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11 
 
 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO 
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS 
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA E HISTÓRIA 
ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA DO MARANHÃO 
 
 
 
 
 
 
 
MARIA DAS GRAÇAS SARAIVA BARROSO 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ESCRAVIDÃO E A CRISE DO ESCRAVISMO NO ANTIGO 
MUNICÍPIO DE PICOS - MA. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Luís 
2006 
 12 
 
 
MARIA DAS GRAÇAS SARAIVA BARROSO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ESCRAVIDÃO E A CRISE DO ESCRAVISMO NO ANTIGO 
MUNICÍPIO DE PICOS - MA. 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de História do Centro 
de Ciências Exatas e Naturais da UEMA, Campus de São 
Luís, como parte dos requisitos para obtenção do grau de 
Especialista em História do Maranhão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Luís 
2006 
 13 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CERTIFICADO DE APROVAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Barroso, Maria das Graças Saraiva 
 
 Escravidão e a crise do escravismo no antigo município de Picos - 
MA. Maria das Graças Saraiva Barroso. -São Luís, 2006 
 
 xi, 80 f.:il; 15 
 
 Monografia (Especialização em História do Maranhão). - 
Universidade Estadual do Maranhão, 2006. 
 
 1. Escravidão. 2. Crise. 3. Lei do ventre livre. 4. Abolição. 5. 
Memória oral. I. 
 Barroso, Maria das Graças Saraiva. II Título 
 
 
CDU 94(812.1).063 
 
 14 
 
 
MARIA DAS GRAÇAS SARAIVA BARROSO 
 
 
 
 
 
 
 
A ESCRAVIDÃO E A CRISE DO ESCRAVISMO NO ANTIGO 
MUNICÍPIO DE PICOS - MA. 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de História do 
Centro de Ciências Exatas e Naturais da UEMA, 
Campus de São Luís, como parte dos requisitos para 
obtenção do grau de Especialista em História do 
Maranhão. 
 
Orientador: Prof. MSc. Josenildo de Jesus Pereira 
 
 
 
 
 
Aprovado em, ____/____/______ 
 
 
 
 
 
 
 
Banca examinadora: 
 
 
________________________ 
Presidente da banca 
 
 
________________________ 
2º examinador 
 
 
________________________ 
3ª examinador 
 15 
 
 
 
 
Dedicatória 
In memória 
A minha mãe 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Ao meu marido João 
Francisco. Obrigada pelo 
companheirismo, dedicação e 
apoio na busca de um sonho. 
 
 
 
 16 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 À Deus pelo dom e preservação da vida; 
 À meu pai e irmã pelo carinho; 
 À minha sogra pelas orações ao nosso favor; 
 À meus filhos: 
 Marcio Jerry, Leny Régia, João Haroldo, Márcia Rejane, Dinorá Elisa, 
Wendeel, João Filho, Samuel e Silas André, obrigada por acreditarem em mim. 
Às minhas noras: Kátia, Katiane, Eliane, Paula Fernanda e os genros Sérgio Paulo, 
Péu e André. Obrigada por ser parte da nossa família. 
 Ao cunhado Haroldo e seu aluno Carlos pela força nos momentos 
difíceis na formatação do trabalho. 
 À Ana Lúcia pelo cuidado dispensado a nossa casa. 
 Às netas: karolliny, Thalita, Rafisa, Camila, Dandara, Paula Andréia, 
Raiza, Gabriela, Rebeca, Mariane, Iara Thalita, Régia Milena, Ana Elisa e aos netos 
Caetano, Lucas André e João Ricardo, obrigado por trazerem alegria a nossa casa. 
 Ao professor Josenildo, obrigada pela atenção e orientação do 
trabalho. 
 Aos senhores Antonio Farias, João Santana, Maria da Paixão, Antônia 
Ferreira, Francisca Dias Ferreira, obrigada pelos depoimentos valiosos ao nosso 
trabalho. 
 À Simone, pelo carinho e atenção na digitação dos textos. 
 Aos cartórios de Colinas, obrigada Jardânia, Júnior, João e Helenilde 
pelo acesso aos livros de notas. 
 Ao cartório de passagem franca, obrigada tia Valdeci pelo acolhimento 
dispensado. 
 Obrigada a todos que direto ou indiretamente cooperaram para que 
esse trabalho fosse realizado. 
 
 
 17 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As relações entre senhores de escravos são 
frutos das ações de senhores e de escravos, enquanto 
sujeitos históricos tecidas nas experiências desses 
homens e mulheres diversos, imersos em uma vasta rede 
de relações pessoais de dominação e exploração. 
 
Thompson 
 
 
 18 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
 
Neste trabalho estuda-se a Escravidão e a Crise do Escravismo no processo de 
formação do município de Picos, atual Colinas – Maranhão. Analisa-se a 
desagregação do sistema no contexto da vigência da Lei do ventre Livre, relação 
senhores escravos, Fundo de Emancipação e Caminhos da Abolição com ênfase na 
memória oral. 
 
 
Palavras – Chaves: Escravidão, crise, Lei do Ventre Livre, Abolição, memória oral. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
 
In this work studies it Slavery and the Crisis of the Escravismo in the process of 
formation of the city of Peaks, current Hills - Maranhão. It is analyzed disaggregation 
of the system in the context of the validity of the Law of the Free, relation enslaved 
gentlemen, Deep womb of Emancipation and Ways of the Abolition with emphasis in 
the verbal memory. 
 
Words - Keys: Slavery, crisis, Law of the Free Womb, Abolition, verbal memory. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 20 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11 
2. PICOS NO CONTEXTO MARANHENSE ............................................................ 12 
2.1 O Porto de Picos e o desenvolvimento do Alto Itapecuru .................................. 23 
3. A ESCRAVIDÃO AFRICANA NO BRASIL MARANHÃO E PICOS. ................. 25 
3.1 O comércio ......................................................................................................... 36 
3.2 As relações sociais nos primórdios da conquista .............................................. 38 
4. A ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO E MEMÓRIAS DE REMANENCENTES DE 
ESCRAVOS EM COLINAS ..................................................................................... 41 
4.1 Memórias de remanescentes de escravos em Colinas ..................................... 56 
5. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 67 
 REFERENCIAS .................................................................................................. 69 
 ANEXOS 
1. Relação de senhores de escravos. 
2. Relação de compra e venda de escravos. 
3. Mapa da população escrava de Picos, 1883. 
4. Carta de Liberdade. 
5. Relação de senhores que registraram escravos a serem libertos pelo fundo de 
emancipação. 
6. Fotos de remanescentes de escravos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 21 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 As novas pesquisas da historiografia brasileira vêm demonstrando que 
a escravidão apresentou viv6encias e experiências diversas e o escravo não foi um 
sujeito passivo, mas sim um agente de sua história. É dentro dessa perspectiva que 
se busca estudar a escravidão no contexto da formação da antiga vila de Picos no 
Maranhão. 
 O interesse pelo tema deu-se em função da necessidade de um estudo 
que contemple a história da escravidão negra no processo de formação do município 
e a utilização da mão-de-obra escrava na agroexportação, ao lado da pecuária 
extensiva, no contexto da desagregação do sistema escravista. 
 A pesquisa teve inicio com a leitura de trabalhos da historiografia 
negra, brasileira e maranhense, bem como fontes primárias em cartórios e 
paróquias. Consultou-se livros de notas e inventários nos cartórios de passagem 
franca e colinas, registros de batismos e registro de escravos. A documentação 
trouxe a tona varias informações que diz respeito à idade, propriedade, condição 
jurídicas sendo estas fontes para analisar as relações escravistas. A memória oral 
oriunda dos remanescentes de escravos foi uma preciosa fonte que esclareceram 
várias perguntas sobre os documentos. 
 O recorte temporal do trabalho corresponde às décadas de 70 e 80 do 
século XIX, época que nasce Picos na crisede desagregação do escravismo. O 
presente trabalho foi construído com base na teoria da historia social que tem como 
objetivo compreender o social na sua pratica, o método utilizado foi o histórico critico 
com base na teoria de E. P. Thompson segundo o qual os sujeitos sociais constroem 
suas experiências cotidianas. 
 O trabalho foi dividido em três capítulos. No primeiro capítulo, Picos no 
contexto maranhense esboça-se o processo e formação de Picos inserido na 
colonização brasileira e nela a do Maranhão. No segundo capítulo, A Escravidão 
Africana no Brasil, Maranhão, Picos, destaca-se o cenário econômico e social do 
Maranhão focalizando a vida dos escravos, o trabalho na agricultura e pecuária, bem 
como as relações sociais. No terceiro capitulo a abolição e memória dos 
remanescentes de escravos em Colinas destaca-se o processo de abolição 
desenvolvido a partir da criação da lei 2040, atuação do fundo de emancipação, 
registro das memórias daquilo que ficou cristalizado pelos remanescentes. 
 22 
 
 
 
2. PICOS NO CONTEXTO MARANHENSE 
 
 Colinas, cidade maranhense que integra a região do Alto Itapecuru teve 
na sua origem o nome Picos. Este foi mudado em razão da Legislação Federal que 
impedia a duplicidade de nomes a vilas ou cidades brasileiras. Desse modo Picos do 
Maranhão perdeu para Picos do Piauí por ser esta a cidade mais velha. A partir do 
Decreto Lei nº. 331, do dia 02 de fevereiro de 1943, a cidade passou a denominação 
de Colinas. 1 
 O processo de formação histórica do município está inserido no 
chamado território de Pastos Bons, vinculado, portanto, ao povoamento da Corrente 
Baiana, a qual atravessando e povoando o Piauí estabeleceu as primeiras 
povoações de Pastos Bons. É importante lembrar que a colonização do Maranhão 
ocorreu através de duas frentes de expansão; uma foi a litorânea que se expandiu 
sobre o controle do Estado português. A outra corrente povoadora penetrou o 
interior e ocupou o território que envolve desde o Alto Itapecuru, Rio Balsas e 
alcança o Tocantins – o então chamado território de Pastos Bons. 2 
 A fazenda de gado constituiu a unidade básica da conquista da região, 
como também determinou a força de ocupação do solo. 3. Em 1839 a região atraiu 
os balaios que fizeram trincheiras em pontos estratégicos, aterrorizando assim os 
proprietários que temiam perder os negros a sua principal mão de obra. 4 
 A região de Pastos Bons embora com seu processo de colonização 
desvinculado do litoral, a violência praticada em relação aos nativos não foi 
diferente. O comando de Pastos Bons representado por Manuel Lopes e depois pelo 
seu filho Domingos Lopes, entre 1793 a 1801, organizaram expedições no sentido 
de aprisionar índios, fazendo em toda região inúmeros prisioneiros. Os índios 
Timbiras do sexo feminino e os meninos eram os seus alvos principais. 
 
