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DOS DIREITOS REAIS SOBRE COISAS ALHEIAS DA SUPERFÍCIE DA SUPERFÍCIE 1. Conceito - Art. 1.369, caput. - Aplicação do Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257/2001) para os imóveis na esfera urbana. - “Trata-se de uma concessão que o proprietário faz a outrem, para que se utilize de sua propriedade, tanto para construir como para plantar. O direito de superfície depende de escritura pública para possibilitar o registro imobiliário” (Venosa). - A disjuntiva “ou” presente na lei não foi aplicada no sentido restritivo, pois se admite construir e plantar (Gonçalves). - Logo, o proprietário concedente (fundeiro/ fundieiro) confere ao concessionário (superficiário) a propriedade útil de seu imóvel, para que nele construa ou plante. - Possibilidade de se constituir exceção ao Princípio superficies solo cedit como resultado do direito de superfície. - Desdobramento da posse: fundeiro (indireto) x superficiário (direto). Direito de construir ou plantar: não se constitui por cisão (“essa modalidade parte de um imóvel construído ou plantado, no qual já se tenham operado os efeitos da acessão. O dono do imóvel retém em seu domínio do terreno e transfere a outrem, que passa a ser superficiário, a propriedade da plantação ou construção). - O novo diploma não contempla também a possibilidade da sobrelevação (Gonçalves). - “Sobrelevação ou superfície em segundo grau, autorizada nos direitos português, francês e suíço e que consiste na concessão feita a terceiro, pelo superficiário, do direito de construir sobre a sua propriedade superficiária, ou seja, sobre a sua laje” (Gonçalves). * Em sentido contrário: “Veja, por exemplo, a situação de um prédio inacabado ou abandonado, que o superficiário se propõe a terminar ou manter. Trata-se do que a doutrina lusitana denomina sobre-elevação, que não contraria a nossa legislação” (Venosa). Enunciado 250 da III Jornada de Direito Civil – CJF “Admite-se a constituição do direito de superfície por cisão”. Enunciado 568 da VI Jornada de Direito Civil – CJF “O direito de superfície abrange o direito de utilizar o solo, o subsolo ou o espaço aéreo relativo ao terreno, na forma estabelecida no contrato, admitindo-se o direito de sobrelevação, atendida a legislação urbanística”. * Questões: subsolo e espaço aéreo estão inseridos no direito real de superfície? - Art. 1.369, parágrafo único. - Não é autorizada obra no subsolo, salvo se ela for pertinente ao objeto da concessão (Gonçalves). - Não se pode utilizar do subsolo, salvo se essa utilização for inerente ao próprio negócio (Venosa). - Exige-se, por tanto, que a utilização do subsolo seja inerente à obra superficiária. - Ex.: exploração de argila para fabricar tijolos. - Omissão legal sobre a utilização do espaço aéreo. - Entendimento de que não há impedimento para utilização já que constitui parte integrante do solo. 2. Natureza jurídica - Direito real sobre coisa alheia. - Oponível erga omnes. - Prerrogativa de sequela. - Direito por tempo determinado: a concessão deve ser temporária. - “Deve ficar a critério dos contratantes a estipulação de prazo que atenda aos seus interesses” (Gonçalves). 3. Modos de constituição 3.1 Inter vivos - Forma prescrita (art. 1.369): escritura pública registrada no Cartório de Imóveis. 3.2 Mortis causa - Testamento. - Formal de partilha deve ser registrado na matrícula do imóvel (art. 1.227). * Usucapião? - Gonçalves: há controvérsia doutrinária. - Em tese, admissível se presentes os requisitos. - Extraordinária: o animus de edificar/ plantar já permitiria a aquisição da propriedade. Por que então usucapir a superfície? - Ordinária: concessão feita por non domino. - “Nesse caso, o concessionário adquire o direito de superfície contra o senhor do solo, desde que haja conservado a posse na qualidade de superficiário pelo tempo necessário, demonstrando ser portador de boa-fé” (Gonçalves). 