Prévia do material em texto
1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL .......................................................................... 4 3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL ...................................................... 8 4 A PEDAGOGIA CRÍTICA E O PENSAMENTO PEDAGÓGICO NO BRASIL 10 4.1 Aplicação a educação ambiental na formação do pedagogo ............. 24 4.2 Ensinar e aprender em educação ambiental ...................................... 26 5 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA ...................................................... 30 6 EDUCAÇÃO AMBIENTAL POPULAR ...................................................... 36 7 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E OS PRINCÍPIOS ECOLÓGICOS ................ 41 8 O QUE É MEIO AMBIENTE? .................................................................... 49 9 ALGUNS PARADIGMAS DA CIÊNCIA AMBIENTAL ................................ 51 9.1 Desenvolvimento sustentável e sustentabilidade ............................... 51 9.2 Desenvolvimento sustentável e governança ...................................... 54 9.3 Participação social ............................................................................. 57 10 A RELAÇÃO DO HOMEM COM O MEIO AMBIENTE: A DUALIDADE ESTÁ NO PENSAMENTO OU NA RELAÇÃO? ........................................................ 59 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 64 12 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 68 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI , esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL Fonte: pitangadigital.wordpress.com A Educação Ambiental pode ser considerada uma novidade na educação brasileira, embora tenha sido regulamentada em 1999 só atualmente ela vem ganhando espaço, mas já vem sendo praticada amplamente em alguns países. Sua função, de acordo com a Lei nº 9.795/1999 que a instituiu no Brasil, é de conscientizar à preservação do meio ambiente e a utilização de forma sustentável dos recursos naturais e construção de sociedades sustentáveis. No Brasil possuímos um órgão gestor da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), que é composto pelos Ministérios do Meio Ambiente (MMA) e da Educação (MEC), esse órgão coordena o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) e suas ações se voltam para o âmbito educacional buscando o equilíbrio de áreas como meio ambiente, ética, política e etc. visando o desenvolvimento do país. A educação ambiental mostra-se como uma ferramenta de orientação para tomada de consciência dos indivíduos frente aos problemas ambientais, tornando-se um processo participativo, onde o educando assume um papel central do ensino. Reigota (1995) já destacava o caráter político da educação ambiental em: uma educação política, fundamentada numa filosofia política, da ciência da educação anti - totalitária, pacifista e mesmo utópica, no sentido de exigir e chegar aos princípios básicos de justiça social, buscando uma “nova aliança” 5 (Prigogine & Stengers) com a natureza através de práticas pedagógicas dialógicas. (REIGOTA, 1995, apud Limeira 2015). De acordo com o Ministério do Meio Ambiente – MMA (2014), Educação Ambiental pode ser entendida como uma atividade prática, permanente e intencional que potencializa a relação da natureza com os seres humanos e cria a consciência de sua responsabilidade sobre seu comportamento e as consequências geradas para o meio. De acordo com a Política Nacional de Educação Ambiental do Brasil, os objetivos da Educação Ambiental são: Divulgar o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da multidisciplinaridade; A vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; Estabelecer enfoque humanista, holístico, democrático e participativo; A concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sobre o enfoque da sustentabilidade; O reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural; Abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais; Garantia de continuidade e permanência do processo educativo; Permanente avaliação crítica do processo educativo; O desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos; A garantia de democratização das informações ambientais; O estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social; O incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; 6 O estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade; O fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia; O fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, a Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é uma atividade intencional da prática social e que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos para que se potencialize a atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social e de ética ambiental, (BRASIL, 2012 apud Limeira; 2015). Embora existam diferentes abordagens sobre a definição da Educação Ambiental, ainda existem algumas discussões acerca da temática. Por vezes o assunto é tratado como modismo, por outras existem disputas ideológicas e de valores. Reigota (1994) diz que há um grande equívoco no que diz respeito à Educação Ambiental, pois muitas vezes é tratada apenas como um estudo da ecologia e não como uma dimensão da educação. Reigota (1994) define educação ambiental como um tema que está inserido em todos os aspectos que educam o cidadão, seja no espaço social, cultural, político ou educacional. O autor ainda percebe a Educação Ambiental com uma perspectiva global, onde a mesma não pode ser considerada simplesmente como uma disciplina do processo educativo e sim como a perspectiva que permeiatodas as disciplinas. O Instituto Brasília Ambiental (IBRAM, 2013) define a educação ambiental como os processos pelos quais o indivíduo e a sociedade constroem seus valores sociais, habilidades, conhecimentos, competências e atitudes voltadas para a conservação do meio ambiente, tendo ciência do bem de uso comum do povo, essencial à qualidade de vida sadia e sua sustentabilidade. A educação ambiental é uma atividade intencional, que deve desenvolver o indivíduo em sua relação com o meio ambiente e a sociedade para se desenvolver sustentavelmente. 7 Levando pelo lado das políticas públicas, Sorrentino (2005) enfatiza que a educação ambiental implicará numa crescente capacidade do Estado em responder, ainda que com pouca intervenção direta devido à falta de diálogo permanente com a sociedade e falta de política estruturante de educação ambiental, às demandas que surgem do conjunto articulado de instituições atuantes na educação ambiental crítica e emancipatória. Carvalho (2011) traz em seu livro uma abordagem pouco usual da definição de educação ambiental. Ela defende que todas as pessoas devem ter a capacidade de “ler e interpretar” o mundo em sua complexidade e constância de transformações. A partir dessa premissa as pessoas devem em sua formação, serem capazes de “ler” seu ambiente e interpretar as relações, conflitos e os problemas aí presentes. A educação acontece como parte da ação humana de transformar a natureza em cultura, trazendo-a para o campo da compreensão e da experiência humana de estar no mundo e participar da vida. Em relação a educação ambiental, o educador ambiental é colocado como um intérprete envolvido na tarefa de provocar novas compreensões e novas versões sobre o mundo e sobre nossa ação no mundo. Por isso se deve a importância de possuirmos tanto a educação ambiental nas bases curriculares, quanto termos o educador ambiental afim de enraizar o pensamento, formando assim o que a autora chama de “sujeitos ecológicos”. Assis (2013) reduz o conceito e o objetivo da Educação Ambiental como algo apenas para minimizar os problemas ambientais. Rothen (2004) questiona a “culpa”, os motivos que levaram aos problemas ambientais. Seu ponto chave não é questionar o impacto do homem sobre a natureza e sim pensar em como isso é feito. Uma das discussões mais interessantes trazida por Grün (1996), ele aborda um “constrangimento conceitual”, se existe uma educação que é ambiental, é de se supor que também exista uma educação não-ambiental. Como é possível termos uma educação não-ambiental se durante toda nossa vida vivemos em um ambiente? Esse questionamento só mostra como o problema é bem mais profundo do que se pode imaginar num primeiro momento. 8 3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL A educação ambiental no Brasil aparece desde 1973, como uma atribuição da SESMA (Secretaria Especial de Meio Ambiente), mas é nas décadas de 80 e 90 que ela ganha força, impulsionada por todos os movimentos ambientais que compõem a história da educação ambiental mundial, estimulada peça consciência ambiental no mundo. A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 225 retrata o meio ambiente como essencial à sadia qualidade de vida. Importante ressaltar que foi a primeira Constituição Brasileira a abordar o tema. Art. 225 CF. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo- se ao Poder 19 Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para os presentes e futuras gerações, (Constituição Federal de 1988; apud Barbosa Joslin e Castro Roma, 2017). No Brasil, em 1999, foi instituída a lei que criou a Política Nacional de Meio Ambiente. O país foi o primeiro da América Latina a reconhecer oficialmente a Educação Ambiental como instrumento para buscar padrões mais sustentáveis de sociedade. Segundo a lei brasileira, a Educação Ambiental não é uma disciplina escolar e sim um processo permanente voltado para a vida no seu sentido mais profundo, vida que surge das relações entre os seres que habitam o planeta, elos de uma mesma cadeia. A aprovação da Lei nº 9.795, de 27.4.1999 e do seu regulamento, o Decreto nº 4.281, de 25.6.2002, estabeleceu a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). Art. 1° - Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade, (Constituição Federal de 1988; apud Barbosa Joslin e Castro Roma, 2017). De acordo com Art. 2° da PNEA a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal. 9 Art. 2o A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal (Constituição Federal de 1988; apud Barbosa Joslin e Castro Roma, 2017). Segundo Meirelles e Santos (2005) educação ambiental é uma atividade meio que não pode ser percebida como mero desenvolvimento de “brincadeiras” com crianças e promoção de eventos em datas comemorativas ao meio ambiente. Na verdade, as chamadas brincadeiras e os eventos são parte de um processo de construção de conhecimento que tem o objetivo de levar a uma mudança de atitude. O trabalho lúdico e reflexivo e dinâmico respeita o saber anterior das pessoas envolvidas. A problemática ambiental nos mostra uma urgente necessidade de adotarmos uma nova postura sobre o contexto social e ambiental. Partindo desse princípio, a Educação Ambiental, também conhecida como E.A, é uma resposta a esse problema. Com o pressuposto de valores, como respeito a diversidade, através de uma maior sensibilização e mudanças de atitudes em relação ao meio, um dos objetivos da E.A. é a formação humana, voltada a reconhecer o meio ambiente como parte essencial à vida humana e a todas as outras formas de vida. De acordo com Reis Júnior (2003), a educação ambiental, nesse caso, vale como preventivo contra os problemas ambientais que outros centros urbanos estão sofrendo, devido à omissão dos administradores, à incúria no planejamento e na educação das crianças. A universidade, local de aprofundamento de estudo, uma das principais instituições responsáveis pela educação e formação do homem, deve estar vinculada aos princípios da dignidade, da participação, da corresponsabilidade, da solidariedade e da equidade. É importante que os professores não fiquem presos apenas aos livros, à teoria, mas que passem a contextualizar a realidade. Na prática, poderiam explorar a própria região, valorizando a cultura, a história e estudando as eventuais degradações ambientais do município. Se adequadamente preparados, poderiam os professores, de maneira ativa, construtiva e participativa, verificar com seus alunos, por exemplo, o que já está sendo feito pelas indústrias e empresas para reduzir o impacto ambiental e o que ainda precisa ser feito, quais os procedimentos e ações efetivas para enfrentar os problemas detectados. 10 Com a proposta de trabalhar as temáticas ambientais locais e também as globais de maneira coerente à construção do conhecimento pelo sujeito, possibilitar- se aos professores a realização de um trabalho que favorecesse o desenvolvimento da cidadania, propiciando aos alunos a percepção de que é possível melhorar e modificar o ambiente, sendo eles conscientizados como participantes da ação e responsáveis pelos resultados concretos a serem alcançados. 4 A PEDAGOGIA CRÍTICA E O PENSAMENTO PEDAGÓGICO NOBRASIL Para contribuir na construção de uma pedagogia crítica para a educação ambiental, vejamos onde se situa a pedagogia crítica nas tendências pedagógicas para a organização da educação e do ensino que vem sendo estudadas no Brasil principalmente por Libâneo (1986), Misukami (1986), Saviani (1987, 2005), Luckesi (1994) e Gadotti (2004). Alguns desses estudos referem-se às diferenças de compreensão dos fundamentos filosófico políticos das teorias da educação e outros às diferenças filosófico-políticas e metodológicas das teorias da aprendizagem. Como síntese, podemos considerar três grandes grupos de referenciais teóricos para a formulação de diferentes pedagogias: pedagogia tradicional, pedagogia nova e pedagogia crítica. A pedagogia tradicional e a pedagogia nova emergem das teorias não-críticas da educação enquanto a pedagogia crítica emerge da teoria crítica da educação. A Pedagogia Tradicional diz respeito a práticas pedagógicas cujo pressuposto sobre a função social da educação é a “adaptação” dos sujeitos à sociedade, vista de forma não crítica. A transmissão de conhecimentos e valores sociais produzidos pelos grupos sociais dominantes é o eixo desta prática pedagógica. Desta forma, esta proposta pedagógica é eminentemente ideológica pois expressa o caráter disciplinatório da educação, do ensino e, principalmente, da escola no que diz respeito a adaptação não-crítica dos sujeitos educandos ao projeto hegemônico de sociedade. O pressuposto da adaptação nos leva a identificar a proposta educativa: os educandos são “moldados” pelo processo educativo que os prepara para ocupar seu papel na sociedade tal qual ela se encontra estruturada. 11 A pedagogia tradicional tem, portanto, a função ideológica de reproduzir a sociedade. Podemos encontrar essa proposta pedagógica como proposta educativa dominante em diferentes momentos históricos – inclusive no Brasil -, mas é na modernidade, na educação escolarizada, que ela se expressa mais intensamente dando origem também a uma teoria da aprendizagem. Se seu pressuposto é “preparar” os sujeitos, intelectual e moralmente, para assumirem sua posição na sociedade (papel da escola), os conteúdos de ensino são os conhecimentos e valores transmitidos acriticamente, os métodos são baseados na transmissão mecânica de conteúdos pela exposição oral e repetitiva, o professor é o transmissor e o aluno o receptor. Desta forma, a resposta à pergunta que orienta as teorias da aprendizagem - “como o sujeito aprende? ” - É simples: pela interiorização/memorização dos conteúdos transmitidos. Na educação ambiental a educação tradicional se manifesta pela ideia de que a transmissão de conhecimentos e valores ambientais seja realizada acriticamente, tendo como objetivo a formação de indivíduos ecologicamente responsáveis, compreendido como indivíduos que considerem os aspectos ambientais em suas ações sociais sem questionar o contexto histórico-concreto de suas determinações. Essa tendência na educação ambiental tem caráter moralista e disciplinatório. Dentre as teorias não-críticas temos ainda a Pedagogia Nova que surgiu no Brasil na década de vinte (Século XX) se expressando de forma mais evidente no Manifesto dos Pioneiros pela Educação Nova, publicado em 1932. Partindo também do pressuposto da educação com função adaptadora, esta proposta pedagógica, na sua origem, valorizou a “educação para todos” que interessava ao projeto modernizante de desenvolvimento do capitalismo industrial. Sua proposta básica – construída pela crítica à repetição mecânica dos processos educativos - é a renovação de referenciais teóricos e metodológicos na organização da educação escolarizada secundarizando os conteúdos culturais. O ensino escola novista “renova-se”, colocando como alternativa os processos “ativos”, onde a memória não é mais a atividade mental de assimilação da cultura como na pedagogia tradicional, mas a atividade prática de desenvolvimento dos indivíduos para a participação no projeto de modernização da sociedade. 