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O principe


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UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA
CURSO DE DIREITO
	
	
	
	LEANDRO GOMES MACIEL
	
	
	
RESUMO – O PRÍNCIPE
CAPITULOS: XXlV, XXV, XXVl
E A CARTA DE MAQUIAVELLI A FRANCESCO VETTORI
Goiânia
Março de 2009
LEANDRO GOMES MACIEL
	
	
	
	
	
	
	
RESUMO – DEMOCRACIA
Resumo apresentado para fins de avaliação parcial da disciplina Ciência Política, do Curso de Direito, da Universidade Salgado de Oliveira, elaborado sob a supervisão do Professor José Antonio Soares Cavalcante. 
Turma: 41515N.
Goiânia
Abril de 2009
RESUMO – O PRÍNCIPE
LEANDRO GOMES MACIEL
FOLHA DE APROVAÇÃO
Resumo apresentado, ao curso de graduação em Direito, como registro parcial para obtenção de nota de (VT) da disciplina Ciência Política.
Aprovada em ____ de __________________ de ___________.
Nota obtida: ___________
	
	
	
	
	
	
	
_________________________________________________
Orientações do Professor Mestre
Prof. José Antonio Soares Cavalcante
Goiânia
Abril de 2009
O CONTEXTO HISTÓRICO DA PRODUÇÃO DO PRÍNCIPE
Embora diferentes e, muitas vezes, contrárias, as obras políticas medievais e renascentistas operam num mundo cristão. Isto significa que, para todas elas, a relação entra política e religião é um dado de que não podem escapar. É verdade que as teorias medievais são teocráticas, enquanto as renascentistas procuram evitar a idéia de que o poder seria uma graça ou um favor divino; no entanto, embora recusem a teocracia, não podem recusar uma outra idéia cristã, qual seja, a de que o poder político só é legítimo se for justo e será justo se estiver de acordo com a vontade de Deus e a Providência divina. Assim, elementos de teologia continuam presentes nas formulações teóricas da política.
Ao se deixar de lado as diferenças entre medievais e renascentistas e forem consideradas suas obras políticas como cristãs, pode-se perceber certos traços comuns a elas.
Primeiramente encontram um fundamento para a política anterior e exterior à própria política. Em outras palavras, para alguns, o fundamento da política encontra-se em Deus ; para outros, encontra-se na Natureza, isto é, na ordem natural, que fez o homem um ser naturalmente político; e, para alguns, encontra-se razão, isto é, na idéia de que existe uma racionalidade que governa o mundo e os homens, tornando-os racionais e os faz instituir a vida política. Há, pois. Algo – Deus, Natureza ou razão – anterior e exterior à política, servindo de fundamento a ela.
Por conseguinte, afirmam que a política é instituição de uma comunidade uma e indivisa, cuja finalidade é realizar o bem comum ou justiça. A boa política é feita pela boa comunidade harmoniosa, pacífica e ordeira. Lutas, conflitos e divisões são vistos como perigos, frutos de homens perversos e sediciosos, que devem, a qualquer preço, ser afastados da comunidade e do poder.
Além disso, assentam a boa comunidade e a boa política na figura do bom governo, isto é, no príncipe virtuoso e racional, portador da justiça, da harmonia e da divisão da comunidade.
E, acima de tudo, classificam os regimes políticos em justos-legítimos e injustos-ilegítimos, colocando a monarquia e a aristocracia hereditárias entre os primeiros e identificando com os segundos o poder obtido por conquista e usurpação, denominando-o tirânico. Este é considerado antinatural, irracional, contrário à vontade de Deus e à justiça, obra de um governante vicioso e perverso.
Em relação à tradição do pensamento político, a obra de Maquiavel é demolidora e revolucionária.
E por que essa obra foi tão devastadora? O que tem por detrás do pensamento maquiavélico?
De acordo com o senso comum, maquiavélico e maquiavelismo são palavras usadas quando alguém deseja referir-se tanto à política como aos políticos, e a certas atitudes das pessoas, mesmo quando não ligadas diretamente a uma ação política. É possível ouvir ou empregar essas expressões sempre que se desejar julgar a ação ou a conduta de alguém desleal, hipócrita, fingidor, poderosamente malévolo, que brinca com sentimentos e desejos alheios, mente-lhes, faz a eles promessas que sabe que não cumprirá, usa a boa-fé das pessoas em seu próprio proveito.
Fala-se num poder maquiavélico para se referir a um poder que age secretamente nos bastidores, mantendo suas intenções e finalidades desconhecidas para os cidadãos; que afirma que os fins justificam os meios e usa meios imorais, violentos e perversos para conseguir o que quer ; que dá as regras do jogo, mas fica às escondidas, esperando que os jogadores causem a si mesmos sua própria destruição.
