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Fichamento Cap48 o Capital

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UFRRJ-IM
Economia Política III
Bruno Souza Duarte Lima
FICHAMENTO CAPÍTULO 48 – A Fórmula Trinitária
MARX, Karl. O capital. Livro 3, vol. III, tomo 2. São Paulo: Nova Cultural, 1986.
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	O capítulo foca no exame mais específico da trindade econômica apresentada por Marx: capital – lucro e juros; terra – renda fundiária; e trabalho – salário. Fórmula esta, que segundo o autor, compreende todos os segredos do processo de produção social.
	Segundo Marx, “O capital é uma determinada relação de produção social, pertencente a determinada formação sócio-histórica que se representa numa coisa e dá um caráter especificamente social a essa coisa”. Ou seja, ele não é a coisa em si, ele apenas se disfarça daquela determinada forma. Conforme esboçado, o capital são os meios de produção, monopolizados por uma parte da sociedade, transformados em capital; também; são os produtos independentes em relação a força de trabalho viva e a condição de trabalho da mesma. Além disso, o capital também é as forças sociais e a futura forma desse trabalho (pg. 269). Segundo o autor, uma forma social determinada, à primeira vista muito mística, de um dos fatores de um processo social de produção historicamente fabricado. 
	Sobre a terra, Marx deixa bem claro que como valor é trabalho, logo mais-valor não pode ser terra. Também explicita que “a diferença na fertilidade do solo faz com que as mesmas quantidades de trabalho e capital, portanto o mesmo valor, se expressem em diferentes quantidades produtos agrícolas e que, portanto, esses produtos tenham diferentes valores individuais”. 
	Por fim, o terceiro elemento da trindade: o trabalho, que não é nada mais do que uma abstração ou, se considerarmos o que quer dizer, a atividade produtiva do ser humano superficialmente despojada não só de toda forma social e de toda determinação social do caráter, mas também desligada de todas as sociedades e como expressão e afirmação da vida comuns ao homem (pg.270).
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	Para Marx, nesta fórmula trinitária deve existir, portanto, correlação entre as fontes de rendimento. Assim como o capital é uma forma social historicamente determinada, o trabalho assalariado e a propriedade fundiária também são. Uma do trabalho e outra da terra monopolizada. E ambos são formas correspondentes ao capital e pertencentes à mesma formação econômica da sociedade, segundo o autor.
	Primeiramente, o que chama a atenção de Marx na fórmula é que ao lado do capital, a determinada configuração histórica do processo social da produção classifique a terra de um lado e o trabalho de outro. Dois elementos do real processo de trabalho que nessa forma material resultam comuns a todos os modos de produção, que são os elementos materiais de todo processo de produção e que nada têm a ver com a forma social dele (pg. 270). Em segundo lugar, na fórmula terra e trabalho tem como produto a renda fundiária e salário respectivamente, e são fontes de juros (em vez de lucro). 
	Assim, todos os três rendimentos da fórmula são três partes do valor do produto. Marx evidência que “a fórmula: capital – juros é, agora, certamente a fórmula menos conceitual do capital, mas ela é uma fórmula do mesmo”. Ademais, é iniciada uma discussão de como a terra pode gerar algum valor. 
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	Para Marx, o que a economia vulgar fez foi apenas uma tradução de concepções de pessoas presas dentro das relações de produção burguesa. Sendo assim, a economia vulgar não consegue ir além e ver que a trindade, da qual ela parte, é constituída de três composições impossíveis. Primeiro temos o valor de uso da terra e o valor de troca renda, dois valores que não podem ser avaliados, pois não há medida em comum entre eles. “Depois capital – juros. Se o capital é compreendido como certa soma de valor, então é bobagem que um valor deva ter mais valor do que realmente têm”. O autor continua, “exatamente por isso, o economista vulgar prefere a fórmula capital – juros à fórmula capital – lucro, com a oculta qualidade de ser um valor desigual consigo mesmo, pois aqui já se pode chegar mais perto da relação real do capital”. O economista vulgar, para Marx, foge do capital enquanto valor para a substância material do capital, para seu valor de uso enquanto condição de produção de trabalho, o que o faz chegar a outra relação entre duas medidas incomensuráveis, o valor de uso e o mais-valor. Aqui ele atinge, para Marx, o racional da concepção burguesa, fazendo com que o economista vulgar não ache necessário ir além. Finalmente, Marx escreve que trabalho – salário, preço do trabalho é uma expressão que contradiz o conceito de valor assim como o de preço, que de modo geral, é ele mesmo apenas uma expressão determinada do valor (pg. 272).
	De acordo com Marx, o processo social de produção é tanto processo de produção das condições materiais de vida quando processo que produz e reproduz essas mesmas relações de produção e, sendo assim, se produz os portadores deste processo, suas condições materiais de existência e suas relações recíprocas, ou seja, sua forma sócio-econômica determinada. A totalidade destas relações, onde os portadores se encontram com a Natureza e entre si, é a sociedade, que é considerada segundo sua estrutura econômica. O processo de produção capitalista, forma historicamente determinada do processo social de produção em geral, ocorre sob determinadas condições matérias que são ao mesmo tempo portadoras de relações sociais determinadas. As condições materiais, assim como as relações sociais, são pressupostos e resultados; e criações do processo de produção capitalista; são por ele produzidos e reproduzidos.
