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PASSO-A-PASSO HUMANÍSTICAS 
VOLUME 2- NOÇÕES DE CIÊNCIA POLÍTICA 
 
CONTEÚDO E ROTEIRO DE 
ESTUDOS DE ACORDO COM O 
EDITAL DO VI CONCURSO PARA 
O CARGO DE DEFENSOR 
PÚBLICO FEDERAL 
www.cursocliquejuris.com.br 
De acordo com o Edital nº 2, de 29.6.2017 
Material elaborado pelo Curso Clique Juris 
Vedada a comercialização e compartilhamento 
 
 
 
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Sumário 
Orientações Gerais .................................................................................... 2 
PASSO-A-PASSO CIÊNCIA POLÍTICA ...................................................... 11 
1. Origem e conceito ............................................................................... 12 
2. Conceito de sociedade. ..................................................................... 16 
3. Conceito de Estado. ............................................................................ 18 
3.1. Acepções filosófica, jurídica e sociológica de Estado. ............. 19 
3.2 Elementos constitutivos. .................................................................... 22 
4. O povo ................................................................................................... 24 
4.1. Conceito jurídico. .............................................................................. 26 
4.2 Conceito político. .............................................................................. 27 
4.3 Conceito sociológico. ....................................................................... 29 
5 Conceito de nação. ............................................................................. 30 
6 O poder do Estado ................................................................................ 33 
6.1 Conceito. ............................................................................................. 34 
6.2 Legitimidade do poder político. ..................................................... 36 
6.3 A soberania. ........................................................................................ 40 
7. Regime, formas e sistemas de governo. .......................................... 45 
7.1 As origens da ordem política. .......................................................... 53 
8. Democracia. ......................................................................................... 65 
8.1 Democracia representativa e democracia deliberativa. ......... 67 
8.2 Função política das ouvidorias externas, conferências e 
audiências públicas. ................................................................................ 76 
9. Políticas públicas. ................................................................................. 85 
9.1 Conceito e espécies. ........................................................................ 86 
9.2 Fases: definição, implementação, monitoramento. ................... 96 
10 Grupos de pressão. ........................................................................... 104 
 
 
 
 
 
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Orientações Gerais 
 
Queridos alunos. 
É com grande satisfação que apresentamos a vocês o Passo-
a-Passo – Humanísticas (PAP HUMANÍSTICAS). 
O material foi elaborado pelo professor Igor Peçanha Frota 
Vasconcellos, bacharel em Direito pela UFF, advogado e 
mestrando em Ciências Jurídicas e Sociais (PPGSD/UFF). 
No material apresentado selecionamos o que é fundamental 
para fazer a prova da DPU/CESPE no que tange às 
humanísticas que englobam três disciplinas do grupo IV do 
edital, a saber: (1) noções de ciência política; (2) noções de 
sociologia jurídica; e (3) filosofia do direito. São basicamente 
as disciplinas consideradas da área de Humanas, à exceção 
daquelas estritamente jurídicas. 
O que são as humanísticas (aonde vivem, o que comem)? 
É bem verdade que durante a faculdade costumamos não 
dar muita atenção para as matérias chamadas propedêuticas 
ou zetéticas (dois nomes que podem aparecer nas provas 
como sinônimos desse conjunto de disciplinas). Por aqui já fica 
uma primeira dica, no sentido de que a denominação 
propedêutica não é uma unanimidade porque refere-se à 
ideia de “conhecimentos mínimos” (ou “conhecimentos 
introdutórios”), e para muitos estudiosos dessas disciplinas, 
 
 
 
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considerar que elas são apenas introdutórias e não centrais 
para o entendimento do direito já revela uma visão 
distanciada dos saberes críticos ou não dogmáticos. 
Assim, antes de entrar nos conteúdos propriamente ditos temos 
que dar dois passos: a) entender como abordar os temas que 
são essenciais para a prova; e b) aprender a diferença entre 
as disciplinas. 
O conteúdo do edital 
A maneira como o edital é construído, incluindo essas 
disciplinas na mesma lógica que as disciplinas jurídicas, amplia 
a dificuldade de estudo delas, uma vez que os temas são 
muito amplos e, ao contrário das disciplinas dogmáticas 
(opõe-se a zetéticas), não é habitual a produção de manuais 
sobre elas. Costumo dizer em sala de aula que poderia 
abordar cada tema do edital com pelo menos 10 autores 
diferentes e por um semestre inteiro num curso universitário. 
No que diz respeito à extensão do conteúdo podemos 
comparar com a Faculdade de Direito: já pensou de uma vez 
só (e pela primeira vez na vida) aprender todo o Direito Privado 
(que em muitas faculdades estudamos por dez períodos), com 
o agravante de que tanto na filosofia quanto nas ciências 
sociais (aqui incluídas a ciência política, a sociologia e alguns 
temas de antropologia que adentram o edital de sociologia) 
 
 
 
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cada autor costuma cunhar seu próprio conceito sobre um 
assunto ou criar novos conceitos a partir de conceitos de 
autores pré-existentes, os quais não estão sistematizados em 
manuais e não há uma bibliografia-base para a prova o que 
seria o mais adequado para esse tipo de prova para essas 
disciplinas (como acontece na Defensoria de São Paulo, v.g.) 
Nesse sentido, fica uma segunda dica de que ao invés de se 
propor a decorar todos os conceitos específicos para as 
“categorias”1, autores e obras, busque organizar os seus 
estudos relacionando uns aos outros, porque o que a banca 
tentará fazer é confundir a ideia principal sobre aquele tema, 
tornando possível deduzir as questões que estão erradas ou 
certas quando se compreende como é o pensamento do 
autor ou em que contexto se mobiliza determinado conceito 
ou categoria. 
Um outro ponto importante a ser destacado novamente é ficar 
atento aos temas que atravessam as diferentes disciplinas, 
especialmente aqueles que estão no mesmo grupo das 
humanísticas (Constitucional, Direitos Humanos e 
Internacional). É bastante possível que nas questões discursivas 
 
1Conceito muito importante para as ciências sociais, pois são os recursos explicativos 
utilizados para construir determinada teoria ou explicar uma determinada situação fática 
observada pelo cientista social – por exemplo, “trabalho” é uma categoria utilizada por Marx 
para explicar a sociedade capitalista. Ou ainda, “dominação” é uma categoria utilizada por 
Weber para explicar o estado e a sociedade burocrático-legal em que vivemos. 
 
 
 
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os temas das humanísticas estejam articulados com temas 
dessa disciplina. 
Sobre as disciplinas que abordaremos a seguir, dentro das 
humanísticas temos “noções de sociologia jurídica” e “noções 
de ciência política”, ao passo que “filosofia do direito” não 
vem com essa ideia de conceitos introdutórios (a disciplina não 
é noções de Filosofia do Direito), o que pode implicar numa 
cobrança mais aprofundada dessa disciplina. 
Por fim, chamo a atenção para o momento político que 
vivemos, com “golpes”, “crises”, “impeachment”, reparem 
que todos os tópicos incluídos nos programas de humanísticas 
tem alguma relação com essa temática (direito e revolução 
em sociologia jurídica, as origens do poder político do estado 
em ciênciapolítica e desobediência civil em filosofia do 
direito, entre outros em que essa associação não é tão 
evidente, mas nos parece bastante claro que os examinadores 
estão com essa questão da legitimidade e da ruptura 
democrática em mente. Fiquemos atentos!) 
 
O que é o que é: Noções de Ciência Política (NCP), Noções de 
Sociologia Jurídica (NSJ) e Filosofia do Direito (FD)? 
Como diferenciar o objeto de estudos das nossas disciplinas? 
Distinguir as disciplinas é essencial e nos serve primordialmente 
para duas coisas, são elas: 1) organizar os conteúdos na nossa 
 
 
 
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cabeça (como se fosse guardar o arquivo na pastinha certa), 
o que nos ajuda a aglutinar os assuntos em um mesmo grupo 
de conceitos e saber quais são mais facilmente associáveis a 
outros, ou não são possíveis de serem associados. 
Conhecer a organização temática da disciplina é mais um 
recurso que facilita o processo de associação de conteúdos e 
rememoração destes. Isto é, melhor que saber o conteúdo de 
uma disciplina é “saber de uma forma organizada”. 
2) orientar a utilização dos conceitos e interpretação das 
questões, pois quando aprendemos a diferença entre as 
disciplinas fazemos associações que nos permitem recorrer aos 
conceitos, categorias e institutos mais adequados para 
compreender aquele contexto (no caso do concurso, a 
questão). 
As três disciplinas que estamos aprendendo juntos tem objetos 
distintos e, portanto, abordam os problemas colocados para 
elas de formas diferentes, muito embora esses objetos e 
reflexões se atravessem. 
A (I) Ciência Política (CP), dessa forma, preocupa-se com o 
estudo do poder e com o Estado (sua organização, divisão em 
poderes, etc.), uma vez que é neste que o poder é exercido 
“oficialmente” e com todas questões que daí decorrem: 
“soberania”, “território” e “povo”, “sistemas de governo”, 
“regimes de governo”, etc. Essa ciência, portanto, comumente 
 
 
 
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estuda os partidos políticos, os sistemas eleitorais, as eleições, 
bem como os processos de governo. 
Há um sentido mais amplo do termo “política” - além do que 
estamos acostumados a utilizar ligado a política institucional-
partidária – que pode ser simplificada na ideia de gestão da 
coletividade e das diferentes opiniões na sociedade (como 
saber qual prevalece, de que forma é legítimo que uma 
prevaleça sobre a outra, como chegar a consensos, consensos 
são necessários, não são necessários). 
Reitero: são sempre questões orientadas para como o poder é 
colocado e exercido na sociedade. 
Pois bem, se a CP está preocupada com o “poder” e o Estado, 
com que está majoritariamente preocupada a Filosofia do 
Direito? Existe uma ideia básica que aprendemos desde a 
escola de que a Filosofia é “amor à sabedoria” e como tal seu 
propósito seria o próprio exercício do pensamento. Desse 
modo, a (II) Filosofia do Direito tem por objetivo constituir um 
saber crítico (contrário à dogmática, portanto) sobre as 
construções jurídicas (sejam elas ideias ou práticas de atores 
do direito), buscando seus fundamentos, sua natureza, 
procurando entender suas estruturas. 
Outra importante dica é que para a Filosofia, ao contrário da 
Ciência Política e da Sociologia, o aspecto do “axiológico” 
(relativo ao valor) é deveras importante, de forma que para o 
conhecimento filosófico será importante questionar-se acerca 
 
