Giddens, seguidopor Robert Putnam, Ian Winter e Mark Lyon, entre outros) , embora não abram mão da tutela do Estado sobre a economia, propõem um processo de privatizações generalizadas que ocorreram, ocorrem e ocorrerão, pois defendem um afastamento gradual, mas firme do empresarismo de Estado (liberalismo clássico), que se mostra geralmente incompetente para administrar satisfatoriamente assuntos de mercado. 
Nos países onde boa parte da utilização da mão de obra se assenta na indústria, por exemplo, o índice de desemprego nesta área terá seu nível cada vez mais elevado. E utilizar o argumento do aumento de emprego, resultante da instalação desse tipo de indústria, a médio e longo prazo será, conscientemente ou não, um erro político: pois o enorme avanço da tecnologia industrial possibilitará o acesso somente de uma pequena parcela de mão-de-obra especializada, que paulatinamente, também será excluída ou (parte dela) tecnicamente adaptada pela tecnologia de ponta que minimiza a cada dia mais a mão de obra no processo produtivo das indústrias de ponta.
Quanto ao setor da construção civil, importante fonte de ocupação da mão de obra no país, também é altamente vulnerável na sua capacidade de ocupação permanente, uma vez que basicamente é fruto do financiamento público da especulação imobiliária. Se os juros não forem viáveis para a captação dos empréstimos necessários, ou não existirem empréstimos disponíveis, todo esse setor será paralisado, aguardando situações mais favoráveis para reaquecimento, e nesse caso, como é uma situação bastante conhecida por profissionais desta área, não representa uma fonte segura e perene de ocupação profissional.
Na verdade, nem mesmo a agricultura seria, atualmente, uma fonte de ocupação com capacidade de absorção de mão de obra na proporção social necessária. As modernas técnicas de produção agrícola, conciliando máquinas, equipamentos e tecnologia genética, conseguiram transcender os limites naturais de produção, viabilizando até que os EUA, com uma área agrícola bem menor que a do Brasil, possa obter produção suficiente para seu mercado interno e externo. Isto também significa o que podemos chamar de desemprego estrutural ou tecnológico.
Quando uma empresa multinacional se instala em um país, três aspectos definem seus objetivos empresariais: encontrou uma região especial por ser um mercado comercialmente importante, ou por ser fonte de mão de obra de baixo custo com vistas ao mercado interno e (ou) a exportação, pelas enormes isenções fiscais, ou as três coisas ao mesmo tempo.
 Se a empresa multinacional utiliza o território alheio e desenvolve uma linha de produção apenas para exportar, explora apenas a mão de obra barata até que possa substituí-la pelas novas tecnologias. Se também vende seus produtos no mercado interno, utiliza também o potencial comercial das classes sociais nativas. 
O investimento em linha de produção no território alheio está inicialmente vinculado à utilização de mão de obra barata, de forma que o salário local seja baixo o suficiente para justificar os investimentos de curto, médio e longo prazo. Vantagens essas que são bastante potencializadas através das isenções fiscais com prazos amplamente diluídos no tempo. As modernas inovações tecnológicas substituíram de forma significativa as reivindicações salariais, que se transformaram em luta pelo emprego. E ao mesmo tempo, mesmo com um número menor de trabalhadores, a implementação da robótica e da informática, viabilizou até mesmo o aumento da produção. 
A visão desta realidade revela um impasse sobre o futuro, que confronta um incontrolável aumento demográfico com o desenvolvimento tecnológico na área produtiva que, quando antes alienava estruturalmente o trabalhador, hoje literalmente o exclui do meio produtivo. Ao mesmo tempo em que a moderna tecnologia atende perfeitamente aos interesses do capitalista contemporâneo, essa mesma tecnologia (que não manipula mas é manipulada) é insensível à necessidade de sobrevivência da maioria dos seres humanos do planeta. Contraditoriamente, não pelo volume de produção, mas pela exclusão da maioria da massa produtiva dos benefícios decorrentes da maximização desse processo produtivo.
