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JUSTIÇA E DIÁLOGO SOCIAL F7 (1)

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Justiça e 
diálogo sociaL
O Sistema de Justiça 
Gustavo Raposo Pereira Feitosa
ESTA PUBLICAÇÃONÃO PODE SER COMERCIALIZADA
GRATUITA
7
Sumário
 1. O Sistema de Justiça.............................................................................................99
 2. Polícias ....................................................................................................................99
 3. Ministério Público ................................................................................................ 103
 4. Advocacia ............................................................................................................. 106
 5. Advocacia Pública ............................................................................................... 108
 6. Defensoria Pública ............................................................................................... 109
 Conclusão .............................................................................................................. 110
 Referências ............................................................................................................. 111
1. 
O Sistema 
de Justiça
A ideia de Justiça encontra-se marcada 
pela associação com tribunais, magis-
trados e salas julgamento. Poucas pes-
soas compreendem que o trabalho de 
garantir justiça ou assegurar a chamada 
prestação jurisdicional implicam num 
conjunto amplo e articulado de ativida-
des desenvolvidas por múltiplas insti-
tuições. Como julgar e condenar uma 
pessoa acusada de um crime sem o tra-
balho de investigação da Polícia Civil ou 
de segurança ostensiva feito pela Polícia 
Militar? Como imaginar um processo ju-
dicial sem alguém para oferecer uma de-
núncia e sustentar a acusação perante o 
Judiciário? Ao mesmo tempo, como se 
poderia realizar verdadeira justiça sem o 
acesso a um advogado ou a um defensor 
público apto a defender os direitos do réu 
e garantir um processo justo?
A esse conjunto de atores institu-
cionais integrados chamamos de Sis-
tema de Justiça. Até o final dos anos 
de 1990, a maior parte das discussões 
sobre os problemas judiciais brasileiros 
girava em torno do papel do Judiciário. 
Nos anos 2000, em particular após a 
Reforma do Judiciário de 2004 1, intro-
duzida pela Emenda Constitucional n. 45, 
consagrou-se a compreensão de que a 
evolução e o aprimoramento do funcio-
namento de nossas instituições depen-
deriam da adoção de um novo modelo. 
Passou-se, assim, a usar o conceito de 
Sistema de Justiça, como expressão de 
um conjunto articulado de organizações 
dedicadas à complexa tarefa de assegu-
rar justiça e a proteção dos direitos do 
cidadão em múltiplas dimensões. 
Um conceito que parece tão singelo 
e óbvio, na realidade, acarreta uma gran-
de revolução sobre a forma de gestão 
de questões importantes para a vida de 
todas as pessoas. Combate ao crime, 
acesso à saúde, vagas na escola pública, 
oferta de tratamentos, proteção ao con-
sumidor, defesa judicial dos mais pobres, 
garantia de um processo judicial justo, 
rejeição à tortura e outras formas de vio-
lência, dentre diversas questões, passa-
ram a ser vistas como problemas que en-
volvem o Judiciário e seus magistrados, 
mas também promotores, procuradores, 
advogados, defensores e policiais. Para 
compreender melhor esse sistema, va-
mos estudar cada alguns destes agentes 
públicos e suas instituições. 
2. 
Polícias
As primeiras instituições policiais brasi-
leiras nasceram com a chegada da Cor-
te Portuguesa ao Brasil em 1808. Neste 
momento, o Rei de Portugal e milhares de 
autoridades e nobres precisaram fugir da 
Europa em razão do avanço das tropas de 
Napoleão sobre a Península Ibérica. Com 
esse deslocamento rápido e forçado, a 
cidade do Rio de Janeiro, então capital 
deste domínio colonial chamado Brasil, 
precisou adaptar-se para o recebimento 
da elite imperial. Nobres e autoridades ci-
vis deveriam se instalar numa cidade com 
precária infraestrutura urbana, com uma 
população majoritariamente formada por 
africanos escravizados e estrangeiros. 
1 A Reforma do Judiciário, aprovada por 
meio da Emenda Constitucional nº. 45 
de 2004, teve como pontos centrais a 
criação do Conselho Nacional de Justiça 
(CNJ) e Conselho Nacional do Ministério 
Público (CNMP). Os dois Conselhos têm 
como principais atribuições o controle 
disciplinar dos membros do Judiciário e do 
Ministério Público e a criação, implantação 
e acompanhamento de políticas públicas 
para o Sistema de Justiça. 
JUSTIÇA E DIÁLOGO SOCIAL 99
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE100
Criou-se, então a Guarda Real de 
Polícia, vinculada à Intendência Geral da 
Cidade do Rio de Janeiro, que seguia o 
modelo já adotado em Lisboa. A Inten-
dência funcionava como uma espécie 
de prefeitura ampliada, com enormes 
poderes para gerenciar a cidade em to-
dos os seus aspectos, como limpeza, 
construção, abastecimento e seguran-
ça. As principais funções desta guar-
da consistiam em manter a ordem na 
cidade e cumprir as determinações do 
intendente. Os guardas deveriam pos-
suir a força física necessária para usar 
a violência quando necessário, contudo 
não recebiam qualquer forma de trei-
namento ou formação específica. Não 
existia o conceito de polícia profissional 
ou técnica. Os salários destes guardas 
eram muito pequenos e ainda gozavam 
de baixo status social.