 
 
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do que seria justo, injusto, sobre as dimensões da moral no 
direito e vice-versa. 
Neste passo, quase todas (senão todas) as ciências modernas 
têm alguma âncora em alguma reflexão da filosofia grega - 
boa parte das grandes teorias explicativas do mundo 
(atomística na química, a física newtoniana, entre outras) 
constituíram-se a partir das concepções aristotélicas ou de 
outros filósofos gregos, ainda que para desconstituí-las. 
Por fim, vamos caracterizar a (III) Sociologia Jurídica como 
aquela ciência que está preocupada com a ordem social, isto 
é, preocupada com explicar a sociedade moderna. Como 
existimos enquanto sociedade, porque continuamos a viver 
juntos, reproduzindo comportamentos, hábitos, o quê de 
exterior (fora do campo da psicologia, por exemplo) é possível 
verificar que faz as sociedades, os grupos sociais existirem 
enquanto tais, o que o fundador da Sociologia enquanto 
disciplina, Émile Durkheim (“as regras do método sociológico”), 
chamou de “fato social”, por exemplo. A Sociologia Jurídica, 
portanto, vai preocupar-se com essas questões com relação 
ao mundo jurídico ou a respeito de qual é o papel que o Direito 
exerce nessa conformação social mais ampla. 
É essencial distinguir essa “ordem social” da “ordem jurídica”, 
definitivamente não se trata da mesma coisa. A referência ao 
conceito de “ordem pública” está relacionada ao Direito e ao 
campo normativo, preocupando-se com o que o Direito diz 
 
 
 
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que é a ordem, com o cumprimento das leis ou não (ou com 
o que determinados agentes autorizados dizem que é o [des] 
respeito a elas). Por outro lado, a Sociologia preocupa-se com 
como se dá a reprodução das práticas sociais, como os 
atores/sujeitos sociais as interpretam e se adequam ou opõe-
se a elas, como as compreendem, e ainda como são 
constituídas as ações desses sujeitos, como eles escolhem e 
orientam suas ações e reproduzem e/ou adaptam seu modo 
de vida. 
É claro que há muitas nuances em cada uma dessas disciplinas 
as quais vão, inclusive, depender de que linha de 
pensamento/pesquisa orienta as percepções que temos sobre 
cada um desses campo, mas por ora e para o nosso objetivo 
essas diferenciações permitem que possamos interpretar 
melhor as questões que nos sejam apresentadas na prova! 
 
Vamos ao edital 
Finalizando o começo, eu gostaria de lembrá-los que a maioria 
dos concorrentes não tem aptidão com essas matérias, não 
tem disposição para estudá-las e comumente deixam elas ao 
sabor da sorte ou as ignora, colocando na conta do que não 
vai ser marcado ou será chutado. Estudando adequadamente 
para elas você terá um diferencial e é isso que nós estamos 
propondo no CURSO CLIQUE JURIS: uma preparação 
 
 
 
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adequada nessas disciplinas como vocês fariam em qualquer 
uma das outras. 
Como eu já disse no blog em outra oportunidade, o que 
esperamos, honestamente, é fazer diferença na preparação 
de vocês para que vocês façam diferença na vida de todas 
as pessoas que vão lhes encontrar nas defensorias da vida! 
 
Igor Peçanha Frota Vasconcellos 
 
 
 
 
 
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PASSO-A-PASSO CIÊNCIA POLÍTICA 
 
Especificamente em relação ao tempo que se deve destinar 
ao estudo da disciplina Noções de Ciência Política, cujos 
principais aspectos de cada um dos pontos do Edital 02, de 
29.6.2017, foram tratados adiante, orientamos que sejam 
destinadas, no mínimo, 7 horas de estudos, divididos da 
seguinte forma: 
 
Dia 1 - 2 horas de estudos. Páginas 11 a 44. Pontos 1 a 6. 
 
Dia 2 – 3 horas de estudos. Páginas 44 a 84. Pontos 7 e 8. Esse 
dia ficou um pouco mais longo que o de costume tendo em 
vista que há diversos pontos em que o aluno tem 
conhecimento prévio de diversos pontos, já estudados em 
Constitucional, por exemplo, o que vai acelerar a leitura do 
material (obviamente que a leitura não é dispensada nesses 
temas posto que a Ciência Política lhes dá uma leitura com 
contornos peculiares e que não podem passar sem serem 
vistos atentamente). Além disso, reputamos que o aluno leia do 
início ao fim certos temas, de modo a formar a compreensão 
acerca dos institutos. 
 
Dia 3 – 2 horas de estudos. Páginas 84 a 115. Pontos 9 e 10. 
 
 
 
 
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CIÊNCIA POLÍTICA 
1. Origem e conceito 
Então, pessoal, na parte introdutória já 
diferenciamos o objeto de estudo e reflexão da Ciência 
Política das outras disciplinas humanísticas, de modo que 
seremos um pouquinho mais econômicos nesse ponto[*voltem 
lá rapidinho*]. O que o examinador quer que saibamos acerca 
desse ponto são as ideias (e os autores) precursoras da 
Ciência Política (que estão ligadas ao campo que 
denominamos como “filosofia política2) e qual é o objeto de 
estudo da disciplina (do que se ocupam os cientistas políticos). 
Vamos fazer um caminho inverso aqui para facilitar, primeiro 
vamos recordar quais seriam os possíveis objetos de estudo 
para depois entender como se chegou a esse objeto, ou seja, 
quais foram os pensamentos percursores. 
Sobre o conceito de ciência política. 
Inicialmente, há uma grande divisão dentro da 
ciência política sobre se o seu objeto seria *o poder* ou *o 
estado*, como o próprio estado é o locus de exercício desse 
poder, como veremos a frente, não há uma grande 
implicação para nossa prova nessa diferença de modo que é 
 
2Por isso vários autores são mencionados também no material de filosofia do direito, fiquem atentos ao 
cruzamento dessas informações, isto pode ser um ponto de cobrança, especialmente no que diz respeito 
as possíveis questões discursivas. 
 
 
 
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possível que o examinador faça assertivas com ambos os 
conceitos, podendo ser as duas consideradas corretas. De 
todo modo podemos dizer que a ciência política é a aquela 
que estuda: 
 A Política (partidos políticos, comportamentos 
eleitorais, eleições em geral sistemas políticos, 
outras organizações políticas e dos processos 
políticos). 
 
 O Poder (por exemplo: as regras não explícitas 
dos processos sociais em que há transferência e 
exercício do poder - “jogos do poder” do gênero 
“house of cards”) 
 Estrutura e processos do governo (por exemplo, 
entender as consequências de determinadas 
políticas públicas que, inclusive é item do nosso 
edital). 
Sobre a origem do pensamento sobre a política. 
No marco do nosso pensamento ocidental, há 
filósofos gregos que já se ocuparam do tema da política, 
podemos mencionar principalmente Platão (que era crítico da 
democracia) e Aristóteles, sendo o segundo considerado o 
grande percursor do que seria a ciência política, 
 
 
 
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especialmente porque preocupou-se em delimitar que o 
objeto de estudo da política deveria ser a polis (cidade-estado 
grega), suas “instituições”, estrutura, forma como se constituiu 
e como era conduzida de maneira similar à qual atribuímos 
hoje a tarefa de estudar o Estado a Ciência Política, já que 
essa é nossa forma de organização política principal no 
ocidente. Segundo Aristóteles o governo deveria ser capaz de 
garantir o “bem-estar geral”. 
Já século XVI, Nicolau Maquiavel (1469-1527) e a sua 
obra dão origem à modernidade política. 
Importa contextualizar que ele é um autor do 
Renascimento que dentre outras coisas caracterizou-se por 
resgatar valores e ideias da antiguidade greco-romana, 
contrapondo-os à tradição medieval (ou adaptando), isso 
implicou em diversos campos da vida social como as artes, 
arquitetura, mas também a organização política e da 
sociedade. A preocupação de Maquiavel era a criação de 
um governo eficaz que unificasse e secularizasse a Itália, isto é, 
uma unificação em uma figura/instituição que não fosse a 
Igreja, e sim o soberano/príncipe. O autor defendia que um 
príncipe ou dirigente de governo sem preocupações morais ou 
éticas, portanto que não olha as sensibilidades para atingir os 
seus fins. A política para ele, era assim, a arte de governar, e o 
que ele explicitou em sua obra era como essa arte era feita na 
 
 
 
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prática. Assim, coloca o Estado, o governo e a instituição 
estatal no centro de suas ideias (em sentidos amplos). 
Diz-se que a obra de Maquiavel foi inovadora 
porque foi escrita baseado em sua prática concreta como 
diplomata porque se diz que ele introduziu um método 
comparativo-histórico, elaborando comparações entre 
dirigentes da sua época e de épocas anteriores através de 
exemplos. 
Suas obras mais conhecidas são “O Príncipe” e 
“Discursos sobre a Primeira Década de Tito Livio”, cujo intuito 
era justamente as instituições de sua época com as da 
Antiguidade, em especial de Roma, procurando entender 
como surgem, mantem-se e extinguem-se os Estados. Em 
“Discursos Sobre a Primeira Década de Tito Lívio”, o autor 
estimula o debate sobre o conceito de liberdade e virtude 
cívica. Segundo Maquiavel, há uma necessidade de confiar 
ao povo a preservação da liberdade para garantir a 
participação deste na vida pública. Para que o povo funcione 
como guardião de seu território. Não há cidade forte sem povo 
e também não há cidade livre sem participação da maioria 
na vida política da cidade. Uma das maiores contribuições de 
Maquiavel às formulações de teóricos posteriores foi a intensa 
participação do povo nos negócios da cidade e dos possíveis 
choques que essa participação poderia causar. 
 
