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Direito Civil (Oficial de Justiça TJMA) - Apostila

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DIREITO 
CIVIL 
 
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DIREITO CIVIL 
PESSOAS NATURAIS 
 
 
PESSOA NATURAL 
 
Pessoa natural é o ser humano a quem se atribuem direitos e obrigações. Os animais e seres inanimados, assim, 
não podem ser sujeitos de direito, mas objeto de relações ou situações jurídicas. 
 
PERSONALIDADE. CAPACIDADE. LEGITIMAÇÃO 
 
▪ personalidade: significa a aptidão jurídica de exercer direitos e contrair obrigações 
▪ capacidade: divide-se em jurídica (de direito! gozo) e de fato (de exercício/ação). A primeira decorre da personali-
dade, significa capacidade de aquisição de direitos, reconhecida a qualquer ser humano, como o doente mental, a 
criança. A segunda é a aptidão de exercer os atos da vida civil por si mesmo, sem outra pessoa que o assista ou 
represente. 
▪ capacidade plena e limitada: diferença que se faz caso o sujeito reúna as capacidades de direito e de fato ou 
somente a de direito. 
▪ legitimação: aptidão especial exigida para a prática de determinados atos. Ex. CC, arts. 496, 1.749, 1, 1.687. 
 
Começo da personalidade. Nascituro. Teorias 
 
Marca o início da personalidade jurídica o nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos 
do nascituro (CC, art. 2°). O ser humano nasce com vida ao respirar, ainda que segundos depois lhe sobrevenha a morte, 
de acordo com a LRP, art. 53, § 2°. Não é assim em outros diplomas alienígenas, que exigem, por exemplo, a sobrevida 
mínima de 24 horas (CC espanhol). 
Natimorto é aquele que “nasceu sem vida”, não respirou; por tal condição, não possui personalidade jurídica. No 
entanto, para ele, segundo o Enunciado 01 da I Jornada de Direito Civil do CJF: “A proteção que o Código defere ao 
nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como: nome, imagem e sepultura” Para 
determinar biologicamente se houve “respiração” procede-se ao exame clínico chamado de docimasia hidrostática de 
Galeno. 
Nascituro é o ser concebido, mas não nascido. Em razão do provável nascimento com vida, o nascituro é protegido 
pelo ordenamento jurídico em função daquela projeção futura, por exemplo, nos arts. 542 (doação) e 1.779 (curatela do 
nascituro), todos do CC/2002. Vimos acima que a personalidade jurídica inicia com o nascimento com vida. Com relação 
ao nascituro, a lei põe a salvo seus direitos desde a concepção. No entanto, os momentos “concepção e “nascimento” 
são distintos, e somente o último é atributivo de personalidade. Para explicar a posição jurídica do nascituro em relação 
à personalidade formaram-se, principalmente, três teorias, são elas: 
 
 
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DIREITO CIVIL 
Concepcionista 
a personalidade pode ser adquirida antes do nascimento, no momento da concepção, daí o 
nome que lhe é conferido. Todavia, os direitos patrimoniais oriundos de doação e herança, por 
exemplo, condicionam-se ao nascimento com vida. 
Natalista 
a personalidade jurídica é marcada pelo nascimento com vida, O nascituro, portanto, não tem 
personalidade, mas proteção legal e direitos, que são amparados desde a concepção. 
Personalidade 
condicionada 
o nascituro é uma pessoa condicional, porque sua personalidade jurídica está sob condição 
suspensiva do nascimento com vida, momento a partir do qual a personalidade se define. 
Posição do STF 
não há uma posição certa a respeito da teoria adotada. No julgamento da ADI 3.510, afirmou-se: 
“...a proteção constitucional do direito à vida e os direitos infraconstitucionais do embrião pré-
implanto. O Magno Texto Federal não dispõe sobre o início da vida humana ou o preciso instante 
em que ela começa. Não faz de todo e qualquer estádio da vida humana um autonomizado bem 
jurídico, mas da vida que já é própria de uma concreta pessoa, porque nativiva (teoria “natalista”, 
em contraposição às teorias “concepcionista” ou da “personalidade condicional)...” 
Posição do STJ 
o nascituro é sujeito de direitos, admitindo-se contra ele, por exemplo, lesão a direito da per-
sonalidade e a caracterização de dano moral, à luz da teoria concepcionista. (ARESp 150297). 
 
ATENÇÃO 
Nascituro é o concebido; concepturo, o não concebido. Com relação a este, na sucessão testamentária, podem ainda 
ser chamados a suceder os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao 
abrir-se a sucessão; são chamados de prole eventual (CC/art. 1.799,1 e 1.800). 
 
INCAPACIDADES 
 
Incapazes são as pessoas dotadas de capacidade de direito (de aquisição de direitos ou jurídica), mas que, por 
razões diversas, não dispõem de capacidade de fato (de ação). Inexiste incapacidade de direito, pois a incapacidade 
será sempre de fato, de acordo com o CC, art. 1º. Incapaz, por outro lado, é todo aquele que possui restrição em relação 
aos atos da vida civil. 
De acordo com o grau de incapacidade, que varia entre absoluta (grau máximo) e relativa (grau mínimo), haverá, con-
forme uma ou outra, representação ou assistência para a prática do ato. Será representado quem não possuir qualquer dis-
cernimento para a prática do ato. E assistido quando estiver presente algum discernimento. De maneira geral, o ato praticado 
por absolutamente incapaz é nulo (CC, art. 166, I), e o feito por relativamente incapaz, anulável (CC, art. 171, II). 
 
Incapacidades no CC/2002 
Plenamente 
capazes são aqueles dotados de capacidade de direito e de fato. A 
capacidade de direito é a aptidão que todos possuem de adquirir di-
reitos e deveres da ordem civil (CC, art. 1°). Já a capacidade de fato 
ou de ação pode faltar em algumas pessoas, em razão da idade ou 
desenvolvimento mental, por exemplo. 
Lembre-se: Exercem os 
atos que serão válidos por 
si só, 
Absolutamente 
incapazes são os possuidores de capacidade de direito, mas SEM dis-
cernimento para a prática dos atos da vida civil. Logo, não dispõem de 
capacidade de fato ou de ação. Por tal falta, a capacidade é limitada, 
sendo necessário que outra pessoa o substitua nos atos da vida civil. 
Lembre-se: fala-se em re-
presentação sem a qual o 
ato será nulo 
Relativamente 
incapazes são os possuidores de capacidade de direito, mas com dis-
cernimento REDUZIDO para a prática dos atos da vida civil. Logo, não 
dispõem de capacidade de fato ou de ação. Por tal falta, é necessário 
que outra pessoa complete o ato praticado. 
Lembre-se: fala-se em as-
sistência sem a qual o ato 
será anulável 
 
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DIREITO CIVIL 
 O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2016) alterou substancialmente os artigos do Código Civil que 
tratam das capacidades absoluta e relativa: 
 
Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. 
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: 
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; 
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; 
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; 
IV - os pródigos. 
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. 
 
EMANCIPAÇÃO 
 
Como vimos acima, cessa a menoridade aos 18 anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos 
os atos da vida civil (CC, art. 5°, caput). A emancipação, assim, é a aquisição da capacidade de fato antes daquela idade 
legal, ou seja, com ela antecipa-sea capacidade de exercício. 
 
Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da 
vida civil. 
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: 
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de 
homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; 
II - pelo casamento; 
III - pelo exercício de emprego público efetivo; 
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; 
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o 
menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. 
 
Em relação à origem, a emancipação poderá ser: 
Voluntária ou direta: 
• concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro 
• mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial 
• se o menor tiver 16 anos completos (CC, art. 5°, parágrafo único, 1, la parte). 
Judicial: 
• menor sob tutela 
• por sentença do juiz, ouvido o tutor 
• se o menor tiver 16 anos completos (CC, art. 5°, parágrafo único, 2 parte). 
Tácita ou legal: decorre dos seguintes fatos (CC, art. 5°, parágrafo único, II a VI): 
• casamento: mesmo que ocorra anulação ou divórcio, remanesce o efeito da antecipação (CC, art. 5°, § único). 
 
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• exercício de emprego público efetivo: exige-se a nomeação em caráter efetivo. 
• colação de grau em curso de ensino superior: aqui fica evidente o amadurecimento do menor. 
• estabelecimento civil ou comercial ou existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor de 
16 anos completos tenha economia própria: aquele que se mantém por seus próprios meios demonstra maturidade 
e experiência para conduzir o próprio negocio dai por que a razão da emancipação tácita. 
 
