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Artigo sobre síndrome metabólica

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Aquisição no Componente Básico 
No Componente Básico da Assistência Farmacêutica (CBAF), estão os medicamentos 
que fazem parte da atenção básica à saúde, como ácido acetilsalicílico, amoxicilina, 
dipirona sódica, ibuprofeno, loratadina, paracetamol, propranolol, entre muitos outros, 
previstos na RENAME e dispensados pelos municípios. 
O Programa Farmácia Popular do Brasil é um braço da assistência farmacêutica do SUS 
e faz parte do Componente Básico. Segundo o presidente-executivo da Interfarma, 
Pedro Bernardo, trata-se de um modelo de gestão bastante eficiente, pois retira do 
governo o ônus da compra, do estoque, da logística e de todo o gerenciamento dos 
medicamentos até a dispensação ao paciente. “O programa elimina tudo isso. É pago 
apenas um valor por produto dispensado, enquanto a iniciativa privada, num ambiente 
concorrencial, assume os riscos”, avalia. 
Em geral, o financiamento do CBAF é compartilhado entre Ministério da Saúde, estados 
e municípios. De acordo com o Ministério da Saúde, a partida federal é de R$ 
5,58/habitante/ano, e as contrapartidas estadual e municipal devem ser de, no mínimo, 
R$ 2,36/habitante/ano cada. 
Além do repasse financeiro, o Ministério da Saúde é responsável pela aquisição e 
distribuição das insulinas humanas NPH e regular (frascos de 10 ml) e dos 
contraceptivos orais e injetáveis, além do DIU e diafragma. As insulinas e os 
contraceptivos são entregues nos almoxarifados de medicamentos dos estados, a quem 
compete distribuí-los aos municípios. Os municípios das capitais e os grandes municípios 
brasileiros, com população maior que 500 mil habitantes, recebem os contraceptivos 
diretamente dos fornecedores contratados pelo Ministério da Saúde. 
Aquisição no Componente Especializado 
No Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF), os medicamentos 
estão divididos em três grupos para fins de financiamento. No Grupo 1, o financiamento 
está sob a responsabilidade exclusiva da União. Em geral, é constituído por 
medicamentos que representam elevado impacto financeiro para o Componente e por 
aqueles indicados para doenças mais complexas. No Grupo 2, encontram-se os 
medicamentos cuja responsabilidade pelo financiamento é das Secretarias Estaduais de 
Saúde. Por fim, no Grupo 3, estão aqueles cujo financiamento é tripartite, sendo a 
aquisição e a dispensação de responsabilidade dos municípios. 
Entre as doenças tratadas pelo Componente Especializado estão: artrite reumatoide, 
asma, Alzheimer, Parkinson, epilepsia, esclerose múltipla, glaucoma, hepatite, lúpus, 
entre muitas outras, inclusive doenças raras como Doença de Gaucher, Espondilopatia 
Inflamatória e Síndrome de Guillain-Barré. Pacientes transplantados, que precisam de 
medicamentos caros, também estão incluídos nesse componente. 
Aquisição no Componente Estratégico 
Por fim, vem o Componente Estratégico da Assistência Farmacêutica (CESAF), que 
engloba medicamentos e insumos para prevenção, diagnóstico, tratamento e controle 
de doenças e agravos de perfil endêmico, com importância epidemiológica, impacto 
socioeconômico ou que acometem populações vulneráveis, contemplados em 
programas estratégicos de saúde do SUS. 
As doenças tratadas por esse componente são tuberculose, hanseníase, malária, 
leishmaniose, Doença de Chagas, cólera, esquistossomose, leishmaniose, filariose, 
meningite, oncocercose, peste, tracoma, micoses sistêmicas e outras doenças 
decorrentes e perpetuadoras da pobreza. São garantidos ainda medicamentos 
para influenza, doenças hematológicas, tabagismo e deficiências nutricionais, além de 
vacinas, soros e imunoglobulinas. 
O financiamento dos medicamentos do Componente Estratégico fica por conta do 
Ministério da Saúde, que distribui aos estados, que, por sua vez, são responsáveis por 
armazenar e enviar aos municípios. 
Formas de aquisição dos medicamentos 
Via de regra, os medicamentos são adquiridos por meio das licitações, onde são 
identificados pelo princípio ativo. Os processos licitatórios seguem os critérios 
estabelecidos pela Lei Federal 8.666/1993, variando as modalidades em carta convite, 
tomada de preços e concorrência. Em alguns casos, poderá haver dispensa de licitação 
ou inexigibilidade dela. Já a Lei Federal 10.520/2002 instituiu a modalidade de licitação 
denominada pregão. 