 
___________________ 
1 Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. XV vol. IBGE, Rio de Janeiro, 1959, p. 159. 
2 CABRAL, Maria do Socorro Coelho. Caminhos do gado: Conquista e ocupação do Sul do Maranhão. 
São Luis, SIOGE, 1992, P. 101. 
3 Id. Ibid.P. 144. 
 23 
 
 
4 Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Op.Cit, p. 158. 
 Em represália a essas atrocidades, os nativos Timbiras lutaram como 
puderam no sentido de preservar o seu espaço. Chegaram a assolar e despovoar 
por algum tempo as fazendas de gado que ficavam nas proximidades do Alpercatas. 
Dentre estas fazendas pode-se citar: Maté, Maravilha, Gameleira, Salinas e Fazenda 
Grande. 5 
 Em relação ao povoamento do território que hoje é situado a cidade de 
Colinas, sabe-se que o Governo Provincial de D. Francisco de Melo Manuel da 
Câmara (1806-1809), pretendendo promover a navegação do Rio Itapecuru, 
incumbiu Francisco de Paula Ribeiro da Construção de um povoado na confluência 
do Rio Alpercatas com o Itapecuru. Estava-se no ano de 1807, época que a família 
real portuguesa transferia-se para o Brasil e em sua homenagem, o povoado foi 
chamado de Arraial do Príncipe Regente. 6 
 O local do referido povoado era habitado pelos nativos “os Timbiras 
Canelas Finas”, que no processo traumático de violência praticada pelo branco, 
impediram o desenvolvimento do Arraial do Príncipe Regente. 7 Em 1808, nas 
proximidades do local citado, em um riacho, a 6 km da atual cidade de Colinas, um 
menino de 10 anos, trabalhando como servente dos duzentos homens comandados 
por Manuel. 
 Lopes foi assassinado pelos Timbiras, em represália aos ataques 
constantes. Após o “crime” retiraram as orelhas e levaram como troféu pela vitória. 
 O assassinato dessa criança mostra o grau da violência imposta pelo 
colonizador branco, que utilizava menores indefesos na busca dos seus objetivos. 
Para os nativos, o assassinato de um menino usado nessa “guerra” não 
compensaria as inúmeras perdas que tinham de mulheres e filhos feito prisioneiros. 
Era sim uma vingança em uma luta que sem dúvida sairiam vencidos, pela 
inferioridade que tinham suas armas em relação ao agressor. 
 
 
 
_______________________ 
5 RIBEIRO, Francisco de Paula, memória do sertão maranhense. Editora Siciliano, p. 176 
6 MEIRELES, Mário. História do Maranhão, Fundação Cultural do Maranhão, São Luís, 1980, p. 207-
208. 
7 RIBEIRO, op. cit. p. 172 
 24 
 
 
 Em 1815, quando Francisco de Paula Ribeiro foi encarregado de fazer 
a divisão limítrofe do Maranhão com a Capitania de Goiás, iniciou sua viagem pela 
foz do Rio Itapecurú, na canoa denominada Graça Divina, que o conduziria até o 
último porto navegável, no mesmo rio. Passou por Caxias e de lá chegou até o 
arraial do Príncipe Regente, que se encontrava totalmente deserto. 
 É possível que diante da violência do conquistador na ânsia de ocupar 
o espaço dos nativos, os poucos sobreviventes terminaram fugindo para a mata 
deserta. 
 Diante da resistência dos nativos e o isolamento que havia entre as 
igrejas Matrizes, no território de Pastos Bons, em 1822 foi criado a Freguesia de 
Almeida D’el Rei, cuja povoação situava-se a margem direita do Itapecuru. 8 
 É importante lembrar que a Igreja Católica desde a vinda dos 
portugueses ao Brasil, tinha uma estreita relação com o estado. Esta relação se 
aperfeiçoou cada vez mais estando sempre a Igreja a serviço do Estado, na defesa 
dos seus interesses. À medida que as freguesias se expandiam, sem dúvida o 
controle do Estado seria maior. 
 A criação da Freguesia de Almeida D’el Rei promoveu uma maior 
integração com o litoral maranhense através do rio Itapecuru. O porto construído a 
margem direita do rio até meados do século XIX serviu a Pastos Bons e Passagem 
Franca. 
 Com o afluxo de trabalhadores rurais de diversas regiões, logo foi 
plantado um núcleo colonial e foi edificada a Capela de São Miguel. O Pároco 
indicado para a Freguesia foi Francisco da Rocha, que atendia toda a jurisdição de 
Almeida D’el Rei, que corresponde as atuais paróquias e municípios de Colinas, 
Buriti Bravo, Passagem Franca, São João dos Patos, Barão de Grajaú, São 
Francisco, Sucupira do Riachão. 9 
 
 
 
 
 
 
_______________________ 
8 RIBEIRO, op. cit. , p. 172 
9 SANTOS, Neto, Antonio Fonseca dos, Memória das Passagens... Editora EDUFPI, Teresina 2006, 
p. 66. 
 25 
 
 
 O local que hoje é Colinas, foi um pouso de viajantes de Passagem 
Franca e Pastos Bons que se dirigiam a Almeida D’el Rei. Os viajantes que por lá 
passavam atraídos pelas vantagens naturais fixaram-se construindo suas moradias, 
pois as terras devolutas eram importantes áreas para expansão da colonização. 
Nesse contexto Germano Pereira de Sá obteve por meio de Sesmaria uma vasta 
área de terra, a partir da qual, se desenvolveu o povoado da chamada Fazenda 
Grande10. 
 Em 1835, pela Lei Provincial nº. 07 de 29 de abril, foi criada a Comarca 
de Pastos Bons, que ficou dividida em dois municípios: Passagem Franca e Pastos 
Bons. A Fazenda Grande de Germano Pereirade Sá ficou pertencendo ao município 
de passagem Franca e ganhando cada vez mais admiradores daqueles que 
passavam para transportar suas produções pelo porto de Almeida. A principal 
produção embarcada para Caxias era o algodão e de lá eram trazidas Mercadorias 
que abasteciam o mercado das vilas de Pastos Bons e Passagem Franca. 
 A partir de 1835, Almeida D’el Rei foi anexada a freguesia de São 
Sebastião de Passagem Franca. O porto de Almeida D’el Rei foi sem dúvida um dos 
fatores que mais contribuiu para o desenvolvimento da Fazenda Grande. Outras 
fazendas inseridas no município também se destacavam, como é o caso da Maté, 
Gameleira, São Félix e Maravilha. 
 Em 1838, a Balaiada penetrou em parte da província, chegando à 
cidade de Caxias, que rende-se aos revolucionários. Foi nesse contexto que a 
Fazenda Grande, do município de Passagem Franca, como muitas outras, foram 
invadidas pelos Balaios. 
 Na época, o dono herdeiro da Fazenda Grande era o senhor José 
Pereira de Sá, que temendo que seus escravos se unissem aos balaios pediu 
socorro às autoridades de Caxias, vindo reforço sob o comando do Tenente Joaquim 
Eloi de Queirós. Houve combates no povoado Piquete, onde o Srº. Pereira de Sá 
morreu. Muitas outras vidas foram ceifadas, onde os seus restos mortais jazem num 
cemitério no Bairro Piquete. 
 
 
 
_______________________ 
10 Enciclopédia dos Municípios brasileiro XV, IBGE, Rio de Janeiro 1959, p. 159. 
 26 
 
 
 Com o fim da Guerra da Balaiada o tenente Joaquim Eloi de Queirós 
passou a residir na Fazenda Grande, integrando a família de Dona Cândida Xavier 
de Monte Serrat, a viúva do Srº José Pereira de Sá. Outros genros integravam a 
família, entre eles José Caminha Trajano Brandão e Francisco Figueira. 
 O ex-tenente Queirós passou a ser um ponto de apoio à viúva, 
inclusive sendo professor das filhas menores. Essa relação de amizade e 
consideração logo suscitou o ciúme e rivalidades na família. Diante das intrigas, 
Dona Cândida antes de dividir os bens resolveu doar a data da Fazenda Grande à 
Nossa Senhora da Conceição, a qual compreendia meia légua de terras em quadra, 
onde na época já havia uma capela de adoração à Padroeira do lugar. Esse ato de 
Dona Cândida cooperou para o apaziguamento da família e José Trajano Caminha 
Brandão, passou a ser uma das lideranças da família e do lugar, cooperando 
sempre para seu engrandecimento. 
 Aos 28 de maio de 1868, através da Lei Provincial nº. 1338, a Fazenda 
Grande foi elevada à categoria de Distrito Administrativo, com o nome de 
Consolação 11 Com as vantagens que a referida povoação oferecia, muitos dos 
criadores e produtores de Passagem Franca transferiram suas residências 
prosperando assim cada vez mais o povoado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
_______________________ 
11
 IBGE, op. cit. 1959, p.158 
 27 
 
 
 Esses novos moradores cooperaram para que o então Distrito de 
Consolação fosse transformado em vila, a qual recebeu o nome de Picos, nome este 
sugerido pelo Drº Francisco Dias Carneiro, que foi um político e respeitado homem 
de letras da região. Veja o que diz a lei: 
 
 “Lei nº. 879 de 04 de junho de 1870. O Drº. José da 
Silva Maia, vice-presidente da providência do Maranhão: fácil 
saber a todos os seus habitantes que a assembléia 
legislativa providencial decretou e eu sancionei a lei seguinte: 
 Art. 1 - Fica elevada à categoria de vila a povoação 
dos Picos à margem direita do Itapecuru, no município de 
Passagem Franca. 
 Art. 2 - Para esta vila fica transferida a rede do 
município de Passagem Franca. 
 Art. 3 - Na mesma vila fica criado um distrito de pais 
cujos limites ficam sendo os mesmo da subdelegacia que já 
ali existe por portaria de 24 de abril de 1869. 
 Art. 4 - Fica extinta a vila de Passagem Franca 
passando a ser o 2º distrito de paz do esmo município. 
 Art. 5 - Os limites de4sse município com o de Pastos 
Bons continuam a ser a linha imaginária da foz do rio 
Alpercatas em direção à Inhumas e às cabeceiras do riacho 
fundo conforme a lei providencial n° 13 de 08 de maio de 
1835 
. Art. 6-ficam pertencendo ao município de Picos os 
lugares denominados presidi de baixo, 
Maravilha,Jenipapeiro, Floresta, Suçuarana, Maté, Peixe e os 
mais que com estes estão debaixo da mesma linha divisória. 
 Art.7-ficam revogadas as disposições em 
contrário.Mando portanto a todas as autoridades a quem o 
conhecimento e execução da referida lei pertence que a 
cumpram e façam cumprir tão inteiramente com nela se 
contém. O secretário do governo a faça imprimir, publicar e 
correr. Palácio do governo do Maranhão, 4 de junho de 1870. 
a) José da Silva Maia. 
( Publicada no jornal ‘Publicador Maranhense’ de 10 de 
junho de 1870”.12 
 