EXTINÇÃO DA PESSOA NATURAL. ESPECIES DE MORTE. COMORIÊNCIA 
 
A existência da pessoa natural termina com a morte presume se esta quanto aos ausentes nos casos em que a lei 
autoriza a abertura de sucessão definitiva (CC art 6°) 
 
Espécies de morte: 
• extinção da pessoa natural: a existência da pessoa natural termina com a morte. (CC, art. 6°). 
• morte real ou física: ocorre com a cessação das atividades encefálicas, conforme o art. 3° da Lei 9.434/97. A prova 
da morte é feita mediante certidão de óbito, ou mediante justificação para o assento de óbito. (LRP, art. 77 e 88). 
• morte presumida com declaração judicial de ausência: haverá morte presumida com declaração de ausência nos 
casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva, conforme os arts. 22 a 39 do CC, observadas os ritos 
dos arts. 1.161 a 1.168, todos do CPC. Assim, teremos sucessão definitiva do ausente em dois casos: 
a) 10 anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da sucessão provisória, poderão os 
interessados requerer a sucessão definitiva e o levantamento das cauções prestadas (CC, art. 37); 
b) provando-se que o ausente conta 80 anos de idade, e que de 5 anos datam as últimas notícias dele (CC, art. 
38).O que se pretende, aqui, é a declaração de ausência, tendo em vista que o desaparecido sumiu e não deixou 
representante (CC, art. 22). 
• morte presumida sem declaração de ausência: as hipóteses dessa modalidade estão elencadas no CC, art. 7°, I 
e II, e são elas: 
a) se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida (ex. acidente aéreo) 
b) se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até 02 anos após o término da 
guerra. Trata-se de procedimento judicial que segue o procedimento da justificação (1..RP, art. 88). Aqui a ação 
é voltada a declarar a morte. 
• morte simultânea ou comoriência: ocorre quando, em um só momento (identidade de tempo, ocasião, e não 
mesmo evento), dois ou mais indivíduos falecerem, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu 
aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos (CC, art. 8°). Para que se reconheça juridicidade a tal fato, é 
necessário que entre os indivíduos mortos se verifique relação sucessória, ou seja, que um deles seja herdeiro ou 
beneficiário de outro. A presunção de morte simultânea afasta a possibilidade de sucessão entre eles, Importa dizer 
que um não herda do outro. Por outro lado, o momento que ocorreu a morte é determinado por perícia médica, que 
se for inconclusiva incide a presunção legal. Trata-se de presunção relativa (juris tantum). 
• morte civil: presente na idade média e moderna, sobretudo para os apenados por longos períodos, como aqueles 
que recebiam prisão perpétua, resultava na privação do condenado de todos os direitos civis. Pouco a pouco foi 
abolida das legislações, e não mais remanesce no direito moderno. A doutrina aponta um resquício dela no CC, art. 
1.816. 
 
 
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DIREITO CIVIL 
AUSÊNCIA (CC, ART. 22 A 39) 
 
Fixação dos poderes do curador: o juiz ao declarar a ausência e nomear curador fixará os pode res e obrigações 
deste, segundo as circunstâncias, observando, ainda, no que for aplicável, as regras a respeito dos tutores e curadores 
(CC, arts. 24 e 1.728 a 1.783). 
De acordo com a definição legal, a teor do CC, art. 22, desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver 
notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento 
de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência e nomear-lhe-á curador. Ainda que tenha deixado 
mandatário, se não quiser, não puder exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes também 
se declarará a ausência (CC, art. 23). Vale lembrar que; se não houver bens, não é necessário a nomeação de curador, 
pois o seu papel recai sobre os “bens”, e não sobre a “pessoa” do ausente. 
De acordo com a definição legal, a teor do CC, art. 22, “desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver 
notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento 
de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência e nomear-lhe-á curador”. 
Ainda que tenha deixado mandatário, se não quiser, não puder exercer ou continuar o mandato, ou se os seus 
poderes forem insuficientes, também se declarará a ausência (CC, art. 23). Vale lembrar que, se não houver bens, não 
é necessário a nomeação de curador, pois o seu papel recai sobre os “bens”, e não sobre a “pessoa” do ausente. 
Fixação dos poderes do curador: o juiz, ao declarar a ausência e nomear curador, fixará os poderes e obrigações 
deste, segundo as circunstâncias, observando ainda, no que for aplicável, as regras a respeito dos tutores e curadores 
(CC, art. 24 e 1.728 a 1.783) 
Curador: CC, art. 25, § 1º a 3°. Legítimo: 
• cônjuge: desde que não esteja separado judicialmente ou de fato por mais de 2 anos, antes da declaração da ausên-
cia. A disposição é aplicável ao companheiro. 
• aos pais ou descendentes 
• entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos. 
• dativo: na falta de todos, o juiz nomeará-curador. 
 
Sucessão provisória 
 
Passado um ano da arrecadação dos bens do ausente (curadoria legitima ou dativa), ou três anos, se deixou 
representante ou procurador, os interessados podem requerer a abertura da sucessão provisória (CC, art. 26). Os “inte-
ressados” são aqueles do CC, art. 27 (A: cônjuge não separado judicialmente; B: herdeiros presumidos, legítimosou 
testamentários; C: aqueles que tenham direito sobre os bens do ausente dependente de sua morte e D: credores de 
obrigações vencidas e não pagas). 
O MP possui legitimidade subsidiária, se os interessados não fizerem nos prazos acima ou se estes forem incapazes 
(CC, art. 28). 
Conversão dos bens: o juiz, se julgar conveniente (faculdade), pode converter os bens móveis, sujeitos a deterio-
ração ou extravio, em imóveis ou títulos da União (CC, art. 29). Por sua vez, os imóveis só poderão ser alienados para 
evitar ruína, se ordenados pelo juiz, salvo em caso de desapropriação ou hipoteca (CC, 31). 
Imissão na posse: os herdeiros podem imitir na posse dos bens, mas darão garantia, em penhores e hipoteca, 
 
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equivalentes aos quinhões respectivos. Os herdeiros necessários, todavia, ficam dispensados de garantir o quinhão (as-
cendente, descendente e ao cônjuge). Caso o herdeiro comum não possa dar garantia, é descabida a imissão na posse. 
Nesse caso, as bens ficam sob administração do curador ou outro herdeiro que preste a garantia (CC, art. 30). Apesar 
de excluído, por não prestar garantia, o herdeiro poderá ter direito aos rendimentos do quinhão que lhe tocaria, se justificar 
que tal valor será utilizado para a sua subsistência (CC, art. 34). Como consequência da imissão na posse dos bens, os 
sucessores provisórios representarão ativa e passivamente o ausente nas ações pendentes e futuras (CC, art. 31). 
Frutos e rendimentos: em relação a estes, duas regras: 
• para sucessores provisórios ascendente, descendente e cônjuge, serão seus os frutos e rendimentos dos bens do 
ausente; 
• os demais sucessores farão seus 50% deles, e os outros 50% serão capitalizados, em imóveis ou títu los da União, 
segundo o representante do MP, além da obrigação de prestação de contas anual. Tal capitalização visa à restituição 
do ausente que, se desaparecer voluntária e injustificadamente, perderá em favor do sucessor, o montante dos frutos 
e rendimentos capitalizados (CC, art. 33). 
Se provada a data certa do falecimento, considera-se a partir desse momento aberta a sucessão. (CC, art. 35). 
Uma vez que retorne o ausente, ou provada sua existência, depois de estabelecida a sucessão provisória, cessarão 
as vantagens dos sucessores nela imitidos, os quais deverão, ainda, conservar e preservar os bens (CC, art. 36). 
 
Sucessão definitiva 
 
Ocorre em dois casos: 
• 10 anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da sucessão provisória, os interessados 
poderão requerer a definitiva (CC, art. 37). 
• pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o ausente conta 80 anos de idade e que de 5 
anos datam as últimas notícias dele (CC, art. 38). 
Regresso do ausente ou de seu herdeiro necessário: 10 anos depois de aberta a sucessão definitiva, retornando 
o ausente, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, todos eles receberão os bens no estado em que se encon-
trarem, os sub-rogados em seu lugar ou o preço que houverem recebido se alienados depois daquele tempo (CC art. 39) 
Vacância: nos 10 anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, caso não retorne o ausente ou não promova a 
sucessão definitiva, os bens serão arrecadados como vagos, passando a propriedade do Município ou do Distrito Federal, 
se neles situado, ou à União, se estiverem em território federal (CC, art. 39, parágrafo único). 
 
REGISTRO E AVERBAÇÃO 
 
De acordo com os arts. 9° e 10 do CC/2002, os atos neles descritos estão sujeitos a registro ou averbação, com a 
finalidade de conferir publicidade do estado das pessoas, assegurando eventuais direitos de terceiros. Devem ser obser-
vadas, em tais atos, as disposições da Lei de Registros Públicos (Lei 6.01 5/73). 
 
 
 
 
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Registrados (CC, art. 9º, I a IV) Averbados (CC, art. 10, I e II) 
• a sentença declaratória de ausência e de morte pre-
sumida. 
• nascimentos 
• casamentos 
• óbitos 
• emancipação por outorga dos pais ou por sentença 
do juiz 
• interdição por incapacidade absoluta ou relativa; 
• nulidade ou anulação do casamento; 
• divórcio; 
• separação judicial 
• restabelecimento da sociedade conjugal 
• atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou re-
conhecerem a filiação 
 
INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA 
 
Individualização da pessoa tem por finalidade distinguir a posição de um titular de direitos e obrigações nas relações 
jurídicas, em relação aos demais, importando segurança dos negócios e estabilidade das famílias e sociedade. 
 