12 Fonte:pead.faced.ufrgs.br Os processos educativos na pedagogia nova são processos em que o sujeito deixa de ter um papel passivo, de receptor de conhecimentos, e passa a ter um papel ativo, no sentido essencialmente prático. Importa aqui, portanto, o desenvolvimento das competências e habilidades práticas para a adaptação na sociedade: a prática social é vista ponto de partida, como meta do processo educativo no sentido adaptativo, é a supervalorização da relação da educação com a vida cotidiana. Essa secundarização dos conteúdos culturais que dá lugar aos conteúdos práticos expressa-se pelo pressuposto básico da aprendizagem na pedagogia nova: “aprender a aprender”. Neste mesmo sentido os métodos de ensino se organizam sob o conceito de atividade: “métodos ativos”. É importante destacar aqui a enorme influência da psicologia, em especial a psicologia do desenvolvimento, nas propostas pedagógicas escola novistas, assim como o papel central da ação. As principais teorias da aprendizagem que emergem da escola nova são as teorias não-diretivas, cujo fundamento é a psicologia não-diretiva de Rogers; as teorias construtivistas, principalmente a teoria de Piaget; e, por último, as teorias tecnicistas, com destaque para as contribuições da psicologia comportamental (behaviorista) de Skinner. Na educação ambiental a pedagogia nova se expressa pela supervalorização de métodos ativos da aprendizagem, que pressupõe o fazer – a ação sobre o ambiente 13 - esvaziado da crítica aos condicionantes sócio históricos da modificação da relação da sociedade com a natureza. A ideia central na educação ambiental, então, refere-se a novas atitudes, novos comportamentos, mais adequados do ponto de vista ambiental, novas “competências” do ponto de vista da ação sobre o ambiente, sem a reflexão social e política de seus condicionantes históricos. Podemos dizer que o “adestramento” ambiental (BRÜGGER, 1994) aqui não tem os conhecimentos dos processos ecológicos e os problemas ambientais como eixo da proposta pedagógica (tradicional), mas a ação empírica, ativista e imediatista para a conservação ambiental, desvinculada da ação política. O caráter não-crítico dessas abordagens difere radicalmente da Pedagogia Crítica, compreendida como síntese das propostas pedagógicas que, partindo da crítica da sociedade injusta e desigual e do papel da educação como adaptadora social, propõe a educação transformadora. Na tendência crítica estão abrigadas propostas que orientam ações educativas que contribuam para a formação crítica dos sujeitos através de processos reflexivos para discussão, compreensão e ação transformadora das relações sociais de dominação. A ênfase na crítica da organização da sociedade desigual e no papel crítico e transformador da educação indica a teoria marxista como fundamento da pedagogia crítica. Podemos dizer que a pedagogia crítica no Brasil pode ser compreendida pela análise de pelo menos dois importantes autores: Paulo Freire (1921-1997) e Dermeval Saviani (nascido em 1944). Do pensamento de Paulo Freire para a educação emerge a proposta da “educação libertadora” e de Saviani a “pedagogia histórico-crítica”. A educação libertadora preocupa-se fundamentalmente com a conscientização do sujeito sobre sua condição social, sobre sua própria vida no que diz respeito à organização da sociedade capitalista, constituindo-se numa alternativa política à educação tradicional, que Paulo Freire chamou de “educação bancária”, tendo como principal objetivo a ação política para a transformação social. Na educação ambiental a pedagogia de Paulo Freire tem sido tomada como referencial teórico, mas, nem sempre compreendida naquilo que a caracteriza: uma educação política que compreende as condições sociais da existência dos sujeitos14 oprimidos como ponto de partida para o processo de conscientização na perspectiva da transformação da sociedade injusta e desigual. Desta forma, uma pedagogia crítica da educação ambiental fundamentada no pensamento de Paulo Freire dá ênfase no conhecimento das relações sociais de dominação que se realiza na sociedade desigual para, através do processo educativo dialógico, conscientizar os sujeitos para transformar estas relações de dominação. Neste sentido, é o pensamento de Paulo Freire que inspira o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global (FÓRUM INTERNACIONAL DAS ONGs, 1995): transformação social, conscientização, educação política, cooperação e diálogo. Os temas do Tratado são problematizadores para um processo de conscientização político e transformador como a pobreza, a degradação humana e ambiental, a violência, a compreensão das formas de vida da população, suas condições de saúde, a fome e, em especial, a democracia. Fonte:pnld.moderna.com.br A proposta pedagógica conhecida como Pedagogia Histórico-Crítica de Dermeval Saviani difere da proposta freireana principalmente quanto a especificidade da educação: “o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo” (SAVIANI, 2005). 15 Partindo da análise crítica da relação da educação com a sociedade, a pedagogia histórico-crítica define como papel da educação sua contribuição em um movimento maior de transformação da sociedade capitalista. No entanto, neste movimento de transformação, Saviani entende que a educação assume funções específicas: A pedagogia revolucionária é crítica. E, por ser crítica, é condicionada. Longe de entender a educação como determinante principal das transformações sociais, reconhece ser ela elemento secundário e determinado. Entretanto, longe de pensar, como faz a concepção crítico-reprodutivista, que a educação é determinada e unidirecional pela estrutura social dissolvendo-se a sua especificidade, entende que a educação se relaciona dialeticamente com a sociedade. Nesse sentido, ainda que elemento determinado, não deixa de influenciar o elemento determinante. Ainda que secundário, nem por isso deixa de ser instrumento importante e por vezes decisivo no processo de transformação da sociedade (SAVIANI, 1987). Então, o princípio educativo/pedagógico do pensamento de Saviani para a educação é a apropriação do saber historicamente acumulado: “o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens” (SAVIANI, 2005). Esta proposta educativa, portanto, valoriza os saberes culturais, compreendidos de forma dinâmica, como elemento central da ação pedagógica, cuja estratégia política é a instrumentalização dos sujeitos singulares para a prática social transformadora. Uma pedagogia histórico-crítica para a educação ambiental, portanto, é uma proposta educativa que se preocupa com a apropriação, pelos sujeitos, dos saberes socioambientais compreendidos como o conjunto de conhecimentos, ideias, conceitos, valores, símbolos, habilidades, hábitos, procedimentos e atitudes resinificados na perspectiva da sustentabilidade social e ambiental. Esses dois autores, com suas diferentes interpretações sobre o papel do processo educativo, têm grande contribuição na formulação de uma pedagogia crítica para a educação ambiental, uma pedagogia voltada para a construção, histórica e política, de uma prática social ecológica e democrática. 16 A educação ambiental crítica, transformadora e emancipatória tem como ponto de partida a ideia de que a prática social é construída e construtora de humanidade, isto é, é construída pelas relações sociais de produção da vida social, contribuindo na construção dessas mesmas relações. Paulo Freire é uma referência fundamental para Educação Ambiental. Talvez porque essa seja uma excepcional porta de entrada teórica para quem se iniciar no campo, em função de sua vocação problematizadora cujo potencial de rompimento definitivo com o senso comum já cristalizado de uma Educação Ambiental conteudista, normativa, instrumental, a crítica, etapista e a histórica, ideologicamente neutra não é nada desprezível. Talvez também porque oportuniza, a todos os educadores ambientais que minimamente reconhecem no pensamento freireano as possibilidades de enfrentamento e superação das formas de opressão, controle e poder autoritário, as condições políticas – pedagógico para o adensamento das forças sociais progressistas. (LAYRARGUES, 2014, apud Gama Antônia ;2016). Segundo Tozoni – Reis, a formação humana plena na perspectiva de superação radical da alienação, da exploração do homem pelo homem e da exploração da natureza pelos seres humanos, exige um processo educativo que garanta condições concretas para uma prática social ambiental transformada e transformadora (TOZONI-REIS, 2004). Paulo Freire defende, assim, uma pedagogia que esteja voltada à inserção dos educandos em seu processo de ensino e aprendizagem, que os constitua como sujeitos no mundo e que gire em torno das relações existentes entre a sociedade, cultura e natureza. Nesta direção, situamos a importante contribuição que o trabalho, a partir dos temas geradores, na concepção educacional freireana, pode propiciar. Isto porque a Pedagogia Freireana está voltada à efetivação de uma educação libertadora mediante à obtenção de temas geradores que sintetizam os conflitos e as contradições provenientes das relações homem-mundo (FREIRE, 1987). Nesse sentido, a Educação Ambiental transformadora vai se caracterizar também pela divergência, o que vem significar não outro adjetivo para a Educação Ambiental, mas uma propriedade que a torne transformadora, e, assim, colocar diante do educando e dialogar com ele sobre os vários caminhos, as várias possibilidades que a solução de uma questão ambiental pode suscitar. Uma pedagogia ambiental que se pauta na divergência é o contrário da domesticação, do conservadorismo, da manipulação, da doutrinação. 17 De acordo com os autores Torres, Ferrari e Maestrelli (2014), a perspectiva da configuração de currículos da “Abordagem Temática Freireana, configura-se em uma forma de pensar e fazer currículo de modo reflexivo e crítico, integrando teoria e prática, pesquisa e intervenção pedagógica. ” Além disso, configura-se como uma relação de “comum acordo” entre as partes envolvidas (equipes escolar e realidade/contexto investigado) articuladas a parceria estabelecida com os órgãos governamentais locais de educação, uma vez que a viabilização do ato educativo envolve processos formativos e, portanto, a garantia de carga horária para tal. Dessa forma, o método adotado na abordagem freireana desempenha uma função que transcende as caraterísticas da configuração normal do “currículo escolar, ou seja, didático-pedagógico”. Pois, esta metodologia apresenta a realidade com suas incoerências sociais, culturais e políticas da vida cotidiana para reconstruir a “prática educativa”, com a finalidade de seu entendimento crítico “ (o que envolve aspectos cognitivos) ” para adquirirem um grau de certeza do conhecimento científico nas suas diferentes áreas, a fim de ajudá-los a transformar sua realidade local (TORRES, FERRARI E MAESTRELLI, 2014). A dimensão epistemológica da Abordagem Temática Freireana pode ser evidenciada mediante as concepções de sujeito, de objeto e de conhecimento que a fundamenta. Nesta, o sujeito é não neutro, ontológico, epistêmico e coletivo, “à medida que interage, estabelecendo relaçõescom o meio físico e social pelas quais se apropria de padrões, quer de comportamento quer de linguagem, para uma abordagem do objeto de conhecimento” (DELIZOICOV, ANGOTTI E PERNAMBUCO, 2002, apud Gama Antônia ;2016). A compreensão da informação analisada no “âmbito da Abordagem Temática Freireana” é a que promove a reflexão da conjuntura desde sua origem de forma sintetizada. Assim, será possível promover uma análise histórica para adaptá-la no processo de “ensino aprendizagem”, com base nos princípios norteadores que promovem a imparcialidade do “objeto do conhecimento” e suas intervenções. (TORRES, FERRARI E MAESTRELLI, 2014,). Os estudiosos Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2002), sinalizam que a dimensão educativa da Abordagem Temática Freireana se encontra fundamentada nas concepções de educação de Freire e de Snyders, que contemplam a dimensão epistemológica mencionada: 18 A concepção de educação que baliza a dinâmica de abordagem Temática Freireana se baseia em tema, cuja abordagem em torno deles deve possibilitar a ruptura com conhecimentos do senso comum dos educandos e a apreensão de conhecimento sistematizado durante o processo de ensino e aprendizagem. São temas geradores que assumem o papel de objeto de estudo do processo educativo. São eles que orientam tanto a configuração curricular e a seleção dos conteúdos das disciplinas escolares quanto abordagem sistematizada das atividades em sala de aula. No que tange aos critérios de seleção da conceituação cientifica a ser abordada no processo educativo em questão, destacamos sua subordinação tanto aos temas geradores quanto a estrutura do conhecimento cientifico (DELIZOICOV, ANGOTTI E PERNAMBUCO, 2002, apud Gama Antônia ;2016). Estes estudiosos, também, enfatizam que a “dimensão didático-pedagógica da Abordagem Temática Freireana”, em harmonia com os princípios norteadores “balizam suas dimensões epistemológica e educativa. ”os autores acrescentam ainda que a dimensão didática-pedagógica, está voltada tanto à apreensão e problematização do conhecimento prévio dos educandos pelos educadores acerca dos temas geradores, quanto à formulação de problemas pelos educadores, para apreensão dos conhecimentos científicos pelos educandos acerca dos temas, durante o processo de ensino aprendizagem. (DELIZOICOV, ANGOTTI E PERNAMBUCO, 2002). Percebe-se que ambos os momentos do ato educativo em questão dizem respeito ao caráter processual “método-conteúdo” indissociáveis quanto à inter- relação existente entre a genes, localização, formulação e solução de problemas. Dessa forma, a dimensão didática pedagógica da Abordagem Temática Freireana se volta à ruptura do “método-conteúdo”, construído pelos educandos, segundo os seus padrões de interação e apreensão dos conhecimentos científicos produzidos sócio historicamente por coletivos de pesquisadores. Assim, o processo de ensino e aprendizagem veiculado de Abordagem Temática Freireana está fundamentado em um modelo didático-pedagógico que busca estabelecer a seguinte articulação: Na dialogicidade e na problematização em torno dos temas geradores. O diálogo implica que a educação dialógica não se confunde com o simples conversar ou dialogar entre discentes e docentes em torno de uma temática e sim a apreensão mútua dos distintos conhecimentos e práticas que estes sujeitos do ato educativo têm sobre as situações significativas, envolvidas nos temas geradores. 19 Portanto, se trata de um diálogo entre conhecimento, cujo eixo estruturante é a problematização dos conhecimentos. (DELIZOICOV, ANGOTTI E PERNAMBUCO, 2002). Acredita-se que a aposta que se faz como decorrência do desenvolvimento desta educação dialógica no processo de ensino e aprendizagem é o estabelecimento da dialogicidade tradutora, em que o (a) educador (a) assume o papel de “tradutor” (a), uma vez que os conhecimentos acerca dos temas geradores são, em princípio, distintos. Segundo os autores Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2002), “um diálogo tradutor implica, então, um processo para obter o conhecimento vulgar do educando, e não apenas para saber que ele existe; é necessário trabalhá-lo ao longo do processo educativo. ” (DELIZOICOV, ANGOTTI E PERNAMBUCO, 2002.). Neste sentido, problematiza-se de um lado, o conhecimento sobre as situações significativas que vai sendo explicitado pelos alunos. De outro, identificam-se e formulam-se adequadamente os problemas que levam à consciência e à necessidade de introduzir, abordar e apropriar conhecimentos científicos. Loureiro e Torres (2014) afirmam que , a esta concepção de problematização está em sintonia com as ideias de Bachelard (1997), pois de acordo com este autor, “se não houve questão, não pode haver conhecimento científico”, Bachelard afirma ainda que a formulação de um problema de investigação se faz necessário tanto para que ocorra a produção do conhecimento científico quanto a apropriação desse conhecimento no processo de ensino e aprendizagem que o conhecimento científico é produzido mediante um processo que envolve rupturas, e que por meio as rupturas que se dá o trânsito do “conhecimento vulgar” ao conhecimento científico. (LOUREIRO; TORRES, 2014). Dessa forma, a apropriação do conhecimento científico pelo aluno implica a superação de obstáculos epistemológicos e a formação do pensamento científico. Na dinâmica da Abordagem Temática Freireana, são as situações-limites existenciais advindas da realidade concretas e representadas nos temas geradores que passam a se tornar um problema que requer investigação. Dessa forma, se efetivaria a conscientização, por intermédio do trânsito da consciência ingênua à consciência crítica (LOUREIRO E TORRES, 2014; apud, Gama Antônia ;2016). 