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UNIVERSIDADE FEEVALE RAPHAEL CASTRO ALVES A REVISTA PLACAR E O QUADRADO MÁGICO, OU TRÁGICO? Novo Hamburgo 2013 RAPHAEL CASTRO ALVES A REVISTA PLACAR E O QUADRADO MÁGICO, OU TRÁGICO? Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial à obtenção do Grau de Bacharel em Jornalismo pela Universidade Feevale. Orientadora: Dra. Christine Bahia de Oliveira Novo Hamburgo 2013 RAPHAEL CASTRO ALVES Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo, com o título A REVISTA PLACAR E O QUADRADO MÁGICO, OU TRÁGICO?, submetido ao corpo docente da Universidade Feevale, como requisito necessário para a obtenção do Grau de Bacharel em Jornalismo. Aprovado por: _______________________________ Profª Orientadora: Dra. Christine Bahia de Oliveira _______________________________ Prof. Dr. Humberto Ivan Keske (Banca Examinadora) _______________________________ Prof. Dr. Francisco Eduardo Menezes Martins (Banca Examinadora) Novo Hamburgo, 24 de junho de 2013. AGRADECIMENTOS Se estou escrevendo isso, é porque está acabando aminha vida acadêmica.Lembro daquela noite de segunda-feira, 30 de julho de 2007. Entrei acanhado no prédio multicolor, olhando para todos os lados. Não me interessei muito pelas aulas de Introdução a PP e RP. Mas na noite seguinte, aí sim. Aulas de Criatividade e Introdução a JN. Muito obrigado aos Professores Cristiano Max e Neusa Ribeiro. Vocês deram o start oficial da minha vida acadêmica. Agradeço também aos Professores Marcos Santuario e Christine Bahia por terem acreditado em mim e me concedido Bolsas de Monitoria. Foi uma honra ter colaborado nas aulas de Radiojornalismo II, Tendências em Comunicação e Tecnologias, e Planejamento Gráfico I. Chris, não é adeus, é até logo. hehehe Agradeço a todos os Professores, em especial ao Henrique Keske, ao Humberto Keske, ao Donaldo Hadlich, a Adriana Stürmer, a Caroline Colpo,e ao Francisco Menezes Martins. Obrigado por me passarem os seus conhecimentos. E sabe aquela coisa de “quando tu entrares na universidade, tu vais crescer, amadurecer, planejar suas idéias e criar novas responsabilidades”? Sim, isso realmente acontece. A entrada na universidade não significa apenas o início da realização do sonho de seguir a carreira desejada. A vida acadêmica representa uma nova etapa profissional e novas amizades, uma mudança na personalidade. Eu vivi o maior momento da Feevale: a mudança de Centro Universitário para Universidade. Vivi também as comemorações dos 40 anos da Feevale, 10 anos do curso de Jornalismo, 10 anos da TV Feevale, 10 anos do Frequência Livre. Vivi a chegada do novo estúdio do Núcleo de Rádio. E foi na sala 106 do prédio amarelo que vivi a maior parte do tempo. Agradeço ao Carlos Pereira, o “Carlão”; ao Rinaldo Silveira; aos vários colegas de Núcleo, Aline Azevedo, Ariel Lima, Carolina Cattaneo, Cristian Martins, Deivid Poncio, Eduardo Bettio, Ismael Silva, Leonardo Couto, Mariana John, Marina Mentz, Rafael Petry, Ruan Nascimento e Taís Jaques. Um salve para meus hermanos Bruna Saltiel e Guillermo Aboal. E isso tudo só aconteceu porque tive meus estudos financiados por meus pais, Nelci e Claudio. Obrigado! Vocês têm um filho formado. Parabéns! E obrigado Samara. Você proporcionou que eu me especializasse na minha área de estudo. Sua dedicação como esposa foi fundamental. Agora chegou a hora de eu retribuir tudo com muito trabalho. Valeu minha futura fisioterapeuta! RESUMO Esta monografia abordou como o quadrado mágico foi reportado nas páginas da revista Placar, às vésperas da Copa do Mundo de 2006. O quadrado se trata do posicionamento tático em campo. Era mágico porque contava com os meias- atacantes Kaká e Ronaldinho, e com os atacantes Adriano e Ronaldo. Para isso, foi realizada uma leitura mais criteriosa das reportagens produzidas pela publicação no período de julho de 2005 a julho de 2006 e que falavam dos atletas citados. Como referencial teórico a pesquisa conta com as contribuições de Carmona, Carvalho, Coelho, Hohlfeldt, Poli, Provenzano e Unzelte. A metodologia é sustentada por Laurence Badin, com a análise de conteúdo. Nas categorias levantadas para compreender de que maneira uma série de reportagens pode criar conceitos que dizem respeito aos personagens trabalhados, o estudo contou com as discussões de Saldanha. Segundo a revista Placar o quadrado que deveria ser mágico, ficou trágico. Ou seja, não alcançou as expectativas. Uma vez que os quatro não deveriam ter jogado juntos. Pois eram jogadores muito ofensivos, e deixavam a Seleção muito exposta atrás. Palavras-chave: Futebol. Copa do Mundo 2006. Jornalismo Esportivo. Mídia Impressa. Revista Placar. ABSTRACT This paper discussed how the magic foursome was reported in the pages of Placar Magazine, the eve of the World Cup 2006. The foursome was formed by soccer players Kaka, Ronaldinho, Adriano and Ronaldo. For this, was carried a more careful reading of the reports produced by the publication during the period of July 2005 to July 2006 that talked of the athletes mentioned. As theoretical references this research counts with the contributions of Carmona, Carvalho, Coelho, Hohlfeldt, Poli, Provenzano and Unzelte. The methodology is supported by Laurence Badin, with content analysis. The categories raised to understand how a series of reports can create concepts that relate to the personages studied, this paper counted with discussions of Saldanha. According to the magazine Score the square should be magical, it was tragic. Since the four should not be played together. Keywords: Soccer. World Cup 2006.Sporting News.Printed Media.Placar Magazine. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Capa da revista Placar, n. 1291. Fevereiro de 2006..............................52 Figura 2 – Capa da revista Placar, n. 1294. Maio de 2006......................................53 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Classificação final da Football League1888/1889 ...................................19 Tabela 2 – Referências ao quadrado mágico nas reportagens.................................41 Tabela 3 – Palpites da Placar que o treinador Parreira não levou à Copa .............. 50 Tabela 4 – Números do quadrado mágico na Copa de 2006 .................................. 56 Tabela 5 – Números do quadrado da campeã Itália na Copa de 2006 .................... 56 Tabela 6 – Números do quadrado mágico entre março/2005 e julho/2006 ..............59 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..........................................................................................................10 1.FUTEBOL ...............................................................................................................12 1.1 FUTEBOL NO BRASIL ........................................................................................20 2.JORNALISMO.........................................................................................................29 2.1 JORNALISMO ESPORTIVO NO BRASIL ...........................................................35 3.METODOLOGIA E ANÁLISE DO OBJETO ESTUDADO......................................40 3.1 METODOLOGIA DO TRABALHO .......................................................................40 3.2 O OBJETO DO ESTUDO ....................................................................................433.2.1 Revista Placar..................................................................................................43 3.3 QUADRADO MÁGICO.........................................................................................44 CONCLUSÃO ...........................................................................................................58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................61 ANEXOS ...................................................................................................................65 10 INTRODUÇÃO A Copa do Mundo completou 80 anos na edição de 2010, na África do Sul. Cerca de 3,2 bilhões de pessoas em todo o planeta assistiram “o maior espetáculo esportivo da Terra”1 pela televisão2, compreendendo 46,4% da população mundial. O Brasil é o maior campeão da Copa do Mundo, com cinco títulos: 1958, 1962, 1970, 1994 e 20023. Portanto, a cada torneio, a Seleção verde-amarela sempre entra como a favorita. Para a Copa de 2006, na Alemanha, não seria diferente. Falava-se “no planeta todo [...] que Parreira comandava o melhor elenco [...] o Brasil era o time a ser batido.” (RIBAS, 2010, p. 448). Muito desse otimismo, dava-se ao fato de que a Seleção tinha o chamado quadrado mágico. O quadrado se trata do posicionamento tático em campo. Mágico, porque contava com os meias-atacantes Kaká e Ronaldinho, e com os atacantes Adriano e Ronaldo. Somando o favoritismo habitual da Seleção, que surge a cada nova edição da Copa do Mundo, com os currículos invejáveis destes quatro jogadores que estariam a serviço do Brasil na Copa de 2006: conseguiria a mídia esportiva brasileira deixar tudo isso de lado, e tratar a Seleção com total imparcialidade? Na mídia impressa brasileira, a revista esportiva mais conceituada é a Placar, da Editora Abril. Em mais de 40 anos, a revista foi se adaptando aos novos tempos, e segue firme como a preferência nacional dos amantes do futebol. Ás vésperas da Copa do Mundo de 2006, Placar trouxe indícios de que o quadrado mágico poderia dar errado.Por isso, a revista foi escolhida como objeto desta pesquisa. Diante disso, este trabalho analisou profundamente as reportagens publicadas sobre o quadrado. Também é resgatada a abordagem da revista sobre o quadrado após a Copa do Mundo de 2006. Ao iniciar este estudo, eram duas as hipóteses mais prováveis. A primeira dava conta de que o quadrado seria exaltado pela Placar. Essa opção foi levantada em função de o quadrado ser composto por jogadores de currículos invejáveis. Eram campeões, consagrados, e premiados por mostrarem um futebol de qualidade e de resultados. O objetivo seria exaltar os pontos positivos de cada um, e aflorar o 1 Frase do ex-jogador de futebol Tostão, no prefácio de “O Mundo das Copas” (RIBAS, 2010, p. 1). 