Nome (CC, art. 16 a 19) 
 
Nos artigos 16 a 19 o CC/2002 dispõe sobre o nome, nele compreendidos o prenome (simples ou composto) e o 
sobrenome apelido familiar ou patronímico bem como o pseudônimo adotado para atividades licitas o qual goza da pro-
teção que se da ao nome (elementos fundamentais) Outros podem ser os elementos componentes do nome, como o 
agnome, a partícula, o apelido ou alcunha, o hipocorístico, os títulos nobiliários, os heterônimos, entre outros (elementos 
secundários). Todos os preceitos a respeito do nome civil da pessoa natural estão inseridos no campo dos direitos da 
personalidade e, em razão disso, são inalienáveis e imprescritíveis, bem como representam o dado exterior que diferencia 
uma pessoa das demais, tanto na família, quanto nas relações em sociedade. 
Natureza jurídica do nome: são variadas as teorias que existem a respeito da natureza jurídica do nome, entre elas: 
da propriedade, da propriedade sul generis, negativistas, da personalidade. O nome é um direito de personalidade, como 
o direito à vida, à honra, etc. 
Elementos: compõe-se o nome do prenome (simples, composto) e do sobrenome (apelido familiar ou patronímico). 
Poderá compor-se, ainda, do agnome, que é o sinal que diferencia uma pessoa de outra, da mesma família, que contenha 
o mesmo prenome e sobrenome, p. ex, Filho, Neto, Segundo. É importante que sejam observadas as disposições da Lei 
6.015/73 em relação ao nome, especialmente aquela do art. 55 (proibição do registro do nome que exponha a ridículo o 
portador). 
Ordem dos apelidos de família: a lei não faz nenhuma exigência no que tange à observância de determinada ordem 
quanto aos apelidos de família, seja no momento do registro do nome do indivíduo ou por ocasião da sua posterior 
retificação. Ademais, inexiste proibição legal de que a ordem do sobrenome dos filhos seja distinta daquela presente no 
sobrenome dos pais (STJ - Info 513). 
Títulos nobiliários, eclesiásticos e os honoríficos: são as qualificações de nobreza, religiosas e outras que acompa-
nham o nome pelo qual a pessoa é conhecida, p. ex., Príncipe, Dom, ou Cardeal; lembramos alguns notáveis nomes assim 
grifados: Visconde de Taunay, Duque de Caxias, Príncipe Pedro Luis de Orleans e Bragança e Dom Evarismo Arns. 
Pseudônimo: segundo o CC/art. 19, e desde que adotado para atividades lícitas, possui a proteção que se dá ao 
nome. Conhecido por nome fictício ou falso nome, esse elemento goza da proteção legal quando utilizado para certas 
 
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atividades nas quais a pessoa é conhecida, como na arte, literatura ou religião. O que importa para invocar a proteção 
legal é a sua utilização, mesmo que não ostente a notoriedade, que não é exigida no preceito destacado acima; a proteção 
conferida ao pseudônimo, enquanto direito de personalidade, não é admitida em toda e qualquercircunstância; exige-se 
a licitude das atividades para que se possa reclamar de eventuais perdas e danos, em razão do uso não autorizado; 
lembramos alguns notáveis conhecidos por seu pseudônimo: Jango (João Belchior Marques Goulart); Chico Xavier (Fran-
cisco de Paula Cândido Xavier); Pelé (Edson Arantes do Nascimento); Garrincha (Manuel Francisco dos Santos). Lem-
bramos, ainda, que a heterônímio é alcançada pela norma em apreço (CC, art. 19), quando utilizada em atividades lícitas. 
Exemplificamos com o poeta e escritor português Fernando Pessoa, que em suas obras literárias se desdobrou em 
múltiplas personalidades, assinando-as como Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Bernardo Soares, etc. 
Regra da imutabilidade relativa do nome: somente por exceção e motivadamente, e caso se apresente necessário, 
será admitido alterar o prenome. Assim, não é absoluta a imutabilidade ou definitividade do nome (STJ - Info 513). Exce-
ção: em relação aos apelidos da família de origem, porque identificadores da estirpe, a imutabilidade é absoluta. Tra-
tando-se de norma cogente como garantia de segurança jurídica, o sobrenome de família constitui sinal ident ificador da 
origem do indivíduo. Assim, nesse caso, vedam-se as supressões (STJ - Info 460). 
 
Alteração do Prenome 
 
Ilustramos as hipóteses de alteração do nome, diferenciando-as em relação ao prenome e ao sobrenome, termino-
logias adotadas pelo CC, art. 16. 
Alteração do nome, sem motivação: de acordo com a LRP, art. 56,0 interessado, no 1° ano após ter atingido a 
maioridade civil poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome (prenome e sobrenome), desde que 
não prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será publicada pela imprensa (obs: admite-se a 
forma administrativa ou judicial). Nesse caso, é habitual o acréscimo de apelidos, nome de uso ou sobrenomes. 
• prazo: nesse caso, o prazo é decadencial de um ano. 
• contagem: a contagem é iniciada a partir da maioridade (CC, art. 5°, caput). Antes dos 18 anos, o menor poderá 
ser emancipado, o que faz cessar-lhe a incapacidade. Porém, a emancipação não inicia o prazo decadencial. 
Alteração por exceção e motivadamente, ouvido o Ministério Público: diz a LRP, art. 57, caput, que a alteração 
posterior de nome, somente por exceção e motivadamente, após audiência do Ministério Público, será permitida por 
sentença do juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela imprensa, 
ressalvada a hipótese do art. 110 desta Lei. 
• prazo: não há 
• não é absoluta a imutabilidade do nome (STJ - lnfo 145) 
• admite-se a alteração por tal fundamento aos menores, observadas as regras de representação 
• e assistência (STJ, REsp 345456) 
Alteração do nome com erros de pronta verificação: conforme dissemos acima, a parte final do preceito, LRP, 
art. 110, refere-se aos erros que não exijam qualquer indagação para a Constatação imediata de necessidade de sua 
correção, os quais poderão ser corrigidos de ofício pelo oficial de registro no próprio cartório onde se encontrar o assen-
tamento, mediante petição assinada pelo interessado, representante legal ou procurador, independentemente de paga-
mento de selos e taxas, após manifestação conclusiva do Ministério Público. 
• admite-se a correção pelo próprio oficial, mediante provocação 
• poderão fazê-lo o interessado, o representante legal ou convencional 
• independe do pagamento de selos e taxas 
 
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DIREITO CIVIL 
• exige-se a participação do Ministério Público 
Outras situações legais ou jurisprudências de alteração do nome: 
• o nome abreviado, usado como firma comercial registrada ou em atividade profissional (LRP, art. 57, § 1°); 
• substituição ou inclusão por apelidos públicos notórios (LRP, art. 58); 
• em razão de fundada coação decorrente de colaboração com a apuração em crime, mediante sentença, ouvido 
o MP (LRP, art. 58, parágrafo único); 
• se o prenome expor o titular ao ridículo (LRP, art. 55, parágrafo único); 
• quando ocorrer erro gráfico (LRP, art. 110); 
• homonímia; 
• substituição por prenome de uso, aquele pelo qual a pessoa é conhecida; 
• em caso de adoção (ECA/art. 47, § 50); 
• para a tradução de nome estrangeiro, quando este passe a residir em definitivo no Brasil; 
• em decorrência de cirurgia de transgenitalização (mudança de sexo). 
 
Estado das pessoas 
 
Em resumo, são os atributos que a pessoa dentro da sociedade, nos aspectos civil e pessoal. Para o Direito Romano, 
eram três os estados da pessoa, a saber: a liberdade (libertatis); a cidadania (civitatis) e o familiar (familiae). Para a 
pessoa, perder esses estados representava a capitis deminutio. O estado da pessoa é um dos elementos de sua indivi-
dualização, assim corno são o nome e o domicílio. 
Basicamente, são três os estados da pessoa: 
• político: as pessoas podem ser nacionais (natos e naturalizados) ou estrangeiras. A situação jurídica do estrangeiro 
é definida pela Lei 6.815/80, regulamentada pelo Decreto 86.715/81. 
• familiar: situação da pessoa dentro da família, do cônjuge (vinculo da afinidade) e do parente (vínculo consanguíneo). 
• Individual: é a posição da pessoa que cria direitos e deveres específicos decorrentes, como ser solteiro, casado, 
viúvo, separado. 
Características do estado: 
• irrenunciabilidade 
• inalienabilidade 
• imprescritibilidade. 
Ações de estado: são aquelas que visam criar, modificar ou extinguir um estado, como ocorre com a interdição, 
anulação de casamento, etc. 
 