De acordo com o diretor de Mercado e Assuntos Jurídicos do Sindusfarma, Bruno Abreu, 
geralmente, a indústria não vende diretamente para o governo, utilizando-se de 
intermediários, ou seja, distribuidores especializados nesse tipo de transação comercial. 
No Brasil, existe uma associação que reúne as principais empresas desse segmento, a 
Associação Brasileira dos Distribuidores de Medicamentos Especializados, Excepcionais 
e Hospitalares (Abradimex). 
“Algumas indústrias fornecem diretamente, mas nem sempre é assim. A maior 
incidência é por meio de um distribuidor, que também participa das licitações, 
principalmente para atender ao componente da atenção básica. Quando falamos de 
doenças raras, aquelas do componente especializado, como um medicamento 
oncológico, por exemplo, em que a compra é centralizada pelo Ministério da Saúde, a 
indústria participa mais diretamente do processo de licitação”, detalha Abreu. 
Mesmo quando há apenas um fabricante para determinado medicamento, o governo 
tem o direito de optar pela licitação, pois alguns distribuidores podem ter preços 
melhores que os da indústria em função de descontos ou incentivos fiscais. Por isso, 
conseguem concorrer oferecendo melhores condições comerciais. 
O faturamento da indústria brasileira com medicamentos gira em torno de R$ 60 bilhões 
anuais. Desses, cerca de 30% vêm de compras públicas e 70%, do varejo farmacêutico. 
“Para a indústria, pode ser mais vantajoso utilizar intermediários para fornecer aos 
órgãos públicos, pois a taxa de inadimplência é alta. O Governo Federal e os estados 
costumam pagar em dia, mas os municípios atrasam o pagamento com frequência, 
principalmente em tempos de crise fiscal”, comenta o diretor do Sindusfarma. 
Judicialização da saúde 
Um capítulo à parte é a aquisição de medicamentos pelo SUS por determinação judicial. 
Ela chegou a representar R$ 1,32 bilhão em 2016 e, embora tenha caído 22% em 2017, 
para R$ 1,03 bilhão, ainda se mantém alta. “Existem muitos medicamentos sendo 
judicializados porque não foram incorporados pelo SUS. O governo deveria olhar para 
os casos com judicialização muito alta, verificar a efetividade do medicamento e 
incorporar, negociando para obter preços melhores nas negociações de compra”, 
comenta o presidente-executivo da Interfarma. 
Um levantamento recente da Interfarma mostra que um medicamento chega a ser 300% 
mais caro quando comprado por decisão judicial, em comparação ao medicamento 
incorporado. “Isso acontece porque o medicamento incorporado ao SUS sofre 
descontos obrigatórios e, como a negociação é para compras em grande volume e com 
bastante antecedência, o desconto acaba sendo maior. Já o medicamento judicializado, 
além de ser uma compra pontual, é adquirido em caráter de urgência, o que encarece 
o valor”, explica Pedro Bernardo. 
Para um medicamento ser incorporado ao SUS, ele precisa ser aprovado pela Conitec. 
“A judicialização é, em grande parte, uma deficiência do sistema, que não está 
absorvendo os novos medicamentos. Existem pacientes que precisam de tratamentos e 
eles buscam os seus direitos na justiça, quando há deficiências no SUS”, acrescenta o 
presidente-executivo da Interfarma. 
Rupturas no processo licitatório 
Rupturas significam interrupção no fornecimento de determinado medicamento. Isso 
pode acontecer por diversas razões, entre elas, editais malfeitos, que não são claros e 
específicos o suficiente. “A Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos 
(CMED) determina um percentual de desconto obrigatório que incide sobre o preço de 
fábrica de alguns medicamentos. Em 2017, ele foiatualizado para 18%. Se o governo 
esquecer de colocar esse percentual na licitação e exigir o desconto depois, a indústria 
pode se negar a concedê-lo, provocando ruptura na licitação”, explica Bruno Abreu. 
Esse percentual de desconto se chama Coeficiente de Adequação de Preços (CAP) e é 
calculado a partir da média da razão entre o índice do PIB per capita do Brasil e os 
índices do PIB per capita da Austrália, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, 
Grécia, Itália, Nova Zelândia e Portugal, ponderada pelo PIB. Esse índice foi extraído do 
Relatório do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), das Nações Unidas, e é 
atualizado anualmente. 
Outro exemplo bem comum é a ruptura em função de preço. O distribuidor ganha o 
processo licitatório por ter a melhor condição comercial, mas não consegue mantê-la 
por muito tempo, justamente porque a indústria começa a praticar novos valores”, 
acrescenta o diretor do Sindusfarma. 
