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A partir de agora, começamos a sétima parte deste texto. Estes três capítulos passam por 40 anos (dos 25 aos 65 anos), período em que os corpos amadurecem, as mentes absorvem novos conteúdos e as pessoas trabalham mais produtivamente. A adultez se estende por tanto tempo porque nenhuma idade em particular é um divisor de águas. Adultos de todas as idades se casam; criam filhos; cuidam de pais envelhecidos; são contratados e despedidos; enriquecem ou empobrecem, vivenciam nascimentos, mortes, casamentos, divórcios, doenças, e recuperações. Portanto, a adultez é marcada por diversos eventos, alegres e tristes, que podem acontecer em qualquer momento durante esses 40 anos. Esses eventos não são determinados por certa idade, mas também não são aleatórios: adultos os constroem com base no seu desenvolvimento prévio e criam seus próprios nichos ecológicos. Eles escolhem pessoas, atividades, comunidades e hábitos. São bons anos, na maior parte do tempo, quando os objetivos são mais atingíveis e as pessoas passam a tomar decisões sobre suas vidas. A cultura e o contexto social são sempre cruciais. Na verdade, o conceito de que pessoas escolhem seus nichos é aceito nos Estados Unidos, mas não em lugares onde as famílias, as finanças e o passado moldam quase todos os aspectos da vida. O divórcio, por exemplo, é a consequência de mais de um terço dos casamentos americanos, mas até recentemente era ilegal em três países (Chile, Malta e Filipinas). Algumas das experiências que já foram consideradas parte da adultez – crise de meia-idade, geração sanduíche (adultos que precisam sustentar os pais envelhecidos e os filhos em crescimento) e a crise do ninho vazio – já são incomuns para adultos de meia-idade, não importando onde eles vivam. Estes três capítulos descrevem o que é universal, o que é comum e o que não é comum. ■ ■ ■ ■ Senescência A Experiência do Envelhecimento O Cérebro em Envelhecimento Aparência Exterior Órgãos dos Sentidos O Sistema Reprodutor Contracepção Resposta Sexual Fertilidade Menopausa Hábitos de Saúde e Idade Abuso de Drogas Alimentação Sedentarismo UMA VISÃO DA CIÊNCIA: Abandonar um Hábito É Difícil Medindo a Saúde Mortalidade Morbidade Incapacidade Vitalidade Correlacionando Renda e Saúde O QUE VOCÊ VAI SABER? 1. 2. 3. 4. Quando uma pessoa começa a aparentar sua idade? Quais sentidos enfraquecem antes dos 65 anos? A mulher pode engravidar antes dos 30, 40 ou 50 anos? Como uma pessoa pode ser vitalmente saudável e ter impedimentos extremos? Jenny, uma excelente aluna na minha aula de desenvolvimento humano, estava no início dos 30 anos. Ela nos contou que era divorciada, cuidava do filho de 7 anos, da filha de 10 e de mais dois sobrinhos que tinham ficado órfãos em um conjunto habitacional no sul do Bronx, uma área com má fama devido a gangues, armas e drogas. Ela falava com entusiasmo das atividades gratuitas para seus filhos – parques públicos, museus, zoológico, espaços ao ar livre. Nós ficávamos admirados com a criatividade, o otimismo e a energia dela. Um ano depois, Jenny me procurou na minha sala para conversar em particular. Ela estava prestes a se formar, com honras, e havia encontrado um emprego que permitiria que ela e a família saíssem daquela região perigosa. Jenny queria meu conselho porque estava grávida de quatro semanas. O pai da criança, Billy, era casado e tinha dito a ela que não se separaria da mulher, mas pagaria por um aborto. Ela o amava e tinha medo de que ele terminasse o relacionamento caso ela não interrompesse a gestação. Eu não dei nenhum conselho a ela, mas a escutei atentamente. O filho dela tinha dificuldade de fala; ela achava que já estava velha demais para ter outro bebê; era portadora de anemia falciforme, que já havia complicado outras gestações; o apartamento cheio já não era adequado para um bebê; ela não era contra o aborto. Estava disposta a continuar sua vida normalmente. Depois de uma longa conversa, Jenny me agradeceu muito – apesar de eu apenas ter lhe feito perguntas, mostrado fatos e a escutado. Então ela me surpreendeu. “Eu vou ter o bebê. Homens vão e vêm, mas filhos estão sempre conosco.” Eu achei que seu discurso chegaria a outra conclusão, mas então percebi que ela estava planejando a vida dela, não a minha. Todos nós fazemos escolhas relacionadas a nosso corpo e a nosso futuro. Embora se sentisse “velha demais” para ter outro bebê, Jenny era relativamente nova. No entanto, ela era uma típica adulta em muitos sentidos. Questionar sobre criar e sustentar filhos é comum entre adultos, assim como ter preocupações com os genes, a saúde e o envelhecimento. Este capítulo explica as escolhas que as pessoas fazem sobre tudo isso. Começamos com mudanças fisiológicas na força, na aparência e nas funções do corpo. Muitas pessoas se preocupam com aspectos da visão, da audição e das doenças que se manifestam muito antes da chegada da terceira idade. Então explicaremos temas relacionados a sexo, hábitos de saúde e assistência médica. Ao final deste capítulo, você irá ler como a adultez de Jenny decorreu depois de ela sair da minha sala. >> Senescência senescência Processo de envelhecimento, em que o corpo perde força e eficiência. Todo mundo envelhece. Assim que o crescimento para, começa a senescência, um envelhecimento físico gradual. A senescência afeta todas as partes do corpo, visíveis e não visíveis. Em uma cultura que desvaloriza os mais velhos, a senescência tem uma conotação negativa, mas envelhecer pode ser positivo. De uma perspectiva desenvolvimentista, qualquer período da vida pode ser multidirecionado. Nosso estudo científico do desenvolvimento durante a vida nos ajuda a ver as perdas e os ganhos da adultez. A Experiência do Envelhecimento Apesar de todos estarmos envelhecendo, a senescência muitas vezes passa despercebida até em torno dos 60 anos. Usualmente, os adultos se sentem de 5 a 10 anos mais novos do que sua idade cronológica, e pensam que “velho” é a descrição de pessoas significativamente mais velhas (Pew Research Center, 2009a) (veja a Figura 20.1). A maioria dos adultos se sente forte, capaz, saudável e “em seu melhor momento”. Eles não estão errados. Apesar de a senescência afetar todas as partes do corpo, e apesar de algumas partes do corpo passarem a funcionar menos efetivamente por causa dela, a senescência não necessariamente causa doenças ou mesmo incapacidade. Isto fica mais claro com um exemplo. Com a idade, tanto a pressão sanguínea quanto o nível do colesterol ruim (LDL) aumentam em todas as pessoas. Quanto mais altos esses níveis, maior a probabilidade da ocorrência de doenças cardíacas. Portanto, as doenças coronárias que estão relacionadas com hipertensão (pressão sanguínea alta) e com o colesterol também estão relacionadas com a senescência. Entretanto, a senescência não é a causa direta de doenças do coração. O coração da maioria dos adultos entre 25 e 65 anos funciona perfeitamente, mesmo com o aumento da pressão sanguínea e do colesterol LDL. De fato, alguns dos aspectos fisiológicos do envelhecimento protegem os adultos. A senescência diminui o crescimento do câncer, mesmo que o envelhecimento aumente as probabilidades de sua ocorrência (Rodier & Campisi, 2011). A saúde é mais protegida pela reserva de órgãos, permitindo que estes funcionem normalmente durante a adultez. As pessoas com raridade percebem que seus órgãos vitais estão perdendo sua capacidade reserva. A homeostase e a alostase também ajudam cada parte do corpo a se ajustar às mudanças em outras partes do corpo; portanto, o envelhecimento do cérebro, da corrente sanguínea e das células é balanceado por outros fatores que mantêm a vida. Por exemplo, se o nível de ferro estocado no sangue está baixo, a homeostase aumenta a absorção de ferro na alimentação (Ganz & Nemeth, 2012). Em outro exemplo, os pulmões automaticamente mantêm os níveis de oxigênio, seja a pessoa nova ou velha, esteja acordada ou dormindo, exercitando-se ou descansando (Dominelli & Sheel, 2012). Como a reserva dos órgãos diminuigradualmente, a dispersão de oxigênio dos pulmões na corrente sanguínea diminui em torno de 4 por cento por década depois dos 20 anos. Por isso, muitos adultos ficam “sem ar” depois de uma corrida, ou precisam “recuperar o ar” depois de subir uma escada com muitos degraus. Esses são pequenos inconvenientes, mas não uma ameaça séria para aqueles que se sentem em forma. Esses processos não estão livres de falhas. Se, com a idade, a redução da reserva de órgãos for severa, a homeostase aumentará consideravelmente, ou o carregamento de alostase se tornará muito pesado e a vida poderá correr riscos. A curto prazo, medidas fisiológicas contrabalanceiam o estresse psicológico (as pessoas podem comer fast food ou abusar de drogas para lidar com a depressão ou algum tipo de discriminação social, por exemplo), mas alguns dos ajustes do corpo podem não levar a um envelhecimento feliz e saudável (Krieger, 2012; Kiecolt et al., 2009). [Link: Reserva de órgãos, homeostase e alostase foram explicadas no Capítulo 17.] FIGURA 20.1 Ainda Novo Quando perguntamos a algumas pessoas se alguém é “velho”, as respostas dependem da idade delas. A tendência se mantém – minha mãe, aos 80 anos e morando em um asilo, reclamava que aquele não era o lugar dela, porque lá havia muitas pessoas velhas. É fundamental para o bem-estar na adultez estabelecer objetivos e trabalhar para alcançá-los. Suponha que uma pessoa de 50 anos queira correr uma maratona. Isso é totalmente possível, desde que essa pessoa tenha passado um ano ou mais treinando, comendo e dormindo bem, mantendo uma boa saúde ao evitar tabaco, tomando medidas preventivas de saúde, e assim por diante. Portanto, saúde física e força são normalmente fatores importantes durante os quarenta anos da adultez; porém, tanto os hábitos como o envelhecimento têm seu preço. O Cérebro em Envelhecimento Como todas as outras partes do corpo, o cérebro enfraquece com a idade. Os neurônios correm mais devagar, o tempo para que o