Na verdade, os aspectos individualistas e de livre mercado na economia política do liberalismo econômico, não contempla em sua teoria, os interesses e necessidades do conjunto da sociedade. E quanto ao progresso científico (cujos principais saltos evolutivos se deram durante e após as grandes guerras mundiais deste século), esse caminha principalmente no objetivo da supremacia militar sobre os demais povos, hoje subjugado pela máquina bélica norte-americana. As demais descobertas científicas só chegam aos indivíduos quando se inserem nos interesses comerciais definidos de alguma indústria nacional ou multinacional, ou quando são resultados laboratoriais incidentais em objetivos específicos de pesquisa, que tenham forte apelo comercial e sejam explorados por empresários ou empresas.
Paradigmas da Ética e da Moralidade
 Existe um outro aspecto que, à luz do atual paradigma precário da democracia eurocêntrica, considero estar acima das discussões teóricas sobre sistemas políticos e econômicos: é a frágil vertente da ética e da moralidade atual como pressuposto de credibilidade eleitoral, pressuposto este, cuja fragilidade históricafoi capaz de minar qualquer proposta de administração do interesse público, degenerando historicamente qualquer poder executivo, legislativo ou judiciário existente.
Numa sociedade, onde levar vantagem em tudo ou “farinha pouca meu pirão primeiro” são palavras de ordem, a questão da ética e da moralidade representa uma enorme vulnerabilidade administrativa de qualquer sistema econômico ou social, proposto ou implantado, vitimados pelos conhecidos vícios históricos da personalidade humana.
Uma minoria idealista luta heróica e ingloriamente para resgatar os valores dessa ética e dessa moralidade na administração dos interesses públicos, porém, também historicamente, são sufocados por esses mesmos vícios da personalidade humana, capitaneados pelos lob’s políticos, econômicos, jurídicos, partidários, etc., e por aqueles já profundamente descrentes desses valores tão voláteis.
A falência política da superestrutura atual gera a falência dos valores éticos e morais também no seio da sociedade, com a exceção de alguns poucos idealistas, “sonhadores” ou “ingênuos” que insistem em manter pelo menos, essa tênue chama viva.
A pergunta é: Onde estão os indivíduos imunes à falta eventual ou definitiva desses raros valores no exercício de função pública e (ou) privada?
De que adianta transcrever valores éticos e morais numa Constituição ou no Direito Positivo, quando o próprio executivo, legislativo e judiciário, responsáveis pelo cumprimento e defesa destes contratos sociais, se encarregam eles mesmos de transgredi-los, explicitando desta forma a perigosa incidência da histórica falha do elemento humano na promoção do interesse coletivo, minado pelos já citados vícios históricos da personalidade (a ânsia de poder político e econômico, a vaidade desmedida, a ambição descontrolada, etc.).
Na verdade, embora importante, não tenho a intenção de discutir neste momento o que seja ética ou moralmente correto, mas denunciar abertamente essa situação de desrespeito histórico aos cidadãos. Quando a responsabilidade de implementar os princípios referentes ao que se considera ético e moralmente correto não é respeitada, o interesse público fica em segundo plano ou nem mesmo é levado em consideração.
Como poderemos evitar que, determinado candidato a cargo público, hoje dedicado, prestativo, participativo, ao assumir o cargo não mostrará uma outra face. Ou será estruturalmente impossibilitado de transformar as regras gerais e históricas do complexo jogo político?
A maioria da população, descrente sobre a legitimidade do instituto da representação política, e ao mesmo tempo, ocupada demais em garantir o pão de cada dia, dividindo o tempo entre o estudo, o emprego e a responsabilidade familiar, não tem tempo disponível para controlar pessoalmente os passos de cada representante eleito, onde a maioria deles, nos transformam em degraus vivos, nos moldam e depois nos pisam.
Isto tudo significa que, independente da sigla partidária, neste atual sistema ou em qualquer outro: o gigantismo burocrático da máquina de Estado e a complexidade da estrutura representativa, nos force a depender de atitudes paternalistas ou contar com a “sorte”, onde os representantes de qualquer poder decidam por um ato de magnanimidade individual, promover uma utópica justiça social ou pelo menos respeitarem esse socialmente importante mas desacreditado e fragilizado sistema legal. 