DIREITOS DA PERSONALIDADE 
 
Aos direitos da personalidade dedica o CC/2002 um capítulo próprio, conforme artigos 11 a 21. 
Os direitos da personalidade são: 
• absolutos; 
• extrapatrimoniais; 
 
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DIREITO CIVIL 
• irrenunciáveis; 
• intransmissíveis (Apesar de intransmissíveis - CC, art. 11 -, admite-se a cessão de uso dos direitos da personalidade 
(Ex. direitos autorais, direitos de imagem, etc.), razão pela qual a indisponibilidade quanto a eles é relativa). 
• perpétuos ou vitalícios; 
• inalienáveis; 
• imprescritíveis; 
• impenhoráveis; 
• quando inatos, não se sujeitam à desapropriação; 
Integram essa categoria de direito todos os atributos subjetivos da pessoa, como a vida, a integridade física, a liber-
dade, a honra, a imagem, entre outros. 
Origem: enquanto categoria de direitos subjetivos, os direitos da personalidade são recentes. As fontes mais citadas 
na doutrina são as “Declarações dos Direitos do Homem” (1789 e 1948) e a “Convenção Europeia para a proteção dos 
Direitos do Homem e das liberdades fundamentais” (1950). 
Os direitos fundamentais remontam à Revolução Francesa, que possuía como lemas a liberdade, a igualdade e a 
fraternidade. Podem ser divididos em “gerações” (ou “d imensões”): 
• 1ª Geração: os “direitos e garantias individuais e políticos clássicos”, as chamadas liberdades publicas, surgidos a 
partir da Magna Charta. 
• 2ª Geração: desta classe são os “direitos sociais”, econômicos e culturais, como aqueles relacionados ao trabalho, 
seguro social, amparo a doença, ao idoso, ao deficiente. 
• 3ª Geração: são os direitos de solidariedade ou fraternidade, como o direito ao meio ambiente equilibrado, aos de-
mais direitos difusos. 
Os direitos da personalidade conferem a prerrogativa de exigir um comportamento negativo endereçado a todos, ou 
seja, seu caráter é geral e legal (“excludendi alios”). A respeito, diz o CC/art. 12: “Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou 
a lesão, a direitoda personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei”. 
Os direitos da personalidade são divididos em duas categorias, a saber: 
• Inatos: aqueles imanentes a qualquer pessoa, desde a concepção, por isso geral, como o direito a vida, a integridade 
física, a moral. 
• Adquiridos: estes, por sua vez, envolvem um comportamento da pessoa. Logo, são direitos individuais e restritos, 
como os autorais. 
Legitimados aos mecanismos de proteção: segundo o CC, art. 12, as sanções decorrentes das ofensas aos direi-
tos da personalidade, destinadas à proteção da dignidade humana, de tutela especifica ou cautelar, sem prejuízo das 
perdas e danos materiais ou morais, devem ser pleiteadas pelo lesado direto (ofendido). Por outro lado, não se afasta ao 
lesado indireto (herdeiros, cônjuge, companheiro, membros da família, etc.) aquele que sofreu algum prejuízo pessoal, 
resultado de um dano a um bem jurídico de outrem, de manejar contra o responsável, por direito próprio (CC, art. 12, 
parágrafo único). Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista nesse artigo o cônjuge 
sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o 4º grau. O Enunciado 275 do CJF reconhece igual 
legitimidade ao companheiro. 
 
Disposição do corpo 
 
Disposição do corpo em vida: a respeito da disposição do corpo em vida dispõe o CC, art. 13. O corpo é indisponível 
 
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DIREITO CIVIL 
quando importar diminuição permanente da integridade física, salvo quando for necessário por exigência médica para 
preservar a saúde, como amputar um membro ou extrair um órgão para evitar que um câncer se alastre. Também é 
indisponível o corpo se contrariar os bons costumes, como ocorre se verificado o comércio de órgãos e tecidos. Lembra-
mos que, por exceção, o ato previsto nesse artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei 
especial. A Lei 9.434, de 04 de fevereiro de 1997, regula a disposição em vida de tecidos, órgãos e partes do corpo 
humano para fins de transplante ou tratamento, sendo a lei especial mencionada no CC/art. 13, parágrafo único. 
Transgenitalização (mudança de sexo): de acordo com a Resolução 1.955/2010 do Conselho Federal de Medicina, 
a cirurgia de transformação plástico-reconstrutiva da genitália externa, interna e caracteres sexuais secundários não 
constitui crime de mutilação previsto no artigo 129 do Código Penal brasileiro, haja vista que tem o propósito terapêutico 
específico de adequar a genitália ao sexo psíquico. Nessa linha, afirma o Enunciado 276 da IV Jornada de Direito Civil 
do CJF: “O art. 13 do Código Civil, ao permitir a disposição do próprio corpo por exigência médica, autoriza as cirurgias 
de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, e a 
consequente alteroção do prenome e do sexo no Registro Civil”. 
Disposição do corpo após a morte: o CC, art. 14, estabeleceu critérios legais em relação à disposição do corpo depois 
da morte. Admite-se desde que seja gratuita, de todo o corpo ou parte dele. Quanto aos objetivos, poderá ser científico ou 
altruístico. De acordo com o princípio do consenso afirmativo a pessoa capaz deverá manifestar sua vontade de dispor de 
forma gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois de sua morte, com objetivo científico ou altruístico. O ato 
de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo. Segundo o teor do Enunciado 277 da IV Jornada de Direito 
Civil do CJF: “o art. 14 do Código Civil, ao afirmar a validade da disposição do próprio corpo, com objetivo científico ou 
altruístico, para depois da morte, determinou que a manifestação expressa do doador de órgãos em vida prevalece sobre a 
vontade dos familiares, portanto, a aplicação do art. 40 da Lei 9.434/97 ficou restrita à hipótese de silêncio do potencial 
doador”; pelo Enunciado 402 da, VI Jornada de Direito Civil; “a art. 14, parágrafo único, do Código Civil, fundado no con-
sentimento informado, não dispensa o consentimento dos adolescentes para a doação de medula óssea prevista no art. 9º, 
§ 6º, da Lei 9.434/1997 por aplicação analógica dos arts. 28, § 2° (alterado pela Lei 12.010/2009), e 45, § 2°, do ECA”. 
Lembramos que a Lei 8.501/92 regula a disposição de cadáver não reclamado, para fins de estudos e pesquisas, e a Lei 
9.434/97, a disposição do corpo post mortem para fins de transplante. 
Lei 9.434/97: de acordo com o CC, art. 15, em razão do princípio da autonomia e da recusa ao tratamento arris-
cado, ninguém pode ser, constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. 
Disso decorre o direito à informação do paciente a respeito de seu estado de saúde e tratamento, resultando nos princí-
pios da transparência e do dever de Informar, os quais devem ser cumpridos pelo profissional da medicina, e se acham 
previstos no CDC, arts. 4°, 6°, III e 31. Na impossibilidade da autorização escrita para o tratamento médico, por analogia 
à Lei 9.434/97, art. 4°, poderão fazê-lo o cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou 
colateral, até o segundo grau inclusive. Em caso de emergência ou urgência, que importe em iminente risco de vida, a 
intervenção médica poderá ocorrer independentemente de autorização, o que se verifica, por exemplo, para aquele aco-
metido de AVC ou infarto (CP, art. 146, § 3°, 1). 
Tratamento e religião: se a recusa ao tratamento for decorrente da liberdade de religião, lembramos o teor do 
Enunciado 403 da V Jornada de Direito Civil, pelo qual “o direito à inviolabilidade de consciência e de crença, previsto no 
art. 50, VI, da Constituição Federal, aplica-se também à pessoa que se nega a tratamento médico inclusive transfusão 
de sangue com ou sem risco de morte em razão do tratamento ou da falta dele, desde que observados os seguintes 
critérios: a) capacidade civil plena, excluído o suprimento pelo representante ou assistente; b) manifestação de vontade 
livre, consciente e informada; e c) oposição que diga respeito exclusivamente à própria pessoa do declarante”. 
Principio da beneficência informa a necessidade de a pratica medica buscar o bem estar do paciente buscando a 
ponderação entre riscos e benefícios, tanto atuais como potenciais, comprometendo-se com o máximo de benefícios e o 
 
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DIREITO CIVIL 
mínimo de danos e riscos sempre para o bem do enfermo. 
Princípio da não maleficência: por ele, existe a obrigação de não causar mais danos ao paciente, devendo buscar 
o tratamento alternativo sempre que houver recusa motivada, por exemplo, em razão de questões religiosas. 
Proteção à palavra e à imagem: a palavra e os escritos já eram protegidos pela Lei 9.608/98 (Lei dos Direitos 
Autorais) Com o CC, art. 20 “salvo se autorizadas ou se necessárias a administração da justiça ou a manutenção da 
ordem publica a divulgação de escritos a transmissão da palavra (falada e escrita - CF, art. 50 XXVII, ‘a’) ou a publicação 
a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas a seu requerimento e sem prejuízo da 
indenização que couber se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais” 
Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou 
os descendentes. O Enunciado 275 do CJF reconhece igual legitimidade ao companheiro. 
 