cérebro tenha uma reação aumenta porque as mensagens do ■ ■ ■ ■ axônio de um neurônio não são coletadas com tanta rapidez pelos dendritos de outros neurônios. Novos neurônios e dendritos aparecem, mas outros atrofiam. O tamanho do cérebro diminui, com menos neurônios e sinapses na adultez média do que no início da vida. Como resultado disso, fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo fica mais difícil, o processamento leva mais tempo, e algumas atividades de memória que são complexas (por exemplo, repetir uma série de oito números, adicionar os quatro primeiros, retirar o quinto, subtrair os dois seguintes e multiplicar o novo resultado pelo antigo) podem ser impossíveis (Fabiani & Gratton, 2009). Para a maioria, entretanto, essas perdas não são percebidas. Poucos indivíduos (menos de 1 por cento com menos de 65 anos) vivenciam, com a idade, perdas significativas no cérebro, assim como poucos perdem uma notável quantidade de massa muscular. Os poucos que sofrem perdas significativas são raros, e a razão é patológica; não se trata de um declínio cognitivo normal (Schaie, 2013). [Link: Demência é discutida no Capítulo 24.] Especialmente para os Motoristas Uma série de estados aprovou leis que exigem que tecnologias que não precisam de manejo sejam usadas por pessoas que utilizam o telefone ao dirigir. Essas medidas diminuem os acidentes? Para a maioria dos adultos, as reservas neurológicas, a homeostase e a alostase protegem o cérebro. Os adultos podem desempenhar com o cérebro o equivalente a uma maratona; por isso juízes, bispos e líderes mundiais geralmente têm, pelo menos, 50 anos. Se a perda severa ocorrer antes dos 65 anos, a causa não é a senescência, mas uma das quatro opções: Uso excessivo de drogas. Todas as drogas psicoativas causam danos ao cérebro, principalmente o álcool consumido por décadas, que pode causar a síndrome de Wernicke-Korsakoff (“cérebro molhado”). Má circulação sanguínea. Tudo que prejudica o fluxo sanguíneo – como a hipertensão ou o vício em cigarros – prejudica a cognição. Vírus. O cérebro é protegido contra a maioria dos vírus pela barreira hematoencefálica, mas alguns vírus – incluindo HIV e o prião que causa o mal da vaca louca – destroem os neurônios. Genes. Cerca de uma em mil pessoas herda o gene dominante da demência. Esses quatro fatores são causas fisiológicas comuns da desaceleração do cérebro na adultez; a função cognitiva adulta é descrita no próximo capítulo. Aparência Exterior Como podemos perceber, a senescência dos órgãos vitais não é normalmente devastadora na adultez. Os corpos funcionam bem dos 30 aos 60 anos. Entretanto, mudanças na pele, nos cabelos, na agilidade e no corpo são problemáticas em uma sociedade que dá muita importância à idade. Poucos adultos querem parecer velhos. Apesar disso, todos eles em algum momento parecerão. Pele e Cabelos As primeiras mudanças visíveis ocorrem na pele, que fica mais seca, rugosa e com a cor mais irregular. O nível de colágeno na pele, componente principal do tecido conjuntivo, diminui 1 por cento por ano, a partir dos 20 anos. Aos 30 anos, a pele é mais fina e menos flexível, as células logo abaixo da superfície variam mais, e as rugas se tornam visíveis, principalmente em torno dos olhos. A dieta tem seus efeitos – a gordura diminui as rugas, mas o envelhecimento é aparente em todas as camadas da pele (Nagata et al., 2010). As rugas não são o único sinal da senescência na pele. Principalmente no rosto (a parte do corpo mais exposta ao sol, chuva, calor, frio e poluição) a pele perde sua firmeza. Marcas de idade, pequenos vasos sanguíneos e outras imperfeições aparecem. Essas mudanças ficam visíveis a partir dos 40 anos em pessoas que trabalham ao ar livre por grande parte da vida (em geral fazendeiros, marinheiros e pedreiros), mas incomodam mais às pessoas (geralmente mulheres) que associam a juventude ao poder de atração sexual. Para completar, varizes nas pernas e braços se tornam proeminentes, e as unhas dos pés e das mãos enfraquecem (Whitbourne & Whitbourne, 2011). Mudanças na aparência são pouco percebidas entre um ano e outro, mas se você comparar um par de irmãos, um de 18 e outro de 28 anos, a pele indica quem é mais velho. Aos 60 anos, todos os rostos envelheceram significativamente – alguns mais do que outros. Aquela pele macia, flexível e nova se foi, desapareceu. >> Resposta para os Motoristas: Não. Acidentes de carro ocorrem quando a mente está distraída, não as mãos. O cabelo costuma se tornar grisalho e mais fino, primeiro nas têmporas, por volta dos 40 anos, e então no restante do couro cabeludo. Essa mudança não afeta a saúde, mas, uma vez que o cabelo é um sinal visível do envelhecimento, muitos adultos gastam valores substanciais e bastante tempo para pintá-lo, nutri-lo e arrumá-lo, entre outros procedimentos. Os pelos corporais (nos braços, nas pernas e na região pubiana) também se tornam menos densos. Um pelo grosso ocasional, indesejado, pode aparecer no queixo, na narina ou em outro lugar. Forma e Agilidade O corpo muda de forma entre 25 e 65 anos. A “barriga da meia-idade” aumenta a circunferência da cintura; os músculos enfraquecem; dobras de gordura se instalam no abdômen, nos braços, nas nádegas e no queixo; as pessoas se inclinam levemente ao ficarem em pé (Whitbourne & Whitbourne, 2011). Ao final da meia-idade, mesmo se alongando ao máximo, adultos são mais baixos do que antes, porque os músculos das costas, o tecido conjuntivo e os ossos perdem densidade, fazendo com que as vértebras da espinha vertebral se encolham. As pessoas perdem em torno de uma polegada (cerca de 2 ou 3 centímetros) até os 65 anos, perda que ocorre no tronco, não nas pernas e ossos, à medida que o amortecimento entre os discos espinhais é reduzido, outro motivo para o alargamento da cintura. Os músculos se encolhem; as articulações perdem a flexibilidade; a rigidez é mais evidente; agachar-se é mais difícil. Como resultado, a agilidade se reduz. Levantar-se do chão, girar dançando, e até mesmo caminhar enérgica e alegremente, tornam-setarefas mais difíceis. Podem ocorrer torções das costas, do pescoço ou dos músculos. Genes e exercício causam variações marcadas pela idade não só de pessoa para pessoa, mas também dentro de cada um. Os músculos, principalmente, dependem do uso – até mesmo algumas semanas de descanso na cama os enfraquecem substancialmente. As fibras musculares do Tipo II (utilizadas para atividades mais rápidas e que exigem força) se reduzem muito mais rápido do que as fibras de Tipo I (para atividades rotineiras e sem pressa) (Nilwik et al., 2013). Isso significa que é mais fácil para os adultos ganhar uma maratona do que uma corrida de 100 metros rasos, ou colher vegetais durante horas do que levantar uma pedra muito pesada por alguns minutos. Particularmente para as fibras de Tipo II, o exercício físico tem um efeito determinante (Nilwik et al., 2013). O envelhecimento do corpo é mais evidente em esportes que exigem força, agilidade e velocidade. Ginastas, boxeadores e jogadores de basquete estão entre os atletas que têm mais vantagens na juventude e sofrem com a desaceleração, inclusive a partir dos 20 anos. Essa desaceleração é, obviamente, fisiológica. Os ganhos intelectuais e emocionais da adultez podem compensar as mudanças fisiológicas; alguns atletas de esportes coletivos de 30 anos são mais valiosos do que atletas mais novos. Órgãos dos Sentidos A cada década, os sentidos ficam menos precisos, as perdas em qualquer um deles afetam os outros. Um exemplo óbvio é que o paladar depende substancialmente do olfato, que enfraquece com a idade (Aldwin & Gilmer, 2013). Do mesmo modo, a conversa é mais facilmente entendida quando as pessoas podem ver e ouvir quem está falando. Aqui descreveremos alguns detalhes do enfraquecimento da visão e da audição. Visão A taxa de senescência varia de pessoa para pessoa, de órgão para órgão, assim como cada parte de cada órgão tem seu próprio tempo. A visão é um exemplo, uma vez que aproximadamente 30 áreas do cérebro e pelo menos vários aspectos do olho, combinados, possibilitam que as pessoas enxerguem. A visão periférica (nos lados) se reduz mais rápido do que a visão frontal; algumas cores ficam menos intensas do que outras; a miopia e a hipermetropia seguem caminhos diferentes. Alguns aspectos da visão parecem intactos com a idade. O estilo de vida e a genética influenciam drasticamente (Owsley, 2011). Uma variação notável é a miopia (dificuldade de enxergar objetos a distância), que é fortemente afetada pela genética e pela idade. A miopia aumenta gradualmente durante a infância e a adolescência, mas, na adultez, esse processo se reverte. A miopia diminui, e a hipermetropia (dificuldade de enxergar objetos próximos) aumenta – porque as lentes dos olhos mudam de formato. Isso explica por que pessoas de 40 anos seguram o jornal mais longe do que pessoas de 20 anos. O foco para ver de perto fica embaçado, mas o que é para longe fica mais nítido (Aldwin & Gilmer, 2013). Outros aspectos da visão também são afetados pela idade. Os olhos levam mais tempo para se ajustar à escuridão (entrando em uma sala de cinema escura depois de estar à luz do sol) ou para se ajustar a um brilho intenso (quando o farol de um carro vindo na direção oposta causa cegueira temporária) (Aldwin & Gilmer, 2013). A percepção do movimento (o carro está se aproximando rapidamente?) e a sensibilidade ao contraste (aquilo é um urso, uma árvore ou uma pessoa?) diminuem (Olsley, 2011). As lentes dos olhos engrossam; uma iluminação mais clara se faz necessária. Como esses exemplos mostram, a senescência afeta a visão requerida para dirigir, mesmo que a pessoa consiga ler as letras na tabela de optótipos. A renovação da carteira de motorista, em qualquer idade, deveria incluir testes de visão multifacetados porque a maioria dos adultos consegue ver bem, mas alguns precisam de óculos novos, cirurgia de catarata, ou outros tipos de intervenção muito antes da velhice. Audição A audição é mais aguçada aos 10 