No que se refere ao Direito Positivo, a questão da legalidade apresenta um aspecto que posiciona o Direito Positivo como um código extremamente vulnerável, quando atribui ao poder judicante uma discricionaridade personalista na interpretação das leis (livre convencimento). Embora existam outras instâncias recursais, as decisões prolatadas, muitas vezes, expõem interpretações contrárias ao texto da própria Lei, e em fase de recurso, evidenciam um corporativismo institucional que desqualifica o conceito institucional de imparcialidade na justiça, sobrecarregando as instâncias superiores, transformando a esfera jurisdicional em alvos potenciais, onde os seus representantes, em maior ou em menor grau, são expostos à influência do corrosivo poder político e econômico.
Se, para superar os arbítrios da discricionaridade, faz-se necessário à contratação de “bons advogados”, a elitização do Direito é patente. Se a contratação de “bons advogados” não consegue evitar esses arbítrios, extingue-se o direito real à Justiça, e conseqüentemente, os dois exemplos fragilizam o Estado democrático. Esse “Estado democrático”, que já é fundamentalmente frágil, pois convive com um índice enorme de exclusão social, fragiliza-se ainda mais com um poder discricionário que expõe a aplicação isenta das normas legais ao arbítrio dos vícios da personalidade humana, que exclui a justiça do direito e se esconde no corporativismo.
A institucionalização (uniformização) da jurisprudência torna-se um expediente que “visa unificar a interpretação do texto legal”, reconhecendo tacitamente por tanto, a panacéia discricionária que está incorporada ao exercício da função judicante, demonstrando a subjetividade dos textos legais e os perigos a que se expõem os “cidadãos”, quanto à “correta” aplicação das normas jurídicas de um excludente “Estado de Direito”.
Na verdade, historicamente, por mais paradoxal que pareça, o Direito Positivo foi criado para “proteger” os direitos de quem pretensamente os possua, no entanto, pelo menos a garantia de sua aplicação, é um desafio não superado, que constantemente, põe em cheque a legitimidade de um Estado democrático de direito quando negligencia os fundamentos estabelecidos em um importante, porém precário, Direito Positivo e Constitucional.
Quando a discricionaridade jurisdicional cria um atrito entre a justiça e o direito, deixa evidente a fragilidade desse conceito desgastado de democracia e a própria estrutura legal que a legitima, instituindo uma legalidade paralela na função judicante, criando o poder individual dentro do poder judiciário que se coloca muitas vezes, acima da própria lei.
O conceito que antecede naturalmente a discussão sobre os problemas na crise ética e moral na economia, na administração interna do país e nas garantias dos direitos sociais de qualquer sistema político e econômico, chama-se representatividade. Ou seja, como ter a garantia sobre a realização plena e incondicional do interesse público através dos seus representantes?
Antes de responder a essa pergunta é de fundamental importância uma análise objetiva na forma de representatividade que encontramos atualmente no Brasil.
A forma vigente é a do sufrágio universal e secreto, num sistema representativo de governo presidencialista e sob regime “democrático” e constitucional.
Democracia, etimologicamente, significa o poder da maioria. Em tese, o sistema comunista tem como objetivo fundamental, também, o povo no poder. Não esse poder conhecido pela estrutura burguesa, mas o poder advindo da “autodeterminação individual e coletiva em sua fase mais evoluída” (comunismo). Concluímos que, teoricamente, tanto o comunismo quanto a democracia burguesa, possuem o mesmo frustrado objetivo: conduzir o povo a essa autodeterminação individual e coletiva. No entanto, ambos falharam nesse desafio histórico.
No Brasil, onde a população elege a maioria de seus representantes, o povo no poder está apenas na palavra democracia, porque a fome, o desemprego, e o inadministrável salário mínimo, na realidade excluem esse povo da própria cidadania, demonstrando a hipocrisia do estatuído no parágrafo único, do artigo primeiro da Constituição brasileira.
Por esse motivo, anteriormente procurei demonstrar que, embora o povo se manifeste através do sufrágio universal, num sistema “democrático” de “representação popular”, um verdadeiro conceito de democracia representativa não existe na realidade. O que existe é uma crise estrutural e institucional da estrutura representativa na administração do interesse público, que vem se perpetuando e agravando através do tempo, repercutindo amargamente nas carências

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