Que teria escrito Maquiavel para que gente que nunca leu sua obra e que nem mesmo sabe que existiu, um dia, em Florença, uma pessoa com esse nome, fale em maquiavélico ou maquiavelismo?
Diferentemente dos teólogos, que partiam da Bíblia e do Direito Romano para formular teorias políticas, e diferentemente dos contemporâneos renascentistas, que partiam das obras dos filósofos clássicos para construir suas teorias políticas, Maquiavel parte da experiência real de seu tempo.
Foi diplomata e conselheiro dos governantes de Florença, viu as lutas européias de centralização monárquica (França, Inglaterra, Espanha, Portugal), viu a ascensão da burguesia comercial das grandes cidades e sobretudo viu a fragmentação da Itália, dividida em reinos, ducados, repúblicas e Igreja. A compreensão dessas experiências históricas conduziram à idéia de que uma nova concepção da sociedade e da política tornara-se necessária, sobretudo para a Itália e par Florença.
AS PRINCIPAIS TESES POLÍTICAS NO PRÍNCIPE
O Príncipe funda o pensamento político moderno porque busca oferecer respostas novas a uma situação histórica nova, que seus contemporâneos tentavam compreender lendo os autores antigos, deixando escapar a observação dos acontecimentos que ocorriam diante dos olhos de Maquiavel.
Maquiavel não admite um fundamento anterior e exterior à política (Deus, Natureza ou razão). Toda Cidade, diz ele em sua obra, está originariamente dividida por dois desejos opostos: o desejo do povo de não ser oprimido nem comandado. Essa divisão evidencia que a Cidade não é uma comunidade homogênea nascida da vontade divina. Na realidade, a Cidade é tecida por lutas internas que a obrigam a instituir um pólo superior que possa unificá-la e dar-lhe identidade. Esse pólo é o poder político. Assim, a política nasce das lutas sociais é obra da própria sociedade para dar a si mesma unidade e identidade. A política resulta da ação social a partir das divisões sociais.
O autor não aceita a idéia da boa comunidade política constituída para o bem comum e a justiça. O ponto de partida da política para ele é a divisão social entre os grandes e o povo. A sociedade é originariamente dividida e jamais vista como uma comunidade uma, indivisa, homogênea, voltada para o bem comum. Essa imagem da unidade e da indivisão, diz Maquiavel, é uma máscara com que os grandes recobrem a realidade social para enganar, oprimir e comandar o povo, como se os interesses dos grandes e dos populares fossem os mesmos e todos fossem irmãos e iguais numa bela comunidade.
A finalidade da política não é, como diziam os pensadores gregos, romanos e cristãos, a justiça e o bem comum, mas, como sempre souberam os políticos, a tomada e manutenção do poder. O verdadeiro príncipe é aquele que sabe tomar e conservar o poder e que, para isso, jamais deve aliar-se aos grandes, pois estes são seus rivais e querem o poder para si, mas deve aliar-se ao povo, que espera do governante a imposição de limites ao desejo de opressão e mando dos grandes. A política não é a lógica da força transformadora em lógica da força transformada em lógica do poder e da lei.
Em O Príncipe, Maquiavel recusa a figura do bom governo encarnada no príncipe virtuoso, portador das virtudes cristãs, das virtudes morais e das virtudes principescas. O príncipe precisa ter virtu, mas está é propriamente política, referindo-se às qualidades do dirigente para tomar e manter o poder, mesmo que para isso deva usar a violência, a mentira, a astúcia e a força.A tradição afirmava que o governante devia ser amado e respeitado pelos governados. Maquiavel afirma que o príncipe só não pode ser odiado.
Isso significa, primeiramente, que deve ser respeitado e temido – o que é possível se não for odiado. Significa, por conseguinte, que não precisa ser amado, pois isso o faria um pai para a sociedade e, todos sabem, um pai conhece apenas um tipo de poder, o despótico. A virtude política do príncipe aparecerá na qualidade das instituições que souber criar e manter e na capacidade que tiver para enfrentar as ocasiões adversas, isto é, a fortuna ou sorte.
Maquiavel não aceita a divisão clássica dos três regimes políticos (monarquia, aristocracia e democracia) e suas formas corruptas ou ilegítimas (tirania, oligarquia e demagogia/anarquia), como não aceita que o regime legítimo seja o hereditário e o ilegítimo, o usurpado por conquista. Qualquer regime político – tenha a forma que tiver ou tenha a origem que tiver – poderá ser legítimo ou ilegítimo. O critério de avaliação, ou o valor que mede a legitimidade e a ilegitimidade, é a liberdade.