	No início havia o capital, no processo de produção cabe a ele extrair determinada proporção de mais-trabalho dos trabalhadores. Mais-trabalho este que é representado num mais-valor e esse mais-valor existe num mais-produto, conforme explana Marx. No entanto o processo capitalista assume uma forma antagônica e é complementado por uma parte da sociedade que é ociosa. Se exige mais quantidade de mais-trabalho para a necessária e progressiva expansão do processo de reprodução, correspondendo às necessidades e ao progresso da população, ou seja, do ponto de vista capitalista, se chama acumulação. O mais-trabalho é extraído de uma maneira que é mais vantajoso do que formas de produção anteriores. Por um lado, leva ao desaparecimento da coerção e da monopolização do desenvolvimento social por meio de uma parte da sociedade à custa da outra; por outro lado, produz os meios materiais e o germe para relações que permitem unir esse mais-trabalho a uma limitação maior do tempo dedicado ao trabalho material. Assim, a possibilidade de constante expansão do processo de produção capitalista depende da produtividade do mais-trabalho e das condições mais ou menos ricas de produção em que ela transcorre.
	Esse mais-valor se distribui entre os capitalistas em forma de dividendos. Assim, o mais-valor aparece como o lucro médio que recai no capital, subdividido em ganho empresarial e juros, como escreveu Marx. Entretanto essa apropriação e distribuição do mais-valor encontra seu limite na propriedade fundiária. Igualmente ao capitalista que extrai o mais-trabalho do trabalhador e, com isso, sob a forma do lucro, o mais-valor e o mais-produto, assim também o proprietário da terra extrai, por sua vez, parte desse mais-valor do capitalista, sob a forma de renda (pg. 274). Portanto, lucro do capital e renda fundiária são componentes específicos do mais-valor. Por fim, o trabalhador recebe sua parte, o salário, que é parte do produto que representa o trabalho necessário à manutenção e reprodução dessa força de trabalho.
	Por mais diferentes que pareçam, essas três composições têm uma coisa em comum: o capital rende lucro, a terra gera renda fundiária e a força de trabalho salário para o trabalhador. Essas três partes do valor podem ser consumidas por seus respectivos donos, sem que se esgote a fonte de reprodução. Levando em conta que o capital fixa na forma de lucro uma parte do valor, a propriedade fundiária fixa uma outra partena forma de renda e o trabalho assalariado fixa uma terceira parte na forma de salário, há a conversão nos rendimentos do capitalista, do proprietário da terra e do trabalhador, mas sem a criação da própria substância que se transforma nessas diferentes categorias: o valor global do produto anual, ou seja, o trabalho objetificado, que é pressuposto peal distribuição. No entanto, como nota Marx, “não é dessa forma que a questão se apresenta para os agentes da produção, para os portadores das diferentes funções do processo de produção, mas, antes, de uma forma invertida”. O motivo disto ocorrer será desenvolvido ao longo da investigação, informa o autor.
	Sobre a relação terra - renda, é relatado que a lei que determina o valor das propriedades advindas da terra é baseada no valor regulador geral de mercado que, segundo Marx, “não tem nada a ver com o solo nem com os diferentes graus de sua fertilidade”. Na relação salário – trabalho, é notado que se o trabalho é formador de valor, ele não tem nada a ver com a distribuição desse valor entre diferentes categorias. Também, “de modo geral, se fixamos o trabalho como formador de valor, não o consideramos em sua forma concreta enquanto condição de produção, mas em uma determinação social que é diferente do trabalho assalariado”. Por fim, até a expressão capital – lucro é incorreta, pois a mesma ignora os outros mais-valores, esta expressão apenas atinge até o mais-valor extraído da relação com a força de trabalho. Ou seja, não abrange o mais-valor extraído de modo geral, mas só a parte que recai sobre o capitalista.
	Agora, olhando para os derivados, os produtos e os rendimentos das três fontes é evidenciado que todas partem da mesma esfera, a do valor. E, de fato, “o capital, assim como a terra e o trabalho, só é tomado segundo sua substância natural, portanto simplesmente como um meio de produção produzido, com o que se abstrai dele não só enquanto relação para com o trabalhador, mas também enquanto valor”. Após esta análise, Marx conclui que a fórmula apresenta “incongruência uniforme e simétrica”. 