20 Portanto, o desenvolvimento da dinâmica de Abordagem Temática Freireana na escola se constitui, essencialmente, em uma educação que se autodenomina problematizadora ou dialógica. Neste sentido, mencionar Paulo Freire como referência pedagógica para fundamentar propostas curriculares, em defesa de uma educação ética e crítica, tornou-se uma prática recorrente nas diferentes matrizes educacionais. Como proposta pedagógica para Educação Ambiental (EA) não é diferente. Freire vem servindo de referência para distintas concepções e diretrizes educacionais, justificando projetos dos mais diferentes princípios e tendências. Ao longo dos anos 1970, como forma de se contrapor a perspectiva essencialista do positivismo, que fundamenta a educação tradicional, a prática curricular passou a ser comprometida, direta ou indiretamente, pelas tendências educacionais progressistas, ora processo ideológico de dominação, ora como forma de resistência às tentativas de totalidade. (LOUREIRO E TORRES, 2014). Já no início daquela década, no campo sociológico, o currículo tradicional é apresentado como mecanismo ideológico de reprodução social para a manutenção do status quo do modelo econômico capitalista (ALTHUSSER, 1985). Entretanto, no Brasil, na perspectiva do autor, o início dos anos 1980, foi um período em que os educadores críticos enfatizavam mais denúncias e contestações do que preposições pedagógicas concretas de superação. Para Lopes e Macedo (2002), a segunda metade dos anos 1980, no Brasil, caracterizou-se por uma disputa entre duas tendências curriculares marxistas: a pedagogia crítico-social dos conteúdos e a pedagogia libertadora freireana, embora já se notasse a presença teórica das influências de propostas curriculares críticas europeias e americanas. (LOUREIRO E TORRES, 2014). Moreira (2001) destaca o início das atividades do Grupo de Trabalho (GT) de currículos da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED) e Domingues (1988) publica um artigo sobre análise curricular como um “macro do campo”. Neste trabalho, aprofunda tanto a conscientização das duas tendênciascurriculares críticas supracitadas, quanto a difusão dos pensadores críticos americanos. (MOREIRA, 2001). Além disso, na primeira metade dos anos 1990, a temática cultural passou a ser concebida como território explícito de contestação e resistência ao poder social 21 instituído, tanto na construção fenomenológica das singularidades no mundo vivido, quanto de busca de legitimidade, forma de construir, no plano cultural, uma prática educacional que fomentasse a autoconsciência e se caracterizasse como movimento contra hegemônico (GRAMSCI, 1995), como política cultural escolar que resistisse e se rebelasse aos significados impostos pela dominação do sistema socioeconômico, pela participação transformadora e criativa dos injustiçados, sob a teoria da crítica dialética (GIROUX, 1986). Nesse sentido, que a denominada “crise da teoria curricular crítica” se faz presente; a distância entre a teoria e as proposições práticas é negligenciada em nome da supremacia de reflexões que, muitas vezes, estão distantes do cotidiano curricular de docentes e discentes. Loureiro e Torres (2014) afirmam que ainda, no Brasil, esse período tenha sido marcado pelas influências das políticas de órgãos internacionais comprometidos com “as propostas mercadológicas neoliberais – Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), PNDU, Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), entre outras –“, muitas vezes, com o apoio dos governos federais, foi possível enfatizar esforços para a implementação de políticas pedagógicas progressistas ainda sob as orientações educacionais da Constituição de 1988, e: A partir da promulgação da LDBEN (Lei n. 9.394/96) e, posteriormente, do PNE (Lei n. 10.172/2001) constitucionou-se a necessidade da elevação do nível de escolaridade da população e do desenvolvimento de diretrizes democrática para a gestão do ensino público, a partir de políticas comprometidas com uma educação de qualidade social. (LOUREIRO; TORRES, 2014, apud, Gama Antônia ;2016). Observa-se que há diversidade de compreensão e de práticas pedagógicas, muitas vezes dissonantes dos princípios e pressupostos educacionais críticos conforme observa Silva (2004). Em relação às propostas de Educação Ambiental (EA), Garagorry (2005) destaca como, nas últimas décadas do século XX, as conferências internacionais sobre questões ambientais interferiram de forma direta e significativa nas transformações das concepções e práticas de ensino propostas para a EA. A autora ressalta, também, que as diferentes propostas apregoem partir de fundamentos educacionais críticos comuns, e o que se observa são diferentes concepções e interesses que partem de pressupostos político pedagógicos distintos. 22 Loureiro (2009), partindo de uma perspectiva marxiana, destaca que a Educação Ambiental é: [...] pensar em mudar comportamento, atitudes, aspectos culturais e formas de organização significa pensar em transformar o conjunto de relações sociais nas quais estamos inseridos, a qual constituiu e pelas quis somos constituídos, o que exige, dentre outros, ação política coletiva, intervindo na esfera pública, e conhecimento das dinâmicas sociais e ecológicas. (LOUREIRO 2009, Gama Antônia ;2016). Entretanto, práticas educacionais fundamentadas na pedagogia freireana, que reforcem as relações entre os indivíduos e as relações sociais que compõem a sociedade, podem contribuir com o objetivo de formação de cidadãos que sejam socioambientalmente comprometidos com seu futuro e de próximas gerações. Para que a Educação Ambiental contemple o seu dever transformador ela precisa estar baseada em três princípios centrais: a criticidade, contextualidade e interdisciplinaridade. Nesta perspectiva, só é possível pensar em uma Educação Ambiental crítica quando esta for balizada pelo seu contexto sociocultural e econômico, ou seja, quando assumir a abordagem interdisciplinar como uma exigência epistemológica para a apreensão da problemática ambiental e para sistematização curricular das práticas pedagógicas, como defende Carvalho (2004). Para a autora: A formação do indivíduo só faz sentido se pensada em relação com o mundo em que ele vive e pelo qual é responsável. Na EA está tomada de posição de responsabilidade pelo mundo em que vivemos, inclui aí a responsabilidade com os outros e com o ambiente (CARVALHO, 2004, Gama Antônia ;2016). Nesse sentido, o processo educacional possibilita a formação ética de agentes transformadores capazes de pensar e agir criticamente, o que, na especificidade da Educação Ambiental, significa transformar a escola em espaço de construção de cidadãos críticos, e também na dimensão ecológica, sujeitos capazes de realizar uma análise crítico-humanizadora das relações entre homem e natureza. É nesse contexto que devemos compreender as contribuições da pedagogia crítica de Freire e os limites das práticas que dizem adotar seus referenciais. São enfatizadas na presente discussão as dificuldades de abordar tais referenciais críticos freireano em propostas que, mesmo citando esses referenciais, não os utilizam como parâmetro curricular. (LOUREIRO E TORRES, 2014). 23 Segundo Freire (1997), não há razão para que não se estabeleça “uma ‘intimidade’ entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos”. (FREIRE, 1997). Acredita-se que a fragilidade no cumprimento do papel social da escola na sociedade contemporânea tem sido a principal referência para a construção de propostas curriculares que procuram impedir essa ineficiência do sistema. Entretanto, o desenvolvimento da humanização, meta educativa, projeto ético por excelência, depara-se, na prática, com uma diversidade de obstáculos socioculturais e políticos. Para os autores Loureiro e Torres (2014): A complexidade da prática educativa, criptografada pela tradição cultural escolar, tende a levar os sujeitos envolvidos a um posicionamento contemplativo e resignado perante as dificuldades psicossociais culturais, epistemológicos, socioeconômicos e ambientais que a realidade vivenciada revela. (LOUREIRO; TORRES 2014, Gama Antônia ;2016). Pautada por essas abordagens distantes e descontextualizadas das realidades socioculturais, as concepções arraigadas no senso comum educacional prometem a inclusão na sociedade. A realização da justiça social obtida por uma educação “universal” e “acessível” surgem sucedâneos de projetos educacionais de diferentes matrizes políticas que, nas últimas décadas, em sua grande maioria, atuaram muito mais no sentido de legitimar ideologicamente a exclusão sociocultural e econômico vigente do que propiciar a construção de uma sociedade democrática. (LOUREIRO E TORRES 2014, Gama Antônia ;2016). Nesse sentido, a prática pedagógica, que parte da materialidade humana, resgatando a relevância da educação na vida dos cidadãos, enraíza-se na materialidade da vida cultural e econômica da comunidade - compromete-se com sua humanização, desenvolve aos educadores a possibilidade de serem os artesões de seus afazeres e investigadores constantes da realidade, e, aos educandos, a oportunidade de se tornarem sujeitos curiosos e críticos, construtores do conhecimento próprio das práticas socioculturais em que estão envolvidos, agentes coletivos e emancipatórios, cúmplices solidários na busca da construção e uma realidade comunitária dignificante. 24 4.1 Aplicação a educação ambiental na formação do pedagogo Devemos considerar que a educação é um processo de aprendizagem permanente e, quando ela é voltada para a questão da sustentabilidade, deve-se respeitar todas as formas de vida e considerar valores e ações que contribuam não só para a conservação ecológica, mas também para a transformação social e humana, pois essa educação estimula a formação de uma sociedade maiscrítica, justa e ecologicamente equilibrada. Mendonça (2007) ressalta que o discurso da sustentabilidade traz implicações para a educação e essas vão surgir como contrapartida ao modelo hegemônico de desenvolvimento capitalista. Os fundamentos e características e objetivos da EA estavam definidos desde a década de 1970, mas no Brasil só ocorreu sua efetiva inserção na escolarização formal a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) no ano de 1997 e também da implementação da Lei nº 9.795/99, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). De acordo com LOPES; ZANCUL (2012) os (PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais), formulados a partir da Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9394/96), incorporam a temática ambiental como um tema transversal. De acordo com os parâmetros, o meio ambiente deve estar inserido nas escolas de maneira integrada, contínua, sistemática e abrangente, permeando todos os campos do conhecimento, não constituindo, portanto, como uma disciplina específica no currículo. Esses princípios são reforçados pela (PNEA- Política Nacional de Educação Ambiental), que recomenda, ainda, a inserção da EA em todos os níveis e modalidades do ensino formal. De acordo com a legislação, a dimensão ambiental deve estar presente em todas as disciplinas dos currículos de formação de professores. Apesar da presença significativa da EA nas escolas de Ensino Fundamental, as pesquisas apontam que essa prática não tem ocorrido conforme as recomendações existentes, já que, em muitos casos, ainda está vinculada, principalmente, à disciplina Ciências. De acordo com a RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 1, de 15 DE maio de 2006, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia em seu artigo 2°, II: 25 Art. 2º As Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia aplicam-se à formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. II - A aplicação ao campo da educação, de contribuições, entre outras, de conhecimentos como o filosófico, o histórico, o antropológico, o ambiental ecológico, o psicológico, o linguístico, o sociológico, o político, o econômico, o cultural. (PCN 2006; apud Barbosa Joslin e Castro Roma, 2017). Com respaldo em tais parâmetros, um dos primeiros passos para a conscientização dos futuros pedagogos deve ocorrer no ambiente acadêmico por isso a Educação Ambiental se faz presente hoje como uma matéria ofertada nos cursos de pedagogia de universidades brasileiras. Estabeleceu-se um lugar de destaque para os debates de atitudes alternativas de ação permanente e pioneira quando se sugere consciência cidadã e exercício profissional de jovens educadores. Reigota (1998) evidencia uma EA, voltada especialmente para a participação cidadã, e a formação ambiental orientada para a atuação profissional nas várias áreas que possuem o meio ambiente como prioridade. Segundo Reis Júnior (2003) preparar os educadores é preparar as novas gerações para agir com responsabilidade e sensibilidade, para recuperar o ambiente saudável no presente e preservá-lo para o futuro. Os novos Parâmetros Curriculares Nacionais propõem o trabalho com o meio ambiente de forma transversal. Os temas transversais são considerados como o eixo norteador, isto é, aparecem em todas as matérias, permeando a concepção, os objetivos, os conteúdos e as orientações didáticas de cada área, no decorrer de toda a escolaridade obrigatória. Para Thomaz e Camargo (2007), embora exista uma legislação que assegure o tratamento das questões ambientais no currículo de formação inicial de professores, a incorporação da EA no Ensino Superior, nas propostas de ensino e pesquisa, é um processo demorado e depende da capacitação de todos os profissionais envolvidos. Isso quer dizer que mais do que os discentes o docente que irá ministra a matéria deve ter uma visão voltada para a importância da educação ambiental como uma mudança de padrão de pensamento, onde os futuros pedagogos devem ser bem preparados para lidarem com as questões ambientais de uma forma multi e transdisciplinar e não somente abordá-las em datas e eventos comemorativos. (Thomaz e Camargo 2007, apud Barbosa Joslin e Castro Roma, 2017). 26 Segundo Costa (2013) professor é aquele que professa ou ensina uma ciência, uma arte, uma técnica, uma disciplina, já o termo educador, que tem origem do vocábulo latim educatone, é definido como aquele que educa. Ao definirmos que cabe ao educador ajudar no processo de transformação da criança para se tornar um ecocidadão estamos dando a esse profissional um árduo e gratificante trabalho, pois os valores aprendidos e absorvidos pela criança com certeza farão toda a diferença na construção de uma sociedade sustentável e de um mundo melhor. Nessa linha, a educação é um ato que envolve o ser humano holisticamente, ou seja, em todos os seus aspectos, sejam físicos, cognitivos ou morais. Ser educador, nessa perspectiva, implica enxergar o aluno como ser dotado de saberes, qualidades e potencialidades. O educador não está preocupado exclusivamente em repassar o conteúdo de sua disciplina, mas em compreender, entender e tornar a escola ambiente de felicidade. Para que o aluno aprenda satisfatoriamente ele precisa estar feliz. Não podemos desmerecer o professor fazendo esse comparativo, mas devemos salientar que todos os educadores são professores, mas nem todos os professores são educadores. Educar é muito mais do que preparar e ministrar uma aula: requer paciência, tolerância, e principalmente perseverança. O educador constrói junto com o educando um aprendizado voltado para o interesse da realidade, ele não é o detentor do saber, está em constante crescimento e o faz juntamente com seus alunos. O modelo de escola tradicional não se encaixa nessa nova realidade. 4.2 Ensinar e aprender em educação ambiental A principal função do trabalho com o tema Meio Ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso é necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e aprendizagem de procedimentos. 27 E esse é um grande desafio para a educação, gestos de solidariedade, hábitos de higiene pessoal e dos diversos ambientes, participação em pequenas negociações são exemplos de aprendizagem que podem ocorrer na escola. Assim, a grande tarefa da escola é proporcionar um ambiente escolar saudável e coerente com aquilo que ela pretende que seus alunos apreendam, para que possa, de fato, contribuir para a formação da identidade como cidadãos conscientes de suas responsabilidades com o meio ambiente e capazes de atitudes de proteção e melhoria em relação a ele. Por outro lado, cabe à escola também garantir situações em que os alunos possam pôr em prática sua capacidade de atuação. O fornecimento das informações, a explicitação e discussão das regras e normas da escola, a promoção de atividades que possibilitem uma participação concreta dos alunos, desde a definição do objetivo, dos caminhos a seguir para atingi-los, da opção pelos materiais didáticos a serem usados, dentro das possibilidades da escola, são condições para a construção de um ambiente democrático e para o desenvolvimento da capacidade de intervenção na realidade. Entretanto, não se pode esquecer que a escola não é o único agente educativo e que os padrões de comportamento da família e as informações veiculadas pela mídia exercemespecial influência sobre os adolescentes e jovens. No que se refere à área ambiental, há muitas informações, valores e procedimentos aprendidos pelo que se faz e se diz em casa. Esses conhecimentos poderão ser trazidos e debatidos nos trabalhos da escola, para que se estabeleçam as relações entre esses dois universos no reconhecimento dos valores expressos por comportamentos, técnicas, manifestações artísticas e culturais. Além disso, o rádio, a televisão e a imprensa constituem uma fonte de informações sobre o Meio Ambiente para a maioria das pessoas, sendo, portanto, inegável sua importância no desencadeamento dos debates que podem gerar transformações e soluções efetivas dos problemas locais. No entanto, muitas vezes, as questões ambientais são abordadas de forma superficial ou equivocada pelos diferentes meios de comunicação. Notícias de televisão, rádio, jornais e revistas, programas especiais tratando de questões relacionadas ao meio ambiente têm sido cada vez mais frequentes. 