 
 
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Esses são os principais paradigmas das origens do 
pensamento políticos, vamos conversar sobre outros autores 
como: 
a) os contratualistas (Hobbes, Locke e Rousseau) 
em outros pontos do programa, e ainda ressaltar 
b) Comte e seu positivismo que defendia que os 
fatos e fenômenos políticos deveriam ser 
observados com objetividade tal qual com as 
ciências naturais (voltaremos a ele em NSJ). 
 
2. Conceito de sociedade. 
Para esses itens iniciais do edital que contemplam os 
pontos básicos da Ciência Política as indicações dos livros de 
Paulo Bonavides e Dalmo de Abre Dallari nunca são demais. 
Quem deseja e terá tempo para ler, deve ir a eles. De todo 
modo, objetivaremos os pontos do edital para otimizar nosso 
tempo e facilitar o processo de estudo. Ademais, 
considerando que teremos uma prova de sociologia 
juntamente com a de ciência política é pouco provável que 
este ponto seja cobrado. 
Há autores que asseveram ser impossível falar em 
sociedade, o adequado seria falar em “sociedades”, visto que 
aquela é composta de grupos de variadas espécies com 
diferentes graus de coesão. 
 
 
 
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Isto é, para Talcot Parsons, é o termo mais genérico 
utilizado para designar o “todo complexo de relações do 
homem com seus semelhantes”. 
Como destaca Paulo Bonavides, há duas correntes 
de pensamento que se destacam nessa tarefa de formular 
uma concepção para sociedade. A primeira cunhada por 
Ferdinand Toennies (1855-1936), fundador da sociedade 
alemã de sociologia, que está calcada na diferenciação 
entre comunidade e sociedade – inclusive, esse foi o nome de 
um dos seus livros “Comunidade e Sociedade” (1887). Essa 
visão é chamada de mecanicista, uma vez que na 
compreensão do autor a sociedade é uma ruptura como o 
modo de viver natural que seria a comunidade, em harmonia 
com a natureza, ao passo que a sociedade seria derivada de 
um acordo de vontades organizando-se em Estados. A 
concepção organicista, ao contrário, a seu turno é “reunião 
de várias partes, que preenchem funções distintas e que, por 
sua ação combinada, concorrem para manter a vida do 
todo”, esta inspirada nas formulações gregas, a exemplo de 
Aristóteles (que já mencionamos no tópico anterior) que 
entendia o homem como um “animal gregário”, isto é, que se 
agrega, vive em conjunto, por isto a sociedade seria um grau 
mais avançado, superior de organização humana. 
 
 
 
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Neste passo, a concepção organicista está mais 
próxima da ideia de sociedade trabalhada por Durkheim 
(estudaremos em Sociologia) que diferenciava as sociedades 
simples (como dotadas de uma solidariedade mecânica) e as 
sociedades complexas/modernas (como dotadas de uma 
solidariedade orgânica), em outras palavras. Por outro lado, na 
concepção mecanicista ocorre o contrário, pois oriundo da 
tradição pessimista alemã, a “modernidade” (saída da 
comunidade para a sociedade) é vista com reticências,enquanto que para Durkheim a sociedade é tão ou mais 
natural (já que tinha influencia positivista) do que a 
comunidade. 
3. Conceito de Estado. 
A noção de Estado fundamentalmente guarda 
relação com a detenção/gestão do poder da/na sociedade 
(não à toa discute-se se o objeto da ciência política é o poder 
ou o Estado). A partir dessa consideração podemos discorrer 
sobre como esse conceito pode ser cobrado em nosso 
certame. 
Alguns autores associam o conceito as polis 
(cidade-estado gregas) e a respublica (coisa pública romana) 
compreendendo que o estado é a personificação do vínculo 
comunitário. 
 
 
 
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O termo Estado faz referência a uma expressão 
latina que pode ser traduzida como algo próximo a “estar 
firme”, o que isto quer indicar uma situação de permanência 
daquela configuração político-social, ou seja, de um grupo 
que vive junto permanentemente. 
No pós-medievo, quem cunhou a expressão foi 
Maquiavel, já explorado no item 1, em sua obra o “O Príncipe” 
ao dizer que “todos os domínios que tem ou tem tido império 
sobre os homens” são Estados. Deste modo, o Estado é onde 
está a ordem política da sociedade e, por consequência, 
organização do domínio e do poder. 
Para Paulo Bonavides a definição de Estado 
proposta por Jellinek é irrepreensível, vamos conferir: 
"corporação de um povo, assentada num 
determinado território e dotada de um poder 
originário de mando." (in Ciência Política, 10ª 
ed. Malheiros, capítulo 3, item 7). 
 
3.1. Acepções filosófica, jurídica e sociológica de Estado. 
Esse ponto é bem objetivo, por isso vamos buscar 
nos autores mais conhecidos como o Estado pode ser 
caracterizado em sua dimensão (ou abordagem) filosófica, 
jurídica e sociológica. 
 
 
 
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Sobre a acepção filosófica do Estado. 
Com Paulo Bonavides, segundo Hegel (1770-1831) - 
considerado um dos mais importantes filósofos do Direito, o 
primeiro a escrever um livro e atribuir esse título -, o Estado seria 
a “realidade da ideia moral”, para ele o Estado é a síntese da 
contradição existente entre a família (privado) e a sociedade 
(público), podendo ainda ser considerado a “manifestação 
visível da divindade”, sendo o valor mais alto. 
De maneira geral a abordagem filosófica do Estado 
procura uma justificativa para existência do estado baseada 
na moral, nos valores, sendo criticada por as preocupações do 
plano concreto, da empiria em segundo plano com relação 
as ideias. 
Trabalhamos indiretamente algumas concepções 
de estado na disciplina de Filosofia do Direito, como a 
percepção de Hobbes e de Locke sobre o estado, as quais 
refletem diretamente na própria concepção de direito. 
Sobre a acepção jurídica do Estado. 
Deste ponto de vista, o Estado decorre do Direito, só 
existe normativamente e por isso deve ser estudado a partir das 
questões técnicas e formais, está destinado a realizar os fins 
jurídicos. 
 
 
 
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Immanuel Kant asseverou que o Estado seria “a 
reunião de uma multidão de homens vivendo sobre as leis do 
Direito”. 
Paulo Bonavides destaca a percepção de Burdeau, 
segundo a qual, o Estado represente a “institucionalização do 
poder”, 
 
“o Estado se forma quando assenta numa 
instituição e não num homem, uma certa 
despersonalização ou generalização da 
sujeição do poder ao direito (BURDEAU). 
 
Assim, o Estado seria o laço político ou jurídico entre 
os indivíduos ao passo que a sociedade é composta por uma 
pluralidade de laços. 
Sobre a acepção sociológica do Estado. 
O Estado deve ser percebido de maneira realista, 
levando em conta os fatos concretos, deixando de lado os 
fatores abstratos, estes só importam em termos de como as 
pessoas se orientam a partir deles (o que é concreto, 
descritível). 
Assim, é a “organização social do poder de 
coerção” ou a organização da coação social” (...), em suma, 
“a sociedade como titular de um poder coercitivo, regulado e 
disciplinado” (JHERING). 
 
 
 
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Em considerações sociológicas, importa mencionar 
Karl Marx que percebia o Estado como uma forma de 
organização do poder de uma classe sobre a outra, isto é, o 
Estado existe para manter o status quo que é a dominação da 
classe burguesa sobre o proletariado, sendo importante 
mencionar que para o autor tratava-se de um fenômeno 
histórico passageiro, oriundo da luta de classes (motor da 
história) na sociedade, desde que, da propriedade coletiva se 
passou a apropriação individual dos meios de produção. 
Outro autor que nos importa muito neste tema é 
Max Weber, quem estudaremos com mais detalhes na 
disciplina de Sociologia, para ele o Estado é “força”, pois 
caracteriza-se pela “racionalização do emprego da violência, 
fazendo-a “legítima”. Isto é, se houve uma forma de 
organização social que não disciplina meios coercitivos não há 
que se falar em Estado. 
 
3.2 Elementos constitutivos. 
Os elementos constitutivos tradicionalmente são 
considerados: povo, território e soberania. 
Contudo, há divergências, para José Afonso da Silva 
os elementos constitutivos do Estado são: povo, território, poder 
e fins. 
 
 
 
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CPF 
 
 
Voltemos a já mencionada definição de estado 
dada por Jellinek, a saber: “o Estado é a corporação de um 
povo, assentada num determinado território e dotada de um 
poder originário de mando”. 
Como os outros elementos do estado estão em 
outros itens do edital é importante consignarmos uma 
definição de território que pode ser entendido como a base 
geográfica do poder ou o espaço onde o Estado exercita seu 
poder de império (soberania). 
No certame para Analista do TRT-8 a CESPE já 
cobrou esse tema, vamos conferir: 
 
Enunciado: A respeito dos elementos do 
Estado, assinale a opção correta. 
A) Povo, território e governo soberano são 
elementos indissociáveis do Estado 
[GABARITO CORRETO] 
B) O Estado é um ente despersonalizado. 
[ERRADO, pois o estado um ente 
personalizado, sendo considerado de 
direito público interno]3 
 
3 CUIDADO: Se olharmos de uma perspectiva sociológica, poderíamos afirmar que o Estado significa uma 
despersonalização do poder que deixa de pertencer a uma pessoa em específico (porque é de uma família 
x ou y) e passa a ser exercido pela função determinadas por regras de direito. Então, é como se o poder 
deixasse de ser pessoalizado para ser do direito e de quem ele determina que pode exercê-lo. 
 