2 http://pt.fifa.com/worldcup/archive/southafrica2010/organisation/media/newsid=1473439/index.html 3 Datas retiradas do livro “O Mundo das Copas” (RIBAS, 2010, p. 535). http://pt.fifa.com/worldcup/archive/southafrica2010/organisation/media/newsid=1473439/index.html 11 sentimento de “os melhores do mundo” em todos os leitores. A segunda, alternativa a essa hipótese seria exatamente o seu contrário. A Revista Placar mostraria números, estatísticas, opiniões, e críticas. Ou seja, apontando o lado falho e discutível de cada um dos integrantes do quadrado. Com o objetivo de abrir os olhos de todos os leitores, trazendo para debate um clima de incerteza quanto ao desempenho do quadrado mágico. Para enriquecer este debate sobre o quadrado mágico, foram procurados os jornalistas esportivos Cléber Grabauska, da Rádio Gaúcha 600 AM, e Luis Carlos Reche, da Rádio Guaíba 720 AM. No entanto, não foram obtidas respostas. Os e- mails encaminhados estão anexados no final deste trabalho. Para tanto, este trabalho está dividido em três capítulos. No primeiro, apresento uma revisão do futebol e sua expansão no Brasil. O segundo capítulo é dedicado a mostrar como a comunicação contribuiu para ajudar na divulgação deste esporte no Brasil. Apresento como nasceu e cresceu o jornalismo esportivo. Também conto parte da história quadragenária da Revista Placar. No terceiro capítulo apresento as minhas análises que têm uma proposta de observação com estranhamento, a partir da maneira como o quadrado mágico foi apresentado na revista. Na seção final desta monografia, procuro retomar o panorama de discussões realizadas durante as análises. 12 1. FUTEBOL Fica difícil imaginar os atuais jogadores de futebol como Kaká e Ronaldinho chutando crânios por aí. Mas a história conta que assim teria nascido o futebol, na China. Sem a tão famosa bola, e sim com os crânios dos inimigos abatidos nas guerras. “Uma diferença sutil”, segundo Poli e Carmona (2006). O jogo foi denominado de tsu-chu (tsu= lançar com o pé; chu= bola recheada, feita de couro), conforme Unzelte (2009). Otsu-chu surgiu durante o reinado do imperador chinês Huang-Ti, e de acordo com Dienstmann e Denardin (1999), era praticado com os pés, por duas equipes de oito jogadores cada. Mais tarde, como afirma Unzelte (2009), os crânios foram substituídos por bolas de couro. Essas bolas deveriam ser chutadas entre estacas fincadas no chão. Segundo consta, o jogo foi inventado pelo venerável Yang-Tsé em 2197 a.C. como forma de treinamento militar. Mas as mulheres podiam participar. O gol era uma pequena meta de cerca de 40cm de largura entre dois bambus com 30 pés de altura. Outro jogo parecido com o futebol era disputado por times de seis jogadores que se enfrentavam com o objetivo de acertar a bola em uma abertura de 85cm feita numa rede estendida entre dois postes de 10,5m. [...] O buraco era chamado de “o olho proeminente” ou fengliuyan. A rede era chamada de wengzi. (POLI e CARMONA, 2006, p. 22). O fato de que as mulheres podiam participar do tsu-chu, era um sinal de que não havia preconceito dos homens com a parte feminina para a prática do jogo. Mas logo tal característica surgiria, no vizinho asiático Japão. Segundo Unzelte (2009), alguns anos depois de os chineses inventarem o tsu-chu, os japoneses criaram o kemari (ke= chutar; mari= bola), por volta de 2000 a.C., conforme Dienstmann e Denardin (1999). Diferente do jogo chinês, como afirma Unzelte (2009), o kemari era proibido para as mulheres. Disseminado pelos imperadores japoneses Engi e Tenrei, o jogo não contava pontos e nele se proibia qualquer contato corporal entre os participantes. De acordo com Dienstmann e Denardin (1999), o kemari também era jogado com os pés, se utilizando uma bola de fibras de bambu forrada com crina de cavalo. 13 Os dois times têm oito jogadores cada, o terreno de jogo apresenta quatro lados iguais de 14 metros, os escravos recebem a função de devolver a bola [...] os objetivos do jogo são apenas e simplesmente aperfeiçoar a delicadeza do chute e do espírito; um simples toque no adversário resulta em expulsão, e acontecem muitas interrupções para insistentes pedidos de desculpas por eventuais faltas. (DIENSTMANN e DENARDIN, 1999, p. 10). Comparado ao futebol do século XXI, no qual o normal é até mais do que um simples toque no adversário, o kemari não traz muitas semelhanças. Enquanto que há quatro mil anos os japoneses expulsavam o atleta que simplesmente tocasse no adversário, atualmente o atleta que, mesmo munido da defesa de que foi sem intenção, ou de que foi uma fatalidade, deixe o adversário com o tornozelo fraturado, pode receber apenas a advertência de um cartão amarelo4, dependendo do que o árbitro do jogo viu5. Mas ao longo dos anos foram surgindo vários outros esportes com bola pelo mundo afora. Na terra dos Jogos Olímpicos, a Grécia, o esportecomeçou a ganhar competitividade com a contagem dos pontos, que não existia no kemari dos japoneses. Por volta de 850 a.C., segundo Unzelte (2009), o parente mais próximo do futebol na Grécia era o epyskiros, disputado com os pés, em campo retangular, por duas equipes de nove jogadores. O epyskiros era praticado na cidade de Esparta em campos maiores, onde podiam se posicionar até 15 jogadores de cada lado. O objetivo era arremessar a bola para as metas, localizadas no fundo de cada lado, a fim de se contarem os pontos. Após a evolução do esporte ao trocar crânios por bolas, o jogo ganhou competitividade com a contagem dos pontos. No entanto, a atividade parecia regredir no tempo em algumas localidades, nas quais o ditado “jogo de vida ou morte” era realmente levado a sério. Conforme Unzelte (2009), entre os anos de 900 e 200 a.C., na Península de Yucatan, atual México, um povo conhecido por Maias, praticavam anualmente um jogo com as mãos e os pés. De acordo com Poli e Carmona (2006), os Maias 4 Advertência mostrada pelo árbitro ao jogador. Outro cartão amarelo resulta na expulsão do atleta. Disponível na pág. 38 do regulamento do futebol da Fifa. Acesso em: 23 mar. 2013, às 20h26.http://pt.fifa.com/mm/document/footballdevelopment/refereeing/81/42/36/lawsofthegame_2012_ e.pdf 5 Jogador recebeu apenas cartão amarelo após fraturar tornozelo do adversário. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/sp/campinas-e-regiao/noticia/2013/03/ferrugem-fratura-o-pe-apos- entrada-violenta-de-danielzinho-veja-video.html Acesso em: 11 mar. 2013, às 11h30. http://pt.fifa.com/mm/document/footballdevelopment/refereeing/81/42/36/lawsofthegame_2012_e.pdf http://pt.fifa.com/mm/document/footballdevelopment/refereeing/81/42/36/lawsofthegame_2012_e.pdf http://pt.fifa.com/mm/document/footballdevelopment/refereeing/81/42/36/lawsofthegame_2012_e.pdf http://globoesporte.globo.com/sp/campinas-e-regiao/noticia/2013/03/ferrugem-fratura-o-pe-apos-entrada-violenta-de-danielzinho-veja-video.html http://globoesporte.globo.com/sp/campinas-e-regiao/noticia/2013/03/ferrugem-fratura-o-pe-apos-entrada-violenta-de-danielzinho-veja-video.html 14 praticaram a atividade por 1500 anos, utilizando além dos pés, as coxas e o torso6. Cada equipe tinha um atirador principal, que era sacrificado caso a sua equipe fosse derrotada. O objetivo era arremessar uma bola de borracha maciça nos furos circulares localizados no meio de seis placas de pedra quadradas. No centro das duas linhas de fundo, havia dois templos elevados, onde o atirador-mestre da equipe perdedora era sacrificado. Seus restos mortais eram atirados a jaguares e serpentes. (UNZELTE, 2009, p. 13). A selvageria da atividade dos Maias não atravessou fronteiras, e parece ter ficado apenas como uma das antigas histórias que aconteceram no território mexicano. Mas a violência continuou aparecendo nas atividades com bola pelo mundo afora, em menor proporção, pois as mortes não faziam mais parte do regulamento. Há pouco menos de 20 anos, em 1994, o futebol passou por uma história tão cruel quanto os sangrentos contos da época dos Maias. O jogador colombiano Andrés Escobar Saldarriaga foi assassinado, aos 27 anos, por torcedores no país sul-americano. O motivo teria sido o gol contra marcado pelo jogador 10 dias antes, na derrota para os Estados Unidos7. Por volta de 200 a.C., conforme Unzelte (2009), o Império Romano adotou o esporte grego epyskiros, latinizando seu nome para harpastum. O jogo logo caiu no agrado das tropas romanas, pelo seu caráter competitivo e violento. O harpastum era disputado em um campo retangular, dividido por uma linha e com duas linhas como metas. A bola, chamada de follis pelos romanos, era feita de bexiga de boi e coberta por uma capa de couro. Ela deveria ser passada de pé para pé, cabendo a um dos jogadores arremessá-la através da linha de meta adversária, marcando, assim, o ponto. [...] Como exercício físico-militar dos soldados romanos, uma partida podia durar horas. Com as conquistas romanas, o harpastum chegou a outras regiões da Europa (inclusive à Bretanha, por volta do ano 43), à Ásia Menor e ao norte da África. (UNZELTE, 2009, p. 14). De acordo com Poli e Carmona (2006), o harpastum era mais parecido com o rúgbi do que com o futebol atual. A bola tinha cerca de 20 cm de diâmetro e era permitido tocá-la com pés e