28 Paralelamente, existe o discurso veiculado pelos mesmos meios de comunicação quando propõem uma ideia de desenvolvimento que não raro entra em conflito com a ideia de respeito ao meio ambiente. São propostos e estimulados por meio do incentivo ao consumismo, desperdício, violência, egoísmo, desrespeito, preconceito, irresponsabilidade e tantas outras atitudes questionáveis dentro de uma perspectiva de melhoria de qualidade de vida. Por isso, é imprescindível os educadores relativizarem essas mensagens, ao mostrar que elas traduzem um posicionamento diante da realidade e que é possível haver outros. Desenvolver essa postura crítica é muito importante para os alunos, pois isso lhes permite reavaliar essas mesmas informações, percebendo os vários determinantes da leitura, os valores a elas associados e aqueles trazidos de casa. Isso os ajuda a agir com visão mais ampla e, portanto, mais segura ante a realidade que vivem. Para tanto, os professores precisam conhecer o assunto e buscar com os alunos mais informações, enquanto desenvolvem suas atividades: pesquisando em livros e levantando dados, conversando com os colegas das outras disciplinas, ou convidando pessoas da comunidade (professores especializados, técnicos de governo, lideranças, médicos, agrônomos, moradores tradicionais que conhecem a história do lugar etc.) para fornecer informações, dar pequenas entrevistas ou participar das aulas na escola. Ou melhor, deve-se recorrer às mais diversas fontes: dos livros, tradicionalmente utilizados, até a história oral dos habitantes da região. Essa heterogeneidade de fontes é importante até como medida de checagem da precisão das informações, mostrando ainda a diversidade de interpretações dos fatos. Temas da atualidade, em contínuo desenvolvimento, exigem uma permanente atualização; e fazê-lo junto com os alunos é uma excelente oportunidade para que eles vivenciem o desenvolvimento de procedimentos elementares de pesquisa e construam, na prática, formas de sistematização da informação, medidas, considerações quantitativas, apresentação e discussão de resultados etc. O papel dos professores como orientadores desse processo é de fundamental importância. 29 Essa vivência permite aos alunos perceber que a construção e a produção dos conhecimentos são contínuas e que, para entender as questões ambientais, há necessidade de atualização constante. Como esse campo temático é relativamente novo no ambiente escolar, os professores podem priorizar sua própria formação/informação à medida que as necessidades se configurem. Pesquisar sozinho ou junto com os alunos, aprofundar seu conhecimento com relação à temática ambiental será necessário aos professores, por, pelo menos, três motivos: Para tê-lo disponível ao abordar assuntos gerais ou específicos de cada disciplina, vendo-os não só do modo analítico tradicional, parte por parte, mas nas inter-relações com outras áreas, compondo um todo mais amplo; muitas vezes é possível encontrar informações valiosas em documentos oficiais. Para ter maior facilidade em identificar e discutir os aspectos éticos (valores e atitudes envolvidos) e apreciar os estéticos (percepção e reconhecimento do que agrada à visão, à audição, ao paladar, ao tato; de harmonias, simetrias e outros) presentes nos objetos ou paisagens observadas, nas formas de expressão cultural etc. Para obter novas informações sobre a dimensão local do ambiente, já que há transformações constantes seja qual for a dimensão ou amplitude. Isso pode ser de extrema valia, se, associado a informações de outras localidades, poder compor informações mais globais sobre a região. O acesso a novas informações permite repensar a prática, e fazer e refazer que é possível enxergar a riqueza de informações, conhecimentos e situações de aprendizagem geradas por iniciativa dos próprios professores. Afinal, eles também estão em processo de construção de saberes e de ações no ambiente, como qualquer cidadão. Sistematizar e problematizar suas vivências, e práticas, à luz de novas informações contribui para o reconhecimento da importância do trabalho de cada um, permitindo assim a construção de um projeto consciente de educação ambiental. Ou seja, as atividades de educação ambiental dos professores são aqui consideradas no âmbito do aprimoramento de sua cidadania, e não como algo inédito 30 de que eles ainda não estejam participando. Afinal, a própria inserção do indivíduo na sociedade implica algum tipo de participação, de direitos e deveres com relação ao ambiente. Reconhece-se aqui a necessidade de capacitação permanente do quadro de professores, da melhoria das condições salariais e de trabalho, assim como a elaboração e divulgação de materiais de apoio. Sem essas medidas, a qualidade desejada fica apenas no campo das intenções. Da mesma forma, a estrutura da escola, as ações dos outros integrantes do espaço escolar devem contribuir na construção das condições necessárias à desejada formação mais atuante e participativa do cidadão. 5 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA A Educação Ambiental Crítica é vista, muitas vezes, como sinônimo de: EA transformadora, popular, emancipatória e dialógica. Isto ocorre porque esta se origina de ideais democráticos e emancipatórios da Educação Popular, contrária à educação tecnicista com vistas à simples transmissão de conhecimento. Uma das principais referências da Educação Crítica é Paulo Freire. O autor insiste na educação vista como formadora de cidadãos emancipados, autores de suas próprias histórias. Além de Freire, essa nova EA foi alimentada pelos paradigmas marxistas e neomarxistas, que defendiam a importância de incluir nos debates as ideias político- ideológicas do sistema de reprodução social e a inter-relação sociocultural do ser humano com a natureza. Era importante entender que: “a crise ambiental não expressava problemas da natureza, mas problemas que se manifestavam na natureza” (LAYRARGUES; LIMA, 2011). A Educação Ambiental Crítica é assim designada por representar uma contraposição a algo existente como forma de superação. O ponto para superação refere-se à denominada Educação Ambiental Conservadora, perspectiva que vem se consolidando perante a sociedade e que, segundo Guimarães (2004): Ao se colocar inapta de transformar uma realidade (a qual ela própria é um dos mecanismos de reprodução), conserva o movimento de constituição da realidade de acordo com os interesses dominantes – a lógica do capital (GUIMARÃES, 2004, apud Barbosa Joslin e Castro Roma, 2017). 31 Guimarães (2004) verificou, então, a necessidade de ressignificar a Educação Ambiental como “crítica”, por compreender ser necessário diferenciar uma ação educativa que seja capaz de contribuir com a transformação da realidade em meio a uma crise socioambiental. A EducaçãoAmbiental Crítica tem por objetivo promover ambientes de mobilização, de formação de educadores e educandos para superar as armadilhas paradigmáticas. Segundo Carvalho (2004), a prática educativa da Educação Ambiental Crítica procura formar o sujeito individual e social entendendo-o enquanto ser humano que está inserido na história. Recusa, portanto, tanto a crença individualista e dicotômica que subsumir a subjetividade num sistema macro social despersonalizado. Assim o indivíduo deve mudar primeiro para depois possibilitar a mudança na vida de pessoas e grupos. Isto posto, para que essa formação crítica se realize é preciso conceber indivíduo e coletividade em sua relação com o mundo. (CARVALHO, 2004). A Educação Ambiental Crítica propõe, segundo Loureiro (2004), promover o questionamento às abordagens comportamentalistas, reducionistas e dualistas no entendimento da relação cultura-natureza como meio de se alcançar mudanças efetivas para revertermos a “crise socioambiental”. (LOUREIRO, 2004). Na Educação Ambiental com as características enfatizadas por Freire (1987), em sua proposta pedagógica, aponta a necessidade de se fazer: Uma educação problematizadora, que contribua para o surgimento, nos aprendizes, de uma visão crítica da totalidade do ambiente onde se inserem. Portanto, a Educação Ambiental na escola deve ser formalizada como um processo permanente de aprendizagem que valoriza as diversas formas de conhecimento para formar cidadãos com consciência local e planetária, apresentando uma perspectiva de encarar a relação do homem com a natureza, baseada em uma postura ética, que pressupõe outros valores morais e uma forma diferenciada de ver o mundo e a humanidade. (FREIRE,1987, Barbosa Joslin e Castro Roma, 2017). Desse modo, defendemos a Educação Ambiental em sua característica transformadora e emancipatória; e o ato de educar como o mais avançado ato social emancipatório-libertador. Concebida como tal, tanto a educação formal como a educação voltada para as questões ambientais, através da escolaridade, formam um patrimônio da sociedade que a ele tem direito de forma ampla e democrática. Tal patrimônio terá 32 obrigatoriamente de abrir espaço para todas as culturas, etnias, princípios e orientações, respeitando os princípios garantidos constitucionalmente. Para Loureiro (2004), a característica transformadora da Educação Ambiental: implica admitir umas práxis educativa que, vinculada ao exercício da cidadania, estabeleça movimento unitário entre teoria e prática, em processo integrado de mudança de valores e de padrões cognitivos com ação política democrática e reestruturação do conjunto das relações sociais, inclusive as econômicas, que definem a base de organização da vida humana em sociedade. (LOUREIRO, 2004). Loureiro (2004) diz que, “todo e parte devem ser entendidos como movimento dinâmico, contraditório e complementar, mutuamente constituídos”. Ao entendê-los de modo contrário, ou recai-se no holismo generalista, no reino das ideias sem concretude ou na fragmentação das partes, na coisa em si sem fluxos e processos. (LOUREIRO, 2004). Carvalho (2004), por sua vez, ao discorrer sobre o que fundamentou o posicionamento crítico da Educação Ambiental coloca que ele é inspirado nas ideias de força da educação crítica, as quais posicionam a educação imersa na vida, na história e nas questões urgentes de nosso tempo. A Educação Ambiental acrescenta a esse posicionamento uma especificidade: compreender as relações sociedade natureza e intervir sobre os problemas e conflitos ambientais. A Educação Ambiental Crítica assume sua dimensão política ao se propor a desvelar a realidade e ao inserir o processo educativo na mesma, contribuindo para a transformação da sociedade atual, inclusive voltando seus projetos para além da sala de aula. Isso se torna possível, pois, a ação pedagógica de caráter crítico potencializa o surgimento e estimula a formação de lideranças busca a articulação dos diferentes saberes e exercita a construção do sentimento de pertencimento ao coletivo, ao todo representado pela comunidade e pela natureza e incentiva a coragem da renúncia ao que está estabelecido e ousadia para inovar (GUIMARÃES, 2004). De acordo com Loureiro (2004), a vertente da Educação Ambiental Transformadora, começou a se configurar nos anos 1980, no Brasil, pela aproximação de educadores, principalmente os envolvidos com Educação Popular e instituições públicas e educação, junto aos militantes de movimentos sociais e ambientalistas, 33 com foco na transformação societária e no questionamento radical aos padrões industriais e de consumo consolidados no capitalismo. Trata-se, portanto de uma Educação Ambiental que se origina das pedagogias críticas e emancipatórias. A dialética se constitui como método fundamental que alicerça as reflexões desta concepção com interfaces com a chamada “teoria da complexidade”, visando um novo paradigma para uma nova sociedade. A influência de maior destaque encontra-se na pedagogia inaugurada por Paulo Freire do grupo das pedagogias libertárias e emancipatórias iniciadas nos anos 1970, na América Latina, em seus diálogos com as tradições marxistas e humanistas. Para Freire (1988), a educação libertadora é “incompatível com uma pedagogia que pratica a dominação, e a prática da liberdade só se realiza numa pedagogia em que o oprimido se descubra e conquiste-se como sujeito de sua própria destinação histórica”. Essa pedagogia traz uma contribuição teórico-metodológica para a prática da Educação Ambiental Emancipatória quando desperta no educando a consciência por meio da problematização dos temas geradores pertencentes ao seu universo vivido. (FREIRE, 1988). Segundo Freire (1996) “a práxis é a teoria do fazer”, é a ação-reflexão e reflexão ação e se dão simultaneamente. Segundo o mesmo autor, “a prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer. ” (FREIRE, 1996). Buscamos assim umas práxis em Educação Ambiental, para uma Educação Ambiental transformadora e emancipatória, em busca do saber ambiental, este saber que desafia as ciências em suas bases mais sólidas, pois necessita de uma análise interdisciplinar, das relações natureza-sociedade. O saber ambiental coloca a certeza dos paradigmas, nas incertezas de uma mudança essencial. Segundo Loureiro (2004), dentro da tradição dialética marxista merece destaque a Escola de Frankfurt que denunciava já no início século XX que o processo de exploração entre as pessoas é parte da mesma dinâmica de dominação da natureza, uma vez que esta se define na modernidade capitalista como uma externalidade na qual tudo e todos são transformados em coisas, mercadorias a serviço da acumulação capitalista. Nesta perspectiva, “em termos teóricos e conceituais a Educação Ambiental Emancipatória procura enfatizar e associar as noções de mudança social e cultural, 34 de emancipação/libertação individual e social e de integração no sentido de complexidade”. (LIMA, 2004). Ao realizar uma explicação sobre essas mudanças diz que: a ideia de mudança social reflete um inconformismo com o estado atual do mundo, com as relações sociais que os indivíduos estabelecem entre si, com as relações dos indivíduos consigo mesmos e com as relações com o seu meio ambiente. Parte da consideração de que essas relações são socialmente injustas, ecologicamente insustentáveis, economicamente deterministas, politicamente não democráticas, eticamente utilitárias a mudança cultural, por sua vez, aponta para a necessidade de renovação do código de valores dominante na sociedade no sentido da construção de uma nova ética que valorize não apenas a vida humana, mas a vida não-humana (LIMA, 2004,). Loureiro (2004), parte do princípio de que Educação Ambientalé uma perspectiva que se constrói na própria educação, formada nas relações estabelecidas entre as diversas tendências pedagógicas e do ambientalismo, que têm no “ambiente” e na “natureza” categorias centrais e identitárias. A Educação Ambiental não se refere exclusivamente às relações vistas como naturais ou ecológicas como se as sociais fossem a negação direta destas, recaindo no dualismo, mas sim a todas as relações que nos situam no planeta e que se dão em sociedade-dimensão inerente à nossa condição como espécie (LOUREIRO, 2004,). Há uma despolitização quando é dado um tratamento ingênuo tanto à questão ambiental quanto à Educação Ambiental; quando são compreendidas como problemas ecológicos stricto sensu ou técnicos tendem a desconsiderar o teor político e conflitivo que está na gênese de sua emergência. A visão parcial e reduzida da realidade favorece uma compreensão despolitizada e alienada dos problemas ambientais, na medida em que oculta seus motivos políticos e a inevitável conexão entre suas múltiplas dimensões. A Educação Ambiental transformadora é vista como um processo de politização, pois se baseia na ação política como forma de estabelecer movimentos emancipatórios e de transformação social e do estabelecimento de novos patamares de relação com a natureza. A Educação Ambiental se constitui como uma prática duplamente política por integrar o processo educativo, que é inerentemente político e a questão ambiental que também tem o conflito em sua origem (LIMA, 2004). 