Todo regime político em que o poderio de opressão e comando dos grandes é maior do que o poder do príncipe e esmaga o povo é ilegítimo; caso contrário, é legítimo. Assim, legitimidade e ilegitimidade dependem do modo como as lutas sociais encontram respostas políticas capazes de garantir o único princípio que rege a política: o poder do príncipe deve ser superior ao dos grandes e estar a serviço do povo. O príncipe pode ser monarca hereditário ou por conquista, pela força, o poder. Qualquer desses regimes políticos será legítimo se dor uma república e não despotismo ou tirania, isto é, só é legítimo o regime no qual o poder não está a serviço dos desejos e interesses de um particular ou de um grupo de particulares.
A tradição grega tornou ética e política inseparáveis, a tradição romana colocou essa identidade da ética e da política na pessoa virtuosa do governante e a tradição cristã transformou a pessoa política num corpo místico sacralizado que encarnava a vontade de Deus e a comunidade humana. Hereditariedade, personalidade e virtude formavam o centro da política, orientada pela idéia de justiça e bem comum. Esse conjunto de idéias e imagens é demolido por Maquiavel. Um dos aspectos da concepção maquiaveliana que melhor revela essa demolição encontra-se na figura do príncipe virtuoso.
No estudo da ética, a questão central posta pelos filósofos sempre foi: O que está e o que não está em nosso poder? “Estar em nosso poder” significava a ação voluntária racional livre, própria da virtude, e “não estar em nosso poder” significava o conjunto de circunstâncias externas que agem sobre nós e determinam a vontade de cada um e determinam sua vontade. Esse conjunto de circunstâncias que não dependem da vontade da própria pessoa foi chamado pela tradição filosófica de fortuna. A oposição virtude-fortuna jamais abandonou a ética e, como esta surgia inseparável da política, a mesma oposição se fez presente no pensamento político. Neste, o governante virtuoso é aquele cujas virtudes não sucumbem ao poderio da caprichosa e inconstante fortuna.
Maquiavel retoma essa oposição em sentido inteiramente novo. A virtu do príncipe não consiste num conjunto fixo de qualidades morais que ele oporá à fortuna, lutando contra ela. A virtu é a capacidade do príncipe para ser flexível às circunstâncias, mudando com elas para agarrar e dominar a fortuna. Em outras palavras, um príncipe que agir sempre da mesma maneira e de acordo com os mesmos princípios em todas as circunstâncias fracassará e não terá virtu alguma.
Para ser senhor da sorte ou das circunstâncias, deve mudar com elas e, como elas, ser volúvel e inconstante, pois somente assim saberá agarrá-las e vencê-las. Em certas circunstâncias, deverá ser cruel, em outras, generoso; em certas ocasiões deverá mentir, em outras, ser honrado; em certos momentos, deverá ceder à vontade dos outros, em alguns, ser inflexível. O ethos ou caráter do príncipe deve variar com as circunstâncias, para que sempre seja senhor delas.
A fortuna, diz Maquiavel, é sempre favorável a quem desejar agarrá-la. Oferece-se como um presente a todo aquele que tiver ousadia para dobrá-la e vencê-la. Assim, em lugar da tradicional oposição entre a constância do caráter virtuoso e a inconstância da fortuna, Maquiavel introduz a virtude política como astúcia e capacidade para adaptar-se às circunstâncias e aos tempos, como ousadia para agarrar a boa ocasião e força para não ser arrastado pelas más.
A lógica política nada tem a ver com as virtudes éticas dos indivíduos em sua vida provada. O que poderia ser imoral do ponto de vista da ética privada poder ser virtu política. Em outras palavras, Maquiavel inaugura a idéia de valores políticos medidos pela eficácia prática e pela utilidade social, afastados dos padrões que regulam a moralidade privada dos indivíduos. O ethos políticos e o ethos moral são muito diferentes e não há fraqueza política maior do que o moralismo que mascara a lógica real do poder.
Por ter inaugurado a teoria moderna da lógica do poder como independente da religião, da ética e da ordem natural, Maquiavel só poderia ter sido visto como “maquiavélico”. As palavras maquiavélico e maquiavelismo, criadas no século XVI e conservadas até hoje, exprimem o medo que se tem da política quando esta é simplesmente política, isto é, sem as máscaras da religião, da moral, da razão e da Natureza.