Os registros do século XIX revelam 
muitos relatos de uso excessivo de for-
ça, especialmente sobre a população 
pobre e negra. Esse padrão não é de se 
estranhar, tendo em vista a função da 
instituição numa sociedade estrutura-
da em torno da escravidão. A rotina de 
manutenção da ordem na cidade envol-
via a vigilância constante da circulação 
de pessoas nas ruas, a punição rápida 
e severa de qualquer comportamento 
considerado desviante e uma grande 
concentração da repressão em delitos 
como “capoeira”, “comportamento es-
candaloso”, brigas etc. A opção pelo 
modelo militarizado e fardado des-
ta guarda decorria da necessidade de 
manter a disciplina interna da própria 
tropa. Por se tratar de um conjunto de 
homens livres e podres, com baixa re-
muneração e sem treinamento especial, 
utilizava-se a rígida hierarquia militar 
para tentar evitar que os guardas fugis-
sem ao controle das autoridades.
A opção por polícias militarizadas 
expandiu-se posteriormente para as 
províncias do Império brasileiro após a 
independência. Em grande medida, a 
criação destas polícias provinciais ocor-
reu no Período Regencial (1831-1840), 
quando as incertezas, instabilidades e 
lutas regionais demandavam a presença 
de uma força armada local. Um exemplo 
desta fase é a Polícia Militar do Ceará, 
criada em 1835, no contexto de descen-
tralização política da Regência. A estru-
tura militar fortalecia o controle sobre 
os praças e ainda se mostrava útil em 
situações de conflito armado aberto ou 
guerra. As polícias militares das provín-
cias atuavam na segurança das cidades, 
mas com frequência eram emprega-
das como um exército. Esse tipo de uso 
continuou a acontecer ao longo de boa 
parte da história brasileiro, contudo foi 
se reduzindo durante o século XX. Não 
obstante, a Constituição Federal de 1988 
trata ainda as polícias militares como 
forças auxiliares e reserva do Exército 
(Constituição Federal, art. 144, parágrafo 
6º) e preservou o modelo militarizado de 
policiamento ostensivo.
No mesmo cenário de transforma-
ções ocorridas em razão da chegada 
da Corte Portuguesa ao Rio de Janeiro, 
surgiu o embrião das atuais polícias ci-
vis. Dentro do largo espectro de ativida-
des da Intendência, também se inseriam 
atividades judiciais. Para os pequenos 
delitos cotidianos, não havia clara sepa-
ração entre polícia e justiça. A prisão po-
JUSTIÇA E DIÁLOGO SOCIAL 101
deria ser seguida de uma determinação 
sumária de pena, com punições curtas e 
violentas. Não havia a pretensão de fixa-
ção de penas longas de prisão. O objeti-
vo era preservar a ordem na cidade, com 
a devolução das pessoasescravizadas 
aos seus senhores, a permanência breve 
em prisões terríveis, os trabalhos força-
dos em obras públicas ou a imposição de 
incorporação no Exército. 
Não existia o conceito hoje presen-
te de polícia investigativa e não se pre-
tendia coletar provas para instruir um 
processo judicial. Os juízes eram regu-
larmente designados como chefes de 
polícia. Ao longo do século XIX, não era 
incomum que o exercício da função de 
delegado precedesse uma designação 
para um cargo de juiz. Não se pode afir-
mar, contudo, que havia uma polícia civil 
durante o Império. O mais próximo que 
havia desta ideia eram as Guardas Civis, 
criadas para realizar ou aprimorar o poli-
ciamento urbano. Por vezes, sua criação 
ocorria em razão da crítica ao funciona-
mento das guardas ou polícias militares. 
Em 1871 ocorreu no país uma grande 
Reforma do Judiciário destinada a se-
parar as atividades judiciais da atuação 
policial, fortalecendo o desenvolvimento 
de um modelo de justiça independente. 
Como parte desse processo, criou-se o 
desenho institucional que originou a for-
ma atual das polícias civis. Criaram-se 
os cargos de delegados e subdelegados, 
com a competência para coletar provas, 
investigar crimes, colher depoimentos, 
ouvir testemunhas, entre outras funções 
mantidas até os dias atuais. Nasceu tam-
bém o inquérito policial, instrumento jurí-
dico utilizado pelos delegados de polícia 
para sistematiza e documentar as provas 
coletadas ao longo da sua investigação e 
remeter o Judiciário.
Com base nos elementos criados 
em 1871, desenvolveu-se a ideia de que 
cabe aos policiais oferecer os elemen-
tos iniciais necessários ao Ministério 
Público e ao Judiciário para a realiza-
ção de um processo judicial que, por 
fim, poderá implicar na condenação ou 
absolvição de um criminoso. Nas dé-
cadas seguintes, especialmente após a 
Proclamação da República, as policiais 
civis assistiram a uma gradual trajetória 
de profissionalização, com a criação de 
carreiras e o início das primeiras tentati-
vas de formação técnica específica. Do 
aprofundamento desta divisão básica 
entre polícia militar e polícia civil nasceu 
o modelo organizacional dos órgãos de 
segurança pública do Brasil.