 
 
24 
 
CPF 
 
 
C) São elementos do Estado o Poder 
Legislativo, o Poder Judiciário e o Poder 
Executivo. 
[ERRADO, estamos a falar aqui dos três 
poderes do estado que guarda relação 
com a teoria de Montesquieu] 
D) Os elementos do Estado podem se dividir 
em presidencialista ou parlamentarista. 
[ERRADO, esses são os sistemas de governo 
que dizem respeito ao modo como se 
relacionam os poderes – ver item 7] 
E) A União, o estado, os municípios e o Distrito 
Federal são elementos do Estado brasileiro. 
[ERRADO, este são os entes federativos – 
VER ITEM 7] 
4. O povo 
Na discussão a respeito dos elementos constitutivos 
do estado Léon Duguit (1859-1928) faz uma diferenciação 
entre os elementos de ordem formal e os elementos de 
ordem material, neste sentido os elementos de ordem formal 
estariam relacionados ao poder político que, para o mesmo 
autor, diz respeito ao domínio dos mais fortes sobre os mais 
fracos. Por outro lado, os de ordem material seriam, além do 
território, o elemento humano, ou seja, a somatória dos 
 
 
 
25 
 
CPF 
 
 
indivíduos humanos, podendo ser definida segundo: a) um 
critério geográfico-demográfico (população); b) um critério 
jurídico-político (povo); ou c) um critério político-cultural 
(nação). 
De modo que se pode deduzir a parte da teoria 
exposta que a noção de povo, inicialmente, está associada ao 
próprio vínculo com o Estado. Assim,povo e população são 
conceitos diferentes. 
População é uma noção quantitativa e que não 
presume um vínculo jurídico-político Estado (como dito: um 
critério geográfico-demográfico), portanto inclui apátridas ou 
estrangeiros. 
Vamos a uma questão inédita que elaboramos para 
ilustrar como esses conceitos poderiam ser abordados pela 
banca examinadora: 
 
Enunciado: Segundo Paulo Bonavides o 
conjunto de indivíduos que possuem entre si e 
com o Estado um vínculo jurídico-político, 
estando ou não dentro de seu território, 
denomina-se população. 
 
Gabarito: [ERRADO] 
Explicação: O conceito apresentado define a 
noção de povo, e não de população. 
 
 
 
26 
 
CPF 
 
 
ATENÇÃO à relação com o território, pois um 
integrante do povo (cidadão) não precisa 
estar necessariamente dentro do território no 
qual um determinado Estado exerce 
soberania para assim ser reconhecido. 
 
4.1. Conceito jurídico. 
Segundo Paulo Bonavides povo, numa concepção 
jurídica, é “o conjunto de indivíduos vinculados pela cidadania 
a um determinado ordenamento jurídico. Fazem parte do 
povo tanto os que se acham no território como fora deste, no 
estrangeiro, mas presos a um determinado sistema de poder 
ou ordenamento normativo, pelo vínculo da cidadania. A 
cidadania é a prova de identidade que mostra a relação ou 
vínculo do indivíduo com o Estado. É mediante essa relação 
que uma pessoa constitui fração ou parte de um povo” 
(BONAVIDES). 
Assim, podemos exemplificar o conceito exposto 
pensando que uma pessoa é reconhecida como parte do 
povo brasileiro mesmo que more na França, por exemplo, 
podendo exercer todos os seus direitos de cidadania, inclusive 
votar, reconhecer autenticidade de documentos e assinaturas 
(através das embaixadas, etc.). 
 
 
 
 
27 
 
CPF 
 
 
 
4.2 Conceito político. 
No que tange ao conceito político de povo 
podemos dizer que “é um conjunto humano sufragante, ou 
seja, que possui aquele vínculo político com o Estado com 
capacidade decisória, confunde-se, portanto, com seu corpo 
eleitoral. Capaz de participar do processo democrático. 
Dentro de um sistema variável de limitações que depende de 
cada país e de cada época (AFONSO ARINOS SOBRINHO). 
Essa noção de povo como sinônimo de corpo 
eleitoral está relacionada a um outro tema caro a ciência 
política que é da democracia, já que esta designava, na 
antiguidade ateniense, aqueles que estavam autorizados a 
votar, sendo demo um vocábulo etimologicamente 
relacionado a ideia de conjunto de pessoas que vivem juntos. 
Este conceito foi resgatado pela modernidade política no que 
diz respeito ao sufrágio, assim não caberia falar em povo na 
era medieval, sendo mais adequado falar em súditos. 
Em suma, nessa dimensão povo, em termos atuais, 
está relacionado a capacidade eleitoral, mas numa dimensão 
mais ampla está relacionada a ser governado pelas leis que 
ele mesmo impõe (ainda que indiretamente) ou ao menos 
consente. Neste sentido, é sempre oportuno lembrar que esta 
é uma ideia que consta expressamente na Constituição, seja 
 
 
 
28 
 
CPF 
 
 
em seu preâmbulo, seja positivada no parágrafo único do Art. 
1º, a conferir: 
Preâmbulo: 
 
Nós, representantes do povo brasileiro, 
reunidos em Assembléia Nacional Constituinte 
para instituir um Estado Democrático, 
destinado a assegurar o exercício dos direitos 
sociais e individuais, a liberdade, a segurança, 
o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade 
e a justiça como valores supremos de uma 
sociedade fraterna, pluralista e sem 
preconceitos, fundada na harmonia social e 
comprometida, na ordem interna e 
internacional, com a solução pacífica das 
controvérsias, promulgamos, sob a proteção 
de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA 
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. 
 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, 
formada pela união indissolúvel dos Estados e 
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se 
em Estado Democrático de Direito e tem 
como fundamentos: 
 
 
 
 
29 
 
CPF 
 
 
(...) 
 
Parágrafo único. Todo o poder emana do 
povo, que o exerce por meio de 
representantes eleitos ou diretamente, nos 
termos desta Constituição. 
 
4.3 Conceito sociológico. 
Neste ponto cabe um alerta, que esse conceito 
sociológico não é definido desse modo pelos sociólogos, e sim 
diz respeito a maneira como os cientistas políticos ou os 
estudiosos da Teoria Geral do Estado se apropriam das 
explicações sociológicas. Por que isso é importante? Por conta 
daquela contextualização da questão que mencionamos na 
parte introdutória, não é sem razão que este ponto está 
incluído nessa disciplina e não na disciplina de Noções 
Sociologia Jurídica. 
Dito isto, o conceito sociológico de povo pode ser 
definido por critérios étnicos, culturais, relacionados ao 
pertencimento a um determinado lugar, determinada religião 
ou língua que identifique uma história em comum aquele 
agrupamento humano. 
Nas palavras de Paulo Bonavides: 
 
 
 
30 
 
CPF 
 
 
(...) toda continuidade do elemento humano 
projetado historicamente no decurso de 
várias gerações e dotado de valores e 
aspirações comuns. Compreende vivos e 
mortos, as gerações presentes e as gerações 
passadas, os que vivem e os que hão de viver. 
Em tempo, assevera ainda o professor que o povo 
deste ponto de vista pode ser confundido com a nação. Em 
outras palavras, numa concepção sociológica povo e nação 
são sinônimos. 
Por fim, cumpre destacar que nesta acepção é 
possível existir um povo sem território e mesmo sem o próprio 
Estado, a exemplo dos judeus antes da criação de Israel ou dos 
bascos que intentam a separação da Espanha até os dias 
atuais. 
5 Conceito de nação. 
A ideia de nação está relacionada a “sentir-se 
parte” ou “um mesmo sentir”. 
Segundo, Maurice Hariou (1856-1929), considerado 
um dos fundadores do direito administrativo francês, o qual, 
diga-se de passagem, influenciou profundamente o nosso 
direito administrativo a nação: 
 
 
 
31 
 
CPF 
 
 
“É um grupo humano na qual os indivíduos se 
sentem mutuamente unidos, por laços tanto 
materiais como espirituais, bem como 
conscientes daquilo que os distingue dos 
indivíduos componentes de outros grupos 
nacionais” (grifamos). 
A precisão do critério explicitado pelo publicista 
francês está relacionado ao fato de que contempla a 
dimensão interna (sentem-se mutuamente unidos) e a 
dimensão externa (distinguem-se de outros grupos nacionais). 
É como uma espécie de identidade coletiva. 
Paulo Bonavides nos lembra de uma questão 
capciosa levantada por Ernesto Renan que pode nos ajudar a 
fixar esse conceito, qual seja: 
Como a Suíça — que tem três línguas, três 
religiões, e não sei quantas raças — é uma 
Nação, enquanto não o é, por exemplo, a 
Toscana, tão homogênea? Por que a Áustria 
é um Estado e não uma nação? 
 
A pergunta é precisa e não tem propriamente 
resposta exata, de modo que o simples fato de se ter um 
conjunto de pessoas dentro de um estado não identifica 
necessariamente uma nação (como a Áustria) e ao mesmo 
 
 
 
32 
 
CPF 
 
 
tempo uma nação pode ser composta por uma diversidade 
de línguas, religiões e “raças”. 
Assim, Paulo Bonavides propõe como resposta 
parcial, dizendo que “a nação existirá sempre que tivermos 
síntese espiritual ou psicológica, concentrando os sobreditos 
fatores [língua, religião, “raça” ou origem histórica], ainda que 
falte um ou outro dentre os mesmos”. Destaca também que 
dentre esses elementos considera a língua o de maior 
importância. 
A nação - soma e herança de valores - tem 
compromisso com a história, porque afirma em seu nome o 
presente e o passado, do mesmo passo que prepara o porvir, 
repartido este entre apreensões e esperanças, aspirações e 
sobressaltos. 
Dito de outro modo a nação revela uma 
consciência moral compartilhada que revela um “espírito 
nacional” associada a uma históriaem comum e uma 
continuidade simbólica no porvir. 
Como já dito dentro de um estado temos 
movimentos de grupos humanos que não se identificam como 
parte daquela nação, podemos mencionar a Guerra dos 
Farrapos ocorrida no Brasil e Guerra da Secessão americana 
que visava separar o Sul do Norte divididos por várias questões, 
dentre elas a abolição da escravatura em todo o território 
 
 
 
33 
 
CPF 
 
 
nacional (o filme 12 anos de escravidão retrata bem essa 
questão). Atualmente podemos relembrar a já mencionada 
luta dos povos pela independência perante a Espanha, seja 
dos catalães, seja dos bascos ambos localizados na fronteira 
com a França. Inclusive, para ilustrar esses conceitos, há um 
time de futebol que joga o campeonato espanhol, chamado 
Athletic de Bilbao que é do “país basco” e que só contrata 
jogadores que nasceram, cresceram ou tenham origem basca 
como uma forma de marcar a sua verdadeira identidade 
nacional que é basca. 
6 O poder do Estado 
Inicialmente, cumpre lembrar o do se trata o poder, quem tem 
poder domina o outro, pode em nome do outro. 
Uma figura que pode nos ajudar a entender mais amplamente 
o que é poder é o direito potestativo que é o direito de poder 
interferir na esfera jurídica alheia sem que ela possa impedir, 
então, por exemplo, se um dos cônjuges deseja o divórcio o 
outro terá uma alteração na sua esfera jurídica passando a 
solteira independentemente de sua vontade. 
Neste sentido, o poder (na discussão do estado) deve ser 
entendido como faculdade de tomar decisões em nome da 
coletividade. 
 