 28 
 
 
 A elevação de Picos a Vila causou ciúme dos moradores de Passagem 
Franca, os quais através da Câmara Municipal, fizeram reclamações ao então 
Presidente da Província. 
 A elevação de Picos a Vila causou ciúme dos moradores de Passagem 
Franca, os quais através da Câmara Municipal, fizeram reclamações ao então 
Presidente da Província. 
 A 30 de dezembro de 1870, o Presidente dava resposta negativa aos 
passagenses, dizendo que a Lei já estava em vigor. 13 
 Aqueles moradores que eram a favor da transferência da vila de 
Passagem Franca a Picos, justificavam com o discurso que a força da lavoura 
estava no Itapecuru e que sendo melhoradas as cachoeiras, poderia chegar até 
Picos a navegação a vapor, a qual beneficiaria toda a Comarca, especialmente 
Picos e Mirador.14 
 Já aqueles que eram contrários a elevação da Vila de Picos 
argumentavam que só a força do partido é que poderia descobrir a importância em 
elevar a vila uma povoação com 18 ranchos, como se fez pela Lei Provincial de 04 
de junho de 1870. 
 O político e articulador responsável por essa transferência foi o Drº 
Francisco Dias Carneiro, o qual nasceu em 1837 em Passagem Franca. Foi 
deputado e vice-presidente do Maranhão Provincial e um dos grandes nomes do 
Partido Conservador. 
 Dias Carneiro foi um empreendedor rural que se destacou na 
exportação do algodão. O seu pai era o Coronel Dias Carneiro que juntamente com 
outros produtores e criadores de Passagem Franca construíram um patrimônio, 
concentrando em seu poder grandes áreas de terras e gado. 
 
 
 
 
 
 
_______________________ 
12 – IN Reis JR, Minha terra minha gente, p. 153, 154. 
13-MARQUES, César Augusto. Dicionário histórico e geográfico da história do MA. Ri J., fon fon 
Seleta, 197012. 
 14 Id. Ibid 
 29 
 
 
 Para se ter uma idéia, em 1894 Dona Rufina Dias Carneiro, na partilha 
que fez após a morte do seu marido, o Coronel Antonio Regino de Carvalho, ficou 
registrado no seu inventário 2.500 bois distribuídos em 12 fazendas nos termos de 
Passagem Franca e Picos, além dos bens móveis a família possuía títulos e ações 
da Companhia Industrial Caxiense.15 
 Todo esse poder econômico vai proporcionar a família o poder político 
na região. O Drº Dias Carneiro foi o articulador responsável pela mudança da 
Fábrica de Tecidos de São Luís para Caxias, por onde o poder econômico da família 
se alastrava. 16 
 Pelos registros do Livro de Notas do 1º Tabelionato de Picos pode-se 
perceber a liderança política de Francisco Dias Carneiro na região, onde sempre o 
apresentavam como procurador na resolução de negócios em Caxias, São Luís e 
até na capital do Império. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
________________________ 
15 Livro de Notas do Cartório do Segundo Ofício de Picos 
16 CALDEIRA, José de Ribamar. ORIGEM DA INDÚSTRIA NO SISTEMA AGRO-EXPORTADOR 
MARANHENSE. 1875-1895. p.189. 
 
 30 
 
 
 Com a elevação de Picos a categoria de Vila, a sede do município que 
era em Passagem Franca passou a ser instalado em Picos. Aos 12 de outubro de 
1871 o Juiz de Direito Doutor Salvador Pires Carvalhoe Albuquerque faz a abertura 
do Livro de Audiências, com a primeira audiência no dia 26 de outubro de 1871, 
aberta pelo primeiro Oficial de Justiça de Picos, o senhor Adauto José de Sousa. O 
Doutor Salvador Pires de Albuquerque ficou no cargo até 16 de agosto de 1872. E, 
em 1873 foi criada a comarca do alto itapecuru pelo referido juiz. Es a lei de criação 
da comarca do alto Itapecuru. 
 Artigo 1 fica desmembrado da comarca de pastos 
bons, o termo judicial dos picos, com parte do de São 
Francisco, das comarcas de São Jose dos matões elevado 
a categoria de comarca com denominação de comarca do 
alto itapecuru. 
 Artigo 2 os limites da comarca são os seguintes: 
 §1- Da BARRA DO RIO CORRENTE ATÉ DO 
RIACHO S.DOMINGOS e por este acima até suas 
cabeceiras do brejo da onça até a estrada real que vai para 
PARANAGUÁ passando na fazenda –POR ENQUANTO – 
até o porto dos VEADOS no rio Parnahyba; e por este 
acima até de fronte da fazenda BURITY. 
 §2- Da fazenda – seguira uma linha reta passando 
pelas fazendas SERRA GRANDE, TABOLEIRAO, 
GENIPAPO, PÉ DE SERRA, UNIÃO, MARAVILHA, 
PRESIDIO DE BAIXO, e BARRA DOS ALPERCATAS.17 
 
 Com sede da comarca instalado em Picos ocorreu, em 1879 a eleição 
de deputados provinciais para o biênio de 1880 a 1881. O Colégio Eleitoral reuniu-se 
na casa da Câmara Municipal no dia 16 de novembro do referido ano composto de 
24 eleitores, sendo presidido por Feliciano Joaquim Carneiro para eleição de 30 
deputados provinciais. 18 
 
 
_______________________ 
17 JACOBINA, Apud,SANTOS, Neto, Antonio Fonseca dos, p 115 
18 Livro de Notas. Cartório do 1º Oficio, p. 116-118 
 31 
 
 
 Segundo a ata da Eleição o resultado foi logo publicado recebendo 
cada candidato apresentado dezesseis votos, visto que cada eleitor podia escolher 
vinte nomes.19 
 É importante lembrar que o voto por todo o Período Imperial era restrito 
a uma pequena parcela da população. Aos escravos e negros libertos era negado o 
direito ao voto, assim como também as mulheres. A idade mínima do eleitor era de 
25 anos de acordo com a constituição de 1824, exceto os casados, oficiais militares 
maiores de 21 anos. O voto também era censitário, isto é, exigia-se uma renda 
mínima para ser eleitor ou candidato. 20 
 Em 1869, quando Picos era vinculado a Passagem Franca, uma carta 
desta Vila foi divulgada por César Marques no seu dicionário. Em relação à renda foi 
comunicado que o Município tinha cento e tantos proprietários, mais ou menos 
abastados e aptos para concorrer aos cargos públicos, sendo cadastrado 138 
jurados para aquele ano. Portanto, o Colégio Eleitoral de 1879, reunido em Picos, 
comprovou as inúmeras restrições ao voto nesta Vila. 
 É importante frisar que a Igreja na defesa dos interesses do Estado, 
tinha grande influência no processo eleitoral nesse período. Geralmente era no 
interior da Igreja que ocorriam as eleições. Após a Missa, assistida pelo Pároco, este 
era quem indicava os nomes de dois cidadãos para integrar a mesa eleitoral como 
os Secretários e escrutinadores. Além disso, os candidatos às eleições deveriam 
professar a religião oficial do Estado – a Católica.21 
 A eleição de 1879 em Picos foi uma exceção, sendo realizada na Casa 
da Câmara Municipal, porque segundo a Ata, o Padre da Paróquia se encontrava 
doente, onde foi justificada a não ocorrência da Missa do Espírito Santos como 
também foram justificadas as faltas de três eleitores, inclusive o padre Francisco 
Maximiano da Costa, Pároco da Freguesia. 
 
 
 
 
_______________________ 
19 Ibid, pág. 116 
20 PORTO, Walter Costa. O Voto no Brasil – Da Colônia a Quinta República. História Eleitoral do 
Brasil, 3º Vol. Brasília – DF, 1989, pág. 25 
21 Ibid. 1992, pág. 53 
 32 
 
 
 Em razão da sede da comarca ter sido transferido de Passagem 
Franca a Picos, a partir daí o comércio ganhou impulso assim como todas as demais 
áreas. 
 A vila de Picos, a partir de 1870 passou a ter uma estação de Correios, 
a qual teve como ajudante dos Correios, o senhor Franco Pereira da Fonseca, que 
conciliava esta função com a de Professor Primário do sexo masculino. A professora 
primária do sexo feminino era Dona Inácia Rosa de Moraes Azevedo. Ambos os 
professores recebiam os seus vencimentos, assim como o aluguel da casa onde 
funcionava a escola através de procurações que enviavam a parentes ou amigos em 
Caxias. 22 
 Em 1878, os representantes da Comissão responsável peã construção 
da Igreja de Nossa Senhora da Consolação reivindicaram da Assembléia Provincial 
a verba de Um Conto de Réis, destinada a conclusão da obra, a qual teria sido 
votada na Lei de orçamento. A procuração foi representada pelos senhores: 
Professor Franco Pereira da Fonseca e Rafael Bernouchi, os quais constituíram 
seus procuradores o Doutor Dias Carneiro, o Capitão Gesuino Moreira Lima, Bento 
José Esteves e João Pedro Ribeiro. 
 Aos referidos nomes eram sempre enviadas procurações de picoenses, 
do Carcereiro da Cadeia Pública ao Juiz de Direito, para receber na capital da 
Província seus vencimentos ou outros negócios. 23 
 Em 1880 a Câmara Municipal de Picos, composta pelos Vereadores: 
Major Fernandes de Moura e Brito, Alferes Felinto da Silva Ribeiro e José de Brito 
comprou uma casa do senhor Alferes Elpídio Ferreira de Sousa, na Rua dos 
Quintais, pelo valor de 840 mil réis. 
 Não foi possível identificar o local da referida casa, mas a verdade é 
que a mesma foi um dos primeiros bens públicos da Vila de Picos.24 
 
 
 
 
_______________________ 
22 Livro de Notas, 1876-1880 
23 Ibid, p. 81 
24 Ibid, p. 129-130 
 33 
 
 
 2.1 O Porto de Picos e o desenvolvimento do Alto Itapecuru 
 
 Com a ascensão de Picos, surgiu também seu Porto, em função da 
produção do algodão na região. O Porto de Picos foi um impulsionador do 
desenvolvimento da lavoura e do comércio, era considerado o melhor porto, sendo 
um entreposto da navegação de Mirador, onde as barcas duplicavam suas cargas 
devido a maior capacidade do rio. Estava situado uma légua abaixo da confluência 
do Rio Alpercatas, sendo o último porto a chegar uma boa navegação. 25 
 