mãos. Os autores citam que o imperador romano Júlio 6 Torso = Constituído pelo tórax e pela parte superior do abdome. Escultura que representa o corpo humano sem cabeça nem membros. http://www.dicio.com.br/torso/ Acesso em: 23 mar. 2013, às 21h. 7 Escobar foi assassinado com 6 tiros no peito. Dados retirados revista Placar (edição 1295 , p. 40). http://www.dicio.com.br/torso/ 15 César e seus generais gostavam do esporte, que era jogado em pisos de terra e com número variável de jogadores (normalmente entre cinco e 12). As conquistas territoriais dos romanos comandados pelo imperador Júlio César, espalharam o harpastum pelas terras vizinhas. Em cada lugar que o jogo chegava, ganhava uma adaptação para o nome. Foi assim na região onde atualmente fica a França, segundo Unzelte (2009). Entre os anos de 58 e 51 a.C., desenvolveu-se o soule, que era praticado pelo próprio rei francês Henrique II, um entusiasta do jogo, tendo como ilustre companheiro Pierre Ronsard, chamado de O Príncipe dos Poetas. Mesmo sendo considerado uma versão do harpastum, pouco ou quase nada se sabe sobre as regras do soule, conforme Voser (2006). Não há certezas quanto ao tamanho do campo e número de participantes, a referência certa era de que os jogadores empenhavam-se em transpor a bola, através de arremesso, pela linha de meta, demarcada por duas estacas cravadas no chão. Chegando à Idade Média, o soule encontrou preconceitos de ordem religiosa e social, pois passou a ser um esporte violento e perigoso. De acordo com Poli e Carmona (2006), a origem do nome souletem duas hipóteses: as palavras celtas seaul (sol) e soules (sandálias). O rei Filipe V proibiu o soule num édito em 1319. Dentre todos os parentes do futebol citados até agora neste trabalho, todos surgiram nos anos a.C., porém as atividades mais semelhantes ao atual futebol começaram a surgir 1000 anos d.C. Como afirma Unzelte (2009), na Inglaterra, o mais antigo documento relacionado a uma atividade com bola é o livro Descriptio Nobilissimae Civitatis Londinae, de William Fitztephen. Datada de 1175, a obra cita um jogo disputado durante a Schrovetide (espécie de Terça-Feira Gorda), quando habitantes de várias cidades inglesas saíam às ruas para chutar uma bola de couro, com o objetivo de comemorar a expulsão dos dinamarqueses. Cerca de 350 anos depois, segundo Unzelte (2009), a Itália viu nascer na cidade de Florença o calciofiorentino. E não por acaso, até hoje os italianos conhecem o futebol pelo nome de calcio. A primeira partida desse tal jogo de bola teria sido disputada em 17 de fevereiro de 1529, quando Florença estava cercada por tropas militares do príncipe de Orange. Com a cidade sob cerco, duas facções políticas lideradas por Seglio Antinori e Dante Cantiglione decidiram acertas suas diferenças. Foi nessa verdadeira batalha que surgiu o calcio. A disputa aconteceu na 16 Praça Santa Croce com 27 jogadores de cada lado, com as duas equipes devidamente uniformizadas, uma de verde e a outra de branco. Conforme Voser(2006), o objetivo do jogo era colocar a bola na barraca adversária, construída sobre a linha no fundo de cada campo. Era permitido o uso das mãos e dos pés, tornando a disputa árdua e violenta durante algumas horas. Em 1580, de acordo com Unzelte (2009), Giovanni di Bardi estabeleceu regras para o calcio. O jogo passou a ser arbitrado por dez juízes, no intuitode impedir os empurrões e os pontapés muito comuns naqueles tempos. Depois do calcio, na Itália, no qual ainda era permitido o uso das mãos, estava para surgir uma atividade em que era permitido apenas tocar com os pés na bola. O verdadeiro futebol começava a aparecer. A Inglaterra passara em 1175 por um período em que as pessoas saíam às ruas para chutar uma bola de couro, com o objetivo de comemorar a expulsão dos dinamarqueses. Depois em 1314, como afirma Unzelte (2009), o rei Eduardo II proibiu o futebol no país. Ele temia que, ao desviar as atenções para a bola, os jovens se descuidassem do arco e flecha, mais útil para nações em tempos de guerra. Antes e depois dele, outros soberanos ingleses também se opuseram ao futebol. Mesmo com tantas proibições, inclusive leis antifutebolísticas que levavam os insistentes em praticar o esporte para a prisão, o futebol não foi banido. Longe disso, não parou de crescer. Durante muito tempo, segundo Unzelte (2009), o futebol teve um sentido estritamente cívico para o povo inglês, sendo disputado apenas em festejos anuais. Mas com o passar do tempo, o esporte foi ganhando popularidade entre os habitantes de Chester, e principalmente, entre os de Kingston. No século XVI, cresceu a violência do jogo, levando o escritor Philip Stubbes a referir-se ao futebol como “um jogo bárbaro, que só estimula a cólera, a inimizade, o ódio, a malícia, o rancor”. 17 Não era para menos: o saldo da brincadeira invariavelmente eram pernas quebradas, dentes arrancados, roupas rasgadas, vidraças partidas. Houve notícias de acidentes fatais, como o de um jogador que se afogou ao saltar de uma ponte para apanhar a bola. E não eram raros os assassinatos resultantes da rivalidade no jogo. Em 1608, em Manchester, uma bola estilhaçou a vidraça de uma biblioteca, que foi invadida e destruída por uma multidão. Assim era o massfootball, ou “futebol de massa”. Durante o século XVIII, cerca de mil pessoas, 500 de cada lado, percorreram quilômetros pelas ruas da cidade inglesa de Chester, disputando uma bola. O objetivo era levá-la até um dos dois portões da cidade – no caso, os gols. (UNZELTE, 2009, p. 17). Em meio a tantos atos de violência, o esporte que já sofrera com a proibição no território inglês, estava prestes a desaparecer de vez, caso não sofresse drásticas mudanças. E foi o que aconteceu a partir de 1700, conforme Unzelte (2009). O jogo foi obrigado a mudar. As formas violentas de futebol foram proibidas. Em 1710, as escolas inglesas Covent Garden, Strand e Fleet Street passaram a adotá-lo como atividade física. Logo o esporte ganhou adeptos entre os jovens, que praticavam outras atividades como tiro, esgrima, caça e equitação. Mas de acordo com Voser (2006), um problema foi enfrentado pelos jovens estudantes – o emprego das mãos no jogo. No Rugby School permitia-se o uso das mãos e dos pés, enquanto em Cambridge só o uso dos pés. O impasse somente provocou brigas e discórdias. Começava a tornar-se necessária a criação de limitações, ou regras. Como afirma Unzelte (2009), o pedagogo Richard Mulcaster, diretor dos colégios de Merchant Taylors e St. Pauls, foi um dos primeiros a ver valor educativo no jogo, observando que seria vantajoso limitar o número de participantes e admitir um árbitro severo, para “fazer cumprir os critérios adotados”. Em Londres, já não se jogava mais nas ruas, e sim em terrenos baldios. E no ano de 1801, segundo Dienstmann e Denardin (1999), os campos de futebol em Hurling, na Inglaterra, passam a ter um tamanho menor: 80 metros de largura por 100 de comprimento. E mais adiante, no ano de 1810, algumas equipes britânicas fixam o número de jogadores por equipe em 11. Enquanto em Midlothian, na Escócia, são disputados os primeiros jogos de futebol no mundo apenas com mulheres, entre times de solteiras e casadas. A partir de 1823, conforme Unzelte (2009), uma maneira de jogar futebol começa a ganhar destaque, representada pelos colégios Charterhouse, Westminster, Eton, Harrow, Oxford e Winchester, que usavam somente os pés. Era o chamado football, que ainda estava em fase primária. No ano de 1848, na 18 Universidade de Cambridge, uma conferência reuniu diretores da maioria dos colégios da cidade e estabeleceu a proibição de usar mãos e braços no jogo. A reunião ainda não conseguiria unificar as regras. Isso só iria ocorrer 15 anos mais tarde. Antes da unificação, de acordo com Poli e Carmona (2006), nasceu o clube mais velho do mundo: o Sheffield Football Club. Fundado em 1857, foi o principal clube da Liga de Sheffield, que jogava segundo as regras locais, nas quais valia empurrar. Curiosamente, sua fundação aconteceu seis anos antes da criação do futebol. Como afirma Duarte (2003), o dia 26 de outubro de 1863 é considerado o dia da criação do futebol. Foi nessa data que, ao fim de seis reuniões na Freemason'sTavern, na Great Queen Street, em Londres, representantes de clubes, capitães e dirigentes de escolas reuniram-se para unificar as regras: assim foi fundada a Football Association. Enfim, o futebol assim como o conhecemos hoje, estava devidamente inventado. O próximo passo seria o surgimento de outros clubes, os primeiros torneios, nos quais obviamente surgiriam também as primeiras taças, e os primeiros campeões da história do futebol. Segundo Poli e Carmona (2006), no ano de 1859, foi registrado oficialmente o primeiro clube de futebol na África, o sul-africano Pietermaritzburg County. O clube era formado por ingleses. Em 1865, operários ingleses que construíam rodovias na Argentina fundaram o Buenos Aires FC, provavelmente o primeiro clube sul- americano. Em 1871, conforme Unzelte (2009), disputou-se, entre clubes, a primeira Copa da Inglaterra, conhecido como o torneio de futebol mais antigo do mundo. No ano seguinte, em 30 de novembro de 1872, Inglaterra e Escócia empataram por 0 a 0 no que se considera a primeira partida internacional da história. Anos depois, de acordo com Poli e Carmona (2006), em 17 de abril de 1888, foi fundada na Inglaterra a primeira liga de futebol do planeta: a Football League. Como consta na tabela abaixo, 12 clubes disputaram a liga que teve seus primeiros jogos realizados no dia 8 de setembro de 1888. Depois de 132 partidas disputadas, apenas um clube entraria para história como o primeiro campeão da