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Psicologia da Educação - 3A Gardner

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importante-que-so-possa-ser-ensinado-de-uma-unica-maneira
Publicado em NOVA ESCOLA 18 de Setembro | 2018
Inteligências múltiplas
Howard Gardner: “Nunca
encontrei nada importante que só
possa ser ensinado de uma única
maneira”
Autor da teoria das inteligências múltiplas defende individualização e
pluralização da aprendizagem
Vinicius de Oliveira, do Porvir
Foto: Getty Images
“O lado bom e o ruim é que você pode resumir a minha teoria em uma frase. Pensávamos que havia
apenas uma maneira de ser inteligente, mas agora sabemos que existem várias”, diz o psicólogo
americano Howard Gardner. Autor da teoria das inteligências múltiplas, que estabelece que
inteligência é algo que vai muito além do que é medido nos testes de QI (quociente de inteligência),
Gardner é amplamente referenciado em diferentes áreas da psicologia e da educação, seja na
formulação de políticas públicas, currículos voltados ao desenvolvimento socioemocional ou em testes
vocacionais.
LEIA MAIS Howard Gardner: "É difícil fazer o certo se isso contraria os nossos interesses"
Seus estudos mostram que ao insistir em se concentrar nas habilidades linguísticas e lógico-
matemáticas, escolas deixam de prestar atenção a indivíduos que demonstram habilidades em outras
inteligências, como a espacial, a corporal-cinestésica, a musical, a interpessoal, a intrapessoal e a
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/conteudo/880/howard-gardner-e-dificil-fazer-o-certo-se-isso-contraria-os-nossos-interesses
naturalista. Afinal, diz Gardner, artistas, arquitetos, músicos, naturalistas, designers, dançarinos,
terapeutas e empresários contribuem para enriquecer o mundo em que vivemos. Só que isso não tem
recebido a devida atenção.
Em conversa com jornalistas antes de sua palestra no Congresso Socioemocional LIV 2018, promovido
em agosto pelo grupo Eleva Educação, no Rio de Janeiro (RJ), Gardner detalhou conceitos presentes no
livro “Estruturas da Mente – a Teoria das Inteligências Múltiplas”, lançado em 1983, que mais tarde deu
origem ao projeto “Trabalho do Bem” (“The Good Project“), desenvolvido na Universidade de Harvard,
nos Estados Unidos.
Antes de tudo, Gardner não vê sua teoria como única abordagem possível para famílias e educadores.
“Se você for um pai ou uma mãe, a primeira coisa que digo é que, se seu filho está se saindo bem nos
estudos, é melhor deixá-lo em paz e agradecer a Deus”, disse. Agora, se houver dificuldade de
aprendizado ou falta de motivação para estudar, ele sugere que um especialista seja procurado,
porque pais geralmente não possuem referência sobre quais inteligências podem ser mais bem
trabalhadas. “Muitos deles não possuem muitos filhos (para conseguir uma base de comparação) e
tendem a projetar experiências provenientes de seu perfil de inteligência.”
LEIA MAIS Criatividade abre as portas para melhor aprendizagem
Da mesma forma, reconhece que educadores não podem ser obrigados a trabalhar de acordo com
inteligências múltiplas, mas defende os benefícios quando são usados recursos para promover
individualização e pluralização da aprendizagem. O primeiro conceito tem a ver com aquilo que no
Porvir chamamos de personalização, ou seja, saber o que é melhor para cada aluno e ensinar de
acordo com seus interesses, de uma forma que faça sentido a ele. Por pluralização, Gardner explica
que o educador decide o que é realmente importante para os alunos conhecerem, aprenderem e
compreenderem. Essa informação precisa estar em uma variedade de formatos e mídias, abordando
assim as inteligências múltiplas. “Nunca encontrei nada importante que só possa ser ensinado de uma
única maneira”.
Para quem está quebrando a cabeça para construir um currículo, a partir das diretrizes da Base
Nacional Comum Curricular (BNCC), que leve em conta o desenvolvimento de competências, Gardner
deixou um importante recado. “Você pode ter todo o currículo socioemocional que você quiser, mas a
parte mais importante é como as pessoas se comportam”. Para o psicólogo, esse é o “currículo oculto”
que muitas vezes mal é notado nas escolas. “O que a criança realmente aprende é como os adultos
reagem quando um novo aluno chega à escola e como o corpo docente reage a um momento de crise
ou a um escândalo de fraude. Isso é o que chamo de currículo oculto”.