ATENÇÃO 
Sumula 403 do STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizadade imagem de pessoa 
com fins econômicos ou comerciais 
 
Uso não lucrativo da imagem: “A obrigação da reparação pelo uso não autorizado de imagem decorre do próprio 
uso indevido do direito personalíssimo e não é afastada pelo caráter não lucrativo do evento ao qual a imagem é associ-
ada. Para a configuração do dano moral pela uso não autorizado de imagem não é necessária a demonstração de pre-
juízo, pois o dano se apresenta in re ipsa...” (STJ). 
Rol não exaustivo dos direitos da personalidade: de acordo com o Enunciado 274 da IV Jornada de Direito Civil: 
“Os direitos da personalidade, regulados de maneira não-exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral 
de tutelo da pessoa humana, contida no art. 1º, inc. III, da Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana). Em 
caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicara técnica da ponderação”. 
Paralelo: não raro em concursos são colocados lado a lado os arts. 12, parágrafo único, e o 20, parágrafo único, em 
relação aos legitimados para a proteção dos direitos da personalidade e da imagem do morto, surgindo duas regras: 
 
Proteção do morto e do ausente 
Regra da personalidade 
(CC, art. 12, parágrafo único) 
Regra da imagem 
(CC, art. 20, parágrafo único) 
O direito de exigir que cesse a lesão 
ou ameaça a direito da personali-
dade e reclamar perdas e danos. 
Em se tratando de MORTO. 
Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manu-
tenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra ou 
a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão 
ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se 
lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade ou se se destinarem a 
fins comer ciais. Em se tratando de MORTO ou de AUSENTE. 
Legitimados: 
• cônjuge sobrevivente 
• qualquer parente em linha reta 
• colateral até o quarto grau. 
Legitimados: 
• cônjuge 
• os ascendentes 
• descendentes. 
 
Intimidade e vida privada: dispõe a CF, art. 5°, X, que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a 
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação” Por 
 
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DIREITO CIVIL 
sua vez, estabelece o CC, art. 21, que “A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interes-
sado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma’ A intimidade é o 
círculo mais reservado e restrito da pessoa, diz respeito ao “eu” ind ividualmente considerado; é o segredo ou os aconte-
cimentos da vida que dizem respeito ao que somos, sentimos ou pensamos, como o pudor, o relacionamento amoroso. 
A vida privada ou a privacidade, também fundada no texto constitucional, é o direito de maior abrangência subjetiva pois 
seus aspectos individuais ficam estendidos a um grupo de pessoas escolhidas pelo titular como as comunicações telefô-
nicas epistolares A intimidade e interna e a privacidade o aspecto externo da existência. 
Direito da personalidade das pessoas jurídicas: inicialmente, lembramos ao candidato o teor do Enunciado 286 
da IV Jornada de Direito Civil do CJF: “Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, 
decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos”. Em que pese o verbete, reco-
nhece o CC, art. 52 que “aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade”. Não 
é por acaso que o STF, Súmula 227, admite o dano moral à pessoa jurídica, bem como é a proteção ao nome. Ou-
trossim, admite-se à pessoa jurídica as medidas judiciais conducentes à preservação dos direitos mencionados, como 
cautelares, ações ordinárias, etc. Assim, este é o sentido que se deve conferir ao texto legal. Para as pessoas jurídicas, 
fala-se em “direitos da personalidade por equiparação”. 
 
 
PESSOAS JURÍDICAS 
 
 
Pessoa jurídica é um ente invisível que possui personalidade jurídica. Há três pressupostos existenciais da pessoa 
jurídica: (1) a vontade humana que lhe dá origem; (2) observância das condições legais para a sua criação; (3) licitude 
do objeto. Trata-se de elementos essenciais à personificação da pessoa jurídica. Há ainda quem acrescente dois outros 
requisitos: (a) a capacidade jurídica reconhecida pela legislação e (b) a organização de pessoas ou a afetação de um 
patrimônio a um fim específico. Temos, porém, que esses dois já estão implícitos naqueles três pressupostos existenciais 
retrocitados. 
Acerca de sua natureza jurídica, há dois grupos de teorias: 
1. teoria negativista: nega a existência concreta da pessoa jurídica e considera-a apenas um patrimônio sem sujeito; 
2. teoria afirmativista: preconiza a existência concreta de grupos sociais com interesses próprios com personalidade 
jurídica. 
Entre os sectários da teoria afirmativista, há outras duas vertentes. A primeira é a teoria da ficção, segundo a qual só 
o homem, por essência, pode ser titular de relações jurídicas, pois tem existência real e psíquica, de sorte que as pessoas 
jurídicas seriam fruto da criação humana, que lhe atribui direitos por mera ficção jurídica mediante lei (ficção legal) ou 
doutrina (ficção doutrinária). Savigny defendia a teoria da ficção legal. 
A segunda espécie de teoria afirmativista é a teoria da realidade, à luz da qual a pessoa jurídica é uma realidade 
social, com existência própria e distinta da de seus membros. A teoria da realidade se divide em três subespécies. A 
primeira é a teoria da realidade objetiva, teoria da realidade orgânica ou teoria organicista, para a qual as pessoas jurídi-
cas são organismos sociais com existência e vontade próprias. Ela se equivoca ao esquecer-se da relevância da vontade 
dos sócios de uma sociedade. 
 
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DIREITO CIVIL 
A segunda é a teoria da realidade técnica, segundo a qual a existência da pessoa jurídica é real e concreta, mas 
dependente de atos técnicos, como o registro. 
A terceira é a teoria da realidade das instituições jurídicas, que preconiza que a pessoa jurídica é derivada do 
direito, assim como a personalidade jurídica da pessoa natural. Sob essa ótica, a pessoa jurídica é uma instituição jurí-
dica, consistente em agrupamentos de pessoas ou massa patrimonial dotadas de objetivos próprios, por força da vontade 
das pessoas naturais que lhe deram vida com base na permissão do Direito. É uma espécie de mistura das demais 
teorias. 
A quarta é a teoria institucionalista, em conformidade com a qual a pessoa jurídica passa a existir desde o momento 
em que há uma organização de pessoas ou bem com finalidade comum. Mesmo que a lei não reconheça personalidade 
jurídica a essas instituições, o fato é que elas já exercem atos na vida social com base em uma espécie de “personalidade 
moral”. 
 
SURGIMENTO DA PESSOA JURÍDICA 
 
No Brasil, as pessoas jurídicas de direito privado surgem com o registro do seu ato constitutivo no órgão compe-
tente (art. 45, CC). O ato constitutivo é o ato que incorpora a vontade dos instituidores da pessoa jurídica e pode ser um 
contrato social ou um estatuto social. Se se tratar de sociedade empresária, o órgão competente é a Junta Comercial 
(art. 984, CC); se pessoa jurídica de advogados – sociedade simples de advocacia ou sociedade unipessoal de advocacia 
–, a OAB (art. 15, Lei n. 8.906/1994); se demais tipos de pessoas jurídicas, o Registro Civil dasPessoas Jurídicas (art. 
114, Lei n. 6.015/1973). Isso vale também para partidos políticos e sindicatos: o seu surgimento enquanto pessoa jurídica 
é com o registro no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, de maneira que o seu registro no TSE ou no Ministério do 
Trabalho é apenas uma espécie de “alvará de funcionamento” eleitoral ou sindical, hábil a autorizar o exercício das 
atividades. 
No caso de empresas públicas e sociedades de economias mistas, por elas serem dotadas de personalidade jurídica 
de direito privado e terem natureza empresária, também nascem com o registro na Junta Comercial, mas, como elas 
nascem de destaque orçamentário de um ente público para ser usado em atividade econômica, há necessidade de lei 
prévia autorizando a sua criação (art. 173, CF/1988, e art. 2º, Lei n. 13.303/2016). 
Já as pessoas jurídicas de direito público são criadas por lei, pois só lei pode conferir-lhes os “superpoderes” próprios 
do regime de direito público. No caso dos entes federativos, a lei criadora é a CF. No caso de pessoas jurídicas de direito 
público externo, também é a CF ou algum tratado internacional, segundo as regras de Direito Internacional Privado. 
 
ESPÉCIES DE PESSOA JURÍDICA 
 
As pessoas jurídicas podem ser de direito público ou de direito privado. 
De um lado, as pessoas jurídicas de direito público são previstas nos artigos 40 a 43 e podem ser: (1) de direito 
público externo, quando regida por normas de Direito Internacional Público, como a República Federativa do Brasil e os 
organismos internacionais – ONU, OIT etc.; e (2) de direito público interno, quando se cuida dos entes sujeitos ao 
regime jurídico do direito administrativo, a saber os entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) e as 
respectivas autarquias (o que abrange as associações públicas disciplinadas na Lei n. 11.107/2005, as agências 
 