O modelo policial brasileiro estrutu-
ra-se, assim, a partir da divisão em duas 
funções básicas: policiamento ostensivo 
e polícia judiciária. O chamado policia-
mento ostensivo fica sob a responsa-
bilidade principal das polícias militares 
estaduais. A palavra “ostensivo” indica 
um tipo de atuação visível, explícita e 
observada pela população. Não por aca-
so, esse policiamento ocorre por meio 
da presença física de policiais fardados 
nas ruas das cidades. De outro modo, 
atuam as polícias civis como polícia ju-
diciária, investigando e coletando provas 
necessárias à elucidação dos crimes e à 
eventual condenação dos criminosos. A 
denominação polícia judiciária decorre 
exatamente desta relação com os pro-
cedimentos judiciários.
No âmbito federal, também existe 
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE102
a Polícia Federal, que atua como polícia 
judiciária, de maneira geral, em crimes 
cuja competência é atribuída à Justiça 
Federal. Enquanto a competência geral 
para a grande maioria dos crimes en-
contra-se sob a responsabilidade da 
Polícia Civil, cabe à Polícia Federal atuar 
apenas em casos específicos previstos 
na Constituição Federal de 1988 e na le-
gislação. Nem sempre é simples definir 
as fronteiras de atuação de cada uma 
destas polícias. Em situações em que o 
crime acontece contra o patrimônio da 
União, como nos casos de corrupção 
envolvendo verbas públicas federais, 
cabe à Polícia Federal atuar. Nos demais 
casos, em que os recursos públicos 
pertencem ao estado ou aos municí-
pios, cabe a polícia civil estadual.
Saiba mais
A estrutura básica da distribuição 
de responsabilidades entre os 
órgãos de segurança pública no 
Brasil está prevista no artigo 144 
da Constituição Federal de 1988. 
No cotidiano do cidadão, a Polícia 
Militar responde aos chamados imedia-
tos em qualquer situação na qual um 
crime está em curso. Na ocorrência de 
furtos, roubos e homicídios, ou ainda 
em situações mais corriqueiras como 
uma briga de vizinhos e tumultos de rua, 
cabe à Polícia Militar atuar. Esta polícia 
pode (e deve) também agir de maneira 
preventiva. A mais moderna orientação 
para atuação na segurança pública con-
siste em coletar a maior quantidade de 
informações criminais possíveis, a fim de 
intervir antes que os crimes aconteçam, 
impedindo sua realização ou prendendo 
os criminosos de maneira mais eficaz.
Outras instituições também preci-
sam ser lembradas dentro deste sistema. 
No âmbito federal, existe a polícia rodo-
viária federal, com competência para 
atuar nas áreas das rodovias federais. 
Trata-se de uma polícia com atuação 
predominantemente ostensiva, preve-
nindo ilícitos de trânsito na área das ro-
dovias, mas também reprimindo crimes 
diversos que ocorrem nestes espaços, 
como o transporte de entorpecentes. 
Na esfera municipal, podem existir 
as guardas civis metropolitanas, vin-
culadas às prefeituras municipais. Sua 
atuação decorre das competências mu-
nicipais específicas, como a fiscalização 
sobre o comércio ambulante, a preser-
vação do patrimônio público municipal 
e a guarda de prédios governamentais. 
JUSTIÇA E DIÁLOGO SOCIAL 103
Não se trata propriamente de uma po-
lícia, em sentido estrito, mas atua de 
forma ostensiva na repressão de certas 
atividades ilegais relacionadas à admi-
nistração da cidade.
Por fim, cabe lembrar do Corpo de 
Bombeiros, instituição essencial para 
a preservação de vidas em situações 
de emergência como incêndios, cala-
midades públicas, desabamentos en-
tre outras situações. Compete também 
ao corpo de bombeiros algumas ações 
preventivas, como fiscalizar o respeito 
à legislação de prevenção e combate ao 
incêndio em empreendimentos residen-
ciais, comerciais e industriais, dentre ou-
tras atribuições.
3. 
Ministério 
Público
A representação social mais conhecida 
da atuação da justiça consiste no julga-
mento em um Tribunal do Júri. Um gran-
de número de séries televisivas, novelas, 
filmes e livros apresenta o Júri Popular 
como a síntese do que seria o verdadeiro 
julgamento. E nesses casos, uma figura 
que ganha grande destaque é o promo-
tor de justiça. A acusação num Júri é fei-
ta por este membro do Ministério Público 
que representa a sociedade na busca da 
condenação de alguém acusado de um 
crime. Essa posição de acusador ajuda a 
entender melhor o significado do papel 
do Ministério Público no Sistema de Jus-
tiça brasileiro. Ao longo da maior parte 
da história brasileira, cabia aos promo-
tores o papel de acusador nos casos de 
processamento dos crimes. 
Saiba mais
O Ministério Público brasileiro 
pode ser dividido em Ministério 
Público dos Estados e Ministério 
Público da União. O Ministério Pú-
blico dos Estados é composto por 
Promotores de Justiça e Procura-
dores de Justiça. A carreira nos 
estados começa como promotor, 
normalmente numa cidade pe-
quena do interior, e segue, com 
sucessivas transferências, para 
cidades maiores e com organi-
zação judiciária mais complexas. 
O ponto culminante da carrei-
ra ocorre com a promoção para 
Procurador de Justiça. O chefe 
do Ministério Público nos estados 
é o Procurador Geral de Justiça. 