 
 
 
34 
 
CPF 
 
 
6.1 Conceito. 
Prosseguindo no raciocínio do tópico anterior na tarefa de 
conceituar o poder do estado, cumpre diferenciarmos: 
 Poder de fato → notabilizado pelo exercício da 
força, do emprego dos meios violentos como 
algo habitual. Pode ser compreendido como 
qualquer prática que obriga alguém a fazer algo 
que não queira por meio da força (coação física, 
estupro), no que diz respeito a discussão do 
estado compreende-se que retira o caráter de 
legitimidade (sendo identificado com os regimes 
totalitários, ditaduras, etc.); e 
 
 Poder de direito → utilizado como competência, 
como consentimento dos governados, portanto 
reconhecido como legítimo. Neste ponto, 
cumpre destacar a explicação weberiana sobre 
o poder do estado, pois se ele define o próprio 
estado como “monopólio legítimo da violência”, 
o que ele está a falar é que justamente é no 
estado (por variadas razões) é que se reconhece 
o exercício desse poder de forma legítima. 
 
 
 
35 
 
CPF 
 
 
Vamos lembrar duas questões CESPE que trabalham com 
conceitos relacionáveis a este ponto, a primeira nos oferece 
uma boa definição “cespiana” de poder, veja: 
[Concurso Ministério da Ciência e Tecnologia 
-Analista - CESPE 2012 ] 
Enunciado: Acerca dos conceitos e teorias 
relacionados à ciência política, julgue o item 
a seguir. 
 
No âmbito do domínio de um indivíduo sobre 
outro, conceitua-se poder como a relação 
entre dois sujeitos, dos quais um impõe ao 
outro a própria vontade e lhe determina seu 
comportamento [Gabarito: CERTO] 
Ainda neste item, outra questão cobrada, desta vez no 
concurso da DPU, que apesar de constar como sociologia 
refere-se ao poder e nos dá a dica de que os conceitos 
weberianos podem ser cobrados [aliás, aproveitando o ensejo, 
weber é um autor que os examinadores da área do direito – 
fica a dica], vamos a ela: 
[Concurso Defensoria Pública da União – 
Defensor Federal 2010/CESPE] 
 
 
 
36 
 
CPF 
 
 
Enunciado: A respeito das relações de poder 
e legitimação, julgue o próximo item. 
196. A forma legítima de dominação 
carismática, de acordo com Max Weber, está 
baseada na designação do líder pela virtude 
da fé na validade do estatuto legal. 
[ERRADO, pois a dominação carismática está 
baseada na designação do líder por sua 
virtude pessoal intrínseca (ele tem qualidades 
que justificam o poder a ele ser entregue), 
tem a ver com o próprio líder e não com o 
estatuto legal, a “fé” depositada no estatuto 
legal refere-se à dominação que weber 
denominou racional-legal] 
6.2 Legitimidade do poder político. 
Prosseguindo na mesma discussão, por que o estado 
em seus contornos modernos encerra a noção de 
despersonalização do poder? É preciso lembrar que o Estado-
nação surge buscando unificar os poderes locais dos feudos, 
por questões de cunho político e econômico relacionados ao 
advento do Capitalismo (como por exemplo, unificação de 
moedas, sistemas métricos (peso, tamanho, etc.), possibilidade 
de circulação em um território maior sob as mesmas regras de 
comércio e tributação. 
 
 
 
37 
 
CPF 
 
 
Assim, o Estado Moderno europeu formou-se 
primeiro unificando os diversos poderes locais (com 
líderes/senhores feudais locais) em torno da figura de um 
grande senhor feudal/monarca/rei - um poder ligado 
diretamente a quem o exercia, relacionado a origem 
familiar/descendência aristocrática, etc. - para 
gradativamente afastar-se desse modelo pessoalizado de 
gestão do poder [despersonalização do poder], passando-o 
às instituições (um modelo burocratizado de gestão do 
poder)4. 
Em tese, portanto, um determinado representante 
do poder (representante do estado) é obedecido não porque 
ele é “fulano de tal” que é filho de “cicrano de tal” ou porque 
veio de “tão tão longe” (rs!), mas sim porque ele está investido 
de um determinado cargo, que, por sua vez, está ancorado 
num sistema legal-burocrático [legitimidade na esfera das 
instituições] (Max Weber). Isto é, quando obedecemos ou 
acatamos uma ordem de um representante do estado (seja 
ele policial, fiscal, juiz ou oficial de justiça) fazemos isso porque 
ele representa o Estado dentro de um estatuto de regras que 
 
4Nunca é demais lembrar que esses processos não são lineares (acontecendo numa ordem 
cronológica precisa) e nem que sejam o que aconteceu especificamente, mas que essa é uma 
narrativa possível para explicar como as condições históricas conformaram o atual estado 
das coisas. Sempre se trata de uma forma de contar as coisas, ancorada em dados, fontes 
bibliográficas, é claro! 
 
 
 
38 
 
CPF 
 
 
diz o que ele pode e deve fazer (ou pelo menos deveria ser), e 
não porque ele é fulano ou beltrano. 
Em conclusão, o Estado de Direito é aquele que está 
submetido às próprias regras, as quais, em geral, são 
produzidas de forma racional e pública. Isto pode parecer 
trivial, mas pense que um monarca (ao menos num sentido 
amplo) poderia dispor das regras que ele próprio colocou 
(evidentemente que isto poderia enfraquecer sua 
legitimidade por questões de ordem política ou cultural, mas 
do ponto de vista do próprio sistema de regras em si, não). Isto 
o Estado, em tese, não pode fazer, ao menos não sem seguir 
os trâmites burocráticos-legais e mesmo assim com limitações, 
como por exemplo no caso das reformas as constituições. 
O conceito de autoridade também é importante 
para essa discussão, estando ligado a ideia de dominação em 
weber, pois: autoridade é o exercício desse poder coletivo (ou 
em nome da coletividade) pelo consentimento, uma 
autoridade é reconhecida enquanto tal, quanto mais 
consentimento mais legitimidade e quanto maior a 
legitimidade maior a autoridade. 
Essa autoridade não se refere unicamente as 
pessoas que a exercem mais ao próprio conteúdo do poder. 
Se antes somente o monarca podia autolimitar-se, agora só o 
estado em seus contornos e procedimentos pode autolimitar-
 
 
 
39 
 
CPF 
 
 
se para algumas correntes de pensamento, para outras 
sempre haverá valores morais, de justiça que estão acima das 
leis. O Direito, pois, também sofre esse processo de 
legitimidade. 
O simples fato de algo ter previsão legal não 
significa dizer que seja socialmente consideradoalgo ao qual 
se deve render respeito e crer na justeza de suas prescrições, 
variando essa percepção de sociedade para sociedade 
(cultura para cultura). Como a legitimidade flutua com as 
transformações e anseios políticos de uma época, as leis 
podem por isso mesmo sofrer um processo de perda de 
legitimidade (ou mesmo nunca ter tido) por não representar os 
anseios e necessidades de uma época. Dentro da Teoria 
Constitucional e da dogmática do Direito Constitucional 
discutimos isso em termos de “mutação constitucional”, por 
exemplo. 
Assim, quaisquer crenças políticas que obtenham 
uma massa crítica suficiente podem retirar a sua aura de 
legitimidade das leis, criando assim novas leis (ou seja, algo 
pode ser legal sem ser legítimo). 
De forma inversa, ocorre que regimes ditatoriais 
buscam legitimar suas ações por meio da legalidade, por mais 
equivocadas que elas sejam. Em todo caso, o princípio da 
legitimidade prevê que sempre é possível haver o 
 
 
 
40 
 
CPF 
 
 
questionamento da suposta santidade das leis: ações legais 
podem ser consideradas ilegítimas, provocando assim o 
debate sobre a necessidade de sua reforma. Essa são 
conhecidas por leis iníquas. 
Recomendamos como leitura complementar a este 
tópico o Cap. 8 do livro “Ciência Política” de Paulo Bonavides 
(intitulado “legalidade e legitimidade do poder político do 
Estado) – especialmente a partir do item 5, “a consideração 
filosófica do problema da legitimidade”, ressaltando que ele 
dialoga também com o item 7.1 deste PAP-CP, bem como 
com temas que estão na parte de “noções de sociologia” –
legitimidade em weber, principalmente. 
6.3 A soberania. 
Temos a ideia de soberania como poder absoluto de 
governar em determinado território, inclusive fazendo as leis 
que serão vigentes ali. 
Essa questão que pode parecer num primeiro 
momento simples em demasia, ancora um profundo debate 
que envolve outros assuntos subjacentes como Colonialismo, 
exploração e dominação de um povo sobre outro. Se os 
Estados-Nação abrem mão de sua soberania em prol de um 
direito internacional, como ficam as relações de poder 
estabelecidas entre um e outro. É, inclusive, um tema que 
 
 
 
41 
 
CPF 
 
 
pode ser explorado de forma um pouco mais sofisticada na 
prova discursiva. 
Paulo Bonavides faz uma interessante provocação 
aos “internacionalistas” ao comentar a questão da soberania, 
confiram: 
“Os internacionalistas são homens que veem 
sempre com suspeição o princípio de 
soberania. Não apenas com suspeição, senão 
como se fora ele obstáculo a  realização da 
comunidade internacional, a  positivação do 
direito internacional, a  passagem do direito 
internacional, de um direito de bases 
meramente contratuais, apoiado em 
princípios de direito natural, de fundamentos 
tão-somente éticos ou racionais, a um direito 
que coercitivamente se pudesse impor a 
todos os Estados”. 
Esse debate nos chama a atenção para a 
possibilidade de compreender a soberania em seu: 
 Aspecto interno: o que importa é o 
império sobre o território e a população. 
 