AS RELAÇÕES ENTRE AS TESES DE MAQUIAVEL E A POLÍTICA BRASILEIRA
A estrutura política contemporânea tem como evidência os conceitos e formas políticas idealizadas sob o modelo de Maquiavel. Apesar de estabelecer um modelo político antecedente a uma época, Maquiavel desenvolveu uma teoria política científica capaz de adaptar-se a um tempo, uma época posterior, ou seja, uma espécie de fórmula que teria no decorrer dos tempos uma adaptação e efeitos específicos. Maquiavel, para a época contemporânea, mais que ousado, foi prático, pois o maquiavelismo tem sido a verdadeira cartilha dos que fazem política com hipocrisia e utopia. 
Os políticos que fizeram de O Príncipe o seu livro de cabeceira inseparável, exploram a parte que caracteriza por excelência a obra que é a forma astuta de se estruturar um governo. Mas O Príncipe oferece outras interpretações, como, por exemplo, a conscientização das formas políticas e governamentais inescrupulosas que não medem consequências para manter-se no poder, como também pode levar ao leitor a capacidade de entender a engrenagem da máquina administrativa governamental que insiste em funcionar sempre a favor da minoria e nunca da maioria. 
Recorrer ao modelo de Maquiavel não vem ser um anacronismo, mas por que não inovaram os senhores da política? Fazendo uso dO Príncipe numa versão contraditória pela qual excedam-se na originalidade de honrar com lisura os cargos aos quais foram confiados e excluam gradativamente  a ação copista, afinal os tempos e os ideais compatibilizam-se com as transformações. Somente assim os senhores " Príncipes" às avessas da política do século XXI - se conseguirem - darão provas de suas verdadeiras honestidade e competência.
Meio milênio separa o século XXI no tempo, no entanto, ainda há algo que permanece em sua essência: o próprio homem.
Deixando de lado o questionamento e o julgamento do conceito de natureza humana complexa, pode-se dizer que esta tem se revelado imutável por mais que mude todo o imenso resto que rodeia o homem através da inteligência, criatividade e ação desse mesmo homem.
O Príncipe deve despertar temor e respeito, consolidar reputação de duro e inflexível e até de cruel, nunca de piedoso, compassivo ou até mesmo bondoso, o que poderia torná-lo alvo do desprezo do povo. Por outro lado, o povo aprecia mais o afago e a ilusão que a verdade e consegue viver tranquilo, satisfeito e produtivo mesmo ludibriado eficientemente por um astuto governante. Quão atuais soam essas palavras, especialmente no seio de governos ditos democráticos e liberais, dos quaiso Brasil constitui um exemplo. É o caso, por exemplo do que foi Antônio Carlos Magalhães na Bahia por muitos anos, já que, depois de sua morte, como não havia mais o temor que sempre existiu, nem seu neto conseguiu se eleger naquele estado.
Assim, quando florentino Maquiavel disseca - sem escândalo, restrições, hipocrisias e moralismos - o cerne da alma humana, distanciado das alturas metafísicas e aproximado das baixezas políticas, depara-se com as mesmíssimas qualidades, eticamente classificadas e pintadas de boas ou más, nobres ou torpes, dignas ou indignas detidas pelos políticos de nosso tempo.
E o homem político nada mudou essencialmente.
Aristóteles refere-se à essência do homem ao afirmar que o homem é o seu ser: o homem é um animal social.
Sabemos que o latim é originário do grego antigo e posterior a ele. A despeito de se distinguir nas línguas modernas os conceitos de social e político, o latim ‘socius’ corresponde ao grego antigo ‘politikum’. 
Assim, o grego ‘anthropos zoon politikum’, para efeito do que aqui se discute, deveria, preferivelmente, ser traduzido por o ser humano é um animal político. 
‘Politikum’ deriva de polis, um dos conceitos-chaves para a compreensão do mundo grego. A Polis é o lugar que torna a vida humana possível e exequível. Abrange o conjunto de instituições, costumes, leis, etc. em que o homem é. 
O homem não pode ser concebido ou conceituado independente da Polis. Ele é o animal da Polis. O conceito moderno mais próximo de Polis de que se dispõe é o conceito de Estado e não o de cidade.
A política mantém, desse modo, uma dependência íntima não só da psicologia, como também da ética e inclusive da ontologia (disciplina filosófica que trata da questão do ser).
Nicolau Maquiavel, diplomata e articulador político, sente, como toda sua obra o demonstra, a necessidade de uma ordem moral que facultasse a constituição de uma ética apta a estruturar um poder de Estado capaz de implementar a realização de uma vida moral mediante a qual o homem pudesse ser feliz.
Cabe a Nicolau Maquiavel o mérito indiscutível de ter posto de maneira clara e iniludível um dos problemas mais debatidos pelos filósofos: aquele da relação entre a política e a moral. A resposta apresentada por Maquiavel não é uma solução desse problema; consiste, a seu ver, na mera apresentação dos fatos, na apresentação da verdade factual das coisas.