No âmbito da União, a carreira se 
inicia no cargo de Procurador da 
República e avança para o car-
go de Procurador Regional, até 
chegar no posto mais alto, como 
Sub-Procurador Geral. O chefe 
da Ministério Público Federal é o 
Procurador Geral da República. O 
Ministério Público da União con-
ta também com os seguintes ra-
mos: Ministério Público do Traba-
lho (com atuação junto à Justiça 
do Trabalho), Ministério Público 
Militar (com atuação junto à Jus-
tiça Militar da União) e Ministério 
Público do Distrito Federal e Ter-
ritórios (com atuação na Justiça 
do Distrito Federal). Estas três di-
visões têm importantes funções, 
contudo possuemuma menor 
dimensão dentro da estrutura 
maior do MP. 
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE104
O sistema brasileiro adotou um mo-
delo em que as provas coletadas pela 
polícia seguiam para o Judiciário, que 
as encaminhava para o Ministério Pú-
blico para oferta de uma denúncia, ou 
seja, para a formalização de uma acu-
sação perante um juiz. Com algumas 
alterações, manteve-se esse sistema 
que atribui aos promotores e procurado-
res o poder de pleitear a condenação de 
uma pessoa (ou grupos de pessoas) em 
razão de algum delito cometido. Assim, 
se a polícia prende alguém por cometer 
um crime de estelionato, deverá haver 
a sistematização e documentação das 
provas coletadas na forma de um inqué-
rito policial. De maneira simplificada, é 
possível dizer que esse material servirá 
de base para o MP denunciar o acusado 
no Judiciário e submetê-lo a um proces-
so em que deve ser assegurado o direito 
ao contraditório, à ampla defesa e todas 
as demais garantias constitucionais. Ao 
término deste processo, o réu poderá 
ser condenado ou absolvido. No caso 
de crimes dolosos contra a vida, como 
é o caso do homicídio, esse julgamento 
ocorrerá perante um júri de pessoas do 
povo, que terão a palavra final sobre a 
conduta do réu.
Curiosidade
O Ministério Público ou MP cos-
tuma ser chamado de “Parquet”. 
Essa palavra de origem francesa 
também serve para designar piso 
ou assoalho. Parece estranho, 
mas essa associação possui ori-
gens históricas. Na França, os 
membros do MP ficavam de pé 
perante o juiz, numa área reser-
vada ou no piso. Promotores e juí-
zes na França e em outros países 
europeus são considerados igual-
mente como magistrados. Assim, 
criou-se uma tradição de chamar 
o promotor de “magistrado de 
pé” ou aquele que fica no “par-
quet”. Até hoje se utiliza na rotina 
forense a expressão “Membro do 
Parquet” para designar promoto-
res e procuradores da República 
ou ainda “Parquet” como sinôni-
mo de Ministério Público.
Não obstante essa marcante atua-
ção do MP como responsável pela acu-
sação, o Ministério Público possui uma 
ampla gama de competências de grande 
relevância. Uma das mais marcantes con-
siste na atribuição de agir como fiscal da 
lei ou “custos legis”. Em todos os proces-
sos judiciais em curso no país, pode ha-
ver a necessidade de se assegurar o fiel 
cumprimento da lei e a proteção de pes-
soas vulneráveis. Quando estas situações 
acontecem, o juiz remete o processo ao 
promotor ou procurador para que ele ve-
rifique se há realmente interesse público 
ou se deve haver uma intervenção para 
garantir o cumprimento das normas. A 
situação mais comum para esses casos 
ocorre em processos que lidam com di-
reitos de menores. Para evitar que os in-
teresses desses menores sejam prejudi-
cados numa disputa em que somente os 
adultos se expressam, o membro do MP 
intervém como “custos legis”.
Outras funções de destaque do Mi-
nistério Público decorrem das transfor-
mações trazidas pela redemocratização 
do país e pela Constituição Federal de 
1988. Até os anos de 1980, o Ministério 
Público possuía uma feição comple-
tamente diferente da atual e mantinha 
uma atuação muito limitada. Ocorria 
com frequência uma confusão entre as 
JUSTIÇA E DIÁLOGO SOCIAL 105
funções de proteção dos interesses da 
sociedade e a defesa do Estado e dos 
gestores públicos. Ao mesmo tempo, 
surgiam novos direitos que exigiam um 
outro tipo de atuação para sua prote-
ção, como é o caso do direito ambiental 
e do direito do consumidor.
Imaginem como seria difícil para 
um cidadão comum ingressar em juízo 
para tentar fazer valer a lei ambiental 
ou exigir a reparação de um dano que 
na realidade afeta toda a coletividade. 
Como seria possível exigir uma indeni-
zação em razão do despejo de produtos 
químicos perigosos na natureza, mas 
que só vão levar a efeitos visíveis nos 
indivíduos após vários anos? Qual a jus-
tificativa para processar uma empresa 
que cobra indevidamente alguns cen-
tavos de cada consumidor, mas que na 
soma geral pode levar a danos de mui-
tos milhões? Nestes exemplos, podem 
ser vistas situações novas que estavam 
surgindo e que não encontravam ins-
trumentos adequados de defesa dentro 
das nossas instituições.