35 A despolitização do debate ambiental é um dos motivos que estimularam a reflexão comparativa entre uma Educação Ambiental conservadora e a possibilidade de uma libertadora. Para Loureiro (2004), a Educação Ambiental convencional: Está centrada no indivíduo e enfatiza o ato educativo enquanto mudanças de comportamentos compatíveis a um determinado padrão idealizado de relações com a natureza, reproduzindo o dualismo natureza-cultura, com uma tendência a aceitar a ordem social estabelecida sem crítica às suas origens históricas. A Educação Ambiental transformadora enfatiza a educação enquanto processo permanente, cotidiano e coletivo pelo qual agimos e refletimos, transformando a realidade de vida. A educação pode ser conservadora ou emancipatória (superadora das formas alienadas de existência), pode apenas reproduzir ou transformar-nos pelas relações no mundo. (LOUREIRO, 2004). Para De Luca et al. (2012): Educadores ambientais, inspirados na educação dialógica da pedagogia libertária de Paulo Freire, buscam o desembrutecimento que processos pedagógicos coletivos podem estimular em seus participantes, tornando estes espaços de interação uma fonte de alimento intelectual, afetivo e racional, como forma de fortalecimento dos indivíduos, permitindo-nos enfrentar questões cotidianas comumente marcadas por injustiças socioambientais de forma mais equilibrada (DE LUCA et al. 2012). A proposta freireana de educação problematizadora através da conscientização é processo pelo qual o povo, entendido como composto por sujeitos conscientes, alcança uma compreensão cada vez mais profunda, tanto da realidade sócio histórica que configura suas vidas, como da sua capacidade para transformar essa realidade. 36 6 EDUCAÇÃO AMBIENTAL POPULAR Fonte: belasmensagens.com.br Educação Popular, nome muito usado no senso comum, é escrito aqui com as iniciais maiúsculas. Ao falar suas experiências, tomo dois exemplos concretos: o Movimento de Educação de Base (MEB) e os trabalhos feitos com o Método Paulo Freire. É fato que a Educação Popular se configura e reconfigura como algo próprio à história da Educação, porém, pelo seu viés de atuação com as classes populares, não tem tido a relevância necessária por estar dirigida aos sujeitos excluídos do processo educativo, não tendo aparecido como área do conhecimento de importância primordial em universidades. Nesse sentido, falar em Educação Popular é falar impreterivelmente do legado do educador Paulo Freire (1921-1997), que trouxe importantes reflexões sobre os sujeitos postos à margem da sociedade do capital. Por entender as classes populares como detentoras de um saber não valorizado e excluídas do conhecimento historicamente acumulado pela sociedade, nos mostra a relevância de se construir uma educação a partir do conhecimento do povo e com o povo provocando uma leitura da realidade na ótica do oprimido, que ultrapasse as fronteiras das letras e se constitua nas relações históricas e sociais. 37 Nesse sentido, o oprimido deve sair desta condição de opressão a partir da fomentação da consciência de classe oprimida. A teoria e a prática da Educação Popular, fundadas sobre os termos acima aparecem de maneira ainda mais precisa nas ideias de Paulo Freire. Segundo Brandão (1990), é possível que até hoje não tenha havido ainda uma forma de trabalho com os subalternos por meio da educação tão claramente definida como a do Sistema Paulo Freire. De uma aparência da proposta simples de um “método de alfabetização”, o que Paulo Freire introduziu nos trabalhos de educação foi, mais do que a Educação de Base do MEB, uma transformação radical não só do trabalho pedagógico do educador (uma nova pedagogia), mas do sentido e do uso político da educação (e uma nova práxis de compromisso popular através da educação) (BRANDÃO, 1990). Nesse sentido as práticas de alfabetização desenvolvidas na perspectiva freireana denunciam, claramente, o caráter reprodutivista e classista da ideologia dominante, que estava presente nas diretrizes educacionais oficiais e que visava a continuidade das condições de exploração e a submissão pacífica dos setores populares a esse status quo (FREIRE, 1992, 1980; PAIVA, 1973). De outro lado ou, muitas vezes, conjuntamente, é na Educação Popular que se encontra o compromisso de tornar as condições concretas de vida, destes setores, como a matéria-prima a estar presente nas situações de aprendizagem e nos conteúdos dos diferentes materiais pedagógicos, assim como das análises conjunturais e estruturais que se faziam à época. Ao fazer isto, os trabalhos de Educação Popular iniciam, junto aos mais variados setores populares, processos intensos de discussão, análise e reflexão. Isto, por sua vez, potencializa processos de conscientização e participação destas pessoas, que passam a entender – dentro de uma perspectiva histórico-social crítica – as razões e os porquês delas estarem vivendo em situações desumanas e de exploração. Ao entenderem isto, começam a eliminar o caráter de psicologização das explicações vigentes ou mesmo dos inúmeros fatalismos propagados pela ideologia dominante, e, portanto, passam a divisar alternativas de mudança e de melhoria para suas vidas. Assim, dentro dos trabalhos da Educação Popular aliados às práticas da alfabetização, nesta concepção histórico-social crítica, presenciamos a busca e a 38 criação de novos métodos e teorias, de inspiração e historicidade nacionais, que passam a substituir ou, ao menos, fazer frente à forte importação dos modelos estrangeiros àquela época, nos diversos campos profissionais e, entre eles, também no campo da educação (BEZERRA, 1980). Segundo Costa (1977), “A Educação Popular supõe que as camadas de populações mais marginalizadas e mais pobres se apropriem de um novo saber- instrumento; um saber que pode ser usado diretamente na realização dos objetivos sociais destas camadas”. Carlos Brandão diz que, é novo porque, qualquer que seja a situação atual de um grupo popular, ele possui o seu saber: Suas técnicas de vida e de trabalho; Suas normas culturais de controle do comportamento nas relações sociais; Sua ideologia, ou seja, o seu modo próprio - embora imposto por outras classes sociais - de compreender o seu mundo e participar em sua sociedade. Muitasvezes é a este conjunto de conhecimentos do povo que se dá o nome de cultura popular (BRANDÃO, 1990,). Entendemos a Educação Popular como um processo que nasce da prática e uma reflexão teórica para voltar logo a essa prática na forma de elementos que a orientem; um processo vivo em que o povo educa a si próprio com a colaboração sempre que necessária de pessoas e/ou de organismos que se identificam com suas aspirações e que se inserem para a ação organizada. Não se reduz a um simples método de trabalho, o que facilitaria a cooptação de seus elementos meramente formais pelo sistema dominante e sua rede de intervenção social. Ela exige um projeto político pedagógico das classes populares. Ora, tanto nos primórdios da Educação Popular no Brasil quanto hoje em dia, duas ideias sempre tiveram presentes pelo menos nas bases teóricas dos promotores de trabalhos de Cultura Popular através da Educação Popular. Primeiro, a ideia de que os verdadeiros valores para o povo são os seus próprios valores, a partir de seus modos próprios de viver e explicar a vida. Segundo, a ideia de que este saber que existe como valor da cultura do povo, ou como a sua ideologia, no estado em que está por causa da posição subalterna que sujeitos e grupos dominados ocupam na sociedade desigual, não é suficiente nem 39 adequado para traduzir para o povo a sua posição na sociedade, as causas estruturais da desigualdade e as articulações necessárias para a quebra da hegemonia da dominação (BRANDÃO, 1990). Portanto, uma prática consequente da Educação Popular deve partir não apenas do saber popular constituído da cultura do povo, mas dos dados reais da vida cotidiana que constituem e renovam sem cessar este saber e a cultura que ele cria e onde existe. Nesse sentido, ela deve partir também dos projetos populares de atualização social; do Estado e das condições concretas de sua formação, de sua mobilização de dentro para fora, e não de objetivos por meio de etapas definidas segundo os interesses políticos - servir a outras classes - ou pedagógicos -“mostrar serviço” para o povo. Começando das condições de vida e de trabalho político, dos valores e do modo de saber real, deve criar situações em que tudo isso seja instrumentalizado, atualizado. Sendo um programa de Educação Popular, deve levar em conta a existência de sistemas próprios de educação do povo, de formas próprias de criação e reprodução do saber entre grupos subalternos (BRANDÃO, 1990). Assim, existem modalidades efetivamente populares de Educação Popular, então nossos esquemas de referências precisariam ser revistos. Sobre um modelo de oposições baseado no par Educação Fundamental X Educação Popular podemos construir outro modelo: Educação Fundamental X Educação Popular X Educação de Classe - ou educação do povo. Melhor ainda, seria pensar num modelo mais coerente, contudo o que tem sido sugerido até aqui: Educação Fundamental X Educação Popular X Educação de Classe (BRANDÃO, 1990). Os sistemas educacionais, os movimentos educativos que influem sobre a sociedade a que servem e, refletem as condições sócias econômicas políticas da sociedade. As características dos diversos períodos da história da educação de um país acompanham seu movimento histórico, suas transformações econômicas e sociais, suas lutas pelo poder político. Toda educação provém de uma situação social determinada e as metas educacionais, a política da educação e a orientação do ensino mostra de forma clara o seu caráter histórico. (PAIVA, 1973). 40 Um dos dilemas das experiências atuais de Educação Popular é que, incluindo ou não trabalhos pedagógicos de escolarização (alfabetização, pós-alfabetização etc.), dirigindo-se às classes e comunidades pobres e subalternas: a) procuram ser um serviço de transmissão de saber e de reforço de organização, de mobilização popular de acordo com interesses identificados como “do povo” ou da comunidade; b) procuram partir dos valores de comunidade (a cultura do povo) para produzirem a seu serviço, valores comunitários de teor político (a Cultura Popular); c) oscilam, na prática e no concreto, entre valores do sistema (de que querem se libertar) e valores de classe (das classes subalternas com que se querem comprometer). Esta oscilação se dá porque, na verdade, o trabalho de Educação Popular muitas vezes não parte de uma fonte real do poder social. Poder este que existe como poder dominante, nas classes e nas agências de mediação dos interesses do capital, entre elas, as de educação. Poder este que existe como poder dominado (poder dos fracos, dos subalternos, dizem alguns) nas classes e nas agências de dos interesses do trabalho (das classes trabalhadoras), entre elas, a Educação Popular. Assim, o que existe de real no campo dos enfrentamentos políticos de classes são organizações, mobilizações, formas de saber, tipos de educação do sistema, ou das classes subalternas: educação escolar formal X educação de classe. De um lado ou de outro, do capital e do trabalho é que partem projetos históricos de preservação ou de transformação da ordem social. (BRANDÃO, 1990). Todo trabalho com o povo feito por agentes sociais eruditos (o educador popular é um bom exemplo), que pretende colocar-se “do lado do povo”, em compromisso político com ele, não pode possuir outros objetivos que não sejam os de colocar-se como instrumentos de apoio e instrumentalização dos espaços e organizações populares de trabalho político. No dia-a-dia da vida dos programas de Educação Popular, o que sempre existe é uma negação teórica, muitas vezes, também, prática, de qualquer tipo de compromisso com os valores do sistema, associada à dificuldade de se assumir integralmente valores e compromissos orgânicos das classes populares a que se dirigem. Não foram poucos os programas de Educação Popular que são, direta ou indiretamente, absorvidos pelos valores e lógica do sistema, colocando-se apenas como uma de suas expressões pedagógicas “mais avançadas”. 41 Também não são poucos aqueles se sentem ameaçados quando se voltam à formulação de seus próprios projetos históricos de mudança estrutural, em direção a “libertação do povo”. Estes programas, ao invés de somarem forças com o próprio trabalho popular, acabam defendendo ideias e interesses parciais, como os de uma igreja, do corpo discente, de um partido e assim por diante. A tentação de um profetismo míope existe sempre também na educação (BRANDÃO, 1990). 7 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E OS PRINCÍPIOS ECOLÓGICOS O termo “Ecologia” foi cunhado pela primeira vez em 1866, na obra Morfologia Geral dos Organismos, do biólogo Ernest Haeckel. Haeckel, pesquisador que propunha a criação de uma nova disciplina científica que estudaria as relações entre as espécies animais e o meio orgânico e inorgânico no qual estavam inseridas (CARVALHO, 1998). Reforça Carvalho, quando afirma que, a ecologia tem seu nascimento “oficial” em 1866, quando, pela primeira vez, o biólogo alemão Ernest Haeckel, importante difusor das ideias de Charles Darwin, usa o conceito ecologia na literatura científica ao afirmar: “Por ecologia, entendemos a ciência das relações dos organismos como mundo exterior”. Este conceito foi se tornando complexo, ao longo do tempo, sem perder o seu sentido original (CARVALHO, 1998). Neste contexto, Carvalho (1998) apresenta os seguintes questionamentos: onde se situa a ecologia? Afinal, por que esta ciência que emergiu tímida como mera especialização da biologia, terminou alcançando tanta visibilidade e foi até mesmo associada a uma proposta de mudança social? Como foi que a ecologia-ciência se prestou a nomear todo um movimento social de contestação do modo de vida moderno e de busca de uma nova aliança com a natureza? A ecologia passou, em pouco mais de um século de existência, por diversas modificações teórico-metodológicas,sendo que sua constituição como disciplina científica parece representar uma descontinuidade em relação às outras disciplinas das ciências da vida (COUTINHO, 1992). Hoje, de um modo geral, se compreende ecologia como o estudo das relações que os seres vivos mantêm entre si e com o meio ambiente. Formada pela reunião das palavras gregas logos (que significa estudo) e oikos (que significa morada, casa), 42 a ecologia nomeia o estudo do lugar que os seres habitam, também chamado pela ciência de ecossistema. Esta casa comum dos seres vivos compreende tanto as relações que compõem um ecossistema específico como também pode abranger muitas outras inter-relações entre os ecossistemas que constituem o planeta Terra. Mais recentemente o conceito de ecologia vem se ampliando e já há autores que consideram vários níveis de relações ecológicas, incluindo além de uma ecologia estritamente ambiental, uma ecologia social e até mesmo uma ecologia mental. Carvalho diz que: Voltando as origens da ecologia, uma coisa curiosa a respeito de Haeckel é que além de cientista ele também era um membro influente da Liga Monista. O monismo era uma filosofia, que postulava uma visão unificada e equilibrada de todo o universo. Para os monistas tudo o que existia no mundo era feito da mesma matéria. Portanto todos os seres vivos tinham o mesmo valor na ordem natural. Além disso, tomavam a natureza como fonte de verdade e modelo para a vida humana. (1998, apud Barbosa Joslin e Castro Roma, 2017). O desenvolvimento da ecologia passa por muitos outros nomes importantes das ciências naturais. Do mesmo modo, as discussões que se constituem no que cerne da construção do saber ecológico são bastante complexas. Mas, de um modo geral, poderíamos dizer que a trajetória desta nova ciência se caracteriza por tentativas de alcançar níveis cada vez maiores de complexidade na compreensão da vida e de sua organização no planeta. Assim, do estudo de ecossistemas singulares (unidades botânicas simples, por exemplo), a ecologia caminhou para o estudo de totalidades mais complexas e inclusivas, como é o caso das noções de biosfera, ecossistemas e da hipótese Gaia. A ecologia, desta forma, embasa o surgimento de uma ciência multidisciplinar, isto é, constituiu um campo de saber onde convergem outros saberes científicos como a física, a química, a botânica, a geologia, a economia. Afinal um estudo da vida diz respeito a numerosos domínios do saber científico. Nesta busca de compreender cada vez mais dimensões que constituem as cadeias de relações na biosfera, a ecologia inclui a presença humana entre seus estudos. As comunidades humanas estão inseridas nos diversos ecossistemas, fazem parte dos ciclos naturais e interagem ativamente com o meio ambiente. A capacidade 43 humana de transformar e ser transformado pelas condições naturais não pode ser ignorada por essa ciência da vida. Desta forma, não apenas a natureza, mas os seres humanos e, por conseguinte, as culturas e as sociedades dizem respeito à ciência ecológica. Carvalho (1998), nos apresenta uma interessante contribuição do geógrafo contemporâneo, Pierre Gouru: "não há crise no uso da natureza que não seja uma crise no modo de vida do homem". Aqui começamos a perceber como o olhar sistêmico que nasce com a ecologia, enquanto estudo das relações, ultrapassou os experimentos e modelos científicos e acabou sendo tomado de "empréstimo" pelo debate sobre os rumos da sociedade. Não é à toa que a palavra ecologia acabou "migrando" do vocabulário científico para designar também projetos políticos e valores sociais como: utopia da boa sociedade; convivência harmônica com a natureza; crítica aos valores da sociedade de consumo e ao industrialismo. Percebe-se que uma das coisas que o