	Ele continua afirmando que a partir do momento que o trabalho assalariado não aparece como forma socialmente determinada do trabalho, mas todo trabalho aparece por natureza como trabalho assalariado, isto coincide com a existência material dessas condições de trabalho, independentemente de qualquer forma social historicamente determinada. Como exemplo, de uma estrutura pertencente a um período histórico determinado, temos a estrutura das condições de trabalho no capitalismo, alienada do trabalho, que transforma os meios de produção produzidos em capital e a terra em terra monopolizada coincide com a existência e função desses meios produzidos e à terra no processo de produção. Este meio, segundo o autor, não passa de capital. E então Marx define Capital como “nada mais que um mero nome econômico” para aqueles meios de produção. E ainda Marx afirma que: “a terra é por natureza terra monopolizada por certo número de proprietários de terra” (pg. 276). Assim como o produto é autossuficiente frente ao produtor a terra é autossuficiente frente ao proprietário fundiário, o solo exige sua participação no produto criado. Porém como o capital pressupõe trabalho assalariado e se é pressuposta a coincidência entre trabalho assalariado e trabalho no geral, “então o capital e a terra monopolizada também precisam aparecer como forma natural das condições de trabalho em relação ao trabalho em geral”. Sendo assim, o capital é igual aos meios de produção produzidos. Igualmente a isto, a solo monopolizada é igual a solo mediante a propriedade privada. “Os meios de trabalho enquanto tais, que, por natureza, são capital, tornam-se assim fonte de lucro como a terra, enquanto tal, fonte de renda.
	O trabalho em sua definição como atividade produtiva útil é meio de produção em sua substância material. Se ele coincidir com trabalho assalariado então sua existência socialmente determinada também corresponderá com sua existência material. Sendo assim, os meios de trabalho são capital e a propriedade fundiária é a terra. A independência dessas condições de trabalho é algo inseparável deles enquanto condições de produção materiais. Seu caráter social determinado no processo capitalista é, de acordo com o texto, material enquanto elemento do processo de produção. Assim, renda, lucro e salário parecem ter origem no papel que a terra, os meios de produção produzidos e o trabalho desempenham. Portanto, se trabalho assalariado corresponde com o trabalho em geral, então o salário corresponderá com o produto do trabalho e a parte do valor que representa salário corresponderá com o valor que é gerado por meio de trabalho. Porém as outras partes do valor defrontam-se de forma independente com o salário e precisam originar-se de fontes próprias, ou seja, “dos elementos coadjuvantes na produção, em cujos possuidores eles recaem”. Portanto, o lucro derivará dos meios de produção e a renda derivará do solo, representada por proprietários da terra” (pg. 277).
	Marx informa que capital, trabalho e propriedade fundiária só viram rendimentos quando: o capital pega uma parte da mais-valia que ele extrai do trabalho na forma de lucro para o capitalista; o monopólio da terra atrai outra parte na forma de renda para o proprietário; e o trabalho faz recair sobre o trabalhador o resto que sobrou. Estas são as três fontes que formam o próprio valor do produto.
	Enquanto ao exame sobre a mercadoria e o dinheiro, seu caráter mistificador, no modo de produção capitalista, é impulsionado ainda mais. O próprio capital aparece com seu caráter místico, à medida que as forças produtivas de trabalho aparecem como deslocados do trabalho para o capital no processo imediato de trabalho. Bem, após dissertar sobre a esfera do processo de circulação, Marx conclui que é na unidade do processo imediato de produção e do processo de circulação que as relações de produção se autonomizam uma em relação às outras e os componentes do valor se emperram entre si em formas independentes (pg. 278).
	A verdadeira natureza do mais-valor é ocultada pelos processos de transformação do capital e do lucro. Para Marx, “a divisão do lucro em ganho empresarial e juros completa a autonomização da forma do mais-valor, a ossificação de sua forma em relação a sua substância”. Uma parte do lucro se apresenta como se fosse gerada pelo trabalho assalariado do capitalista e não do trabalho explorado pelo próprio. Os juros parecem ser gerados pelo próprio capital. Assim, em um primeiro momento o capital apareceu como valor que gera valor, agora ele aparece como capital que rende juros, portanto, na fórmula das três fontes capital – juros é, de certa forma, mais relevante que capital – lucro.
	Já a propriedade fundiária, assim como o capital, aparece como fonte autônoma de mais-valor. Diferente do capital, o mais-valor extraído aqui vem da terra, um elemento natural. Assim, para Marx, “a forma de alienação e ossificação recíproca das diferentes partes do mais-valor está completada, a conexão interna fica definitivamente rompida e sua fonte completamente soterrada, exatamente pela autonomização recíproca das relações de produção, ligadas aos diferentes elementos materiais do processo de produção” (pg. 279).
	A trindade definida no início é onde está a completa mistificação do modo de produção capitalista. Apesar de ter feito um avanço no sentido de desmitificar as relações de produção, a economia clássica, alguns, não conseguiram pensar além do mundo da aparência. Entretanto, para Marx, “é natural que os agentes reais da produção se sintam completamente à vontade nessas formas alienadas e irracionais”. E, por fim, a fórmula apresentada corresponde aos interesses da classe dominante, pois a mesma “eleva o dogma a necessidade natural e a legitimação eterna de suas fontes de rendimentos” (pg. 280).

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