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Bibliografia A Distinção

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
GRADUAÇÃO EM DIREITO 
DISCIPLINA: SOCIOLOGIA GERAL 
PROFESSO FLÁVIO SARANDY
ALUNO: HERBERT BRUNO ALVES COSTA 
REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA:
BOURDIEU, Pierre. O habitus e o espaço dos estilos de vida In: A Distinção: Critica social do julgamento. Sao Paulo: Edusp; Porto Alegre, RS: Zouk, 2007. P. 162
SOBRE O AUTOR:
Pierre Félix Bourdieu (Denguim,França,1 de agosto de 1930—Paris, França, 23 de janeiro de 2002) foi um sociólogo francês. .De origem campesina, filósofo de formação, foi docente na “École de Sociologie du Collège de France.” Desenvolveu, ao longo de sua vida, diversos trabalhos abordando a questão da dominação e é um dos autores mais lidos, em todo o mundo, nos campos da antropologia e sociologia, cuja contribuição alcança as mais variadas áreas do conhecimento humano, discutindo em sua obra temas como educação, cultura, literatura, arte, mídia, linguística e  política. Também escreveu muito sobre a sociologia da Sociologia. A sociedade cabila, na Argélia, foi o palco de suas primeiras pesquisas. Dirigiu, por muitos anos, a revista Actes de la recherche en sciences sociales e presidiu o CISIA (Comitê Internacional de Apoio aos Intelectuais Argelinos), sempre se posicionado claramente contra o liberalismo e a globalização. O mundo social, para Bourdieu, deve ser compreendido à luz de três conceitos fundamentais: campo, habitus e capital
RESUMO:
Esta bibliografia tem por objetivo mostrar as principais ideias propostas por Bourdieu no seu livro “A Distinção” especificadamente no capítulo 3, “O habitus e o espaço dos estilos de vida.” Neste capítulo o autor aborda a partir de exemplos, como o habitus influencia na construção e classificação social das pessoas e das suas respectivas classes. Bourdieu separa e classifica determinados indivíduos de acordo com os seus habitus, demonstrando que certas classes tem atividades e costumes em comum devido a sua própria condição no espaço social e respectivamente na esfera social.
CONCEITOS E CITAÇÕES IMPORTANTES:
-A compreensão do habitus - “A divisão em classes operadas pela ciência conduz a raiz comum das praticas classificáveis produzidas pelos agentes e dos julgamentos c1assificatorios emitidos por eles sabre as praticas dos outros ou suas próprias praticas: O habitus é, com efeito, princípio gerador de praticas objetivamente classificáveis e, ao mesmo tempo, sistema de classificação (principium divisionis) de tais praticas. Na relação entre as duas capacidades que definem o habitus, ou seja, capacidade de produzir praticas e obras c1assificaveis, além da capacidade de diferenciar e de apreciar essas praticas e esses produtos (gosto}, e que se constitui o mundo social representado, ou seja, o espaço dos estilos de vida.” (p. 162)
“O habitus, enquanto disposição geral e transponível, realiza uma aplicação sistemática e universal, estendida para além dos limites do que foi diretamente adquirido, da necessidade inerente as condições de aprendizagem: é o que faz com que o conjunto das praticas de um agente - ou do conjunto dos agentes que são o produto de condições semelhantes - são sistemáticas por serem o produto da aplicação de esquemas idênticos - ou mutuamente convertíveis - e, ao mesmo tempo, sistematicamente distintas das praticas constitutivas de um outro estilo de vida.” (p. 163)
-O habitus é compreendido como um sinal distintivo entre indivíduos no espaço social. “Pelo fato de que as condições diferentes de existência produzem habitus diferentes, sistemas de esquemas geradores suscetíveis de serem aplicados, por simples transferências, as mais diferentes áreas da prática, as práticas engendradas pelos diferentes habitus apresentam-se como configurações sistemáticas de propriedades que exprimem as diferenças objetivamente inscritas nas condições de existência sob a forma de sistemas de distâncias diferenciais que, percebidos por agentes dotados dos esquemas de percepção e de apreciação necessários para identificar, interpretar e avaliar seus traços pertinentes, funcionam como estilos de vida.”. (pág. 164)
-O habitus possui dois tipos de estrutura: estrutura estruturante (modus operandi) e estrutura estruturada (opus operatum).“Os estilos de vida são, assim, os produtos sistemáticos dos habitus que, percebidos em suas relações mútuas segundo os esquemas do habitus, tornam-se sistemas de sinais socialmente qualificados - como ‘distintos’, ‘vulgares’, etc.” (pág. 164)
“A sistematicidade está no opus operatum por estar no modus operandi: encontra-se no conjunto das ‘propriedades’, no duplo sentido do termo, de que os indivíduos ou os grupos estao rodeados - casas, moveis, quadros, livros, automóveis, álcoois, cigarros, perfumes, roupas -, e nas praticas em que eles manifestam sua distinção - esportes, jogos, distrações culturais -, apenas porque ela esta na unidade originariamente sintética do habitus, princípio unificador e gerador de todas as praticas. 