 Diante da pouca durabilidade do projeto de navegação iniciado pelo 
Governador Francisco de Melo Manuel da Câmara, (1806 a 1809), os moradores de 
Picos deram continuidade a esse projeto com autonomia própria. Os modelos de 
embarcações arcaicas e rudimentares foram construídos pelos mesmos a beira do 
rio. 
 Nesse contexto surgiu ao lado das tradicionais embarcações a figura 
lendária do “vareiro” que por muitos anos contou histórias misteriosas do Rio 
Itapecuru. 
 Os principais tipos de embarcações eram: a canoa, a igarité e o bote. 
As canoas eram movidas a remo, destinadas a transportar passageiros, a igarité e o 
bote tinham quilhas firmes para proteger-se de pedras na correnteza. Devido ao rio 
correr entre floresta densa não era possível aproveitar a energia dos ventos naturais. 
Surgiu assim a necessidade de um instrumento para empurrar rio acima as 
navegações. Esse instrumento foi a “vara de ponta ferrada”, que por um século foi a 
principal característica da navegação do Alto Itapecuru, a “Navegação a Vara”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
_______________________ 
25 MARQUES, César Augusto. Dicionário Histórico e Geográfico da Província do Maranhão. Rio de 
Janeiro, Editora Fon fon seleta. 1970. p.158. 
 34 
 
 
 O trabalho dos vareiros rio abaixo consistia em direcionar as 
embarcações pelo canal mais fundo do rio para evitar os redemoinhos. As viagens 
rio acima tinham conotação diferente, a igaraté parte e os vareiros com suas varas 
começam a descer em fila indiana, o mestre dirige a pesada embarcação no canal 
da água mansa, que é o canal da subida. A viagem de Picos a Caxias durava 10 
dias e em 15 dias o retorno. Os vareiros faziam parte de uma sociedade isolada, 
moravam geralmente nos barcos, mesmo quandoestavam atracados. Quando em 
terra, gostavam de cachaça, viviam cercados de mulheres que lhes tiravam os 
tostões da economia forçada de um mês em alto rio. 
 Em relação ao vestuário, em viagem usavam apenas uma tanga e em 
terra usavam roupas comuns, sapatos de borracha e um boné branco de pala. Os 
vareiros eram vistos como homens honestos, nunca roubavam no seu barco e se por 
acaso, cometessem tal infração, seriam punidos com a expulsão do seu mundo, 
depois de muito apanhar. Os vareiros alimentavam-se de carne seca com farinha, 
que era a primeira refeição, às oito da manhã, ao meio dia almoçavam feijão, 
toucinho, carne e arroz, quando lhe era concedido o repouso de uma hora. Ao 
amarrarem para adormecer, lhes era servido carne seca e farinha. Esse cardápio era 
variado com os mandubés, os fidalgos e os surubins pescados pelo cozinheiro da 
tripulação. 26 
 A figura do vareiro fez parte do processo de criação, povoamento e 
desenvolvimento da região do Auto Itapecurú. Só em 1897 é que vai registrar-se, 
pela primeira vez a vinda de um vapor à cidade de Picos. Era o vapor “Gonçalves 
Dias” da Companhia de Navegação a Vapor do Maranhão. Havia ancorado 
anteriormente, em 1891, a pequena lancha denominada “Nhonhô”, na qual viajava o 
Doutor Palmério de Carvalho, que fazia estudos sobre a navegabilidade do Rio 
Itapecuru. 27 
 
 
 
 
 
 
________________________ 
26 REIS, Júnior José Sérgio dos. Nos desvãos do Itapecurú. SN. 1980, p.106 
27 IBGE, 1959, p.159. 
 35 
 
 
3. A ESCRAVIDÃO AFRICANA NO BRASIL MARANHÃO E PICOS. 
 A escravidão foi um regime social de sujeição que por mais de três 
séculos perdurou no Brasil. Apesar de ter sido abolido oficialmente há mais de um 
século, as duas marcas se mantém em todos os recantos do Brasil, manifestando-se 
através de atitudes de preconceito e discriminação em relação ao negro. 
 O trabalho escravo foi instituído no Brasil em função da instalação da 
propriedade mono-cultural da cana-de-açúcar. O negro africano foi usado para 
resolver o problema da mão-de-obra a qual se estendeu a todas as áreas e setores 
de atividades de Norte a Sul do país. A presença do escravo negro era marcada em 
toda a parte onde fosse desenvolvido o trabalho. 
 Os portugueses no que diz respeito ao tráfico eram peritos, pois desde 
meados do século XV já traficavam negros da Costa da África. Como colonizadores 
do Brasil fizeram do tráfico um dos negócios mais lucrativos da Colônia. 28 
 Existem dúvidas em relação à época da chegada dos africanos ao 
Brasil. Mas sabe-se que entre 1502 e 1800, mais de nove milhões de africanos 
foram transportados para as Américas e o Brasil figurou-se como o maior importador 
de homens pretos. Nesse contexto delineou-se a formação econômica do Maranhão, 
embora tardia em relação às outras partes do Brasil. 29 
 Sobre a entrada dos africanos no Maranhão também há controvérsias. 
Diante das condições de penúria que vivia a população maranhense nas últimas 
décadas do século XVII é provável que fosse impossível a importação de negros, 
visto que o preço do mesmo era altíssimo. 30 
 
 
 
 
 
 
________________________ 
28 PINSKY, Jaime, A Escravidão no Brasil, 7ª Edição, São Paulo. Editora Contexto, 1988. 
29 MATTOSO, Kátia M. Queirós. Ser Escravo no Brasil. São Paulo. Brasiliense, 1990. 
30 MARQUES, César Augusto. Dicionário Histórico e Geográfico da Província do Maranhão. RJ, Fon 
fon e Seleta, 1970. 
 36 
 
 
 Por volta de 1682 os fazendeiros maranhenses através da chamada 
Revolta de Bequimão reclamavam da falta de compromisso da Companhia de 
Comércio do Maranhão e Grão Pará que em acordo firmado deveria enviar 10.000 
negros ao Maranhão à razão de 500 por ano. No prazo de três anos o negócio foi 
extinto e a noticia que se tem é de 200 escravos trazidos por um dos navios da 
companhia. 31 
 A importação de escravos no período deve-se à iniciativa particular, 
sendo os dados insignificantes. Nos anos de 1692, 1693 e 1698 o Maranhão 
importou 508 escravos. 32 
 A entrada de maior número de escravos ao Maranhão deve-se à 
criação da Companhia de Comércio do Grão Pará e Maranhão que a partir de 1755 
passou a abastecer o mercado de escravos numa média de 600 escravos por ano. 33 
 Nesse período a mão-de-obra escrava baixou de preço, tendo em vista 
as determinações do governo português, recomendando que as vendas atendessem 
principalmente aos lavradores, facilitando também as formas de pagamento. O preço 
do escravo no trabalho era em torno de 160$000 em 1703 e variou de 20$000 a 
120$000 no período em que atuou a Companhia no Maranhão. 34 
 A Companhia de Comércio do Grão Pará e Maranhão foi extinta em 
1777, mas a agro-exportação continuou expandindo-se e utilizando cada vez mais o 
escravo; porém com um agravante que foi a alta do preço, variando na década de 
1780 entre 135$000 a 200$000 e em 1813 de 230$000 a 300$000. Indignado com a 
subida dos preços, Raimundo José Gaioso, Patrono da Cadeira Nº 13IHGM, 
considerou a escravidão um dos maiores entraves ao desenvolvimento da produção 
maranhense. 35 
 É importante ressaltar que o referido contemporâneo da escravidão 
estava contestando o preços dos escravos, e não ao regime escravocrata. 
 
 
_____________________________ 
31 MEIRELES, Mário M. História do Maranhão, São Luís, FAC-Similar, 1992, pg. 85.. GAIOSO, 
APUD FARIA, Regina Helena Martins de. Trabalho Escravo e Trabalho Livre na Crise da 
Agroindústria do Maranhão, São Luís, 1998, pg. 40. 
32 MATTOSO, Kátia M. Queirós. Ser Escravo no Brasil. São Paulo. Brasiliense, 1990. 
33 FARIA, Regina, op. cit. Pg. 40 
34 Idi Ibid 
35 JUNIOR, Caio Prado. História Econômica do Brasil. São Paulo, Editora Brasiliense, 1994, pg. 82. 
 37 
 
 
 Mesmo com o preço em alta, o Maranhão continuou importando 
escravos vindo diretamente da África, de outros portos como Salvador, Rio de 
Janeiro e Recife e também através de rotas pelo interior, que saiam da Bahia e 
Pernambuco, cortando o Piauí, chegando à Caxias. 36 
 A grande produção de algodão no Maranhão ocorreu entre 1812 a 
1821, quando o Estado foi destaque no cenário da economia brasileira. 37 
 Com o crescimento da agro-exportação aumenta o número de 
escravos, chegando a 53% da população maranhense em 1822. Desse contexto 
surgiu a célebre frase: “O algodão apesar de branco tornará preto o Maranhão”. 38 
 O número de escravos da Ribeira do Itapecuru, grande produtora de 
algodão, era de 83% de sua população.39 
 Em 1850, com a Lei Eusébio de Queiroz, que proibiu o tráfico 
internacional, a população escrava passou a declinar, sendo isto mais visível onde 
as províncias estavam em decadência. O Maranhão, uma das províncias que 
detinha o maior número de escravos no início do século XIX, enquadra-se nesta 
posição, pois a partir do segundo quartel do mesmo século, sua população escrava 
diminuiu bastante, em virtude das pressões inglesas em relação ao tráfico africano e 
do crescimento do tráfico interprovincial. 40 
 Diante da crise financeira vivenciada pelos fazendeiros maranhense e 
possível que a partir de 1831 o Maranhão tenha se desligado da fonte abastecedora 
de escravos. O fato ocorreu não porque os maranhenses fossem superiores aos 
demais brasileiros em moralidade e obediência à lei, mas sim porque a queda do 
preço do algodão empobreceu e quebrantou o ânimo dos nossos lavradores, a ponto 
de não poderem pagar pelos negros importados. 41 
 
 
 
 
 
 
________________________ 
36 Id. Ibid. 
37 FARIA, Regina, Op. Cit. Pg. 40. 
38 RIBEIRO, Jacila Ayub. Jorge. A Desagregação do Sistema Escravista. 
39 REIS, Fábio. APUD. RIBEIRO, Op. Cit. Pg. 82 
40 RIBEIRO, Jacila Ayub. Jorge., op. cit. Pg. 83 
41 Id. Ibid. pg. 84 
 38 
 