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DIREITO CIVIL 
reguladoras, as fundações públicas etc.). 
De outro lado, as pessoas jurídicas de direito privado são catalogadas no art. 44 do CC e podem ser: sociedades, 
empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI), fundações, organizações religiosas e partidos políticos. 
As sociedades são união de pessoas com fins econômicos, ou seja, os seus sócios objetivam auferir lucro por meio 
de futura distribuição de dividendos. Em regra, é fundamental haver mais de um sócio, mas, quando houver lei específica, 
admitem-se exceções de sociedades unipessoais, a exemplo da subsidiária integral (art. 251, Lei n. 6.404/1976) e da 
sociedade unipessoal de advocacia (art. 15, Lei n. 8.906/1994). A disciplina das sociedades está detalhada no livro de 
Direito das Empresas, a partir dos art. 981 do CC. 
A EIRELI é uma pessoa jurídica constituída por uma única pessoa (designada de titular) com fins econômicos. O art. 
980-A do CC disciplina esse tipo de pessoa jurídica e impõe limitações, como a vedação de uma mesma pessoa ser 
titular de mais de uma EIRELI e a exigência de que o capital social mínimo seja de cem salários mínimos. 
Se a EIRELI afundar-se em dívidas, somente o seu patrimônio pode ser penhorado. Os bens dos sócios estão livres 
de constrições judiciais, pois a responsabilidade deles é limitada ao capital social. O sócio só responderia no caso de 
desconsideração da personalidade jurídica ou na hipótese de não ter integralizado o capital social (caso em que respon-
derá até ao que falta para tanto), como sucede nas sociedades de responsabilidade limitada (artigos 980-A, § 6º, e 1.052, 
CC). 
As associações consistem na reunião de pessoas sem fins econômicos. Em princípio, uma associação pode ter 
lucro com suas atividades, mas esse fato, por si só, não descaracteriza a sua finalidade não econômica. Só haveria fim 
econômico se os lucros fossem rateados entre os membros da associação, o que não sucede. O lucro é reinvestido na 
própria atividade da associação. Obviamente as associações podem contratar serviços, inclusive de seus associados, 
remunerando-os por isso. Essa remuneração, porém, não representa distribuição de lucros, e sim remuneração para 
todos os efeitos jurídicos. Se fossem dividendos, o associado poderia, por exemplo, deixar de pagar imposto de renda, a 
depender da lei tributária. Mas, como é remuneração, cumpre-lhe pagar a exação de renda pertinente. A disciplina das 
associações está a partir do art. 53 do CC. 
A fundação é um patrimônio afetado a uma das finalidades do parágrafo único do art. 62 do CC, que lista diversas 
hipóteses de fins não lucrativos, como fins de assistência social, de educação, de promoção da democracia, de ativi-
dades religiosas etc. Apesar de o parágrafo único do art. 62 do CC se valer do advérbio “somente”, há corrente no sentido 
de que esse rol de finalidades é exemplificativo, de maneira que outras finalidades não lucrativas podem autorizar a 
criação de uma fundação. É o caso, por exemplo, das “fundações de caráter esportivo”. 
Essa corrente de ampliar ilimitadamente o rol de fins para a criação de fundação, todavia parece-nos contrariar ex-
pressamente o próprio CC, que é expresso em usar o advérbio “somente”, além de desconsiderar dois fatos relevantes: 
(1) esse entendimento permitiria contornar o veto presidencial ao inciso X do art. 62 do CC, que haveria de autorizar a 
criação de fundação para fins de “habitação de interesse social”, mas que foi tida por inconveniente no veto presidencial 
por autorizar o ingresso de fundações no mercado de habitação com privilégios tributários que distorceriam a concorrên-
cia com empresas do segmento; (2) há interesse público nas fundações, e o Estado gasta recursos financeiros e de 
pessoal na sua fiscalização, como por meio do Ministério Público, de maneira que seria desarrazoado permitir que um 
particular imponha gastos ao Poder Público com uma fundação de irrelevante interesse social (ex.: imagine uma fundação 
para estimular as pessoas a ficarem olhando o vento). 
A disciplina das fundações está a partir do art. 62 do CC. Como não há sócios na fundação e como há interesse 
público nelas, o Ministério Público deve fiscalizá-las (art. 66, CC). A criação da fundação dá-se por meio de quatro 
etapas: 
 
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DIREITO CIVIL 
1. a fase de dotação ou de instituição: por escritura pública ou testamento, o instituidor destina um patrimônio para a 
criação de uma fundação na forma do art. 62 do CC; 
2. fase da elaboração do estatuto social: o instituidor no ato de instituição ou uma pessoa indicada pelo instituidor 
elaborará o estatuto social no prazo indicado pelo instituidor ou, se ausente este, em 180 dias, sob pena de o Minis-
tério Público efetuar a elaboração, conforme art. 65, CC; 
3. fase de aprovação do estatuto: o Ministério Público deve aprovar o estatuto para impedir regras abusivas ou in-
compatíveis com a vontade do instituidor, admitido recurso ao juiz no caso de rejeição do Ministério Público, conforme 
art. 65, CC; 
4. fase do registro: o estatuto social deve ser registrado no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, dando início à pessoa 
jurídica. 
As pessoas jurídicas que exercem atividade religiosa, independentemente da orientação de fé, são consideradas 
organizações religiosas. A opção do legislador de tratar as organizações religiosas como pessoa jurídica diversa possui 
cunho mais político e didático, para evitar que os templos em geral tivessem de adaptar-se às inúmeras regras complexas 
e burocráticas de associação trazidas pelo CC/2002 e para reconhecer que há um regime jurídico peculiar para elas, com 
direito à imunidade tributária sobre patrimônio,renda e serviços (art. 150, VI, “b”, CF/1988) e com liberdade de culto (art. 
5º, VI, CF/1988). Seja como for, na prática, o funcionamento das organizações religiosas costumam seguir o modelo das 
associações, embora a elas não sejam exigíveis a adaptação às regras de associação do CC/2002 previstas a partir do 
art. 53 (art. 2.031, CC). O CC não detalha regras de funcionamento das organizações religiosas, dando liberdade aos 
seus membros. 
A Igreja Católica foge a essa regra por conta de acordo internacional firmado entre o Brasil e a Santa Fé em razão 
do qual a Igreja Católica possui personalidade jurídica em conformidade com o direito canônico (Decreto n. 7.107/2010). 
Os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito privado, que surgem com o registro no Cartório de Registro 
Civil das Pessoas Jurídicas e que, após esse seu nascimento enquanto pessoa jurídica, dependem de um registro no 
TSE para efeito de viabilizar o exercício da atividade eleitoral, nos termos do art. 7º da Lei n. 9.096/1995. Não se aplicam 
as regras de associações aos partidos políticos por serem espécies de pessoas jurídicas diversas, apesar de o funciona-
mento dos partidos costumar ser similar ao das associações. 
 
CLASSIFICAÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS QUANTO À ESTRUTURA 
 
Quanto à estrutura, as pessoas jurídicas podem ser: 
1. universitas personarum (universalidade de pessoas): a sua estrutura é decorrente da união de pessoas, como se 
dá na sociedade, nas associações, na EIRELI, nos partidos políticos e nas organizações religiosas, cuja composição 
envolve necessariamente pessoas; 
2. universitas bonorum (universalidade de bem): a estrutura da pessoa jurídica não é composta por pessoas, e sim 
por um patrimônio afetado a uma finalidade, a exemplo das fundações, que não possuem “sócios”, e sim um conjunto 
de bens destinado a um dos fins do art. 62, parágrafo único, CC. 
 
REPRESENTAÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS 
 
Como ente invisível, a pessoa jurídica depende de algum indivíduo para praticar atos em nome dela. Em regra, o 
 
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DIREITO CIVIL 
administrador – assim nomeado segundo as regras internas da pessoa jurídica – tem poderes para praticar atos em nome 
da pessoa jurídica, como assinar um cheque, por exemplo, salvo se extrapolar os poderes definidos no ato constitutivo 
(que pode proibi-lo, por exemplo, de assinar cheques em nome da pessoa jurídica). Cabe aos terceiros verificar o ato 
constitutivo da pessoa jurídica para verificar se há ou não vedação ao administrador para a prática do ato. 
Se o administrador praticar um ato além (= ultra) dos seus poderes (= vires), esse ato não vinculará a pessoa jurídica. 
Trata-se do que se chama Teoria Ultra Vires, especificada nos artigos 47 e 1.015 do CC. O CC não adotou a Teoria da 
Aparência, que se opõe à teoria ultra vires, por prestigiar terceiros de boa-fé. 
Apesar da adoção da teoria ultra vires pelo CC, ela deve ser flexibilizada com as seguintes ressalvas, extraídas do 
Enunciado 219/JDC: “(a) o ato ultra vires não produz efeito apenas em relação à sociedade; (b) sem embargo, a socie-
dade poderá, por meio de seu órgão deliberativo, ratificá-lo; (c) o Código Civil amenizou o rigor da teoria ultra vires, 
admitindo os poderes implícitos dos administradores para realizar negócios acessórios ou conexos ao objeto social, os 
quais não constituem operações evidentemente estranhas aos negócios da sociedade; (d) não se aplica o art. 1.015 às 
sociedades por ações, em virtude da existência de regra especial de responsabilidade dos administradores (art. 158, II, 
Lei n. 6.404/1976)”. 
O mero fato de ser sócio de uma pessoa jurídica não lhe outorga poderes de representação dela. É preciso que esse 
sócio seja administrador, encargo que pode ser outorgado a quem não é sócio também. 
 
EFEITOS DO REGISTRO 
 
 O registro do ato constitutivo no órgão competente, ao criar a pessoa jurídica (PJ), gera os seguintes efeitos: 
1. patrimonial: o patrimônio da PJ é diverso do dos seus membros; 
2. pessoal: a personalidade jurídica da PJ não se confunde com a pessoa natural dos seus membros; 
3. processual: a legitimidade para ser parte em processos é da PJ, e não dos seus membros; 
4. obrigacional: as obrigações da PJ não são dos membros. 
Assim, ao se fazer um contrato com uma pessoa jurídica, os seus membros não estão se vinculando ao contrato, de 
maneira que, em princípio, eventual ação judicial discutindo o contrato deverá ser proposta contra a pessoa jurídica como 
polo passivo, e não contra os seus membros. 
 