4. Características a) Direito que pode ser gratuito ou oneroso - Art. 1.370. - Quando oneroso: solarium ou canon superficiário. b) Encargos e tributos por conta do superficiário - Art. 1.371. - Consequência da concessão da propriedade útil. - Ônus do superficiário, ainda que a superfície tenha se constituído gratuitamente (Diniz). - Enunciado 94 do Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal: “As partes têm plena liberdade para deliberar, no contrato respectivo, sobre o rateio dos encargos e tributos que incidirão sobre a área objeto da concessão do direito de superfície”. c) Direito transmissível - Art. 1.372, caput. - Direito transmissível inter vivos e mortis causa. - Quando do falecimento do superficiário, seus herdeiros passarão a ser titulares do direito até o advento do termo final ou do fato extintivo do direito de superfície. - Parágrafo único: é defeso o estabelecimento de pagamento pela transferência por parte do fundeiro (concedente). - “Com isso, evitar-se-á a ocorrência de especulações” (Diniz). d) Preferência legal recíproca - Art. 1.373. - Fundeiro resolve alienar a propriedade: superficiário goza de preferência na aquisição. - Superficiário resolve alienar a superfície: fundeiro goza de preferência na aquisição. - Igualdade de condições terceiros. - Objetivo: consolidação dos direitos reais para que não mais haja tal desmembramento (Diniz). - Em caso de desobediência ao preceito: perdas e danos, e o preterido poderá depositar em juízo valor igual ao pago pelo terceiro (Diniz). 5. Extinção da superfície a) Pelo advento do termo final estabelecido no contrato - Art. 1.369: direito temporário. b) Por desvio de finalidade - Art. 1.374. - Escopo: evitar burla aos termos da avença. - Observância à boa-fé objetiva. - Ex.: superfície destinada ao plantio de soja, mas o superficiário edifica. - Ex.: superfície destinada a edificar um edifício, mas o superficiário o aluga para estacionamento, sem que haja sinais de obras. * “Se nenhum motivo justo for apresentado para a prática do ato faltoso” (Gonçalves). - Entende o doutrinador que, neste caso, não cabe a retomada do imóvel. - Ex.: demora das obras decorreu da dificuldade de aprovação da planta. c) Por desapropriação - Art. 1.376. - Fundeiro recebe indenização equivalente ao seu direito de propriedade. Superficiário recebe indenização equivalente pela construção ou plantação que realizou. Enunciado 322 da Jornada de Direito Civil – CJF “O momento da desapropriação e as condições da concessão superficiária serão considerados para fins da divisão do montante indenizatório (art. 1.376), constituindo-se litisconsórcio passivo necessário simples entre proprietário e superficiário”. d) Outras hipóteses de extinção narradas pela doutrina: - Renúncia do superficiário; - Resolução contratual; - Resilição bilateral; - Falta de pagamento da prestação periódica pelo superficiário; - Não uso do direito de superfície; - Consolidação subjetiva. 6. Efeito da extinção da concessão da superfície - Art. 1.375. - Com a extinção, o proprietário readquirirá a propriedade plena do terreno (retornando ao princípio superfícies solo cedit), construção ou plantação, independentemente de indenização, salvo se as partes estipularam o contrário. - A presença do superficiário, de prepostos ou familiares no imóvel, após a extinção, caracteriza posse injusta, o que autoriza o ajuizamento da ação possessória pertinente. DAS SERVIDÕES PREDIAIS CONVENCIONAIS DAS SERVIDÕES 1. Conceito: * Gonçalves: - A utilização de vantagens sobre prédio alheio, vizinho ou próximo pode não ser essencial, mas mostrar-se necessária ou útil ao prédio dominante. - “É o ônus real, voluntariamente imposto a um prédio (serviente) em favor de outro (dominante), pelo qual o proprietário do primeiro perde o exercício de algum de seus direitos dominicais sobre o seu prédio, ou tolera que dele se utilize o proprietário do segundo, tornando este mais útil, ou pelo menos mais agradável”. 