The Good Project, o Trabalho do Bem
Em 1995, ciente que suas ideias estavam sendo mal
interpretadas e usadas de forma a classificar e
segregar cidadãos de diferentes grupos étnicos,
Gardner se juntou a outros dois colegas, Mihaly
Csikszentmihalyi e William Damon, também
psicólogos da Universidade de Harvard, para criar o
The Good Project, uma plataforma que busca entender como as pessoas que anseiam fazer um
“trabalho do bem” obtêm sucesso ou fracassam em uma época em que tudo muda muito rápido; o
senso de tempo e espaço está sendo radicalmente alterado por causa da tecnologia; as forças do
mercado são muito poderosas e ainda não se sabe se existem forças contrárias com poder
equivalente.
“Quando vi que pessoas estavam usando minhas ideias de um jeito que não queria que acontecesse,
entendi que precisava conectar as múltiplas inteligências a um sistema de valores contendo o que
significa ser uma boa pessoa, um bom profissional e um bom cidadão”, disse Gardner. “Não é a mesma
coisa ser cada uma delas. Você pode ser um profissional muito bom, mas não um bom cidadão. Um
vizinho excelente, mas eu não te contrataria para ser meu médico.”
O trabalho começou com entrevistas aprofundadas com 1.500 pessoas de nove diferentes áreas
(jornalismo, genética, teatro, negócios, direito, medicina, filantropia e educadores de ensino
fundamental e de ensino superior). Dessa consulta, surgiram os três “Es” que formam os eixos do
projeto: excelência, ética e engajamento.
http://thegoodproject.org/
/conteudo/12394/criatividade-abre-as-portas-para-melhor-aprendizagem
https://bncc.novaescola.org.br/
Na sequência, foi produzido um material de referência (disponível apenas em inglês) com dilemas que
a equipe responsável afirma não ser um currículo puro e simples. “[O material] não foi projetado para
ser usado do começo ao fim. Tampouco é dirigido a um público específico – digamos, estudantes do
ensino médio, novatos em medicina ou gerentes de nível médio em uma empresa multinacional. Em
vez disso, é um conjunto de instrumentos cognitivos – um kit de ferramentas mentais, se preferir – que
podem ser usados, adaptados, revisados, adicionados, combinados e recombinados de acordo com os
propósitos do usuário”, descreve o sumário do documento.
Entre os exemplos, estão vários relacionados à educação, como o que coloca o leitor na posição de um
professor com muitos estudantes em sala de aula e alguns que dão mais trabalho. Quanto tempo deve
ser dedicado a esse grupo de estudantes? Se der boas notas a eles para facilitar a aprovação, como
ficarão seus valores pessoais e o que os alunos vão aprender sobre a necessidade de esforço para
conseguir resultados
A necessidade de falar desses três “Es” com estudantes também foi reforçada quando Howard
entrevistou jovens e descobriu que a noção de fazer o bem era relacionada a um momento da vida
futuro, com estabilidade financeira e sucesso profissional, em alusão aos valores do sonho americano.
“Muitos se distanciavam do modelo porque se viam em competição com os colegas, que também
buscam ser ricos e bem-sucedidos.”
Tais estudos levaram os psicólogos a desenvolver novos recursos voltados à sala de aula, como os
guias sobre colaboração e cidadania digital, que também se destinam a revelar o que está oculto em
escolas e demais organizações e trazer desafios atuais para serem discutidospor alunos ou equipes.
* Jornalista viajou a convite da Eleva Educação
* Reportagem publicada originalmente no site do Porvir
LEIA MAIS
Design Thinking: o que é e como usar em sala de aula
Howard Gardner, o cientista das inteligências múltiplas
Resenha do livro "Inteligências múltiplas ao redor do mundo", de Howard Gardner, Jie-Qi Shen e
Seana Moran
http://thegoodproject.org/projects/good-collaboration/
http://thegoodproject.org/toolkits-curricula/digital-literacy-and-citizenship-curriculum/
http://porvir.org/howard-gardner-e-o-trabalho-socioemocional-para-o-bem/
/conteudo/12457/design-thinking-o-que-e-e-como-usar-em-sala-de-aula
/conteudo/1462/howard-gardner-o-cientista-das-inteligencias-multiplas
/conteudo/1656/resenha-do-livro-inteligencias-multiplas-ao-redor-do-mundo-de-howard-gardner-jie-qi-shen-e-seana-moran

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