 
 A economia maranhense via-se diante de antigos problemas, como o 
débito, a concorrência e o desencontro dos preços. 
Houve, portanto, uma mudança radical de antigo importadorde escravos, passou a 
exportar com rapidez grandes contingentes da sua força de trabalho. 42 
 Por duas vezes, o Maranhão beneficiou-se da desarticulação do 
algodão nos Estados Unidos. A primeira vez ocorreu no período das guerras de 
independência e depois da Guerra de Secessão, que culminou com a abdicação da 
escravidão daquele país. 
 A Lei Regencial de 1831, que abolia o tráfico de escravos, coincidiu 
com a crise econômica que se instaurava na província maranhense. Com o fim das 
guerras de independência, os Estados Unidos voltaram a produzir algodão e o preço 
em baixa restringiu a partir de 1820. Em 1830, portanto, o Maranhão estava 
mergulhado em uma significante crise econômica. 43 
 Diante da referida crise que ameaçou os fazendeiros maranhenses, 
sempre endividados com os comerciantes, viram aqueles, no tráfico interprovincial, 
um meio de obter lucros, para amenizar suas dívidas. 44 
 Os primeiros registros de venda de escravos no Maranhão para outras 
províncias ocorreu em 1846, prosseguindo nas décadas seguintes. De 1847 a 1851 
foram vendidos 363 escravos para as regiões cafeeiras. Na década de 1850 a 
exportação aumentou, chegando a 1361 escravos em 1857. Esse tráfico perdurou 
por toda a década de 1870 indo até 1885, quando foi proibido. 
 A Vila de Picos, atual Colinas, localizada na região do Alto Itapecuru, 
em seu processo de formação também vivenciou a escravidão, a qual foi a principal 
relação de trabalho e base da vida econômica e social. Entre as fazendas da região 
do Alto Itapecuru, estava a Fazenda Grande, que em 1822 foi requerida e concedida 
através de Sesmaria à Jerônimo Pereira de Sá. 
 Esta fazenda foi o primeiro núcleo da conquista que deu origem à Vila 
de Picos, atual Colinas e pertencia ao município de Passagem Franca. 
 As terras na Ribeira do Alto Itapecuru foram muito disputadas no seu 
processo de demarcação no início do século XIX. Aconteceu inclusive de uma 
________________________ 
42 Id. Ibid. pg. 85 
43 Id. Ibid 
44 Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. XV Volume, IBGE, pg. 159, Rio de Janeiro, 1999. 
 
 39 
 
 
mesma área ser concedida a diferentes sesmeiros. 
 As fazendas tinham em geral três léguas de terra e entre cada fazenda 
havia uma légua devoluta, que serviria de divisa. 45 
A grande propriedade era um dos elementos básicos da criação de gado, pois o 
gado sendo criado solto exigia grande extensão de terra. 
 As instalações da fazenda compreendiam a Casa do Vaqueiro, a qual 
era coberta de palha e o Curral do Gado. O trabalho na fazenda era desempenhado 
por mão de obra livre e escrava, porém, o trabalho escravo nas fazendas de gado 
era raro. 46 
 Na segunda década do século XIX, em toda a região de Pastos Bons, 
havia uma população de aproximadamente 5.000 habitantes e 1.000 escravos. Os 
escravos representavam quatro vezes menos a população livre, enquanto em toda a 
Província, a população escrava representava 50,9% do total da Província. 
 População total e população escrava na província do Maranhão e 
Sertão de Pastos Bons – 1819/1821. 47 
 
 
DISTRIBUIÇÃO 
 
POPULAÇÃO TOTAL 
 
POPULAÇÃO ESCRAVA 
 
% 
Província 152.893 77.954 50,9% 
Pastos Bons 5.000 1.000 20% 
 
 Pelos dados acima pode-se perceber que na época que a criação de 
gado sobressaia-se na região, a mão de obra livre predominava nessa atividade, 
enquanto a mão de obra escrava era utilizada na agricultura de subsistência. 
Nas fazendas de gado do Alto Itapecuru, o vaqueiro era a figura principal, e o seu 
trabalho era pago em espécie, recebendo um quarto da produção de cinco em cinco 
anos. O trabalho do vaqueiro era espinhoso, tendo que embrenhar-se nas matas em 
busca do gado, cuidando das vacas paridas e de amansar os bezerros. No mês de 
agosto ou setembro, o pasto era queimado com o fim de brotar novas pastagens nas 
primeiras águas. 48 
________________________ 
45 RIBEIRO, Francisco de Paula. Memórias dos Sertões Maranhenses. Ed. Siciliano, pg. 88, 2002. 
46 Id ibid. P. 84. 
47 Ibid. 
48 CABRAL, Maria do Socorro Coelho, op cit. Pg 150. 
 40 
 
 
 O vaqueiro, no convívio das matas, enfrentava o perigo das cobras 
venenosas e das onças ferozes, as quais procurava combatê-las. No cumprimento 
de sua tarefa, esse desbravador do sertão, chegava a dormir no campo ou 
despertava na madrugada, a fim de encontrar o gado nas malhadas e verificar as 
condições dos mesmos. No caso de haver crias novas, estas eram cuidadas para 
evitar o contato com moscas varejeiras. As vacas prestes a dar crias, deveriam ficar 
sob as vistas do vaqueiro, evitando que ficassem bravas com a dispersão. Nas 
fazendas destacava-se também a figura do fábrica, o qual era uma espécie de 
ajudante do vaqueiro, que cuidava dos cavalos e de amansar o gado. 
 A quantidade de fábricas era determinada pelo tamanho da fazenda e o 
seu pagamento, quando este era trabalhador livre, era feito segundo o contrato 
verbal, que poderia ser mensal ou anual. O fábrica também poderia ser o escravo da 
fazenda, ou mesmo os filhos dos fazendeiros que no caso, aprendiam a cuidar do 
gado e passariam a ganhar o quarto das criações de seus pais. Os fábricas também 
cuidavam da manutenção da subsistência da família. Eram estes que plantavam nas 
roças os legumes e cereais necessários à alimentação. 49 
 O vaqueiro enfrentando todas as dificuldades mencionadas, trabalhava 
motivado por uma ascensão social, de vaqueiro podia tornar-se fazendeiro. É 
provável que os escravos fossem pouco solicitados à função de vaqueiro, por essa 
possibilidade. Nas fontes consultadas, encontrou-se apenas dois vaqueiros 
escravos. Trata-se de Apolinário, 56 anos, preto, vaqueiro de Quirino Moreira Lima, 
o qual em 1873 compunha uma relação dos escravos a serem libertos pelo Fundo 
de Emancipação e Eduardo, escravo vaqueiro de Ana Francisca de Carvalho, que 
recebeu Carta de Alforria em 1879. 50 
 A partir dos anos 40, o gado vacum teve sua produção em declínio, 
quando foram acometidos de epidemias que vitimaram grandes rebanhos. As pragas 
também se multiplicaram e o criador que praticava uma pecuária extensiva, sem 
nenhuma assistência técnica e veterinária, esperava as providências divinas. 51 
 
 
 
___________________ 
49 RIBEIRO, Francisco de Paula, op. cit. Pg. 150. 
50 Livro de Notas, Cartório do 2° Ofício, Colinas – MA 
51 APUD, César Marques, pg. 510-511 
 41 
 
 
 Com todas essas inconveniências, em 1861, a população bovina do 
sertão de Pastos Bons era de 131.200 de gado vacum e 32.800 bezerros. O 
município de Passagem Franca, inserido nessa totalização, tinha uma população de 
26.800 gados vacuns e 6.700 bezerros. 52 
 Em 1870, ano que se deu a transferência da sede do município de 
Passagem Franca para Picos, o município tinha uma população bovina de 60.000 
gados vacuns e 16.000 bezerros. Esses dados relacionados aos de 1861 são 
surpreendentes, verificando-se um aumento significativo. 53 
 Nas proximidades do Rio Itapecuru e do Riacho Balseiro, a lavoura de 
subsistência era variada, plantando ali os moradores, mandioca, cana-de-açúcar, 
cebola e alho. O algodão também já era produzido, embora em pequena escala, 
devido a falta de transportes para o escoamento. Em 1818, uma canoa que vinha de 
Caxias em combate aos índios Timbiras Canelas Finas na região, embarcou de volta 
no Porto de Almeida D’el Rei carregada de algodão. 54 
 Apartir de 1840 a criação de gado que se desenvolvia nas chapadas de 
Passagem França, foi vitima de inúmeras pragas e epidemias, que desmotivaram os 
criadores, levando-os mesmos a se dedicarem a outras atividades. Da mesma forma 
ocorreu com os agricultores da cana de açúcar que se adaptava muito bem nos 
terrenos de brejos, mas não havia incentivo para produção em grande escala, 
devido à falta de transportes. 55 
 São essas inconveniências que levaram muitos lavradores a busca de 
novas terras às margens doRio Itapecurú, onde se dedicaram ao plantio do 
algodão. Com a expansão algodoeira surgiram novos núcleos urbanos, como foi o 
caso de Picos e Mirador. 
 Nas décadas de 1860 a 1870, a lavoura do algodão passou a ser 
destaque na região do Alto Itapecuru, enquanto que a criação de gado declinou, 
sendo uma atividade acessória dos lavradores abastados. 
 
 
 
 
____________________ 
52 CABRAL, Mara do Socorro Coelho. Op.Cit. pág. 143. 
53 CABRAL, Maria do Socorro Coelho, op cit, p 143. 
54 RIBEIRO, Francisco de Paula, op. cit. Pg. 175. 
55 RIBEIRO, Jalila Ayub Jorge. op. cit. Pg. 48 
 42 
 
 
 O algodão era cultivado em baixões, várzeas, com prioridade para os 
vales da Serra do Belém. Foi nessa área que concentrou-se o maior número de 
escravos distribuídos nas fazendas Mate, Sítio do Meio, Catumbá, Jaguarana, 
Cacimbas, etc. Belém atualmente é conhecido como Belém dos Negros. 56 
 A referida produção mostra o grau de fertilidade da terra, que apesar 
dos agricultores utilizarem o método tradicional da coivara conseguiram ter uma 
produção vantajosa. Nesse processo os trabalhadores escravos preparavam a terra, 
primeiro com foice e machado brocavam e derrubavam no mês de junho, em agosto 
tocavam o fogo e de outubro em diante plantavam. Mas o trabalho não parava por 
aí, pois tinham que fazer a capina para manter limpos os pés de algodão e por último 
a colheita, o ensacamento e o transporte até o Porto de Almeida D’el Rei e depois o 
Porto de Picos, embarcados ali para Caxias. De Caxias seguia ao Porto de São Luís 
de onde era exportada para a Europa. 57 
 Diante da abundância das terras, o lavrador não demorava mais de dez 
anos numa fazenda. A década de 1860 foi marcada por mudanças para o lado 
esquerdo do Itapecuru. As capoeiras também eram aproveitadas para o plantio de 
algodão. Os grãos eram plantados em fileira e intercalados ás vezes por outros 
gêneros alimentícios, obtendo-se assim bons resultados. Nos terrenos mais pobres 
era plantado o algodão herbáceo, sendo este mais rico em felpa como também mais 
rápido no desenvolvimento em relação ao arbóreo. 58 
 Outros gêneros alimentícios como arroz, milho, feijão, mandioca, etc, 
não eram cultivados com vistas ao comércio devido a falta de meios de transporte. 
Esses alimentos eram para subsistência das famílias de senhores e seus escravos. 
 Com o desenvolvimento das atividades mencionadas, a mão de obra 
escrava era imprescindível. 
 