O fim da ditadura militar de 1964, o 
debate da redemocratização, os novos 
direitos e a perspectiva de uma nova 
constituinte levaram a uma ampla dis-
cussão sobre a importância de fortalecer 
instituições que assegurassem a pro-
teção dos direitos dos cidadãos. Várias 
ideias e propostas surgiram ao longo 
dos anos de 1980, mas prevaleceu na 
constituinte a proposta de fortalecer o 
Ministério Público e consagrá-lo como 
instituição permanente responsável pela: 
“[...] defesa da ordem jurídica, do regime 
democrático e dos interesses sociais e 
individuais indisponíveis.” (Constituição 
Federal de 1988, art. 127)
O resultado desta opção pode ser 
observado na grande quantidade de 
ações protagonizadas por promotores 
e procuradores na defesa do direito à 
educação, como no caso da exigência 
de vagas em escolas públicas para as 
crianças, na garantia do direito à saúde, 
em situações de falta de medicamen-
tos, tratamentos e leitos hospitalares 
nos hospitais públicos, na repressão 
aos crimes ambientais que afetam toda 
a coletividade, dentre outros múltiplos 
exemplos. Somem-se a isso, as inicia-
tivas de grande destaque destinadas a 
proteger o patrimônio público e a mo-
ralidade administrativa.
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE106
4. 
Advocacia
A construção das instituições brasileiras 
após a independência contou com ativa 
participação dos bacharéis em Direito. 
Como parte do legado colonial, o Brasil 
manteve a tradição de utilizar o curso de 
Direito como um espaço de formação 
dos quadros da elite nacional. Os prin-
cipais postos em todas as esferas do 
Estado eram ocupados por um grande 
número de bacharéis. Ao longo da do-
minação portuguesa, todos os jovens 
que pretendessem seguir uma carreira 
de status e prestígio dentro da Adminis-
tração precisavam seguir para Portugal e 
estudar na Universidade de Coimbra. 
Ao tornar-se independente, o Brasil 
precisava desenvolver sua própria es-
trutura de formação dos jovens neces-
sários à administração do Império. Op-
tou-se pela criação de duas faculdades 
de Direito, estabelecidas em 1827 nas 
cidades de São Paulo e Olinda. A posi-
ção estratégica dos dois cursos distri-
buía a formação em dois espaços desti-
nados aos jovens do norte e do sul (não 
se falava ainda em Nordeste e Sudeste 
no século XIX). Dos bancos destas ins-
tituições saiu a maior parte das pessoas 
responsáveis pela condução do Brasil 
ao longo do seu período monárquico. Na 
primeira metade do século XIX, boa par-
te destes jovens bacharéis seguia para 
funções dentro do Judiciário e transita-
va em outros cargos de relevo. Mesmo 
sendo juízes, esses bacharéis também 
participavam da política e constituíam 
um bloco dominante dentro do parla-
mento brasileiro no Império.
Aos poucos, a presença dos magis-
trados na política foi diminuindo, contudo 
os bacharéis continuaram participando 
em todas as esferas de poder e nos mo-
mentos históricos mais importantes. No 
século XIX, ser bacharel representava 
fazer parte de um grupo muito restrito de 
pessoas com acesso ao curso superior 
no Brasil. E por ser um grupo pequeno 
que ocupava postos de destaque, não 
havia grande presença dos bacharéis na 
advocacia. Pode parecer estranho, mas 
não era necessário ser formado em Direi-
to para exercitar a advocacia. Na falta de 
advogados, as pessoas recorriam aos rá-
bulas 2, profissionais com conhecimentos 
práticos da vida forense e da legislação 
e que conseguiam traduzir as demandas 
dos indivíduos em linguagem jurídica.
A defesa de direitos em juízo exi-
ge um conjunto complexo de conheci-
mentos e o domínio de uma linguagem 
própria pouco acessível à maioria das 
pessoas. Ter acesso a um profissional 
do Direito constituía um privilégio para 
poucos e a carência de profissionaisou 
de recursos financeiros criava um espa-
ço de ação propício para os rábulas. Mas 
isso gerava também muitas críticas, 
como à falta de conhecimento jurídico 
destes profissionais e o desprestígio da 
advocacia. Ao mesmo tempo, eles po-
deriam ser vistos como ocupantes de 
um mercado de trabalho que pertence-
ria aos bacharéis.
2 Luiz Gama e a luta abolicionista 
O ingresso na Faculdade de Direito não 
se mostrava uma opção viável para a 
maioria dos jovens brasileiros, mesmo 
para quem possuía grande talento e 
capacitação compatível. Um exemplo 
inspirador pode ser visto na história de 
Luiz Gama. Nascido em 1830, filho de um 
fidalgo branco e de uma mulher negra 
livre, Luiz Gama acabou sendo vendido 
como escravo pelo próprio pai. Contra 
todas as probabilidades, aprendeu a 
ler e escrever, lutou para provar sua 
condição de homem livre e tentou cursar 
Direito em São Paulo. Foi hostilizado, 
atacado e maltratado por professores e 
alunos. Mesmo sem cursar formalmente 
uma faculdade, destacou-se por seu 
profundo conhecimento jurídico, por sua 
argumentação poderosa e pela militân-
cia na causa abolicionista. Advogava 
como rábula para negros escravizados 
e pleiteava, pelos mais diversos meios 
jurídicos, o reconhecimento judicial da 
liberdade de quem o procurava. 
JUSTIÇA E DIÁLOGO SOCIAL 107
Curiosidade
Algumas das mais importantes 
figuras da vida política, cultural e 
artística do país cursaram Direito. 