anos, novamente com algumas variações entre os indivíduos. Sons em alta frequência (a voz de uma criança) se perdem antes que sons em baixa frequência (a voz de um homem). Apesar de algumas pessoas mais velhas escutarem bem melhor do que outras, nenhuma escuta perfeitamente. presbiacusia Perda significante de audição relacionada à senescência. Geralmente não se manifesta até os 60 anos. Na verdade, a audição é sempre um caso de gradação. Ninguém consegue escutar uma conversa a 30 metros de distância; “gritar a distância” tem limites. Como raramente a surdez é absoluta, perdas graduais não são percebidas. Dificilmente a presbiacusia (literalmente o “envelhecimento da audição”) é diagnosticada antes dos 60 anos, mesmo que, desde cedo, alguns sussurros sejam inaudíveis. Um estudo alarmante afirma que a presbiacusia pode se tornar aparente antes da velhice. Foi perguntado a 1512 alunos do ensino médio se eles já haviam notado algum sintoma de perda de audição (zumbidos, sons abafados, surdez temporária). Quase um terço disse que sim, sem perceber que as músicas altas nos seus fones de ouvido ou em shows podem danificar os pelos da orelha interna (Vogel et al., 2010). Muitos países exigem que os trabalhadores da construção civil utilizem proteção auditiva, mas nenhuma lei os protege contra a música alta. RESUMINDO A senescência é o processo de envelhecimento, evidente em todas as partes do corpo a partir do momento em que o crescimento termina. Contudo, as mudanças têm menos consequências hoje em dia do que séculos atrás, quando adultos precisavam de força física para completar um dia de trabalho. Para a maioria dos adultos, o corpo e o cérebro funcionam normalmente, já que a reserva de órgãos e a homeostase compensam o estresse momentâneo. Atividades que exigem o desempenho máximo de muitas partes do corpo, como competições de atletismo, aceleram o envelhecimento na adultez. A aparência reflete a idade: A pele fica menos macia, o cabelo afina e se torna grisalho, os corpos adquirem gordura e as formas mudam. Essas mudanças externas têm pouco impacto na saúde física, mas muitos adultos se importam com isso e tentam parecer mais novos. Os sentidos ficam menos precisos, com alguns aspectos decaindo mais rápido do que outros. A genética e as experiências afetam a senescência sensorial. ■ >> O Sistema Reprodutor Como você acabou de ver, apesar de a senescência afetar todas as partes do corpo, pessoas de 60 anos podem fazer quase tudo que pessoas de 30 anos fazem, embora mais devagar e com mais cuidado. Contudo uma tarefa crítica se torna virtualmente impossível para as mulheres e difícil para os homens na medida em que eles se aproximam dos 50 anos – a reprodução. Contracepção O envelhecimento do sistema reprodutor é universal. Se isso importa ou não para um indivíduo, depende de contexto histórico (inclusive dos avanços médicos) e valores locais; o exemplo mais clássico é o controle de natalidade. Sem ele, as mulheres evitavam o sexo para não engravidar. Agora a contracepção transformou a sexualidade feminina, o que também afeta os homens. Valores locais moldam os métodos contraceptivos. Os casais na Índia, por exemplo, confiam na esterilização feminina para controlar o tamanho da família, mas nunca utilizam a esterilização masculina (Sunita & Rathnamala, 2013). Nos Estados Unidos, dois terços das mulheres sexualmente ativas acima dos 35 anos são esterilizadas, com uma proporção total de mulheres/homens de 2:1. Essa proporção varia por etnia. Entre afro-americanos e latinos, o número de mulheres esterilizadas é muito maior que o número de homens nas mesmas circunstâncias (U.S. Center for Health Statistics, 2012). O método contraceptivo mais popular entre as mulheres mais novas nos Estados Unidos e na França é a pílula anticoncepcional, mas a pílula quase nunca é usada no Japão, exceto para regulação de ciclos menstruais (Matsumoto et al., 2011). Nenhum método contraceptivo está disponível em alguns países mais pobres, mesmo onde os partos indesejados ou pouco espaçados são a principalcausa de morte entre as mulheres (Cleland et al., 2012). Como nenhum contraceptivo é permitido em Bangladesh, os casais utilizam o aborto precoce (sem chamá-lo de aborto) para controlar o tamanho das famílias (Gipson & Hindin, 2008). No mundo todo, o aborto é ilegal em alguns países e prontamente disponível em outros. Os Estados Unidos estão no meio desses extremos, uma vez que são evidentes as diferenças de acesso ao aborto em cada estado. Essas variações tão acentuadas nos meios preferidos para prevenir partos indesejados são exemplos da falta de conexão entre a biologia e a psicologia humana. A falta de conexão também é dramática no que tange à excitação sexual, ao orgasmo, à fertilidade e à menopausa – todos biológicos, mas cujos efeitos, e até mesmo a ocorrência, são fortemente influenciados pela mente (Pfaus et al., 2014). Como muitos dizem: “O órgão sexual humano mais importante está na cabeça.” Resposta Sexual Com a idade, a excitação ocorre de forma mais lenta e o orgasmo leva mais tempo para acontecer. Para alguns casais, essas desacelerações são contrabalanceadas pela redução da ansiedade e pela melhora na comunicação à medida que os indivíduos ficam mais familiarizados com seus próprios corpos e de seus companheiros. O desconforto com a resposta mais demorada parece menos relacionado com o envelhecimento fisiológico do que com questões interpessoais problemáticas, medos e expectativas irreais (Burri & Spector, 2012; LaMater, 2012). A maioria das pessoas é sexualmente ativa ao longo da adultez. Um estudo descobriu que, em média, a relação sexual (a expressão mais estudada dentro da atividade sexual) cessava aos 60 anos para mulheres e aos 65 para homens. Essa foi a média, mas muitos pararam de ter relações antes dos 60 anos e outros se mantiveram ativos até os 80 anos (Lindau & Gavrilova, 2010). Um estudo feito com adultos alemães, com idade entre 18 e 93 anos, confirmou que o desejo e a atividade sexual diminuem com a idade para ambos os sexos. A disponibilidade de parceiros é a chave. Para completar, o desemprego diminui o desejo sexual masculino, e traumas do passado (abuso, estupro) afetam o desejo feminino (Beutel et al., 2008). Alguns adultos dizem que a resposta sexual pode melhorar com a idade. Poderia isso ser verdade? A rapidez não é sempre considerada importante? Pelo menos não há provas de que a resposta sexual piora; excitação e orgasmo podem continuar a acontecer durante toda a vida. De acordo com um estudo feito com casais de Chicago, no início dos anos 1990, a maioria dos adultos de todas as idades gosta de “altos níveis de satisfação emocional e prazer físico do sexo com seus parceiros” (Laumann & Michael, 2000, p. 250). Esse estudo afirmou que grande parte de homens e mulheres relatou que estariam “extremamente satisfeitos” com o sexo se eles estivessem em um relacionamento firme e monogâmico – uma situação mais provável depois dos 30 anos (Laumann & Michael, 2000). A melhora da sexualidade com a idade pode ser uma mudança de coorte, e não uma mudança fisiológica. Para algumas pessoas, especialmente os nascidos antes de 1950, ao chegar à puberdade, o sexo era considerado vergonhoso e sujo. Depois, como a contracepção avançou, e mais mudanças ocorreram, o sexo passou a ser visto como satisfatório e positivo. Como as atitudes mudaram, o sexo se tornou mais satisfatório. Ainda é verdade que os adolescentes e os jovens adultos são ansiosos e confusos com relação à sexualidade e morrem de medo de uma gravidez acidental? Na adultez, as pessoas ficam mais seguras de sua sexualidade e mais confiantes com relação ao planejamento familiar? Se a resposta para essas duas perguntas é sim, então a resposta sexual melhoraria à medida que a vida adulta progredisse, porque o medo e a culpa diminuiriam e um clímax mais demorado permitiria maior tempo e mais variedade no sexo. Um estudo feito com mulheres a partir de 40 anos para cima concluiu, assim como esperado, que a atividade sexual diminui a cada década, mas a satisfação sexual não (Trompeter et al., 2012). Esse estudo pode não refletir um padrão universal, uma vez que a maioria das participantes eram mulheres americanas de ascendência europeia de classe alta, e os dados foram colhidos por questionário. Por questões políticas, ainda não foi feito um estudo válido, longitudinal, representativo e de grande escala sobre a resposta sexual. É provável, entretanto, que as mudanças de coorte estejam melhorando a resposta sexual. Há algumas décadas, o sexo era furtivo e proibido para adultos que fossem gays, lésbicas, divorciados ou que nunca se casaram. Isso não é mais válido hoje em dia, pelo menos nos Estados Unidos, onde adultos em qualquer um desses grupos são mais aceitos. Os adultos podem experimentar aumento na resposta sexual com a idade. Fertilidade infertilidade Incapacidade de conceber uma criança após tentar por pelo menos um ano. Apesar de a atividade sexual ser pouco estudada, muitas pesquisas são feitas sobre a infertilidade, que é frequentemente definida como a incapacidade de conceber, depois de tentar por pelo menos um ano, embora essa definição varie de país para país (Gurunath et al., 2011; Hayden & Hallstein, 2010). Para casais que querem filhos, mas não tiveram, o arrependimento se incrementa com a idade; mas para os casais que preferem não ter filhos, a idade traz um alívio. A infertilidade aumenta quando a assistência média é rara (Gurunath et al., 2011) e por isso varia de país para país. Nos Estados Unidos, cerca de 12 por cento dos casais de adultos são inférteis, em parte porque muitos adiam a gravidez para muito depois da adolescência. Outro grupo (talvez 10 por cento das mulheres adultas na Alemanha, Reino Unido e nos Estados Unidos – e muito poucas em outros países) escolhe evitar a maternidade (Basten, 2009). Dos casais norte-americanos cujos cônjuges têm aproximadamente 40 anos, e que estão tentando conceber, cerca de metade deles falha, e a outra metade arrisca ter várias