 Aspecto externo: representa a 
manifestação de poder perante outros Estados. 
 
 
 
42 
 
CPF 
 
 
A questão da “titularidade”/fundamentação da 
soberania também é importante para este ponto do certame. 
Em verdade, há dois debates o primeiro seria entre uma 
fundamentação teológica e fundamentação democrática. E o 
segundo, seria entre uma soberania popular (povo) e uma 
soberania nacional (da nação). 
Em resumo, a fundamentação teológica da 
soberania remete o poder do soberano a uma origem divina 
(ele próprio é uma espécie de Deus ou descendente de Deus) 
ou uma investidura providencial/divina, ou seja, ele é o 
soberano porque Deus o investiu assim. 
A fundamentação democrática pode ser atribuída 
ao povo soberano ou a nação que é concebida, nesse caso, 
como algo superior ao próprio povo, ligada a ideia de 
representação. 
Vamos entender um pouco melhor a história dessa questão. 
Bonavides ilustra bem a questão: 
São os monarcas na terra os executores 
irresistíveis unicamente perante Deus, jamais 
perante os homens. Quando Luís XIV, 
escrevendo suas memórias, expressa 
rigorosamente a mesma ideia de Luís XIV, num 
célebre edito, afirma que sua coroa não 
 
 
 
43 
 
CPF 
 
 
deriva de ninguém senão de Deus e que o 
direito de fazer as leis lhe compete com 
exclusividade, temos aí (...) a mais completa e 
acabada imagem de a “pura doutrina do 
direito divino” sobrenatural. 
A frase icônica “o Estado sou eu”, que apesar de 
atribuída a Luís XIV serve perfeitamente para representar a 
forma como era a soberania: um poder que não conhecia 
limites – apenas os limites auto impostos. 
A noção de soberania do Estado como se 
confundindo com o governante não mais garantia a 
legitimidade política. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi 
quem construiu a noção de que a soberania não poderia ser 
representada, ou seja, delegada a um indivíduo em participar. 
A massa social, o “povo” acaba sendo sinônimo de “nação”, 
o importante nessa discussão é o aspecto quantitativo da 
soberania. Para ele, a soberania assume um caráter “popular 
”, distanciando-se definitivamente das concepções centradas 
na figura do monarca. De todo modo, a versão democrática 
do conceito de soberania proposta por ele foi algo que 
inspirou o surgimento das democracias modernas como as 
conhecemos, nas quais um eleitor equivale a um voto válido, 
independentemente de nível sociais ou quais outras distinções 
que se possa fazer: o sufrágio universal. 
 
 
 
44 
 
CPF 
 
 
Outra versão do conceito de soberania, a soberania 
do tipo “nacionalista”, voltava-se para a própria noção de 
“nação”. A diferença mais marcante – comparativamente à 
soberania popular – é que a soberania nacionalista se realiza 
por meio de governantes eleitos para representar o poder 
social. Ou seja, para essa concepção, é perfeitamente 
possível uma nação se fazer representar, pois a soberania não 
é simplesmente a soma numérica do povo, mas algo maior, 
distinto, sendo uma síntese superior à soma de suas partes. Tal 
artifício retórico dota a ideia de “nação” como um espírito 
coletivo o qual os seus representantes estariam fazendo jus. 
Vejam a ideia de Rousseau expressa Constituição 
Francesa de 1791 (pós Revolução de 1789 - grande marco de 
queda do Antigo Regime do Estado Moderno), identificando a 
nação como o povo em sua totalidade: 
“a soberania é una, indivisível, inalienável e 
imprescritível. Pertence à nação; nenhuma 
seção do povo, nenhum indivíduo pode 
atribuir-se-lhe o exercício”. 
Podemos encontrar esses conceitos refletindo 
doutrinas jurídicas, tais como a de Ruy Barbosa que desde à 
sua época defendia a normatividade da Constituição como o 
respeito ao pacto político que ela representa, pois para ele: 
 
 
 
45 
 
CPF 
 
 
Não há, numa Constituição, cláusulas a que 
se deva atribuir meramente o valor moral de 
conselhos, avisos ou lições. Todas têm força 
imperativa de regras, ditadas pela soberania 
nacional ou popular aos seus órgãos. (Ruy 
Barbosa - Obras Completas de Rui 
Barbosa. V. 42, t. 1, 1915. p. 170) 
 
7. Regime, formas e sistemas de governo. 
“Para começo de conversa” vamos classificar o 
Brasil nessas categorias que o item do edital apontou para não 
corrermos o risco de errarmos com isso. 
→ Classificação do Brasil: Democracia, Republica, 
Presidencialista, Estado Federado ou Federação centrípeta. 
Sobre regimes de governo. 
Os regimes de governo também conhecidos como 
regimes políticos podem ser descritos como a forma de se 
reger uma nação, guarda relação com a maneira como o 
poder é distribuído, de maneira que se é entre todos 
chamamos Democracia e se de um ou de poucos (lembrem 
de regime militar) dá-se o nome de Autocracia (autoritarismo 
ou totalitarismo). 
 
 
 
46 
 
CPF 
 
 
Nestesentido, trata-se de um complexo estrutural 
de princípios e forças políticas que configuram determinada 
concepção do Estado e da sociedade, influenciando no 
respectivo ordenamento jurídico. 
Diz-se que a definição do regime de governo está 
relacionada ao equilíbrio entre duas forças fundamentais 
relacionadas ao poder do estado, seu aparato coercitivo e 
consentimento, remontando ao tópico sobre a legitimidade 
do poder político, bem como do poder do estado. 
Sobre os regimes autocráticos. 
O Totalitarismo significa “tudo ao Estado”. Na 
literatura mais tradicional os mais conhecidos são o Nazismo e 
o Fascismo, o que prevalece é a ideia de que O Estado se 
sobrepuja aos indivíduos. 
Suas principais características são 1) Forma 
autoritária de governo; 2) controle totalitário da vida privada; 
3) partido único fascista que auxilia neste controle; e 4) 
discriminação arbitrária contra classes, grupos sociais, 
indivíduos, inclusive no acesso as funções burocráticas no 
corpo do Estado, o que gera ao final a substituição das classes 
dominantes tradicionais por novos estratos que governam sem 
a restrição dos valores da tradição. 
 
 
 
47 
 
CPF 
 
 
O Autoritarismo é um conceito brasileiro. Criado 
para falar dos “regimes nacionais autoritários” (relacionados 
ao período Vargas principalmente), pois segundo os autores 
que os estudavam haviam grandes mentes que pensavam o 
estado brasileiro à época defensores dessa prevalência do 
Estado sobre a sociedade em moldes bem específicos (que, 
principalmente, não se igualavam aos regimes nazifascistas). 
Para constar, importantes autores, como Azevedo 
Amaral em “O Estado autoritário e a realidade nacional” e Karl 
Lowenstein em “O Brasil sob Vargas”, diferenciam ainda 
fascismo, totalitarismo e autoritarismo. 
Sobre a diferença entre regimes e formas de governo. 
Dalmo de Abreu Dallari formas de governo e 
regimes políticos são expressões sinônimas, sendo este um 
ponto de divergência entre os autores. 
A melhor maneira de diferenciar para nossa prova é 
entender regime de governo como a maneira como 
efetivamente o governo é realizado, se de maneira 
concentrada (autocrática) ou de maneira distribuída 
(democrática), ao passo que as formas de governo devem ser 
entendidas a partir do reconhecimento oficial e legítimo do 
poder (monarquia, aristocracia, democracia). 
 
 
 
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Uma dica: em geral os regimes de governo/políticos 
autocráticos, embora sejam autoritários retoricamente eles 
reivindicam estar exercendo o poder em nome do povo 
(estado novo getulista, ditadura militar, nazismo) ao passo que 
nas formas de governo o titular do poder soberano é 
reconhecidamente o rei (monarquia), ou um grupo 
(aristocracia). 
Sobre a evolução do debate sobre as formas de governo. 
As formas de governo estão relacionadas a 
titularidade do poder soberano. A sua primeira classificação foi 
proposta por Aristóteles, que dividiu em três possibilidades: 
1) Monarquia: governo de um só, havendo uma 
hierarquia onde o ocupante do poder soberano 
tem predomínio permanente sobre os 
governados. 
 
2) Aristocracia: governo de alguns, aqueles 
considerados os “melhores” (os mais inteligentes, 
os mais preparados), que diz respeito à 
capacidade intelectual e prática para a 
condução dos assuntos do Estado. Pode ser dizer 
que Platão seria um defensor de um governo 
aristocrático já que ele sustentava um governo 
onde “os sábios fossem reis”. 
 
 
 
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3) Democracia: governo da maioria, onde 
predomina os ideais de liberdade e igualdade, já 
que devido a essa configuração de exercício de 
poder, há um rodízio de ocupantes das posições 
decisórias do Estado. 
Vale lembrar que para Aristóteles esse critério de 
explicação não é qualitativo, uma vez que ele presume que 
todas essas formas de governo são “puras” no sentido de que 
visam o bem comum no momento em que passam priorizar 
seus negócios pessoais em detrimento contra o interesse do 
coletivo, passam as formas de governo impuras, a saber: 
1) Tirania: é a conversão da monarquia desvirtuada 
para o interesse único e exclusivo do soberano. 
2) Plutocracia ou oligarquia: é a conversão da 
aristocracia corrupta que se move no primeiro 
caso em interesse do dinheiro e no segundo de 
vantagens a um pequeno grupo (chamamos o 
período republicano brasileiro pré-Vargas de 
oligárquico pelo domínio dos coronéis locais 
sobre as ações políticas do estado). 
3) Demagogia: é a conversão da democracia que 
destituída torna-se rude e despótica. 
 