Embora não se identifique cruamente com o ‘homo homini lupus’ (o homem é o lobo do homem) - concepção que Hobbes tem do ser humano - Maquiavel parece não se deter em nenhuma daquelas virtudes nobres das quais certos homens raros foram investidos. E mesmo se ele se visse diante dessas virtudes assumidas ou encarnadas pelos homens que se agitam nos corredores da vida política, julgaria provavelmente que de nada valeriam para o eficiente desempenho das funções políticas o que é realmente triste de se refletir.
A coisa pública, numa perspectiva maquiaveliana, está sujeita a um ciclo: os Estados passam da monarquia à tirania, da tirania à democracia, da democracia à oligarquia, da oligarquia à anarquia e da anarquia à monarquia e assim sucessivamente. A história se movimenta segundo a Fortuna e pela intervenção de homens dotados de virtu que enfrentam a Fortuna e conformam a história. O único problema é que Maquiavel, em lugar de aprofundar sua análise do caráter cíclico da história, passa a fazer a avaliação psicológica dos grandes indivíduos de índole duvidosa. É necessário estar sempre preparado para o pior e os homens devem ser contidos por mão firme. Dessa constatação surge a idéia da contraposição entre o grande número, ao qual se adequa totalmente o modelo, e o pequeno número, a elite dos capazes, refletindo, quase completamente, a idéia presente em "A Política" de Aristóteles: "Alguns seres, a partir do momento em que nascem, estão destinados uns a obedecer e outros a comandar".
Tal máxima metodológica, associada a uma visão de identidade perene da história e do homem, faz com que, como em "O Príncipe", empreenda generalizações assumidas como verdadeiras e empregadas para compor a estrutura geral da teoria do Estado que, segundo sua doutrina, o príncipe é o único a poder decidir qual é o bem do Estado, o que parece colocá-lo, através das razões éticas de Estado, acima das próprias leis. Uma saída teórica contida na própria obra em discussão é a conhecida teoria do equilíbrio das forças políticas, segundo a qual, quando numa determinada constituição se reúnem o príncipe, os grandes e o poder do povo, cada um dos três poderes vigia os outros. O princípio da liberdade repousa na possibilidade constitucional de contestação das decisões de uma dessas três forças pelas outras duas. No sistema presidencial, onde os mandatos são fixos, como ocorre no Brasil, não existindo as possibilidades de intervenção radical do parlamentarismo, a intervenção ocorre na forma de controle e de participação complementar, como, por exemplo, quando o executivo e legislativo participam na escolha dos membros do Supremo Tribunal Federal. Este princípio recebe o nome de “Sistema de Freios e Contrapesos”.
É claro que, atualmente, podemos analisar que a monarquia se revela usualmente a pior das formas de governo - o governo ou a administração do Estado é algo demasiado complexo para ser confiado a um só ser humano. 
Quanto à democracia, põe nas mãos do povo a escolha dos dirigentes do Estado e o resultado costuma ser desastroso. A democracia, embora muito superior à monarquia, baseia-se na hipótese falaz da igualdade humana. O fato de os homens serem iguais perante as leis os leva a pensar que são iguais em todos os aspectos, pois, liberdade e igualdade são confundidas e niveladas.
É preciso lembrar que todo ser humano, filósofo ou não, brilhante ou obtuso, pensa ou ao menos exprime seu pensamento pela linguagem, porém as linguagens são muitas e diversas.
Embora os pensadores pensem e compreendam o mundo fundamentalmente do prisma do mundo particular em que vivem, suas conclusões filosóficas, se adequadamente captadas, podem transcender o tempo e o peso que os concerne e assim, tornarem-se universais.
Diferentemente dos importantes pensadores políticos no passado e no futuro de Maquiavel, de Plantão e Aristóteles aos inspiradores da Revolução Francesa do final do século XVIII (Rousseau, Montesquieu, Voltaire) e Comte e Marx no século XIX ele compôs uma obra política assistemática sem o corpo teórico de doutrina política nos moldes tradicionais. 
Entretanto, como o utópico Plantão da "República Comunista", o frio Hobbes do "Estado como Leviatã", o simpático Rousseau do "bom selvagem", o mordaz Voltaire do "antimonarquismo radical", o revolucionário Marx da "ditadura do proletariado" e outros homens que pensaram o fenômeno político, Maquiavel examinou e avaliou formas de governo, tipos de Estado, instituições políticas, modos de administração do Estado, perfis de governantes, as relações entre governantes e governados e antes outros aspectos e elementos da vida política.
E, também como aqueles, procurou indicar o melhor dos governos - não o governo perfeito, mas o menos imperfeito consideradas as imperfeições e limitações humanas e a tremenda complexidade daquilo que recebe o nome de Estado.