2. Formas: * Variações: a) De trânsito ou de passagem: assegura ao proprietário do prédio dominante a prerrogativa de transitar pelo imóvel de outrem. b)De aqueduto (canalização): proprietário do prédio dominante tem o direito de fazer com que a água de que necessite atravesse pelo prédio serviente. c) De iluminação ou ventilação: impede que o dono do prédio serviente construa em dada área de seu terreno para não prejudicar o acesso à luz ou ar do prédio dominante. d) De pastagem: possibilidade do gado do prédio dominante pastar no imóvel serviente. e) De não construir a certa altura: não prejudicar a vista que o prédio dominante desfruta de certa paisagem. 3. Características: a) Relação entre prédios distintos - Dominante (beneficia-se da restrição estabelecida) e serviente (sofre restrição em favor do dominante). - Ônus: dever de abstenção ou permissão para que se utilize do imóvel serviente para determinado fim. - Gera obrigação propter rem. b) Prédios devem pertencer a donos distintos - Serventia: exercício da prerrogativa de usar. c) Envolve uma obrigação negativa - Serve a coisa, e não o dono. - Obrigação do dono do serviente consiste em simples abstenção ou no dever de tolerância. d) Não se presume - Constituição pressupõe declaração expressa dos proprietários, ou por testamento, e consequente registro no Cartório de Imóveis. - Art. 1.378. - Ônus da prova de quem a alega. - Interpretação deve ser estrita. - Na dúvida, decide-se contra ela. e) Deve ser útil para o prédio dominante - A vantagem deverá aumentar o valor do prédio dominante. - Vantagem: maior utilidade ou simples comodidade/ deleite. 4. Natureza jurídica a) Direito real sobre coisa alheia: (incide diretamente sobre imóveis alheios). - Dotado de natureza acessória. - Munido de prerrogativa de sequela e ação real. - Acessório: depende da propriedade. Acompanha os prédios quando alienados. b) Direito perpétuo: caracteriza-se pela duração por tempo ilimitado; dura indefinidamente. - A intenção de celebrar por prazo limitado passa a ser relação jurídica de direito pessoal (Pereira, C. M.). c) Direito indivisível: não se desdobra caso qualquer dos prédios sejam divididos. - Art. 1.386. - Não se adquire, nem se perde por partes. Só pode ser reclamada como um todo, ainda que haja pluralidade de donos. Ressalva: se por natureza ou destino só se aplicarem a certa parte. d) Direito inalienável - Decorre da necessidade do prédio dominante. Portanto, não se admite sua transferência para outro prédio. - Não pode o dono do prédio dominante estendê-la ou ampliá-la a outras propriedades. - Apesar de ser inadmissível a sua alienação para outra pessoa ou outro prédio, transmite-se mortis causa ou inter vivos, acompanhando as mutações subjetivas. 5. Classificação * Conforme o exercício: a) Contínua: - Após constituída, seu exercício independe da ação humana. - Em geral, tal exercício é ininterrupto. - Ex.: servidão de aqueduto. b) Descontínua: - Todas cujo exercício dependem de ação humana são necessariamente descontínuas. - Dá-se com interrupção de seu exercício. - Ex.: servidão de trânsito. c) Aparente: - Manifesta-se mediante obras exteriores, visíveis e permanentes. - Ex.: servidão de passagem; de aqueduto. d) Não aparente: - Não se revela por meio de obras exteriores. - Abstenção de práticas pelo prédio serviente. - Apenas se constituem mediante registro. - Ex.: servidão altius non tollendi. * Combinação das classificações: Contínuas e aparentes – ex.: canalização de água pela superfície do solo (aqueduto aparente); Contínuas e não aparentes – ex.: altius non tollendi; Descontínuas e aparentes – ex.: passagem por caminho demarcado; Descontínuas e não aparentes – ex: retirar água sem caminho visível. * Importância da classificação: regras peculiares que somente são aplicadas às servidões contínuas e aparentes. * Art. 1.213: proteção possessória - Proteção possessória negada às servidões contínuas não aparentes (face a ausência de sinais