Rui Barbosa e Clóvis Beviláqua 
são exemplos importantes de 
juristas que deixaram sua marca 
na história do país. Não obstan-
te, existem muitos bacharéis que 
ficaram conhecidos em áreas 
muito distantes do Direito, como 
o escritor Jorge Amado, os poe-
tas Vinicius de Moraes e Castro 
Alves, o ator Mário Lago, dentre 
outros. A frequência com que 
isso acontecia decorria das pou-
cas opções de formação dispo-
níveis ou “aceitáveis” para os jo-
vens brasileiros da classe média 
ou de famílias ricas. Para quem 
tivesse maior afinidade com a li-
teratura ou com as artes, o curso 
de Direito seria praticamente o 
único caminho. As outras opções 
de formação com prestígio e sta-
tus social eram os cursos de me-
dicina e engenharia. Na prática, 
o curso de Direito pouco servia 
para estes jovens, que acabaram 
utilizando seu talento e arte em 
outras áreas.
O empenho dos bacharéis em criar 
alguma forma de regulamentação da 
profissão de advogado e a inspiração de 
experiências estrangeiras impulsionou a 
criação em 1843 do Instituto dos Advo-
gados Brasileiros (IAB). Por muitas déca-
das, o IAB lutou pela elaboração de uma 
lei que instituísse um estatuto profissio-
nal próprio para a advocacia. Somente 
em 1930, durante o Governo Provisório 
instaurado por Getúlio Vargas publicou-
-se o Decreto n. 19.408 , que instituiu a 
Ordem dos Advogados Brasil (OAB), e 
em 1933 realizou-se a primeira sessão 
do Conselho Federal da OAB.
O acolhimento pelo governo Vargas 
de uma demanda histórica da advoca-
cia, como é caso da criação da OAB, não 
implica dizer que a relação entre o novo 
regime e os advogados foi tranquila. Com 
a expansão da repressão política, espe-
cialmente após o estabelecimento da di-
tadura do Estado Novo em 1937, cresceu 
o número de prisões arbitrárias, persegui-
ções e torturas, em meio a um ambiente 
conturbado por guerras externas, temor 
do nazismo e do comunismo e instabili-
dades internas. As prisões políticas foram 
continuamente combatidas por meios le-
gais e processuais pelos advogados, que 
usavam os tribunais para tentar livrar seus 
clientes do cárcere e da tortura. 
Essa atuação dos advogados na de-
fesa dos perseguidos políticos do Estado 
Novo tem seu exemplo mais famoso na 
argumentação desenvolvida por Sobral 
Pinto. Católico fervoroso e notório crí-
tico do comunismo, assumiu a defesa 
de Harry Berger e Luiz Carlos Prestes, 
dois comunistas. Em petição dirigida ao 
Tribunal de Segurança Nacional (TSN), 
criado especificamente para combater 
o que seriam as ameaças à segurança 
do país, Sobral Pinto exigiu a aplicação a 
“Lei de Proteção aos Animais” para o seu 
cliente, Harry Berger. O pedido aparente-
mente absurdo, punha em evidência as 
condições brutais da prisão e da tortura à 
qual foi submetido o preso. Por ser cató-
lico e conservador, Sobral Pinto chegou 
a apoiar o Golpe Militar de 1964, mas não 
tardou a rejeitar as práticas do novo re-
gime e assumiu novamente a defesa dos 
perseguidos. Manteve-se firme como 
símbolo da advocacia na defesa dos di-
reitos humanos.
Esse tipo de postura não foi inco-
mum nos momentos mais autoritários 
do país. Ao longo da Ditadura Militar de 
1964, muitos advogados mantiveram 
postura firme na defesa das vítimas da 
perseguição política e da repressão. Al-
guns chegaram a ser presos. Em 1980, 
nos anos finais da Ditadura, a OAB so-
freu com um atentado a bomba, atribuí-
do aos órgãos de repressão, que vitimou 
a secretária da instituição, Lyda Monteiro 
da Silva, num contexto em que a Ordem 
buscava identificar os autores de um ata-
que ao jurista Dalmo Dallari. A marcante 
atuação da OAB e dos advogados no 
processo de redemocratização, na defe-
sa dos Direitos Humanos e na Campanha 
pelas Diretas serviram de referência para 
a consolidação da instituição como um 
espaço de expressão das demandas da 
sociedade brasileiro. Não se tratava mais 
apenas de defender a classe dos advo-
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
gados ou seus interesses profissionais e 
corporativos, porém de contribuir com a 
consolidação das instituições democrá-
ticas do país. 
Com esse espírito, a Constituição 
Federal de 1988 reconheceu em seu ar-
tigo 133 que: “O advogado é indispen-
sável à administração da justiça, sendo 
inviolável por seus atos e manifestações 
no exercício da profissão, nos limites da 
lei.” E no mesmo sentido, o Estatuto da 
Advocacia (Lei n. 8.906/1994) estabe-
lece no artigo 2º que “[...] o advogado 
presta serviço público e exerce função 
social.” Para alguns, a advocacia pode 
parecer apenas mais um serviço profis-
sional, todavia sua existência lança raízes 
muito mais profundas no funcionamento 
da Justiça. O advogado em seu trabalho 
oferece uma porta de entrada ao Siste-
ma de Justiça, abre um via para a ga-
rantia dos diretos do cidadão, auxilia na 
correção de erros e abusos do Estado e 
pode colaborar diretamente no bom fun-
cionamento do Judiciário.