Mais do que isso, Maquiavel tentou indicar os caminhos para a realização desse melhor governo possível por meio do melhor governante possível. 
Indubitavelmente, as idéias de um pensador ou historiador político, mesmo as definitivas, radicam na idéia ou concepção que faz o elemento central da vida política, a saber, o próprio homem, seja como indivíduo, seja como membro de uma sociedade.
Pode-se dizer que o pensamento de Maquiavel, transpondo a barreira do tempo, está bem mais próximo de Nietzsche do que de qualquer outro pensador moderno. Embora não precisamente crítico implacável da moral como o célebre filósofo alemão, Maquiavel desenvolveu teórica e praticamente uma política de resultados. 
Seu mérito foi desnudar a vida política, exibindo sem floreios, divagações, disfarces e atenuantestoda sua trama de planos, estratégias e manobras, não importando para ele, Maquiavel, se louváveis ou não do ponto de vista da moral cristã vigente. Entendia que não lhe competia emitir juízos de valor morais, e acima de tudo, não se permitia escandalizar-se.
A título de reflexão final, resta a cada cidadão, com senso crítico discernimento e destemor, a avaliação de bórgias locais e nacionais e, como o político e cidadão florentino Maquiavel fez há séculos, aceitá-los ou combatê-los.
CAPÍTULO XXIV
Por que os príncipes da Itália perderam seus Estados
Um príncipe novo é muito mais observado nas suas ações do que um hereditário; e, quando estas são reconhecidas como virtuosas, atraem mais fortemente os homens e os ligam a si muito mais que a tradição do sangue. Porque os homens são levados muito mais pelas coisas presentes do que pelas coisas passadas e, quando nas presentes encontram o bem, ficam satisfeitos e nada mais procuram. Antes, assumirão toda sua defesa, desde que não falte à palavra nas outras coisas. Aquele que, tendo nascido príncipe, veio a perder o Estado por sua pouca prudência, terá duplicada sua vergonha.
Caso se considerem aqueles senhores que, na Itália, perderam seus Estados nos nossos tempos, achar-se-á neles, primeiro um defeito comum quanto às armas; depois, ver-se-á que alguns deles, ou tiveram a inimizade do povo, ou, tendo o povo por amigo, não souberam garantir-se contra os grandes, eis que sem estes defeitos não se perdem nos Estados que tenham tanta força que possam levar a campo um exército.
Os príncipes que tinham permanecido muitos anos em seus principados para depois perdê-los, não podem acusar a sorte, mas sim a sua própria covardia, pois, não tendo nunca, em tempos pacíficos, pensando que estes poderiam mudar, quando chegaram os tempos adversos preocuparam-se em fugir e não em defender-se, esperando que as populações, cansadas da insolência dos vencedores, os chamassem de volta.
CAPÍTULO XXV
De quanto pode a fortuna nas coisas humanas e de modo se lhe deva resistir
De quanto pode a fortuna nas coisas humanas e de que modo se lhe deva resistir.
Não ignoro que muitos têm a opinião de que as coisas do mundo sejam governadas pela fortuna e por Deus. Pensar não com insistir muito nas coisas, mas deixar-se governar pela sorte. É uma opinião que se tornou mais oculta nos nossos tempos pela grande modificação das coisas. Pensando nisso algumas vezes em parte acreditei a favor dessa opinião. Contudo ainda acredito que muitas coisas na vida podemos fazer sem esperar a sorte.
A sorte demonstra seu poderio onde não existe virtude preparada para resistir.
Digo por que se vê um príncipe hoje em franco e feliz progresso e amanhã em ruína, o príncipe que se apóia totalmente na sorte, arruína-se.
O fim que cada homem tem por objetivo, isto é, glórias e riquezas procedem por formas diversas ou por cautela com ímpeto, com violência, Astúrias, paciência, etc..., por esses diversos meios pode alcançar o objetivo.
Pode-se dizer que dois indivíduos que estão agindo da mesma maneira podem alcançar seus objetos como também pode-se dizer que dois indivíduos que estão agindo de maneiras diferentes, um poderá alcançar seu objetivo e o outro não.
Pode-se dizer também que o homem tem que mudar seu jeito de ser com o tempo, porque até mesmo um homem cauteloso pode chegar à ruína, se não acompanhar o tempo e tudo que se passa ao seu redor.
Melhor ser impetuoso do que dotado de cautela, porque a fortuna é mulher e conseqüentemente se torna necessário, querendo dominá-la, bater-lhe e contrariá-la, e ela mais se deixa vencer por estes do que por aqueles que procedem friamente. A sorte, porém, como mulher sempre é amiga dos jovens, porque são menos cautelosos, mas afoitos e com maior audácia a dominam.