visíveis). - Será conferida apenas às aparentes e, excepcionalmente, às não aparentes tituladas (pois se distinguem da mera tolerância) -> APENAS SE OS TÍTULOS PROVIEREM DO POSSUIDOR DO PRÉDIO SERVIENTE OU DAQUELES DE QUEM ESTE O HOUVE. - “O que não é visível e materialmente demonstrável não pode ser objeto de posse” (Venosa). - Súmula 415 STF: “servidão de trânsito não titulada, mas tornada permanente, sobretudo pela natureza das obras realizadas, considera-se aparente, conferindo direito à proteção possessória”. * Art. 1.379: usucapião - Ordinária -> caput -> 10 anos (com justo título e boa-fé). - Extraordinária -> parágrafo único -> 20 anos. Enunciado 251 da III Jornada de Direito Civil – CJF: “O prazo máximo para o usucapião extraordinário de servidões deve ser de 15 anos, em conformidade com o sistema geral de usucapião previsto no Código Civil”. e) Positiva: - Dono do dominante pode praticar algum ato no prédio serviente. Ex.: servidão de trânsito. f) Negativa: - Impõe ao serviente o dever de abster-se da prática de determinado ato de utilização. - Ex.: non edificandi. 6. Regulamentação das servidões a) Obras necessárias à conservação e uso - Dono do prédio dominante pode adentrar no serviente para esta finalidade, mas causando o menor incômodo possível ao serviente (art. 1.380). - Para tanto, é admitida a presença de operários, depósito de material de construção, uso de máquinas, animais, veículos. - Se do exercício da prerrogativa causar dano, deverá repará-lo. Injustificada oposição do dono do serviente: cabível manutenção de posse. Custos suportados pelo dominante, salvo se o contrário resultar de convenção expressa (art. 1.381). * Abandono liberatório: - Art. 1.382. - Não significa transmissão da propriedade serviente para o dominante. - Importa em liberar o serviente do dever de executar as obras ou custeá-las, devendo o dominante fazê-lo (parágrafo único). - Exonera o dono do dominante a efetuar o pagamento pelo uso da servidão, se esta for onerosa. - Dominante poderá perquirir a usucapião desde que continue a exercer a posse e cumpra os demais requisitos. b) Exercício das servidões Serviente não pode embaraçar, sob pena de manuseio dos interditos possessórios pelo dominante (art. 1.383). Interpretação restrita: o exercício não pode agravar o encargo do serviente (art. 1.385, caput e § 1.º). Ressalva à interpretação restrita: servidão de trânsito mais onerosa inclui a menor, mas não o contrário (§ 2.º). * A ampliação compulsória do gravame (§ 3.º): necessidades da cultura ou da indústria. c) Remoção das servidões - Art. 1.384. * Requisitos: Iniciativa do serviente: a mudança não pode diminuir as vantagens anteriormente constituídas para o dominante. Iniciativa do dominante: a mudança não pode prejudicar o serviente e deve proporcionar maior utilidade ao dominante. As despesas devem ser assumidas por aquele que der causa ao pedido. Autorização prévia do outro proprietário. 7. Extinção das servidões - Art. 1.387 a 1.389. a) Sintonia com o art. 1.378: extinção exige o cancelamento no cartório (regra); b) A hipótese de desapropriação dispensa o cancelamento de registro; c) Renúncia do dominante: art. 1.388, I (ato expresso); d) Perda da utilidade/ comodidade para o dominante: art. 1.388, II; e) Pelo resgate pelo serviente: quando previsto e regulado pelas partes (art. 1.388, III); f) Pela confusão ou consolidação subjetiva: art. 1.389, I. g) Pela supressão de obras: art. 1.389, II; - Aplicável às servidões aparentes. - Efeito do contrato ou outro título expresso. h) Pela falta de uso ou abandono durante 10 anos consecutivos: art. 1.389, III. - Revela o desinteresse do titular e a desnecessidade da servidão para o dominante. * Contagem do prazo: a) Servidões positivas: a partir do momento da cessação do seu exercício. b) Servidões negativas: a partir do momento que o dono do serviente pratica o ato que deveria se abster.
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