Football League. Com uma campanha invicta, ou seja, sem ser derrotado em qualquer jogo, o Preston North End, da cidade de Preston, sagrou-se campeão: 19 Tabela 1 – Classificação final da Football League1888/1889 CLUBE P J V E D GM GS 1º Preston North End 40 22 18 4 0 74 15 2º Aston Villa 29 22 12 5 5 61 43 3º Wolverhampton 28 22 12 4 6 51 37 4º Blackburn Rovers 26 22 10 6 6 66 45 5º Bolton Wanderers 22 22 10 2 10 63 59 6º West Bromwich 22 22 10 2 10 40 46 7º Accrington 20 22 6 8 8 48 48 8º Everton 20 22 9 2 11 35 47 9º Burnley 17 22 7 3 12 42 62 10º Derby County 16 22 7 2 13 41 61 11º NottsCounty 12 22 5 2 15 40 73 12º Stoke City 12 22 4 4 14 26 51 Legenda: P=pontos conquistados; J=jogos disputados;V=vitórias; E=empates; D=derrotas; GM=gols marcados;GS=gols sofridos. Fonte: http://www.statto.com/football/stats/england/football-league/1888-1889 Acesso em: 31 mar. 2013, às 23h00. A atual edição do Campeonato Inglês, chamado de Premier League8, conta com apenas quatro dos clubes fundadores: Aston Villa, Everton, Stoke City e West Bromwich. O título é disputado por 20 equipes, e a cada ano três equipes são rebaixadas para a Football League Championship, uma espécie de Segunda Divisão de Clubes. Ao mesmo tempo, três equipes são promovidas dessa Divisão para substituírem os clubes rebaixados. E assim acontece em todos os anos. Depois de se profissionalizar na Inglaterra, o futebol se expandiu pelo mundo afora. O esporte do povo foi alcançando cada continente desse planeta,fazendo com que crescesse cada vez mais a paixão futebolística. Como afirmam Poli e Carmona (2006), em 1882, foi fundada a primeira Associação Nacional Sul-africana de futebol. E no ano seguinte foi jogada a primeira partida oficial no continente – o Durban derrotou o Pietermaritzburg por 2 a 1. Já em 8 http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/futebol-ingles/classificacao.html Acesso: 31 mar, 23h. http://www.statto.com/football/stats/england/football-league/1888-1889 http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/futebol-ingles/classificacao.html 20 1892, a Argentina foi o primeiro país a ter um campeonato nacional depois da Inglaterra. A primeira parte deste trabalho visa relatar a origem do futebol, que segundo Carvalho (2012), foi realmente criado pelos ingleses. Sim, foram os ingleses que começaram tudo, por mais que as correntes historiográficas vejam semelhanças de origem entre o futebol e os jogos com bola registrados na China antiga, no Japão e no Egito ou com o harpastum romano. Nesses casos, o único parentesco com o futebol moderno se resumia à existência de um objeto esférico, envolto por couro, que era o centro das atenções. No mais, tratava-se de uma caótica disputa por território dentro de certos limites espaciais, que poderiam ser as próprias fronteiras das cidades, com variações no número de participantes, de 30 a 600 de cada lado, dependendo da região e da área à disposição. [..] O certo é que os ingleses podem até ter herdado algumas influências dessas experiências supostamente esportivas da antiguidade, até passaram por um período razoável de selvageria antes de encontrar a fórmula mais cidadã para o seu futebol, mas criaram, por fim, uma nova modalidade. (CARVALHO, 2012, p. 15 e 16). Agora que já se percorreu o caminho do futebol pelo mundo afora, se faz necessário conhecer o esporte em terras brasileiras, onde se criou o quadrado mágico, tema deste trabalho. 1.1 FUTEBOL NO BRASIL No Brasil, conforme Poli e Carmona (2006), a primeira partida de futebol foi disputada no dia 14 de abril de 1895. O maior responsável por este feito foi o brasileiro Charles William Miller. Filho de pai inglês e mãe brasileira, Miller nasceu no bairro do Brás, em São Paulo, no dia 24 de novembro de 1874. Com nove anos foi estudar na Bannister Court School, em Southampton, na Inglaterra. Em solo britânico, o garoto descobriu e se apaixonou pelo futebol. Começou a viajar em busca de livros para conhecer melhor e se aprofundar no esporte. Com 20 anos, Miller voltou ao Brasil. Chegou no dia 18 de fevereiro de 1894, com duas bolas na bagagem, as primeiras que entraram no Brasil, e um livro de regras básicas do futebol. Seu objetivo era apresentar o esporte aos brasileiros. Se bolas de futebol eram artigos raros, jogadores de futebol simplesmente não existiam. Por isso, foi árdua a luta de Charles na procura por parceiros até conseguir reunir o número necessário de jogadores para a disputa da primeira partida de futebol no Brasil. 21 [...] no dia 14 de abril de 1895 [...] Podemos dizer que arrumou um amistoso: São Paulo Railway, composto por funcionários da estrada de ferro e por Charles [...] contra Companhia de Gás. Ganhou, evidentemente, o time do dono da bola: 4 a 2. Não há registros de súmula. Mas foi ali, num campinho improvisado [...]que a bola rolou, oficialmente, em terras brasileiras. Charles Miller conseguira. E, graças a ele, nascia a maior paixão popular do país. (POLI e CARMONA, 2006, p. 33). Essa partida, que no dia 14 de abril de 2015 deverá ser celebrada por completar 120 anos, foi disputada de acordo com Unzelte (2009), por ingleses e anglo-brasileiros, ou seja, pessoas de origem inglesa e brasileira. Segundo Dienstmann e Denardin (1999), o jogo foi realizado em um capinzal da Várzea do Carmo, em São Paulo. Os jogadores usaram calças compridas arregaçadas, e inicialmente tiveram que expulsar o gado que pastava no capinzal. Não existe referência ao tempo de duração da partida. Um depoimento dado à revista O Cruzeiro, em 1952, por Charles Miller, relata como foi o planejamento desta partida: Numa tarde fria de outono em 1895, reuni os amigos e convidei-os a disputarem uma partida de football. Aquele nome, por si só, era novidade, já que naquela época somente conheciam o críquete. - Como é esse jogo? – perguntavam uns. - Com que bola vamos jogar? – indagavam outros. - Eu tenho a bola. O que é preciso é enchê-la. - Encher com quê? – perguntaram. - Com ar. - Então vá buscar que eu encho. (UNZELTE, 2009, p. 20). Conforme Unzelte (2009), o precursor da vinda do futebol ao Brasil foi atacante amador do Southampton e da seleção do condado de Hampshire, ambos na Inglaterra. No Brasil, também foi jogador, e ainda prosseguiu no esporte como árbitro e depois dirigente de clube. Charles Miller foi atacante do São Paulo Athletic Club, o primeiro time com destaque no futebol brasileiro, de acordo com Poli e Carmona (2006). Foi tricampeão paulista (1902, 1903 e 1904). Miller parou de jogar em 1910, aos 36 anos. Virou árbitro, e depois, dirigente do São Paulo Athletic. Morreu em 1953, com 79 anos, sem ter visto o futebol brasileiro dominar o planeta. Depois de o futebol ser apresentado aos paulistas, cada um dos estados brasileiros também teria o seu Charles Miller, como afirma Unzelte (2009). O também estudante Oscar Cox, que regressava da Suíça, introduziu o futebol no Rio 22 de Janeiro em 1897. Johannes Minerman e Richard Woelckers apresentaram o esporte ao Rio Grande do Sul em 1900. E os gaúchos logo acolheram o esporte. Foi na cidade de Rio Grande que se criou o primeiro clube de futebol no Brasil, segundo Poli e Carmona (2006). O Sport Club Rio Grande foi fundado no dia 19 de julho de 1900 por iniciativa do alemão Christian Moritz. Ele reuniu um grupo de amigos, anunciou a novidade e, empolgado, importou material esportivo da Inglaterra. Conforme o autor, o Rio Grande abriu as portas para os clubes brasileiros. Por isso, é chamado de “Vovô” e a data de sua fundação, 19 de julho, se tornou o Dia Nacional do Futebol. Ainda antes da criação do Sport Club Rio Grande, outros clubes foram fundados, mas não eram voltados para o futebol. No dia 15 de novembro de 1895, de acordo com Poli e Carmona (2006), surgiu o Clube de Regatas do Flamengo, no Rio de Janeiro, que só entraria para o futebol apenas em 1911. No dia 21 de agosto de 1898, como afirma Dienstmann e Denardin(1999), é fundado o Clube de Regatas Vasco da Gama, também no Rio de Janeiro. Somente em 26 de novembro de 1915 o Vasco iniciou a prática do futebol. Segundo Poli e Carmona (2006), foi no dia 13 de maio de 1899 que nasceu o Esporte Clube Vitória, na Bahia. Mas a bola só começou a rolar em 1904. O futebol continuou sendo propagado pelos estados brasileiros, a Bahia também teve um Charles Miller, conforme Unzelte (2009). José Ferreira Filho apresentou o esporte aos baianos em 1901. Em Pernambuco, foi Guilherme de Aquino Fonseca, no ano de 1903. No ano seguinte, em 1904, foi Vito Serpa que introduziu o futebol em Minas Gerais. E no Paraná, Charles Wright levou o esporte aos paranaenses, em 1908. Depois da criação do Sport Club Rio Grande, outros clubes voltados apenas para o futebol também foram surgindo de acordo com Dienstmann e Denardin (1999). A Associação Atlética Ponte Preta foi criada no dia 11 de agosto de 1900, em Campinas, no estado de São Paulo. O Fluminense Football Club foi fundado no dia 21 de julho de 1902, no Rio de Janeiro. No mesmo dia, na cidade de Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, surgiu o Esporte Clube 14 de Julho. No ano seguinte, é fundado em Porto Alegre, o Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense, no dia 15 de setembro. Ainda no estado gaúcho, no dia 4 de abril de 1909, é criado o Sport Club Internacional,também em Porto Alegre. 