complicações. Obviamente, risco não quer dizer realidade. Em 2011, nos Estados Unidos, 116.000 bebês nasceram de mulheres com 40 anos ou mais velhas, o único grupo em que a taxa de natalidade estava aumentando (Hamilton et al., 2012). Um quarto desses nascimentos foi de primeiros partos. Mesmo com as complicações advindas com a idade, quase todas as crianças nascidas de mulheres mais velhas foram crianças saudáveis. Como explicado no Capítulo 17, os picos de fertilidade ocorrem no final da adolescência. Do ponto de vista biológico (não fisiológico), as mulheres deveriam tentar conceber antes dos 25 anos e os homens antes dos 30. Quando os indivíduos ainda são relativamente jovens e não conseguem conceber, a ajuda médica geralmente resolve o problema. Causas da Infertilidade Quando os casais são inférteis, um terço dos casos pode estar no homem, um terço na mulher; no último terço, atribui-se a infertilidade a uma causa misteriosa. A seguir, alguns comentários específicos. A baixa quantidade de esperma é um motivo comum da infertilidade masculina. A concepção é mais provável quando o homem ejacula mais de 20 milhões de espermatozoides por mililitro de sêmen, sendo dois terços deles móveis e viáveis, porque a jornada de cada esperma através do colo do útero e do útero é auxiliada por milhões de companheiros de viagem. A contagem de esperma pode ter diminuído no último século, mas essa contagem varia muito de lugar para lugar – é mais alta no sul da França do que em Paris; em Nova York do que na Califórnia; na Finlândia do que na Suécia – por motivos que podem estar mais conectados à especificidade das amostras do que à saúde ou à idade do homem (Merzenich et al., 2010). Dependendo da idade do homem, cada dia cerca de 100 milhões de espermatozoides atingem a maturidade depois de um processo de desenvolvimento que dura cerca de 75 dias. Qualquer coisa que prejudique o funcionamento do corpo durante esses 75 dias (febre, radiação, drogas prescritas e não prescritas, tempo de sauna, estresse, toxinas ambientais, álcool,cigarros) reduz o número, a forma, a motilidade (atividade) dos espermas, fazendo com que a concepção fique mais difícil. Comportamentos sedentários, talvez particularmente assistir televisão, também estão correlacionados com o baixo nível de espermatozoides (Gaskins et al., 2013). A idade reduz a contagem de esperma, e essa é a explicação provável para uma estatística interessante: o número de meses que um homem com mais de 45 anos leva para engravidar uma mulher é cinco vezes maior do que o número de meses que levaria se ainda tivesse 25 anos (Hassan & Killick, 2003). (Esse estudo controlava a frequência do sexo e a idade das mulheres.) Em geral, o baixo nível de espermatozoides é comum, mas facilmente remediado. Especialmente para os Homens Jovens Um homem mais novo que engravida uma mulher se sente orgulhoso de sua masculinidade. Essa reação é válida? Assim como acontece com os homens, a fertilidade da mulher pode ser afetada por qualquer coisa que interfira no funcionamento do corpo – doenças, fumo, dietas extremas e obesidade. Da mesma forma que ocorre com homens, a idade também desacelera cada etapa da reprodução feminina – ovulação, implantação, crescimento do feto, parto e nascimento. Muitas mulheres inférteis nem mesmo sabem que contraíram uma doença que pode causar infertilidade – doença inflamatória pélvica (DIP). A DIP cria um tecido cicatricial que, às vezes, bloqueia as trombas de falópio, impedindo o esperma de atingir o óvulo. Tratamentos de Fertilidade Nos últimos 50 anos, os avanços médicos resolveram cerca de metade dos problemas de fertilidade. Cirurgias reparam sistemas reprodutivos e as tecnologias de reprodução assistida (TRA) superam obstáculos, como a baixa contagem de espermatozoides e o bloqueio das trombas de falópio. Alguns procedimentos de TRA, incluindo a fertilização in vitro (FIV), que já permitiu aproximadamente 5 milhões de nascimentos (Fisher & Guidice, 2013), foram explicados no Capítulo 3. Doadores de esperma, óvulos e útero podem ajudar casais inférteis ou homossexuais. O nascimento por um desses meios é biologicamente possível e, juntos, já geraram dezenas de milhares de crianças e resolveram muitas questões morais. Alguns usos de TRA são moralmente aceitáveis por praticamente todos, sobretudo quando casais identificam doenças que antecipam a infertilidade. Por exemplo, muitos pacientes com câncer congelam seus espermas ou óvulos antes da quimioterapia ou radiação, o que permite a concepção depois de sua recuperação. Em outro exemplo, antes de 2000, os médicos recomendavam a esterilização e previam mortes prematuras para pessoas com HIV. Hoje, essas pessoas quase sempre usam camisinha nas relações sexuais (para proteger o parceiro não infectado) e vivem por décadas. Se a mulher é portadora do vírus, remédios e a cesariana quase sempre garantem a segurança do feto; se o homem é HIV positivo, o esperma pode ser colhido e limpo em laboratório para retirar o vírus e, via FIV, a gravidez pode ocorrer (Sauer et al., 2009). Todos os procedimentos de TRA precisam de uma assistência médica cara, que o seguro geralmente não cobre. A FIV exige que ambos os pais biológicos se submetam a procedimentos especiais. A mulher tem que tomar hormônios para aumentar o número de óvulos prontos para serem retirados cirurgicamente, e o homem tem que ejacular em um receptáculo. Depois técnicos juntam os espermatozoides e os óvulos, em geral escolhendo um espermatozoide ativo para ser inserido em cada óvulo normal. Idealmente, zigotos se formam e se duplicam. A partir daí, um ou mais blastócitos saudáveis são inseridos no útero, que está pronto para a implantação via medicamentos adicionais. Mesmo com um preparo cuidadoso, menos de metade dos blastócitos se implantam e crescem para virar recém-nascidos. Algumas mulheres mais novas congelam seus óvulos para fazer FIV anos depois, porque a idade dos óvulos é importante (MacDougall et al., 2013). Abortos espontâneos (talvez um terço dos embriões implantados) aumentam com a idade. Na maioria dos países europeus, o seguro público cobre os custos das TRAs, não obstante alguns países exigirem provas de infertilidade e de casamento, entre outras. Nos Estados Unidos, o seguro particular raramente cobre as TRAs, mas o seguro dos militares federais cobre. Isso aumenta a taxa de FIV entre americanos europeus e americanos africanos inférteis, mas não entre americanos hispânicos (McCarthy-Keith et al., 2010). Há mais americanos africanos e americanos latinos inférteis do que americanos europeus, mas suas taxas de TRA são baixas, por muitas razões econômicas e culturais (Greil et al., 2011). Quando as crianças de FIV não têm baixo peso ao nascer, elas se desenvolvem como as outras crianças, não somente em saúde, inteligência e resultados escolares, mas também no que tange ao seu desenvolvimento emocional na adolescência (Wagenaar et al., 2013). >> Resposta para os Homens Jovens: A resposta depende do conceito que a pessoa tem do que é ser homem. Nenhum desenvolvimentista definiria um homem somente por sua alta contagem de espermatozoides. Pais podem ser mais responsivos a filhos de FIV. Isso é sugerido por um estudo feito na Jamaica, onde pais de FIV são mais autoritativos e menos permissivos ou autoritários do que pais de crianças concebidas espontaneamente (Pottinger & Palmer, 2013). Há pelo menos duas explicações possíveis: que os pais tendem a ser mais maduros e que as crianças tendem a ser fortemente desejadas. Menopausa Durante a adultez, o nível dos hormônios sexuais que circulam na corrente sanguínea diminui – repentinamente nas mulheres, gradualmente nos homens. Como resultado, o desejo sexual, a frequência de relações sexuais, e as chances de reprodução diminuem. As especificidades se diferenciam entre homens e mulheres. Mulheres na Meia-Idade menopausa Momento na meia-idade, normalmente aos 50 anos, quando as mulheres param de menstruar e cai a produção do estrogênio, da progesterona e da testosterona. A rigor, a menopausa acontece um ano depois da última menstruação da mulher, embora alguns sintomas fiquem evidentes muitos meses antes ou muitos meses depois. Para as mulheres, em algum momento entre os 42 e os 58 anos (a média é 51 anos), a ovulação e a menstruação cessam devido a uma queda acentuada na produção de vários hormônios. Isso é a menopausa. A idade em que a menopausa acontece de maneira espontânea é afetada primeiramente pelos genes (17 já foram identificados; veja Morris et al., 2011; Stolk et al., 2012) mas também pelo hábito de fumar (menopausa precoce) e pela atividade física (menopausa tardia). Nos Estados Unidos, uma em cada quatro mulheres faz uma histerectomia (remoção cirúrgica do útero), que frequentemente inclui a remoção dos ovários. Se ocorrer antes da menopausa, a remoção dos ovários pode causar os mesmos sintomas menopáusicos – secura vaginal e distúrbios da temperatura corporal, que incluem ondas de calor (sentindo calor), ruborização da pele (parecendo com calor) e suor frio (sensação de calafrios). A menopausa natural produz as mesmas sensações, mas não tão de repente e nem em todas as mulheres. A menopausa precoce, cirúrgica ou não, aumenta o risco de vários problemas de saúde no futuro (Hunter, 2012). As consequências psicológicas da menopausa variam mais do que as fisiológicas. Em uma frase célebre, a antropóloga Margaret Mead disse: “Não há força mais criativa no mundo que uma mulher na menopausa e com entusiasmo.” Algumas mulheres na menopausa têm humor irregular, algumas têm mais energia e outras ficam deprimidas (Judd et al., 2012). terapia de reposição hormonal (TRH) Tomar hormônios (na forma de pílulas, adesivos ou injeções) para compensar a redução hormonal. A TRH é mais comum para mulheres na menopausa ou após a remoção dos ovários, mas também é feita por homens depois que a produção de testosterona diminui. A TRH tem alguns usos médicos, mas também traz riscos à saúde. Nos últimos 30 anos, milhões de mulheres em pós-menopausa fizeram