olhar ecológico ajudou a evidenciar foi a estreita conexão entre os processos naturais de degradação ambiental e os modos sociais de uso dos recursos naturais. O que passou a se constituir enquanto uma problemática socioambiental decorre de uma noção de meio ambiente que colocou a ação humana e a história no centro do processo de conhecimento. Desse ponto de vista, os problemas ambientais são o testemunho vivo de uma racionalidade, cuja expressão econômica encontra seu modelo mais acabado no capitalismo industrial. Assim, os problemas ambientais ameaçam não apenas o futuro físico do planeta, mas, em igual intensidade, questionam o futuro dos valores de nossa sociedade e apontam para a necessidade de uma profunda reorientação nos modos socialmente construídos de conhecer e de se relacionar com a natureza. Nesse sentido, a crise ambiental vem se impondo como um problema que começa a ser levado a sério pelos governos e pelas populações porque está pondo concretamente em risco a vida de muita gente. (CARVALHO, 1998). Neste sentido, os problemas ambientais denunciam desigualdades profundas no acesso das populações aos recursos da natureza e às boas condições ambientais. As lutas de comunidades em torno de saneamento básico, remoção de depósitos de lixo de áreas densamente povoadas, despoluição de mananciais são alguns exemplos 44 disso. Embora o direito a um meio ambiente saudável esteja previsto na Constituição Federal de 1988, na vida das populações menos favorecidas esta é uma condição a ser duramente conquistada. É isto o que mostram as experiências populares de luta pelo meio ambiente, lutas como dos ribeirinhos da várzea do município de Santarém, que definiram regras na utilização dos recursos naturais deste ecossistema e tentam impedir práticas de pesca predatória. Em termos globais, também é possível traçar um mapa dos benefícios e dos prejuízos ambientais verificando como essa distribuição afeta desigualmente as sociedades. É bem verdade que há vários processos em curso, como o aquecimento global, a progressiva escassez de água limpa ou o esgotamento dos solos férteis, que no limite, podem pôr em risco a sobrevivência de todos. Muito se tem falado em Educação Ambiental sobre as relações entre a natureza e a cultura. Tematizar a questão, numa abordagem interdisciplinar, requer um esforço de sintonia com o mundo da vida, isto é, buscar compreender essas relações a partir da ótica da complexidade e da diversidade (CARVALHO, 1998). Afirmar isto significa que a problemática ambiental é herdeira direta da irracionalidade do atual modelo de desenvolvimento e de sua superestrutura, responsável pela exploração irracional e desordenada dos recursos naturais, para atender as demandas de produção e reprodução do capital. A degradação do ecossistema planetário revela-se um problema estrutural do capitalismo. Segundo Carvalho, é comum encontrarmos no debate ambiental uma visão apocalíptica de meio ambiente na qual a única alternativa é o domínio de um dos polos da relação natureza e cultura sobre o outro. Já ouvimos afirmações como: o homem é o câncer do planeta, a civilização humana vai esgotar os recursos naturais até que não haja mais possibilidade de vida sobre a Terra, estamos muito perto de uma vingança da Terra; um cataclismo ecológico é o fim da espécie humana sobre o planeta, etc. (CARVALHO, 1998). A maior ameaça à sobrevivência de espécies em extinção, em nível global, é a destruição de seus habitats naturais. Como regra, estão entre os numerosos problemas que a humanidade criou, como consequência de sua busca incessante de evoluir e se desenvolver (Mendonça, 2005). As questões ecológicas, a destruição dos habitats naturais vem ganhando um espaço maior de debate na sociedade contemporânea. Era de se esperar, diante das discussões e da preocupação com a preservação da natureza, que houvesse uma 45 conscientização maior dos problemas do meio ambiente junto às populações e uma maior efetivação de políticas e práticas que tivessem como objetivo resolver os problemas ambientaismais urgentes. A proteção de habitats demanda ação em todas as áreas do problema: conduzir pesquisa biológica a fim de aumentar o conhecimento sobre as espécies da comunidade e sua interdependência; implementar manejo e proteção do habitat e das espécies-chave a longo prazo e, principalmente, conquistar apoio dos indivíduos responsáveis pela destruição. Sem apoio público, pesquisas biológicas e esforços para projeção e manejo não resultarão na conservação de habitat em longo prazo. (DIETS; NAGAGATA. 1997). O interesse humano estimulado por espécies “atraentes” pode ser usado como base para educar o público sobre o sistema global: o inter-relacionamento entre vida selvagem, pessoas e ambiente. É o equilíbrio do sistema que deve ser preservado, não somente espécies individuais. (DIETS, NAGAGATA. 1997). Carvalho (1998), esclarece que um dos maiores desafios da Educação Ambiental é aliar a educação dos afetos, que forma pessoas amorosas e sensíveis à natureza, a uma educação para a cidadania, que forma sujeitos atentos aos problemas socioambientais e capazes de interferir nas decisões da sociedade. O ideal da Educação Ambiental seria formar cidadãos amorosamente engajados na transformação das relações da sociedade com a natureza. A pequena frase, tão fértil, tão repetida, tão fecunda, tão conhecida: “pensar globalmente, agir localmente”, deveria ser tomada como um de nossos lemas, em um duplo sentido. O primeiro, de maior conhecimento pelo senso comum, como participantes multivariados da “causa da vida”, sabemos bem qual seja. É do segundo sentido que passamos a discutir aqui (BRANDÃO, 1997). Segundo Brandão, a ideia que a palavra “global” pretende traduzir entre nós, por certo, aproxima-se mais da palavra “planetário’, quem sabe “cósmico”, por que não? E se existe nela um sentido mais do que apenas holístico, que sugere tudo envolver, tudo englobar em uma única, imensa, terrena e transcendente unidade de todas as formas e todas as vocações da Vida, da Energia e do mistério do Ser, há nela também um outro mesmo sentido. Ele é mais culturalmente social, mas, nem por isso, menos importante. Ainda mais para nós todos, pessoas devotadas a alguma das muitas possibilidades de uma Educação Ambiental. (BRANDÃO, 1997). Mas uma primeira lição que a ecologia ensina é que somos apenas parte de uma grande teia, feita do entrelaçamento de paisagens e vidas humanas, relevos e 46 emoções, geografias e histórias, biologias e arquiteturas, natureza e artifício. Precisamos cada vez mais recriar, juntos, irmanados, um novo sentido sobre todas as coisas. Ele não virá da iluminação de uma única pessoa. Não terá a forma de uma única teoria sobre a vida. Não estabelecerá uma única doutrina (e tudo seria negado, se fosse assim). Não implantará uma única escola de pensamento. Não apontará para uma relação única de princípios. Não constituirá um corpo único de valores. Virá do que exatamente está sendo sentido e pensado, vivido, trocado e experimentado entre nós, seres humanos, e entre nós e todos os seres da vida, quaisquer que sejam. Virá de nossas experiências, por pequeninas e por efêmeras que pareçam algumas. Virá por meio da construção solidária de nossas ideias, de nossas múltiplas, infinitas vivências como educadores ambientais e como guardiões da vida. (BRANDÃO, 1997). Brandão diz que, somos, antes de mais nada, isto: uma rede. Quase gostaria de dizer: uma tribo. Mas ainda prefiro a primeira palavra. Ela é mais conhecida entre nós e traduz de maneira mais feliz o que somos. “Pensar globalmente” deve significar, também, este pensarmo-nos como uma geração de criadores de novos tempos, espalhados por todo o canto. A melhor terra nos abriga e estamos espalhados por toda Ela, por todo este país muito grande e muito desigual, para sermos não menos do que isto: os porta- vozes de uma relação recriada de amor entre todos nós, e entre nós todos e toda a vida. Não menos do que isso. (BRANDÃO, 1997). Brandão afirma que a Educação Ambiental de maneira alguma deveria ser “mais uma matéria na grade curricular”, mas, ao contrário, “uma nova energia atravessando todos os campos e planos de educação” (BRANDÃO, 1997). A Educação Ambiental propicia o aumento de conhecimentos, mudanças de valores e o aperfeiçoamento de habilidades, que são condições básicas para que o ser humano assuma atitudes e comportamentos que estejam em harmonia com o meio ambiente. (PADUA; TABANES, 1997). Neste sentido, a essas diferentes formas de viver, de pensar a vida, de relacionar-se com os outros humanos e com a natureza vão chamar de cultura, e não existe uma única cultura humana, mas muitas. Cada cultura está relacionada com a particularidade dos diferentes grupos humanos. 47 E, ao mesmo tempo, a cultura tem a ver com a singularidade do encontro entre esses grupos e o ambiente natural específico onde habitam, isto é, o lugar do planeta onde vivem. Assim, nessa viagem panorâmica pelo globo terrestre pode-se notar uma imensa variação de paisagens e de grupos. A fim de buscar respostas a muitos dessas questões, realiza-se, em 1972, a Conferência de Estocolmo. Desde então, a Educação Ambiental passa a ser considerada como campo da ação pedagógica, adquirindo relevância e vigência internacionais (MEDINA, 1997). No Brasil em 1973, cria-se a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), no âmbito do então Ministério do Interior, que, entre outras atividades, realiza Educação Ambiental e preocupa-se em definir seu papel no contexto nacional (MEDINA, 1997). A década de 1980 caracteriza-se por uma profunda crise econômica. Globalidade dos fenômenos ecológicos, as inter-relações entre economia, ecologia e desenvolvimento, políticas ambientais e cooperação internacional. As relações entre a economia e a ecologia levam à necessidade de adoção de um novo sistema de contabilidade ambiental e novos indicadores de bem-estar social e econômico. (MEDINA, 1997). Os educadores são profissionais da prática que têm uma legítima preocupação: Como fazer Educação Ambiental, ou uma ação educativa interdisciplinar, ou renovar a ação pedagógica, etc.? Essa vontade de mudar vem acompanhada, muitas vezes, de uma expectativa de ver descritos procedimentos relativos à certa orientação pedagógica. Mas sabemos também que quando as metodologias se transformam em receituários de atividades a serem reproduzidos perdem muito de sua capacidade de provocar inovações. A construção de práticas inovadoras não se dá tanto pela reprodução de modelos prontos, mas pela recriação e readaptação de um conjunto de princípios pedagógicos nas diferentes realidades. E isso passa, em grande parte, pela troca de experiências com outros educadores, pelo conhecimento dos caminhos que estão sendo tentados e, também, pela avaliação das próprias iniciativas. Essa indicação deve-se ao fato de que existem os diagnósticos socioambientais, um dos recursos metodológicos que podem servir a uma Educação Ambiental interdisciplinar, busca construir uma ação pedagógica em sintonia com o 48 mundo da vida dos sujeitos concretos, levando essas experiências a uma prática pedagógica afinada com a interdisciplinaridade. Para Loureiro (2012), há uma intenção ao trazer a ecologia política para o título. Primeiro, a de levar a público um conceito e uma discussão fundamental para quem politizar os debates em torno da sustentabilidade. Segundo, a de enfatizar seu próprio significado estratégico. A ecologia política se refere nada mais nada menos, do que ao estudo e o reconhecimento de que agente sociais com diferentes e desiguais níveis de poder e interesses diversos demandam, na produção de suas existências, recursos naturais em um determinado contexto ecológico, disputando-os com outros agentes. É nesse movimento dinâmico, contraditório e conflituoso, que uma organização social se estrutura e éestruturante das práticas cotidianas é ou pode ser superada. (LOUREIRO, 2012). Portanto, há a imposição ideológica de verdade de classes ou frações de classes controladoras do mercado e de certos aparelhos do Estado; crença dogmática de que a tecnologia e a ciência resolverão os problemas ambientais, como se fossem produzidas e utilizadas de forma neutra, em nome do bem da humanidade e da proteção à vida. Loureiro (2012) diz que, este argumento, que por sua vez são trazidos junto com uma boa descrição fenomênica. Em consonância com a tradição crítica, a constituição do ambiente como bem comum, a produção de condições dignas para todas as pessoas sem destruir a base natural e o respeito a diversidade cultural, pressupostos para uma sociedade sustentável, se dão por meio de movimentos sociais e coletivas e cotidianas, pelos quais formamos nossas individualidades, que objetivam rupturas com os padrões atuais de sociabilidade. E é nesse processo, em sua unidade complexa, que se pode apreender a relevância, sim, mas não somente, da ética, da ciência, da tecnologia e do comportamento individual. (LOUREIRO, 2012). O objeto de escolha do pensamento ecológico atualmente não se situa mais entre desenvolvimento ou proteção do meio ambiente. A escolha se coloca precisamente entre que tipo de desenvolvimento se deseja implementar de agora em diante, uma vez que, após a criação das tecnologias limpas, desenvolvimento e meio 49 ambiente deixaram de ser considerados como duas realidades antagônicas, e passaram a ser complementares. (LAYRARGUES, 1997). 8 O QUE É MEIO AMBIENTE? Para esta pergunta poderemos obter as mais diferentes e variadas respostas, que indicam as representações sociais, o conhecimento científico, as experiências vividas histórica e individualmente com o meio natural. Para a realização da educação ambiental popular, é importante termos um conceito que oriente as diferentes práticas. Assim, definimos meio ambiente como o lugar determinado ou percebido onde os elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em interação. Essas relações implicam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de transformação do meio natural e construído. Encontra-se na (ISO 14001:2004 - norma técnica que estabelece os requisitos para um sistema de gestão ambiental) com a seguinte definição sobre meio ambiente: “circunvizinhança em que uma organização opera, incluindo-se ar, água, solo, recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas inter-relações.” Uma organização é responsável pelo meio ambiente que a cerca, devendo, portanto, respeitá-lo, agir como não poluente e cumprir as legislações e normas pertinentes (ISO 14001). Nesta definição de meio ambiente fica implícito que: Ele é "determinado": - quando se trata de delimitar as fronteiras e os momentos específicos que permitem um conhecimento mais aprofundado. Ele é "percebido" quando cada indivíduo o limita em função de suas representações sociais, conhecimento e experiências cotidianas. As relações dinâmicas e interativas indicam que o meio ambiente está em constante mutação, como resultado da dialética entre o homem e o meio natural. Isto implica um processo de criação que estabelece e indica os sinais de uma cultura que se manifesta na arquitetura, nas expressões artísticas e literárias, na tecnologia, etc. 50 Transformação o meio, o homem é transformado por ele. Todo processo de transformação implica uma história e reflete as necessidades, a distribuição, a exploração e o acesso aos recursos de uma sociedade. A definição de meio ambiente acima exige um aprofundamento teórico que conta com a contribuição de diferentes ciências que se aglutinam no que se convencionou chamar de Ciência Ambiental. Tem se tornado cada vez mais claro e consensual que a Ciência Ambiental só se realizará através da perspectiva interdisciplinar. A problemática ambiental não pode se reduzir só aos aspectos geográficos e biológicos, de um lado, ou só aos aspectos econômicos e sociais, de outro. Nenhum deles, isolado, possibilitará o aprofundamento do conhecimento sobre essa problemática. À Ciência Ambiental cabe o privilégio de realizar a síntese entre as ciências naturais e as ciências humanas, lançando novos paradigmas de estudo onde não se "naturalizarão" os fatores sociais e nem se "socializarão" os fatores naturais. Diferentes áreas de estudo de disciplinas diversas podem contribuir para o desenvolvimento da Ciência Ambiental dentro da ideia de interdisciplinaridade. No entanto, esta ideia enfrenta algumas dificuldades para se concretizar, tanto em nível teórico como em nível prático. Se, atualmente, temos cada vez mais trabalhos teóricos que se baseiam no conhecimento acumulado nas diferentes ciências (incluindo as exatas), podemos ainda notar a dificuldade para muitos autores se lançarem nas ciências que não dominam com a mesma profundidade atingida nas suas especialidades. Esses autores não ousam trilhar por ciências onde não terão o mesmo reconhecimento de seus pares e ainda serem alvos fáceis de críticas dos especialistas dessas outras ciências. Devemos também considerar o extremo corporativismo ainda presente nos meios acadêmicos e científicos, que impede a troca de experiências e informações entre cientistas de especialidades diferentes e supostamente antagônicas. A Ciência Ambiental exige dos atores envolvidos conhecimento aprofundado, espírito curioso e modéstia diante do desconhecido. Na sua fase atual, que é de busca da síntese e da perspectiva interdisciplinar, é fundamental a troca de conhecimentos 51 de origens científicas diversas, possibilitando dar algumas respostas às complexas questões que fazem parte do seu quadro teórico. 