23 Enquanto se difundia por todo o Brasil, o futebol passou por um momento importante no ano de 1904, como afirma Unzelte (2009). Já existiam associações nacionais de futebol organizadas nos cinco continentes. Faltava, porém, uma entidade internacional para congregar todas aquelas associações. Com esse objetivo, fundou-se, em 21 de maio de 1904, em Paris, a Fédération Internationale de Football Association, a FIFA. A criação da Fifa foi obra de um holandês, Karl Hirschmann, e de um francês, Robert Guérin, que se tornaria o primeiro presidente da entidade. [...] desde 1902 [...] vinham ensaiando a fundação de um organismo internacional para o futebol. [...] França; [...] Holanda; [...] Espanha; [...] Suíça; [...] Bélgica; [...] Dinamarca; e [...] Suécia. [...] Foram [...] os sete países fundadores. [...] No mesmo dia, [...] a Alemanha solicitou filiação. Nos dias seguintes, [...] Áustria, Hungria, Itália, Irlanda e País de Gales [...] Inglaterra, [...] depois. [...] África do Sul. [...] Argentina. [...] Brasil. [...] A Fifa pretendia ter organizado o seu primeiro Campeonato Mundial de Futebol já em 1906, na Suíça. (UNZELTE, 2009, p. 75). No ano de 1906, segundo Dienstmann e Denardin (1999), a FIFA adotou as regras da Associação de Futebol Inglesa. A mesma Football Association criada pelos ingleses no dia 26 de outubro de 1863 para unificar as regras do futebol, conforme Duarte (2003). De acordo com Dienstmann e Denardin (1999), no dia 8 de junho de 1914 foi fundada, no Rio de Janeiro, a Federação Brasileira de Sports, a FBS. E como afirmam Da Silva e Santos (2006), a iniciativa da criação surgiu de Álvaro Zamith, presidente da Liga Metropolitana de Sports Athleticos, a LMSA. Zamith contou com o apoio de outras sete entidades desportivas distintas. Segundo os autores, estava mais do que na hora de se organizar em nível nacional o esporte, que entrara definitivamente no gosto popular. Por ocasião da criação da entidade, ocorreu também o surgimento da seleção brasileira. Uma equipe que reúne os melhores jogadores brasileiros, representando o país, ou seja, representando a população brasileira na prática do futebol pelo mundo afora. O selecionado nacional surgiu, segundo Poli e Carmona (2006), após o clube Exeter City, representante da terceira divisão do futebol inglês, aceitar um convite da FBS para realizar um amistoso. Após uma excursão pela Argentina, os ingleses enfrentariam a seleção no dia 21 de julho de 1914. A Federação Brasileira de Sports chamou os melhores jogadores do Rio e de São Paulo, entre eles o lendário goleiro Marcos Carneiro de Mendonça e o artilheiro Friedenreich. Não havia um técnico 24 oficializado e, dentro de campo, a equipe foi liderada pelo capitão Rubens Salles e por Sylvio Lagreca. Nascia a primeira Seleção Brasileira. [...] No dia 21 de julho de 1914, uma pequena multidão, algo em torno de três mil pessoas, rumou para o Estádio das Laranjeiras. Os torcedores puseram suas roupas de passeio, seus chapéus, lustraram os sapatos e tiraram os guarda-chuvas dos armários. [...] Em campo, algo parecido com os dias de hoje. Técnica brasileira contra jogo bruto inglês. Friedenreich chegou a perder dois dentes. Mas a vitória foi da seleção, que usava as camisas brancas, [...] Brasil 2 x 0 Exeter City. E o mundo começava a ser apresentado aos verdadeiros mestres do futebol. (POLI e CARMONA, 2006, p. 37). Os autores referem-se aos jogadores da seleção brasileira como os verdadeiros mestres do futebol. Ao longo de quase 100 anos, que serão completados em 2014, a seleção vem acumulando títulos, já são mais de 30 troféus conquistados. Conforme Unzelte (2009), em 1917, o futebol já havia se difundido em todo o Brasil e se tornaria, aos poucos, uma paixão nacional. E a seleção brasileira é um símbolo supremo dos torcedores do país. Não por acaso, a seleção tem o maior número de títulos da Copa do Mundo, cinco conquistas. Copa do Mundo é um torneio de futebol masculino realizado a cada quatro anos pela Fédération Internationale de Football Association, a FIFA. De acordo com Ribas (2010),o sonho de realizar um Mundial de futebol surgiu a partir do dia 21 de maio de 1904, quando a FIFA foi fundada. Em 1905 falou-se pela primeira vez em uma Copa do Mundo, mas não houve seleções inscritas. Como afirma Unzelte (2009), a Fifa pretendia organizar a primeira Copa do Mundo em 1906, na Suíça. Até um troféu já existia, doado pelo suíço Victor Ernst Schneider. A disputa, no entanto, não envolveria seleções, e sim clubes. Os 16 times campeões das associações nacionais filiadas à entidade até então jogaria partidas eliminatórias até que se apurasse o campeão. O estatuto provisório e o regulamento da competição chegaram a ser aprovado durante a própria sessão de fundação da Fifa. Porém, aqueles eram tempos difíceis, de comunicação precária entre as cidades, de escassez de meios de transporte e, sobretudo, de gastos com viagens e hospedagem, incompatíveis com um futebol essencialmente amador. Por tudo isso, o projeto teve que ser adiado. (UNZELTE, 2009, p. 76). Nos anos seguintes, segundo Ribas (2010), a ideia de fazer um torneio ficou em segundo plano, pois em 1914 estourou a Primeira Guerra Mundial na Europa, e só acabou em 1918. Foi a partir de 1921 que a ideia tomou corpo na Fifa. Neste ano 25 o presidente interino da Fifa, Jules Rimet, foi efetivado e assumiu o comando da Fédération. Jules Rimet nasceu no dia 14 de outubro de 1873, na cidade francesa de Theuley-les-Lavoncourt. Conforme Unzelte (2009), Rimet teve seu primeiro contato com o futebol em 1884, aos 11 anos, quando a família se mudou para Paris. Nos tempos de colégio, o garoto jogou em times de subúrbio. De acordo com Poli e Carmona (2006), adorava jogar, ver, estudar e pensar o esporte. Mas teve de serviu seu país na guerra como membro do exército. Após o conflito, fundou o Red Star, um tradicional clube francês naquela época. Como afirma Unzelte (2009), no ano de 1910, Jules Rimet já presidia a Federação Francesa de Futebol. Em 1914, representou seu país pela primeira vez no congresso da Fifa na Noruega. Segundo Ribas (2010), Rimet assumiu a presidência interina da Fifa em 2018, após a morte do inglês Daniel Burley Woolfall, e foi efetivado em 1921. Acabou ocupando o cargo de presidente da Fifa durante 33 anos, até 1954, conforme Poli e Carmona (2006). A vida profissional deste francês foi toda ligada ao futebol. Ele morreu no ano de 1956, aos 82 anos. No ano de 1924, de acordo com Unzelte (2009), Jules Rimet liderou a organização do torneio de futebol dos Jogos Olímpicos de Paris, disputado por 22 seleções. Na final, realizada no Estádio Colombes, 60 mil pessoas pagaram ingresso para ver o Uruguai vencer a Suíça por 3 a 0 e conquistar a medalha de ouro, provando que o futebol poderia, sim, ser economicamente viável. Dois anos depois, em 1926, em um Congresso da Fifa, foi a aprovada a formação de uma comissão para estudar a realização da Copa do Mundo. Prestigiado por conquistar duas medalhas de ouro no futebol dos Jogos Olímpicos (1924 e 1928), o Uruguai saiu na frente na briga para sediar a primeira Copa do Mundo, como afirma Ribas (2010). Em mais um Congresso da Fifa, Jules Rimet propôs a organização de uma competição aberta para os selecionados de todas as entidades nacionais filiadas à Fifa. A proposta teve 23 votos favoráveis e três contrários. Em 8 de setembro de 1928, na Suíça, decidiu-se que o torneio seria realizado de quatro em quatro anos, nos anos pares entre as Olimpíadas, com início em 1930. A primeira Copa do Mundo de futebol iniciou no dia 13 de julho de 1930, às 15 horas, no horário de Montevidéu, capital do Uruguai, segundo Ribas (2010).Foram 13 países participantes: Argentina, Bélgica, Bolívia, Brasil, Chile, Estados Unidos, 26 França, Iugoslávia, México, Paraguai, Peru, Romêniae Uruguai. Os uruguaios, donos da casa, e atuais bicampeões nas Olimpíadas, conquistaram o título em uma final sul-americana, contra a Argentina. Conhecida como La Celeste, devido à cor azul celeste da camiseta que utilizam nos jogos, a Seleção Uruguaia entrou para a história como a primeira Campeã do Mundo. Quatro anos depois, conforme decisão da Fifa, foi realizada a segunda Copa do Mundo, em 1934. O país escolhido para sediar a competição foi a Itália, conforme Dienstmann e Denardin (1999). A SquadraAzzurra, como é conhecida a seleção italiana de futebol, conquistou o título em uma final europeia, contra a Tchecoslováquia. Depois da Copa de 1938, disputada na França, o futebol perdeu espaço para a Segunda Guerra Mundial, que acabou com a vida de inúmeras pessoas. A Fifa estava avaliando candidatos para sediar a Copa de 1942, mas de acordo com Ribas (2010), a Guerra fez com que todas as decisões fossem adiadas. A Itália, que ainda comemorava o bicampeonato mundial conquistado na França, vivia uma ditadura nas mãos de Benito Mussolini. Grande parte da Europa foi obrigada a se reconstruir após a Guerra. No ano de 1946, a Fifa decidiu que a Copa voltaria a ser disputada no ano de 1950, em um país sul-americano, que ainda mantinha interesse em recebê-la: o Brasil. Antes da Copa, a seleção brasileira conquistou o campeonato sul-americano, no ano de 1949, como afirma Dienstmann e Denardin (1999). O torneio disputado por seleções da América do Sul foi disputado no Brasil, nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. A seleção treinada por Flávio Costa venceu os paraguaios na final. Segundo Ribas (2010), o fato de a seleção jogar a Copa do Mundo em casa, e também ser a atual campeã sul-americana, fazia com que o Brasil largasse como o favorito para a conquista do Mundial. A seleção brasileira mostrou em campo que o favoritismo não era demagogia, chegou ao último jogo invicta, com quatro vitórias, um empate e 21 gols marcados. Seu adversário, o Uruguai, chegou desacreditado, e conforme Ribas (2010), o clima de “já ganhou” foi inevitável no Maracanã, estádio onde se disputou o jogo decisivo. Mas para a surpresa geral, o Uruguai venceu o jogo e se tornou bicampeão do mundo. A derrota ganhou o nome de “Maracanazo”. Quatro anos depois, no dia 14 de março de 1954, a seleção brasileira trocou a camiseta branca por uma amarela. Na estreia do uniforme, uma vitória contra o 27 Chile, 1 a 0, no mesmo Maracanã. Nesse jogo, o radialista Geraldo José de Almeida criou o apelido “seleção canarinho”, em referência a cor amarela da camiseta. No entanto, a mudança de cor não ajudou a seleção, pois o titulo da Copa de 1954, na Suíça, foi para os alemães. De acordo com Ribas (2010), o escritor Nélson Rodrigues traduziu o sentimento da seleção em uma frase: “O Brasil sofre de complexo de vira-lata”. Segundo o autor, no ano de 1958 a seleção mudou, e deixou de ser vira-lata. Na Copa daquele ano, na Suécia, surgiram jogadores diferenciados como o goleiro Gilmar, o meio-campo Zito, e os atacantes Garrincha, Zagallo, Pepe e Vavá. O Brasil chegou à final e venceu a Suécia por 5 a 2. A seleção brasileira conquistou pela primeira vez a Copa do Mundo. Um jogador brasileiro se destacou: Pelé, que tinha apenas 17 anos, marcou seis gols, e eternizou a camisa 10. Desde aquela Copa, a camiseta número 10 virou referência para os melhores jogadores. Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, se tornou o rei do futebol, e o único atleta a conquistar três Copas como jogador, em 1958, 1962 e 1970. Graças aos seus feitos, o Brasil entrou de uma vez por todas no cenário do futebol mundial. Hoje a Copa do Mundo está com mais de 80 anos, e nas 19 edições disputadas até 2010, o Brasil segue como o maior campeão, com cinco títulos: 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002. Esse torneio que é considerado pelo ex-jogador de futebol Tostão, “o maior espetáculo esportivo da Terra”, conforme Ribas (2010). De acordo com Carvalho (2012), primeiro o futebol era um jogo, depois virou um esporte, e hoje já é uma instituição9. Denominado pelo autor como um fenômeno, o futebol completará 150 anos justamente no momento em que o Brasil vai sediar a Copa do Mundo de 2014. O aniversário de um século e meio será celebrado no dia 26 de outubro de 2013, como afirma Duarte (2003), que citou anteriormente neste trabalho o dia 26 de outubro de 1863 como a data de criação do futebol. Meio bilhão de pessoas tira seu sustento do futebol, direta ou indiretamente, segundo Carvalho (2012). Cerca de um bilhão e 200 milhões são ou foram praticantes do esporte e o número de seguidores já ultrapassou o patamar de quatro bilhões, quase 60% da população do planeta. 9 Segundo o minidicionário Soares Amora (1999), instituição é: 1. Ação ou efeito de instituir; 2. Fundação; 3. Instituto.Segundo o site http://www.dicio.com.br, acesso em 01/05/2013: Conjunto de regras e normas estabelecidas para a satisfação de interesses coletivos: o Estado, o Congresso, uma fundação, a tutela, a prescrição, a falência são instituições. http://www.dicio.com.br/ 28 Nascido no coração da Revolução Industrial, o futebol atravessou todas as turbulências do mundo contemporâneo, adaptou-se às diversas conjunturas sociais, consolidou suas regras, sobreviveu a duas guerras mundiais e a inúmeras convulsões sociopolíticas, religiosas e raciais neste século e meio de vida. Não só reforçou seu estigma de aglutinador de povos como multiplicou adesões e foi vorazmente adotado pelas diversas camadas da sociedade a partir das classes mais humildes – contrariando sua própria origem aristocrática. (CARVALHO, 2012, p. 7 e 8). Ainda conforme Carvalho (2012), não há, definitivamente, em qualquer setor do conhecimento humano uma atividade que, semana após semana, reúna pequenas multidões de forma tão sistemática e apaixonada como o futebol, nem mesmo as grandes manifestações religiosas. Agora que já se tem uma revisão do futebol e sua expansão no Brasil, se faz oportuno mostrar como a comunicação contribuiu para ajudar na divulgação deste esporte no Brasil. 29 2. JORNALISMO De acordo com Hohlfeldt (2008), as quatro principais áreas da comunicação são o jornalismo, a publicidade e propaganda, as relações públicas e o cinema. Neste trabalho, o foco será o jornalismo, deixando de fora a publicidade e propaganda, as relações públicas e o cinema, áreas fundamentais para se compreender a comunicação como um todo. O jornalismo é “um fenômeno, próprio apenas da cultura moderna, de tipo extremamente ideológico”, como afirma Hudec (1980). O autor tcheco, que é jornalista, define o que se entende por jornalismo: Por jornalismo, entendemos conjuntos materiais escritos ou impressos, falados ou visuais, muitas vezes em combinações, que, de uma forma documental, descrevem a realidade atual, especialmente universal, e que através da multiplicação por diversos meios de comunicação social têm impacto sobre um público diferenciado. (HUDEC, 1980, p. 36). Segundo Rossi (1980), “o jornalismo, independente de qualquer definição acadêmica, é uma fascinante batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores ou ouvintes”. Jornalismo é sinônimo de comunicação, é a busca pela informação, notícias. Define-se jornalismo como objeto de busca por dados, fatos, com o objetivo de se transformar em notícias. O jornalismo nunca se prendeu ou se resumiu a publicar eventos ou notícias apenas de um público selecionado, conforme Guilherme (2009). [..] o jornalismo[..] procurou aprender e descobrir o interesse de diversos grupos e classes sociais e explorar suas páginas com assuntos diversos, atendendo a todos, e por meio das diferenças apresentadas foi dando ao mundo uma nova compreensão do que é viver num mundo onde existemdiferenças entre pessoas e estilos de vida, o que muitas vezes era desconhecido ou ignorado, popularizando a informação e contribuindo com o conhecimento acerca do mundo inteiro. (GUILHERME, 2009, p. 10). A realidade tenta ser retratada pelo jornalismo, de acordo com Guilherme (2009). A partir de aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais. O jornalismo exprime as ideologias e interesses de classes diferentes dentro de uma sociedade. Como afirma Villela (2008), o jornalismo serviu exclusivamente como atividade propagadora dos interesses das elites financeiras, políticas e ideológicas. Mas segundo Guilherme (2009), a história conta que os controladores das indústrias 30 da informação se viram obrigados a assumir um compromisso com a liberdade individual e resgatar os valores do homem perante a sociedade, levando a todos os cidadãos o conhecimento dos bens de consumo relacionados à cultura e riquezas materiais, bem como denunciando os abusos por parte dos regimes autoritários no país e no mundo, transformando o jornalismo num novo instrumento da democracia. Como conseqüência das pressões mercadológicas e para fugir da ordem capitalista e autoritária, o jornalismo definiu características próprias como a atualidade, a universalidade, a fidelidade aos fatos, comprometimento, a publicidade, a multiplicidade, a periodicidade, a rapidez e a natureza institucional. (HUDEC, 1980, p. 38 a 40). Conforme Guilherme (2009), todos esses aspectos se interligam e funcionam com o objetivo de proporcionar veracidade e credibilidade às matérias de caráter jornalístico. Porque aquilo que é notícia só se torna notícia quando gera uma mudança ou transforma uma teoria ou concepção de algo e porque tem algum potencial de transformar a vida das pessoas com conceitos, tendências, alertas e esclarecimentos a título da verdade e da realidade. O jornalismo não lida com notícias que duram só um dia, o jornalismo lida com a transformação. Para Hudec (1980), a atividade jornalística é composta pelas atividades social, ideológica e política dos que entendem, compreendem e trabalham com fenômenos e fatos, e que escrevem sobre eles, em uma determinada época da história. Além disso, essa atividade é influenciada pelas ideias e interesses de uma classe socioeconômica dominante. Embora a prática jornalística seja marcadamente influenciada pela vontade e capacidade subjetivas dos que trabalham neste campo, não só o conteúdo, mas também as formas e métodos de trabalho, a linguagem, o estilo e o grau de influência do jornalismo sobre a opinião pública dependem em todos os pormenores da atividade jornalística, diferente quanto à visão do mundo que temos em mente numa determinada formação socioeconômica. (HUDEC, 1980, p. 44). Os meios de comunicação atribuem valores-notícia aos fatos como critérios de seleção de notícias, de acordo com Soares e Oliveira (2007). Muitos autores explicam que atribuir valores às notícias é uma forma de rotinizar a produção como em uma fábrica, assim, a notícia pode ser estudada como uma produção industrial. A teoria que aponta a produção de notícia como indústria cultural explica que o jornalismo foi consolidado pelo capitalismo. Considerando esse aspecto, as notícias são produzidas para serem vendidas, tendo que atender às exigências do 31 consumidor, que procura adquirir informações que lhe ofereça algum benefício. Entre os mais comuns estão a novidade e a atualidade. Quatro critérios que designam os valores-notícia, considerados pelos meios de comunicação, são citados por Wolf (1995): Os valores/notícia derivam de pressupostos implícitos ou de considerações relativas: a. às características substantivas das notícias; ao seu conteúdo; b. à disponibilidade do material e aos critérios relativos ao produto informativo; c. ao público; d. à concorrência. (WOLF, 1995, p. 179). Alguns critérios devem ser respeitados na escolha das notícias, é o que recomenda Erbolato (1991): proximidade, marco geográfico, impacto, proeminência (ou celebridade) aventura e conflito, conseqüências, humor, raridade, progresso, sexo e idade, interesse pessoal, importância, rivalidade, utilidade, política editorial do jornal, oportunidade, dinheiro, expectativa ou suspense, originalidade, culto de heróis, descobertas e invenções, repercussões e confidencias. Um jornalista avalia a noticiabilidade de uma informação, condicionando o fato aos critérios substantivos derivados dos quatros critérios que Wolf (1995) cita: 1.Grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos no acontecimento noticiável, quer no que respeita às instituições governamentais, quer aos outros organismos e hierarquias sociais. Quanto mais o acontecimento disser respeito aos países de elite, tanto mais provavelmente se transformará em notícia.