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 
 
Noções Gerais 
 
A desconsideração da personalidade jurídica é a suspensão temporária da autonomia patrimonial da pessoa jurídica, 
de modo a permitir que o patrimônio dos sócios ou dos administradores respondam por dívidas dela. Não há extinção da 
pessoa jurídica, mas apenas a suspensão da autonomia patrimonial. O fundamento da teoria da desconsideração da 
personalidade jurídica é o abuso de direito, que é um ato ilícito (art. 187, CC) e que ocorre quando os sócios se valem 
abusivamente da autonomia patrimonial da pessoa jurídica para frustrar credores. A teoria da desconsideração da per-
sonalidade também é conhecida como disregard theory, disregard of legal entity ou teoria do levantamento do véu. 
Despersonificação da pessoa jurídica é fenômeno diverso; é a extinção da pessoa jurídica. Não se confunda 
 
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DIREITO CIVIL 
desconsideração com responsabilização pessoal. Esta última hipótese é aquela em razão da qual uma pessoa pode 
responder por dívida de outra por força de lei. Passa a haver dois coobrigados pela dívida toda na responsabilização 
pessoal. É o que sucede na responsabilidade pessoal das sociedades integrantes do mesmo grupo econômico em dívidas 
trabalhistas (art. 2º, § 2º, CLT) e na responsabilização pessoal do sócio, do administrador ou de terceiros por dívidas 
tributárias de pessoa jurídica no caso de infração à lei, ao contrato social ou ao estatuto social ou em outros casos legais 
(artigos 134 e 135, CTN). Já na desconsideração da personalidade jurídica, o que há é uma suspensão temporária da 
autonomia patrimonial para permitir a excussão de bens do sócio ou administrador que perpetrou abuso de direito. 
A doutrina costuma falar que há duas espécies de teoria da desconsideração da personalidade jurídica: a maior e a 
menor. 
 
Teoria Maior 
 
A teoria maior da desconsideração jurídica é a regra geral e está no art. 50 do CC. Ela se aplica a qualquer pessoa 
jurídica, desde que esteja presente o seguinte requisito: o inadimplemento e o abuso da personalidade jurídica. O mero 
inadimplemento não é suficiente. Não há necessidade de insolvência ou falência. Esse abuso da personalidade jurídica 
deve necessariamente enquadrar-se em um desvio de finalidade ou em uma confusão patrimonial. 
O desvio de finalidade se dá quando os membros da pessoa jurídica desviam o objeto social da pessoa jurídica com 
a intenção de fraudar os credores. Como se vê, o desvio de finalidade depende da presença de um requisito subjetivo (a 
intenção de fraudar), o que autoriza designar essa hipótese como teoria maior subjetiva. Trata--se de situação difícil de 
ser provada e caracterizada. Se uma sociedade com o objeto social de prestar cursos de capacitação passa a exercer a 
venda de lanches, esse desvio de finalidade só autorizará a desconsideração da personalidade jurídica se houver inten-
ção de prejudicar os credores. Se essa mudança finalística decorreu de sobrevivência financeira, não há má-fé e,por-
tanto, é descabida a desconsideração. 
A confusão patrimonial ocorre quando, de fato, os bens da pessoa jurídica se confundem com os dos sócios, como 
sucede nas hipóteses de sócios que vivem a usar o dinheiro e os bens da pessoa jurídica para proveito próprio. Se a 
pessoa jurídica mescla seu patrimônio com o dos sócios, essa mistura deve subsistir também no caso de inadimplemento 
das obrigações: a mixórdia dos bens implica a mistura das dívidas da pessoa jurídica. Aí não há necessidade de prova 
de intenção de fraudar; basta a prova do fato objetivo da confusão patrimonial, razão por que essa hipótese é designada 
de teoria maior objetiva. Isso ocorre, por exemplo, quando o dinheiro das contas bancárias da pessoa jurídica é usado 
pelos sócios para fins pessoais. 
Encerramento irregular das atividades da PJ não é, por si só, motivo para a desconsideração da pessoa 
jurídica, pois isso não representa confusão patrimonial nem desvio de finalidade. A dissolução ou encerramento irregular 
de pessoa jurídica ocorre quando os seus sócios “fecham” as portas sem adotar o procedimento formal para a extinção 
da pessoa jurídica, previsto no art. 51 do CC (dissolução, liquidação e cancelamento do registro). Não se pode presumir 
ato abusivo nessa conduta, pois frequentemente esta ocorre em razão da crise financeira da empresa, que não dispõe 
de recursos sequer para a contratação de profissionais para a realização dessa operação formal de encerramento. Es-
clareça-se que a Súmula n. 435/STJ cuida de redirecionamento de execução fiscal com base na interpretação dos artigos 
134 e 135 do CTN, que versam sobre responsabilização pessoal, e não de desconsideração da personalidade jurídica. 
Não é cabível a desconsideração da personalidade jurídica pela mera mudança de endereço de sede da pessoa 
jurídica sem comunicação, pois isso não se enquadra em confusão patrimonial nem em desvio de finalidade. 
 
 
 
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DIREITO CIVIL 
Teoria Menor 
 
A teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica contenta-se com o mero inadimplemento de uma obri-
gação pela pessoa jurídica para a suspensão da autonomia patrimonial. Não há necessidade de prova de abuso da 
personalidade jurídica. É preciso haver previsão legal expressa ou, ao menos, fundamento principiológico consistente, 
pois a teoria menor afasta a regra geral do art. 50 do CC. 
A teoria menor é aplicada para dívidas perante consumidor (art. 28, § 5º, CDC), dívidas por danos ambientais (art. 
4º, Lei n. 9.605/1998) e dívidas trabalhistas (princípio da vulnerabilidade do trabalhador, que atrai, segundo o TST, por 
analogia, o art. 28, § 5º, do CDC em prol dos obreiros). 
 
Casos Especiais 
 
É possível admitir novas formas de desconsideração com fundamento na vedação do abuso de direito prevista no 
art. 187 do CC e na aplicação analógica do art. 50 do CC. Afinal de contas, a teoria da desconsideração da personalidade 
nasceu exatamente como reação a condutas abusivas dos devedores em aproveitar-se da autonomia patrimonial da 
pessoa jurídica para frustrar credores. Nesse sentido, é possível admitir diversos tipos de variações da desconsideração, 
como as desconsiderações inversa, indireta e a expansiva bem como a teoria da sucessão de empresas, além de haver 
doutrinadores a admitir outras situações, como a desconsideração por subcapitalização. 
Desconsideração inversa ou às avessas é a suspensão da autonomia patrimonial da pessoa jurídica para permitir 
que os bens destas respondam por dívidas pessoais dos sócios. É preciso haver prova dos requisitos do art. 50 do CC: 
abuso de direito por meio de confusão patrimonial ou desvio de finalidade. Isso pode acontecer até mesmo em direito de 
família: o marido que, antes do divórcio, esconde seus bens na pessoa jurídica para ocultar da esposa incorre em confu-
são patrimonial com esta, de modo que a esposa, por ocasião da partilha de bens decorrentes de divórcio, poderá reivin-
dicar penhora de bens da pessoa jurídica para garantir a sua meação sobre o patrimônio ocultado. O fundamento legal 
são os artigos 187 e 50, CC. 
Desconsideração indireta é permitir que respondam pela dívida de uma pessoa jurídica os bens de uma outra que, 
com o objetivo de frustrar credores, mantenha confusão patrimonial ou desvio de finalidade com a pessoa jurídica deve-
dora. Não importa o vínculo jurídico mantido entre essas pessoas jurídicas (societário, joint venture etc.), pois ele é 
meramente formal diante do abuso de direito. Essa hipótese autoriza que entes do mesmo grupo econômico respondam 
por dívidas uma das outras, desde que seja provado o abuso da personalidade jurídica. O mero fato de ser integrante do 
mesmo grupo econômico não é suficiente para a desconsideração indireta. 
Desconsideração expansiva é a desconsideração de uma pessoa jurídica para atingir o patrimônio de “pessoas” que, 
com o intento fraudulento de frustrar os credores, mantêm-se escondidos, atuando como um verdadeiro “sócio escondido”. 
Não se deve empregar a expressão “sócio oculto” aí para não causar confusão com a expressão técnica utilizada em tipos 
societários legítimos, como a sociedade em conta de participação (formada por sócios ostensivos e ocultos). Nesse caso, 
a desconsideração da pessoa jurídica expande-se para atingir os bens desses sócios escondidos. Assim, por exemplo, se 
uma pessoa, por algum meio fraudulento, logra criar uma sociedade da qual serão sócios dois “laranjas” (pessoas que nem 
sabem disso) para viver a subtrair o patrimônio dessa pessoa jurídica, os credores desta poderão pedir a desconsideração 
para atingir os bens desse indivíduo fraudador, que é um “sócio ardilosamente escondido”. 
A teoria da sucessão de pessoas jurídicas é uma sofisticação da desconsideração da personalidade jurídica para 
permitir que os bens de pessoa jurídica que sucedeu uma outra possa ser responsabilizado nos casos em que essa 
sucessão ocorreu com abuso de direito, como sucederia na hipótese de a nova pessoa jurídica desempenhar a mesma 
atividade e manter a mesma estrutura material e imaterial (móveis, empregados etc.). 
 