 
 
 
 
________________________ 
56 Relatório da Camara Municipal de Passagem Franca, APUD, César Marques, pg. 512. 
57 Id Ibid 
58 Id Ibid 
 43 
 
 
 Em maio de 1847, o mapa da população do I Distrito de Paz da Vila de 
Passagem Franca era o seguinte: 59 
PESSOAS LIVRES PESSOAS CATIVAS CONDIÇÕES 
HOMENS MULHERES HOMENS MULHERES 
1 A 18 anos 771 654 156 131 
18 a 25 anos 207 236 65 62 
25 a 50 anos 345 413 168 99 
50 p/ mais 98 106 36 20 
Soma por condições 2.833 734 
Soma por almas 3.570 
 
 No mesmo ano de 1847, em Ofício da referida vila ao Presidente da 
Província, Dr° Joaquim Francisco de Sá, eram enviados dois nomes como proposta 
para Capitães do Mato da Vila de Passagem Franca. Os nomes enviados foram: 
Pedro Barbosa de Sousa, 36 anos, casado, lavrador e João Francisco de Castro, 26 
anos, solteiro, lavrador, de conduta regular. 
 A indicação da proposta estava baseada em uma ordem do Presidente 
da Província, transmitindo em Ofício de N° 334, de 20 de setembro de 1847. 60 
 A figura do Capitão do Mato na sociedade, surgiu em função do 
aumento do número de escravos. Esses homens, diante dos maus tratos que a 
escravidão lhes impunha, viram na fuga o único meio de conquistar a sua liberdade. 
 Foram muitos os redutos formados por negros fugidos das fazendas, 
os quais eram chamados de Mocambos. 
 A formação dos Mocambos tornou-se uma ameaça aos fazendeiros, 
como também causavam prejuízos diante da ausência da mão de obra nas lavouras. 
O Governo através dos Capitães de Milícias, lutava de todas as formas pela 
destruição dos Mocambos. Para auxiliar nesta missão, surgiu a figura do Capitão do 
Mato. 
 
 
 
 
____________________ 
59 Oficio do Presidente da Câmara de Passagem Franca ao Presidente da Província do Maranhão – 
Arquivo Público do estado. 
60 Id. Ibid. 
 44 
 
 
 Apesar da instituição ter nascido no século XVII, no Maranhão a 
regulamentação veio com o Governador Bernaldo da Silveira Pinto Fonseca (1718-
1822). 61 
 Segundo o regulamento, o Capitão do Mato seria nomeado pelo 
Governador, a partir da indicação da Câmara Municipal. O documento deveria 
atestar a conduta e a partir da nomeação, o Capitão do Mato tinha à sua disposição 
vários soldados do Corpo de Milícias. 62 
 A nomeação do Capitão do Mato dava-se em função do aumento do 
número de escravos presentes nas atividades econômicas da região. 
 O desenvolvimento da lavoura de cana-de-açúcar no Maranhão 
ganhou força a partir do segundo quartel do século XIX e perdurou algumas décadas 
por vinte anos. 63 
 O Presidente da Província, Joaquim Franco de Sá, incentivou a 
produção através de medidas governamentais. 
Além de medidas protecionistas, oferecia através do Ministério um prêmio de 30 
contos de réis ao lavrador que produzisse acima de 1.000 arrobas de açúcar. A 
vinda de mudas de cana caiena e a distribuição gratuita das mudas aos plantadores 
também foi incentivo. 
 Com os esforços do Governo Provincial a partir da década de 1850 
foram surgindo inúmeros engenhos. Na década de 1860 o Maranhão contava com 
410 engenhos e em 1870, 500. A região do Alto Itapecuru Maranhense, embora com 
terras propícias ao plantio da cana-de-açúcar, não chegou a ser destaque na região, 
produzindo apenas a rapadura e a cachaça para o consumo interno. Os engenhos 
eram rudimentares, visto que os mais modernos foram impossibilitados de chegar na 
região devido ao atraso da navegação do Rio Itapecuru, como também as condições 
precárias das estradas. 64 
 
 
 
____________________ 
61 VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão (1612-1895). Associação Comercial 
do Maranhão, 1977, pg. 88. 
62 Id. Ibid. 
63 Ibid. Ibid. pg. 89 
64 REIS, Júnior, REIS, José Sérgio dos. Minha Terra, Minha Gente – Picos, Atual Colinas Esboço 
Histórico:SN (19613) pg. 32. 
 45 
 
 
 1869, Picos fazia parte do território do município de Passagem Franca, 
momento que demarcava o poder econômico rural pela posse de escravos.e de bois. 
Nesse contexto, a pecuária por ser extensiva ocupava um número reduzido de 
escravos como mão-de-obra, enquanto que nas monoculturas agrícolas (algodão e 
cana-de-açúcar), ocupou um número significativo de escravos e bois. Demonstrado 
no ANEXOI. O critério utilizado para a classificação foi com base no número de 
escravos. Chamou-se pequenos senhores aqueles que tinham em 1 a 10 escravos, 
médios senhores os que tinham 12 a 25 escravos, e grandes senhores os que 
tinham de 30 a 60 escravos. 65 
 Na região em estudo, o lugar de morada dos escravos era senzala, a 
qual situava-se nas imediações da Casa Grande, sendo administrada pelos 
senhores. Havia também as feitorias, que eram os núcleos independentes 
localizados em terras afastadas da fazenda sob a administração dos feitores. Os 
escravos segregados em feitorias, conservavam os usos e costumes de suas terras 
de origem. Esses preservaram de uma certa forma o contato com brancos e índios. 
 Nas fazendas os negros cumpriam uma dura jornada de trabalho sobre 
a liderança de um escravo da confiança do senhor, o feitor, a quem eram 
transmitidas as ordens no sentido de cumprir as exigências do trabalho pesado da 
lavoura. O escravo era acionado a levantar cedo com destino ao roçado, numa 
jornada de 12 a 14 horas 66. 
 volta ao trabalho os negros apesar do cansaço entoavam canções com 
ritimos monótonos. Seus instrumentos musicais mais usados eram viola, pífaro e os 
berimbaus. Na festaprofana praticavam danças que resumiam-se no tambor, que 
era exercitado no pátio da senzala e no samba, dançado aos pares em local de 
barro batido. 67 
 m das festas citadas os negros realizavam cerimônias religiosas. A 
religião era uma mistura de espiritismo, catolicismo e seita africana. Para praticar a 
sua religião, dirigiam-se os negros a um local distante, na mata, onde erguiam um 
altar à Santa Bárbara e prestavam culto sob a liderança de um chefe. Após esse ato 
no “terreiro” entoavam cânticos e todos participavam da dança própria da religião. 68 
___________________ 
65 Almanaque do diário do Maranhão 1969 
66 JESUS, Pereira Josenildo, O mundo do trabalho, texto mimeografado.p 13 
67 REIS, Júnior José Sergio, Minha terra minha gente. 
68 Id Ibid 
 46 
 
 
3.1 O comércio 
 
 Um dos problemas que dificultavam o desenvolvimento do comércio 
em toda a região do Alto Itapecuru era a falta de transportes para o escoamento da 
produção. Como já mencionado, a produção de cana-de-açúcar não chegou à 
grande escala de exportação, visto a precariedade das estradas e a tardia 
navegação do Rio Itapecuru. 
 O pontapé inicial no sentido de promover a navegação do Rio Itapecuru 
foi dado em 1807 com o estabelecimento do Arraial do Príncipe Regente na 
confluência do Rio Itapecuru com o Rio Alpercatas. 
 Apesar das vantagens oferecidas pela navegação e pelo 
estabelecimento do Arraial do príncipe regente, a falta de interesse político o fez 
desmoronar ainda no nascedouro. Todas as expectativas em relação aos benefícios 
que adivinham da navegação foram frustradas. As fazendas de gado recuaram, a 
lavoura de algodão paralisou-se. O preço do sal na época, passou de 2$400 réis o 
alqueire para 6$400, atingindo o valor de 12$800 réis no ano de 1817. 69 
 Vila de Caxias era o principal centro comercial do sertão, onde vendia-
se algodão, solas, couros de veados, fumo e gados. De volta aos seus locais de 
origem (Picos, Passagem Franca, Pastos Bons), os comerciantes traziam os 
produtos manufaturados provenientes da Europa, que compravam naquele centro 
comercial. É importante frisar que em Caxias também eram vendidos escravos 
vindos da Bahia às povoações do Alto Itapecuru. Remete-se ainda, a possibilidade 
de comercialização de escravos trazidos através do litoral. 70 
 Das estradas existentes, duas merecem destaque quanto à 
importância: a que ligava a Vila de Pastos Bons à Caxias e a que unia Caxias à 
Passagem da Manga, nas proximidades do Rio Parnaíba. 71 
 
 
 
 
____________________ 
69 RIBEIRO, Francisco de Paula. Op. Cit. Pg. 175; 
70 Id. Ibid. 
71 Id. Ibid. 
 47 
 
 
 Através da estrada de Passagem da Manga era feito o escoamento de 
boiadas aos centros açucareiros. Em 1870, no auge da produção de algodão, na 
região do Alto Itapecuru, foi promulgada a Lei Provincial Nº. 911 que dava autonomia 
a qualquer cidadão à abertura com recursos próprios, de uma estrada entre os 
municípios de Passagem Franca e Pastos Bons, para uso público. 72 
 A referida Lei concedeu este direito ao Tenente Coronel João Manuel 
de Magalhães e a qualquer interessado. É importante lembrar que no ano de 1870 
estava acontecendo uma crise política no que diz respeito à transferência da sede 
do município para as margens do Rio Itapecuru. Como já foi dito, a transferência não 
foi um consenso entre os chefes políticos, proprietários de terras da região. Uma 
parte deles alegou ao Presidente da Província não haver necessidade da abertura 
dessa estrada que passava por suas terras, sem indenização e sem a autorização 
de seus donos. Enquanto esses proprietários buscavam a anulação da Lei, outros, 
direcionados pelo Drº Dias Carneiro, procediam à abertura da estrada, só que 
ligando os municípios mencionados até o Porto da Vila de Picos. A conclusão da 
estrada se deu em 30 de dezembro de 1870, quando Francisco Dias Carneiro e 
Antonio Carneiro da Silva comunicaram ao Presidente da Província, nas condições 
impostas pela Lei. Em 1871, os referidos senhores receberam elogios do Presidente 
da Província através do despacho datado do dia 03 de fevereiro de 1871. Pelo visto, 
as divergências existentes em torno da construção da estrada davam-se em virtude 
do direcionamento da mesma, se para a antiga sede, a Vila de Passagem Franca, 
ou se para o Porto de Picos. 73 
 O certo é que essa estrada contribuiu para o desenvolvimento do 
comércio naquela região, funcionando como uma via de escoamento dos produtos 
da região do Porto de Picos e deste para Caxias. O transporte utilizado até esse 
porto era os burros direcionados pelos tropeiros, que condiziam enormes cargas. 
 