CAPÍTULO XXVІ
Exortação para procurar tomar a Itália e libertá-la das mãos dos Bárbaros
Consideradas, pois, todas as coisas já expostas, pensando comigo se no momento presente, na Itália, corriam tempos capazes de honrar um príncipe novo e se havia matéria que assegurasse a alguém, prudente e valoroso, a oportunidade de nela introduzir nova organização que a ele desse honra e fizesse bem a todo o povo, que me parecer concorrerem tantas circunstâncias favoráveis a um príncipe novo que não sei qual o tempo que poderia ser mais adequado para isto.
Se bem tenha surgido, até aqui, certo vislumbre de esperança em relação a algum príncipe, parecendo poder ser julgado como dirigido por Deus para redenção da Itália, contudo foi visto depois como, no apogeu de suas ações, foi abandonado pela sorte. De modo que tomada sem vida, espera ela por aquele que cure as suas feridas. Vê-se como ela implora a Deus lhe envie alguém que a redima dessas crueldades e insolências bárbaras.
Nem se vê no presente em quem possa ela confiar a não ser na vossa ilustre casa, a qual, com a sua fortuna e virtude, favorecida por Deus e pela Igreja, da qual é agora príncipe, poderá tornar-se chefe dessa redenção.
Aqui há uma grande disposição, e onde esta existe não pode haver grande dificuldade, uma vez, que aqui se vêem acontecimentos extraordinários emanado de Deus: o mar se abriu, uma nuvem revelou o caminho, a pedra verteu água, aqui choveu o maná; todas as coisas concorrem para a vossa grandeza. O restante deve ser feito por vós, Deus não quer fazer tudo, para não nos tolher o livre arbítrio e parte daquela glória que compete a nós. E se, em tantas revoluções da Itália e em tantas manobras de guerra, parecer sempre que nesta a virtude militar esteja extinta isso resulta de que as suas antigas instituições não eram boas e não houve quem soubesse encontrar outra. E nenhuma coisa faz tanta honra a um príncipe novo, quanto às novas leis e os novos regulamentos por ele elaborados. Estes quando são bem fundados e em si encerrem grandeza, tornam o príncipe digno de reverência e admiração. Aqui existe grande valor no povo, enquanto ele falta nos chefes. Daí decorre que, em tanto tempo, em tantas guerras feitas nos últimos vinte anos, sempre que se formou um exército inteiramente italiano o mesmo deu mau exemplo, do que dão prova Taro, depois Alexandre, Cápua, Gênova, Vailá, Bolonha, Mestri.
Querendo, pois, a vossa ilustre casa redimir suas províncias, é necessário prover-se de tropas próprias, pois não se pode conseguir outras mais fiéis e mais seguras, nem melhores soldados. E, ainda que cada um dele seja bom, todos juntos tornar-se-ão ainda melhores, quando se virem comandados pelo seu príncipe e por este, honrados e mantidos. É necessário, portanto preparar esses exércitos, para poder com a virtude itálica, defender-se dos estrangeiros.
E, se bem as infantarias suíças e espanholas sejam consideradas terríveis, em ambas existem defeitos, pelo que um terceiro tipo de infantaria poderia não somente opor-se-lhe, mas confiar em superá-las. Pode-se, pois, conhecido o defeito de uma e de outra dessas infantarias organizar uma diferente que resista à cavalaria e não tenha medo dos infantes, o que dará qualidade superior aos exércitos e imporá a mudança de táticas. Estas são daquelas coisas que, reformadas, dão reputação e grandeza a um príncipe novo.
Não se deve, pois, deixar passar esta ocasião, a fim de que a Itália conheça, depois de tanto tempo, o seu redentor. Nem posso exprimir com que amor ele seria recebido em todas aquelas províncias que têm sofrido por essas invasões estrangeiras, com que sede de vingança, com que obstinada de fé, com que piedade, com que lágrimas. Quais italianos lhe fechariam? Quais povos lhe negariam obediência? Qual inveja se lhe oporia? Qual italiano lhe negaria o seu favor? A todos repugna este bárbaro domínio. Tome, portanto, a vossa ilustre casa esta incumbência com aquele ânimo e com aquela esperança que se abraçam as causas justas, a fim de que, sob sua insígnia, esta pátria seja nobilitada e sob seus auspícios se verifique aquele dito de Petrarca:
Virtude contra Furor
Tomará Armas; e Faça o Combater Curto
Que o Antigo Valor
Nos Itálicos Corações Ainda não é Morto.