(p. 165)
-A questão do gosto- “O gosto, propensão e aptidão para a apropriação - material elou simb6lica – de determinada classe de objetos ou de praticas classificadas e classificantes é a fórmula geradora que se encontra na origem do estilo de vida, conjunto unitário de preferencias distintivas que exprimem, na lógica especifica de cada urn dos subespaços simbólicos - mobiliário, vestuário, linguagem ou hexis corporal- a mesma intenção expressiva.” (p. 165)
“Assim, o gosto é o operador pratico da transmutação das coisas em sinais distintos
e distintivos, das distribuições contínuas em oposições descontinuas; ele faz com que as
diferenças inscritas na ordem física dos corpos tenham acesso à ordem simbólica das
distinções significantes. Transforma praticas objetivamente classificadas em que uma
condição significa-se a si mesma - por seu intermédio - em praticas classificadoras, ou
seja, em expressão simbólica da posição de classe, pelo fato de percebê-las em suas relações
mutuas e em função de esquemas sociais de classificação.” (p. 166)
Sendo assim, o gosto é o produto da incorporação da estrutura do espaço social, onde ele se impõe através das condições de determinada sociedade, baseada nos limites das possibilidades e impossibilidades econômicas. 
“Pelo fato de que o verdadeiro princípio das preferências é o gosto como necessidade tornada virtude” (p. 168)
“a verdadeiro principio das diferenças que se observam no campo do consumo, e muito além dessa área, é a oposição entre os gostos de luxo (ou de liberdade) e os gostos de necessidade: os primeiros caracterizam os indivíduos que são o produto de condições materiais de existência definidas pela distância da necessidade, pelas liberdades ou, como se diz, as vezes, pelas facilidades garantidas pela posse de um capital; por sua vez, os segundos exprimem, em seu próprio ajuste. as necessidades de que são o produto.” (p. 168/169)
“a gosto é amar fati, escolha do destino, embora forçada, produzida por condições de existência que, ao excluir qualquer outra possibilidade como se tratasse de puro devaneio, deixam como unica escolha o gosto pelo necessário.” (p. 169)
“o gosto de necessidade só pode engendrar um estilo de vida em si que e definido como tal apenas de forma negativa, por falta, pela relação de privação que mantêm com os outros estilos de vida.” (p. 170)
“A oposição principal entre os gostos de luxo e os gostos de necessidade especifica-se em um número de oposições igual as diferentes maneiras de afirmar sua distinção em relação a classe operaria e a suas necessidades primarias ou, o que dá no mesmo, igual aos poderes que permitem manter a necessidade a distância. Assim, na classe dominante, pode-se distinguir, simplificando, três estruturas de consumo distribuídas em três bens principais: alimentação, cultura e despesas com apresentação de si e com representação (vestuário, cuidados de beleza, artigos de higiene, pessoal de serviço).