Saiba mais
A Ordem dos Advogados do Bra-
sil atua como um conselho pro-
fissional, contudo ao longo da 
história atribuiu-se à OAB a res-
ponsabilidade de contribuir com 
a qualidade e continuidade das 
instituições democráticas e da 
ordem constitucional do país. O 
artigo 44 do Estatuto da Advoca-
cia (Lei n. 8.906/1994) deixa bem 
clara essa atribuição:
Art. 44. A Ordem dos Advoga-
dos do Brasil (OAB), serviço pú-
blico, dotada de personalidade 
jurídica e forma federativa, tem 
por finalidade:
I - defender a Constituição, a 
ordem jurídica do Estado demo-
crático de direito, os direitos hu-
manos, a justiça social, e pugnar 
pela boa aplicação das leis, pela 
rápida administração da justiça e 
pelo aperfeiçoamento da cultura 
e das instituições jurídicas;
II - promover, com exclusivida-
de, a representação, a defesa, a 
seleção e a disciplina dos advo-
gados em toda a República Fe-
derativa do Brasil.
5.
Advocacia 
Pública
O fortalecimento do Ministério Público 
e a reorganização administrativa trazida 
pela Constituição Federal de 1988 levou à 
necessidade de criação de órgãos espe-
cializados na defesa e representação dos 
interesses da Administração Pública na 
esfera judicial e extrajudicial. No âmbito 
da União, essa modalidade de advocacia 
pública se realiza por meios das carrei-
ras de Procurador Federal, Advogado 
da União, Procurador do Banco Central 
e Procurador da Fazenda Nacional. Os 
cargos destas carreiras são ocupados 
por bacharéis em direito concursados 
que atuam no âmbito judicial e adminis-
trativo em ações que tenham a União 
como parte ou interessada, bem como 
em situações que exijamuma avaliação 
sobre a regularidade de atos administra-
tivos diversos, dentre outras circunstân-
cias. Também cabe a tais profissionais a 
execução judicial das dívidas tributárias. 
Vale ressaltar que, apesar da semelhan-
ça nas designações, estes procuradores 
não integram o Ministério Público e não 
devem ser confundidos com os procura-
dores da República
Os estados mantêm procuradorias 
estaduais responsáveis pelas mesmas 
funções realizadas pelo conjunto das 
carreiras da advocacia pública da União. 
Os procuradores estaduais defendem 
judicial e extrajudicialmente os interes-
ses da Administração Pública nos esta-
dos, atuam como consultores jurídicos, 
além de lidar com a execução das dívi-
das tributárias.
108
JUSTIÇA E DIÁLOGO SOCIAL 109
Na esfera municipal, não há uniformi-
dade quanto às estruturas da advocacia 
pública. Munícipios maiores e melhor es-
truturados possuem, via de regra, carrei-
ras próprias de procuradores municipais 
concursados com atividades equivalentes 
aos procuradores estaduais. Não obstan-
te, há muitos municípios que não criaram 
cargos permanentes de procurador e se 
utilizam de contratos com escritórios par-
ticulares de advocacia ou nomeiam advo-
gados para cargos de caráter temporário.
Vale salientar que a advocacia públi-
ca não se confunde com a defesa do inte-
resse do gestor em exercício do mandato. 
Sua atuação pode acontecer nos três po-
deres, especialmente quanto à atividade 
consultiva. Na sua atuação deve preva-
lecer sempre o interesse público como 
princípio vetor da administração.
A advocacia pública exerce função 
central dentro do Sistema de Justiça, 
especialmente pelo grande volume de 
ações que tem como autor ou réu algum 
ente público. Ilegalidades, irregularida-
des administrativas ou uma tendência 
ao excesso de litigiosidade podem aca-
bar gerando uma avalanche de ações na 
Justiça, diminuindo a eficiência de todo o 
sistema e negando ao cidadão o exercí-
cio dos seus direitos.
Iniciativas pioneiras dos procura-
dores, junto com outras instituições de 
dentro e de fora do Sistema de Justiça, 
têm visado racionalizar o uso das ações 
contra a Administração. Um exemplo 
importante é a chamada judicialização 
da saúde, que tem sido evitada com um 
melhor diálogo entre Procuradoria, MP, 
Defensoria, Judiciário e o cidadão. Outro 
exemplo importante é a criação de câma-
ras de mediação e conciliação para solu-
ção de conflitos com a Administração.
6. 
Defensoria 
Pública
As Revoluções Liberais trouxeram em 
seu cerne a afirmação do princípio da 
separação de poderes e uma ampla lis-
ta de direitos considerados essenciais. 
Um dos direitos mais importantes para 
construção desse novo Estado após o 
século XVIII consiste exatamente no di-
reito a um processo justo. Como pensar 
a sujeição a um processo judicial em que 
se pode perder a liberdade, os bens ou 
mesmo a vida sem contar com uma de-
fesa técnica? Ao mesmo tempo, como 
se pode afirmar que o cidadão possui 
direitos sem que ele tenha a possibilida-
de de exigir sua aplicação por meio de 
um juiz imparcial?
Essa problemática produz uma 
constante tensão com os elementos 
fundamentais de um Estado que se pre-
tenda republicano, democrático e ga-
rantidor de direitos. Sobressaem destas 
questões a percepção que não existem 
direitos se as pessoas não são dotadas 
de meios para acessar a Justiça em 
busca da sua proteção. Os países en-
frentaram o problema do acesso à jus-
tiça com soluções diferentes, de acordo 
com o contexto e as características de 
cada lugar. Para alguns, a solução en-
volveu o pagamento pelo Estado de ad-
vogados particulares para a defesa dos 
mais pobres. Em outros lugares, optou-
-se pelo suporte a organizações da so-
ciedade civil, como ONGs. 