9 ALGUNS PARADIGMAS DA CIÊNCIA AMBIENTAL 9.1 Desenvolvimento sustentável e sustentabilidade Discernir entre sustentabilidade e desenvolvimento sustentável é ainda questão em discussão e, por vezes, apresenta-se em mistura ou recombinação de sentidos. Há que se distinguir crescimento e desenvolvimento, onde o primeiro é baseado na expansão e o segundo como a realização de um potencial. Segundo Barbieri e Silva (2011), crescimento é entendido como aumento da riqueza de uma nação, enquanto desenvolvimento é entendido como uma mudança na qualidade de vida da população. Desta forma, o desenvolvimento sustentável não pode ser medido ou caracterizado de forma associada diretamente a crescimento, esse muitas vezes medido primordialmente pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), pois crescimento não asseguraria o fim da desigualdade, da pobreza e da degradação do meio ambiente. Barbieri e Silva (2011) discorrem, inclusive, sobre os conceitos, significados e interpretações do desenvolvimento sustentável que o interpretam como sustentar o crescimento. Ao contrário, posicionam-se pela proposta de diferença entre crescimento e desenvolvimento sustentável por este buscar alcançar os objetivos tradicionais de desenvolvimento acrescidos da sustentabilidade ecológica. O progresso e o crescimento populacional trouxeram consigo uma grande preocupação sobre como continuar se desenvolvendo/crescendo com qualidade sendo que os recursos estão cada vez mais escassos. O conceito da sustentabilidade surge, então, com a necessidade de desenvolver atividades que durem a longo prazo, se auto mantendo, abastecendo o presente e preservando a sobrevivência futura da atividade. O desenvolvimento sustentável propõe a sustentabilidade em todos os setores, em especial nos recursos naturais como a agricultura e também dos recursos não renováveis, como a água, ar, solo, pois são essenciais à vida humana e precisam ser sustentáveis para atender às necessidades básicas de sobrevivência humana. 52 Ao se conceituar o desenvolvimento sustentável é precisoser amplo e generalista, levando em consideração uma série de fatores que se interligam. O desenvolvimento sustentável, para apresentar os resultados esperados, necessita da colaboração de todos, uma ação conjunta para o bem comum. O desenvolvimento sustentável possui muitas definições que esclarecem a amplitude do conceito e suas discussões, no entanto tudo se restringe a uma única ideia: que o desenvolvimento presente ocorra gerando sustentabilidade futura. Sinteticamente, o desenvolvimento sustentável visa promover o atendimento das necessidades presentes, garantindo a continuidade dos recursos para as gerações futuras. Entende-se por necessidades tudo aquilo que o ser humano precisa para sobreviver e ter uma adequada qualidade de vida. No ambiente atual percebe-se a urgência da aplicação dos conceitos básicos do desenvolvimento sustentável. Segundo Philippi 2001, São várias as concepções do conceito de desenvolvimento sustentável, levanta algumas definições: para os ambientalistas o desenvolvimento sustentável é conjunto de transformações que deve ocorrer em relação ao consumo e produção, para que se inverta o quadro de degradação ambiental e a miséria social, determinando as novas prioridades da sociedade alinhadas a uma nova ética de comportamento humano e ações, pensado nos interesses sociais, coletivos. Para Márcio Fortes (Coordenador do Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável) trata-se do alinhamento da economia com o meio ambiente, ou seja, a integração de critérios econômicos às práticas ecológicas, apoiada no desenvolvimento, reduzindo a miséria e não poluindo. A CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) afirma que o desenvolvimento sustentável é um progresso da competitividade mundial, no qual o meio ambiente é um meio econômico que assegura a sobrevivência e o desenvolvimento, o ser humano e é entendido como capital humano. Segundo Philippi 2001, é oriundo da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento que define o desenvolvimento sustentável como “aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”. Desenvolvimento sustentável foi definido pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Brasil, 2001) como sendo o “desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações 53 futuras de suprir suas próprias necessidades”, e continua citando os nove princípios para se alcançar o desenvolvimento sustentável: Princípio fundamental: Respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos. Critério de sustentabilidade Melhorar a qualidade de vida humana. Conservar a vitalidade e a diversidade do Planeta Terra. Minimizar o esgotamento de recursos não-renováveis. Permanecer nos limites de capacidade de suporte do Planeta Terra. Meio para se chegar à sustentabilidade Modificar atitudes e práticas pessoais. Permitir que as comunidades cuidem de seu próprio ambiente. Gerar uma estrutura nacional para integração de desenvolvimento e conservação. Constituir uma aliança mundial. O uso racional, o não desperdício, a preocupação com a qualidade de vida das próximas gerações são os princípios básicos da sustentabilidade; e termos como desenvolvimento sustentável, economia sustentável, sociedade sustentável e uso sustentável são tidos como sinônimos. Sartori, Latrônico e Campos (2014) apontam que as discussões e interesses atuais voltados para a sustentabilidade e desenvolvimento sustentável desmembram-se em diversas abordagens que estão diretamente vinculadas ao campo em que são aplicadas: Sustentabilidade econômica, sustentabilidade estrutural, sustentabilidade social, sustentabilidade ecológica, entre outras. Explicam, dessa forma, que a crescente diversidade de interpretações referentes à sustentabilidade resulta da apropriação do termo por interesses e necessidades de diferentes grupos, adotando significados e práticas que representam respectivos contornos de representação social quanto à sustentabilidade. A título de ilustração de interesses e necessidades de diferentes grupos, está o pioneiro termo triple bottom line, criado por Elkington em 1994, que declara a sustentabilidade como o equilíbrio entre três pilares: econômico, social e ambiental. Este tripé para a sustentabilidade impulsionou a elaboração de critérios e métricas 54 para uso em demonstrativos contábeis para avaliação do desempenho da empresa (SARTORI; LATRÔNICO; CAMPOS, 2014). A adoção exclusiva das três dimensões social, econômica e ambiental, transpostas também para a disseminação de ideias acerca do desenvolvimento sustentável, passa a deslocar a relevância dos caminhos e processos políticos, culturais, jurídicos e tecnológicos das condições institucionais formais e informais para permitir o desenvolvimento sustentável e formar capacidades para a sustentabilidade. Pilar da diversidade cultural: Baseia-se na diversidade cultural e na identidade cultural. Assegurando a representação e expressão cultural de todos os atores sociais, respeitando e conservando a história, memória e individualidade referentes aos povos e comunidades. Pilar institucional: A participação da sociedade é considerada como peça fundamental para tomada de decisões relacionadas ao bem comum, o que é de todos. Portanto, é relativa à todas as dimensões, baseando a participação e o controle sobre as decisões e mudanças, estabelecendo um processo político democrático para uma boa governança. Conduz, desse modo, políticas públicas, planos e programas coerentes às necessidades da sociedade em integração com todas as dimensões. Pilar espiritual: Visto como o antídoto necessário para neutralizar os impactos negativos do paradigma econômico dominante que valoriza o lucro mais que a vida. A razão para este domínio só foi possível por causa de uma falta de quaisquer orientações morais ou espirituais, considerando-se esse pilar espiritual como pertinente para a internalização dos valores que promovam e induzam ações para o desenvolvimento sustentável. 9.2 Desenvolvimento sustentável e governança A cooperação entre agentes sociais, econômicos e políticos em prol do desenvolvimento sustentável vem sendo fator recorrente quando se trata dos caminhos de sua implementação. Da mesma forma, o quanto, quando e como é realizada a participação social de tais agentes em ambientes e processos de decisão 55 visando a reflexão sobre escolhas em políticas, recursos, conhecimentos, tecnologias e formas de acompanhamento de processos e resultados em desenvolvimento sustentável. Cooperação e participação social são parte do conceito de governança, modulando a sua qualidade em processos e resultados de governança. E no âmbito do pilar institucional inclui-se o tema da governança enquanto processo de consulta e decisão sobre planejamento e implementação do desenvolvimento sustentável. Segundo Veiga o âmago da sustentabilidade está baseado em uma visão dinâmica mundial que engloba adaptações e transformações e, nesse sentido, afirma a importância de um mútuo avanço de discussões e entendimento sobre uma governança global com participação social ampla e sobre as condições para se estabelecer uma relação de cooperação efetiva entre seus diferentes atores. (Veiga 2014; apud Marella Corrêa e Almeida Ashley; 2018). Quanto à cooperação, Veiga (2014) utiliza-se das reflexões de Axelrod (1984 e 20104 apud VEIGA, 2014) para discutir a necessidade de cooperação entre sociedade, mercado, Estado e empresas. Em sua obra, foram definidos dois fatores importantes que geram a cooperação: o nepotismo, no sentido de cooperação por imposição; e a reciprocidade, em que se encaminha para um padrão comportamental dependente das ações dos atores envolvidos, onde há uma respostapositiva para ações positivas ou reações negativas para movimentos negativos. No que se refere à participação social no contexto da dimensão político democrática nas teorias de desenvolvimento sustentável, Frey (2001) apresenta quatro diferentes abordagens na literatura. A primeira abordagem para a participação social é no contexto do liberalismo, onde a racionalidade guia as escolhas individuais que estariam diretamente ligadas ao interesse coletivo. Esta abordagem não considera a intervenção do Estado em nenhum nível A subsequente abordagem para a participação social é situada no contexto do liberalismo progressivo, em que as escolhas individuais não bastariam para reconhecer os benefícios e os ônus das questões e decisões de bens comuns e bens difusos do meio ambiente em médio e longo prazos. Haveria, então, no liberalismo progressivo, o reconhecimento da necessidade de intervenções e regulação pelo Estado para que ocorra uma orientação sobre a apropriação dos custos ambientais e de garantias para a proteção ambiental da natureza. 56 Frey (2001) aponta a terceira abordagem, a tecnocrata, em que o desenvolvimento sustentável requer capacidade técnica e modelos adotados para aprimorar o processo de seu planejamento, acompanhamento e avaliação. A participação social, nessa abordagem tecnocrata, é restrita aos que tenham tais capacidades para opinar e executar os requisitos em técnicas e modelos de planejamento do desenvolvimento sustentável. A quarta abordagem para a participação social é a político-democrática que adota a participação de todos os atores sociais junto ao Estado de forma a exercer transformações e intervenções. Porém, essa visão requer uma governança democrática participativa que não tenha apropriações e monopólio de espaços públicos por determinados grupos e interessantes que exerçam uma dominação nos processos e arenas de participação social. Para isso, a governança democrática requer ampla transparência, controle social, participação social e educação política e ambiental para que haja transformação a partir do exercício permanente de escuta na diversidade de interesses e reconhecimento dos desafios para a conciliação de demandas atuais e futuras no desenvolvimento sustentável, alterando o que for necessário para tal conciliação no âmbito dos pilares ou dimensões do desenvolvimento sustentável. Cabe então destacar uma clara distinção entre a abordagem tecnocrata e a abordagem político-democrática quanto ao valor e às tonalidades de sentidos que destinam à participação social. Na comparação entre a abordagem tecnocrata, os atores que possuam acesso à informação e capacitação é que qualificam o planejamento para o desenvolvimento sustentável, havendo uma tendência à participação social controlada ou filtrada pelas lentes da tecnocracia. Em contrapartida, a visão político-democrática centra a participação social como eixo fundamental para que ocorra transformação nas políticas públicas coerentes e orientadas para o desenvolvimento sustentável e, assim, é a participação social que qualifica o planejamento (FREY, 2001). Veiga (2014) com base nos estudos da economista Elinor Ostrom, aponta que o desenvolvimento sustentável só seria possível com abordagens policêntricas para governança, articulando-se os níveis local, nacional, regional e global, com participação e controle social. 57 [...] o grande trunfo dessa abordagem policêntrica é o estímulo a esforços experimentais em vários níveis, que levam ao desenvolvimento de métodos para a avaliação dos custos e benefícios das estratégias específicas adotadas em um tipo de ecossistema, e compará-los com os resultados obtidos em outros. ” (VEIGA, 2014, apud Marella Corrêa e Almeida Ashley; 2018). 9.3 Participação social Os movimentos ecológicos surgidos nas sociedades capitalistas desenvolvidas nos anos 70 se caracterizam inicialmente por uma crítica ao modelo de sociedade industrial. A esse início "contracultura", foram se aglutinando tanto os movimentos preservacionistas de espécies animais e vegetais, como movimentos pacifistas e anti- nucleares. O surgimento e a evolução desses movimentos devem ser vistos dentro do contexto da participação civil em sociedades democráticas. A organização de grupos e a posterior constituição de "partidos verdes" só se tornaram possíveis graças à crescente mobilização da população frente a decisões do Estado. Nos países onde a democracia é incipiente, a organização da população se faz com resultados menos satisfatórios, mas não menos combativos. É importante assinalar que a visão de Estado e da participação da sociedade civil nas diferentes ideologias políticas, que se posicionam nos países da América Latina, influi na prática de organizações civis frente à questão ambiental. Se o que aparece com mais frequência é a ideia de autonomia frente ao Estado, no entanto ela apresenta conotações ideológicas muito diferentes. Num primeiro momento, tivemos a influência das ideias autonomistas surgidas nos anos 60, onde se caracteriza a perspectiva crítica ao Estado centralizador e autoritário, às suas opções de desenvolvimento e de saque ao meio ambiente com as suas consequências sociais. No entanto, esta posição mais crítica foi perdendo terreno nos últimos anos a favor de tendências que, embora contrárias à interferência do Estado, se posicionam e atuam no terreno das ideias neo-liberalizantes. A participação da população nas questões ambientais tem basicamente se destacado nos grandes centros urbanos, mas também fora deles, aglutinando diferentes camadas sociais em torno de questões específicas. 58 Inúmeras entidades ecológicas e/ou ambientalistas surgiram no continente nos últimos anos, porém com penetração mais localizada, e muitas delas atreladas a interesses econômicos e políticos nem sempre muito claros. Podemos considerar que essa quantidade de novas organizações ocorre devido ao processo de democratização. A atuação de cada um desses movimentos e a sua continuidade ficará por conta daqueles que: apresentarem respostas aos graves problemas ambientais puderem discuti-las democraticamente e tiverem meios econômicos e técnicos para viabilizá-las. Fonte: meioambientetecnico.com Várias propostas de participação têm sido colocadas à sociedade, porém só a autonomia dos movimentos sociais frente ao Estado, aos partidos políticos, meios de comunicação de massa, monopólios econômicos e seitas religiosas poderá garantir o seu potencial crítico ao modelo de desenvolvimento, favorecendo a consolidação da democracia no continente. Isso não ocorrerá, no entanto, sem o desenvolvimento da consciência de cidadania, possível através da educação popular ambiental. 