uso de terapia de reposição hormonal(TRH). Algumas fizeram para aliviar os sintomas da menopausa; outras para prevenir a osteoporose (ossos frágeis), doenças do coração, derrames ou demência. Estudos correlacionados descobriram que essas doenças acometem com menos frequência as mulheres que fazem TRH. Pesquisadores acreditam que, como as mulheres com melhor nível de educação e melhor nível socioeconômico são mais propensas a fazer TRH, o baixo nível de doenças se deve primeiramente ao alto status socioeconômico. Em estudos longitudinais controlados, a U.S. Woman Health Initiative descobriu que tomar estrogênio e progesterona aumentava o risco de doenças do coração, derrames e câncer de mama, além de não prevenir a demência (U.S. Preventive Services Task Force, 2002). Um grande estudo de observação confirmou o risco de câncer de mama. Mulheres que faziam TRH tinham mais chances de desenvolver câncer de mama (em um índice de 6 para 1000, comparado a um índice de 4 para 1000) (Chlebowski et al., 2013). TRH, de fato, diminui as ondas de calor e a incidência de osteoporose, mas as mulheres que querem esse benefício precisam pesar os custos. Surpreendentemente, a cultura parece mais influente do que a análise custo-benefício. Por exemplo, pesquisadores australianos confirmaram que o estrogênio reduz a osteoporose; então muitas mulheres australianas passaram a tomar hormônios (Geelhoed et al., 2010). Um estudo na Alemanha descobriu que os médicos hesitavam em prescrever a TRH, mas, na menopausa, a maioria das ginecologistas fazia uso de TRH, e os ginecologistas a prescreviam para suas esposas (Buhling et al., 2012). Homens na Meia-Idade andropausa Termo usado para denominar a queda dos níveis de testosterona em homens mais velhos; normalmente resulta na diminuição do desejo sexual, das ereções e da massa muscular. (Também chamada de menopausa masculina.) Os homens passam por um processo parecido com a menopausa? Alguns dizem que sim, sugerindo que a palavra andropausa deveria ser usada para identificar a queda de testosterona devido à idade, que reduz o desejo sexual, a ereção e a massa muscular (Samaras et al., 2012). Mesmo com medicamentos que induzem a ereção, como o Viagra e o Levitra, o desejo sexual e a velocidade do orgasmo diminuem com a idade, assim como muitas outras funções fisiológicas e cognitivas. No entanto, a maior parte dos especialistas acredita que o termo andropausa (ou menopausa masculina) leva a uma interpretação errada, porque sugere uma queda repentina nas habilidades reprodutivas ou hormonais. Isso não acontece com os homens, que, em alguns casos, produzem espermatozoides viáveis até o final da vida. A falta de atividade sexual e a ansiedade reduzem o nível de testosterona – com um resultado superficialmente parecido com o da menopausa, mas com causas psicológicas e não fisiológicas. Para combater a queda natural de testosterona, alguns homens de meia-idade e mais velhos se voltaram para a reposição hormonal (Samaras et al., 2012). Algumas mulheres também tomam uma pequena quantidade de testosterona para aumentar o desejo sexual. Mas um estudo longitudinal com ambos os sexos, comparando o suplemento de testosterona com placebo, encontrou que não há benefícios (sexuais ou de outro tipo) (Nair et al., 2006). Na verdade, a TRH masculina pode causar doenças do coração e outros problemas (Handelsman, 2011). Cerca de 2 por cento dos homens mais velhos com baixo nível de testosterona se beneficiam da reposição. Para a maioria dos homens, entretanto, os médicos são céticos em relação a esses benefícios (Handelsman, 2011). Alguns diriam que os homens se beneficiariam mais “se aprendessem os benefícios da atividade física. … Digam a eles que peguem os 1200 dólares que seriam gastos em testosterona por ano e, em vez disso, inscrevam-se na academia, comprem uma bicicleta ergométrica – eles terão dinheiro sobrando para roupas novas” (Casey, 2008, p. 48). Todas as evidências encontradas em ambos os sexos mostram que a saúde adulta depende mais dos hábitos saudáveis do que da TRH. Assunto da próxima discussão. RESUMINDO A eficiência do sistema reprodutor cai com a idade, no início dos 20 anos. À medida que a meia-idade se aproxima, muitos casais notam que levam mais tempo para atingir o orgasmo, a frequência das relações sexuais diminui, e a fertilidade se torna reduzida – embora os aspectos psicológicos da interação sexual possam melhorar. Cerca de 12 por cento dos casais nos Estados Unidos são inférteis; a idade é uma das muitas razões. A reprodução assistida pode ajudar milhões de casais inférteis a terem filhos, apesar de o processo ser por vezes difícil e não oferecer garantia da concepção. Aos 51 anos, em média, a mulher passa pela menopausa, uma queda no estrogênio que faz com que a ovulação e a menstruação cessem. A produção hormonal também diminui com a idade nos homens; contudo, muitos homens mais velhos continuam a produzir espermatozoides viáveis. A terapia de reposição hormonal para ambos os sexos é controversa. Muitos médicos nos Estados Unidos temem os possíveis riscos para a saúde, tanto do homem quanto da mulher, mesmo que muitas mulheres, em outros lugares, e muitos homens, nos Estados Unidos, utilizem hormônios. ■ >> Hábitos de Saúde e Idade A rotina de cada um, a partir da infância, afeta de forma poderosa qualquer doença ou condição crônica. Isso é particularmente real para problemas associados ao envelhecimento – de artrite a varizes – que podem começar a aparecer a partir dos 50 anos, mas que na verdade começam décadas antes. Com efeito, algumas condições dos adultos são afetadas pela saúde materna quando eles ainda eram embriões (Haas et al., 2013). Praticamente todas as doenças fatais se tornam mais comuns a cada década da adultez. O câncer é um exemplo clássico (veja o quadro adiante). Entretanto, a maioria dos cânceres está relacionada a estilos de vida que aumentam a carga alostática a cada ano. Não obstante os genes fazerem as pessoas mais vulneráveis a cânceres específicos, o ambiente sempre faz diferença: cerca de um terço das mortes por câncer está relacionado ao hábito de fumar, outro terço está relacionado a dietas, e o terço final relacionado a várias toxinas. A seguir, vamos observar os hábitos dos adultos com o objetivo de entender quais deles contribuem para diminuir a vitalidade. Meio Século de Mortes por Câncer nos Estados Unidos: Taxa anual a cada 100.000 pessoas por faixa etária Idade 1960 2010 1–4 10 2 5–14 7 2 15–24 8 4 25–34 20 9 35–44 60 29 45–54 177 12 55–64 397 300 65–74 714 666 75–84 1127 1202 85+ 1450 1730 Como você pode ver, principalmente por causa de diagnósticos precoces e tratamentos melhores, as mortes por câncer são drasticamente inferiores para pessoas com menos de 35 anos e, de certa forma, reduzidas para pessoas entre 35 e 75 anos. Entretanto, essa taxa aumenta para idosos, em parte porque, quando eles eram mais novos, provavelmente fumavam mais cigarros e se alimentavam de mais comidas processadas altamente gordurosas do que as pessoas dos outros grupos. Ainda é preciso saber se os adultos da primeira metade do século XXI também sofrerão consequências de um alto carregamento alostático. Abuso de Drogas Como descrito no Capítulo 17, o abuso de drogas, especificamente as ilegais, diminui acentuadamente na adultez – em geral antes dos 25 anos e quase sempre aos 40 anos. Das drogas ilegais, a maconha é a que menos deixa de ser usada. Nos Estados Unidos, cerca de 11 por cento dos adultos entre 25 e 34 anos ainda fumam maconha (National Center for Health Statistics, 2013); essa taxa aumenta à medida que a droga se torna legal em vários estados. Apesar de o uso de drogas ilegais diminuir na adultez, o abuso de medicação prescrita aumenta. Uma das razões é que esses medicamentos são passados primeiramente para diminuir a dor, a insônia ou a angústia psicológica, e as pessoas não percebem quando se tornam dependentes. Todavia, nos Estados Unidos, sem dúvida as drogas que causamdependência e são mais comumente utilizadas são duas drogas legais, vendidas a qualquer pessoa maior de idade, em centenas de milhares de lojas – o tabaco e o álcool. Tabaco As taxas de morte por câncer de pulmão (a maior causa de morte por câncer na América do Norte) refletem o padrão de tabagismo de anos anteriores. Cerca de 70 por cento das mortes de câncer de pulmão no mundo e 90 por cento em países industrializados são causadas por cigarros (Ezzati & Riboli, 2012). Como os homens norte-americanos vêm deixando de fumar há décadas, a taxa de mortes de homens por câncer de pulmão diminuiu significativamente desde 1980, e a taxa de mortes relacionadas a câncer de homens entre 45 e 64 anos é agora muito menor do que a taxa dos adultos mais velhos. Em 2010, a idade média para o diagnóstico do câncer de pulmão era de 70 anos (National Cancer Institute, 2013). As taxas dos homens adultos continuam a cair. Em comparação com os homens, poucas mulheres fumavam no início do século XX, mas depois o número de mulheres fumantes aumentou e recentemente voltou a diminuir. Consequentemente, nos Estados Unidos, durante o mesmo ano em que as mortes de homens relacionadas a câncer de pulmão diminuíram, as taxas das mulheres aumentaram. Há cinquenta anos, mais mulheres morrem de “cânceres de mulheres” (mama, colo do útero ou de ovários) do que de câncer de pulmão; ao contrário, em 2010, quase duas vezes mais mulheres adultas morreram de câncer de pulmão do que dos três outros cânceres combinados (National Center for Health Statistics, 2013). Felizmente, o tabagismo diminuiu na última década na América do Norte (Estados Unidos, Canadá e México) para todas as idades e gêneros. Em 1970, metade dos homens adultos nos Estados Unidos e um terço das mulheres fumavam, mas em 2010 apenas 22 por cento dos homens e 18 por cento das mulheres fumavam, com quase a mesma quantidade de ex-fumantes e fumantes. Ainda não é hora de comemorar, contudo, porque “o tabagismo continua sendo a maior causa de morbidade evitável e mortandade nos Estados