No Brasil, ao longo da maior parte 
da nossa história, negou-se a maioria da 
população o acesso à justiça em todas 
as suas dimensões. O Judiciário somen-
te recebia os mais pobres como réus em 
casos criminais e em situações extremas 
envolvendo família ou patrimônio. Não ha-
via advogado pago pelo Estado e mesmo 
em casos criminais a negação do direito à 
defesa técnica era a regra. Optou-se, en-
tão pela criação de uma instituição pública 
permanente para realizar essa “advocacia 
dos necessitados”. Ao longo do século 
XX, os Estado foram criando instituições 
dedicadas à garantia do acesso à justiça. 
Na maior parte dos casos, contavam com 
estrutura precária, remuneração reduzida 
e muitas limitações quanto ao escopo da 
assistência. Prevalecia a ideia de assistên-
cia judicial aos pobres, especialmente nos 
casos criminais.
A Constituição Federal de 1988, to-
davia, mudou completamente o cenário 
das defensorias. Na esteira do debate 
sobre quem deveria defender os inte-
resses da sociedade, prevaleceu a atri-
buição desta competência para o MP. 
Não obstante, o constituinte previu a 
criação de defensorias públicas em to-
dos os estados e o direito fundamental 
à assistência jurídica integral e gratuita. 
Como resultado, inseriu-se a Defensoria 
em um novo patamar.
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE110
Por meio de mobilizações dos de-
fensores e de diversos setores da so-
ciedade civil caminhou-se lentamente 
para a estruturação de uma instituição 
permanente, profissional e com compe-
tências muito mais amplas. O paradig-
ma da defesa judicial dos necessitados 
foi superado e um modelo de assesoria 
integral, judicial e extrajudicial, orienta-
do para a defesa dos direitos individuais 
e coletivos emergiu. A Defensoria Pú-
blica age como instrumento de forta-
lecimento da democracia, lutando por 
grupos vulneráveis, repelindo abusos 
da própria Administração e contribuin-
do diretamente para a concretização 
dos direitos previstos na Constituição. 
Suas funções dialogam e complemen-
tam com parte das competências do 
MP, apesar de, em muitos momentos, 
situarem-se em polos opostos, como 
nos processos criminais.
A Defensoria integra-se, assim, 
neste grande Sistema de Justiça do país, 
como uma parte fundamental para a 
transformação da realidade e constru-
ção de uma Justiça célere e eficaz.
Saiba mais
Constitução Federal De 1988
ART. 5º. LXXIV. O Estado prestará 
assistência jurídica integral e gra-
tuita aos que comprovarem insu-
ficiência de recursos;
Art. 134. A Defensoria Pública é 
instituição permanente, essencial 
à função jurisdicional do Estado, 
incumbindo-lhe, como expres-
são e instrumento do regime de-
mocrático, fundamentalmente, a 
orientação jurídica, a promoção 
dos direitos humanos e a defe-
sa, em todos os graus, judicial e 
extrajudicial, dos direitos indivi-
duais e coletivos, de forma inte-
gral e gratuita, aos necessitados, 
na forma do inciso LXXIV do art. 
5º desta Constituição Federal .
Conclusão
A consolidação da democracia e a bus-
ca pelo aprimoramento do Judiciário 
levou à transformação da forma como 
se organiza e realiza a Justiça no país. 
Supera-se um conceito de instituições 
isoladas e separadas, para criar um novo 
modelo de Sistema de Justiça. Com esse 
novo olhar, passa-se a pensar de forma 
mais profunda o papel do Ministério Pú-
blico, da polícia, da Advocacia (pública 
e privada) e da Defensoria. Cada uma 
destas instituições desenvolve um papel 
que repercute nas demais e leva a novas 
demandas para o próprio Judiciário. A 
gestão eficaz desse sistema e o traba-
lho para soluções inovadoras e criativas 
permitirá fortalecer as proteções aos ci-
dadãos e contribuir para a consolidação 
da democracia.
JUSTIÇA E DIÁLOGO SOCIAL 111
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Apoio Realização
GUSTAVO RAPOSO PEREIRA FEITOSA (Autor)
Graduado em Direito e mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Doutor em Ciências 
Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É professor Titular do Programa de Pós-Graduação 
(mestrado e doutorado) em Direito Constitucional e do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade de Fortaleza 
(Unifor). É professor adjunto de Direito Processual Civil na UFC. Coordena o mestrado profissional em Direito e 
Gestão de Conflitos na Unifor. Atuou como Professeur Invité na Université du Havre – França. É editor do periódico 
Pensar: revista de Ciências Jurídicas e lidera o grupo de Pesquisa “JET: Justiça em Transformação ”. Atua desde 
2004 como mediador profissional e como instrutor e formador de novos mediadores.
KARLSON GRACIE (Ilustrador)
Nasceu em Paulista, Pernambuco. Desenha desde criança. A arte e a leitura estiveram sempre presentes em sua 
vida. Filmes, desenhos animados, histórias em quadrinhos e videogames eram inspirações para desenhar. Integra 
o Núcleo de Design (NDE) da Fundação Demócrito Rocha, onde faz o que mais gosta: imaginar, criar e ilustrar.
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