59 10 A RELAÇÃO DO HOMEM COM O MEIO AMBIENTE: A DUALIDADE ESTÁ NO PENSAMENTO OU NA RELAÇÃO? Fonte: blastingnews.com O conceito de natureza contém em sua essência o dualismo entre externalidade e universalidade, inter-relacionando-se e contradizendo-se ao mesmo tempo. Mas nos questionamos se é possível conceber dualisticamente uma realidade que é única? Smith ressalta nesse sentido, que "O conceito de natureza é um produto social" (SMITH, 1987). Para justificar sua afirmação o autor discute a conquista do território americano, destacando que nesse caso o conceito tinha não só a função social, mas também política, pois "a hostilidade da natureza exterior justificava sua dominação e a moralidade espiritual da natureza universal fornecia um modelo para o comportamento social" (SMITH, idem). No princípio da humanidade, havia uma unicidade orgânica entre o homem e a natureza, onde o ritmo de trabalho e da vida dos homens associava-se ao ritmo da natureza. No contexto do modo de produção capitalista, este vínculo é rompido, pois a natureza, antes um meio de subsistência do homem, passa a integrar o conjuntodos meios de produção do qual o capital se beneficia. As interações do homem-natureza foram, até hoje, movidas de um lado pela busca constante de recursos e de outro, pelas dificuldades ou facilidades que a 60 natureza oferece a esses desejos. Desse modo, o estudo das interações homem- natureza pode ser direcionado, como propôs Mukhina (1979) citado por Guidugli (1985), para três aspectos básicos: o meio ambiente físico, a população e a economia. O meio ambiente físico tem sido alvo, ao longo da história da humanidade, de uma série de transformações que se mostram, com relativa frequência, desastrosas para ambos - homem e natureza. Sendo para a natureza, quando essa é intensa e extensivamente agredida em seus elementos constituídos, alcançando alguns deles a destruição completa. Neste sentido, podemos dizer que, o crescimento demográfico é considerado, por muitos, como um dos fatores essenciais aos danos causados ao patrimônio natural (NOIN, 1979). Na verdade, não só em termos de utilização dos recursos, mas de ocupação de espaço, de agressão do meio ambiente e mesmo de ameaça a outras espécies (uma população em crescimento acelerado é suficiente para comprometer todos estes aspectos). É relevante lembrar, no entanto, que a ameaça do crescimento demográfico surge não apenas como valores numéricos por ele apresentado, mas, também, pelos atributos sociais que manifesta. De qualquer maneira, o crescimento demográfico não pode ser excluído como fonte de problemas. Ao lado desse fator, Guidugli propõe a inclusão do crescimento econômico como elemento fundamental na discussão da questão, citando que: “A causa primordial dos problemas ambientais é o crescimento econômico e demográfico”. (GUIDUGLI, 1985). Podemos ainda acrescentar a esses dois fatores, o desenvolvimento tecnológico que, se de um lado orienta uma considerável diversidade de atividades econômicas, de outro se reflete na história de uma região em espaço e tempos diferentes. Os meios utilizados pelo homem para ocupar, organizar e ordenar o espaço são também responsáveis pelos diferentes níveis de alteração por ele sofridos. Em última instância, o conjunto de alterações exibido pelo meio ambiente resulta, quase sempre, de combinações, as mais diversas possíveis apresentadas por ele próprio, pela população, pela economia e pela tecnologia. Como exemplo, podemos citar o problema ecológico no Brasil, que é uma das maiores preocupações da humanidade, haja vista a sua importância que teve a “Eco 92”, ou “Rio 92”, onde participaram políticos, cientistas, pesquisadores, professores e 61 estudantes para discutir os problemas ambientais. Ou seja, sobre a qualidade de vida de todas as pessoas do planeta. É fato de que, hoje, a relação entre o homem e o ambiente está bem definida, o homem é parte integrante dele, e suas peculiaridades de animal racional o dotam de meios para submeter, em larga parcela, a natureza, que só na aparência lhe é externa, porém na verdade, lhe é inerente. No entanto, apesar desta intimidade territorial e da clara definição, já existente, entre homem e natureza, não é de hoje que ouvimos falar das grandes ameaças que o planeta vem sofrendo por conta da interferência direta do ser humano no meio, com fins na extração de recursos naturais, matéria-prima e pela obtenção de alguma vantagem. O que justifica tal dualidade é a ocorrência de uma mudança na visão-de- mundo do homem no decorrer da história e, por consequência, de sua ação no meio natural, uma vez que a natureza não está dissociada da história da humanidade nem tampouco das manifestações culturais que a cerca, se entendermos por cultura, grosso modo, a intervenção humana no que é natural. Tais mudanças geram avanços no conhecimento científico sobre a dinâmica ecossistêmica, que por sua vez, trazem consigo a ocorrência de acidentes ambientais, a crise energética e a conquista de espaços políticos pelo movimento ambientalista. Toda esta expansão do modelo de crescimento econômico e os efeitos desagregadores sobre os ecossistemas naturais nos fazem repensarmos sobre questões inerentes a produção, hábitos e consumo. A essência desta situação nos remete a um novo olhar da EA, apontando a Gestão Ambiental como um dos caminhos promissores que buscará, por meio de seus princípios, conciliarem desenvolvimento com a sustentabilidade dos sistemas ambientais, através de uma relação direta entre ambos. Devemos ter a clareza de que, não conseguiremos grandes resultados com repressões diretas às pessoas que, de certo modo, não desenvolvem atitudes sustentáveis com o meio. Como afirma Diegues, “Mais do que repressão, o mundo moderno necessita de exemplos de relações mais adequadas entre homem e natureza”. (DIEGUES, 1996, apud Roberto Fabio, 2016). Ao desenvolvermos trabalhos com pessoas que estão diretamente ligadas ao meio e, que dele necessitam para a sobrevivência, devemos, por meio da participação, do diálogo, de estudos, atuar como catalisadores de processos 62 educativos que respeitem a pluralidade e a diversidade cultural; fortaleçam a ação coletiva e organizada; articulem aportes de diferentes saberes e fazeres e, proporcionem a compreensão da problemática ambiental em toda a sua complexidade. Precisamos buscar meios eficientes para mantermos o homem conectado ao meio do qual ele faz parte, porém, existe a necessidade de que esta conexão aconteça de forma sustentável e equilibrada. Quintas e Gualda (1995) definem meio ambiente como o fruto do trabalho dos seres humanos, conectando o meio natural ao social. Os autores esclarecem que no processo de transformação deste meio são criados e recriados modos de relacionamento da sociedade entre si e com a natureza, sendo esta ação realizada por sujeitos sociais diferentes e estando condicionada à existência de interesses individuais e coletivos, que muitas vezes podem até ser opostos e devido a isto, requerem processos metodológicos oferecidos pela Gestão Ambiental. Graças aos trabalhos realizados por educadores ambientais, com auxílio da EA, Comunicação Ambiental e Gestão Ambiental, hoje, os humanos estão começando a tomar uma consciência parcial dos perigos mais evidentes que ameaçam o meio ambiente natural de nossas sociedades. Tem-se, portanto, uma melhor compreensão sobre a importância dos recursos, da biodiversidade e dos ambientes que esta depende para sua continuidade. Temos ciência de que o homem é, sem dúvida alguma, a espécie dominante do planeta. Além de ser uma criatura muito complexa, com seus atos praticados, está constantemente desafiando e alterando o meio ambiente. Assim, compreendemos que tais efeitos sobre o equilíbrio natural devam ser entendidos, e mesmo com o avanço tecnológico, devemos procurar ações menos ofensivas e mais sustentáveis ao meio. Também sabemos que os trabalhos em EA nem sempre resultam em mudanças imediatas, ou seja, os resultados de sensibilização e conscientização podem ser percebidos apenas a médio e também longo prazo. Devido a isto, apesar de todo alerta e trabalhos até então já realizados, ainda há o descaso de muitos com relação a certos cuidados tidos como fundamentais quando nos referimos ao meio ambiente. Estes atos ocorrem muitas vezes por desconhecimento entre causa-efeito ou, por vezes, tais atitudes são regidas pela 63 ganância do homem, que vive constantemente na busca irresponsável dos recursos naturais, ou seja, a ambição do lucro crescente tem marginalizado os recursos em detrimento da qualidade ambiental de seu próprio espaço. Os resultados negativos da interação homem-natureza, gerados no processo de uso e ocupação do solo, são observados facilmente em todas as regiões do Brasil. O território brasileiro vem sendo depredado e devastado desde quando foi ocupado pelos portugueses e posteriormente pelos outros povos. O Brasil possuíauma das maiores extensões florestal do mundo, mas que no processo de povoamento e de ocupação procedeu a derrubada impiedosa, a ação devastadora que não poupava nem as reservas de matas, despindo os solos da vegetação, e a proporção que as técnicas agrícolas foram evoluindo, as florestas foram rareando. A ação devastadora do equilíbrio ambiental ocorre com maior ou menor intensidade em todo o território nacional, provocando a destruição da flora e da fauna. Entretanto, hoje a sociedade está começando a proteger com mais intensidade o meio ambiente e isto, deve-se a um conjunto de medidas em prol ao meio: legislação, políticas públicas e tratados de educação ambiental. Porém, apenas leis não bastam para percebermos as mudanças almejadas, fazem-se necessários investimentos na área da educação, ou seja, que surjam mais trabalhos e pesquisas desenvolvidos em EA, com foco no despertar de uma consciência mais crítica, emancipatória, que traga ao indivíduo o empoderamento necessário para que consiga desenvolver ações imediatas no sentido de minimizar os conflitos ambientais. Faz-se necessário, portanto, reflexões e reformulações de atitudes e programas governamentais e empresariais, assim como, de que a sociedade civil se conscientize da importância de sua participação na solução dos grandes problemas que as atingem. 64 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABÍLIO, F.J.P.; SATO. M. Educação ambiental: do currículo da Educação Básica às vivências educativas no contexto do semiárido paraibano. – João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2012. ANTUNES, Marco A.M. Importância da Educação Ambiental. Instituto Teotônio Vilela, 2004. BRANCO, S. M. Ecossistêmica: uma abordagem integrada dos problemas do meio ambiente. 2 ed. São Paul: Edgard Blücher, 2007 BRASIL. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS - PCN: Meio Ambiente e Saúde. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. 3a. ed. Brasília, 2001 BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Resolução n. 2, de 15 de junho de 2012. Brasília, DF: MEC/CNE/CP, 2012. CARDOSO, C. da C. Educação Ambiental Crítica: Contribuições para uma mente e um sistema Sócio Econômico Menos Degradante. Revista Educação Ambiental em Ação. 2009. CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Documento de Área de Ciências Ambientais. Brasília: Capes, 2011ª CAMARGO, A. L. de B. Desenvolvimento sustentável: dimensões e desafios. 3 ed. Campinas, SP: Papirus, 2007. DIAS, Genebaldo F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia, 2004. DREW, D. Processos Interativos Homem-Meio Ambiente. 6 eds. Tradução de João Alves os Santos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011 DIAS, R. Gestão Ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2007. 65 DIAS, R. Gestão ambiental responsabilidade social e sustentabilidade. 2. ed. São Paulo: Atlas S.A., 2011. DE LUCA et al. O Diálogo como Objeto de Pesquisa na Educação Ambiental. Educ. Real., v. 37, n. 2, p. 589-606, maio/ago. 2012. FREIRE, N.; OLIVEIRA, W. Pedagogia da Solidariedade. São Paulo: Paz e Terra, 2014. FREIRE, L.C. Paulo Freire por seu filho. In: SOUZA, Ana Inês et al. (Org.). Paulo Freire: vida e obra. 2ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010. FERREIRA, H.S. Deveres ambientais na Constituição Federal de 1988. In: CANOTILHO, J.J.G.; LEITE, J.R.M. (Org.). Direito constitucional ambiental brasileiro. 5ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2012. FERNANDES, V.; SAMPAIO C. A. C. Problemática ambiental ou problemática socioambiental? A natureza da relação sociedade/meio ambiente. Desenvolvimento e Meio ambiente (UFPR), v. 18, p. 87-94, 2008. FREIRE, P. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. Organização e participação Ana Maria de Araújo Freire. São Paulo: Paz e Terra, 2014. GONÇALVES, C. W. P. Os (des) caminhos do meio ambiente. 14 ed. São Paulo: Contexto, 2008. (Temas atuais). GONÇALVES, C. W. P. O Desafio Ambiental. Rio de Janeiro: Record, 2004. GONÇALVES, C. W. P. A Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. GOHN, M.G. Educação não-formal e cultura política: impactos sobre o associativo do terceiro setor. 5ed. São Paulo: Cortez, 2011 (Coleção Questões da nossa época; v. 26). KLOETZEL. K. O que é meio ambiente. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 2009 LOPES, Alice Casemiro; MACEDO, Elizabeth. O pensamento curricular no Brasil: In. LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo; TORRES, Juliana, Resende, (orgs) Educação Ambiental: dialogando com Paulo Freire. São Paulo: Cortez, 2014. 66 LIMA, G.F. da C. Mapeando as macrotendências político-pedagógicas da Educação Ambiental contemporânea no Brasil. Anais do VI Encontro “Pesquisa em Educação Ambiental”. Ribeirão Preto: USP. 2011. LEFF, E. Epistemologia Ambiental. São Paulo: Cortez, 2001. LOUREIRO, Carlos Frederico B. Trajetória e fundamentos da educação ambiental. 4. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2012. 168 p. LOUREIRO, A dimensão freireana na Educação Ambiental. In: Frederico Bernardo; TORRES, Juliana Rezende. (orgs). – 1 Ed.- São Paulo: Cortez, 2014. MOURA, L.N.S.; SILVA, SILVA, A.G.F. Paulo Freire, no período de 1958-1964. In: VIII COLÓQUIO INTERNACIONAL PAULO FREIRE, 5, 2013, Recife: Anais, 2013. MESAUAR, O. (Org.). Coletânea de Legislação Ambiental: Constituição Federal. 9ed. rev., ampl. E atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. MACHADO, P.A.L. Direito ambiental brasileiro. 20. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2012. MENEZES, C. L. Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente: a experiência de Curitiba. Campinas/SP: Papirus, 1996 MARQUES, J. R. Meio Ambiente Urbano. Rio de Janeiro/RJ: Ed. Forense Universitária. 2005. MENDONÇA, F. de A. Geografia e Meio Ambiente. 7 Ed. São Paulo: Contexto, 2004. OLIVEIRA, E. Cidadania e educação ambiental: uma proposta de educação no processo de gestão ambiental. Brasília: IBAMA, 2002. PEREIRA, R. dá S.; CANO, M. R. de O (Coord.). Geografia. São Paulo: Blucher, 2012. (Coleção a reflexão e a prática no ensino). Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 17ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011. QUINTAS, J.S. Salto para o futuro,2008. 67 REIGOTA, M. O que é educação ambiental. 2ª ed. Brasiliense, São Paulo. 2009. REIGOTA, M. Meio Ambiente e Representação Social. São Paulo: Cortez,1998. SOUZA, A.I. Educação e atualidade brasileira: a imersão do povo na história. In: ______ (Org.). Paulo Freire: vida e obra. 2ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010. p. 33-68 SILVA. Antônio Fernando Gouvêa da; PERNAMBUCO, Marta Maria Castanho Almeida. Paulo Freire: uma proposta pedagógica ético-crítica para a educação ambiental. In. LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo; TORRES, Juliana, Resende, (orgs) Educação Ambiental: dialogando com Paulo Freire. São Paulo: Cortez, 2014. SCHNORR, G.M. Pedagogia do Oprimido. In. SOUZA, A.I. (Org.). Paulo Freire: vida e obra. 2ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010, p. 69-100. SAVIANI, D. A pedagogia no Brasil: história e teoria. Campinas: Autores Associados, 2008 (Coleção Memórias da educação). SEGURA, Denise de S. Baena. Educação Ambiental na escola pública: da curiosidade ingênua à consciência crítica. In Medeiros, Aurélia Barbosa.et al. A Importância da educação ambiental na escola nas séries iniciais. Revista Faculdade Montes Belos, v. 4, n. 1, set. 2011. SEIFFERT, M. E. B. Gestão Ambiental: instrumentos, esferas de ação e educação ambiental. São Paulo: Atlas, 2007. 68 12 BIBLIOGRAFIA DIAS, GENEBALDO FREIRE / Livro: Educação Ambiental: Princípios e práticas/ Origem: Nacional / Editora: Gaia Editora / Assunto: Ciências Biológicas – Ecologia e meio – ambiente / Idioma: Português / Edição: 9 / Ano: 2010 / País de produção: Brasil Códigode barras: 9788585351090 / ISBN: 8585351098 / Encadernação: Brochura – Complemento: Nenhum / N° de páginas: 551. CASSIANO PAMPLONA LISBOA, EUNICE AITA ISAIA KINDEL (Organizadores) / Livro: Educação Ambiental da teoria à prática / Capa comum: 144 páginas / Idioma: Português / ISBN -10: 8577060764 / ISBN -13: 978-8577060764 / Dimensões do produto: 25 x 17,6 x 1,2 cm / Peso de envio: 358 g MICHÉLE SATO, ISABEL CARVALHO (orgs). / Livro: Educação Ambiental: Pesquisa e Desafios (recurso eletrônico): pesquisa e desafios / Porto Alegre: Artmed, 2008. Editado também como livro impresso em 2005 / ISBN: 978-85-363- 1529-4 / 1. Educação ambiental – Pesquisa. I. Sato, Michéle, Sato. II. Carvalho, Isabel.III. Título / CDU 574.2/9 / Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto – CRB 10/1023.