 
 
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Pode-se acrescer a classificação de Aristóteles o 
chamado governo misto, que é nada mais, nada menos do 
que a mistura dos critérios, sendo um exemplo antigo a 
respublica romana que a um só tempo tinha um imperador, 
um senado aristocrático e uma “câmara democrática” e um 
exemplo contemporâneo a Inglaterra que ainda é monarquia. 
A modernidade política, como já citamos, inaugura-
se com Maquiavel e este identifica apenas duas formas de 
exercício do poder soberano (duas formas de governo, 
portanto) de maneira que a classificação das formas de 
governo para ele são: república (poder plural) e monarquia 
(poder singular) de modo que a primeira englobaria 
democracia e aristocracia. 
Na mesma linha de pensamento para Montesquieu 
(1689-1755) as formas de governo são: monarquia, república e 
despotismo (em “O Espírito das Leis”). Sendo o despotismo 
para ele o governo cuja natureza funda-se na ignorância ou 
na transgressão da lei e tem por princípio o medo no qual a 
relação entre governantes e governados são regidas por 
temor recíproco, onde há governo que teme o povo, há 
governo despótico. 
Sobre os sistemas de governo. 
Esses estão relacionados a organização interna do 
Estado, mais especificamente com o modo como interagem o 
 
 
 
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CPF 
 
 
Poder Executivo e o Poder Legislativo, já pressupondo a divisão 
de poderes de Montesquieu, em suas funções 
governamentais. São eles: O Presidencialismo e o 
Parlamentarismo. 
No presidencialismo, surgido com a independência 
estadunidense, é onde o princípio da separação de poderes 
ocorre de maneira mais clara, o governante, em regra, é eleito 
diretamente pelo povo/nação motivo pelo qual não precisa 
prestar contas políticas ao Congresso, podendo exercer todos 
os atos puramente de execução, e ainda o chefe do estado e 
o chefe de governo são a mesma pessoa, o presidente. Outras 
características “secundárias que em geral se verificam em 
regimes presidencialistas são: a) o poder de veto do 
presidente; b) o prazo determinado do mandato. 
Por sua vez, o Parlamentarismo é identificado, tido 
como um processo histórico de conformação do Estado, 
tendo como exemplo mais conhecido a Inglaterra, 
caracteriza-se por ter uma distinção entre o chefe de estado e 
o chefe de governo (chefe de estado é o monarca ao passo 
que o chefe de governo é escolhido pelo parlamento, esse 
escolhido pelo povo), a consequência disso neste caso o 
chefe de governo responde politicamente ao congresso, já 
que foi este que o colocou por lá – isto é um argumento para 
sustentar que não há separação de poderes clássica nesse 
 
 
 
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CPF 
 
 
sistema – e em geral não possui mandato determinado, sendo 
retirado do cargo ou por perda da maioria no congresso ou 
pelo voto de desconfiança. 
Sobre as formas de Estado. 
Definimos acima os conceitos que estão no item do 
edital, não obstante a forma de organização política do 
Estado também pode aparecer no certame, de modo que o 
poder político pode ser dividido entre "estados" (outros entes 
federados como é no nosso caso com os municípios) – estado 
federado ou federação - ou ser concentrado num único ente 
– estado unitário. 
Uma questão ilustrativa desse ponto do edital, 
embora da FFC, é a seguinte: 
[FCC/SEFAZ-SP/ Analista em Planejamento, 
Orçamentoe Finanças Públicas/2010] 
Enunciado - Considere: 
I. O Brasil é uma República, adotada desde 15 
de novembro de 1889, consagrada na 
Constituição de 1891, e em todas as 
constituições subsequentes. 
II. O Brasil é uma federação composta pela 
União, Estados-membros, Distrito Federal e 
Municípios. 
 
 
 
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CPF 
 
 
Essas afirmações dizem respeito, técnica e 
respectivamente, às formas de 
 a) regime político e governo. 
 b) estado e de governo. 
 c) governo e de estado. [GABARITO]. 
 d) separação de poderes e de governo. 
 e) estado e de regime político. 
 
7.1 As origens da ordem política. 
ATENÇÃO! Esse é o único tema incluído no certame 
de 2017, e como é habitual no nosso conjunto de disciplinas, 
vários conceitos que poderiam ser abordados neste tópico já 
foram tratados em outro momento, vamos delinear uma ideia 
do que é ordem política e resgatar os conceitos e autores que 
podem ser abordados. 
Modernamente, muitas vezes a discussão a respeito 
do que seria o Direito, a Política e o Estado são de tal maneira 
implicadas que se confundem e parece ser impossível explicar 
sem mencionar o outro, dividem-se as teorias em propor ideias 
em torno das quais o Estado teria criado o Direito ou este é 
anterior a ele, em verdade originando-o. A questão é que no 
 
 
 
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CPF 
 
 
fundo deste debate está uma ideia de que há uma ordem 
política. 
Assim, com Nelson Saldanha, podemos 
compreender a ordem política como lugar genérico da vida 
pública, a ordem das coisas que não se acham no espaço 
privado e que incluem normas, valores e instituições. Isto é a 
ordem política. É a *politicidade* como dimensão da vida 
social significando a relação concreta com a dimensão 
pública do viver. 
Nesse sentido, como vimos, embora historicamente 
outras referências possam ser buscadas em geral é a polis 
grega que é atribuída o embrião dessa discussão, com 
Aristóteles que defendia que a política deveria estudar a polis 
(cidade-estado grega) – em todas as suas dimensões e 
“instituições”, devendo o governo preocupar-se com o bem-
estar geral. Ressaltando, novamente com Nelson Saldanha, 
que a própria imagem moderna que se faz da polis é do lugar 
de integração de todas as dimensões da vida: familiar, 
religiosa, econômica e jurídica. Neste sentido, direito e estado 
podem estar contidos na noção de política (tudo aquilo 
referente a polis: estilo, instituições, valores). Além de 
Aristóteles, Sócrates Platão e Políbio (que pensou forma de 
 
 
 
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CPF 
 
 
governo dividia a fim de alcançar estabilidade) também são 
dignos de menção5. 
Seguindo-se temos os romanos que, incorporando 
várias concepções gregas acerca da vida pública, acrescem 
as ideias de res publica e civitas (da coisa do povo que é de 
todos e da cidadania, respectivamente). 
A este período sucede a era medieval que, diante 
da preponderante influência da Igreja nas relações sociais, é 
caracterizado por um grande eticismo teológico, ou seja, uma 
forte presença das questões morais ligadas a questões 
religiosas na condução das relações em sociedade. Sobre este 
período e as importantes concepções a respeito da política 
podemos mencionar os mais conhecidos São Tomás de 
Aquino, Santo Agostinho, e os menos “populares” Guilherme 
de Ockham e Marcílio de Pádua6. 
Marcante foi, portanto, a contribuição de Nicolau 
Maquiavel que ao tratar da política sem eticismo (sem discutir 
as ações do soberano/príncipe de um ponto de vista ético-
moral) e sem teologia, produziu uma concepção sobre a 
ordem política baseada na descrição de como elas eram e 
preocupados com o governo, proteção do território, 
 
5Para inventariar os autores mais importantes, além das provas de concurso, sigo a orientação contida 
em Curso de Ciência Política (organizado por Lier Pires de Almeida, Ricardo Guanabara, Vladimyr 
Lombardo da editora Campus/Elsevier), o qual recomendo por inteiro, especialmente para este tópico do 
edital o capítulo 1 que cuida mais atentamente desses pensadores antigos e medievais. 
6Idem. 
 
 
 
56 
 
CPF 
 
 
comparando com outras experiências históricas. Em 
contraposição, pode-se mencionar a obra de Thomas More, 
Utopia, na qual ele descreve um “lugar perfeito” onde existe 
tolerância, os governantes zelam pelo bem do povo, existe 
igualdade e liberdade, prevalece sempre a paz. 
Segundo Nelson Saldanha, pode se entender que 
esses dois autores deram origem as duas grandes correntes do 
pensamento político moderno (ou melhor: as duas formas 
básicas de se pensar a política), de um lado Maquiavel 
inspirando um realismo preocupado com as razões do estado 
e de outro Thomas More com uma utopismo humanitário (que 
depois deram origem aos socialistas, chamados em seguida 
por Marx de “socialistas utópicos” ao passo que denominou 
sua própria teoria de socialismo científico – aqui a referência 
diz respeito aos fundamentos históricos, econômicos e sócias 
que o autor usou para criar seus conceitos). 
Após o autor de “O Príncipe”, podemos mencionar 
Jean Bodin (1530-1596) conhecido por conceituar a soberania, 
sendo de extrema importância, em termos de ciência política, 
para as noções de obrigação política e centralização do 
poder. Soberania para ele seria o “poder perpétuo e absoluto 
de uma República”. O “justo governo de várias famílias e do 
que lhes é comum, com poder soberano”, por sua vez, seria a 
 
 
 
57 
 
CPF 
 
 
definição de República. Então, a soberania também se 
expressaria no tempo na forma de uma monarquia hereditária. 
Preocupado com os diversos conflitos de seu tempo 
(religiosos, políticos e sociais), mas avido perseguidor de 
atitudes que considerava anticristãs. Sustentava que o poder 
soberano é ilimitado em relação as leis civis, mas é limitado em 
relação ao direito natural. A lei civil, portanto, deve ser 
inspirada na lei divina que é imutável e eterna, o soberano é, 
nesses termos, um súdito de Deus. 
Embora sustentasse que o soberano tem o poder de 
legislar sem os consentimentos dos súditos, ele também 
deveria atuar visando um bem comum, demonstrando com 
isso sua inspiração aristotélica. 
O autor francês escreveu “Método para a fácil 
compreensão da história” (1566), “Os seis livros da República” 
(1576) e “Disposição do direito universal” (1578), sustentando, 
entre outras coisas, que dentre as dimensões normativas da 
sociedade, a lei civil (existe ainda a lei moral e a familiar), a 
qual regula as relações entre várias famílias, seria a mais 
importante (ou seja, ideia que dará azo noção de prevalência 
normas de ordem pública, interesse público, etc.). 
 