Unidos” (MMWR, 2013, p. 81). As projeções norte-americanas sugerem um futuro melhor. Mulheres estão seguindo os passos masculinos de parar de fumar, e muitos escritórios, casas e locais públicos agora estão livres do fumo. A porcentagem de adultos fumantes parece estar estancada em cerca de 20 por cento ao longo da última década, com taxas muito mais baixas depois dos 65 anos (veja a Figura 20.2). Não se sabe se isso porque muitos adultos deixaram de fumar ao atingir a velhice, ou porque a maioria dos fumantes crônicos já morreu. A tendência no resto do mundo é menos encorajadora. Quase metade dos adultos na Alemanha, Dinamarca, Polônia, Holanda, Suíça e Espanha é de fumantes. Em países em desenvolvimento, as taxas de fumantes estão aumentando, especialmente entre mulheres. A Organização Mundial da Saúde classifica o tabaco como “a maior causa evitável de mortes e doenças crônicas no mundo” (Blas & Kurup, 2010, p. 199). Estima-se que um bilhão de mortes relacionadas ao fumo ocorram no mundo entre 2010 e 2050. FIGURA 20.2 Mais Velho e Mais Sábio Todos podem ver a boa notícia óbvia aqui. Nos Estados Unidos (não no mundo todo), bem menos pessoas de todas as idades estão fumando agora do que em 1965. Mas olhe atentamente com uma perspectiva desenvolvimentista: mais da metade das pessoas, agora com 65 anos, era fumante quando era jovem adulto. Diz-se que o cigarro vicia tanto quanto a heroína, e a taxa de pessoas que param de fumar aumenta a cada ano da adultez. Isso mostra que cerca de 100.000 americanos venceram um hábito poderoso e destrutivo. Fonte: National Center for Health Statistics, 2013. Abuso de Álcool O mal causado pelo cigarro está relacionado à dose consumida: cada tragada, cada dia, cada respiração do fumante passivo aumentam as possibilidades de câncer, doenças do coração, derrames e enfisema. Nenhuma dessas doenças é provocada de forma direta pela bebida. Na verdade, o álcool até pode ser benéfico. Pessoas que bebem vinho, cerveja ou aguardente com moderação – nada além de dois copos por dia – vivem mais do que pessoas em abstinência. Beber mais do que isso é prejudicial. A razão primordial de o álcool ser benéfico é que o álcool reduz as chances de doenças coronárias e derrames. Aumenta o HDL (lipoproteína de alta densidade), o colesterol “bom”, e reduz o LDL (lipoproteína de baixa densidade), o colesterol “ruim”, que provoca obstrução das artérias e coágulos sanguíneos. Um drinque ocasional também pode baixar a pressão sanguínea e a glicose (Klatsky, 2009). Contudo, o consumo moderado é impossível para algumas pessoas, e a falta de moderação é algo perigoso. Alcoolistas acham mais fácil se manter em abstinência do que beber apenas um copo. O consumo excessivo de álcool aumenta o risco de derrames e pressão alta. Além disso, o abuso do álcool destrói as células do cérebro; contribui para a osteoporose; diminui a fertilidade; e está relacionado a muitos suicídios, homicídios e acidentes – causando danos a muitas famílias. Tem relação com 60 doenças; não apenas câncer de fígado, mas também câncer de mama, estômago e garganta. Há fortes variações internacionais no abuso de álcool. É raro em países muçulmanos onde o álcool é ilegal, mas é a causa de quase metade das mortes de homens com menos de 60 anos na Rússia (Leon et al., 2007). Para os adultos nos Estados Unidos, o consumo excessivo de álcool é perigoso e comum. Cerca de 32 por cento das pessoas entre 25 e 44 anos e 18 por cento das que têm entre 45 e 64 anos beberam cinco ou mais doses em uma única ocasião no ano anterior (National Center for Health Statistics, 2013). Os Estados Unidos tiveram 88.000 mortes relacionadas com o consumo de álcool entre os anos de 2006 e 2010 (MMWR, 14 de março, 2014). Especialmente para Médicos e Enfermeiros Se você tivesse que escolher entre recomendar vários exames preventivos ou várias mudanças no estilo de vida para uma pessoa de 35 anos, o que você escolheria? De 1980 a 2010 nos Estados Unidos, várias leis e práticas comunitárias reduziram pela metade a taxa de mortes no trânsito causadas por motoristas alcoolizados. Em muitos países, o risco de morte por acidentes causados por alcoolismo é mais comum entre jovens adultos, mas o dano permanente para as famílias prevalece quando a pessoa alcoolista já é de meia-idade (Blas & Kurup, 2010). Geralmente, países de baixa renda possuem mais pessoas em abstinência, mais pessoas que bebem em excesso e menos pessoas que bebem moderadamente do que países com maior poder aquisitivo (Blas & Kurup, 2010). Em países mais pobres, a prevenção e as estratégias de tratamento para o abuso de álcool ainda não foram definidas, a regulamentação é rara e as leis não se concentraram no abuso (Bollyky, 2012). Portanto, o abuso de álcool se torna um problema particularmente letal em países de baixa renda. Alimentação Entre os 20 e os 60 anos o metabolismo cai cerca de um terço, e a digestão se torna menos eficiente. Para manter o peso, os adultos precisam comer menos e se mover mais à medida que envelhecem. Além disso, como as calorias totais devem diminuir, mais frutas e vegetais e menos doces e gorduras devem ser consumidos por ano. Isso porém não é o que acontece. Prevalência da Obesidade Nos Estados Unidos, adultos ganham, hoje, uma média de meio a um quilograma por ano, muito mais do que gerações mais antigas ganhavam. Assim, por todos os 40 anos da adultez, o total de ganho de peso é de 18 a 36 quilos. Como resultado, dois terços dos adultos nos Estados Unidos estão acima do peso, que é definido como um índice de massa corporal (IMC) de 25 ou mais. De fato, quase um terço de todos os homens americanos e mais de um terço das mulheres americanas que têm entre 25 e 65 anos são obesos (com o IMC maior que 30), sendo 12 por cento dos homens e 20 por cento das mulheres obesos mórbidos (com IMC maior que 40) (National Center for Health Statistics, 2013). [Link: IMC foi explicado no Capítulo 17.] Se os números de IMC parecem abstratos, imagineuma pessoa que tem 1,72 m de altura. Se essa pessoa pesa 68 quilos, seu IMC é aproximadamente 23, um peso normal. Se ela pesa 90 quilos, o IMC é 30, o que a torna obesa. Se ela pesa mais de 118 quilos, o IMC é acima de 40, o que a torna obesa mórbida. Se você passa a maior parte de seu tempo entre estudantes universitários de 20 anos, pode não estar ciente da prevalência da obesidade porque as pessoas na faixa dos 20 anos têm taxas mais baixas de obesidade do que as pessoas de 40 ou 50 anos. Além disso, aqueles que são obesos costumam sair menos de casa, então você pode não vê-los com a mesma frequência que vê pessoas magras. Meio milhão de pessoas no mundo são obesas. Os números parecem ter atingido um alto patamar nos Estados Unidos, mas muitos países em desenvolvimento reportam um rápido aumento das taxas (veja, mais adiante, Visualizando o Desenvolvimento). Isso é particularmente real na África e na Ásia, onde a desnutrição já foi o maior problema relacionado à alimentação; hoje é a obesidade (Organização Mundial da Saúde, 2013). Consequências da Obesidade Uma recente análise descobriu que as taxas de morbidade por idade para adultos que estavam de alguma forma acima do peso eram mais baixas do que as taxas para pessoas que eram magras, uma conclusão que agradou muitos adultos de grande porte (Flegal et al., 2013). Contudo, o IMC 25 ou 26 pode estar adequado, mas nenhuma pesquisa diz que a obesidade é saudável. Excesso de gordura corporal aumenta o risco de quase todas as doenças crônicas. Um exemplo é a diabetes, que rapidamente está se tornando mais comum e causa problemas nos olhos, no coração e nos pés, assim como morte prematura. Apesar de a diabetes ser parcialmente genética, essa tendência genética pode ser exacerbada por causa do excesso de gordura. Os Estados Unidos são os líderes mundiais tanto em obesidade como em diabetes. >> Resposta para Médicos e Enfermeiros: É claro que depende muito do paciente. Mas, de uma forma geral, o número de pessoas que morrem por doenças ocasionadas por muitos anos de maus hábitos de saúde é muito maior que o número de pessoas que morrem por doenças que não foram detectadas previamente. Com algumas exceções, 35 anos é muito cedo para detectar cânceres incipientes ou problemas circulatórios, mas já está mais do que na hora de parar de fumar, reduzir o álcool, melhorar a dieta e fazer exercícios. As consequências da obesidade são psicológicas e também físicas, já que adultos obesos são alvos de chacota e preconceito. Eles têm menos chances de serem escolhidos como cônjuges, funcionários e até mesmo como amigos. O estigma que pessoas gordas carregam as leva a evitar consultas médicas, a comer mais e a fazer menos exercícios – o resultado é que a saúde delas é mais prejudicada do que o simples fato de estar acima do peso poderia indicar (Puhl & Heuer, 2010). Em vez de se preocupar em chegar ao peso ideal, o objetivo das pessoas que têm a saúde prejudicada pelo peso deveria ser perder peso o suficiente para proteger a saúde. A ênfase cultural no IMC ideal, particularmente para mulheres, pode encorajar dietas não saudáveis e ter como consequência distúrbios alimentares, incluindo comer em excesso (Shai & Stampfer, 2009). Isso pode explicar por que há mais mulheres com peso saudável do que homens (elas se importam mais) ou obesas (elas desistem, caso não consigam emagrecer). Comer de forma saudável e ter bons planos para a saúde é importante para todos os adultos, estando eles acima do peso ou não. De fato, algumas pessoas podem ser geneticamente destinadas a estar fora dos limites do peso normal. Nos Estados Unidos, os adultos americanos de origem asiática têm taxas significativamente mais baixas de obesidade (11 por cento), e afro- americanos têm taxas mais altas (48 por cento). Talvez seja necessário alterar os cortes de IMC para esses grupos. Também é possível que o peso seja um fator importante para as maiores taxas de morte prematura entre afro-americanos. A relação entre cultura e obesidade é fundamental, apesar de não entendida