 
 
 
 
____________________ 
72 César Marques,opc. pg. 510-511 
73 Id Ibid 
 48 
 
 
3.3 As relações sociais nos primórdios da conquista 
 
No Alto Itapecuru, a célula da sociedade era a família patriarcal, composta 
pelo fazendeiro e seus dependentes. O chefe da família exercia amplos poderes 
sobre os trabalhadores, estando estes direta ou indiretamente ligados a ele. O poder 
dos proprietários rurais em todo o Brasil era comum desde a colônia, durante o 
Império, chegando inclusive até o período republicano. 74 
 As fazendas sendo o núcleo fundamental da vida social, não estavam 
completamente isoladas, existia uma relação entre elas, até mesmo em função das 
atividades de pastoreio. O gado, criado solto, exigia que o vaqueiro percorresse 
terras chegando em outras fazendas, onde havia uma relação recíproca de 
amizade.75 
 Uma das práticas que favoreciam a articulação entre as fazendas eram 
as festas religiosas e populares. As desobrigas eram reuniões realizadas pelos 
padres em determinadas fazendas, com o objetivo de realizar missas, casamentos, 
batizados e confissões. Após a realização dos ofícios religiosos acontecia a festa 
dançante, uma importante atividade no Sertão do Alto Itapecuru. 76 
 As desobrigas eram um dos momentos onde se faziam presentes as 
relações de compadrio, que se davam entre senhores das fazendas, familiares e até 
entre senhores e escravos. Entre 1856 e 1864, nas desobrigas realizadas pelos 
vigários da freguesia de São Sebastião, aconteceram vários batizados de escravos e 
filhos de senhores. Os padrinhos dos escravos eram os próprios escravos de 
senhores da redondeza ou os próprios familiares dos seus senhores. 
 Na Fazenda Maté, de propriedade dos Carneiros, em uma desobriga 
realizada em 10 de agosto de 1859, foram batizados pelo Padre Francisco de Paula 
Meneses, 20 escravos, e outras crianças livres. A fazenda maté funcionava como a 
matriz das propriedades da família Dias carneiro, e nessas desobrigas reunia os 
senhores de varias localidades que também batizava seus familiares. 
 
 
________________________ 
74 CESAR, Marques op. Cit 
75 CABRAL, Maria do Socorro. op. cit. Pg. 180. 
76 Id. Ibid. 
 49 
 
 
 Pode se constatar no mesmo dia batizado de nove crianças livres filhos 
de senhores da região. Da relação de escravo da relação constatou-se através de 
depoimentos orais, descendentes desses escravos residentes hoje no município de 
Picos. 77 
 
 
Nome Idade Mãe Senhor Padrinhos 
Maria 01 Anacleta Francisco Dias 
Carneiro 
Honório e Luísa (Escravos) 
Filomena 18 meses Gertrude Francisco Dias 
Carneiro 
Coronel Antonio Dias 
Carneiro e sua esposa 
Rozalinda Carneiro 
Victória 07 anos Joana Pedro Vieira Torres Antonio Pereira de Sousa e 
Joana Pereira de Sousa 
Benta 05 anos Joana Pedro Vieira Torres Clementino (escravo) 
Raimundo ? Joana Pedro Vieira Torres Honório e Maria Vitória 
(escravos) 
Valentina 06 anos Rita Pedro Vieira Torres Justino P. de Sousa 
Borlonge Vieira Torres 
Sebastião 04 meses Rita Pedro Vieira Torres Venâncio de S. Torres 
Nossa Senhora 
Sutéria 03 anos Joana Francisco Dias 
Carneiro 
Nazaril e Cipriano 
(escravos) 
Maria 18 meses Silvéria Cel. Antonio Dias 
Carneiro 
Júlio e Isabel (escravos) 
Agerida06 meses Clementina Cel. Antonio Dias 
Carneiro 
Belchior e belizária 
(escravos) 
Bárbara 02 anos Clementina Cel. Antonio Dias 
Carneiro 
Semile e Benedito 
(escravos) 
Manoel 01 anos Sipriana Arcângela 
Angélica 
Antonio Dias Carneiro 
Rufina Joaquina das 
Mercês 
 
 50 
 
 
João 05 anos Domingas Cel. Antonio Dias 
Carneiro 
Venâncio Vieira Torres 
Bárbara Pacheco 
Theotônio 18 meses Bonifácia Joana Ferreira de 
Sousa 
Antonio Dias Carneiro 
Rufina Joaquina das 
Mercês 
Cezário 05 meses Antonia Antonio Dias 
Carneiro 
Nazaré e Ângela 
(escravos) 
Anacleta 01 ano Maria Pedro Dias Carneiro Samuel Augusto de 
Oliveira 
Maria Correia de Almeida 
Inácio 04 anos Esteva Capitão Avelino e 
Eria G. Duarte 
Antonio e Martinha 
(escravos) 
Siriaco 02 anos Maria Pedro Dias Carneiro Jorge e Luísa (escravos) 
Sebastião 03 meses Isabel Cel. Francisco Dias 
Carneiro 
Antonio e Martinha 
(escravos) 
Filomena 03 anos Joana Pedro Vieira Torres Raimundo José de Sousa 
Maria Rosa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
________________________ 
77 Livro de Batismo Nº 7, Freguesia de São Sebastião, pg. 150-153 
 51 
 
 
4. A ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO E MEMORIAS DE REMANENCENTES DE 
ESCRAVOS EM COLINAS. 
 A escravidão negra no Brasil começou a entrar em processo de 
decadência a partir de 1850 quando foi extinto o tráfico nacional. Esse fato levou os 
fazendeiros da lavoura de café a enfrentar o problema de mão de obra. Os 
fazendeiros da Região Sudeste passaram a comprar escravos do Nordeste, surgindo 
assim o tráfico interprovincial. Este não atendeu a demanda nas lavouras do café, 
apelando então os senhores para imigração européia. A utilização das duas formas 
de trabalho (escravo e livre) veio demonstrar a incompatibilidade da vigência das 
mesmas, aumentando cada vez mais o descrédito na escravidão. 78 
 O surgimento da indústria manufatureira no Brasil também veio 
reafirmar a ineficiência do trabalho escravo diante da modernidade. 79 
 As contradições existentes na escravidão serviram de base ao seu 
processo de decomposição. 
 A pressão abolicionista foi tanto interna como externa. A França 
através da Junta Francesa de Emancipação enviou cartas ao Imperador com 
assinatura das maiores figuras do abolicionismo francês. 80 
 As idéias abolicionistas européias impregnaram autoridades brasileiras 
e intelectuais que passaram a perceber a divergência entre escravidão e um estado 
que pretendia modernizar-se dentro de princípios de liberdade e igualdade jurídica 
dos cidadãos. Enfim, as pressões contra a escravidão são provenientes das 
transformações sócio-econômicas presentes no país a partir de 1850. 81 
 A Guerra de Secessão nos Estados que pôs fim a escravidão daquele 
país contribuiu também para a reativação das discussões parlamentares no Brasil, 
pois o mesmo colocava-se numa posição incômoda em relação a outros países que 
tinham libertado seus escravos. 82 
 
 
________________________ 
78 PRADO, Júnior Caio. História Econômica do Brasil. 41ª Ed. São Paulo. Brasiliense, 1994. 
79 Id. Ibid. 
80 COSTA, Emília Viotti da. A Abolição. Coord. Jaime Pinsk. São Paulo. Global. Ed. 1982. pg 45. 
81 QUEIROZ, Suely R. Reis de. A Abolição da Escravidão. São Paulo. Brasiliense, 1999, pg. 46. 
82 FARIA, Regina Helena Martins de. Trabalho Escravo e Trabalho Livre na Agro-Exportação do 
Maranhão. Pg. 113. 
 52 
 
 
 A questão da emancipação dos escravos ganhou mais força com a 
Guerra do Paraguai. Na organização das tropas brasileiras para o confronto, o 
governo concedeu liberdade aos escravos designados para o exército. Esse fato 
contribuiu para aumentar nos escravos o desejo de libertação. Esse sentimento foi 
se propagando por diversas partes do país através de grêmios, clubes, jornais e 
associações. 83 
 As idéias emancipacionistas chegam aos rincões mais distantes do 
país e nestes encontra espaço para se desenvolver diante do desmoronamento do 
Sistema Escravista. Apesar disso em Picos era comum nos anos setenta do século 
XIX a comercialização de escravos e até leilões em praça pública. Da mesma forma 
na antiga sede do município Passagem Franca verificou-se em números casos de 
compra e venda de escravos, variando o preço entre 100$000 (cem mil réis). Em 
Picos este passou a ser percebido através da instabilidade econômica dos senhores, 
que passaram a vender seus escravos como meio de compensar suas dívidas. Na 
antiga sede do município de Passagem Franca, por toda a década de 60 do século 
XIX verificou-se inúmeros casos de compra e venda de escravos, inclusive leilões 
em praça pública. Naquela época o preço do escravo variava entre 100$000 (cem 
mil réis) a 1.200$000. 84 
 Em 1870 a sociedade passagense participa de um leilão quando um 
escravo por nome Vicente recebeu 3 lances: A primeira no valor de 50$000 
(cinqüenta mil réis), o segundo 150$000 (cento e cinqüenta mil réis) e o terceiro 
oferecia 50$000 (cinqüenta mil réis) sobre o maior lance, ou seja, 200$000 
(duzentos mil réis). 
 A última proposta partiu de João de Barros Marinho, que por ter sido 
tutor dos órfãos donos do escravo, teve seu lance recusado. Por fim o escravo foi 
arrematado por Joana Baptista Labre, no valor de 150$000 (cento e cinqüenta mil 
réis). 85 
 
 
 
 
 
________________________ 
83 COSTA, Emília Viotti da. Op. Cit. Pg. 44 
84 Livro de Notas N° 8 (1869-1878), fls 13-14 
85 Id. Ibid. pg. 14 
 53 
 