Carta de Maquiavellià Francesco Vettori, em Roma, relativa à obra “O Príncipe”
Maquiavelli, em sua carta lembra que Deus jamais se esquece de suas graças e isto por não conseguir compreender os motivos que levaram Francesco Vettori, embaixador, a passar muito tempo sem escrever-lhe. Acreditando, até mesmo, que o fato de não lhe ter escrito durante tanto tempo poderia ter sido por não mais lhe confiar como guardião de suas cartas. Entretanto, no dia 23 do mês de novembro teria recebido nova carta percebendo não ter perdido tal confiança que lhe era depositada. Afirma ainda ter ficado contentíssimo e passa a contar sobre seus dias.
O autor relata suas manhãs do mês de setembro contando do seu passatempo de caçar todos, mas que tal vida mudara e passa a contar de seus dias a tempo da carta. Em suma, conta de um bosque seu, que mandara cortar e que vai até ele pelas manhãs, por duas horas, para examinar o trabalho do dia anterior e para passar seu tempo com os cortadores. Ao sair do bosque vai até o seu viveiro de todos, onde lê romances que o lembra dos seus próprios. Depois vai até a hospedaria conversando com as pessoas, ouvindo noticiais. Então almoça e, voltando à hospedaria passa a tarde a jogar cricca, trichtach com os outros hóspedes, assim passa o seu tempo até chegar a hora em que pode vestir-se dignamente e penetra nas antigas cortes dos homens do passado, nutrindo-se daquele alimento que diz ser seu – o conhecimento. E a partir de tal, utilizou-se daquilo que aprendeu e considerou importante, compondo um opúsculo, a sua obra “De Principatibus”, cujo tema trata de discussões quanto ao principado: o que é, de que espécies são, como são adquiridos e se mantêm, porque são perdidos, aprofundando-se. Afirma ainda que a todo príncipe seria bom lê-la.
Maquiavelli trata do desejo de Francesco pela sua volta à Roma, dizendo que o fará, mas explica que tem de esperar devido aos negócios que mantém em Florença por sei semanas e, também, devido ao receio pelo novo Estado que e estabelecera em Roma. Maquiavelli termina contando sobre a dúvida em dar sua obra ou não à Francesco, resolvendo dar-lhe. Ressalva ser-lhe leal e fiel como o fora durante os seus 43 anos, sendo digno de sua confiança. Pede resposta quanto aos assuntos tratados e despede-se desejando que seja feliz. a hospedaria conversando com as pessoas, ouvindo notterior e para passar seu tempo com os cortadores. 
Exercícios
1- O que pode ser feito para que o nosso livre arbítrio não seja extinto?
Julgo poder ser verdade que a sorte seja o arbitro da meta da metade das nossa ações, mas que ainda nos deixe governar a outra metade, ou quase. Contudo, todos somos dotados de livre arbítrio. Todos somos capazes de decidir o nosso destino da forma como o queremos e trabalhar para construí-lo.
2- Quais são as diversas formas que procedem os homens naquilo que os conduz ao fim que cada um tem por objetivo?
É que um homem procede com cautela, o outro com ímpeto, um com violência, o outro com astúcia, um com paciência e o outro por forma contrária, e cada um por esses diversos meios pode alcançar o objetivo.
3- Porque o Papa Julio ll sempre alcançou feliz êxito em todas as suas coisas?
Porque procedeu impetuosamente e encontrou tanto os tempos como as circunstâncias coincidentes com aquele seu modo de proceder, o contrário, dado que se tivessem sobrevindo tempos em que se tornasse necessário agir com cautelas, surgiria a sua ruína, pois jamais ele teria desviado daquele modo de proceder a que a natureza o inclinava.
4 - Qual foi a tática que Nicoló Machiavelli citou nessa exortação para libertar a Itália das mãos dos Bárbaros?
Segundo Machiavelli que mesmo as infantarias Suíças e Espanholas sejam consideradas terríveis, em ambas existem defeitos. Então acrescentou que conhecendo o defeito de uma e de outra poderia organizar uma diferente, dando qualidade superior aos exércitos com uma tática diferente.
5 - Porque Machiavelli acreditava que essa era à hora mais adequada para eleger um novo príncipe na Itália?
Porque é como ele disse que para conhecer a virtude de Moises foi necessário que o povo de Israel estivesse escravizado no Egito. E a Itália estava na mesma situação, escravizada, oprimida necessitando de alguém que a redima dessas crueldades e insolências bárbaras.
6 - O que era necessário em primeiro lugar à Itália fazer para redimir as suas províncias?
Prover de tropas próprias, pois não se pode conseguir outras mais fiéis e mais seguras, nem melhores soldados e seguir aqueles homens excelente como Moises, Ciro etc.