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DIREITO CIVIL 
EXTINÇÃO DA PESSOA JURÍDICA 
 
A extinção de uma pessoa jurídica deve atravessar três etapas: dissolução, liquidação e cancelamento do registro 
(art. 51, CC). Só com esse último ato ocorre a efetiva extinção do ente. Sobre a extinção da PJ, consultem-se os artigos 
46, VI (registro da PJ com condições de extinção da PJ e destino do patrimônio), 54, VI (condições de dissolução no 
estatuto da associação), 61 (destino do patrimônio da associação), 69 (extinção da fundação) e 1.033 (hipóteses de 
dissolução da sociedade) do CC. 
A dissolução é a fase de anúncio de que a pessoa jurídica começará o seu processo de encerramento (daí o verbete 
dissolução). A dissolução deve ser averbada no registro público para divulgação a terceiros. Há as seguintes modalidades 
de dissolução: 
1. convencional: decorre de deliberação dos membros, conforme quórum estatutário ou legal; 
2. administrativa: ocorre quando há cassação da autorização para funcionamento; 
3. legal: ocorre quando a lei determina; 
4. judicial: deriva de decisão judicial; 
5. natural: falecimento de membro, sem que seja reconstituída a pluralidade de membros. 
No caso de associação, o estatuto pode afastar a intransmissibilidade da condição de associado (art. 56, CC), de 
maneira que, havendo a morte dos associados (que é uma causa natural), não haverá dissolução da pessoa jurídica. 
 
DIREITOS DA PERSONALIDADE DA PESSOA JURÍDICA 
 
Osdireitos da personalidade também se estendem, no que couber, às pessoas jurídicas, conforme art. 52 do CC. 
Daí decorre o cabimento de dano moral em favor da pessoa jurídica de direito privado no caso de ofensa à sua honra 
objetiva, como sucede nas hipóteses de divulgações de mensagens falsas contra a qualidade dos serviços prestados por 
uma pessoa jurídica ou na hipótese de negativação indevida do nome de uma pessoa jurídica no cadastro de inadim-
plentes. A pessoa jurídica possui honra objetiva, assim entendida a reputação social (a reputação perante a coletividade), 
mas não a honra subjetiva, que é a percepção que a pessoa tem sobre si mesma. Somente as pessoas naturais possuem 
honra subjetiva, por serem seres humanos, e não entes invisíveis como a pessoa jurídica. 
Nesse ponto, há um tema julgado pelo STJ que merece atenção. O STJ entende que pessoas jurídicas de direito 
público não sofrem dano moral, pois não dependem de sua reputação perante a sociedade para subsistir, e sim da lei. 
É diferente do que sucede com pessoas jurídicas de direito privado, que, com sua reputação manchada diante da socie-
dade (honra objetiva), certamente sofrerá repercussões que poderão comprometer sua própria viabilidade financeira e 
funcional. O agente público até pode sofrer dano moral em razão de ser uma pessoa natural, mas jamais a pessoa jurídica 
de direito público. 
 
 
 
 
 
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DIREITO CIVIL 
DOMICÍLIO 
 
 
NOÇÕES GERAIS 
 
Domicílio é a sede da vida jurídica de uma pessoa, é o lugar onde ela pode ser encontrada para efeitos jurídicos. 
Trata-se aqui de domicílio civil, ou seja, de um local que é relevante para relações civis. Esse domicílio também será o 
vigente para os demais ramos do direito, se não houver norma em sentido diverso. Por exemplo, no direito tributário, há 
o domicílio fiscal, local onde a pessoa deve ser encontrada para efeito jurídico-tributário (art. 127, CTN). No direito elei-
toral, há o domicílio eleitoral como sede da vida jurídica para fins de obrigações e direitos eleitorais (art. 42, Código 
Eleitoral – Lei n. 4.737/1965). Os domicílios eleitorais, fiscais e civis não necessariamente coincidem. No caso do domi-
cílio civil, as principais utilidades jurídicas desse conceito é o de que, em regra, as ações judiciais devem ser propostas 
no juízo do domicílio do réu (art. 46, CPC) e o de que se aplica a lei do país de domicílio da pessoa para reger questões 
inerentes à sua condição de pessoa (art. 7º, LINDB). 
Residência, por outro lado, é um mero local físico com o qual o seu titular mantém uma relação de fato sem querer 
ser encontrado lá para efeitos jurídicos. Se alguém reside em um lugar onde não tem a intenção de ser encontrado para 
efeitos jurídicos (talvez queira ser encontrada para tomar um café, para conversar, mas não para efeitos jurídicos), tal 
local não é domicílio, e sim residência, salvo se houver alguma lei específica em sentido contrário. A residência não tem 
relevância jurídica alguma quando se trata do exercício de direitos e deveres do seu titular. Ela não é um atributo da 
personalidade. Por essa razão, em contratos, é desnecessária a praxe de, na qualificação dos contratantes, averbar que 
eles são “residentes e domiciliados” em determinado lugar, pois o que importa aí é o domicílio, visto que o objetivo dos 
contratantes é saber a sede jurídica da vida da pessoa, e não necessariamente a sede lúdica ou de descanso desta. É 
claro, porém, que convém saber também o local da residência para efeito de conseguir encontrar a pessoa para citação 
em uma ação judicial, mas a competência jurisdicional será a do foro do domicílio, que não necessariamente corresponde 
à residência. 
Domicílio e residência não se confundem, embora uma residência possa se tornar domicílio quando a pessoa passa 
a ter o ânimo definitivo, ou seja, o desejo de ser encontrado no local de modo permanente para efeitos jurídicos (art. 70, 
CC). 
Teoricamente é possível a pessoa viver em um local, mas lá não ser seu domicílio por falta do ânimo definitivo. Em 
princípio, não se vê obstáculo a que uma pessoa indique uma caixa postal de uma agência dos Correios como o seu 
domicílio, de modo que esse local será o considerado para todos os efeitos da sua vida jurídica (como a definição do foro 
competente para ações judiciais), ainda que essa pessoa resida em outra cidade. Essa é a interpretação mais adequada 
do art. 70 do CC, pois há necessidade de assegurar o direito de qualquer indivíduo de eleger o lugar que lhe aprouver 
como seu domicílio, pois, por algum motivo particular relacionado à sua dignidade, ele não deseja ser encontrado, para 
efeito jurídico-civil, no lugar onde reside. 
O domicílio é relevante apenas para definir o lugar do exercício de direitos e deveres decorrentes da situação jurídica 
de pessoa. Para, por exemplo, realizar a citação de uma pessoa, esse ato jurídico se satisfaz com a sua comunicação 
em qualquer lugar onde ela for encontrada, seja no seu domicílio, seja na rua, seja em outro lugar, salvo proibições legais, 
como o local onde estiver ocorrendo um culto religioso do qual esteja participando o citando (art. 244, I, CPC). 
 
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DIREITO CIVIL 
Há, ainda, quem distinga residência de moradia ou habitação. Enquanto aquela é um local físico onde a pessoa 
habita com intenção de permanecer, ainda que sem querer que daí decorram efeitos jurídicos, a moradia ou a habitação 
é o local em que a pessoa está temporariamente, sem intenção de permanecer, como sucede numa hospedagem de 
férias em um hotel. Não há relevância prática nessa distinção, pois ambas as situações – a residência e a moradia – não 
são a sede da vida jurídica da pessoa, dignidade que é reservada ao domicílio. 
Há três conceitos importantes quando se trata de domicílio. O primeiro é o princípio da cogência domiciliar. O 
domicílio é um dos atributos da personalidade, assim como são o nome, a capacidade, a fama e o estado civil. O domicílio 
integra-se à própria individualidade jurídica de uma pessoa. E, como toda pessoa pode ter direitos e deveres em razão 
da personalidade jurídica, toda pessoa tem de ter um lugar onde possa ser encontrada para efeitos jurídicos em razão 
desses direitos e deveres. Trata-se do princípio da cogência domiciliar: toda pessoa tem um domicílio necessariamente 
(cogentemente). 
O segundo é o princípio da pluralidade domiciliar. Nada obsta a que uma pessoa tenha mais de um domicílio, ou 
seja, mais de um local de referência para a sua aptidão de ter direitos e deveres. Se, por exemplo, uma pessoa possui o 
ânimo definitivo em mais de uma residência, todos esses locais serão considerados domicílios dessa pessoa, conforme 
art. 72, CC. Isso costuma acontecer com empresários que vivem em mais de um local em razão da gestão das filiais da 
sua empresa. Igualmente uma pessoa pode ter um domicílio voluntário e um domicílio legal, como um servidor público, 
que pode ter o local onde vive como seu domicílio voluntário (art. 70, CC) e, ainda, obrigatoriamente terá o lugar onde 
exerce permanentemente a sua função como domicílio legal (art. 76, CC). Afinal de contas, o domicílio legal não afasta 
o(s) domicílio(s) voluntário(s). 
Por fim, deve-se falar da teoria do domicílio aparente. Em decorrência do princípio da cogência domiciliar, todas 
as pessoas devem ter um domicílio. Mesmo pessoas sem residência habitual, como os circenses, os ciganos, os itine-
rantes ininterruptos, os que dormem nas praças e fazem das estrelas os seus cobertores – os mendigos –, devem ter um 
domicílio, razão por

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