 
 
 
 
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CPF 
 
 
Sobre os contratualistas (Hobbes, Locke e Rousseau) 
Sobre o que os contratualistas tem em comum, 
vejamos essa questão CESPE: 
[CESPE/ANTT/ Analista Administrativo/2013] 
Enunciado: Com relação ao Estado e sua 
evolução histórica, julgue o item seguinte. 
 
Segundo a perspectiva do contratualismo 
clássico, o contrato é a base da relação 
jurídica facultada aos membros que dele 
pactuam e por meio do qual se institui o 
Estado de natureza. 
[Gabarito: ERRADO, o contrato social não 
institui o estado de natureza, ele institui o 
Estado] 
Vamos a Hobbes que expressou sua preocupação 
com o que ele chamou de “guerra de todos contra todos” e 
com um homem que é “lobo do homem” não podemos 
esquecer que ele estava escrevendo numa Inglaterra no 
século XVII em plena guerra civil, isto é, seu pensamento está 
orientado em como governar para “estabilizar o caos” e 
garantir ao menos a vida das pessoas (segurança). 
 
 
 
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CPF 
 
 
Neste sentido, o “homem natural” ou do “estado de 
natureza” que Hobbes descreve não é um selvagem, e sim o 
mesmo que vive em sociedade. 
Nas palavras de Renato Janine Ribeiro: 
a natureza do homem que vive em sociedadenão muda conforme o tempo, ou a história, ou 
a vida social. [Para] Hobbes, como para a 
maior parte dos autores de antes do século 
XVIII, não existe história entendida como 
transformando os homens. Estes não mudam 
[em essência] (Os clássicos da Política, vol. 1) 
Assim, os homens naturalmente livres são tão iguais 
que nenhum tem plena certeza de que poderá triunfar ou 
sucumbir [não há “ordem social” ou ela é muito frágil num 
contexto de guerra civil, sobre quem manda, obedece, 
ganha, perde] perante o outro. Se não há, pois, um Estado 
controlando e reprimindo essas atitudes a atitude mais racional 
que os sujeitos podem adotar é precavidamente “atacar” o 
outro. Logo, a igualdade é um problema para Hobbes. 
Em linhas gerais o mesmo conceito pode ser 
aplicado a liberdade, para ele “liberdade é ausência de 
oposição” ou não ser impedido de fazer o que tem vontade 
de fazer. Isto é, ele trata a liberdade com algo quase físico e 
 
 
 
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CPF 
 
 
não como um valor como nós do século XX, desde a 
revolução francesa, aprendemos a entende-la. 
Assim, o “contrato social” [que é uma abstração 
explicativa, sempre é bom lembrar] em Hobbes fala que o 
indivíduo para proteger a própria vida renunciou ao seu direito 
de natureza – que é o fundamento jurídico da guerra 
generalizada de todos contra todos - dando poderes ao 
soberano para instaurar a paz, dar-lhe segurança. (dar 
condições de proteger sua própria vida, este o talvez o único 
direito natural reconhecido pelo autor Hobbes). 
Novamente nas palavras de Renato Janine Ribeiro: 
“Para montar o poder absoluto, Hobbes 
concebe um contrato diferente, sui generis. 
Observemos que o soberano não assina o 
contrato – este é firmado apenas pelos que 
vão se tornar seus súditos, não pelo 
beneficiário. Por uma razão simples: no 
momento do contrato não existe ainda 
soberano, que só surge devido ao contrato. 
Disso resulta que ele se conserva fora dos 
compromissos e isento de qualquer 
obrigação [esse pensamento servirá a 
fundamentar o absolutismo e para alguns 
 
 
 
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CPF 
 
 
autores a própria ideia de positivismo jurídico 
que seria o absolutismo do Estado] 
Cuidado! Outros contratualistas tratarão a 
igualdade e a liberdade como valores a serem protegidos o 
que pode confundir na hora da prova. 
Se de um lado, os escritos hobbesianos servem ao 
interesse do monarca absolutista, a “origem da ordem 
política” sugerida por Locke é interessante à classe burguesa 
em ascensão, dando origem ao pensamento liberal clássico. 
Assim, justamente em contraposição ao absolutismo na 
Inglaterra, para Locke definitivamente a liberdade é um valor, 
um dos direitos naturais do homem, junto com a vida e a 
propriedade privada, esta por sua vez é adquirida pelo 
trabalho, mas também pode ser protegida pelo contrato, isto 
é, o contrato é o instrumento por meio do qual é possível que 
um homem trabalhe para outro (e na sua propriedade) sem 
adquirir propriedade com relação as suas coisas. 
Vamos comentar algumas questões CESPE sobre a 
temática do ponto para articular os autores Hobbes e Locke e 
verificarmos qual é a tendência de cobrança. 
[CESPE/DPU/Defensor Público/2010] 
Enunciado: 
 
 
 
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CPF 
 
 
De acordo com a teoria política de John 
Locke, a propriedade já existe no estado de 
natureza e, sendo instituição anterior à 
sociedade, é direito natural do indivíduo, não 
podendo ser violado pelo Estado. 
[Gabarito: CERTO] 
Os pontos da questão que merecem destaque são: 
1) Teoria Política de Locke (identificação do autor que já 
sabemos é pensador liberal clássico alinhado aos 
pensamentos da burguesia); 2) A propriedade já existe no 
estado de natureza (é um direito natural, portanto), sendo 
anterior a sociedade (esta firma-se quando os indivíduos livres 
fazem um contrato social, entregando uma parcela de sua 
liberdade ao Estado com finalidade de proteger esses direitos 
naturais; 3) De modo que o Estado em Locke deve ter poderes 
limitados, devendo ser consentido (vem aqui uma ideia de 
legitimidade) e regulado pelos indivíduos que são parte no 
contrato. Para Locke a supremacia em termos práticos é do 
parlamento que representa a vontade do povo. 
[CESPE -ANTT - Analista Administrativo 2013] 
Enunciado: Acerca de cidadania e de direitos 
humanos, julgue o item que se segue. 
 
 
 
 
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CPF 
 
 
Da perspectiva liberal, a legitimidade do 
Estado depende de sua capacidade de 
defender a prioridade dos direitos humanos, 
os quais estabelecem limites à vontade 
soberana do legislador político. 
[Gabarito: CERTO, vejam que aqui seria 
anacrônico falar que Locke dizia algo em 
termos de direitos humanos, mas se 
substituirmos direitos por direitos fundamentais 
seria preciso mencionar o autor. Destarte, esta 
perspectiva demonstra a herança do 
pensamento Lockiano nas culturas liberais até 
os dias atuais]. 
Nesse mesmo certame: 
[CESPE/ANTT/Analista Administrativo/2013] 
Enunciado: Com relação ao Estado e sua 
evolução histórica, julgue o item seguinte. 
A visão de Estado, no pensamento político de 
Locke, consiste na tríade que se estrutura, 
conforme o estado de natureza, passando 
pela constituição de sociedade civil, fundada 
no pacto ou contrato social e desemboca no 
Estado Absolutista. 
 
 
 
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CPF 
 
 
[Gabarito: ERRADO, pois Locke não defendia 
o Estado Absolutista, de maneira que a 
sociedade civil desemboca na Monarquia 
Parlamentarista] 
Nosso último autor é Rousseau (1712-1778), 
lembrando que já conversamos sobre ele no item 6.3 
(soberania) onde vimos que ele defendia da ideia da 
soberania verdadeiramente popular, sustentando que noção 
de representação contrário logicamente o exercício do poder 
pelo povo, sendo suas ideias muito importantes para a 
Revolução Francesa (1789) e para “evolução” do direito ao 
sufrágio universal, motivo pelo qual também veremos no ponto 
8 que para ele a democracia grega, em verdade era uma 
aristocracia democrática. 
Assim, como já comentamos, os contratualistas tem 
em comum a noção de um estado de natureza e de um 
contrato social, formando o Estado. Se Hobbes é associado ao 
Estado absolutista e Locke ao parlamento, Rousseau é a 
democracia. 
Na questão do estado de natureza Rousseau se 
aproxima de Locke, de modo que este considerava que o 
homem é bom em natureza (“o bom selvagem”), sendo 
corrompido pela sociedade, a qual é uma iniciativa 
 
 
 
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CPF 
 
 
empreendida pelos ricos para manter seus inimigos sob seu 
olhar, simulando a igualdade. 
Assim, para este, a passagem do estado de natureza 
ao Estado deve se dar como expressão da vontade geral de 
converter seus direitos naturais em direitos civis, de modo que 
na apreciação do sentido da propriedade ele se aproxima 
mais de Hobbes considerando-a um direito civil (e não um 
direito natural), e ainda geradora da desigualdade. 
Por fim cabe mencionar que Rousseau escreveu um 
importante livro sobre “pedagogia” chamado Emílio (ou “Da 
Educação”) sendo a educação parte integrante de suas 
ideias, pois para ele é por meio dela que os indivíduos se fazem 
iguais, sendo papel do Estado reduzir a desigualdade visando 
manter o interesse geral. 
8. Democracia. 
Inicialmente, a democracia antiga tinha como traço 
fundamental a capacidade social de votar e ser votado. Essa 
é a noção elementar a partir do qual se constitui o que 
atualmente chamamos de cidadania. Consoante as 
instruções dos tópicos anteriores, a democracia é uma forma 
de governo que se baseia na vontade da maioria (é o 
“governo de todos” ou o “governo da maioria”), o que nem 
sempre significou a maioria no sentido quantitativo, mas 
aquele grupo ou camada social que estava autorizado a votar 
 
 
 
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CPF 
 
 
e ser votado. Na Grécia antiga, os demos, que eram as 
divisões setoriais votantes compostas por homens gregos após 
atingirem a

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