Por que faltam medicamentos no SUS? 
Em consequência das rupturas, faltam medicamentos para pacientes. Mas não apenas 
em função disso. Essa falta está relacionada a diversos outros fatores, sendo um dos 
principais a má gestão dos governos, que não se programam, ocasionando lentidão nas 
compras. “Também podemos citar atraso no pagamento a fornecedores, compra em 
grande quantidade de medicamentos com baixo fluxo de saída, fim da validade pela falta 
de organização e perdas por erro de armazenamento”, acrescenta Fernando Messias 
Vieira dos Santos, diretor técnico da Consuldoc, empresa de assessoria farmacêutica e 
sanitária. 
Um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), publicado em 2017, mostrou que 
11 Estados e o Distrito Federal jogaram medicamentos fora em 2014 e 2015. As causas 
do desperdício, que chega a R$ 16 milhões, foram validade vencida e armazenamento 
incorreto. 
Para uma farmacêutica que trabalha no setor de compra de medicamentos de uma 
instituição pública, que não quis se identificar, na maioria das vezes, as faltas estão 
relacionadas à gestão inadequada dos recursos financeiros, à ausência de bons técnicos 
para redigir o termo de referência – documento que detalha a compra, mencionando os 
medicamentos a serem comprados, as estimativas de custo, o local da entrega, entre 
outros dados – e à omissão do gestor em relação às empresas que não cumprem os 
prazos de entrega. 
Segundo o Conselho Federal de Farmácia (CFF), um problema identificado é que muitos 
municípios ainda não constituíram uma Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT), que 
tem como objetivo formular e implementar políticas municipais relacionadas à seleção, 
à prescrição e ao uso racional de medicamentos. 
“Com a inexistência de uma CFT, o município apresentará uma Relação Municipal de 
Medicamentos (REMUME) inadequada, muitas vezes, com o número de itens exagerado 
ou repetido e com outros itens faltando, em desacordo com o perfil epidemiológico de 
sua população. A consequência será o impacto no orçamento da saúde, possível 
direcionamento para a judicialização frente às faltas de medicamentos e, principalmente, 
o impacto na saúde das pessoas”, aponta Everton Borges, integrante do Grupo de 
Trabalho sobre Judicialização do CFF. 
Papel do farmacêutico 
A estrutura pública para a assistência farmacêutica é bastante complexa. São vários 
setores, departamentos e áreas onde se podem encontrar farmacêuticos envolvidos com 
a aquisição de medicamentos para serem dispensados em unidades básicas de saúde, 
unidades de pronto-atendimento, farmácias, ambulatórios e hospitais. 
O farmacêutico devidamente capacitado é capaz realizar uma série de atividades, entre 
elas, elaborar especificações adequadas e termos de referência que blindam a 
instituição de maus fornecedores; auxiliar na redação de editais bem específicos para os 
medicamentos; viabilizar o sucesso da pesquisa de preços de produtos mais específicos; 
realizar com segurança e celeridade as fases de aceitação e qualificação; e fiscalizar as 
entregas e a qualidade dos produtos recebidos. 
De acordo Fernando Santos, da Consuldoc, o farmacêutico possui grande relevância em 
todo o processo de aquisição de medicamentos pelo SUS, podendo atuar no 
levantamento das demandas, na realização de orçamentos, no cadastramento de 
fornecedores, na elaboração do cronograma de compras, no controle de estoque, no 
levantamento de faltas, no suporte da dispensação, entre outras atividades. 
Além de tudo isso, o farmacêutico pode atuar também como um agente fiscalizador, 
sendo rigoroso nos processos e exigindo o cumprimento da legislação vigente. A 
atuação dele pode contribuir para evitar licitações fraudulentas e rupturas no 
fornecimento. 
O Portal da Transparência, criado em atendimento à Lei Federal 12.527/2011, é um 
grande avanço e elucida muitos dados, mas não é detalhista na prestação de contas, 
principalmente a nível municipal. Por isso, o comprometimento do profissional 
farmacêutico com a ética e as normas é fundamental. “Vejo os municípios como os 
principais descumpridores da Lei da Transparência, haja vista que, em muitos, o acesso 
à internet é ainda precário, faltam profissionais qualificados e não há gestão contínua 
das contas públicas”, avalia Fernando Santos. 
Irregularidades e corrupção 
Mais comum do que se pensa são as interrupções no fornecimento de medicamentos 
em função de investigações e operações deflagradas pelas Polícias Federal e Civil, a 
maioria a partir de denúncias feitas pelos Ministérios Públicos Federal e Estaduais. Um 
rápido levantamento, na internet, apurou algumas investigações deflagradas em 2017 e 
2018.

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