completamente. Por exemplo, cientistas coletaram várias medidas biofisiológicas (incluindo peso, altura, pressão sanguínea e níveis de colesterol e glicose) de 5000 adultos, metade deles com ascendência inuíte (esquimós) e a outra metade com ascendência europeia, todos vivendo no extremo Noroeste da América do Norte. Embora os inuítes tenham maior IMC, os riscos de saúde relacionados ao peso entre eles foram muito menores do que entre os europeus. Séculos de adaptação ao Ártico podem ter produzido uma gordura corporal isolante, sem criar o risco de mortalidade usualmente associado ao excesso de peso (Young et al., 2007). Em outro estudo, a adaptação às condições nacionais diminuiu o risco de problemas de saúde. Em Cuba, de 1991 a 1995, uma crise econômica nacional acabou resultando em menos carne para a população e mais exercícios físicos, o que causou uma perda de peso média de 6,5 kg e a diminuição da incidência de diabetes e doenças do coração. Quando a crise acabou, as pessoas readquiriram o peso, e as taxas de diabetes dobraram (Franco et al., 2013). Obviamente, não deveríamos confiar apenas nos genes ou esperar por uma crise econômica. Entretanto, muitas pessoas parecem não conseguir controlar seus hábitos alimentares. Para muitos obesos mórbidos, a cirurgia bariátrica pode ser a melhor opção. Cerca de 200.000 pessoas residentes nos Estados Unidos se submetem, a cada ano, à cirurgia de bypass gástrico ou à cirurgia de banda gástrica para perder peso. O índice de complicações pós-operatórias é bastante alto, com cerca de 2 por cento de mortes durante a operação ou um pouco depois, e cerca de 10 por cento tendo necessidade de cirurgias adicionais. Com o tempo, porém, a cirurgia que reduz a obesidade salva vidas, porque a obesidade mórbida é um risco sério à sobrevivência (Adams et al., 2012; Schauer et al., 2010). Os benefícios mais notáveis aparentemente ocorrem em pessoas com diabetes, pois 70 por cento descobrem que sua diabete desaparece e frequentemente ela não retorna (Arterburn et al., 2013). Causas do Aumento de Peso Por que a obesidade é tão prevalecente nos Estados Unidos? Em capítulos anteriores, reconhecemos dois culpados: a propaganda e a pressão social; aqui focamos mais especificamente no que as pessoas comem. As pessoas de uma típica família americana consomem mais carne e gordura e menos fibras do que as pessoas de qualquer outra parte do mundo. Por exemplo, os chineses tradicionalmente comem muitos vegetais misturados com pequenos pedaços de carne ou peixe; geralmente, eles não têm problemas com peso. Alguns culpam o novo gosto por comida americana pelo recente aumento de peso na China. FIGURA 20.3 Mais Velho e Mais Preguiçoso O exercício é importante em qualquer idade, mas sua importância aumenta na medida em que as pessoas envelhecem. Por que as pessoas que mais precisam são as que menos se exercitam? Um culpado específico pelo aumento do peso pode ser o açúcar, tanto a sacarose como a frutose (adicionadas a muitos alimentos embalados e bebidas por meio do xarope de milho). Um estudo que reduzia a quantidade de açúcar nos alimentos descobriu que as pessoas estavam perdendo peso; outro estudo, realizado em 175 países, constatou a correlação entre o consumo nacional de açúcar e a diabete (Te Morenga et al., 2013; Basu et al., 2013). Cientistas e médicos concordam que a nutrição é um fator relevante em quase todas as doenças de adultos. Apesar de alguns alimentos específicos não terem sido comprovados (o açúcar pode não ser o pior vilão), uma dieta saudável é, sem dúvida, melhor para qualquer adulto. Na Grécia e na Itália, é comum a chamada dieta mediterrânea, que é rica em fibras, peixes e azeite de oliva. Está comprovado que essa dieta protege contra doenças do coração, sem engordar (Estruch et al., 2013). No entanto, infelizmente a maioria das pessoas não come tão bem como deveria. Sedentarismo A atividade física regular em todos os estágios da vida protege contra doençassérias, mesmo que a pessoa tenha hábitos de saúde indesejáveis, como fumar e comer em excesso. O exercício reduz a pressão sanguínea; fortalece o coração e os pulmões; e diminui a probabilidade de depressão, osteoporose, artrite e até mesmo alguns cânceres. Os benefícios para a saúde que decorrem da prática de exercícios são importantes para homens e mulheres, velhos ou jovens, ex- esportistas e aqueles que nunca entraram em nenhum time (Aldwin & Gilmer, 2013). Em contrapartida, ficar sentado por muitas horas se relaciona com quase todas as condições não saudáveis, especialmente doenças do coração e diabetes, ambas doenças que carregam riscos adicionais à saúde além delas próprias. Até mesmo um pouco de movimento – jardinagem, trabalhos domésticos leves, subir escadas ou andar até o ônibus – ajuda. Como explicado no Capítulo 17, caminhar com energia pelo menos 30 minutos por dia, cinco dias por semanas, é uma meta plausível. Exercícios mais intensos (por exemplo: nadar, correr, pedalar) e exercícios de fortalecimento muscular são ideais. É possível se exercitar bastante, mas quase nenhum adulto o faz. Na verdade, um estudo com avaliações objetivas dos movimentos de adultos (monitores eletrônicos) descobriu que menos de 5 por cento dos adultos nos Estados Unidos e na Inglaterra fazem pelo menos 30 minutos de exercício diário (Weiler & Stamatakis, 2010). (Autorrelatos elevam esses números para 30 por cento; veja a Figura 20.3.) A estreita relação entre o exercício e a saúde física e mental é bem conhecida, assim como a influência da família, dos amigos e de vizinhos. Comunidades voltadas para a prática de exercícios possuem taxas de obesidade, hipertensão e depressão menores (Lee et al., 2009). Morar em bairros com muitas vias para se andar a pé (caminhos, calçadas etc.) reduz o tempo gasto dirigindo e vendo televisão (Kozo et al., 2012). Essa relação entre arredores, exercícios e saúde é causal, e não meramente correlacional. Pessoas que são mais ativas e estão em forma têm sistemas imunológicos mais fortes; portanto, resistem mais às doenças. Além disso, elas se sentem com mais energia, o que incentiva seus bons hábitos de saúde. Muitos cientistas sociais buscam encorajar o exercício e outros bons hábitos de saúde entre os adultos. Manter bons hábitos de saúde durante toda a vida é a parte mais difícil, conforme a explicação a seguir. UMA VISÃO DA CIÊNCIA Abandonar um Hábito É Difícil Todos sabem que fumar, abusar do álcool, comer em excesso e não fazer exercícios é prejudicial; ainda assim, quase todo mundo tem pelo menos um hábito destrutivo. Por que não entramos nos eixos para viver bem? Abandonar resoluções de final de ano; criticar maus hábitos nas outras pessoas que não são os nossos; sentir-nos culpados por consumir açúcar, sal, frituras, cigarros ou álcool; matricular-nos na academia e não frequentar, ou comprar aparelhos de exercícios que se transformam em porta-casacos ou esculturas empoeiradas – esses comportamentos são comuns. Muitos cientistas sociais focam nessa questão (Martin et al., 2010; Luszczynska et al., 2011; Conner, 2008; Shumaker et al., 2009). Primeiramente, precisamos entender que mudar um hábito é um processo longo e com muitas etapas. Táticas que funcionam em uma etapa podem falhar em outra. Estratégias diferentes são necessárias em cada estágio. Uma lista desses passos: (1) negação, (2) conscientização, (3) planejamento, (4) implementação e (5) manutenção. 1. A negação acontece porque todos os maus hábitos começam e são mantidos por uma razão. Isso faz da negação um ato razoável de autodefesa. Por exemplo, a maioria dos fumantes começa a fumar cigarros na adolescência, para se sentirem aceitos socialmente ou aparentar maturidade e/ou para controlar o peso – todos são motivos importantes, principalmente durante a adolescência. Antes de o adolescente perceber, a nicotina cria uma dependência e, sem a droga, a pessoa fica ansiosa, confusa, com raiva e deprimida. Não é de se estranhar que aconteça a negação. Em relação a diversas dependências que ameaçam a vida (incluindo o tabagismo), dizer quanto mal tal coisa faz frequentemente leva a mais cigarros, mais bebida, e assim por diante (Ben-Zur & Zeidner, 2009). As pessoas glorificam maus hábitos e se gabam de ser o “menino mau” ou a “menina má”. A negação é especialmente forte quando uma figura de autoridade critica um mau hábito. Por exemplo, um 1 cada 8 fumantes mente para seu médico sobre o tabagismo, e os adultos entre 25 e 34 anos têm a maior probabilidade de mentir (Curry et al., 2013). Como as pessoas obesas não podem mentir sobre estar acima do peso, elas evitam médicos e desconhecidos. A negação – assim como acreditar que a mudança é impossível, ou usar mais drogas – protege contra o estresse. 2. A conscientização é alcançada pela pessoa por si própria, e não pelos outros. Às vezes, a conscientização se dá após um evento traumático – um médico que prevê a morte por causa do fumo contínuo, uma noite na cadeia por estar bêbado, atingir a marca de 100 kg (que parecem muito mais do que 99). Embora as pessoas possam estar sendo contraproducentes quando fazem declarações ou críticas aos hábitos (“você sabia que fumar pode causar câncer de pulmão”), uma entrevista motivacional (perguntar às pessoas sobre os prós e os contras do hábito) pode ajudar. Frequentemente as pessoas flutuam entre a negação e a conscientização insurgente; um bom ouvinte pode ponderar com base no que as pessoas dizem contra o hábito e reiterar que cada um pode decidir o que deve fazer. A autoeficácia – a crença de que uma pessoa pode atingir seus objetivos, isto é, largar as drogas, mudar a rotina, e assim por diante – é fundamental (Martin et al., 2010). 