 
 É importante ressaltar que o intuito de João Marinho ao pedir o direito 
de posse sobre o escravo, deu-se pelo fato desse senhor já ser proprietário de uma 
parte do escravo. Este havia sido comprado de uma outra órfã por nome Isabel. Vejo 
o teor da Audiência Pública: 
“Audiência Extraordinária...Aos dois...em audiência 
extraordinária que fazia o juiz dos Orphãos Doutor Theodoro 
Thadeu de Assumpção comigo escrivão ao diante nomeado 
aberta a audiência com o toque de campainha e apregoes pelo 
Official de Justiça Francisco de Paula Dutra. Declarou o 
mesmo Juis que se achava em praça e arrematação o escravo 
Vicente de propriedade dos órphãos Clarinda e Francisco, 
filhos do fallecido Raimundo de Barros Marinho e convidou aos 
pretendentes que aprezentassem suas propostas que forão 
aprezentadas uma do Tenente Rodrigo Alves dos Santos 
oferecendo cincoenta mil réis, outra de Dona Joanna Baptista 
Labre offerecendo cento cincoenta e um requerimento de João 
de Barros Marinho pedindo adjudicação e offerecendo para 
esta cincoenta mil réis sobre o maior lanse e considerando o 
juis que João de Barros tinha cido tutor dos ditos Órphãos 
encluzive da Orphã Izabel de quem houve por compra aparte 
do escravo que se arrematava indeferiu sua petição mandou 
que se passasse titulo de arrematação a Dona Joanna, do 
que....” 
 Aos 14 de março de 1873 em Picos, o Tenente Coronel Joaquim 
Francisco de Carvalho arrematou em público a escrava Jovência pela quantia de 
setecentos mil réis. De acordo com esses relatos verificou-se que o valor pelo qual o 
escravo Vicente foi arrematado estava aquém do preço da época, embora se 
tratasse na ocasião do leilão, de apenas 2/3 do escravo. 
 A crise da agro-exportação que ocorreu junto a crise do escravismo 
levou muitos senhores a contrair dividas penhorando, assim, seus escravos junto a 
outras propriedades. 
 Em dezembro de 1876, o Tenente Coronel José Farias Pereira contraiu 
uma dívida de onze contos e setecentos e cinqüenta mil réis a João Rodrigues da 
Silveira,de São José dos Matões. Na escritura foram penhorados a data São Felis e 
Lagoa Grande (hoje povoado de Colinas) e mais treze escravos de onze a quarenta 
anos, todos roceiros. Não foi possível constatar se a dívida foi paga e se os escravos 
voltaram ao seu senhor. 86 
 54 
 
 
 Da mesma forma, o senhor Evaristo Raimundo de Freitas com uma 
dívida de um conto de réis para pagar em dois anos à Joana Francisca da Silva,penhorou o escravo de nome Manuel Catuaba, 39 anos. A credora comprometia-se 
a tornar sem efeito, caso o devedor desse a escrava Brígida, de 15 anos de idade. A 
referida conta foi quitada após quatro anos, através da escrava Brígida, com 19 anos 
e Ana com 27. A escritura de penhor de Manuel Catuaba ficou sem efeito e o mesmo 
foi vendido para São José dos Matões. 87 
 Uma outra escritura pública de dívida e penhor coloca em xeque os 
escravos do Coronel João Francisco de Carvalho, por conta de uma dívida de três 
contos e quinhentos mil réis ao seu mano Major Antonio Regino de Carvalho. 
Portanto, seis escravos de seis a trinta e nove anos, a partir de onze de agosto de 
1876 ficaram em poder do Major citado. 88 
 A crise dos senhores também é percebida a partir da compra e a venda 
dos seus escravos que se dava com perdas significativas. Um exemplo disso é o do 
Vigário Francisco Mariano da Costa. O mesmo comprou do Major Honório a escrava 
Vicência e seu filho Israel por 1.200$000 no mês de janeiro. Em abril do mesmo ano 
(1869) vendeu ao Alferes Firmino de Athaide Galvão por 1.000$000 (1 conto de 
réis).89 
 De acordo com o mapa de 1883 entraram em Picos 253 escravos e 
saíram 435. O aumento da saída dos escravos se dá em função da crise econômica 
enfrentada pelos fazendeiros que viam nos vantajosos preços oferecidos pelos 
traficantes uma forma de minorar suas dívidas. É possível que essas vendas fossem 
intraprovinciais, visto que a população escrava, segundo o mapa da época 
apresentava um elevado número de homens, que parece não estar sendo tão 
drenado pelo tráfico interprovincial que priorizava a força do trabalho masculina. 90 
 Diante desse clima de instabilidade, os caminhos da Abolição estão 
sendo trilhados. A gradual emancipação dos escravos foi uma das propostas 
contidas no manifesto dos liberais em 1869. 
_________________________ 
86. Livro de Notas (1876-1880). Primeiro Tabelionato de Picos, Nota N° 32. Cartório do I Ofício – 
Colinas-MA. 
87. Id. Ibid. 
88. Id. Ibid. Nota N° 20 
89. Id Ibid 
90. Id. Ibid. 
 55 
 
 
 Embora não tenha sido acatada pela ala radical que propôs alguns 
meses depois a abolição, o manifesto gerou uma grande mobilização pública. Em 
março de 1871 um projeto pautado numa visão gradualista foi apresentado à 
Câmara por Visconde do Rio Branco e após meses de intensa agitação foi aprovado 
aos 28 de setembro.91 
 A lei Rio Branco sob N° 2040, chamada posteriormente de Lei do 
Ventre Livre, colocava em pauta o debate em torno da emancipação gradual dos 
escravos. No seu Artigo primeiro dizia: “Os filhos de mulher escrava que nasceram 
no Império desde a data desta Lei, serão considerados livres”. Estes, no entanto, 
ficariam em poder dos senhores, os quais ficavam na obrigação de mantê-los até os 
oito anos de idade. Chegando a essa idade o senhor poderia optar em entregar a 
criança ao Estado, recebendo uma indenização no valor de 600$000 ou mantê-la até 
a idade de vinte e um anos. O ingênuo, como se chamava o liberto, ficava na 
obrigação de trabalhar sem remuneração em troca pelo sustento até 21 anos de 
idade. 92 
 Entre os dispositivos e parágrafos que faziam parte da Lei do Ventre 
Livre estava o da criação de um Fundo de Emancipação como também era 
concedido ao escravo o direito de formar um pecúlio, que no caso de ser suficiente 
para indenizar seu valor teria direito a comprar a sua liberdade. Os recursos para a 
manutenção do Fundo seriam arrecadados através de uma taxa sobre os escravos, 
impostos gerais sobre transmissão de propriedade escrava, multas em função da Lei 
ou quotas que deveriam ser criadas no orçamento geral, provincial e municipal, 
legados e doações.93 
 Na antiga Vila de Picos, a Lei 2040 começou a ser percebida a partir da 
mobilização dos senhores de escravos que foram convocados pela Junta de 
Classificação a fazerem o registro dos escravos a serem libertos pelo Fundo de 
Emancipação. 
 Em abril de 1873 o Inspetor da Tesouraria da Fazenda do Maranhão 
fazia a abertura e o encerramento de um livro, 
 
 
________________________ 
91. COSTA, Emília Viott. Op. Cit. P. 43. 
92. Id. Ibid. 
93. Livro do Estado Servil. ART $8$2: Ir. VEIGA, Luís Francisco da. 1873. 
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o qual “deveria servir para o lançamento do quadro das classificações dos escravos 
existentes no município da Vila de Picos”, que têm de ser libertados conforme a 
quota disponível do Fundo de Emancipação nos termos de Req... que baixou com o 
N° 5135 de 13 de novembro de 1872”. 94 
 Segundo os critérios estabelecidos, os escravos deveriam ser 
registrados no prazo de um ano e em caso de omissão dos senhores, os escravos 
não registrados seriam libertos ou do contrário o senhor pagaria uma multa de 
100$000 a 200$000 por escravos. 95 
 Os trabalhos da Junta de Classificação sediada na Casa da Câmara 
Municipal de Picos tiveram início em 1873 com o comparecimento de 35 senhores, 
os quais registraram 136 escravos, com idades variadas entre 1 a 88 anos. Após 2 
anos, os referidos senhores registraram os escravos em Ordem de Famílias e 
Ordem de Indivíduos. Em 1ª Classe foram agrupados os escravos casados, de 
diferentes senhores e filhos menores de até 6 anos de idade. A 2ª Classe foi 
composta por escravos solteiros entre 12 a 43 anos de idade. Na 4ª Classe foram 
agrupados os escravos casados com filhos livres. Na referida relação como vê-se 
não apareceu a 3ª Classe. 96 
 Segundo Ofício Circular do Ministério da Agricultura e Obras Públicas, 
as prioridades deveriam ser dessa forma abaixo descrita: 
 
 “Na ordem das famílias compreendem-se: I – os escravos casados com pessoas 
livres; II – os cônjuges que forem escravos de diferentes senhores, estejam ou não separados, 
pertençam aos mesmos ou a diferentes condomínios; III – os cônjuges que tiverem filhos ingênuos 
menores de 18 anos; IV – os cônjuges que tiverem filhos livres menores de 18 anos; V – os cônjuges 
que tiverem filhos menores. 
 Escravos; VI – as mães, viúvas ou solteiras, que tiverem filhos escravos menores de 
21 anos; VII - os cônjuges sem filhos menores ou sem filhos. 
Na ordem dos indivíduos compreendem-se: I – a mãe, viúva ou solteira, com filhos 
livres; II – o pai, viúvo com filhos livres; III – os escravos solteiros de 12 a 50 anos de idade, 
começando pelos mais moços, no sexo feminino e pelos mais velhos, no masculino. 97 
 
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94. Livro de Registro de Escravos. Cartório do 2° Ofício, Colinas – MA. 
95. COSTA, Emília, Op. Cit. Pg. 47 
96. Livro de Registro de Escravos. Cartório do 2° Ofício, Colinas – MA. 
97. APUD, FARIA, Regina. Op. Cit. Pg. 116 
 57 
 
 
 As juntas de Classificação em Picos, apesar de tentar obedecer aos 
critérios estabelecidos pela Lei 2040, muitos senhores de escravos e políticos 
tiraram proveito da mesma cometendo várias irregularidades. A primeira foi em 
relação aos registros que foi dada preferência aos escravos idosos e inválidos, 
sendo esta uma forma de se desfazer dos mesmos sem a perda total do que nele foi 
investido. 
 Na relação apresentada por João Francisco de Carvalho estavam os 
escravos Custódio e Carlos com 72 e 60 anos, ambos carapinas e casados, porém 
foi ignorado o nome de suas mulheres. Lucas Bandeira Barros na sua relação, 
apresentou somente o escravo Mateus de 88 anos, roceiro, no entanto, encontra-se 
inválido. José Camilo Teles Virgínio, registrou Felipe, 76 e Francisco 64 anos, ambos 
roceiros, também casados com mulher e marido ignorados. 98 
 Fica bem claro que a emancipação desses escravos, cujas forças de 
trabalho estavam esgotadas, iria beneficiar os seus senhores, que receberiam 
preços exorbitantes caso fossem emancipados, esses escravos continuavam com a 
mesma vida de outrora. 
 O trabalho da Junta de Classificação em Picos foi muito lento e os 
poucos resultados só foram percebidos após uma década. Escravos classificados

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