(WOLF, 1995, p. 180). 2.Impacte sobre a nação e sobre o interesse nacional. O segundo fator que, operativamente, determina a importância de um acontecimento é a sua capacidade de influir ou de incidir no interesse do país. (WOLF, 1995, p. 181). 3.Quantidade de pessoas que o acontecimento (de fato ou potencialmente) envolve. Um acontecimento - por exemplo, um desastre aéreo ou uma catástrofe natural - que envolve um número limitado de pessoas, mas que ocorre nas proximidades, é mais noticiável do que o mesmo tipo de acontecimento, que envolve mais vítimas, mas que ocorre bastante mais longe. (WOLF, 1995, p. 182 e 183). 4. Relevância e significatividade do acontecimento quanto à evolução futura de uma determinada situação. [...] exemplo deste fator, na cobertura reservada aos primeiros episódios de acontecimentos que têm uma duração prolongada. (WOLF, 1995, p. 183). Como afirmam Soares e Oliveira (2007), os valores-notícia podem variar de veículo para veículo e de tempos em tempos.Pereira Jr. (2001)exemplifica uma 32 situação em que a noticia muda de valor para atender as inovações tecnológicas que a televisão vem sofrendo: “À medida que acontecem mudanças na esfera informativa [...] há um reajustamento e uma redefinição dos valores/notícias”. Os valores-notícia servem para tornar possível a rotinização do trabalho jornalístico, segundo Pereira Jr. (2001). Os valores-notícia asseguram a escolha entre um e outro assunto de forma que o profissional jornalista tenha como certa a decisão feita. No processo de produção da notícia, os valores-notícia ganham significados diferentes diante das mudanças que acontecem na esfera informativa. O jornalismo tem três alvos, de acordo com Rossi (1980). São os leitores, os telespectadores e os ouvintes. Assim se compreende que existem o jornalismo impresso, o telejornalismo, e o radiojornalismo. Neste trabalho, o foco será o jornalismo impresso. Como afirma Kunczik (2002), a primeira coleção e distribuição profissional e comercial de notícias para o público aconteceu na Veneza do século XVI, onde os scrittori d’avvisi reuniam informações de toda índole, as copiavam e vendiam. Na Alemanha, o NürnbergerNachrichten (Notícias de Nuremberg), escrito a mão, e o Ordinari-Zeitungen, que Fugger publicou em Augsburgo, devem ser mencionados. Os últimos, no entanto, não foram feitos para distribuição ao público. Segundo Kunczik (2002), outras casas comerciais ricas também tiveram escritórios de cólera e divulgação de notícias para seu próprio uso. Os delineamentos entre correspondência particular e privada e a informação para o público eram flexíveis. Também não foram retirados imediatamente do mercado os jornais manuscritos, com a chegada da impressão com tipo móvel. Os primeiros jornais a aparecerem com regularidade na Alemanha datam do ano de 1609: Aviso, em Wolfenbüttek, e Relation, em Estrasburgo. Pouco depois apareceram jornais na Holanda (1618), França (1620), Inglaterra (1620) e Itália (1636). O primeiro jornal publicado diariamente foi o EinkommendeZeitung, de Leipzig (1650). O inícioda introdução da imprensa no Brasil aconteceu no ano de 1706, conforme Hohlfeldt (2008), quando se instalou em Recife uma pequena tipografia para impressão de letras de câmbio e orações devotas. No dia 1º de junho de 1808, em Londres, na Inglaterra, Hipólito José da Costa fundou o periódico Correio Braziliense. No mesmo ano foi lançada a Gazeta do Rio de Janeiro, no próprio estado carioca, e o jornal Idade de Ouro do Brasil, em Salvador, na Bahia. Quatro anos depois, em 1812, surgiu o periódico As Variedades ou Ensaios da Literatura. 33 Com o passar dos anos, de acordo com Hohlfeldt (2008), começaram a chegar mais tipografias ao país, tendo sido adquiridas duas no Rio de Janeiro e, logo depois, mais quatro, além de já existirem na Bahia e no Recife. Mas a consolidação da imprensa nacional só começou a acontecer na virada para o século XX. O Jornal do Brasil, fundado em 1891, representou um avanço na concepção do jornalismo como empresa, apresentando uma preocupação moderna com a distribuição, feita por carroças. Nesse mesmo sentido, surgem, ao longo das primeiras décadas do século XX, periódicos como O Globo, Folha de São Paulo e Gazeta Mercantil, além da revista O Cruzeiro, que, durante o século, viriam a se consolidar, não somente enquanto jornais, mas também como empresas jornalísticas. Como afirma Hohlfeldt (2008),em 1895, Caldas Jr. fundou o Correio do Povo, no Rio Grande do Sul. Em 1901, surgiu no Rio de Janeiro o Correio da Manhã; e O Diário Popular, fundado por José Maria Lisboa, em São Paulo. Mais para o fim desta fase surgem também outros periódicos, como o Jornal do Comércio, criado em 1918, no Recife; e Diário de Notícias, de 1925, em Porto Alegre, importantes para o entendimento do desenvolvimento da imprensa no país. A partir da década de 1930, ocorre através do desenvolvimento dos meios gráficos, a evolução dos processos de compor e imprimir gazetas, e a melhoria do conteúdo, segundo Hohlfeldt (2008). Este mesmo período traria alterações sociopolíticas para o país, desde a Revolução de 30, passando pelo Estado Novo, em 1937, com a implementação da censura, e a volta da liberdade de imprensa, em 1945, até chegar ao golpe militar, no ano de 1964. A Revolução de 30 foi um fator determinante que veio denunciar o atraso socioeconômico do país, conforme Hohlfeldt (2008). Mas também tencionou a liberdade da imprensa. O jornalismo opinativo, de cunho político-partidário, que tanto marcou o século XIX, entra em decadência, cedendo espaço para o jornalismo informativo de cunho empresarial, que se consolida, praticamente um século depois da sua implementação no país, com o Diário do Rio de Janeiro, em 1808. Neste mesmo período, entra também em decadência o estilo europeu de fazer jornalismo, até então preponderante na imprensa nacional, mas que, começou a ceder lugar a um modelo norte-americano, mais noticioso e seco. É neste contexto que os periódicos formados durante a segunda fase se consolidam e compõem o mercado da imprensa durante as décadas de 1930 e 1940, mas que a seção não enfoca. 34 De acordo com Hohlfeldt (2008),a Folha de São Paulo se encontrava ainda na primeira gestão, dirigida por Olavo Olívio Olival Costa. Durante a revolução de 30, Olival ficou do lado das oligarquias paulistas, contra os agitadores e, com isso, teve seus jornais empastelados e morreu dois anos depois, amargurado com o destino de seu trabalho, com o prédio da empresa chegando a ser depredado. Já O Globo, buscou cobrir a ação do movimento armado conhecido como Revolução Constitucionalista, realizado pelos paulistas em 1932, impacientes com a demora para a implementação de uma nova constituição. Foram meses de luta que O Globo cobriu com repórteres e fotógrafos distribuídos em todas as áreas conflagradas, sendo que, em apenas um dia, foram rodadas quatro edições que se esgotaram rapidamente. A partir de 1932, segundo Hohlfeldt (2008), é criada uma cadeia jornalística nos moldes da Hearst norte- americana e que se tornaria responsável, nos anos seguintes, pela congregação de 31 jornais, quatro revistas e 26 emissoras (cinco de TV´s) e uma agência noticiosa: Diários e Emissoras Associados, comandada por Assis Chateaubriand, personalidade igualmente essencial para se compreender a história dos meios de comunicação nacionais, ao longo do século XX. Algumas alterações para a imprensa surgiriam nesta época, como afirma Hohlfeldt (2008). A influência norte-americana se consolida no jornalismo nacional, ao longo da década de 1950, firmando, assim, o jornalismo informativo. Um dos mais significativos exemplos das transformações da linguagem jornalística, ocorridos sob a influência norte- americana, é o surgimento do lead na imprensa nacional, através da iniciativa de Pompeu de Souza, Danton Jobim e Luís Paulistano, efetivada no Diário Carioca, em meados dos anos 1950. Esse elemento serviria para a padronização jornalística nacional dos anos seguintes. O lead tem como característica ocupar o primeiro parágrafo da notícia com o resumo conciso das informações mais novas e principais do texto, buscando esclarecer as seguintes questões relativas ao fato: Quem? O quê? Onde? Quando? Como? Por quê? Ainda da década de 1950, segundo Hohlfeldt (2008), dois jornais foram criados no mesmo ano, mas com forma e importância distintas: Última Hora e O Dia. O jornal Última Hora foi um empreendimento de Samuel Wainer, a partir do ano de 1951, com o objetivo de se tornar um periódico oficioso, com caráter popular e de grande circulação, diante da retomada de poder por Getúlio Vargas, em eleições diretas. O periódico vespertino oficioso, em pouco tempo, transformou a imprensa 35 brasileira, tendo explorado ao máximo a importância dos aspectos gráficos, editoriais e empresariais. O fim do jornal ocorreu em maio de 1971, após ser vendido para empreiteiros de obras que haviam arrendado o Correio da Manhã. Já O Dia, fundado em 1951, conforme Hohlfeldt (2008),é um jornal popular, devotado às causas dos trabalhadores, embora seja visto como um dos representantes do florescimento da imprensa sensacionalista. Mas este período não se limita somente à atuação da imprensa. Um dos fatores de destaque da comunicação, nesta fase, deve-se à introdução do rádio no país, em meados dos anos 1920. Após o seu uso durante a Primeira Guerra Mundial e experimentações nos EUA, nos anos posteriores à guerra, o rádio emergia como um meio de comunicação que atingia todas as camadas sociais, aspecto que logo o diferenciou do jornal, mais direcionado para o público letrado. No jornalismo existem várias editorias, como por exemplo: política, economia, polícia, cultura, tecnologia, meio ambiente, turismo, comportamento e saúde. Mas a editoria que servirá como base para este trabalho será o jornalismo esportivo. 