3. O planejamento é melhor quando é específico, como marcar uma data para parar e colocar estratégias para superar os muitos obstáculos. Uma série de estudos sugere que os humanos tendem a subestimar o poder de seus impulsos, que surgem de padrões cerebrais, não lógicos (Belin et al., 2013). Portanto, planos precisam incluir estratégias para se defender de ondas momentâneas. O excesso de confiança dificulta o abandono de um hábito. Isso parece real para fumantes, alcoolistas, pessoas em dieta e todas as outras. Em um experimento, pesquisadores deram a estudantes que estavam entrando em uma lanchonete na faculdade ou saindo dela a opção de um pacote de salgadinhos ou um vale de U$10 (mais o salgadinho) se eles prometessem não o comer por uma semana. Aqueles que estavam entrando na cantina, presumidamente cientes da fome, planejaram evitar a tentação escolhendo lanches menos saborosos. A maioria deles (61 por cento) ganhou o dinheiro e o salgadinho. Contudo, aqueles que estavam saindo da cantina, aparentemente subestimaram sua fome. Eles escolheram o lanche mais saboroso e quase todos o comeram antes de terminar a semana; apenas 39 por cento desse grupo ganhou o dinheiro (Nordgren et al., 2009). 4. A implementação é abandonar o hábito de acordo com o plano. Um fator importante para atingir o sucesso é o apoio social, como (1) explicar para terceiros os detalhes do plano e enumerar a ajuda que eles podem oferecer; (2) encontrar um companheiro; ou (3) juntar-se a um grupo (Vigilantes do Peso, Alcoólicos Anônimos, ou outro programa de 12 passos). Melhor ainda, todos os três. Esforços pessoais frequentemente falham. A implementação funciona melhor se for um hábito de cada vez: parar de fumar no mesmo dia em que você inicia uma série de exercícios é um plano ambicioso, mas têm grandes chances de não funcionar. Simultaneamente, vitórias passadas influenciam a fé das pessoas na autoeficácia. Conseguir passar um dia sem usar drogas é um motivo de celebração e também uma prova de que é possível seguir mais um dia sem usá-las. Marcar dias no calendário, recompensar-se com um presente comprado com o dinheiro que não foi gasto para comprar cigarros, escutar vitórias passadas – tudo isso aumenta as chances de sucesso. 5. A manutenção é o passo que a maioria das pessoas ignora. Abandonarum hábito enraizado é difícil e, às vezes, doloroso; muitos viciados precisam parar várias vezes, pois acabam voltando ao hábito. Pessoas em dieta param e voltam tantas vezes, que essa tendência tem um nome – dieta ioiô. Infelizmente, uma vez que a implementação é bem-sucedida, as pessoas ficam confiantes demais. Elas esquecem o poder da tentação. A força de vontade é como um músculo, vai ganhando e se fortalecendo aos poucos, com exercícios, mas o músculo está sujeito à fatiga se for utilizado demais (Baumeister & Tierney, 2012). O alcoolista recuperado pode sair com amigos que bebem, confiante de que vai pedir um suco no lugar de uma cerveja; a pessoa em dieta vai servir sobremesa para o resto da família, certa de que ela mesma será capaz de resistir a provar um pouquinho; a pessoa que entra na academia vai faltar um dia e planejar malhar o dobro no dia seguinte. Essas atitudes são bem mais perigosas do que as pessoas acham. A pessoa em dieta utiliza tanto a força de vontade para não comer a sobremesa que, à noite, ela fica desesperada quando se depara com o resto do bolo na geladeira. Qualquer estresse é capaz de minar a resolução e desencadear novamente o hábito. Por exemplo, em um estudo, pessoas em dieta que recebem uma tarefa estressante (lembrar um número de nove dígitos), entraram em uma sala, aparentemente aleatória, onde havia comidas tentadoras ou uma balança e um livro de dietas. Pediram-lhes para provar um milkshake e depois dar opiniões; também lhes disseram que poderiam beber o quanto quisessem. Aquelas que viram as comidas beberam mais do que aquelas que viram as coisas relacionadas à dieta (Mann & Ward, 2007). Isso se chama miopia atencional e indica que a capacidade de manutenção pode se dissipar quando se vive uma situação de estresse. Muitas pessoas que recomeçaram um hábito ruim falam que o fizeram em um momento de estresse – um divórcio, um emprego novo, um filho adolescente rebelde. Claro que mais cedo ou mais tarde um adulto vai se estressar; por isso estratégias de manutenção são cruciais. Quando o contexto encoraja um escorregão, as pessoas têm a mania errônea de achar que um cigarro, um drinque, um pedaço de bolo ou um pouco de milkshake a mais não têm consequências – o que seria verdade, se a pessoa parasse ali. Infelizmente, a mente humana vai em direção a tudo ou nada. Os neurônios ligam ou desligam, não ficam na metade do caminho. Por causa disso, uma tragada aumenta as chances da próxima, uma batata frita desperta a compulsão por outra, e por aí vai. Já com o álcool, a bebida em si bagunça a mente; as pessoas ficam menos cientes de seus lapsos cognitivos sob a influência dele e por isso bebem mais depois do primeiro copo (Sayette et al., 2009). A manutenção depende muito do contexto, o que torna cruciais os hábitos das outras pessoas e as circunstâncias da vida diária. Uma taça de vinho servida quando o ex-alcoolista não está olhando, a chuva que dificulta a corrida diária, um biscoito hipercalórico comido por causa da fome são tóxicos para a pessoa que não está preparada para isso. Uma vez que a pessoa se torna consciente de um problema destrutivo (passo dois), é relativamente fácil planejar e implementar melhores hábitos (passos três e quatro), mas mantê-los (passo 5) é difícil se o contexto inclui um empurrão inesperado para a direção oposta. RESUMINDO Durante a adultez, hábitos saudáveis são importantes. Em países com boa assistência médica, se ninguém fumasse, bebesse em excesso, comesse muito ou fizesse menos exercício do que o recomendado, quase todos atingiriam os 65 anos prontos para muito mais décadas de uma vida ativa e feliz. Infelizmente, estudos sobre maus hábitos ao longo das décadas da adultez e ao longo dos anos do século XXI não são sempre encorajadores. Fumar cigarros está diminuindo nos Estados Unidos, mas não está diminuindo em muitos outros países. Os Estados Unidos possuem taxa mais alta de adultos com sobrepeso e diabetes do que quase qualquer outro país. Alcoolismo, obesidade e sedentarismo não eram reconhecidos como problemas há algumas décadas, mas agora são, embora muitos adultos tenham dificuldade de reverter esses casos. Em muitos países, uma situação econômica melhor pode, ironicamente, aumentar hábitos prejudiciais à saúde. ■ >> Medindo a Saúde Muito mais dinheiro é gasto prevenindo a morte de pessoas que já estão doentes (prevenção terciária) do que investindo no bem-estar antes de adquirir a doença. [Link: Os três níveis de prevenção são explicados no Capítulo 8.] Em contrapartida, as prevenções primária e secundária são objetivos da maioria das pessoas que trabalham e desenvolvem políticas públicas de saúde. Para medir a efetividade de vários esforços, quatro indicadores são usados: a mortalidade, a morbidade, a incapacidade e a vitalidade. Mortalidade mortalidade Morte. Como uma forma de medir a saúde, a mortalidade normalmente se refere ao número de mortes por ano para cada 100.000 membros de determinada população. A morte é a perda derradeira de saúde. A mortalidade é normalmente expressa pelo número de mortes anuais a cada 100.000 habitantes na população. Os números para várias idades, gêneros e grupos raciais nos Estados Unidos variam de cerca de 8 (meninas americanas de origem asiática, com idade entre 5 e 14 anos, têm 1 chance em 12.000 de morrer em um ano) até 15.640 (homens americanos de ascendência europeia, acima de 85 anos, têm 1 chance em 6 de morrer em um ano) (National Center for Health Statistics, 2013). É necessário comparar a saúde entre países e as taxas de mortalidade ajustadas por idade; caso contrário, um país com muitas pessoas acima dos 80 anos terá uma taxa de mortalidade artificial mais alta. A taxa de mortalidade ajustada por idade entre pessoas nos Estados Unidos em 2010 foi de 757 a cada 100.000 – muito melhor do que há 40 anos, quando a taxa era de 1230. As estatísticas de mortalidade são compiladas a partir de certificados de óbito, que indicam a idade, o sexo e a causa imediata da morte. Essa prática permite comparações históricas e internacionais válidas porque as mortes foram contadas e registradas durante décadas – às vezes durantes séculos. O Japão tem a taxa de mortalidade ajustada por idade mais baixa do mundo (cerca de 500 a cada 100.000), e Serra Leoa possui a taxa mais alta (cerca de 3500 a cada 100.000); ambas as taxas são notavelmente menores do que eram há algumas décadas. A mortalidade é mais baixa para mulheres (veja a Figura 20.4). Em todo o mundo, mulheres vivem quatro anos a mais que os homens, embora isso varie de lugar para lugar (Nações Unidas, 2013). Por exemplo, homens morrem em média 13 anos antes do que as mulheres na Rússia (61 versus 74), mas com a mesma idade em Serra Leoa (ambos aos 44 anos). Mundialmente, mulheres mais velhas superam em número os homens mais velhos (em 2 para 1 aos 85 anos), em primeiro lugar porque mais homens jovens e meninos morrem. A proporção entre sexos favorece os meninos no nascimento; logo, é quase igual aos 50 anos e pende para as mulheres a partir daí (Nações Unidas, 2013). Essa diferença de gênero na mortalidade pode ser biológica – o segundo cromossomo X, mais estrogênio e menos testosterona podem proteger a mulher. Ou pode ser cultural, uma vez que as mulheres tendem a ter mais amigos e tomar mais cuidado de si próprias. Um especialista em saúde pública escreveu: Homens são criados socialmente para projetar força, individualidade, autonomia, dominância, estoicismo e agressão física, e para evitar demonstrações emocionais ou vulnerabilidade que poderiam ser consideradas como fraquezas. Estas [características] … combinam-se para aumentar os riscos à saúde. [D. R. Williams, 2003, p. 726] As taxas de mortalidade também variam por etnias, rendas e lugares de residência, dentro de um país e entre países. Por exemplo, o risco geral de morte para uma pessoa que mora nos Estados Unidos e tem entre 25 e 65 anos é de cerca de 15 por cento, mas em algumas regiões pode chegar a 50 por cento (exemplo: Homens Sioux, na
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