-Reflexão análoga entre vestimenta, alimentação e a ambiguidade social de um esporte- 
“No entanto, a alimentação - considerada pelas classes populares como algo dasubstância e do ser, enquanto já é percebida, segundo as categorias da forma e do parecer, pela burguesia que recusa a distinção entre o dentro e o fora, o para si e o para outrem, o cotidiano e o extracotidiano - esta, por sua vez, para o vestuário na relação entre o dentro e o fora, o intimo e o exterior, o domestico e o publico, o ser e o parecer.” (p. 190)
“Assim, a experiência por excelência do ‘corpo alienado’, o constrangimento, e a experiência oposta, a naturalidade, propõem-se, em toda a evidência, com probabilidades desiguais aos membros da pequena burguesia e da burguesia que, atribuindo o mesmo reconhecimento à mesma representação da conformação e da atitude legítimas, estão equipados, de forma desigual, para realizá-lo: assim, as oportunidades de viver o próprio corpo sob o modo da graça e do milagre continuado são tanto maiores quanto maior for a capacidade corporal em relação ao grau do reconhecimento; ou, inversamente, a probabilidade de experimentar o corpo no mal-estar, no constrangimento e na timidez, será tanto mais elevada quanta maior for a desproporção entre o corpo ideal e o corpo real, entre o corpo sonhado e o looking-glass self -como se diz, às vezes - restituído pelas reações dos outros (as mesmas leis são válidas em relação à linguagem).” (p. 195)
“Assim, os espaços das preferências relativas à alimentação, ao vestuário e à cosmética organizam-se segundo a mesma estrutura fundamental, ou seja, a do espaço social determinado pelo volume e pela estrutura do capital.” (p. 196)
“É impossível compreender a ambiguidade social de um esporte, tal como o rúgbi que, ainda praticado nas ‘escolas da elite’, pelo menos, na Inglaterra, tornou-se, na França, o apanagio das classes populares e medias das regiões ao Sul do rio Loire - conservando, ao mesmo tempo, alguns baluartes ‘universitários’, tais como o Racing ou o SBU e -, se não se tiver em mente a hist6ria do processo que, nas ‘escolas da elite’ da Inglaterra do seculo XIX, conduz a transmutação dos jogos
populares em esportes de elite, associados a uma moral e a uma visão do mundo aristocráticos - fair play, will to win, etc. -, mediante uma mudança radical de sentido e de função totalmente análoga a que afeta, par um lado, as danças populares ao assumirem as formas complexas da música erudita e, par outro, a história, sem dúvida, ainda pouco conhecida, do processo de divulgação, aparentado em vários aspectos a difusão da musica clássica ou folk pelo disco de vinil que, em um segundo momento, transforma o esporte de elite em esporte de massa, não só como espetáculo, mas
também como prática.” (p. 197)
“No entanto, as propriedades distribucionais não são as únicas a serem conferidas aos bens pela percepção que se tem a seu respeito. Pelo fato de que os agentes apreendem os objetos através dos esquemas de percepção e de apreciação de seus habitus, seria ingênuo supor que todos os praticantes do mesmo esporte - ou de qualquer outra prática - conferem o mesmo sentido à sua prática ou, até mesmo, praticam, propriamente falando, a mesma prática. Seria fácil mostrar que as diferentes classes não estão de acordo em relação aos ganhos esperados da pratica do esporte, tratando-se dos ganhos específicos- propriamente corporais que não são, de modo algum, objeto de discussão relativamente ao fato de serem reais ou imaginários já que são realmente visados, tais como os efeitos sobre o corpo externo (por exemplo, a magreza, a elegância ou uma musculatura visível) ou os efeitos sobre o corpo interno (por exemplo, a saúde e o equilíbrio psíquico) - sem falar dos ganhos extrínsecos, tais como as relações sociais que podem ser estabelecidas mediante a
pratica do esporte ou as vantagens econômicas e sociais que, em determinados casos, tal pratica pode garantir.” (p. 198)
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A partir dos estudos empíricos relatados por Boudieu na sua obra, torna-se claro que a distinção e a desigualdade entres as classes é presente em todos os espaços sociais, e a partir disso tais classes têm distintos estilos de vida e respectivamente diferentes gostos, fazendo com que cada classe tenha os seus “habitus”. Com isto, pode-se afirmar que a construção dos espaços dos estilos de vida requer o estabelecimento da forma genérica de “habitus”, fazendo com que dispõem as suas necessidades e facilidades características de determinada classe. Fazendo assim, com que cada classe tenha um conjunto de escolhas a se fazer em certa sociedade, sendo este conjunto provindo objetivamente das tradições, regras, valores etc.., constituído por esta classe. Fazendo com que determinada atividade só seja praticada por determinada classe, se estiver de acordo com os preceitos e afins que essa classe segue

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