2.1 JORNALISMO ESPORTIVO NO BRASIL O jornalismo esportivo iniciou no Brasil em 1856, com o jornal O Atleta, conforme Bezerra (2008). O jornal difundia ensinamentos para o aprimoramento físico dos habitantes do Rio de Janeiro. Em 1910, de acordo com Coelho (2003), havia páginas de divulgação esportiva no jornal Fanfulla. Não se tratava de um periódico voltado para as elites, não formava opinião, mas atingia um público cada vez mais numeroso na São Paulo da época: os italianos. Um aviso não muito pretensioso de uma das edições chamava-os a fundar um clube de futebol. Foi assim que nasceu o Palestra Itália, que se tornaria Palmeiras, décadas mais tarde. O jornal Fanfulla trazia relatos de página inteira num tempo em que este esporte ainda não cativava multidões. Para se ter uma idéia, o Correio Paulistano, por exemplo, liberava apenas uma coluna para as matérias que incluíam futebol e duas colunas para o turfe. Segundo Bezerra (2008), em 1917 foi criada em São Paulo, a Associação dos Cronistas Esportivos. Era um sinal de que o noticiárioesportivo crescia e que os 36 atores deste segmento já pensavam em se organizar. No ano de 1922, os jornais começaram a colocar em suas primeiras páginas algumas fotos de quatro e cinco colunas com lances de futebol. Desde quando o futebol chegou ao Brasil no final do século XIX, de acordo comPoli e Carmona (2006), a imprensa esportiva sempre se envolveu com o esporte. Como afirma Bezerra (2008), esta parceria é centenária: As primeiras notícias foram divulgadas no Jornal do Comércio de São Paulo, na edição de 17 de outubro de 1901, quando a mídia impressa, mais especificamente o jornal, começou a divulgar as informações do futebol. Tinha um caráter muito elitista, assim como encontramos no futebol da época, pois eram poucos os que tinham acesso às informações e as às práticas esportivas. (BEZERRA, 2008, p. 34). Na época, segundo Bezerra (2008), os jornais eram comercializados por um valor acima da média. Além disso, os leitores não compreendiam a mensagem no primeiro momento. Primeiro por ser um esporte recém chegado ao país, e segundo porque os termos utilizados faziam referência à língua inglesa. Como por exemplo, córner, que hoje é chamado de escanteio. Escanteio é quando a bola sai pela linha de fundo após tocar em um jogador da equipe que está defendendo naquele lado do campo. O escanteio é a maneira de repor a bola em jogo, que será cobrado pela equipe que está atacando. Depois, ao longo dos anos, o futebol foi ganhando a compreensão da população brasileira. A mídia impressa foi evoluindo o seu vocabulário esportivo com o passar do tempo. Bezerra (2008) também faz referência ao jornal A Gazeta Esportiva, que circulou pela primeira vez em 24 de dezembro de 1928. Inicialmente era apenas um suplemento, um tablóide do Jornal A Gazeta, que era distribuído toda segunda-feira. O lançamento de um suplemento específico para o esporte nos jornais era a prova maior de que o futebol exigia um tratamento diferenciado para seus leitores. De acordo com Coelho (2003), “foi nos anos 30 que nasceu, no Rio de Janeiro, o primeiro diário exclusivamente dedicado aos esportes no país: O Jornal dos Sports.” A partir da década de 1930, o jornalismo brasileiro começou a tratar o futebol de uma maneira mais especial. Segundo Coelho (2003) foi nessa época que surgiram as crônicas recheadas de drama e de poesia, principalmente do jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues: 37 As crônicas de Nelson Rodrigues motivavam o torcedor a ir ao estádio para o jogo seguinte, e especialmente, a ver seu ídolo em campo. A dramaticidade servia para aumentar a idolatria em relação a este ou aquele jogador. Seres mortais alçados da noite para o dia à condição de semideuses. (COELHO, 2003, p. 17). Conforme Bezerra (2008) o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues teve uma ligação forte com o jornalismo esportivo. O primeiro jornal em que trabalhou na editoria de esportes foi O Globo, sem receber salário, na verdade como colaborador de seu irmão, Mário Filho, que lançou um jornal totalmente dedicado ao esporte, o Mundo Esportivo. As crônicas recheadas de drama e de poesia estavam nas páginas dos jornais em que os dois irmãos trabalharam. Mário Filho era o responsável pela editoria de esportes do jornal O Globo. Em suas mãos, o jornalismo esportivo ganharia novas dimensões. Na forma, quase tudo mudava: título, subtítulo, legendas. Como afirma Bezerra (2008), o jornal A Gazeta Esportiva circulou pela primeira vez em 24 de dezembro de 1928. Inicialmente era apenas um suplemento, um tablóide do Jornal A Gazeta, que ia às bancas toda segunda-feira. O lançamento de um suplemento específico para o esporte nos jornais era a prova maior de que o futebol exigia um tratamento diferenciado para seus leitores. Após alguns anos, o suplemento também passou a circular aos sábados. Nos demais dias, A Gazeta destinava duas páginas para o noticiário esportivo, e era essa uma das principais alavancas da circulação do diário. No dia 10 de outubro de 1947 torna-se um jornal diário com 12 páginas totalmente dedicadas ao esporte. Na década de 70, chegou a circular com 72 páginas. Um jornal muito completo, com informações de todas as modalidades e coberturas dos grandes eventos esportivos, que durou 59 anos. Presente desde o final do século XIX no país, o jornalismo esportivo já passou por diversas transformações e hoje é um nicho importante na imprensa brasileira. Quase todos os grandes jornais do país possuem os cadernos esportivos. As coberturas esportivas só começaram a ganhar corpo em solo brasileiro, segundo Pizani (2006), no final do século XIX. Mas, ao contrário do que ocorre atualmente, quando o foco é dado às modalidades mais populares, há 100 anos, as informações publicadas sobre esportes eram quase todas voltadas para esportes praticados exclusivamente pelas elites da sociedade brasileira. Pizani (2006) também explica que os jornalistas mais experientes e conceituados do período tinham aversão ao jornalismo esportivo, cabendo aos mais jovens e inexperientes 38 realizar essa tarefa. A popularização do jornalismo voltado ao esporte só se acentuou com a ascensão do futebol no Brasil, já em 1925. Segundo Pizani (2006), o fato mudou o panorama das coberturas esportivas no Brasil, que até então eram consideradas um passatempo. A partir daí surgem no país jornais especializados em esportes, principalmente o futebol. Após vencer o ceticismo inicial, as coberturas esportivas foram as que mais cresceram entre 1912 e 1930, segundo Ribeiro (2007). O primeiro jornal diário voltado exclusivamente para esse fim foi o Jornal dos Sports, que nasceu em 1931 e manteve-se em circulação até 2007. A primeira revista especializada, a Sport Ilustrado, só surgiu em 1938. No mesmo ano, ocorreu a primeira grande cobertura da mídia brasileira de um evento esportivo: a Copa do Mundo de Futebol, disputada na França. Em 1941, profissionais da mídia esportiva fundaram a Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo (ACEESP). O principal objetivo desse movimento era acabar com o estigma de que apenas jornalistas desqualificados atuavam na área esportiva. Provenzano (2009) cita outras publicações que colaboraram para o desenvolvimento dessa especialidade do jornalismo esportivo, como a Gazeta Esportiva, Manchete Esportiva, Revista do Esporte e Vida de Craque. A autora também destaca o surgimento da primeira agência de notícias esportiva do país, a Sport Press, e o lançamento do caderno de esportes do Jornal da Tarde, que, em 1966, causou uma verdadeira revolução no jornalismo esportivo brasileiro. Esse trabalho serviu de inspiração para diversas editorias de esportes espalhadas pelo Brasil e foi igualmente laureado. Nas duas décadas seguintes, foram veiculadas as primeiras matérias polêmicas relacionadas ao mundo esportivo. De acordo com Provenzano (2009), as notícias envolviam clubes e dirigentes, vendas ilícitas de jogadores e até compra de arbitragem. A divulgação destas informações era conseqüência da especialização e qualificação na cobertura esportiva. Nesse período, conforme Provenzano (2009),as informações esportivas divulgadas não tinham comprometimento com a descrição fidedigna dos acontecimentos. Era tudo uma mistura de opinião, criatividade e sentimentos. Isso só mudou em função de dois fatores basicamente: a profissionalização do futebol e o avanço na tecnologia utilizada no trabalho da mídia esportiva. Essa segunda causa, principalmente, norteou a evolução dessa especialidade do jornalismo nas 39 décadas seguintes até a contemporaneidade, primeiramente, com as emissoras de televisão buscando se estabelecer nessa fatia da impressa e, mais recentemente, com o advento da internet e seus sites, blogs e redes sociais. Atualmente, a cada final de semana, o jornalismo esportivo movimenta inúmeras pessoas no Brasil. São jornalistas, radialistas,